Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Azenha contesta crítica de
Nelson Motta à TV Pública


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Vi o Mundo


(http://viomundo.globo.com/)


TV PÚBLICA
Luiz Carlos Azenha


Nelson Motta detona TV que usou para promover livro; e diz que o povo não é bobo


‘Nelson Motta foi entrevistado do Maurício Melo Júnior, no programa Leituras, da TV Senado.


Foi até lá promover seu segundo livro, ‘Mocinhas e bandidos’.


Na entrevista, nem uma palavrinha sequer contra as tevês públicas, inclusive aquela que o ‘produtor cultural’ usou para promover o próprio livro.


Na sexta-feira, dia 16 de março de 2007, Nelson Motta decidiu falar sobre televisão.


Escreveu Fora do ar, na Folha de S. Paulo.


Basicamente, ele diz que investir em emissoras públicas é bobagem, uma vez que elas custam caro e dão pouca audiência.


O Nelson Motta quer fechar a TV Cultura de São Paulo?


Eu pergunto: e o custo para a prefeitura que abriu as calçadas para a instalação dos cabos que levam as emissoras privadas até a casa dele?


Ele sabe se isso custou aos cofres públicos ou foi bancado pelas empresas privadas?


Nelson Motta diz que, se for criada a Rede Pública de Tevê, serão abertas ‘centenas de novos empregos públicos para amigos e correligionários que não conseguem trabalho em emissoras melhores’.


Quais são as emissoras melhores, Nelson Motta?


Aquelas que te entrevistam?


Você quer dizer que o excelente Paulo Markun está pendurado num cabide?


‘A maioria absoluta dos programas desses canais poderia dispensar as antenas e ser apresentada em circuito fechado aos seus escassos telespectadores, num bar ou num ônibus. Sairia mais barato do que colocar no ar’, diz o Nelson Motta.


Ou seja, baixou nele, repentinamente, uma tremenda preocupação com o audiência.


Pois eu gosto do Roda Vida.


E dos shows gravados pela TV Cultura de São Paulo.


De uma só vez, o Nelson Motta ofende os profissionais que trabalham na TV Cultura e todos aqueles que preferem a emissora aos canais comerciais – embora a distinção esteja ficando cada vez menor.


Mas o Nelson Motta está preocupado com o IBOPE.


‘Quase todos [os canais públicos] são cabides de emprego, com programação pífia e audiências que somadas não chegam a um ponto de share’, diz o Nelson Motta.


Eu vou ligar para o Heródoto Barbeiro, que é da CBN, para saber se ele concorda que a TV Cultura é um cabide de emprego.


Quem arrumou o emprego do Heródoto?


Qual foi o padrinho dele?


Ah, o Nelson Motta descobriu o share.


Vai ver que ele tem em casa um medidor de audiência e fica acompanhando o share da TV pública.


E quem é que diz que a audiência deve ser o único objetivo de uma emissora?


Eu não sei se o Nelson Motta sabe disso, mas as emissoras comerciais do Brasil são concessões públicas e elas também custam ao contribuinte, porque toda uma infraestrutura foi criada para permitir que elas existam.


Quantos terrenos em que estão implantadas antenas repetidoras no país foram comprados pelas emissoras comerciais?


O Nelson Motta sabe?


Repito: as tevês a cabo custam ao contribuinte brasileiro, mesmo àqueles que não tem dinheiro para assinar.


Quem é que pagou pela abertura das calçadas para a instalação dos cabos, as calçadas por onde passeiam os integrantes da República do Leblon?


Eu gostaria que o Nelson Motta pesquisasse e nos desse a resposta.


‘Quando o governo, qualquer governo, fala em rede pública de tevê, a idéia é sempre ‘oferecer opções’ (as deles) ao público’, diz o artigo.


Sim, Nelson Motta, porque eu não quero ter as mesmas opções que você.


Eu quero outras.


Ou não posso escolher?


Se você pode pagar a conta da tevê a cabo e tem acesso a 100 canais, parabéns.


Se você pode pagar e tem uma coleção de DVDs, parabéns.


Mas eu acho que uma tevê pública vale a pena, sim, justamente porque poderá – se tiver dinheiro para tanto – oferecer aos moradores de Belém do Pará, ou pelo menos àqueles que não tem TV a cabo, uma cobertura mais abrangente do círio de Nazaré.


Você, que pode pagar, assista ao Manhattan Connection.


Com uma rede pública de tevê, quem sabe a gente vai assistir à transmissão do festa do Boi de Parintins, no Amazonas.


A transmissão do Boi não vende cotas no Sul Maravilha, não é Nelson Motta?


Além de ofender a todos os jornalistas e profissionais que trabalham em emissoras públicas, que produzem muitos programas de alta qualidade, o Nelson Motta agora quer dar uma de censor e nos manter ‘fora do ar’.


Quando você passear pela calçadas do Leblon ou de Ipanema, caro coleguinha, não se esqueça de se perguntar: quem pagou a conta para enterrar os cabos que levam 100 canais até o meu apartamento?


A República do Leblon quer o Brasil dela para todos, às custas do dinheiro público.


Os integrantes dela amam a BBC, a ZDF e a NHK – todas redes públicas/estatais.


Mas não viram e não gostaram da emissora que nem entrou no ar.


Por quê?


A quem não interessa uma rede pública bem feita?


É curioso: essa turma assume a defesa da tevê golpista RCTV, da Venezuela, alegando que o fechamento dela vai implicar em perda de empregos.


Mas na hora de acabar com as tevês públicas brasileiras, tudo bem.


Lixem-se os jornalistas, repórteres cinematográficos e profissionais que trabalham nelas.


Eles produzem muitos programas bons, que valem a pena.


Confiram abaixo:


http://www.tvcultura.com.br/


http://www.tvebrasil.com.br/


Em seu artigo, Nelson Motta escreveu:


‘É ótimo para a democracia que se possam acompanhar as sessões da Câmara e do Senado. Mas ninguém precisa das ‘programações culturais’, ou pior, ‘jornalísticas’, desses canais que só vêem quando pega fogo o circo das CPIs’.


Ok, coleguinha. Então por quê você foi promover seu livro na ‘programação cultural’ da TV Senado?


Você usou uma empresa pública para promover uma iniciativa privada.


No caso, a SUA iniciativa privada com o NOSSO dinheiro público.


[postado em 16 de março e editado em 18 de março de 2007]


Jorge da Cunha Lima, presidente da Associação Brasileira de Emissoras Públicas de Televisão, respondeu ao Nelson Motta.


No Painel do Leitor, ele escreveu: ‘A programação infantil da Cultura, a TVE do Rio e mesmo do Pará é a mais premiada do mundo. A TVE da Bahia, pela primeira vez na história, divulga o Carnaval negro da periferia, e não o camarote das oligarquias artísticas e políticas’.


E o colunista rebateu: ‘As perguntas de quem paga a conta continuam sendo: quando custa cada uma dessas televisões e por quanta gente são assistidas? Não adianta aumentar a qualidade dos programas se eles são vistos por tão pouca gente que não valem os custos para colocá-los no ar. Seria mais barato dar comida e computadores’.


Nem parece que foi o Nelson Motta o autor desse texto.


Ele quer atribuir valor por cabeça à produção cultural?


Se o negócio dele é contabilidade, então o coleguinha deveria fazer as contas de quanto custou a infraestrutura que permite a existência das tevês comerciais brasileiras.


Ou ele acha que elas são ‘de grátis’, como apregoam?


[postado em 18 de março de 2007]


Leitores que não acham o texto do Nelson Motta pedem que eu transcreva.


FORA DO AR


Rio de Janeiro – O controle remoto está cheio de canais de televisão municipais, estaduais, federais, judiciários, legislativos, educativos e culturais espalhados pelo Brasil, a um custo fabuloso. Quase todos são cabides de emprego, com programação pífia e audiências que somadas não chegam a um ponto de share. Dividindo as despesas pelo número de beneficiários, deve ser um dos custos per capita mais altos do mundo. Com os gastos para chegar a tão poucos espectadores, daria para lhes dar comida e computadores em vez de programas chatos.


A maioria absoluta dos programas desses canais poderia dispensar as antenas e ser apresentada em circuito fechado aos seus escassos espectadores, num bar ou num ônibus. Sairia mais barato do que colocar no ar.


É ótimo para a democracia que se possam acompanhar as sessões da Câmara e do Senado. Mas ninguém precisa das ‘programações culturais’, ou pior, ‘jornalísticas’, desses canais que só se vêem quando pega fogo o circo das CPIs.


Quando o governo, qualquer governo, desde os militares, fala em rede pública de TV, a idéia é sempre ‘oferecer opções’ (as deles) ao público, dominado pelos pelos interesses das TVs privadas, que só pensam em ganhar dinheiro.


Os sábios acham que o povo é bobo é só vê Globo, Record, SBT e Band porque não tem nada melhor. Mas, quando essas mentes iluminadas se metem a dar ‘algo melhor à massa, a audiência é traço. Mas a conta é alta, paga por todos nós.


O custo previsto da RPTV, que certamente se multiplicará ao longo dos anos, é de R$ 250 milhões de nossos impostos, abrindo centenas de novos empregos públicos para amigos e correligionários que não conseguem trabalho em emissoras melhores.


Mas para que serve mais uma TV que não se vê’.


Dizer o que?


Eu concordo com uma frase do Nelson Motta, aquela em que ele diz que o povo não é bobo.


[postado em 19 de março de 2007]


Estou tentando descobrir com a Prefeitura de São Paulo quanto é que as concessionárias pagaram dessa obra, que facilita o acesso delas aos cabos subterrâneos:


‘A avenida Dr. Arnaldo, na região central da Cidade, terá suas calçadas revitalizadas a partir da próxima semana.


Eixo hospitalar e uma das principais ligações entre a Zona Oeste e a região da Paulista, a avenida apresenta hoje uma caótica diversidade de pisos e interferências indevidas. Com a realização das obras, que devem durar 90 dias, a Dr. Arnaldo ganhará cara nova, mais confortável e agradável.


Para revitalizar as calçadas, a empresa Cerqueira Torres Construção irá remover todo o piso existente em cerca de um quilômetro de extensão, desde o acesso à avenida Rebouças até a rua Cardoso de Almeida, com exceção do passeio da estação do Metrô.


As intervenções serão feitas em etapas, sem que seja necessário interditar grandes extensões da avenida. Serão 3,7 mil metros quadrados de pisos novos para a avenida.


O novo piso da avenida contará com as chamadas faixas de serviço e livre. A faixa de serviços, voltada para a realização de trabalhos de manutenção por parte de concessionárias de gás, telefone, eletricidade e TV a cabo, será dividida entre calçamento intertravado e verde.


O primeiro consiste de blocos de concreto intertravado, cujo sistema possibilita fácil remoção, sem a necessidade de quebra. Por não precisar de contrapiso, é mais barato que o calçamento feito de ladrilho hidráulico, utilizado com maior freqüência. O calçamento verde, por sua vez, vai compor o paisagismo já existente, preenchido com áreas gramadas ou espécies baixas de plantas.


fonte: Diário Oficial da Cidade de São Paulo


texto: Fábio Bahr


[postado em 19 de março de 2007]


Sou totalmente A FAVOR de calçadas novas e fiação subterrânea.


Quero saber: como foi feita a divisão dos custos?


‘O PROGRAMA RIO CIDADE, criado pela Prefeitura do Rio em 1993, atua nos trechos principais dos bairros, onde há maior incremento comercial e circulação de veículos e pedestres, valorizando e modernizando as áreas centrais dos bairros.


Com o Rio Cidade, o bairro passa a contar com iluminação publica moderna, nova pavimentação de calçadas e vias, novo mobiliário urbano, sinalização viária horizontal e vertical, rampas para acesso de pessoas portadoras de necessidades especiais, idosos e crianças, abrigos de paradas de ônibus, áreas de lazer, além de novas redes subterrâneas de infraestrutura de águas pluviais, energia, telefonia e iluminação. (Pergunta do site: os fios da TV a cabo passaram ou não?)


O programa também estimula a revitalização das áreas adjacentes. De 2001 a 2004, a Prefeitura investiu R$ 223 milhões na reurbanização de 15 bairros da cidade, com gerenciamento da RIOURBE, Empresa Municipal de Urbanização e da Coordenadoria Geral de Obras, órgãos da Secretaria Municipal de Obras.


As obras geraram milhares de empregos diretos e indiretos durante sua execução.’


[atualizado em 19 de março de 2007]


O Antonio Saulo Marréga escreve:


‘Boa noite, acabei de ler a matéria sobre as declarações do Nelson Motta e penso que este senhor deve estar com algum problema de ordem neurológica, leia-se memória curta, afinal, justo ele que durante tanto tempo trabalhou como produtor musical, inclusive tendo deixado o país na década passada por não gostar do tipo musical que estava no auge naquela época, o neo-sertanejo, conforme declarações dele próprio à revista Playboy, acha-se ele agora no direito de criticar a tv estatal, oras, desafie-se então este senhor a descrever a programação, e os profissionais que a fazem, agora por ele tão duramente criticada, ou ainda perguntemos a ele se algum dia assistiu a um episódio sequer do Castelo Ra-Tim-Bum ou do Roda Viva… O que temos aqui nada mais é que alguém que, sem assunto mais pertinente, viu-se como o dono da verdade.’


[acrescentado em 19 de março de 2007]’


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 21 de março de 2007


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O que é isso?


‘Em dia de ‘bate-boca’, em que a Câmara voltou a ser, nos canais de notícias, no dizer da Band News, ‘palco para ofensas e algazarras’, com ‘integrantes da oposição aos berros’ e ACM Neto na vanguarda, surge Fernando Gabeira como a paz em pessoa. Em destaque no UOL, com vídeo, defendeu comissão especial, não CPI, ao menos até o Supremo decidir. Assim, ‘o caos aéreo não deixaria de ser investigado’, mas sem ‘ficarmos paralisados por dez dias’. Em seu blog, detalhou que sua ‘idéia central são os usuários’ e lamentou o ‘apagão na nossa capacidade de negociar’.


A oposição ‘recusou a oferta’. Em tempo, Gabeira não deve participar da CPI, se ela vingar, por estar ‘envolvido em outros projetos’.


Em site russo, dólar com a imagem de Berezovsky


‘FROM RUSSIA, WITH CASH’


‘Da Rússia, com dinheiro’ foi o título no blog Energy Roundup, do ‘Wall Street Journal’, ao postar sobre o suposto interesse do bilionário Boris Berezovsky em investir US$ 2 bilhões em etanol no Brasil. Além de um lucro eventual, o crítico do governo russo, que hoje vive no Reino Unido, estaria atrás de uma ‘anistia política’ a ser bancada pelo Brasil junto ao presidente Vladimir Putin. Mas o governo brasileiro não estaria disposto a tanto para ajudar o ‘suposto financiador da MSI, dona de um dos mais populares times do Brasil, o Corinthians’ -e, para piorar as coisas, desde janeiro está em ação um acordo de extradição entre os dois países. O blog linka o site russo Kommersant, que detalha um encontro do bilionário com ‘alta autoridade brasileira’ em Londres.


PENNY, O TRAFICANTE


Na ironia do ‘Socialist Worker’, nas próximas semanas não se vai abrir site inglês sem ler sobre os 200 anos da abolição da escravidão -e do tráfico- pela Grã-Bretanha.


Já está assim há dias, na verdade, e vai dos ingleses ao ‘New York Times’ -com histórias como a de que o cidadão que deu nome a ‘Penny Lane’, a rua da canção em Liverpool, era um dos maiores traficantes de escravos entre África e América, Brasil inclusive. E às agências, como a Reuters, que despachou de Gana sobre os afrodescendentes que retornam, mas como turistas.


EUROPA E OS BRICS


Outra efeméride européia vem avançando sobre capas de revista, como na última ‘Economist’, e sobre editoriais, como no ‘Financial Times’ de ontem. O texto do ‘FT’ sobre o cinqüentenário da União Européia é, antes de mais nada, um aviso de que a maior economia mundial de hoje deve buscar maior produtividade, melhor educação e completar a unificação como mercado -e até monetária. Até porque China e Índia ‘certamente ultrapassarão as economias européias’ nas próximas décadas, assim como ‘Brasil e Rússia logo depois’. De novo, os Brics.


ANGOLA LÁ


‘A queridinha [darling] da indústria mundial do petróleo’ é como o ‘New York Times’ se refere a Angola (acima), que chegou à Opep e já é disputada por China, EUA, Exxon e Chevron.


Não, nada se falou sobre o Brasil e a Petrobras


GIL & CAETANO


Gilberto Gil, em turnê, é seguido por textos como o do ‘Washington Post’, ontem, que saúdam sua política e arte, esta ‘um raio’. Na cobertura, sobram louvores ao tropicalismo e menções ao exílio nos anos 60, tanto para o agora ministro como para Caetano Veloso, que poucas semanas atrás era descrito na ‘New Yorker’, por exemplo, como ‘um rebelde idealista’ [high-minded].


CONFUSÃO CONCEITUAL


A ‘confusão conceitual sobre TV estatal ou pública’, como se houvesse a segunda no Brasil, ‘pode prejudicar o fórum de TVs públicas’ em algumas semanas em Brasília, noticia o site Tela Viva. É a opinião do Ministério da Cultura, que dá apoio ao encontro _e aparentemente não gostou da recente concorrência do Ministério das Comunicações.


A ÚLTIMA DA WEB 2.0


Para quem gosta, ‘não se fala de outra coisa em alguns blogs gringos’, notou o blog de mídia de Tiago Dória, no iG. É o Twitter, rede social em que o internauta posta ‘sobre o que está fazendo no exato momento’. São mensagens breves, com grande rapidez para postagem. Já estudam as possibilidades comerciais, mas também já se amontoam críticas.’


MERCADO DE TRABALHO
Elio Gaspari


O fantasma jurídico da pessoa física


‘NOSSO GUIA fez bem ao vetar a emenda que impedia os auditores da Receita Federal de fechar falsas empresas prestadoras de serviços.


Quando um auditor da Receita agride uma funcionária de pedágio porque tentou passar (a serviço) sem pagar o que a moça estava obrigada a cobrar, teme-se que a concessão de tamanhos poderes a esses servidores sacramente a truculência. Apesar disso, não se pode supor que condutas desse tipo sejam a norma. O poder da Receita de fechar uma falsa pessoa jurídica atende ao interesse da sociedade porque há falsas pessoas jurídicas que lesam seu interesse.


Tomem-se dois exemplos. Num, um médico. Noutro, um jornalista, publicitário ou arquiteto.


O médico criou uma empresa prestadora de serviços. Tem contratos com dois hospitais e deles recebe R$ 10 mil por mês. Mantém um consultório, onde emprega uma atendente e dele retira outros R$ 10 mil. Como pessoa jurídica, esse cidadão paga R$ 2.900 de tributos mensais. Se recebesse R$ 20 mil como pessoa física, pagaria R$ 5.800. A renda do consultório é típica do prestador de serviços. Ademais, gera o emprego da atendente e dos funcionários do prédio. Nos hospitais, ele dá dois dias de serviço por semana, e essa é uma bola dividida que mais vale discutir do que esconder.


O jornalista, publicitário ou arquiteto, também criou sua empresa. Não emprega ninguém e serve a um só cliente, em cuja sede tem o seu local de trabalho, usando a infra-estrutura do lugar, da secretária ao restaurante. Faz parte de uma cadeia de comando cotidiana e rotineira. Às vezes, é chefe. Em alguns casos, cumpre cláusulas de exclusividade ou de restrição comercial. É um empregado.


O que há aí é uma relação trabalhista dissimulada. Admitindo-se que ele recebe R$ 20 mil mensais, o fisco perde cerca de R$ 3 mil. Pior: uma empresa rival que não recorre ao expediente tem o custo de sua mão-de-obra nessa faixa salarial elevado em até 30%, por conta de outros benefícios revogados.


Entre os dois exemplos há nuances. Contribuintes que trabalham em casa e atendem sobretudo a um cliente, gente que presta serviços regulares a diversos interessados ou mesmo profissionais cuja empresa contrata equipes próprias.


Se a impugnação da empresa-biombo tiver que ser ratificada numa instância administrativa superior à do auditor que empurrou a moça do pedágio para dentro do seu carro, assegura-se a defesa do contribuinte e melhora-se a qualidade da fiscalização. Um projeto de lei mandado pelo governo ao Congresso permitirá o debate de todas as sintonias finas dessa questão.


As pessoas jurídicas ectoplásmicas abençoam o andar de cima. Se essa relação é imposta a um profissional que fatura R$ 2.500 mensais, a Viúva deixa de arrecadar só R$ 53.


Já no caso da PJ que recebe R$ 50 mil, o dreno chega a R$ 8 mil mensais. Em todos os casos, esses contratos esterilizam o 13º, o FGTS e, às vezes, as férias. O mecanismo é uma criação do capital, não do trabalho.


Na discussão dessas anomalias abundam relevantes argumentos jurídicos. Contudo, tratando-se de relações trabalhistas, a história ensina que jamais houve um fazendeiro que defendesse a inexorabilidade de o negro ser obrigado a trabalhar de graça. Discutiam direito de propriedade. Em 1905, a Corte Suprema dos Estados Unidos derrubou uma lei de Nova York que proibia jornadas de trabalho superiores a 60 horas semanais nas padarias. Fez isso em nome da liberdade de contrato.’


EUA / ARQUIVO COMUNISTA
Folha de S. Paulo


PC dos EUA doa 12 mil caixas com documentos e fotos a universidade


‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – O compositor, sindicalista e herói popular Joe Hill já foi tema de poemas, canções, uma ópera, livros e filmes. Seu testamento, escrito em versos uma noite antes de ele ser fuzilado em 1915 em Utah e mais tarde transformado em canção, virou parte da trilha sonora do movimento sindical. Hoje a cópia original do testamento, escrito a lápis, está entre os documentos e fotos nunca antes vistos publicamente que o Partido Comunista dos EUA (CPUSA, na sigla em inglês) doou à Universidade de Nova York.


O acervo contém décadas de história do partido, incluindo seus documentos de fundação, senhas secretas, pilhas de cartas pessoais, orientações enviadas sigilosamente de Moscou, ‘buttons’ de Lenin, fotos e diretrizes para orientar o comportamento dos bons membros do partido (por exemplo, eles não deviam fazer trabalho beneficente, para não se deixarem distrair de seus deveres revolucionários).


Os arquivos têm o potencial de modificar premissas tanto da esquerda quanto da direita em relação a um dos temas mais contenciosos da história americana, além de trazer dados novos sobre a história da política progressista, do movimento sindical e da luta pelos direitos civis nos EUA.


‘Esta é uma das mais instigantes oportunidades que jamais se apresentou aos colecionadores desta instituição’, disse Michael Nash, diretor da Biblioteca Tamiment.


O último verso do testamento de Joe Hill -que começa com ‘Meu Testamento é fácil de decidir / Pois não há nada a dividir’ – foi descoberto em uma das 12 mil caixas contendo os documentos. Há também rascunhos dos programas do partido, fundado em 1919 em Chicago, e uma cópia grampeada de sua primeira constituição.


O cartunista e radical Robert Minor, que cobriu a guerra civil russa, faz um relato claro e poético de uma entrevista com Vladimir Lenin em Moscou, datado de dezembro de 1918. Lenin estava fascinado pelos EUA, dizendo que era ‘um grande país sob alguns aspectos’, e disparou pergunta após pergunta a Minor: ‘Em quanto tempo a revolução virá na América?’


Cada caixa oferece um fragmento diferente da história. Uma delas contém um boletim redigido em 1940 por estudantes do City College de Nova York, criticando o Reino Unido por ter traído os judeus na Palestina; outra contém um folheto de 1964 do Conselho Metropolitano de Habitação, exortando a população a fazer greve no pagamento dos aluguéis, para ‘fazer oposição à ausência de controle sobre os apartamentos de aluguel superior a US$ 250’.


O PC dos EUA começou como organização clandestina, mas alcançou sua maior popularidade no final da década de 1930 como parte da Frente Popular, na qual ingressou atendendo a orientações de Moscou. O partido, que guardava o acervo em sua sede em Manhattan, entrou em contato com a Biblioteca Tamiment há um ano. Nash disse que ficou espantado: ‘Eu não tinha consciência realmente de que o partido ainda existe’.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Record vai à Justiça contra Copas na Globo


‘A Record está contratando um escritório especializado em direito internacional para preparar uma ação judicial contra a Fifa por supostos prejuízos nas negociações dos direitos das Copas de 2010 e 2014.


A Record acredita que a Fifa favoreceu a Globo, que acabou vencendo a disputa, apesar de ter oferecido mais dinheiro. A rede de Edir Macedo teria proposto à Fifa US$ 360 milhões pelas duas Copas.


A Globo, alegando cláusula contratual, manteve sigilo sobre os valores até anteontem, quando um documento oficial da emissora (um balanço dos resultados de 2006 dirigido a credores internacionais) informou que a emissora se comprometeu a desembolsar nos próximos oito anos ‘não mais do que US$ 340 milhões’ pelas duas Copas. E que esse total pode ser reduzido em US$ 40 milhões caso o Mundial de 2014 não ocorra no Brasil.


Um executivo da Record, que pediu para não ser identificado, acredita que o resultado da negociação ‘desmereceu’ a imagem da rede. A Record, contudo, já comemora o fato de a Globo ter pago pelos Mundiais bem mais do que gostaria (US$ 120 milhões por Copa).


Em dezembro, quando divulgou a conquista das Copas de 2010 e 2014, a Globo afirmou que a Fifa levou em consideração em sua proposta fatores como maior audiência, melhor cobertura e sua capacidade de mobilização nacional.


SISMO 1 A grade que estréia no SBT na semana que vem deverá ter a novela ‘Maria Esperança’ às 19h15. Uma hora depois, haverá uma ‘linha de shows’: ‘Supernanny’ às segundas; ‘Você É o Jurado’ (com Ratinho, ao vivo) às terças; ‘Ídolos’ às quartas e quintas; e ‘Curtindo com Reais’ às sextas.


SISMO 2 O ‘SBT Brasil’ entrará às 21h15. Às 22h, haverá ‘Hebe’ às segundas e filmes às terças e sextas, além dos humorísticos ‘Sem Controle’ (às quartas) e ‘A Praça É Nossa’ (às quintas).


SISMO 3 O ‘SBT Realidade’, de Ana Paula Padrão, deverá ser exibido após o ‘Hebe’. E Adriane Galisteu apresentará o ‘Charme’, agora ‘talk show’, de segunda à sexta, à 0h30.


FALTOU QUALIDADE O ‘Hoje Em Dia’, programa da Record que ameaça a Globo no Ibope, ilustrou ontem uma reportagem sobre Liza Minnelli com imagens de Elizabeth Taylor. E não corrigiu o erro, como era de se esperar de uma emissora que quer ser líder.


SOBE ‘Paraíso Tropical’ registrou 40 pontos no Ibope anteontem. Ainda está longe do ideal para a Globo, mas melhorou em relação à semana passada.


RESULTADO A Globo faturou em 2006 R$ 6,253 bilhões, um resultado 11,9% superior ao de 2005. O lucro bruto foi de R$ 1,297 bilhão. A TV Globo é responsável pela maior fatia desses números (que incluem as receitas da Globosat e participações na Net e Sky, entre outras).’


Marcelo Coelho


Superbabás em crise de identidade


‘NÃO TENHO nervos para assistir a mais de dez minutos de ‘Supernanny’, tais as misérias e horrores domésticos que o programa retrata na TV.


‘Não pode ser assim’, digo ao ver um menino de dois anos espatifando pratos de comida na cara da mãe. ‘Não pode ser assim’, digo mais tarde, quando o pequeno vândalo aparece transformado num anjo mozartiano, ao término de uma breve estadia da ‘superbabá’ naquela sucursal do inferno.


Devem ter pensado na fragilidade de pessoas como eu, porque um dos subprodutos da ‘Supernanny’ brasileira, em cartaz no SBT, é uma revista, à venda nas bancas por R$ 6,99. O centavo de troco você guarda num cofrinho.


Posso então folhear ‘Supernanny’, a revista, sem a trilha sonora dos berros e convulsões que acompanham o programa de TV. O ponto alto da edição é o resumo de um episódio transmitido pelo SBT.


Não é dos mais típicos, ao que parece, porque a intervenção da superbabá se deu numa família que não se caracterizava por extremos de permissividade.


No máximo, havia hábitos alimentares a corrigir no garoto maior e dificuldades da menorzinha em controlar o xixi. Uma coisa estranha, para mim, é a tranqüilidade com que essas crianças são expostas ao público: aparecem em diversas fotos, brincando em casa, ou quietas no colo da mãe, ainda que, felizmente, não no peniquinho.


O problema do xixi foi diagnosticado rapidamente. Uma vez descartada a hipótese de infecção urinária, concluiu-se que a menina queria atrair a atenção dos pais; ‘uma ajuda ligada à retomada da auto-estima foi fundamental’, portanto, ‘para que entendesse que era amada e que não precisava fazer xixi nas calças’.


Minhas dúvidas começam nesse ponto. Se o problema da criança era atrair a atenção, deve-se convir que ela obteve muito mais do que o carinho do pai e da mãe: contou com uma superbabá, uma equipe de cinegrafistas, milhões de espectadores e várias fotos na revista.


Talvez a necessidade de atrair a atenção atinja tanto pais quanto filhos, e a figura a quem mendigamos carinho seja a própria televisão, sempre cega e surda a nossos pequenos dramas domésticos. Faça a TV se interessar por você, abra sua casa e sua intimidade à visita, subitamente corpórea, daquela que sempre foi nossa ‘babá eletrônica’, e tudo estará bem próximo de chegar a um final feliz.


O sistema ‘Supernanny’ talvez revele outra ordem de contradições. As técnicas adotadas são de clara inspiração behaviorista: há prêmios para bom comportamento, um dadinho de espuma com desenhos de polegar para cima e para baixo, sinalizando os acertos e erros de cada criança, e um tapete onde o pequeno infrator deve ficar postado, tantos minutos quantos forem seus anos de idade. Não sei o que acontece, aliás, se a criança fizer xixi no tapete, depois de cinco ou seis minutos ali de pé.


Esse modelo pavloviano, que talvez seja mesmo o mais indicado em crianças pequenas, contrasta com outro tipo de pensamento pedagógico também presente na revista, segundo o qual birras e atitudes violentas são, apenas, ‘formas de expressão’.


A pequena Luiza, ao ser contrariada, desferiu um tapa na cara do vovô.


Certamente o comportamento é inaceitável. O vovô é mais fraco, e, se se controlar, como é o esperado, suas coronárias talvez se ressintam do golpe.


‘Pode ser’, diz a revista, ‘que alguma tensão familiar esteja ocorrendo, e, sem conseguir expressar os seus sentimentos, a criança libere as emoções por meio da agressão física […] Será que vocês não estão passando por alguma dificuldade, seja ela uma crise conjugal, um problema financeiro ou de saúde?’.


Muito provável que sim. O fundamental, prossegue o texto, é conversar com a criança. ‘Não é preciso contar absolutamente tudo o que se passa com a família’, mas a criança deve ser informada de que algo não vai bem e que ela não tem culpa disso.


Passamos, no fundo, da imagem de uma ‘caixa-preta’, onde distúrbios de comportamento serão administrados com prêmios e castigos, para a idéia de uma mente infantil em busca de expressão, iluminável por meio do diálogo.


Que interpretação, que modelo escolher? Não digo que sejam incompatíveis. Mas o veneno da dúvida já se inoculou na cabeça dos pais; eles hesitam; claro que os filhos saberão se aproveitar disso também.’


Diógenes Muniz


Televisão no celular é aposta na Europa


‘Em 2008, o europeu poderá, entre uma ligação e outra, assistir aos jogos da Eurocopa em seu telefone móvel, gravando os melhores momentos ou comentando com quem estiver do outro lado da linha. Se ele tiver um telefone como o Samsung Ultra Mobile TV F510, revelado na Cebit, ele também vai ler e-books, ouvir música, filmar e navegar na web em alta velocidade (pelo sistema HSDPA).


Tudo isso será feito em um aparelho de 11,6 cm de comprimento por 5,4 cm de largura e 1,07 cm de espessura. A solução que a Samsung achou para colocar a vida digital em produto com essas medidas foi fazê-lo frente e verso. De um lado, funciona a parte de vídeo, música e TV, em uma tela de 2,4 polegadas. Do outro, está o celular em si, com uma tela de 1,5 polegada.


O aparelho chama a atenção pelo design. Sua parte inferior pode ser girada em até 180 para a saída de uma antena. O F510 tem 410 Mbytes de memória, expansível a até 1 Gbyte. ‘Além de ser uma aposta na convergência, para a Samsung, o aparelho é uma aposta no visual’, afirma Nicole Jamson, representante da empresa.


A União Européia tem 2008 como meta para expandir a tecnologia de TV móvel para o continente. Enquanto a Eurocopa de 2008 não chega, as fabricantes mostram aparelhos que reúnem telefone e TV. É o caso da taiwanesa Gigabyte Communications, que mostrou na Cebit seus primeiros modelos nesse segmento. Sua linha, a GSmart, também vai apostar no HSDPA, que permite baixar filmes em minutos.


O GSmart t600 funciona com o Windows Mobile 6, tem Wi-Fi e Bluetooth e suporta TV e rádio via DVB-T, DVB-H (transmissão de TV), DAB e T-DMB (transmissão de rádio). A transmissão de TV em aparelhos portáteis passa, ainda, pela definição do modelo de transmissão. A DVB-H é a tecnologia que deve predominar na Europa. (DM) O jornalista Diógenes Muniz viajou a convite da Hannover Fairs do Brasil’


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Empresas maltratam produtos para mostrar durabilidade


‘Após ficar menor, sem fio e ganhar um design mais atraente, seu próximo aparelho precisará ser mais durão.


Na Cebit, expositores resolveram maltratar suas máquinas. Algumas foram fechadas em ambientes com neblina artificial; outras, arremessadas no chão. O mais comum eram aparelhos submersos.


Além da qualidade do material, há outros motivos para as empresas pensarem no tempo de vida dos lançamentos.


A cada ano são produzidas entre 20 e 50 toneladas de lixo eletrônico no mundo, segundo as Nações Unidas.


A maior responsável, diz a organização, é a velocidade com que os aparelhos são trocados. Mostrar que se importa com o planeta faz parte do marketing das empresas.


A DRS-Technologies, fornecedora do Exército dos EUA, lançou tablet PCs para usuários domésticos. Eles pesam 2 kg, têm LCD de dez polegadas, 1 Gbyte de memória e agüentam temperaturas de -40 C a 70 C.


Vale lembrar que a rapidez com que os aparelhos são substituídos é fruto principalmente da velocidade com que evoluem. Para esse mal, as empresas não têm, ainda, solução.’


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Megaoperadora de celular acena para sistema de VoIP


‘A Vodafone, operadora de celular de origem britânica, anunciou na feira Cebit que pode passar a oferecer ligações via Skype em telefones celulares, em mais uma indicação de que a telefonia via internet (VoIP, voz sobre IP) deve ser o sistema do futuro.


A aplicação, chamada Starfish, mostra ao usuário, em seu celular, uma lista de contatos de serviços como Skype, MSN Messenger e Yahoo! Messenger, por meio da qual será possível mandar mensagens e fazer ligações.


A Vodafone é uma das maiores operadoras do mundo, com 200 milhões de clientes. A empresa mostrou a novidade na seção de futuro de seu estande na Cebit, mas disse que ainda não decidiu quando começará a oferecer o serviço e nem quanto ele custará.


As ligações usarão a rede da operadora de celular só até a estação radiobase mais próxima e então a ligação será transportada via VoIP. Hoje, ligações do celular, sejam para a mesma cidade, sejam para outros países ocorrem pela rede tradicional.


As operadoras relutam em abraçar a tecnologia de voz sobre internet, já que ela tem o potencial de esvaziar as redes convencionais. Mas há grande demanda dos usuários pela VoIP, pois a tecnologia traz custos menores, especialmente para ligações de longa distância e internacionais.


A iniciativa da Vodafone pode ser uma tentativa de incorporar a VoIP e de minimizar a perda de receitas. Já estão disponíveis telefones celulares que permitem usar o Skype para fazer ligações, se o aparelho estiver em um hotspot Wi-Fi ou se ele estiver na área de cobertura dos serviços de internet rápida das próprias operadoras de celular.


Por enquanto, porém, os usuários têm usado a VoIP com mais freqüência no computador ou substituindo a telefonia fixa, já que a implementação de aplicações como o Skype em telefones celulares ainda está disponível em poucos modelos.


Além disso, uma concorrente menor da Vodafone, a operadora 3, lançou, no ano passado, um software similar ao Starfish, baseado no Skype, em uma tentativa de atrair novos clientes que procuram a tecnologia VoIP.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 21 de março de 2007


CASO PLAME
Dan Eggen e John Solomon


Promotor do caso Plame estava em lista de possíveis demitidos


‘O procurador federal americano Patrick J. Fitzgerald foi incluído na categoria dos procuradores que ‘não se distinguiram’ numa lista do Departamento de Justiça enviada à Casa Branca em março de 2005, quando ele liderava a investigação do vazamento da identidade de uma agente da CIA, que resultou na condenação de um assessor vice-presidente Dick Cheney por perjúrio. A revelação foi feita segunda-feira por funcionários do governo.


Fitzgerald foi classificado num grau abaixo dos ‘procuradores federais fortes (…) que mostraram lealdade’ ao governo, mas num nível acima dos ‘procuradores federais fracos que (…) entraram em atrito com iniciativas governamentais’, segundo documentos do Departamento de Justiça.


A lista foi o primeiro passo de uma campanha para identificar procuradores que deveriam ser demitidos. Dois procuradores incluídos na mesma categoria de Fitzgerald foram demitidos mais tarde. Dois procuradores listados na categoria mais elevada também foram destituídos.


A classificação de Fitzgerald dá nova dimensão à campanha, que começou com uma proposta da Casa Branca para remover 93 procuradores depois das eleições de 2004 e culminou na destituição de oito deles no ano passado, numa iniciativa que revoltou congressistas e motivou pedidos pela renúncia do secretário de Justiça, Alberto Gonzales.


A lista de março de 2005 foi compilada por D. Kyle Sampson, então assessor de Gonzales, e enviada a Harriet Miers, então conselheira jurídica da Casa Branca. A referência a Fitzgerald está num trecho do memorando que a Justiça não quis entregar ao Congresso, disseram funcionários.


Na época, Fitzgerald liderava a investigação independente do vazamento da identidade d agente da CIA Valerie Plame – que neste mês levou à condenação, por perjúrio, do ex-assessor de Cheney I. Lewis ‘Scooter’ Libby.


Mary Jo White, que supervisionou Fitzgerald quando serviu como procuradora federal em Manhattan e condena as demissões, afirmou que sua classificação como um procurador medíocre ‘carece totalmente de credibilidade’. ‘Ele é provavelmente o melhor procurador do país – sem dúvida um dos melhores’, disse White.


‘Isso põe o processo inteiro em questão. É como a cereja do bolo.’ Fitzgerald é amplamente reconhecido por ter promovido processos criminais contra a rede terrorista Al-Qaeda antes dos ataques de 11 de setembro de 2001. Foi ele quem pediu o indiciamento de Osama bin Laden. Ele foi nomeado promotor especial no caso do vazamento da CIA em dezembro de 2003 pelo então secretário de Justiça, John Ashcroft. Também sob Ashcroft, Fitzgerald ganhou o Prêmio Secretário de Justiça por Serviço Diferenciado em 2002.


A porta-voz do Departamento de Justiça, Tasia Scolinos, afirmou segunda-feira que ‘Pat Fitzgerald tem um histórico diferenciado como um dos promotores mais experientes e respeitados do Departamento de Justiça. Seu histórico fala por si.’ Mas Fitzgerald também foi duramente criticado por muitos republicanos pela condução agressiva do caso Libby. O memorando de Sampson, de 2 de março de 2005, foi uma resposta à idéia de Miers de remover todos os procuradores federais durante o segundo mandato de Bush. Fitzgerald foi incluído numa categoria intermediária entre os colegas: ‘Nenhuma recomendação; não se distinguiram positiva ou negativamente.’


Dois funcionários do governo disseram que Fitzgerald não foi incluído em listas posteriores de procuradores federais sujeitos à remoção compiladas por Sampson. O memorando no qual o nome de Fitzgerald aparece estava entre mais de 140 páginas de documentos enviadas aos parlamentares na semana passada, mas os nomes e as classificações da maioria dos procuradores haviam sido apagados.


Investigadores da Comissão do Judiciário do Senado exigem uma versão não editada do memorando, mas o governo recusa-se a fornecê-la, segundo um assessor democrata do Senado.’


ZIMBÁBUE
O Estado de S. Paulo


Embaixador acusa CNN de enganar o mundo


‘O embaixador do Zimbábue nos EUA, Machivenyika Mapuranga, disse ontem que a CNN e a BBC ‘enganam o mundo’ com suas reportagens hostis sobre o país. Mapuranga afirmou que as emissoras são inimigas do Zimbábue e são proibidas de fazer transmissões do país por defenderem o modo de vida imperialista britânico e americano.’


TELECOMUNICAÇÕES
O Estado de S. Paulo


Anatel tem de rever veto à TV, diz Oi


‘A Oi, antiga Telemar, espera que, com as mudanças que ocorrem na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), sua compra da Way TV, empresa de TV a cabo de Minas Gerais, seja aprovada. ‘Existe na agência um sentimento pró-convergência’, afirmou Alain Riviere, diretor de Regulamentação da empresa, durante o 9º Encontro Tele.Síntese.


Riviere apontou como positivas a entrada de dois novos conselheiros, Ronaldo Sardenberg e Antônio Bedran, e a revisão do plano de outorgas de TV a cabo, em andamento na Anatel, que prevê o fim do limite de empresas por cidade. ‘Essa mudança pode vir a definir com mais clareza a situação’, explicou Riviera. O executivo explicou que a Oi tem 10 dias para recorrer e que será nomeado um novo relator para o processo. Ele não quis fazer previsões sobre o prazo que a agência deve levar para decidir sobre o recurso.


Durante sua palestra, Riviere criticou o Grupo Telmex/América Móvil, do bilionário mexicano Carlos Slim Helú, dono da Claro, da Embratel e da Net. Ele disse que a Oi solicitou à Embratel uma linha dedicada de Brasília a Manaus, e a empresa quis cobrar um preço especial, dez vezes maior que o normal. ‘Tem empresa que mantém um discurso a favor do compartilhamento de redes, mas na prática não é isso que acontece.’


Riviere disse também que mandou uma carta à empresa solicitando uma cópia do contrato entre Embratel e Net para o Net Fone. ‘Não recebemos resposta.’ As regras do setor prevêem tratamento isonômico a clientes e, por isso, outras empresas teriam direito à parceria com a Net nas mesmas condições.


O executivo destacou que o grupo mexicano já possui seis redes na área de atuação da Telemar: a StarOne (satélite), a Claro (celular), a Vésper (telefonia fixa sem fio), o sistema WiMax (a Embratel é a única com licença nacional), a Net (cabo) e a própria Embratel (longa distância).


O consultor Mário Ripper, que foi diretor da Oi, apontou que a TV a cabo já se consolidou com a telefonia fixa. Ele destacou que a Embratel já tem 70% do setor, com a Net e a Vivax, e a Telefônica pode ficar com 10%, com a TVA. ‘O que sobra? As empresas menores estão lutando para sobreviver.’’


PUBLICIDADE
Garota-propaganda polêmica


Barata reacende discussão sobre limites na publicidade


‘Quem acessou ontem os sites Globo.com e Globo Online se deparou com uma barata invadindo a tela do computador e sendo esmagada por um chinelo vermelho com os dizeres ‘DDD sem susto. Ligue 23’. Mas o pop-up (mensagem publicitária que surge na tela quando se abre uma página na internet) da operadora de telefonia Intelig acabou provocando uma reação que certamente seus criadores não imaginavam: a rejeição.


Alguns internautas expressaram no site Bluebus, especializado em notícias da área de comunicação, sua indignação com o anúncio. ‘Quem abriu a tela para ver as notícias se deparou com uma barata em seu monitor! Assustando e enojando’, escreveu um deles.


Em resposta, Fernando Campos, sócio e diretor de criação da agência Santa Clara, responsável pelo anúncio, escreveu ao site: ‘Em um mercado cheio de mesmice, a Intelig Telecom precisava inovar. E tinha de fazer isso com pouca verba para investir, especialmente em relação aos concorrentes no segmento de telecomunicações que aplicam pesados recursos em suas comunicações. Por isso mesmo, tinha de ser mais provocativa para chamar atenção.’


Sem querer, a barata acabou reacendendo a discussão sobre os limites da publicidade. ‘Vale tudo para chamar a atenção, mas sempre dentro da ética. No caso da baratinha, que eu pessoalmente não gosto, todo mundo falou sobre o assunto e isso gerou um boca-boca para a marca que cumpriu seu papel. E sem ser prejudicial à empresa, porque não resvalou para a questão ética’, disse Isabelle Perelmuter, vice-presidente de Planejamento da agência FischerAmérica.


Fábio Simões, diretor de criação de web da F/Nazca S&S, avalia, porém, que há sim risco de rejeição à marca em função de a ação estimular um sentimento negativo, que é o nojo. ‘O desconforto causado até o momento está sendo mais forte do que a mensagem que eles queriam passar’, disse. ‘Todo mundo que comentou a ação falou só da barata e do incômodo causado pela sua presença. A idéia que a campanha queria associar à marca acabou não sendo passada, ou ficou escondida diante do nojo.’


Pelo sim, pelo não, a Intelig resolveu tirar do ar ontem mesmo a propaganda da barata. Oficialmente, a empresa disse que a substituição da peça publicitária por outras já estava prevista.’


JORNALISMO AMBIENTAL
O Estado de S. Paulo


Para entender a questão da falta de água na Terra


‘A jornalista Claudia Piccazio apresenta, em livro, uma reportagem bem completa sobre o tema


Aquecimento global, derretimento de geleiras e poluição são assuntos mais do que comentados em fóruns e na mídia. Para explicar com profundidade e de maneira fácil um dos problemas que mais preocupam o mundo hoje – a falta de água -, a jornalista Claudia Piccazio lança, na livraria Cultura (Av. Paulista, 2.073), às 18h30, o livro Água, Urgente!.


A obra integra a coleção Repórter Especial, que tem como objetivo fornecer informações essenciais sobre variados aspectos do mundo contemporâneo e é escrita somente por jornalistas. Aqui, Claudia apresenta um dos maiores desafios da atualidade, a falta de água.


Para pôr em prática esse projeto, a autora levou quatro meses pesquisando e entrevistando especialistas da área, como a ex-secretária do Meio Ambiente Stela Goldenstein, o professor de Geografia da Universidade de São Paulo Wagner Costa Ribeiro e o economista africano José Gonçalves, entre outros. Claudia também mergulhou em arquivos para fazer levantamento de dados, além de se dedicar à leitura de diversos livros, listados como sugestões bibliográficas.


Ao ler Água, Urgente!, o leitor percebe que tem em mãos um texto jornalístico bem articulado e repleto de informações. ‘Este é um tema bastante amplo. Procurei apresentar um panorama com informações depuradas e acessíveis’, destaca a escritora. Para ela, é fundamental que a população tenha consciência da dimensão do problema para exigir ações efetivas do governo. ‘Não podemos ficar apenas nas ações pontuais, é preciso que haja muita discussão e um plano de governo legitimado pelos cidadãos.’ Uma boa dica de leitura às vésperas do Dia Mundial da Água.


Água, Urgente! Nosso Futuro Pode Morrer de Sede. De Claudia Piccazio. Editora Albatroz, Loqüi e Terceiro Nome. 104 págs., R$ 16. Livraria Cultura. Avenida Paulista, 2.073, Conjunto Nacional. Hoje, 18h30′


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


Ecos de Páginas


‘Mesmo após o fim da novela Páginas da Vida, de Manoel Carlos, a menina Joana Mocarzel – que roubou a cena como Clara – continua levando uma vida de celebridade. As pessoas ainda param Joana na rua para tirar fotos e conversar. E Letícia, mãe da menina, comemora. ‘Antes, as pessoas fingiam que não a viam até pelo desconhecimento, porque elas não sabiam como Joana iria reagir’, conta. ‘Com a novela, isso mudou.’


A comemoração vai além de Joana, pois a batalha dos pais de portadores de Síndrome de Down é derrubar o preconceito e promover a inclusão. ‘Outras mães me falam que o tratamento das pessoas em relação a seus filhos especiais mudou também. Não foi só com a Joana’, fala.


Para Letícia, a novela tratou muito bem a questão, com informação e delicadeza. E Joana continuará sendo um dos símbolos desta luta por mais tempo. Hoje é celebrado o Dia Internacional da Síndrome de Down e Joana está em Brasília para ser homenageada. Marcos Caruso, Pérola Faria e Rafael Almeida devem subir ao palco com ela. Na próxima semana, a menina vai a Portugal para divulgar Páginas da Vida por lá.


entre-linhas


Heroes, série que acaba de chegar ao Brasil pelo Universal Channel, e está bombando nos EUA, poderia estrear na Record ainda neste semestre – as séries têm aval para entrar na TV aberta apenas três meses após sua estréia na TV fechada.


A Record, no entanto, vai esperar para lançar Heroes só no segundo semestre, a fim de não ofuscar as estréias que estão por vir até julho: além das novelas novas, tem a 4ª edição de O Aprendiz e a versão nacional do reality show The Simple Life.


A 9ª temporada de Os Simpsons chega hoje às lojas em DVD. São quatro discos com episódios clássicos, como aquele em que Moe se apaixona pela atriz Helen Hunt.


A HBO vai estrear a 2ª temporada da série Roma em 15 de abril. Como aperitivo, reprisa a 1.ª temporada a partir do dia 1.º, começando com dois episódios, às 23h30. Os demais vão ao ar de segunda a sexta, às 22 horas.


O ministro das Comunicações, Hélio Costa, irá falar sobre o processo de transição da TV analógica para a TV digital hoje, às 23h40, no Conexão Roberto d’Ávila, via TV Cultura.


Happy Hour, o novo programa do GNT apresentado por Astrid Fontenelle, terá transmissão simultânea na internet através da Globo.com.


A Mixer renovou contrato com o Multishow para produzir mais 34 programas do Circo do Edgard. Selton Mello inaugura a nova safra no dia 10.’


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Primeira Página


Quarta-feira, 18 de março de 2007


BATISMO DE SANGUE
Deonísio da Silva


Batismo De Sangue, Filme Imperdível


‘Frei Betto me convida e diz que não posso perder a pré-estréia do filme Batismo de Sangue, dirigido por Helvécio Ratton, baseado em seu livro. ‘Dia 15, 10h, no Artplex, Praia de Botafogo, te espero lá’.


Começo a quinta-feira, 15 de março, às 4h30. A chinchila Salomé estranha o horário, embora durma de dia e passe acordada quase toda a noite. Vai ser um dia bonito. Da sacada olho o mar, enquanto a cafeteira ‘italiana’, fabricada na China (agora é tudo da China), vai espalhando o agradável aroma do café.


O mar segue com suas ondas eternas e fico pensando o que vai acontecer com a Barra da Tijuca quando o Atlântico, alterado pelo derretimento das geleiras polares, subir de nível. Dizem que já subiu 3,5cm. Virá o Apocalipse. Espero estar bem longe.


Adiantados os trabalhos, pego o táxi, o trânsito está péssimo. Quando chego, o filme está começando. Frei Tito está subindo no muro de um convento em Paris para se enforcar. Não suporta mais conviver com o maior espantalho de sua vida, a aterrorizante figura do delegado Sérgio Fleury, que o torturou barbaramente.


A sala está escura, nunca escondi que, desde criança, tenho medo do escuro.


Num relâmpago, lembro que em São Carlos o torturador é nome de rua, não sei se ainda é, mas a rua fica ali no bairro do Monjolinho. Nos últimos meses de trabalho na UFSCar, ao passar por ali eu me perguntava: mas até quando vão deixar esta sinistra homenagem? Algumas vezes pensei que há quem saiba torturar e caluniar como o aterrorizante delegado, mas com o agravante de disfarçar-se em outra profissão, e não comparecer pessoalmente, mandando que outros façam o serviço sujo. Ele, não. Nunca escondeu que foi o que tinha sido.


Deixemos esses tristes fragmentos de lado, voltemos ao grande tema, outro valor mais alto se alevanta.


Batismo de Sangue é um filme forte e lindo, como o livro de Frei Betto, mas naturalmente em outro diapasão. O livro já vendeu 14 edições no Brasil, recebeu o prestigioso Prêmio Jabuti e está traduzido para várias línguas.


Adianto que, mesmo para aqueles que já eram o livro, há cenas que mexem muito com a platéia. A meu lado, várias pessoas choram, eu não consigo conter as lágrimas quando vejo velhos conhecidos ali representados.


Lembro de uma caminhada ao entardecer, ao redor da catedral de São Carlos, Frei Oswaldo e eu perambulando, certo dia em que ele esteve lá em casa, quando morávamos no Edifício Carvalhaes, na Rua Major José Inácio. Frei Betto preferiu ficar meditando ou conversando com a Soila e a Manuela, não lembro ao certo, mas eu fui acompanhar Frei Oswaldo, que queria espairecer um pouco. Acho que ele foi um dos últimos exilados a voltar. Pois está ali Frei Oswaldo na tela, alguns anos depois de sua visita a São Carlos, e muitos anos antes, em 1969, sofrendo a calúnia que se abateu sobre ele e outros frades dominicanos: teriam entregado o local onde se encontrariam com Carlos Marighela, assassinado em São Paulo. A equipe de Sérgio Fleury enche de balas o corpo de Marighela, representado no filme por Marku Ribas, um ator que gosta de cantar na noite e que é muito parecido com o célebre guerrilheiro urbano.


O roteiro é de Dani Patarra, filha de Paulo e Judith Patarra. Eu a conheci no dia do casamento da Manu e do Rodrigo, celebrado por Frei Betto, em São Paulo. Naquela mesma igreja, quase à mesma hora, Dani convertia-se ao cristianismo pelas mãos de Frei Betto.


No elenco, Daniel de Oliveira (Frei Betto), Cássio Gabus Mendes (Delegado Fleury), Ângelo Antônio (Frei Oswaldo), Léo Quintão (Frei Fernando), Odilon Esteves (Frei Ivo). E ainda Marcélia Cartaxo (Nildes), Marku Ribas (Carlos Marighella), Murilo Grossi (Policial Raul Careca), Renato Parara (Policial Pudim) e


Jorge Emil (Prior dos dominicanos).


Depois do filme, vamos, num pequeno grupo, ao Restaurante Lamas, no Flamengo. Letícia Sabatella nos acompanha, a mesa é grande, sento perto de Frei Betto, de Luciana Savaget e de Ricardo Gontijo, com quem divido uma dobradinha. Frei Betto prefere um filé à Oswaldo Aranha. O escritor Roberto Drummond dizia que Frei Betto tinha cheiro de Deus e um de seus mais belos romances tem este título: Cheiro de Deus.


Ninguém pode perder este filme.’


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