Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Bia Abramo

‘Nas noites de quarta-feira, enquanto a Rede Globo monopoliza o futebol, as outras emissoras da TV aberta disputam a tapa o público que não suporta ficar duas horas assistindo a 22 homens correndo atrás de uma bola. É a noite ‘de gala’ dos programas de auditório noturnos e é a noite em que se pode tomar a temperatura do que aqueles que fazem TV pensam sobre as identidades sexuais.

Sim, porque, enquanto o futebol é considerado um programa masculino por excelência, aqueles que não têm o futebol se esforçam para capturar as mulheres. Uma espécie de divisão se impõe: aos homens heterossexuais, o esporte (e a encenação do mundo competitivo) e a boa vida (álcool, bunda, safadeza); a todas as outras possibilidades de gênero e sexualidade, fofoca, auto-ajuda e irrelevância em vários formatos.

Um dos programas de auditório que mais, digamos, se efeminam para atrair esse público alérgico ao futebol é o ‘Boa Noite Brasil’, de Gilberto Barros. De um ordinário programa pachorrento, de atrações de segundo time e quadros de produção mínima, às quartas-feiras o programa se assanha todo. É uma noite de moda e conselhos para mulheres no programa do Leão -por alguma razão bastante obscura, o rotundo apresentador tem esse apelido. O clímax são as ‘Alfinetadas’, do estilista de noivas Ronaldo Esper, em que ambos, apresentador e costureiro, destilam veneno sobre o estilo das celebridades.

Como comadres à janela nas casas do interior, os olhares são de pura inveja -a beleza, o glamour, a elegância de mulheres famosas são demolidos em poucas palavras. A fama do estilista, chamado de ‘embaixador do bom gosto’ por Barros, é de implacável em seus julgamentos, mas, em vez de rigorosos, seus comentários estão no terreno do puro despeito. E o apresentador, ansioso como a dona-de-casa que inveja o poder de atração das mulheres famosas e ricas, faz coro ao azedume do estilista.

Árbitros da feminilidade, Barros e Esper, nas entrelinhas, fazem um jogo de muxoxos e desprezo, em que o feminino aparece como algo precioso demais para ser exercido por mulheres. Não estão sozinhos nisso: a idéia de que as mulheres reais não ‘merecem’ a feminilidade é uma noção clássica do pensamento homossexual mais conservador e machista, que viceja sobretudo dentro dos armários.

Na contramão das discussões mais avançadas sobre a diversidade sexual, a TV trabalha quase que sempre no registro mais tacanho das identidades. Homem gosta de safadeza, mulher tem que se preocupar em se manter bonita e em conservar seu homem, e gays, bem, estes têm que se esconder -ou se sujeitar à gozação. Por essas e outras é que a parada de hoje continuará por muito tempo a ser programa obrigatório.’



TV RECORD
Daniel Castro

‘Record estréia em julho ‘Big Brother’ da Fox’, copyright Folha de S. Paulo, 11/06/04

‘A Record vai estrear em meados de julho a sua versão de ‘Big Brother’. A emissora fechou anteontem com a Fox a aquisição dos direitos de adaptação no Brasil de ‘Captive’ (cativo, preso), ‘reality show’ que lembra o holandês, da Endemol, exibido pela Globo.

O programa será diário e terá apresentador, ainda não definido. Será gravado em um estúdio na Barra Funda, em São Paulo, que será transformado em um loft _tipo de casa sem paredes.

O programa irá durar três meses, mas novos participantes entrarão todas as semanas. Serão de cinco a sete competidores por semana. O sistema de eliminação será por meio de provas e ‘quiz’ (perguntas e respostas), mas também haverá a participação do telespectador.

Segundo um executivo da Record, ‘Captive’ é um formato novo e está sendo desenvolvido simultaneamente em cinco países, entre eles a Nova Zelândia. Nos Estados Unidos, estaria em estágio inicial de produção, assim como no Brasil.

O nome do programa no Brasil não terá nada a ver com o original, por causa da conotação negativa de cativeiro.

O ‘reality show’ faz parte da ofensiva da Record de tentar tirar o segundo lugar do SBT no Ibope. A emissora terá neste ano US 30 milhões para investir em programação, como filmes, novos jornalísticos e telenovelas _apesar do fracasso de ‘Metamorphoses’.

OUTRO CANAL

Caipira

O remake de ‘Cabocla’ vem mantendo a audiência de ‘Chocolate com Pimenta’, que alavancou o ibope das 18h na Globo. Em seu primeiro mês, a novela deu média de 35 pontos _um ponto a menos do que ‘Chocolate’ no mesmo período.

Tinta 1

Apesar de o Ministério Público ter vetado remuneração ao presidente do conselho curador da Fundação Padre Anchieta, como quer Jorge da Cunha Lima, que ocupará o cargo a partir de segunda, o executivo já ocupa desde o dia 7 sua nova sala na TV Cultura.

Tinta 2

A sala do presidente do conselho acaba de ser reformada, tem ar-condicionado e um televisor novo de 29 polegadas. É acoplada a outra sala, de reuniões, que tem um aparelho igualzinho.

Indenização

Jorge Kajuru andou dizendo que ficará mais pobre, agora que foi demitido da Band. Mas, na semana que vem, ele deverá receber R$ 700 mil da emissora _R$ 300 mil a mais do que a multa rescisória prevista em contrato.

Mascarado

Orival Pessini, que fazia o Fofão do infantil ‘Turma do Balão Mágico’ (Globo, anos 80), foi contratado pela Rede TV!. Interpretará quatro personagens caracterizados por máscaras, desenvolvidas pelo próprio ator, no seriado infanto-juvenil ‘Vila Maluca’, que estréia em julho.’



BNDES & CULTURA
Folha de S. Paulo

‘BNDES anuncia maior rigor na seleção de projetos contemplados’, copyright Folha de S. Paulo, 10/06/04

‘O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) anunciou ontem as regras de seleção de projetos cinematográficos que receberão apoio neste ano. O orçamento será o mesmo de 2003: R$ 15 milhões.

As principais alterações são a possibilidade de apresentação de roteiros pela internet, um maior rigor na aprovação de roteiros de uma mesma produtora -aquela que tiver mais de um projeto em fase de produção apoiado pelo BNDES não poderá receber nova ajuda- e a ampliação do programa para obras de ficção de média e curta duração, que não eram contempladas.

Em 2003, 41 projetos receberam recursos do banco por meio da Lei do Audiovisual. O presidente do BNDES, Carlos Lessa, estima que o número de produções contempladas neste ano ficará no mesmo patamar. Assim como em 2003, haverá uma cota para produções de fora do eixo Rio-SP. O percentual dependerá do número de projetos apresentados.

O prazo para inscrição vai de 15/6 a 14/7. A divulgação dos vencedores deve ocorrer no fim do ano. Produções que não foram contempladas em outros anos podem ser reapresentadas. Os limites de financiamento são os mesmos: até R$ 120 mil para um curta; até R$ 200 mil para um média e até R$ 500 mil para um longa.’