Friday, 15 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Bia Abramo

‘‘Cocoricó’ é, hoje, um dos melhores programas produzidos para crianças na TV brasileira, provavelmente por causa da música de Hélio Ziskind. A suspeita vem em parte da observação (doméstica) de crianças assistindo ao programa e das reações entusiasmadas que se seguem a cada canção -e, em parte, na constatação de que uma trilha sonora própria representa um enorme diferencial.

Especialmente para crianças pequenas, que reagem muito com o corpo aos estímulos da televisão; a música quase que se sobrepõe à imagem como fator de atração. Quando são boas de fato, as canções são capazes de se constituir em uma narrativa às vezes complementar, às vezes independente -dentro da narrativa, com encanto todo particular.

Na história das narrativas audiovisuais para crianças, a música, de fato, ocupa um lugar central. O cinema e o teatro sempre souberam disso. Na TV, nem tanto -se muitos programas e até mesmo desenhos animados dão a devida importância à música, muitos o fazem de qualquer jeito ou com qualquer música.

‘Cocoricó’, claro, tem mais do que a trilha sonora. É um programa com bonecos, que gira em torno da turma do paiol do garoto Júlio à indiazinha Oriba, um trio de galinhas, uma vaca, um cavalo, dois papagaios, um porquinho. É quase que inacreditável que, para crianças em sua esmagadora maioria urbanas e que, muitas vezes, só conhecem esses animais de minifazendas, o universo rural ainda funcione como referência. Mas o fato é que funciona, se não pela familiaridade, pela fantasia.

Embora a movimentação dos bonecos seja excelente, ela não oferece as mesmas possibilidades e impossibilidades dos desenhos animados. As histórias, portanto, baseiam-se no carisma dos personagens, em situações de humor e em conversa -daí, por vezes, aparece o peso do tom pedagógico e, em alguns momentos, um ritmo meio lento.

Mas, se há um rancinho aqui ou ali, isso acaba ficando para trás pelo alto teor de simpatia e de capacidade de criar identificação com as crianças que têm os personagens.

Júlio, um menino comum, e suas amigas galinhas -modernas, espertas, brincalhonas, simpáticas- representam aspectos da infância muito distantes -talvez até diametralmente opostos- daqueles que costumam habitar programas de TV. Eles são cândidos, mas não bobos; ingênuos, mas não tontos; do bem, mas não certinhos.

E, além disso, há a música: divertida, de letras fáceis de lembrar, dançáveis e com identidade própria. Ziskind busca nas sonoridades adultas, do vasto repertório da música brasileira, o tom justo para as crianças -nem adocicado nem ligeiro nem simplificado demais. Em tempos de estridência produzida industrialmente para loiras e afins, nada como um programa que aposta em música com pé, cabeça e um tantinho de alma.’



BAND vs. DATENA
Daniel Castro

‘Band tira Datena do ar por ‘indisciplina’’, copyright Folha de S. Paulo, 12/02/2005

‘A Band tirou do ar anteontem o apresentador José Luís Datena. O jornalista, que folgou no Carnaval, apresentou o ‘Esporte Total -1ª Edição’, ao meio-dia. À tarde, foi informado que não apresentaria o telejornal ‘Brasil Urgente’ na quinta, ontem e hoje.

A Folha apurou que a ‘geladeira’ foi uma ‘medida disciplinar’ por parte da Band. Executivos da emissora estão descontentes com o comportamento de Datena, que fala palavrões no ar, critica o Ibope e questiona até os intervalos comerciais. Para eles, Datena tem descumprido sistematicamente a linha editorial da emissora. O jornalista deve ser formalmente advertido nos próximos dias.

Pessoas próximas a Datena avaliam que a Band está forçando o jornalista a pedir demissão, livrando-a de multa rescisória. Há dois anos, quando foi para a Band, a emissora assumiu compromisso de pagar multas de R$ 15 milhões por suas rescisões com a Record e com a Rede TV!.

Expediente semelhante foi usado pela emissora com Jorge Kajuru, que é amigo de Datena. Kajuru passou por uma seqüência de suspensões e advertências até ser demitido, em junho do ano passado.

Datena tem mais três anos de contrato. No Ibope, seu ‘Brasil Urgente’, com 3 pontos, está muito atrás do ‘Cidade Alerta’.

Procurados pela Folha, tanto a Band como Datena não se manifestaram. Segundo a emissora, ele volta ao ar na próxima segunda.

OUTRO CANAL

Surpresa O SBT anunciava ontem em seu site a estréia, amanhã, às 15h, de ‘Código F.A.M.A.’, programa com cantores mirins apresentado por Celso Portiolli. A atração irá selecionar um brasileiro para participar de edição internacional promovida pela Televisa, no México.

Agenda A segunda edição de ‘O Aprendiz’, da Record, estréia em 28 de abril. A operadora Vivo continua como patrocinadora.

Moderno As lésbicas Jenifer (Barbara Borges) e Eleonora (Mylla Christie), de ‘Senhora do Destino’, vão assinar um contrato de comunhão de bens registrado em cartório. ‘É a chamada união civil. Evito usar a palavra casamento, pois ela é sempre utilizada para dar a impressão que os homossexuais querem entrar na igreja de véu e grinalda’, diz o autor da novela, Aguinaldo Silva.

Mais um A prisão de Nazaré (Renata Sorrah) rendeu anteontem a ‘Senhora do Destino’ mais um recorde no Ibope. A novela da Globo marcou 62 pontos, com a sintonia de 81% dos televisores ligados. A marca anterior, há duas semanas, era de 61 pontos. ‘Celebridade’, que a antecedeu, só conseguiu isso no último capítulo.

Fora da mídia Carlos Massa, o Ratinho, só volta ao ar no SBT em março _e não nesta segunda, como foi anunciado. Seu programa vai virar um ‘game’ e deverá se chamar ‘Ratinho Charmoso’.’



CARNAVAL NA TV
Eliakim Araújo

‘Intragável desfile pela TV’, copyright Direto da Redação, 9/02/2005

‘Difícil escrever numa quarta-feira de cinzas sobre algum assunto que não seja Carnaval. Mas escrever o quê sobre uma festa que está cada vez mais limitada ao que acontece na Marquês de Sapucaí? Como o próprio narrador do desfile apregoou várias vezes ‘vem aí a Beija-Flor para fechar o carnaval 2005’. Ou seja, para a Globo o Carnaval acaba na terça de manhã. Ou o Carnaval termina quando acaba o desfile das escolas de samba que ela transmite com exclusividade.

A festa que deveria ser popular a cada ano vai se perdendo num desfile de celebridades globais que, não satisfeitas de ocupar a tela da TV o ano inteiro ainda vêm ocupar o único espaço que deveria pertencer aos sambistas de verdade. O público limita-se a observar passivamente, longe da pista e das festas e bocas-livres dos camarotes.

Avaliam-se as escolas hoje pelo número de celebridades que ocupam suas alas e carros alegóricos. Aposto que todo mundo sabe o nome da madrinha da bateria das grandes escolas, mas certamente ninguém sabe o nome das personalidades da comunidade que trabalham o ano inteiro pela grandeza de sua escola.

O monopólio da transmissão pela Globo obriga o telespectador a ver abundantes imagens de seus artistas. Eles estão em quase todas as escolas, sem contar que uma delas, a Grande Rio, parece ter virado sucursal da emissora, permitindo a tomada de imagens para a novela das oito durante o desfile da escola. Bons tempos aqueles em que a Manchete transmitia os desfiles e, com muita criatividade, obrigava a líder a correr atrás do prejuízo. Com isso, quem lucrava era o telespectador.

Por falar em monopólio da transmissão, tá difícil aguentar o modelo que a Globo impinge ao telespectador. As entrevistas priorizam os artistas da casa. O casal de apresentadores-narradores é jogado às feras. Vê-se nitidamente que não são do ramo e fazem um enorme esforço para tentar passar com naturalidade um script que repete as mesmas informações históricas de todos os anos e não conseguem fazer o telespectador entender o que o carnavalesco quis transmitir porque as imagens não combinam com o roteiro. O telespectador fica completamente perdido.

É verdade que alguns carnavalescos ‘viajam’ e transformam o desfile numa verdadeira babel, uma história sem começo, meio e fim. O que nos faz lembrar o saudoso Stanislaw Ponte Preta, pai do ‘samba do crioulo doido’, que eu recomendo aos mais jovens ouvirem urgentemente para entender melhor o que se passa naqueles 700 metros de pista do sambódromo.

Não há dúvida, para quem assiste de casa, o desfile é chato, monótono e arrastado. Por mais bonito que seja, é duro ouvir um samba-enredo repetido à exaustão durante uma hora e vinte minutos. As imagens são as de sempre, desfilantes e modelos e candidatas a tal numa profusão de bundas e peitos, muitos siliconados, como se esculpidos pelo mesmo cirurgião plástico ou pela mesma academia de aeróbica. O samba definitivamente deu lugar às alas de passo marcado e à exibição de dançarinos profissionais. E o pessoal da escola, ó!!!

Felizmente, o marasmo do desfile teve um momento emocionante, de rara beleza: o choro sentido dos integrantes da Velha Guarda da Portela impedidos de entrar na pista por ordem de um dirigente incompetente que temia perder pontos. Fechar o portão para a passagem dos verdadeiros sambistas, aqueles que dedicaram décadas de suas vidas à mais tradicional escola de samba do Rio, foi uma punhalada no coração da Escola. Ora, que se dane o tempo do desfile, mas aquela gente sofrida do subúrbio de Madureira, que vive a escola o ano inteiro, jamais poderia ter ficado atrás das grades por culpa de um regulamento autoritário que beneficia a forma em detrimento do conteúdo.

A atitude do dirigente impediu também que a alegoria homenageando um dos modernos heróis da história brasileira participasse do desfile: a bandeira nacional com a foto de Sergio Vieira de Mello, aquele que deu sua vida pela causa da paz.

Ivo Meirelles, comentarista da Globo, definiu numa frase a que foi reduzido o desfile dos tempos modernos. Ao ser questionado sobre a dificuldade do verdadeiro ‘samba no pé’ alfinetou: ‘que nada, não é difícil não, dependendo de quem indica, qualquer um pode ser sambista em qualquer escola’.’



Daniel Castro

‘Carnaval paulista bate o do Rio no Ibope’, copyright Folha de S. Paulo, 11/02/2005

‘Incrível: o Carnaval de São Paulo, tecnicamente inferior ao do Rio de Janeiro, foi campeão no Ibope em 2005. As transmissões dos desfiles de São Paulo, na sexta e no sábado, deram à Globo médias de 15 pontos em cada dia. As do Rio marcaram 14 pontos no domingo e na segunda. Os dados são da Grande São Paulo.

É a primeira vez que o Carnaval paulista dá mais audiência do que o do Rio mesmo na medição da Grande SP. No ano passado as escolas de São Paulo cravaram 13 pontos na sexta e 14 no sábado. As do Rio renderam 14 pontos no domingo e 15 na segunda.

Os números revelam interesse maior do telespectador paulistano pelo próprio Carnaval, que é prejudicado pelo fato de as transmissões serem nos dias de menor audiência da semana e de começarem mais tarde, por volta de 23h _as do Rio começam às 21h.

Principal ‘estrela’ das transmissões da Globo no Rio, a ‘sky cam’, câmera sustentada por cabos de material sintético, usada na abertura das Olimpíadas, não funcionou no domingo.

Um dos cabos da câmera _que permitiu ângulos inéditos do Carnaval, com tomadas em 360º_ foi danificado pela linha de uma pipa pouco antes do desfile de domingo. Por questões de segurança, a Globo e a empresa americana que a alugou optaram por consertar o cabo só na segunda.

OUTRO CANAL

Ofensiva 1 Silvio Santos chamou Herval Rossano, diretor de teledramaturgia da Record, para uma conversa. Está incomodado com o crescimento da concorrente e com o sucesso da novela ‘A Escrava Isaura’. Na terça, ‘Isaura’ deu 17 pontos e, durante muito tempo, ficou a apenas cinco de ‘Começar de Novo’, da Globo.

Ofensiva 2 Na quarta, impulsionada por ‘A Escrava Isaura’ e por São Paulo x São Caetano (que deu 17 de média), a Record voltou a bater o SBT na média do horário nobre (18h/24h), por 12 a 10 pontos na Grande São Paulo.

Ofensiva 3 A Globo, apesar de não ser ameaçada, já esboça reação. Tem dificultado a contratação de seus atores para as novelas da Record. E está de olho em Marcelo Rezende e Celso Freitas.

Educativo Depois de um termo chulo proferido por Raul Cortez em ‘Senhora do Destino’ e do festival de palavrões no ‘Big Brother Brasil’ de terça-feira, Hugo Carvana soltou um ‘cacete’ na novela das seis da Globo, anteontem, à luz do dia.

Frase De Aguinaldo Silva, sobre a coincidência de a Grande Rio, escola que cedeu seu desfile à Unidos de Vila São Miguel, de ‘Senhora do Destino’, levar o mesmo terceiro lugar da agremiação fictícia: ‘Essa novela é abençoada. Tudo dá certo’. Silva escreveu que a São Miguel ficaria em terceiro muito antes do Carnaval.’



INDÚSTRIA DA FALSIFICAÇÃO
Folha de S. Paulo

‘‘Indústria da Falsificação’ busca infratores’, copyright Folha de S. Paulo, 11/02/2005

‘Da barraquinha do camelô da esquina aos grandes centros comerciais, passando pela internet, há sempre uma estranha mágica: relógios de pulso caríssimos surgem à venda por apenas um terço de seu preço; os últimos lançamentos da música ganham CDs com capas borradas; bolsas Louis Vuitton surgem aos montes etc.

É esse universo da pirataria o tema abordado pelo documentário francês ‘A Indústria da Falsificação’, que o canal GNT exibe hoje.

Apesar de baseado em números e informações que tentam dar uma dimensão do poder dessa indústria -afirma que a pirataria gera 200 mil desempregados na Europa e custa US$ 370 milhões/ ano às empresas (cerca de R$ 965 milhões)-, o programa adquire certas tintas de filme de perseguição entre mocinho e bandido.

A escolha fica clara uma vez que o documentário é centrado em dois personagens, agentes antifalsificação: Marc Frisanco, dos relógios de pulso Cartier, e Jerome P., dos produtos da Bic.

‘A ameaça da falsificação é velada: incolor e inodora. Ela destrói nosso trabalho, suja nosso nome e dá aos produtos uma má reputação’, diz Frisanco no programa.

Em seguida, iremos acompanhar o agente pelas ruas de Chinatown e agentes da polícia em uma batida que apreende 100 mil relógios Cartier falsificados.

Frisanco vai, então, tentar descobrir o foco de disseminação da pirataria, o que o leva à China, país descrito por ele como responsável por 70% das falsificações que rodam o mundo. Lá, o agente irá percorrer a Nathan Road, onde diz que, há 15 anos, todas as lojas -cerca de 250- vendiam produtos falsos.

Em Shenzhen, os olhos de Frisanco irão brilhar, já que ele nos apresentará o Lowu Center, ‘o maior mercado de falsificações do mundo’, um verdadeiro shopping center da pirataria, e mais cenas de batidas policiais -nada muito diferente do que é mostrado nos telejornais brasileiros.

A INDÚSTRIA DA FALSIFICAÇÃO. Quando: hoje, às 7h30 e às 17h30; dom. (20h e 2h30), no GNT.’