Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Blog do Zé Dirceu


VEJA vs. DIRCEU
José Dirceu


As calúnias de Veja, 17/03/07


‘A revista Veja desta semana publica mais uma de suas matérias caluniosas e
ofensivas à minha honra e à minha imagem. Para dar ao leitor a impressão de que
a matéria é verdadeira, mistura fatos reais com mentiras. Sonega informações,
como as que eu mesmo dei em entrevista à revista na quinta-feira, desqualifica
minha vida profissional, imiscui-se em minha vida familiar e privada. O objetivo
é claro: combater-me politicamente, destruir minha vida profissional,
desconstruir minha história, prejudicar minha vida pessoal. A revista quer
manter sua campanha contra mim e mostrar que tinha razão em me transformar do
dia para a noite em bandido e chefe de quadrilha.


Para a revista, não basta eu ter sido cassado injustamente e acusado sem
provas. Não basta eu ter perdido o mandato e ficado inelegível. Veja não se
conforma por eu ter retomado minha atividade política e ter construído uma vida
profissional para assegurar o sustento de meus filhos e o meu. Sempre trabalhei
na vida. Como disse à revista, que não publicou minhas respostas e negativas
diante de mentiras, fui office-boy, almoxarife, arquivista, atendente, auxiliar
de contabilidade, coordenador de escritório, assessor jurídico, assessor
parlamentar. Na década de 70 tive uma alfaiataria, uma loja de confecções e uma
pequena fábrica de confecções. Nunca deixei de trabalhar e de me sustentar,
inclusive em Cuba, onde vivi exilado.


Hoje tenho um escritório de advocacia. Há vinte anos sou advogado, com muito
orgulho. Em 1980, quando voltei da clandestinidade, matriculei-me na PUC de São
Paulo e, trabalhando e estudando, terminei meu curso de Direito, tendo prestado
o Exame da Ordem dos Advogados do Brasil em 1985.


Sou também consultor de empresas, como tantos profissionais sérios e
respeitados no país. Afinal, me qualifiquei para isso. Disciplinado, ao longo da
minha vida profissional e política, estudei muito, li muito, conversei muito,
viajei bastante. Conheço bem a realidade do Brasil e seus problemas, assim como
sou um estudioso da América Latina, de seus países e relações. Em muitos deles,
construí relações políticas e profissionais. Portanto, é natural que seja
convidado a dar palestras e consultorias. Mas cita indiscriminadamente empresas
e empresários a quem não dei e não dou consultoria, como se fossem meus
clientes.


Além de me combater no campo político e de defender minha injusta cassação,
Veja quer inviabilizar minhas atividades profissionais legítimas e legais. Há
pouco tempo, a revista publicou matéria de duas páginas para impedir uma
palestra minha no Banco Credit Suisse. Falou de problemas desse banco com a
justiça só para intimidar empresas que me convidavam para dar palestras – o que
conseguiu, pois as empresas têm medo de sofrerem acusações na revista caso me
contratem, e todos sabem que, para Veja, acusações não precisam ser baseadas na
verdade.


Veja não se conforma porque, apesar de tudo que fez comigo, eu reconstruí
minha vida profissional e retomei minha vida política, recebendo o
reconhecimento de pessoas que não aceitam as injustiças. Veja calunia e ofende
porque é impossível apagar meus quarenta anos de vida pública e o fato de que
nada foi provado contra mim até hoje.


Veja e outras publicações escondem de seus leitores que houve a retratação em
juízo do irmão de Celso Daniel, que não fui citado judicialmente no caso
Waldomiro Diniz, que nada provaram contra mim em nenhuma investigação, apesar da
quebra de meus sigilos telefônico, fiscal e bancário.


Veja também esconde que em toda minha vida nunca fui processado por qualquer
crime, a não ser – o que me honra – na época da ditadura militar, quando fui
preso, banido do país e tive a nacionalidade brasileira cassada, sendo obrigado
por duas vezes a entrar clandestinamente na minha pátria.


Segundo a matéria, freqüento o restaurante Massimo. Poderia freqüentá-lo, mas
é mentira. A ultima vez em que estive lá, das poucas que fui e como convidado,
foi há anos, com Marco Aurélio Garcia, para uma conversa com Elio Gaspari. Veja
quer insinuar que levo um nível de vida elevado, diz que tenho ganhos pessoais
de 150 mil reais, querendo enganar deliberadamente seus leitores, ao confundir
faturamento com rendimento. Meus escritórios de advocacia e de consultoria podem
até faturar isso, mas têm que cobrir suas despesas, como os salários dos
funcionários, aluguel, impostos, etc. Logo, meu pró-labore e minha participação
nos lucros não serão nunca maior do que 15% desse valor.


Mas fica a idéia caluniosa que estou me enriquecendo ilicitamente, fazendo
lobby. Para isso a matéria fala, sem publicar o que contei ao repórter, de um
almoço meu com Guilherme Lacerda, meu amigo e companheiro há mais de 25 anos, e
um empresário do setor de transporte ferroviário. Disse ao repórter que não
trabalho para concessionárias de serviços públicos, mas ele desconheceu e
publicou o contrário.


A matéria invade criminosamente minha privacidade, com mentiras, falsidades e
querendo induzir o leitor a fazer juízos contrários a mim. Faz, por exemplo, uma
referência sobre minha vida clandestina no Paraná de forma a levar o leitor à
idéia de que enganei minha esposa ao não revelar a ela minha real identidade. Na
verdade, eu protegi sua vida e, ainda hoje, a tenho como amiga e conselheira.
Com ela tenho uma relação afetiva e humana, apesar dos mais de 25 anos de
separação. Tanto que passei o final do ano em sua companhia, de nosso filho,
minha filha e nossa neta.


Mas o objetivo da revista é atingir minha imagem e destruir o que tenho de
mais sagrado, minha vida e minha luta, mostrar-me como um monstro que trai sua
própria mulher.


Veja mente sobre vários fatos e insiste na mentira mesmo quando ouve a
verdade de entrevistados. Desconhece o que é dito para fortalecer suas versões
interesseiras. Há muito tempo o que se diz nos meios jornalísticos é que se os
fatos não confirmam as teses dos editores de Veja, azar dos fatos.


É inominável o que Veja fez com minha vida privada e não tenho palavras para
descrever minha indignação e revolta, mas acredito que fica o alerta para o
perigo que representa esta revista para a democracia e para a liberdade de
imprensa, por ela violadas semanalmente ao não reconhecer e a negar os direitos
individuais daqueles que procura atacar e destruir.


O desrespeito de Veja pelos princípios democráticos, pela liberdade de
imprensa e pela ética do jornalismo é tão forte que a revista sequer dá aos
agredidos e ofendidos o direito de resposta. Não publica suas cartas ou corta
trechos arbitrariamente, suprimindo o que não convêm a seus propósitos.


Para mim só há o caminho da justiça, ao qual já recorri – tenho uma audiência
no dia 19 num processo que movo contra um de seus jornalistas – – e ao qual
recorrerei quantas vezes for necessário.


Por fim, Veja fala de minha anistia, sobre os apoios que tenho no PT e,
pasmem, sobre uma candidatura minha à Presidência da República em 2010. É
verdade que tenho o apoio e o apreço da imensa maioria dos petistas em todo
nosso Brasil. Também é verdade que a campanha em apoio à minha anistia ainda não
começou, mas não pelas razões elencadas por Veja; simplesmente, porque ainda não
é hora de deflagrá-la. E não será Veja que determinará esse momento e muito
menos minhas decisões políticas e dos que me apóiam em todo país.


A absurda referência a uma pretensa intenção minha de disputar a Presidência
da República desmascara e desmoraliza toda a matéria da Veja.


A matéria caluniosa e desrespeitosa com a minha honra e a de todos os citados
mostra o caráter policial e repressivo que assumiu esse tipo de jornalismo
pretensamente investigativo, mas que, na verdade, é instrumento de posições
político-ideológicas e de interesses econômicos. Não fui julgado, sequer fui
processado, mas a revista Veja já me condena. Citando Ivan Lessa, diz que o
Brasil esquece tudo a cada quinze anos. Ou seja, já fui condenado pela Veja e,
agora, aposto no esquecimento.


Não é o meu caso. Quero ser julgado pelos tribunais, não quero impunidade ou
prescrição. Já disse e repito: tenho direito a lutar pela anistia, fui cassado
sem provas e, depois de quase dois anos, nada foi provado contra mim. Ao
contrário, a cada investigação sou inocentado.


Quero justiça, e rápida. Não aceito prescrição ou impunidade, vou ser
absolvido e recuperar meus direitos.’




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