Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Bruno Bocchini

‘Brasília – Pela primeira vez, o tema comunicação terá eixo-temático próprio em um Fórum Social Mundial (FSM). ‘Comunicação: práticas contra-hegemônicas, direitos e alternativas’ será um dos 11 principais assuntos em discussão nesse 5º FSM. Nos fóruns anteriores, a comunicação ficou diluída em outras temáticas. Dessa vez o assunto recebe grande destaque, o que pode ser notado pelo número de atividades já programadas: quase 150.

Segundo Joaquim Ernesto Palhares, colaborador do Observatório Brasileiro de Mídia e vice-presidente do Media Watch Global, um observatório de imprensa internacional, o debate sobre comunicação é necessário para pôr em evidência, entre outros temas, a concentração da mídia brasileira e o monopólio de informação.

‘Esse é um grande problema, a questão da concentração. Algumas dessas mídias como, por exemplo, a televisão e o rádio, são concessões públicas, portanto nós entendemos que os proprietários dessas redes deveriam ter uma contrapartida para com o povo brasileiro’, afirma Palhares.

No fórum, serão apresentados números que, segundo ele, demonstram a concentração da mídia brasileira. ‘A própria associação de jornais, onde estão concentrados todos os grandes jornais brasileiros, ela mesma afirma que existe uma concentração da mídia. E aí a questão é saber: escuta, isso não quer dizer nada? Isso não tem conseqüências? Que caminhos poderíamos e deveríamos tomar com relação a isso?’, indaga.

Além das entidades brasileiras, responsáveis por dois terços das atividades propostas sobre comunicação, grupos internacionais como CRIS (Communications Rights in the Information Society), AMARC (Associação Mundial de Rádios Comunitárias), ALER (Associação Latino-americana de Educação Radiofônica), ALAI (Agência Latino Americana de Informação) e Media Watch Global estarão presentes nos debates.

A cobertura jornalística do fórum também terá o reforço de três sistemas de compartilhamento de notícias desenvolvidas pelo Grupo de Trabalho de Comunicação do FSM: a Ciranda (sistema de compartilhamento de notícias escritas e de fotos, www.ciranda.net/2005), o Fórum de Rádios (www.forumderadios.fm) e o Fórum de TVs (www.forumdetvs.tv).’



Emir Sader

‘O meu Quixote’, copyright Jornal do Brasil, 23/1/05

‘Quem relê fica com a sensação que passaram rápido os quatro séculos do Quixote, pela atualidade do tema, pela frescura do texto e pela ironia corrosiva do livro. Cada um terá o seu Quixote, a sua leitura, o resgate da sua dimensão preferida. Eu também tenho o meu.

O Quixote foi a primeira grande obra de ficção do mundo moderno. Antes dele, as obras de cavalaria davam o padrão da ficção do mundo medieval, um mundo marcado pela luta da Igreja contra os ímpios, os bárbaros, tudo o que ameaçava seu império. O indivíduo não existia, havia apenas sujeitos coletivos a serviço de missões divinas, como os cruzados. No máximo, obras de filosofia discutiam o tema do livre arbítrio, para tematizar o pequeno espaço de decisão deixado aos homens pelo seu criador, que servia para definir seu destino eterno – o céu, a salvação eterna, ou a danação nas profundezas do inferno, com sua ameaçadora imagem das labaredas devoradoras.

O mundo moderno viu o surgimento do homem, do indivíduo, com seu destino, com sua cara, com seus sentimentos, com sua vontade. A pintura começou o longo caminho da dessacralização a que estivera condenada pela Idade Média. A mulher começava lentamente a aparecer por detrás da Virgem Maria, os anjos iam aos poucos dando lugar às crianças, os nobres e religiosos foram sendo substituídos por gente comum, até que a natureza penetrasse definitivamente no cenário da pintura com o impressionismo.

A política igualmente, pelas mãos de Maquiavel, ia deixando de ser apanágio da Igreja e das famílias reais consagradas por ela, para ser função dos homens. Nascia o critério da boa política, da virtude, da capacidade de unificação nacional e de criação de consenso, de que O Príncipe seria a primeira grande expressão. A política passava a ser uma questão dos homens, dessacralizando-se, deixando de ter que ver com a ascendência por sangue.

O surgimento do romance moderno tem no Quixote sua primeira grande expressão, problematizada pela própria obra de Cervantes. O personagem central se acredita ainda ungido de missões medievais, em um mundo dessacralizado, cujo caráter terreno está representado pelo seu fiel escudeiro – Sancho Pança. O drama do Quixote é o de buscar missões em um mundo em que o destino está depositado nas mãos de cada um, um mundo em que as circunstâncias do mercado é que decidirão os destinos de cada um e não qualquer destino previamente definido. É esta a mensagem que cotidianamente Sancho recorda a seu patrão.

É esse indivíduo, perdido no mundo, entregue a suas próprias circunstâncias, que aparece como o grande drama do romance moderno. O indivíduo – de que o Quixote é sua primeira grande aparição – surge como seu protagonista. Indivíduos no mundo, forjando destinos em aberto, na grande aventura que a modernidade projetava.

O Quixote acabou deixando a imagem do ‘quixotesco’, seja a de quem peleja de forma inútil por objetivos impossíveis, seja a de quem luta por ideais difíceis, senão impossíveis, de atingir. A utopia não deixou mais de encontrar no Quixote uma imagem afim.

Não por acaso o Che foi buscar no Quixote a imagem da sua gesta, em um momento tocante, quando escrevia sua carta de despedida aos pais, no momento da partida para a Bolívia: ‘Outra vez sinto sob meus calcanhares as costelas de Rocinante, volto ao caminho com minha adaga no braço.’

E para que servem o Quixote e as utopias? O escritor Eduardo Galeano nos responde: se as utopias são inalcançáveis, se cada vez que caminhamos na sua direção, que nos aproximamos, ela se distancia um pouco mais, elas servem para isso: para nos indicar a direção na qual caminhar. O meu Quixote serve para isso, para reforçar as energias na luta pelas utopias. O Fórum Social Mundial é um espaço para isso – para o ‘quixotismo’, para reatualizar o itinerário da luta pelas utopias e pela esperança.’



Rafael Cariello

‘Chávez deve gravar programa de um acampamento do MST’, copyright Folha de S. Paulo, 20/1/05

‘O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, irá a Porto Alegre no dia 30 de janeiro participar do 5º Fórum Social Mundial, que acontece entre os dias 26 e 31 deste mês na capital gaúcha. Como a data coincide com o dia em que apresenta seu programa -um domingo-, Chávez deve fazer a transmissão para rádio e TV venezuelanos direto do Brasil.

A Embaixada da Venezuela em Brasília disse não saber exatamente de onde ocorrerá a transmissão, embora seja possível que se realize em um acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que será visitado pelo venezuelano.

O MST, ao lado da CUT (Central única dos Trabalhadores) e da ONG Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, foi quem convidou Chávez a participar do encontro deste ano.

A vinda do presidente da Venezuela -que esteve presente no último Fórum Social Mundial realizado no Brasil, em 2003- foi confirmada ontem pela Embaixada da Venezuela. Segundo um diplomata venezuelano, ‘com certeza ele [Chávez] virá participar do fórum, embora sua agenda ainda não esteja confirmada’.

No ano passado, o evento, que se propõe a ser um contraponto ao Fórum Econômico Mundial, reunião anual de lideranças econômicas e políticas mundiais, aconteceu na índia. Para este ano, a expectativa é que 150 mil pessoas participem dos eventos programados em Porto Alegre.

Além de Hugo Chávez, o outro chefe de Estado com presença já confirmada no Fórum Social Mundial é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Também é esperada a vinda do primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero.

Programação

De acordo com Aton Fon Filho, integrante da Rede Social e advogado do MST, a programação final da visita ainda está em construção, mas está previsto, ele diz, um encontro do venezuelano com intelectuais brasileiros e estrangeiros, um debate aberto ao público e uma entrevista coletiva.

Além disso, Chávez deve participar de uma manifestação contra os transgênicos e deve fazer uma visita a um acampamento do MST, localizado ‘a cerca de uma hora de Porto Alegre’.

João Vaccari, secretário de relações internacionais da CUT, afirma que Chávez foi convidado para poder ‘contar o que acontece na Venezuela’, que, segundo ele, é uma experiência importante, mas só conhecida hoje pelo ‘conjunto da sociedade’ por meio dos veículos de comunicação.

Fon Filho afirmou que uma das razões que levaram as entidades brasileiras a convidar o presidente da Venezuela a participar do Fórum Social foi sua proposta de contrapor a Alca (área de Livre Comércio das Américas) a uma ‘Alba’ (Alternativa Bolivariana para as Américas).

Na sua visita anterior, Chávez provocou manifestações em seu apoio nas ruas de Porto Alegre. Aproximadamente 5.000 pessoas se reuniram na frente do Palácio do Governo, enquanto o venezuelano visitava o governador Germano Rigotto (PMDB-RS). Da sacada, ele saudou a multidão de esquerda e foi ovacionado.’



Agência Carta Maior

‘5 mil jornalistas acompanharão Fórum Social Mundial 2005’, copyright Agência Carta Maior, 20/1/05

‘Número de profissionais de comunicação que cobrirão as atividades do FSM 2005 é o maior da história do evento, cuja quinta edição começa dia 26. Jornalistas de 69 países, dos cinco continentes, estarão em Porto Alegre. Um total de 5.421 profissionais de imprensa, de 69 países, já estão inscritos para cobrir a quinta edição do Fórum Social Mundial, que será realizada de 26 a 31 de janeiro, em Porto Alegre. E este número deve aumentar ainda mais, pois as inscrições estarão reabertas nos próximos dias.

Entre os mais de 5 mil já inscritos, 1.294 são jornalistas free-lancers e 4.127 são profissionais ligados aos 1.616 veículos credenciados, informa a organização do evento. Estão cadastrados para cobrir o Fórum, profissionais de 17 países africanos, 13 asiáticos, 18 americanos (englobando as três Américas), 20 europeus e um da Oceania. O número de inscritos supera as demais edições: em 2001, foram 1.870 profissionais; em 2002, 3.356, e em 2003, mais de quatro mil. No Fórum Social Mundial de Mumbai, Índia, em 2004, credenciaram-se 3.200 jornalistas.

A partir de 20 de janeiro as credenciais dos jornalistas já estarão disponíveis no andar térreo da Usina do Gasômetro. Nesta mesma data e local também será reaberto o credenciamento de imprensa. Os documentos necessários para efetuar a inscrição são o registro profissional, ou uma credencial do veículo para o qual o profissional fará a cobertura. Estudantes de jornalismo podem participar desde que estejam fazendo cobertura para algum veículo de comunicação de sua faculdade. Para tanto, deverão apresentar carteira de estudante e um exemplar do material jornalístico produzido. Com o crachá, os jornalistas terão acesso livre às estruturas de apoio à imprensa, às entrevistas coletivas e a todas as atividades do FSM.

A organização do FSM disponibiliza, na Usina do Gasômetro, uma estrutura composta por uma sala de imprensa, equipada com 120 computadores ligados à internet e 27 pontos para laptop; uma sala de operações da cobertura compartilhada, equipada com 30 computadores; dois estúdios de rádio para atuação de rádios comunitárias; sete cabines de rádio e quatro estúdios de TV para uso compartilhado. Mesmo com essa infra-estrutura ofertada, a organização do FSM sugere que os profissionais tragam seus laptops para permitir que todos possam realizar seu trabalho com maior tranqüilidade.

Credenciais para participantes Quem já se inscreveu para participar das atividades do Fórum Social Mundial 2005 pode retirar as credenciais a partir do dia 22 de janeiro (sábado), das 8h às 20h, nas tendas montadas no estacionamento na Usina do Gasômetro, próximo à Avenida Beira Rio. Essas inscrições foram realizadas através da página oficial do evento (www.forumsocialmundial.org.br). Cada participante receberá um crachá de identificação, a programação oficial do FSM 2005 e uma bolsa. Para evitar grande concentração de pessoas em frente às tendas, as organizações estrangeiras e brasileiras deverão nomear de um a três representantes para retirar o material. Os nomes dos representantes indicados pelas organizações devem ser enviados por correio eletrônico: mobilizacao@forumsocialmundial.org.br. Uma agência do Banco do Brasil estará funcionando junto ao setor de credenciamento para que os pagamentos possam ser feitos com agilidade. As inscrições pela internet encerraram no dia 31 de dezembro. Quem perdeu esse prazo, ainda pode fazer a inscrição durante o FSM 2005, que ocorrerá de 26 a 31 de janeiro. No entanto, segundo informações da organização do Fórum, quem se inscrever agora não terá a garantia de receber a programação impressa ou a bolsa do evento. Para a inscrição, basta apresentar a carteira de identidade ou o passaporte. O valor das inscrições individuais varia entre R$ 12,00 e R$ 30, dependendo do país de origem do participante. As informações são da Assessoria de Imprensa do Escritório do FSM 2005, em Porto Alegre.’