Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Bruno Yutaka Saito e Thiago Stivaletti

‘Se os números se confirmarem, a portinha do armário terá, para muitos, seus dias de catraca em final de campeonato. A 8ª edição da Parada do Orgulho GLBT (gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros), hoje em São Paulo, espera receber 1,5 milhão de pessoas. Número que não faz as emissoras de TV e anunciantes de peso saírem do armário quando o assunto é assumir esse público.

Canais como Sony, HBO e Multishow, que exibem as séries ‘Queer as Folk’, ‘Queer Eye for the Straight Guy’ e ‘Loud & Queer’, rejeitam o rótulo ‘série para gays’ e a importância estratégica desse público.

Em ‘Queer Eye’, um dos líderes na audiência da TV por assinatura no domingo à noite, cinco gays especializados em itens como culinária e moda remodelam um hetero para que ele conquiste uma mulher. ‘O programa funciona porque os cinco gays não seguem aquela máxima comum entre eles de que todo homem é um gay em potencial. Eles respeitam a heterossexualidade do convidado e passam a mensagem de que ambos podem conviver sem problema’, diz Carolina Vianna, gerente de marketing do Sony.

Em abril, ‘Queer Eye’ foi a terceira maior audiência do Sony entre os telespectadores na faixa dos 18 aos 49 anos. Nos EUA, exibido pelo canal pago Bravo, atraiu 2,8 milhões de espectadores na estréia, em julho do ano passado, a segunda maior audiência da história do canal. Como a maior parte dos programadores, Carolina diz que o Sony não incluiu ‘Queer Eye’ na grade por causa da temática -e que a série faz muito sucesso entre os heteros, especialmente os pais de família.

Há telespectadores -heteros- que concordam. ‘‘Queer Eye’ agrada homens e mulheres, gays ou ‘straights’. Vejo pelo meu marido, que detesta ‘Queer as Folk’ porque acha muito restrita e explícita, mas adora ‘Queer Eye’ porque não é dirigido exatamente para um público’, diz a jornalista Patricia Belotti, 24.

Os anunciantes também não estão atrás dos homossexuais -são grandes empresas que anunciam nos canais, programas e horários mais diversos, como Volkswagen, Motorola e Nestlé. ‘As empresas voltadas especificamente para o público gay em geral são pequenas e não têm verba pra anunciar na TV’, diz Vianna.

O Multishow estreou na sexta a alemã ‘Loud & Queer’. O humor fica próximo a ‘Will & Grace’, e a estrutura narrativa segue a das séries americanas. Wilson Cunha, diretor do canal, também rejeita o rótulo de série para gays. ‘Queremos atrair todo mundo com os nossos programas. E como o humor gay é bastante sarcástico, uma série dessas se torna um componente diferente na programação.’

Na TV aberta, nenhum programa aposta abertamente no público GLS -mas alguns elementos do universo gay começam a ser usados. Na sitcom ‘Sexo Frágil’, os protagonistas são todos masculinos e se travestem de mulher para falar sobre o comportamento dos homens. ‘O programa é uma observação bem-humorada sobre o mundo atual. O fato de os atores fazerem as mulheres os torna mais frágeis. Mas não tentamos agradar nenhum nicho específico de público’, diz João Falcão, diretor e roteirista do programa.

Mercado carente

Fãs dessas séries entrevistados pela Folha são unânimes em dizer que o cenário ainda engatinha.

‘Esses programas tentam suprir uma carência do público, porém o mercado brasileiro ainda está fechado para as séries gay’, diz o estudante Ivan José Junior, 19.

‘O que me atrai em séries como ‘Queer as Folk’ e ‘A Sete Palmos’ é a temática. Já que é tão difícil um gay conseguir ‘se ver’ na televisão brasileira, assisto a essas séries para ver personagens mais ou menos iguais a mim na tela’, afirma o professor Leandro Colling, 32.

Já ‘Queer as Folk’, em sua quinta temporada, mostra a rotina de um grupo de amigos gays em Pittsburgh, e é a campeã no quesito identificação com os gays.

‘Como não existe esse tipo de série por aqui, tenho que ver as americanas. As coisas melhoraram muito de uns anos para cá. Afinal, em séries e filmes, cada vez mais vemos os gays aparecendo. Mas sua vida ainda é muito ‘glamourizada’: lindos, brancos, com uma autoconfiança incrível. Nós sabemos que a realidade é um pouco diferente’, diz o securitário Saint-Clair Stockler, 31.

Para muitos, ‘Queer as Folk’ serviu como uma iniciação. ‘Eu não sabia que era gay antes de assistir a ‘QAF’’, diz José Junior, 19. ‘A série mostra o lado bom e o ruim dos gays, e dá uma base para quem está se descobrindo.’

‘Reneguei minha opção sexual por muito tempo. Nas séries, nós nos espelhamos nas personagens que passam por isso e tentamos fazer uso disso’, diz Paulo Júnior, 23, auxiliar administrativo.’



Bruno Yutaka Saito

‘Fãs se reúnem em hotel em SP’, copyright Folha de S. Paulo, 13/06/04

‘Hoje é dia da parada gay em São Paulo, que vai reunir os assumidos e os não-assumidos. Este domingo é também um dia em que os assumidíssimos se encontram.

Fãs da série americana ‘Queer as Folk’ (ou ‘Os Assumidos’, como chamou-se inicialmente no Brasil, exibida no HBO) promovem, no hotel Formule 1 (na rua da Consolação), a quinta edição da Enfqaf (Encontro Nacional de Fãs de ‘Queer as Folk’).

Se alguém mais empolgado achar que o encontro segue parte da lógica da série -aquela que se refere às cenas de sexo quentíssimas entre homens-, deve baixar a bola. Segundo o organizador do encontro, o designer gráfico Paulo Nobre, 23, o encontro, que reuniu 35 participantes no ano passado, tem outras intenções.

‘São reuniões de amigos novos e antigos. Pode rolar um clima e começar um namoro, mas isso fica por conta do cupido’, diz. ‘Somos a Família QAF.’

Além de seguir a programação da parada, como o Gay Day no Hopi Hari, os participantes também se reúnem na casa de algum dos integrantes do grupo, vão a bares, restaurantes, karaokês e todo tipo de passeio turístico, já que fãs do Brasil inteiro participam.

As reuniões, que acontecem com a parada, surgiram com o site www.queerasfolk-brasil.com, criado pelo estudante de publicidade Ivan José Demarque Junior, 19. A lista de discussão do site tem 229 membros.

‘São pessoas dos mais variados tipos, de drags até um rapaz que apareceu com uma roupa social no meio da parada’, diz o professor Fábio P., 30. ‘As profissões são diversas: engenheiros, comerciantes, bancários, assessores etc. Existem os gays mais chamativos e os mais discretos, seguindo a variedade da série.’

Para quem quiser participar do próximo encontro, o site geociti es.yahoo.com.br/qaf- brasil/ venfqaf.htm dá as informações, além de dicas como ‘Não se esqueça de levar seu bicho de pelúcia’ e ‘Com relação a quem vai ficar no mesmo quarto que você, não se preocupe, ninguém ficará sozinho a menos que queira’. ‘Acabam rolando alguns beijinhos entre uns e outros, mas tudo naturalmente’, diz Nobre.’



Daniel Castro

‘Primeiro canal gay da TV paga ficou ‘escondido’’, copyright Folha de S. Paulo, 13/06/04

‘O primeiro canal gay da TV paga brasileira está no ar desde 2001, mas pouca gente sabe disso. Distribuído pela Tecsat, operadora via satélite com cerca de 100 mil assinantes, o GLS TV só saiu do armário há duas semanas, quando a DirecTV anunciou o G Channel com o marketing de ‘primeiro canal gay’ do Brasil.

A Sat América, empresa que empacota o GLS TV, contratou uma assessoria de imprensa para posicionar o canal como o pioneiro de fato na transmissão de filmes gays ‘hardcore’.

Esse tipo de atitude, de esconder determinados produtos, é comum a todas as programadoras e operadoras de canais de sexo explícito, principalmente os dirigidos ao público homossexual.

Quem acessa o site da Globosat (www.globosat.com.br), maior programadora brasileira (dos canais GNT, Telecine e Multishow), não encontrará na página inicial nenhuma referência ao Sexy Hot, o canal de sexo (heterossexual) mais visto do país. Sim, o Sexy Hot é da Globosat, mas a programadora da Globo faz questão de não alardear isso.

A Globosat, por sinal, está há quase um ano trabalhando em um projeto de canal gay, para ser lançado em 2005.

Já foram feitos alguns estudos financeiros e de programação do canal. O projeto foi desenvolvido em sigilo até mesmo para o restrito mercado de TV paga. Apenas há duas semanas veio a público, em reportagem na Folha.

No início deste mês, a DirecTV teve que trabalhar sozinha na divulgação do G Channel. A empresa que programa o canal, a programadora argentina Claxson, não fez nenhuma divulgação. Seus executivos se recusaram a dar entrevistas falando do canal.

Crescimento

O G Channel e GLS TV são oferecidos em sistema ‘pay-per-view’ (pague para ver). Trazem filmes pornográficos produzidos no Leste Europeu e nos Estados Unidos. Paga-se até R$ 29,90 por fim de semana para assiná-los.

O mercado de TV paga começa a despertar para conteúdos dirigidos ao público homossexual. A Globosat estima que o canais gays têm potencial de atingir 20% dos assinantes do país, algo em torno de 700 mil domicílios.

Esse público interessa às programadoras e operadoras porque, acreditam essas empresas, tem alto poder aquisitivo. Ou seja, podem gastar mais do que a mensalidade da assinatura com produtos extras, como os canais de filmes eróticos homossexuais.

A oferta de canais e programas gays à la carte deve aumentar no segundo semestre deste ano, quando as principais operadoras de cabo (Net e TVA) começam a digitalizar suas redes.

Com a digitalização, elas poderão oferecer até o triplo de canais que hoje tornam disponíveis. E darão prioridade a produtos que possam gerar receitas adicionais, como os ‘pay-per-view’ de filmes gays.

Por enquanto, tudo o que as empresas de TV paga brasileiras vêem nos homossexuais são ávidos consumidores de sexo explícito. Nos Estados Unidos, isso está mudando. A Viacom, que detém a MTV, prepara-se para lançar em fevereiro o Logo, canal que será baseado em entretenimento para gays, não em ‘sexo ou sexualidade’.’

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‘MTV faz programa de namoro ‘bissexual’’, copyright Folha de S. Paulo, 11/06/04

‘A MTV exibe segunda-feira, às 22h, o primeiro programa de namoro da TV brasileira que reunirá pessoas de diferentes orientações sexuais. No ‘reality show’ ‘Pé na Bunda’, o heterossexual Kléber, 29, e a homossexual Mariana, 23, irão disputar a preferência da bissexual Elaine, 29.

A MTV vem chamando a edição de ‘Pé na Bunda – Bissexual’. Foi gravada durante três dias há duas semanas. O ‘Pé na Bunda’ é uma versão do americano ‘Dismissed’, em que duas pessoas, os ‘guerreiros’, tentam namorar uma terceira, o ‘alvo’. Eles vão a jantares e ‘baladas’. No final, um dos ‘guerreiros’ é dispensado pelo ‘alvo’, na frente das câmeras.

O ‘Pé na Bunda – Bissexual’ irá ao ar um dia após a parada gay de São Paulo. A MTV já exibiu edições do ‘Fica Comigo’ (extinto) só com homossexuais masculinos e só com femininos. Será o penúltimo ‘Pé na Bunda’ da temporada que começou em janeiro. A atração deve voltar no verão.

‘O programa foi quente’, diz Zico Goes, diretor de programação da MTV, sobre a ‘temperatura’ do ‘Fica Comigo – Bissexual’.

Goes afirma que a intenção da MTV é mostrar que o homossexualismo é uma coisa normal. ‘Os ‘Fica Comigo’ gay e lésbico tinham uma mensagem, a de tratar a homossexualidade de forma clara, sem escândalos, sem preconceitos. Infelizmente, ainda é necessário repetir essa mensagem no ‘Pé na Bunda’’, diz.

OUTRO CANAL

Desfecho 1

Jorge Kajuru vai mesmo entrar para a história por ter sido demitido em pleno ar. O jornalista, que foi tirado do ar pela Band durante o ‘Esporte Total – 2ª Edição’ do último dia 2, quando criticava o governo mineiro pelo excesso de convidados para o jogo Brasil x Argentina, terá seu contrato com a emissora rescindido.

Desfecho 2

A decisão pela rescisão só foi tomada ontem. ‘Não tem nada mais importante do que minha dignidade e o meu direito de se indignar’, disse Kajuru. A Band não comentou.

Fico

Luana Piovani disse não à Record e ficou na Globo. Topou ‘cobrir’ a licença de Maria Paula no ‘Casseta & Planeta’.

Ocasião 1

A Brahma gravou no último final de semana um comercial com Hugo Carvana, o Lineu de ‘Celebridade’. Na peça, Carvana/Lineu diz que se ‘sente bem mais vivo’ após beber a cerveja, numa alusão ao assassinato do personagem.

Ocasião 2

A Brahma, no entanto, diz que o comercial é um piloto (teste), ainda não foi aprovado e não tem previsão de ir ao ar.

Cadeira

A pedido, Franklin Martins deixou a direção de jornalismo da Globo em Brasília, para se dedicar ao vídeo. E a Rede TV! contratou o ex-Globo Álvaro Pereira (não confundir com Álvaro Pereira Jr., do ‘Fantástico’), para apresentar o ‘Notícias do Brasil’.’