Leia abaixo os textos desta quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006
CENSURA NOS EUA
Governo Bush retira documentos de arquivos
‘DO ‘NEW YORK TIMES’, EM WASHINGTON – Num programa de sete anos implantado nos Arquivos Nacionais, agências de inteligência têm retirado do acesso público milhares de documentos históricos disponíveis havia vários anos, incluindo alguns já publicados pelo Departamento de Estado e outros fotocopiados por historiadores.
A restauração da condição de sigiloso a mais de 55 mil páginas que já haviam sido liberadas começou em 1999, quando a CIA (Agência Central de Inteligência) e cinco outras agências se opuseram ao que foi considerada uma divulgação apressada de informação sensível. Esse movimento se acelerou com o governo George W. Bush, sobretudo depois do 11 de Setembro, de acordo com os registros dos arquivos.
Mas, devido ao fato de o programa de reclassificação estar ele mesmo envolvido em mistério -regido por um memorando ainda sigiloso que proíbe os Arquivos Nacionais até de dizer quais as agências envolvidas-, a prática seguiu despercebida até dezembro. Foi quando o historiador Matthew M. Aid notou que dezenas de documentos que havia copiado anos atrás foram retirados dos arquivos abertos.
Aid ficou impressionado pelo conteúdo aparentemente inócuo dos documentos -na maioria, relatórios do Departamento de Estado datados de décadas atrás sobre a Guerra da Coréia e a Guerra Fria. Ele descobriu que oito documentos retirados haviam sido publicados na série de história do Departamento de Estado.
‘O material que eles recolheram nunca deveria ter sido retirado’, disse Aid. ‘Alguns são banais; outros são simplesmente ridículos.’
Depois que Aid e outros historiadores reclamaram, o Escritório de Vigilância de Informações de Segurança, que supervisiona a classificação do governo, começou uma auditoria, informou o seu diretor, J. William Leonard.
Ele disse que, depois de a auditoria ter revisado uma amostra de 16 documentos retirados, nenhum deles deveria ser sigiloso.
‘Se esses documentos da amostra foram retirados porque alguém pensou que eles eram sigilosos, estou chocado e desapontado’, disse Leonard, em entrevista.
Um grupo de historiadores, incluindo representantes da Coalizão Nacional pela História e a Sociedade dos Historiadores de Relações Estrangeiras Americanas, escreveu a Leonard na sexta demonstrando preocupação sobre o programa, o qual eles crêem ter bloqueado o acesso a documentos de bibliotecas presidenciais.
Entre os 50 documentos retirados que Aid encontrou em seus próprios arquivos está um memorando de 1948 da CIA sobre um plano de empregar balões para distribuir folhetos de propaganda em países atrás da cortina de ferro. O documento foi colocado em sigilo em 2001 apesar de ter sido publicado pelo Departamento de Estado em 1996.
Pela regra vigente, um documento governamental deve deixar de ser sigiloso depois de 25 anos, a não ser que exista uma razão específica para mantê-lo em segredo. Embora algumas escolhas feitas pelo revisores dos arquivos sejam perturbadoras, outras decisão parecem orientadas por um velho reflexo burocrático: encobrir constrangimentos, mesmo ocorridos 50 anos atrás.
Um documento que voltou a ser sigiloso, por exemplo, é uma avaliação de 12 de outubro de 1950 feita pela CIA segundo a qual uma intervenção chinesa na Guerra da Coréia ‘não era provável’ naquele ano. Duas semanas mais tarde, cerca de 300 mil soldados chineses chegavam à Coréia.’
TV DIGITAL
As celulares e a TV digital
‘Tenho procurado expor os argumentos dos principais personagens envolvidos na novela da TV digital, assim como dos consórcios de tecnologia. Um personagem relevante são as empresas de telecomunicações. A Abrafix (que congrega a telefonia fixa, talvez o parceiro mais forte desse jogo) não produziu até agora um documento sequer e diz não ter posição sobre o tema. Já a Acel (que congrega as celulares) montou um trabalho defendendo sua posição no jogo.
Em suma, ela divide a TV digital em dois tipos: a terrestre e a portátil. A primeira é recebida em aparelhos televisores convencionais ou de alta definição de imagem, distribuídos por meio de uma rede montada pelas emissoras. Os serviços são abertos e gratuitos. Já a TV digital portátil é recebida em terminais portáteis (entre os quais se inclui o celular), requer uma rede de TV digital portátil, com maior número de antenas difusoras.
O decreto nº 4.901, de 2003, que instituiu o Sistema Brasileiro de Televisão Digital (SBTV), trata apenas da TV terrestre. Mas a definição do padrão tem de levar em conta a portátil.
Os radiodifusores querem a possibilidade de distribuir seu conteúdo gratuito sem pagar pedágio para as empresas de celulares. A proposta da Acel é a de um modelo híbrido. Por ele, os radiodifusores poderiam transmitir toda a sua programação gratuita sem pagar nada. E seria montada uma operação integrada para exploração e compartilhamento dos programas sob demanda.
As companhias celulares teriam a acrescentar o seguinte:
1) adaptação do conteúdo à recepção portátil, o que exige uma rede de antenas que só eles têm e um investimento que eles são capazes de bancar;
2) disseminação de terminais capazes de receber conteúdo multimídia;
3) sistema de cobrança dos serviços sob demanda;
4) sistema de atendimento ao cliente.
Para conseguir ampliar a oferta de terminais com funcionalidades avançadas, a Acel fala na necessidade de um modelo de operação que viabilize subsídios privados e equipamentos com escala mundial.
Sem as celulares, diz a Acel, aumentaria sensivelmente a necessidade de investimentos em rede, sistemas de bilhetagem e faturamento e estrutura de atendimento a clientes; não haveria estímulo à popularização do serviço de TV digital portátil, pela não-comercialização, pelas operadoras, do terminal portátil; dificultaria o surgimento de novos serviços convergentes de conteúdo multimídia.
Nesse modelo cooperativo, haveria espaço não apenas para a venda de conteúdo da TV aberta (devidamente adaptado para o novo meio) como de produtores independentes.
A partir daí, comparam-se os dois modelos, o padrão europeu DVB-H e o japonês ISDB-T. Segundo a Acel, o europeu é o único que não restringe tecnicamente a prestação de serviço da telefonia móvel aos atuais radiodifusores. Seria o único com soluções testadas de controle de acesso a conteúdo pago sob demanda. Seria o mais barato, pela adoção mundial do padrão e pela escala e seria o que apresenta maior autonomia de bateria. No fundo, a maior ressalva ao padrão japonês é que ele obriga que a transmissão tanto para terminais terrestres como para portáteis seja feita pelo mesmo operador.
As posições dos diversos atores, assim como os principais relatórios sobre o tema estão no site www.projetobr.com.br.’
TODA MÍDIA
Entre números
‘Em meio às especulações blogueiras sobre a pesquisa Datafolha, aliás, a começar do blog Amigos do Presidente Lula, ele mesmo ‘caiu na estrada’, no enunciado da agência Reuters.
Ao longo da tarde de ontem, foi destaque do Google Notícias, com manchetes variadas, tipo ‘Lula se diz o presidente que mais cuidou dos pobres’ etc.
Nos sites nordestinos, seu alvo eleitoral do dia, acumulavam-se manchetes como ‘Lula abraça sertanejos e posa com vaqueiros em Petrolina’, no ‘Jornal do Commercio’, pernambucano, ou ‘Lula volta a criticar elite em discurso’, na Agência Nordeste.
Lula foi derrubado no Google Notícias, à noite, pela disputa tucana. Começavam a surgir os incontáveis relatos do encontro da ‘santíssima trindade’ com Geraldo Alckmin. Mas não se achava nas páginas pesquisadas pelos ‘algoritmos’ do Google o melhor da barafunda tucana.
O blog de Josias de Souza na Folha Online relacionou o que Alckmin levou para FHC, Tasso Jereissati e Aécio Neves. Entre outras coisas, ele insistiu que ‘não acredita que José Serra se disponha a disputar a vaga’. Mais significativo, em meio às especulações sobre pesquisas:
– O governador repetiu à trinca que os percentuais hoje atribuídos a Serra são fruto de um ‘recall’ da eleição de 2002. Confia que seus números serão tonificados no horário eleitoral.
Parte do PFL, ao que parece, já balança. O blog de Fernando Rodrigues no UOL sublinhou os ‘muitos sinais trocados’ que vêm sendo lançados por ACM, por exemplo -ele que num dia ‘é Serra, no outro, Alckmin’.
Segundo Tasso, destacado no ‘Jornal Nacional’, ‘o problema que nós temos é que nós temos dois grandes candidatos’.
Em campanha de bastidores, os tucanos se esforçavam ontem entre Brasília e São Paulo. Mas não largam mão da televisão.
Na noite anterior, lá estava Alckmin com Ronnie Von, no programa ‘Todo Seu’ (Gazeta).
A blogosfera petista relaciona participações recentes tanto do governador como do prefeito em programas populares como Ratinho, Raul Gil, Netinho de Paula, Luciana Gimenez -e até no evangélico ‘Fala que Eu Te Escuto’ e num tal ‘Late Show’, sobre os animais domésticos.
Sem falar dos comerciais. Após Serra, ontem chegou a vez da administração Alckmin, em horário nobre, nos intervalos do ‘Jornal da Record’ e demais.
CARNAVAL Os tucanos dividem com Bono Vox as charges pelo país. Em seu site e no ‘Diário do Nordeste’, Sinfronio se adiantou aos desfiles
UM, ATÉ DOIS PONTOS
Mais que as andanças pelo Nordeste, ‘é a economia’. Em destaque no ‘Valor’, ontem, a notícia de que a ‘aposta no mercado futuro’ já se voltou para o corte de um ponto na taxa Selic, logo depois do Carnaval. Aliás, ‘há os que vêem condições para a baixa de 1,25 ponto’ -e até ‘defensores de um corte de dois pontos’.
Do vegetal
A primeira decisão de impacto da Suprema Corte dos EUA, sob domínio republicano, espantou.
Lá estava ontem no site do ‘Washington Post’, logo abaixo de sua manchete, o enunciado ‘Corte libera chá alucinógeno’. É a ayahuasca, do Santo Daime. O governo Bush perdeu a ação para ninguém menos do que o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal. A sentença foi assinada pelo novo presidente, o conservador John G. Roberts.
Foi tomada como indicação de certa independência, mas o teste maior será em ação sobre aborto -aceita ontem para discussão. Era, aliás, a manchete do ‘WP’.
Experiência
Por coincidência, em meio à histeria em torno de Bono Vox, o último ‘Fantástico’ falou com o pop star Sting, que abordou sua viagem de ayahuasca. Dele:
– Fiz para tentar contato com meu pai, coisa meio religiosa, achei que podia até falar com Deus. Foi das experiências mais extraordinárias da minha vida.
Sem fim
E tome Bono. Longe do ruído dos telejornais e blogs em torno de Katilce, que beijou o cantor, os despachos para o mundo ecoavam ontem o engajamento.
No título da britânica Reuters, ‘Acabem com a pobreza, Bono pede aos fãs’. Na americana UPI, ‘Bono pede ao Brasil que acabe com a opressão’. A Ansa, italiana, acrescentou que, após convite de Gilberto Gil, Bono e seus colegas de banda viajam para Salvador, para o Carnaval.
Psicodélico
E tome mais Gil. Os principais jornais londrinos, ‘Guardian’, ‘Daily Telegraph’, ‘Financial Times’, fizeram ontem longas reportagens sobre a mostra da Tropicália, na capital britânica.
Sob títulos como ‘O sonho psicodélico do Brasil’ ou ‘Um coquetel para erguer espíritos’, destacaram o músico baiano que avisou, ao virar ministro:
– Eu sou um tropicalista.’
JAGGER SUPERPOP
Luciana Gimenez revela lado Bono de Jagger
‘Um lado de Mick Jagger pouco conhecido dos brasileiros será explorado hoje à noite no ‘Superpop’ (Rede TV!, 22h), programa de Luciana Gimenez, mãe de seu filho Lucas. Assim como Bono, do U2, e Sting, o vocalista dos Stones também é defensor das florestas.
‘Se as pessoas não começarem a gastar dinheiro [em preservação], não haverá mais vida selvagem nem florestas’, diz o roqueiro em entrevista concedida a Luciana no último domingo, em uma suíte do Copacabana Palace. A Folha teve acesso ao material gravado.
‘Todo mundo culpa o Brasil pela destruição da floresta amazônica, mas a verdade é que o resto do mundo está bem pior. Eu entendo que, se você é brasileiro, não gosta que te digam o que fazer, mas dependemos de uma solução global para a destruição das florestas. Isso afeta o mundo inteiro. Se não tomarmos conta, nossos filhos, e não nossos netos, não poderão ver nada [nas florestas]’, alerta.
O discurso ambientalista domina a curta entrevista, feita de forma caseira. Ao todo, segundo a Rede TV!, foram gravados 12 minutos, mas só irão ao ar oito deles -assuntos familiares foram eliminados. A conversa foi gravada com uma minicâmera digital, amadora, fixada sobre um móvel. Não houve operadores de câmera, áudio e luz. O enquadramento será corrigido na edição.
Segundo a Rede TV!, isso ocorreu para proteger Jagger. ‘O Mick Jagger só deu entrevista à Luciana porque ela é mãe do Lucas. Foi informal. Ele não podia dar entrevistas porque tem contrato com a Globo’, diz Marcelo Nascimento, diretor do ‘Superpop’. A Globo nega que tenha proibido Jagger de falar com outras TVs.
Na entrevista, Jagger fala ainda do show de sábado no Rio: ‘Foi fantástico. Quando acabou, eu estava quase desmaiando’. Conta que, apesar de estar pulando, estava quase sem energia no final.
O roqueiro diz que come frango e purê de batatas cinco horas antes dos shows. E depois? ‘Uma caixa de chocolates e uma garrafa de vodca’. No final, desdenha do favoritismo do Brasil na Copa: ‘Cuidado com a Inglaterra!’.
OUTRO CANAL
Conselho O cientista político Carlos Novaes, que fracassou ao tentar criar um concorrente do Ibope (o Datanexus), não é mais consultor de Silvio Santos. Novaes, que integrava o ‘conselho do SBT’, foi dispensado. Outro integrante do conselho, Jean Teppet, também deve deixá-lo.
Piti Briga de mulher sempre dá audiência. Anteontem, os tapas de Júlia (Glória Pires) renderam 55 pontos de média a ‘Belíssima’, recorde da novela das oito.
Telão O show do U2 marcou 28 pontos na Globo, um a mais do que o dos Stones. Mas as TVs sempre têm mais ibope às segundas do que aos sábados.’
INTERNET
Google quer obras de editoras brasileiras
‘Se fosse um enredo literário, o projeto Google Books (books.google.com) renderia uma obra mista de suspense e ficção científica. Num dos programas mais ousados da internet, o portal deseja transformar livros de papel em conteúdo exibido na tela do computador e incorporar as páginas digitalizadas aos resultados das buscas feitas no Google.
Mas, por conta da polêmica sobre direitos autorais criada pelo projeto, o Google decidiu se empenhar em explicar melhor o que fará com as centenas de livros que estão sendo escaneados das bibliotecas das universidades de Harvard, de Stanford, de Michigan, de Oxford e da biblioteca pública de Nova York e com as obras obtidas com autores e editoras.
Brasil
Seguindo essa estratégia, o executivo responsável pelo Google Books, Marco Marinucci, esteve no Brasil no início deste mês dando entrevistas e participando de encontros com membros e órgãos da indústria literária.
‘O programa não foi explicado o suficiente, pois o Google não investe em marketing -apesar de, curiosamente, viver da publicidade. Com isso, a interpretação do que está ocorrendo foi muito controversa’, disse Marinucci em entrevista à Folha.
Sua visita também anuncia a participação brasileira no programa. Editoras e autores foram convidados a enviar suas obras digitalizadas para que sejam exibidas nos resultados das buscas do site.
‘A reação foi positiva, as pessoas estavam muito curiosas sobre o projeto e houve espaço para debate e para o esclarecimento de dúvidas’, disse Bernardo Gurbanov, vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL, www.cbl.org.br), entidade com cerca de 500 associados, entre editoras, livrarias e distribuidoras, para a qual o Google Books fez uma apresentação. Cerca de 70 dos membros participaram do encontro, no qual foi apresentado o modelo de negócios do portal.
De acordo com a proposta do Google, os livros devem ser entregues integralmente ao Google Books, apesar de o portal prometer que não tornará todo o conteúdo disponível on-line.
‘O uso dessa base de dados é preocupante, e é por isso que existe um contrato’, explica Gurbanov. ‘Ele está sendo examinado pelo departamento jurídico da CBL, por profissionais especializados em direitos autorais que vão emitir um parecer’, diz. ‘Os negócios, se ocorrerem, caberão aos editores e à empresa que apresenta o projeto, não à CBL’, salientou o vice-presidente.
O Google pretende participar da 19ª Bienal do Livro de São Paulo, que ocorre entre 9 e 19 de março, embora sua presença ainda não tenha sido confirmada. Em outubro passado, o portal foi um dos participantes da Feira de Livros de Frankfurt, na Alemanha.
Independente
Nos EUA, projetos independentes têm buscado reproduzir o modelo do Google Books, colocando livros on-line gratuitos na rede e obtendo renda por meio da publicidade. Um dos mais recentes é o do autor Brude Judson, que publicou sua obra ‘Go it Alone! The Secret to Building a Sucessuful Business’ no endereço www.brucejudson.com/frombook.html. Com links patrocinados, a página oferece leitura grátis e uma via alternativa aos produtores literários que não quiserem participar do acervo virtual do Google.’
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Executivo explica o projeto literário
‘Em visita ao Brasil, o editor Marco Marinucci, executivo do Google responsável pelo Google Books, falou à reportagem sobre o projeto e os possíveis rumos da digitalização de livros. (MB)
Folha – Qual a diferença entre o Google Books e o Google Print?
Marco Marinucci – Nenhuma. Quando lançamos o projeto, ele se chamava Print, mas começaram a achar que significava imprimir o conteúdo. No entanto a idéia é criar uma ferramenta para buscar e encontrar livros. Foi impressionante ver como um projeto como esse pode ser atrasado ou prejudicado por desentendimentos.
Folha – E como vocês ganharão dinheiro com o projeto?
Marinucci – Ganharemos apenas em publicidade, pois a demanda será específica aos interessados. Dos livros provenientes das editoras, ao realizar uma busca, o usuário verá três links patrocinados, mas, se o editor quiser, eles podem ser removidos. Compartilharemos nossos lucros com os editores, que ficarão com 15% do total. Dos livros antigos, que vêm das bibliotecas, não ganharemos nada, é um projeto filantrópico.
Folha -Tecnicamente, como é feito?
Marinucci – Escanear livros é fácil, o difícil é indexá-los. Para isso, usamos programas de reconhecimento de dados (OCR). Dos milhões de páginas, queremos exibir apenas as mais relevantes.
Folha – E como ficam as leis de direitos autorais?
Marinucci – Começamos pelos livros de domínio público, e a primeira crítica que recebemos foi a de que não respeitamos direitos autorais. Nós não só jogamos as regras do jogo como estamos empenhados em ajudar nossos parceiros. Entrar em conflito não seria inteligente.
Folha – Só uma parte dos livros estará disponível on-line?
Marinucci – Sim.
Folha – Como saber se vocês não colocarão tudo na internet?
Marinucci – Só faremos o que for bom para nossos parceiros.
Folha – Mas, ao mesmo tempo em que você diz querer ajudar as editoras, o Google está sendo processado por organizações da indústria literária norte-americana. Como é isso?
Marinucci – Muitas delas são nossas parceiras, se sentaram conosco a cada dois meses para decidir questões. Isso é algo típico nos EUA e difícil de entender em outros países.
Folha – Mas houve uma brecha legal para esses processos, não?
Marinucci – Nos EUA ocorre algo que inexiste em outros países: há uma cláusula na lei de direitos autorais que diz, simplificadamente, que é possível fazer uma cópia digital de uma obra sob proteção autoral desde que ela não prejudique o negócio do dono do copyright. Talvez seja a hora de mudar essa cláusula ou de torná-la mais clara, mas não estamos fazendo nada ilegal. Em vez de se animar, eles ficam na defensiva.
Folha – Talvez seja porque vocês fizeram algo que as próprias editoras deveriam ter planejado, assim como aconteceu com a indústria fonográfica.
Marinucci – É um mundo conservador, mas queremos ajudá-lo a evoluir.
Folha – O Google será livraria virtual?
Marinucci – Queremos apenas oferecer infra-estrutura. Não queremos ser a Amazon, mas talvez o eBay: oferecer opções para que ofertas e demandas se encontrem.
Folha – Vocês planejam cobrar assinatura para quem quiser ler mais do que os índices?
Marinucci – Haverá novas versões, mas serão decididas com nossos parceiros. Se formos fazer algo como isso, que eu não descarto, será porque virá de uma resposta de nossos parceiros.’
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O Globo
Quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006
INTERNET
Defesa do consumidor: Vendas online longe de um final feliz
‘À primeira vista, é perfeito: acionam-se alguns comandos do computador e, dentro de alguns dias, o produto solicitado pela internet é recebido em casa. Mas nem sempre as vendas online seguem o roteiro de final feliz, criando muitos contratempos para os consumidores. Resultado: as reclamações registradas nos órgãos de defesa do consumidor disparam ano a ano, superando com folgas o percentual de expansão das vendas online.
No Rio, o Procon registrou um aumento de 572% nas queixas, saltando de 68, em 2004, para 457, em 2005. Já as vendas do varejo online fecharam 2005 com expansão de 43% sobre o faturamento de 2004, atingindo R$ 2,5 bilhões – segundo pesquisa da e-bit, empresa de marketing online.
Ana Paula Pereira Ramos, assessora jurídica do Procon do Rio, explica a avalanche de queixas como resultado de um maior número de pessoas recorrerem às compras eletrônicas sem adotar alguns cuidados:
– Como as pessoas vivem mais atribuladas e com pouco tempo livre, a procura pelos serviços oferecidos pela internet tem um forte avanço. Porém, as compras eletrônicas devem ser realizadas com muito critério para evitar futuros transtornos para os consumidores.
Cliente só deve pagar após receber o produto
Entre algumas recomendações, ela sugere o levantamento de dados que possam identificar a empresa virtual (como endereço físico, telefone, CNPJ e serviço de atendimento ao cliente). Também é bom imprimir os anúncios dos produtos, as telas de compra e toda a comunicação feita com a loja, porque é essa papelada que dá consistência às reclamações feitas aos órgãos de defesa do consumidor e às ações judiciais.
O cliente também não deve pagar nada antes da entrega do produto, para poder realizar o direito de arrependimento previsto no Código de Defesa do Consumidor, ou seja, em até sete dias comunicar a desistência da compra.
– Quando paga antes, pode haver problemas para receber o dinheiro de volta- diz Ana Paula.
Apesar do avanço das reclamações, o Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública do Estado do Rio ainda não é muito requisitado para ajuizar ações.
– Ainda não são significativas as as ações ajuizadas contra as empresas que vendem pela internet a partir da Defensoria Pública do Estado do Rio, porque essa modalidade de negócio está restrita a uma classe que, por enquanto, não recorre aos nossos serviços – disse Marco Antônio da Costa, coordenador do Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria.
O advogado Filipe Fonteles Cabral, especialista em direito da tecnologia e da internet do escritório Dannemann Siemsen, acha que o aumento das queixas combina algum descuido das empresas com o Código de Defesa do Consumidor, com um certo exagero dos clientes em recorrer à Justiça para obter indenizações perante o menor erro.
O comerciante Ronaldo Chreem e o funcionário público Manoel Sebastião Souza estão entre os exemplos de casos mais comuns de reclamações: demora no prazo de entrega da mercadoria ou no ressarcimento do cliente. Chreem encomendou cinco máquinas de lavar no início do ano, acreditando na promessa de entrega em dez dias úteis. Ele pagou à vista R$ 6.900, porque precisava dos eletrodomésticos na sua lavanderia. Contudo, recebeu apenas uma das cinco máquinas de lavar e precisou esperar quase 40 dias para receber o dinheiro de volta.
– Jamais pensei que pudesse passar por uma situação dessa. Após inúmeros telefonemas, só ouvi desculpas e prazos de entrega seguidamente descumpridos, arcando com os prejuízos de manter um pedreiro de plantão para efetuar as obras necessárias para a instalação das máquinas – reclama Ronaldo Chreem, que declara-se temeroso de nova compra eletrônica.
Já o funcionário público comprou uma câmera digital em 2005, constatou um defeito no equipamento e pediu a troca do produto por um aparelho de ginástica. Como não foi atendido, foi à Justiça para cancelar a compra e receber o dinheiro de volta. Apesar disso, ele diz que continuará a comprar pela internet.’
CENSURA & TERROR
Detidos atores de filme sobre Guantánamo
‘LONDRES. Os atores Rizwan Ahmed e Farhad Harun, que interpretam suspeitos de terrorismo no premiado filme ‘The Road to Guantánamo’, foram detidos pela polícia britânica em sua chegada a Londres, vindos do Festival de Cinema de Berlim, informou ontem a organização dos direitos civis Reprieve.
Os atores do filme do diretor britânico Michael Winterbottom, agraciado no domingo com o Urso de Prata no Festival Internacional de Cinema de Berlim, foram presos na quinta-feira passada no Aeroporto de Luton, nos arredores de Londres. Eles estavam ao lado de Shafik Rasul e Rhuhel Ahmed, os ex-prisioneiros de Guantánamo interpretados nas telas pelos atores.
A polícia britânica informou que havia interrogado os atores com base na lei antiterrorista, mas que não havia efetuado prisões.
– Foi um procedimento de rotina. Ficaram detidos por menos de uma hora – disse uma porta-voz da Polícia de Bedfordshire, distrito onde está localizado o aeroporto.
O filme de Winterbottom relata o destino de três muçulmanos britânicos que vão para um casamento no Paquistão em 2001, viajam ao Afeganistão e terminam na prisão de segurança máxima dos Estados Unidos na base naval no leste de Cuba, por suspeita de terrorismo.
Ahmed, que interpreta Shafik, informou através da ONG que uma policial perguntou a ele se havia se ‘tornado ator para difundir a luta dos muçulmanos’. ‘Os atores ficaram traumatizados com esta experiência’, concluiu a Reprieve.’
CHINA
Curta é sucesso na web e irrita cineasta chinês
‘O premiado diretor de ‘Adeus, minha concubina’, o chinês Chen Kaige, foi pego de surpresa durante coletiva de imprensa para apresentar, no último Festival de Berlim, seu novo filme, a superprodução épica ‘A promessa’. Ele não esperava que o assunto que mais interessava aos repórteres chineses não era seu filme, mas um curta de 20 minutos, exibido na internet e chamado bizarramente de ‘The blood case that started from a Steamed Bun’.
Obscuro editor de multimídia vira celebridade
Pois o filme – cuja tradução literal poderia ser algo como ‘O caso sanguinário que começou com um pão assado’ – é o maior sucesso da internet na China. Seu produtor, um obscuro editor de multimídia chamado Hu Ge, de 31 anos, virou celebridade. ‘The blood case’ é composto basicamente de cenas editadas de ‘A promessa’, mas tratadas como um episódio de um programa exibido na TV chinesa sobre o sistema legal do país: ‘The law online’.
Num humor tipicamente chinês, o curta vai debochando dos personagens do filme de Kaige, envolvendo-os em situações que beiram o ridículo e o bizarro. Os atores aparecem em cenas originais, mas dublados. Na coletiva, Kaige foi perguntado sobre o assunto. Sem esconder a raiva, ele qualificou o curta de ‘incrivelmente sem-vergonha’ e decidiu processar Hu Ge por violação de copyright:
– Não podia imaginar que alguém pudesse ser tão abusado.
Na China, no entanto, Hu Ge passou de violador de direitos para ciber-herói. Centenas de blogs e fóruns passaram a defender seu ‘direito de liberdade de expressão’ e a chamar Kaige de tirano. Num país onde a pirataria é regra, a mídia se lançou numa busca desenfreada por advogados especializados em marcas e patentes.
– Ele violou a Lei de Copyright da China em pelo menos três pontos, e Kaige pode pedir compensação financeira de pelo menos 500 mil yuans (US$ 62 mil) – disse o advogado Sun Wei ao ‘China Business News’.
Hu Ge frisou que a primeira coisa que se vê no filme é o aviso: ‘Tudo o que você vê a partir daqui é para minha diversão pessoal. O conteúdo é fictício e produzido aleatoriamente.’
– Tudo que eu queria era me divertir, e eu nunca planejei me tornar famoso com isso. Eu usei o filme de Chen Kaige indevidamente e peço desculpas.
A mulher de Kaige, Chen Hong, produtora e atriz em ‘A promessa’, leva o episódio bem menos a sério, e diz que ‘o vídeo não é nada além de uma produção caseira, e a internet é um mundo onde cabe de tudo’.’
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O Estado de S. Paulo
Quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006
MERCADO EDITORIAL
Celebridades incentivam venda de revistas nos EUA
‘THE NEW YORK TIMES – A circulação total de revistas aumentou nos Estados Unidos no segundo semestre de 2005 em comparação com igual período de 2004, segundo o Serviço de Auditoria de Circulações. As revistas semanais sobre celebridades puxaram os resultados positivos, dando continuidade a uma tendência que, em geral, se diferenciou do resto do setor. As revistas semanais de notícias, femininas e publicações para adolescentes apresentaram resultados heterogêneos.
A circulação da US Weekly cresceu 12,7%, para 1.662.000 exemplares nos últimos seis meses de 2005, ante 1.475.000 em igual período do ano anterior. In Touch aumentou 15,5%, para 1.178.000, e a Star cresceu 12,3%, para 1.460.000.
People, a revista mais bem-sucedida do país, cresceu apenas 1,1%, mas ainda assim vendeu mais que as outras, com a média de 3.691.000 exemplares semanais.
Vicci Lasdon Rose, editora da US Weekly, disse que as revistas de celebridades vão bem por causa do ‘apetite voraz’ por artigos sobre ‘gente jovem, de ambição, realizações e estilo.’ Ela acha que as vendas dessas revistas poderão cair, a menos que cada uma encontre um nicho particular. Por enquanto, afirmou, ‘a força da nossa marca no mercado alimentou uma expansão contínua de nossos concorrentes’.
QUEDA
Uma surpresa foi a queda de 9,3% na circulação de O: The Oprah Magazine, publicada pela Hearst. A revista aumentou o preço de sua assinatura, o que provocou a queda do número de assinantes. Mas ela continua sendo uma das revistas mais vendidas do país, com circulação paga média de 2,4 milhões nos últimos seis meses de 2005, 247 mil a menos que em igual período do ano anterior. A revista de variedades Martha Stewart Living continuou se recuperando, e sua circulação cresceu 4,1%, para 1.972.000 exemplares.
As revistas semanais de notícias permaneceram estáveis. A Time acusou uma queda de 0,2% na circulação, para 4.026.000 exemplares, e a Newsweek caiu 0,3%, para 3.118.000. A U.S. News & World Report avançou 1%, para 2.035.000 exemplares.’
TELEVISÃO
Agronegócios inspiram novela
‘Cacá Diegues já concluiu a montagem de O Maior Amor do Mundo e quem teve acesso ao material garante que o filme está muito bom. O maior amor do mundo, você vai ver quando assistir ao novo trabalho de Cacá, é aquele pela vida. É, de certa forma, o tema com o qual flertam quase todos os filmes do diretor, mesmo quando ele parece que vai falar sobre morte (como em Chuvas de Verão).
Um dos melhores filmes de Cacá Diegues é a atração de hoje do Canal Brasil, às 22h40. Bye Bye Brasil conta a história de artistas mambembes que percorrem o Brasil com a chamada Caravana Rolidei. Lorde Cigano, o imperador dos mágicos; Salomé, a rainha da rumba; Andorinha, o rei dos músicos. A este grupo juntam-se o sanfoneiro Ciço e sua mulher.
No começo dos anos 1970, a ditadura militar tentou integrar o Brasil, construindo a Transamazônica em pleno ufanismo da conquista do tricampeonato do mundo de futebol. Cacá quis refletir sobre esse momento. Como ele mesmo disse, seu filme é sobre um país que acaba e sobre outro que começa.
Na verdade, mais que a Transamazônica, foi a TV que integrou o Brasil, para o bem e o mal. Cacá sabia disso em 1980. Seu filme é lindo, embalado na trilha de Chico Buarque, Dominguinhos e Roberto Menescal. José Wilker e Betty Faria têm participações emblemáticas, secundados pelo jovem Fábio Júnior, Zaira Zambelli e Príncipe Nabor.Benedito Ruy Barbosa entregou a tarefa de tocar o remake de Sinhá Moça às filhas, Edmara e Edilene Barbosa, e já pensa em sua próxima novela, para as 21 horas. O tema será a pesquisa agropecuária, que tornou o Brasil um dos maiores produtores de alimentos do mundo.
‘Há heróis brasileiros de quem ninguém fala. Os profissionais da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), órgão do Ministério da Agricultura, trabalham como formiguinha, criando a melhor soja e a carne que o mundo inteiro importa’, citou o autor, na entrevista coletiva de Sinhá Moça, ontem, no Projac, na Globo. ‘Eles serão o tema da novela e talvez eu inclua elementos de Pantanal, cujos direitos são da Rede Globo.’
Pela fila, a próxima novela da Ruy Barbosa ainda demora. Antes dele, Manoel Carlos põe no ar Páginas da Vida (em outubro) e Gilberto Braga faz a seguinte que, aí sim, será substituída pela de Barbosa.
Quem também tem planos paralelos à novela é a atriz Patrícia Pillar, que está com a agenda cheia desde agora. Ela será Cândida, mãe da Sinhá Moça (vivida por Débora Falabella), papel ampliado nesta versão. Em agosto, será lançada Zuzu Angel, de Sérgio Rezende, cinebiografia da estilista que, nos anos 70, enfrentou a ditadura militar.
Além disso, Patrícia participará da campanha eleitoral ao lado do marido, o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, embora ele ainda não tenha decidido se concorre e a que cargo.
‘Ciro respeita muito o meu trabalho e eu, o dele. Então, estaremos juntos, eu participando dos compromissos dele e ele, dos meus, sempre que possível’, explicou ela na mesma coletiva.
Sinhá Moça tem estréia marcada para o dia 13, às 18 horas, na Globo.’
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