Tuesday, 24 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Campanha eleitoral começa com incertezas

Leia abaixo os textos desta segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 10 de julho de 2006


TERROR NO RIO
Sergio Costa


Manda quem pode


‘RIO DE JANEIRO – ‘É do portão para baixo. Mazinho [traficante] mandou avisar que não é para subir lá! Se subir, nós vamos tosar!’. Tradução: matar!


O recado desceu de moto da Vila Cruzeiro, na zona norte, e foi transmitido aos cabos eleitorais do tucano Eduardo Paes por dois homens. A comitiva não pensou duas vezes e levou seus panfletos embora, conforme relataram os repórteres da Folha na edição de sexta.


Ainda na quinta, a juíza Denise Frossard (PPS) estreava na disputa pelo governo do Estado no morro da Providência, um dos mais violentos da cidade. Nada mal para quem havia dito que não faria campanha em favelas por falta de segurança.


A juíza vestiu o terninho, mas tomou seus cuidados. A assessoria marcara a visita uma semana antes -via representante da prefeitura que a apóia-, e ligou pela manhã para saber se estava ‘tudo calmo’. Estava e ela poderia subir. Mesmo assim, escoltada por seguranças e com o caminho aberto por uma ocupação da PM.


No dia seguinte, foi o senador Marcelo Crivella (PRB), outro postulante a comandar o Estado não-paralelo, quem deu o recado aos jornalistas, no Jacarezinho, com sua voz pastoral: ‘Vocês sabem que não podem entrar, né?’.


Nos dois primeiros dias de campanha, o crime no Rio usou o tucano, a juíza e o bispo-senador para mostrar quem manda em boa parte da cidade.


Talvez por isso o Rio tenha ficado de fora da onda de terror que São Paulo enfrenta desde maio.


Aqui, essa fase de afirmação da autoridade paralela das facções é passado. Territórios estão demarcados há tempos e voltam a ser referendados agora pelas atitudes dos candidatos -todos eles atores de um teatrinho faz-de-conta nas favelas. Francamente.’


 



TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Inferno dentro e fora


‘A Itália levou a Copa, mas na dianteira dos ‘+ lidos’ pelos internautas da Folha Online, ontem à tarde e entrando pela noite, o enunciado era:


– Policial é assassinado com 19 tiros em São Paulo.


A Secretaria de Segurança, é claro, ‘não sabe se tem relação com os ataques do PCC, mas não descarta’. É que, segundo a Polícia Militar, ‘homens com pistolas e fuzil dispararam e fugiram’. O sargento PM, quando foi alvo dos 19 tiros, ‘fazia bico de segurança’.


O policial foi a manchete de ontem. A de anteontem, no ‘Jornal Nacional’ e demais telejornais, era:


– Em São Paulo, um vigia é morto a tiros no prédio da Justiça Federal.


E a manchete de sexta-feira no mesmo ‘JN’:


– Uma contagem macabra em São Paulo. Os bandidos matam o 14º agente penitenciário desde maio.


A novidade da sexta foi o segundo destaque na escalada do ‘JN’, logo depois da morte do 14º agente:


– Num trem, explosão de bomba deixa feridos.


No círculo de terror, a edição associou os temas todo na terceira manchete:


– Autoridades americanas anunciam que evitaram novo atentado terrorista.


A escalada do ‘Jornal da Record’, depois do noticiário do 14º agente, preferiu trocar terror por:


– Pânico em São Paulo. Uma bomba explode dentro de um trem urbano e deixa 11 pessoas feridas.


Onze civis, pode-se dizer.


Anteontem, o ‘Jornal da Record’ juntou tudo sob o bordão ‘Inferno dentro e fora dos presídios’.


Dentro, segue ‘o desespero dos parentes’. Em Araraquara, na manchete do ‘SBT Brasil’, ‘os presos continuam amontoados’.


Do blog de Xico Sá no site Nomínimo, sob o título ‘Campo de concentração em Araraquara’:


– O governo, dirigido por Lembo mas ainda guiado pelos homens de Alckmin, acredita que pode resolver o problema fazendo o tempo voltar à Idade Média.


De volta à televisão, o ‘SBT Brasil’ citou em sua escalada, diante do 14º agente morto, que ‘O governador diz que não precisa da ajuda das forças nacionais’.


Pode ser. Mas a manchete do ‘Jornal da Band’ deu sinal de que a arrogância eleitoral começa a ceder:


– Governo do Estado quer transferir os líderes do PCC para presídio de segurança máxima no Paraná.


ATÉ A PRÓXIMA


A Copa acaba e nada de Galvão Bueno desligar:


– A próxima é na África. E nós já estamos lá!


Entra o enviado, entre animais, ‘a Globo está na África do Sul’. Fim de transmissão e tome Galvão:


– Até a próxima. Tá na Globo, tá na Copa.


Mais ou menos. Num título da coluna ‘Outro Canal’, na Folha, ‘Record articula contra monopólio da Globo’:


– A idéia é criar uma entidade que represente as redes e compre os direitos de 2010 (e posteriores). O presidente da Record já teve conversas com SBT e Band.


EUFORIA CONSTRUÍDA


O mais inusitado cronista desta Copa foi Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica da Fazenda, como diziam seus textos no ‘Valor’. Lá, alertou contra a primazia ‘presumida por alguns empafiosos torcedores brasileiros’. Em entrevista, depois, foi além:


– A explicação para o fracasso na Copa foi, do ponto de vista mercadológico, o exagero sobre a superioridade da seleção… Esta relação entre mídia, negócios e futebol tem que ser analisada com mais frieza… Já se foi o tempo da exploração nacionalista que a mídia faz… A euforia é cada vez mais construída pela mídia e pelos negócios.’


 



TELINHA
Daniel Castro


Globo planeja novo canal em São Paulo


‘A Globo planeja lançar nos próximos dois ou três anos um novo canal de TV em São Paulo. A nova emissora ocupará o canal 19, em UHF, e deverá ser totalmente voltada para a região metropolitana, transmitindo jornalismo de serviço, com informações sobre o trânsito e previsão de tempo.


O canal 19 foi obtido pela Globo no final da década de 80 como uma concessão para operação de serviços de TV paga. É um canal do tipo ‘S’ ou ‘TVA’ (de TV por assinatura). Como a TV paga deixou de usar freqüências de UHF, canais desse tipo passaram a ser parcialmente usados para programação aberta. Atualmente, eles podem irradiar até 11 horas por dia de programação aberta. Nas demais horas, só podem transmitir sinal codificado.


A Globo atualmente transmite o áudio da Globo News no canal 19. O grupo Abril mantém dois canais ‘S’ (o 24 e o 28, que são usados por igrejas). A Band tem o canal 50.


Com o fim da TV paga via UHF, os canais tipo ‘S’, a rigor, deveriam ser devolvidos para a União. Mas as empresas que os receberam há quase 20 anos conseguiram mantê-los.


Atualmente, antena e transmissor do canal 19 estão localizados no pico do Jaraguá (zona oeste). Mas, devido à entrada de novos canais digitais em operação no início de 2007, a Globo terá que transferi-los para uma nova torre que constrói na alameda Santos.


DESENHO CERTO 1 Estão dando certo as mudanças que Ricardo Valladares, novo diretor da área artística do SBT, vem fazendo no ‘Bom Dia & Companhia’. Nas duas últimas semanas, o programa infantil voltou a derrotar a Globo no Ibope da Grande São Paulo.


DESENHO CERTO 2 Basicamente, as mudanças no ‘Bom Dia & Cia’ se resumem à saída de uma apresentadora, à redução dos intervalos comerciais e à troca de ordem de exibição de desenhos.


NOVA PROPAGANDA O SBT vai mudar a agência que cuida de sua imagem. Sai a Grottera. Entra a Lew, Lara.


VIDEOREPÓRTER A Band terá a partir de hoje três repórteres-abelha em SP a serviço de seus telejornais.


REABILITAÇÃO 1 Colocado em segundo plano em ‘América’ por Glória Perez após a saída de Jayme Monjardim da direção da novela, o compositor Marcus Vianna está de volta à Globo. É dele o arranjo de ‘Dust in The Wind’ que Paula Fernandes interpretará em ‘Páginas da Vida’.


REABILITAÇÃO 2 Vianna sempre emplacou suas composições nas novelas dirigidas por Monjardim -como ‘Páginas da Vida’, escrita por Manoel Carlos.


REABILITAÇÃO 3 Em ‘América’, Vianna viu o tema de abertura que ele criou (cantado por Milton Nascimento) ser trocado por outro, na voz de Ivete Sangalo. Mas ‘Ave Maria Natureza’, que ele arranjou para Paula Fernandes, sobreviveu.’


 




VOGUE
Paris vê última sessão de fotos de Marilyn Monroe


Leneide Duarte-Plon


‘Ela, frágil e vulnerável deusa de Hollywood. Ele, grande fotógrafo de moda. Em junho de 1962, Marilyn Monroe encontra Bert Stern para uma sessão de fotos para a revista ‘Vogue’. Na hora de começarem a trabalhar, Stern convence-a, delicada e sutilmente, a posar nua, a primeira vez desde a famosa pose do calendário.


As fotos dessa sessão inesquecível, menos de dois meses antes da morte da estrela, podem ser vistas até 30/10, em Paris, na mostra ‘Marilyn, La Dernière Séance’ (a última sessão), aberta no museu Maillol no dia 29/ 6.


O fotógrafo e sua musa instalaram-se numa suíte do hotel Bel-Air, de Los Angeles, escolhido por ela. ‘A sessão resultou em 2.571 fotos, e Bert Stern escolheu um pequeno número delas para apresentar. Essa seleção de 59 fotos que o museu apresenta é a que ele fez para um museu americano, em 1982. Depois, foram postas à venda na Sotheby’s e compradas por Leon Constantiner, um colecionador nova-iorquino’, afirma Olivier Lorquin, curador da exposição, um dos filhos de Dina Vierny, criadora do museu Maillol e musa do escultor francês morto em 1944.


A revista ‘Vogue’ com as últimas fotos de Marilyn Monroe foi para as bancas no dia seguinte à sua morte, 5 de agosto de 1962.’


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O Globo


Segunda-feira, 10 de julho de 2006


ELEIÇÕES 2006
Incerteza nas campanhas


Ludmilla de Lima e Chico Otavio


‘O primeiro domingo de campanha no Rio de Janeiro foi marcado por queixas e incertezas. Candidatos que foram às praias cariocas e a feiras populares garimpar votos reclamaram da falta de clareza sobre os limites da propaganda eleitoral. A distribuição maciça de adesivos pelos candidatos mostrou a confusão gerada pelas novas regras.


— Estão deixando passar um camelo, mas estão coando um mosquito — lamentou o deputado federal Chico Alencar (PSOL), candidato à reeleição, ao reclamar que as regras protegem o poder econômico.


Permitida ou não, a propaganda foi espalhada, por exemplo, na Feira dos Nordestinos de Duque de Caxias, ontem, pela militância do PMDB. Até o candidato a governador do partido, senador Sérgio Cabral, e seu vice, Luiz Fernando Pezão, colaram o disco com o número e o nome do senador.


Nas praias, apesar do sol forte, que atraiu muitos banhistas, a preocupação com o cumprimento das regras e o baixo comparecimento de militantes partidários esvaziaram a corrida eleitoral. Os candidatos evitaram distribuição de brindes e apresentações musicais, proibidos pela Justiça Eleitoral, mas muitos militantes exibiam adesivos (‘praguinhas’) nas roupas, também vedados pela legislação.


Dos candidatos a governador fluminense, Vladimir Palmeira, do PT, e Milton Temer, do PSOL, estiveram em Copacabana, mas a campanha de ambos só esquentou quando eles se cruzaram, na altura do Posto Quatro.


Dúvidas sobre a presença em festas


A deputada federal Jandira Feghali, candidata do PCdoB ao Senado na chapa de Vladimir, disse que a proibição de uso de outdoors, camisetas e bonés, além da promoção de showmícios, é clara, mas há dúvidas sobre outros recursos, como o comparecimento de candidatos a festas de aniversário — ‘se você chega quando ela já está acontecendo’ — e a distribuição de peças de campanha. Uma das indagações dos candidatos é se a presença em festas com música ao vivo pode ser considerada participação em showmício.


— Há anos, o PCdoB dá balões para crianças na praia. Será que isso é considerado brinde? Balão de gás pode ser considerado um benefício. Na minha opinião, não se caracteriza — queixou-se Jandira.


O candidato do PSDB a governador, Eduardo Paes, cuja equipe vem usando adesivos com seu nome nas camisas, diz esperar a interpretação do TRE sobre o caso. Na sexta-feira, um fiscal foi acionado para ver se o artifício era legal. O tribunal vai avaliar o caso.


— É um alternativa inteligente, mas que pelo visto não será permitida. Mas eu não vejo problema nisso. Acho bom que o TRE fique em cima dos candidatos. O que eles determinarem nós vamos seguir — afirmou o tucano, que ontem esteve na feira de Campo Grande, na Zona Oeste.


Outro tipo de publicidade espalhado pelo candidato do PMDB, e interpretado como legal pelo partido, é o cartaz com a foto, número e nome de Sérgio Cabral, candidato a governador. Ontem, Cabral distribuía autógrafos nos pôsteres, que faz sucesso principalmente entre as mulheres.


Consulta sobre o uso de bandas de música


Mas o partido ainda está confuso sobre algumas regras. Segundo Pezão, uma das dúvidas da equipe de Cabral é em relação ao uso de bandas de música em eventos de rua. O advogado do PMDB, Eduardo Damian, disse que espera resultado de consulta feita ao TRE também sobre o que será exatamente considerado como showmício:


— Há dúvidas ainda sobre os candidatos cantores. Talvez possam se apresentar, desde que sozinhos no palco.


O candidato do PSOL, Milton Temer, disse que, excluindo os outdoors, não há outra proibição que favoreça o ‘jogo eleitoral’:


— Proibiram recursos que são fundamentais à esquerda, como a venda de camisetas. Quem pode dar, em vez de vender, são os candidatos do poder econômico.


Nem o advogado do PMDB escapou das dúvidas. Damian, que fez consulta ao TRE sobre a utilização de bandas de música e sobre o que é exatamente interpretado como showmício, disse acreditar que as novidades só serão esclarecidas durante a campanha.’


 


COPA 2006
Ancelmo Gois


A Puma venceu


‘Quem venceu a Copa do Mundo de material esportivo — um negócio grandão que movimenta 30 bilhões de dólares por ano — foi a Puma, que vestiu a Itália.


Aliás…


O confronto final foi em família. A Puma foi fundada pela mesma família que criou a Adidas, ontem representada pela França.


As duas fábricas ficam, uma de frente para a outra, na cidade alemã de Herzogenaurach.


A Nike perdeu


A grande derrotada da Copa foi a americana Nike, que apostou suas fichas no Brasil. Já tinha feito até chuteira para Ronaldinho Gaúcho jogar a final.


A melhor colocação da marca foi com Portugal, quarta colocada. A terceira, a Alemanha, é do elenco da Adidas.’


 


CAMPANHA ONLINE
Internet e eleições


Benito Paret


‘Vivemos um momento muito especial na vida política da nação, com profunda descrença com a representação parlamentar. O aprofundamento do processo democrático exige, cada vez mais, transparência da parte de candidatos e partidos, e maior acesso dos cidadãos aos programas e idéias dos que se oferecem para representá-los.


E, nesse particular, as entidades da sociedade civil têm importante contribuição a dar no processo eleitoral que se aproxima, patrocinando, como entes politicamente neutros, ampla discussão sobre os problemas brasileiros, promovendo efetiva aproximação entre eleitores e candidatos.


A promoção de debates públicos fica restrita aos que pleiteiam os cargos majoritários, e a escolha dos proporcionais — deputados estaduais e federais — fica fora do alcance destas iniciativas. Poucas semanas após o pleito muitos eleitores já esqueceram até o nome dos ‘escolhidos’. A mudança para o uso de critérios e compromissos claros é um obstáculo que precisa ser transposto, para regatar a credibilidade nas instituições democráticas.


Apesar de ter, ainda, consideráveis limitações a contornar, principalmente quanto ao acesso pelas camadas sociais de menor poder aquisitivo, a internet vem se firmando, em todo mundo, como ferramenta capaz de estreitar a distância entre representantes e representados, com inegáveis vantagens. Entre elas a interatividade, nos fóruns de discussão, que permitam ao eleitor sugerir, perguntar e cobrar posições de candidatos, conhecendo claramente as biografias e opiniões dos postulantes. É uma escolha consciente.


Em todo o mundo desenvolvido multiplicam-se esses fóruns, pela rede, reunindo candidatos e eleitores em debates produtivos. Fora conhecidos exemplos de gestão participativa, em alguns países — como a Inglaterra, os Estados Unidos e a Suíça — em maio último, o Congresso espanhol aprovou lei que autoriza a coleta de assinaturas pela internet para promover mudanças legislativas por via eletrônica. São sinais dos novos tempos.


Em janeiro já eram mais de cinco milhões de pessoas conectadas à rede, no Brasil, através de quase 900 mil domínios registrados. Mas a participação de partidos e candidatos ainda se limita, na maioria das vezes, à construção de páginas na rede. Ou ao envio de e-mails não solicitados que entopem as caixas postais dos cidadãos, produzindo efeito contrário.


Já é tempo de as entidades da sociedade civil se utilizarem dos recursos que a tecnologia oferece e dos responsáveis pelas campanhas políticas perceberem a importância crescente da internet nas eleições. De entenderem que pode nascer um eleitor mais exigente e comprometido, que reivindica respostas efetivas e maior transparência dos escolhidos.


Já é hora de colocar a internet a serviço da uma efetiva construção democrática, instrumento dos novos tempos que tanto reivindicamos.


BENITO PARET é presidente do Sindicato das Empresas de Informática do Rio de Janeiro.’


 



SENSACIONALISMO
Ancelmo Gois


Vida privada


‘Edmundo, o jogador, entrou com uma ação contra o SBT.


Ele alega que a emissora fez sensacionalismo ao expor, no ‘Domingo Legal’, uma briga que teve com a esposa. O processo está na 15 Vara Cível do Rio.’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 10 de julho de 2006


CAMPANHA
Em 2007, Gil quer continuar no ministério


Jamil Chade


‘Gilberto Gil quer continuar como ministro da Cultura em um eventual segundo mandato do presidente Lula. Em entrevista ao Estado no sábado, após fazer mais um show no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, ele fez uma avaliação de como foi ser músico nos quase quatro anos em que também acumulou a função de ministro. Criticado por permanecer por muito tempo no exterior para as turnês, Gil voltou a defender a necessidade de um orçamento maior para sua pasta. Apesar de querer manter o cargo, prevê o lançamento de um CD de sambas.


O senhor fez 64 anos no fim de junho. Até quando vai cantar?


Até morrer. Eu não tenho plano nenhum para minha vida, pelo menos nesse sentido. A música é uma permanência em minha vida, desde os dois anos de idade. É uma escolha do inconsciente.


E até quando o senhor vai querer ser ministro? Gostaria de permanecer no governo em um eventual segundo mandato de Lula?


Por muitos aspectos, eu gostaria sim. Seria interessante para fortalecer o ministério dentro do governo, o que é preciso fazer, incluindo a melhoria do seu orçamento. E para complementar trabalhos que foram iniciados. Obviamente não conto com a possibilidade de continuar como ministro, até porque isso depende de vários fatores. O primeiro deles é a reeleição de Lula e, depois, se o presidente terá vontade de me manter no cargo. Essas são questões básicas. Mas acho que seria algo interessante.


Como foi fazer música durante esses quase quatro anos na direção do Ministério da Cultura?


Fiquei restrito à performance e não tive tempo para compor. Mas não vi isso como um problema.


Por quê?


Claro que gosto de compor, mas o que mais gosto mesmo é de tocar e cantar. Na realidade, fiquei até com mais apetite por cantar, porque tinha de me dedicar ao ministério e o que sobrou foi um tempo faminto por música. Venho a cada show com muita vontade de cantar. Em quase 4 anos de ministério, fiz apenas 3 composições. Cheguei a compor 30 músicas por ano, na década de 70. Depois, essa média decresceu para umas 10 músicas. Mas nos últimos anos foram mesmo apenas 3 composições.


Para 2007, além da eventual permanência no comando do ministério, quais são seus planos?


Estou preparando um disco de samba. Um dos sambas que será incluído fui eu que compus. Outra faixa que estará no CD é Máquina de Ritmos, a última composição que fiz antes de assumir o ministério.’


 



CINEMA
Por uma utopia possível


Luiz Zanin Oricchio


‘Não poderia haver personagem e filme mais adequados para abrir um festival de cinema latino-americano. O filme é o documentário ZA-05 – O Velho e o Novo e o diretor é Fernando Birri. ZA-05 (as duas iniciais se referem a Zavattini, papa do neo-realismo italiano, e as cifras o ano de conclusão do projeto) é a perfeita imagem do seu autor – fala do sonho de um cinema latino-americano que se impõe por seu rigor, por sua força e qualidade, e cresce à margem da grande indústria mundial do entretenimento. Birri , que tem 81 anos, é um utopista, e se orgulha disso. Seu filme é retrato de uma utopia.


As imagens que os espectadores vão ver na tela do Memorial da América Latina, depois da cerimônia de abertura, às 20h30, são tiradas de algumas das melhores produções do continente. Sim, porque O Velho e o Novo é um filme de montagem – faz-se de outros filmes, criteriosamente selecionados por Birri. Nele estão cenas de clássicos como Memórias do Subdesenvolvimento, do cubano Tomás Gutiérrez Alea, e de Vidas Secas, do brasileiro Nelson Pereira dos Santos. Cenas de documentários como Now!, do cubano Santiago Álvares, A Batalha do Chile, do chileno Patricio Gusmán e de Tire Dié, obra-prima do próprio Birri. Enfim, trata-se, como definiu o próprio diretor, de um ‘megaclipe’ da resistência cultural.


A homenagem é a Cesare Zavattini, roteirista , escritor e líder do movimento neo-realista na Itália, de quem Birri, como tantos outros cineastas, foi aluno no Centro Sperimentale di Roma, nos anos 60. E o subtítulo O Velho e o Novo refere-se à obra de Serguei Eisenstein, também conhecida como A Linha Geral, que se refere ao trabalho coletivo em aldeias e fazendas na União Soviética.


Mas o subtítulo diz também do que trata o filme. ZA-05 não coloca frente a frente apenas trechos dos grandes filmes do passado: faz com que eles convivam com os recentes ensaios cinematográficos dos alunos da Escuela de Cine e TV de San Antonio de los Baños, em Cuba, da qual Birri foi fundador, junto com Gabriel García Márquez. Assim, é um trabalho que contempla o passado ao mesmo tempo em que olha para o futuro. Como convém a um utopista.


Em palestra feita em Fortaleza sobre a diversidade cultural, Birri disse que para nós, latino-americanos, buscarmos a convivência na diversidade, temos de pensar, primeiro, na nossa identidade – ‘Porque não se pode falar de uma diversidade, se antes não soubermos quem somos. Qual é a nossa personalidade e perfil cultural, em primeiro lugar nacional, mas não apenas nacional.’


É de tudo isso que ZA-05 está falando. Primeiro, porque os filmes que o compõem e que são colocados uns contra os outros, como rimas de um poema, falam de uma realidade da qual só os latino-americanos nos ocupamos – a nossa própria, dramática e difícil condição social, histórica e econômica. Assim, Memórias do Subdesenvolvimento trata da posição ambivalente do intelectual frente à revolução cubana. Vidas Secas tematiza a questão da pobreza nordestina a partir da obra de Graciliano Ramos. La Hora de los Hornos, de Solanas e Getino, volta-se para as sociedades insurgentes na década de 60, destacando o caso argentino e o peronismo de esquerda.


Mas não se trata apenas disso. Esses filmes procuram falar da realidade latino-americana inovando também na linguagem, quer dizer, na maneira de dizer as coisas . E, nesse ponto, Birri constata e procura pagar sua dívida para com o neo-realismo italiano, na pessoa de Zavattini. A escola italiana do após-guerra ensinou aos latino-americanos que seria possível fazer um cinema urgente para se contrapor ao glamour despolitizado de Hollywood. Filmagens nas ruas, atores não-profissionais, equipes enxutas, filmes baratos, espontâneos, em que os heróis fossem gente igual àquela que se encontra sentada nas salas do cinema.


O estilo também inovou. Luz estourada, natural, no caso de Vidas Secas, imagens rápidas e ritmadas seguindo a música cantada por Lena Horn nesse precursor do videoclipe engajado que é Now!; a arte digressiva nesse documentário político que é La Hora de los Hornos; a pegada nouvelle vague num filme de reflexão histórica como Memórias do Subdesenvolvimento. O desafio era contar nossas histórias, e à nossa maneira


O paradoxo de proposta de arte cinematográfica original, numa época em que o domínio de Hollywood sobre os mercados mundiais é quase absoluto, não preocupa Birri. É nesses momentos mesmo, acredita, que as utopias se fazem mais necessárias. ‘A própria palavra nasce da obra de Tomas Morus, num momento de crise européia, quando se descobriam mundos novos (a América) e isso punha em questão a visão única do continente europeu.’


Birri diz que é um utópico, mas com os pés bem fincados no chão – ‘sabemos muito bem, e levamos em conta o mundo em que vivemos’, diz. Essa consciência não o leva nem ao pessimismo e nem à paralisia. Entende que, mais do que nunca, é preciso resistir, e o faz da maneira que conhece melhor, através da arte.


Fernando Birri que na primavera dos seus 81 anos tem a figura de um profeta, pode apenas de uma maneira imperfeita ser descrito como cineasta. Além de fazer filmes, é escritor, pintor, poeta, teórico, professor e fundador de escolas. Criou e esteve à frente das duas mais famosas escolas da América Latina, a Escola Documental de Santa Fé, na Argentina, e a Escola de Cine e TV de San Antonio de los Baños, em Cuba.


Seu filme mais famoso, pelo menos para os aficionados do cinema sul-americano é Tire Dié (corruptela de Tire Diez – Atire Dez), média-metragem sobre os meninos de rua argentinos que cercavam os trens de passageiros em movimento e se arriscavam, implorando que lhes atirassem moedas de dez centavos. Esse filme, de 1958, passou a ser considerado um modelo para o cinema do continente e provavelmente o desencadeador de todos os ‘novos cinemas’ que apontaram em diversos países, como a própria Argentina, Brasil e Bolívia, entre outros. Todos estavam relacionados de forma longínqua com o velho neo-realismo italiano (e as lições poético-políticas de Zavattini) e mais proximamente com a inquietação dos anos 50-60, quando criar e contestar eram as palavras de ordem mais claras para a juventude.


Nessa efervescência, nasceu o ‘tercer cine’, de Octavio Getino e Solanas, o grupo Ukamau do boliviano Jorge Sanjinés, o grande cinema cubano da fase pós-revolucionária e o Cinema Novo brasileiro. Portanto, com Birri e sua síntese genial, o que se evoca é a matriz de toda uma fase importante, a mais criativa e original que houve por aqui. Vale a pena conhecê-lo.


Anos atrás, Birri esteve no Cine Sul, o festival latino-americano realizado a cada ano no Rio, apresentou seu Tire Die e disse uma frase que também resume sua arte e ética como artista: ‘Quero o meu espectador comovido, sim. Mas lúcido.’ Essa emoção, que não nega a reflexão, poderá ser buscada durante esta semana de filmes, encontros e debates. Esta é uma utopia realizável.’


 




FIM
Belíssima, um final simples e genial


Patrícia Villalba


‘No vácuo da eliminação da seleção brasileira na Copa, a novela Belíssima teve seu suspense minado por uma especulação da imprensa que beirou a histeria. De repente, parece que ficamos sem assunto e jogamos um peso tremendo nos ombros do autor Silvio de Abreu. Sobrou para ele.


Muitas das cenas da novela das nove, algumas delas decisivas, já haviam sido descritas em mínimos detalhes durante a semana em sites, jornais e revistas especializadas em televisão – até mesmo aquela em que Bia Falcão (Fernanda Montenegro) termina ao lado de Mateus (Cauã Reymond), em frente à Torre Eiffel. Na sexta-feira, dia do último capítulo, o próprio site da novela se rendeu aos boatos, e publicou um resumo dos cinco finais escritos por Silvio para a trama. Bem, então seria um daqueles desfechos, pronto.


Dito isso, elegemos uma outra charada: Belíssima bateria o recorde da antecessora América e se consagraria como a novela com o último capítulo mais visto da história da TV brasileira? Essa foi uma bola levantada também na sexta-feira, e lembrou aqueles recordes todos que os craques da nossa seleção pareciam preocupados em alcançar. Belíssima não bateu América. Deu 60 pontos de média, com 80% de share (o que significa que de cada 10 televisores ligados no País, 8 estiveram sintonizados na TV Globo durante as duas horas que durou o capítulo). A trama de Glória Perez, graças ao anunciado e não veiculado ‘primeiro beijo gay da história da TV brasileira’, marcou 66 pontos de média, e 82% de share.


Mas se é para pôr a discussão em torno de Ibope, podemos dizer que, sem dúvida alguma, o melodrama misturado à tragédia grega e aos filmes policiais é um fenômeno não de um dia, mas de sete meses. Confortável numa média de 57 pontos – com picos de até 64 – durante o período em que ficou no ar, não era mesmo necessário que o autor tirasse nenhum beijo gay da cartola para agarrar a audiência pelo pescoço justamente no último capítulo.


Ah, não teve beijo gay, mas teve incesto. Nunca se viu a TV dar tratar um tema tabu com tanta naturalidade, mesmo sendo um incesto leve, digamos assim, entre tia e sobrinho. Vitória (Cláudia Abreu), descobriu-se, é filha de Bia e, portanto, tia de seu primeiro marido, Pedro (Henri Castelli). Ninguém pareceu dar muita bola para isso lá nos Campos Elísios.


Quanto ao outro mistério, sobre quem seria o grande vilão da história, Silvio havia prometido coerência e não surpresa. Mas de que vilão estivemos falando durante todos estes dias?


O autor nos enganou ou, melhor, nós nos deixamos enganar pelas pistas que ele plantou. Mestre, esse Silvio de Abreu. Não havia vilão mor, além do ‘escroque Medeiros (Ítalo Rossi) , auxiliado pela secretária Yvete (Angelita Feijó, que passou quase que a novela toda dizendo ‘bom dia’ e ‘boa tarde’, mas numa grande reviravolta, encerrou sua participação no horário nobre com um posto de vilã a capa de revista masculina no currículo). Não foi óbvio, foi simples e, por isso, genial.


Ficou a impressão de que Júlia (Glória Pires) só terminou com Nikos (Toni Ramos) porque André (Marcello Antony), de quem ela parecia gostar, foi dar uma herói e morreu – será que o grego teria chance com aqueles olhos verdes no jogo?


E Bia e Mateus de amorzinho em frente à Torre Eiffel lembrou aquela ‘banana’ de Reginaldo Farias em Vale Tudo (1988), de Gilberto Braga, primor de novela – Silvio, aliás, pôs lindamente a terceira idade para beijar na boca em Belíssima. A vilã não foi para a prisão e, não bastasse, se apoderou do namorado da melhor amiga. Já teve gente reclamando, porque não gostou de ver a impunidade na tela. Mas Silvio avisou que o final seria coerente.


Nesse caso, podemos ler que a coerência tem a ver com o sentimento do País de que rico não vai para a cadeia, e os espertos vencem sempre. Não é à toa, veja só, que Bento (Nelson Xavier) e Diva (Via Negromonte), dois pés-de-chinelo terminaram atrás das grades.’


 




CAUSAS SOCIAIS
Alcoolismo e obesidade na Record


O Estado de S. Paulo


‘Felizmente, até nas causas sociais a Globo serve de inspiração para a Record. Bicho do Mato, novela que estréia dia 17 na TV de Edir Macedo, abordará duas questões sociais: combate à obesidade infantil e ao alcoolismo. A obesidade será retratada no personagem Ruyzinho, vivido pelo ator Daniel Garcia. Será um jovem de 14 anos introvertido por conta do problema. Já o alcoolismo será vivido por Silvia (Adriana Garambone), uma ex-modelo que teve a carreira interrompida por causa do vício. Os temas vêm merecendo pesquisas por parte dos autores.’


 


COPA 2006
Honestidade tardia


Cristina Padiglione


‘Assistir a uma partida de futebol saltando de um canal para o outro, tarefa a que esta análise se propôs durante a Copa, não é o modo mais confortável de se acompanhar um jogo, mas vale pela diversão de ouvir palpites tão diversos sobre a mesma cena. Pena que a autocrítica de dom Galvão, o Bueno, tenha vindo tão tarde. O torcedor merecia mais honestidade. Ou alguém que lhe deu ouvidos até aquela véspera de Brasil x França pode acreditar que ele seria capaz de dizer que o Brasil perdeu ‘porque não jogou, porque nunca teve time’? Creia, a frase veio dele na narração de França x Itália.


A meia de Roberto Carlos entra para a história. Ontem, o ato falho do brasileiro no jogo perdido rendeu pelo menos duas citações na Globo e uma na ESPN Brasil. ‘Não foi daí que o Roberto Carlos ajeitou a meia?’, perguntou João Palomino, no canal pago.


No saldo total do mundial, a transmissão da ESPN Brasil merece o caneco. Como já foi dito aqui, tem mais técnica que torcida. Tem a autocrítica que faltou à Globo e uma metralhadora de dados vomitados por PVC, como é chamado Paulo Vinícius Coelho. Quem tem PVC ou Arnaldo César Coelho não escorrega em longas pausas, como se deu na narração da SporTV, nem patina no óbvio ululante, como aconteceu com Luciano do Valle na Bandsports.


Abastecido de dois comentaristas, um ex-árbitro e de ponto eletrônico bem informado, dom Galvão pode até se dar ao luxo de chamar Giorgio Napolitano, o presidente italiano, de Romano Prodi, o primeiro-ministro. Em poucos segundos alguém lhe comunica a gafe e ele logo corrige. A infra da Globo faz toda a diferença, mas a ostentação é de dar náusea. Tem coisa mais antipática do que frear a festa do vencedor para chamar um repórter diretamente da África do Sul, sede da próxima Copa, só para mostrar que chegou primeiro? É atitude digna de jardim da infância.’


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