Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Carlos Franco

‘O mestre Federico Fellini dirigiu comerciais de produtos italianos. O premiado inglês Ridley Scott deixou um pouco de lado a publicidade para filmar Blade Runner, depois O Gladiador e por último A Cruzada, mas nunca rejeita propostas para comerciais, onde começou. Ele leva para o cinema a arte da imagem que, em si, conta uma história e, juntas, formam uma colcha de videoclips, capazes de encantar as platéias. Scott acaba de dirigir, por exemplo, uma superprodução para o ingresso na perfumaria da grife italiana de moda em couro Prada.

Guy Ritchie também não resiste ao apelo da propaganda e chegou, em campanha para a BMW, a pôr em cena Madonna, sua mulher, em situação, no mínimo, inusitada e ousada.

No Brasil, diretores de cinema são cada vez mais bem-vindos como diretores de comerciais e estes também começam a rodar os seus filmes. Há uma movimentação intensa nesse mercado que, de um ano para cá, tem garantido recursos a cineastas como Andrucha Waddington (Gêmeas, Eu, Tu, Eles, Viva São João! e Casa de Areia), da Conspiração Filmes, que não pára de dirigir comerciais. Washington Olivetto, da W/Brasil, é um dos publicitários que tem dado indosso a essa onda e adorou o trabalho de Andrucha que dirigiu Gisele Bündchen num comercial da Grendene.

Para a diretora de filmes publicitários, também com incursões no cinema, Paula Trabulci, da Bossa Nova Films, esse movimento expressa a junção da cultura com a propaganda e ambas ganham com a repercusão dos filmes. ‘É uma forma de comerciais ficarem mais atraentes, com produção mais cuidada e com ganho também de mídia’. No elenco de diretores da Bossa Nova Films, uma surpresa: o cineasta Walter Carvalho, o diretor de fotografia de filmes como Central do Brasil, Abril Despedaçado, Carandiru, Pequeno Dicionário Amoroso, Villa-Lobos e Madame Satã. Para Paula, essa aliança entre publicidade e cultura, mais que uma tendência, veio para ficar. Walter Carvalho, por exemplo, dirigiu um comercial para Dove, intitulado ‘Flores’, que fez sucesso.

O presidente da Jodaf, uma das maiores produtores de filmes publicitários do País, João Daniel Tikhomiroff, está, neste momento, fazendo o caminho inverso: vai começar a gravar um filme, Besouro, que conta a história de um capoerista. Além disso, a Jodaf, produtora que tem no currículo 47 leões do Festival de Cannes para comerciais, está entrando para valer na área de cinema, com a Lux Mixxer, produzindo o mais novo filme de Cacá Diegues

O cineasta Fernando Meirelles, diretor do premiado Cidade de Deus, é uma das principais estrelas da produtora O2 e tem no currículo a direção de inúmeros comerciais. Meirelles tem repetido que a grande vantagem do casamento entre publicidade e cinema é que a primeira leva técnicas mais modernas para o telão, como a digitalização de imagens e mais recursos, enquanto o cinema empresta melhores roteiros para a propaganda.

Essa aliança entre a publicidade e o cinema foi responsável pela criação do Lions Titanium, hoje o mais almejado prêmio do Festival Internacional de Publicidade de Cannes, entregue há dois anos para a Fallon, pelo projeto The Hire, da montadora BMW, que produziu filmes com diretores famosos tendo como centro os carros da marca. A idéia original era que produzissem comerciais, mas todos os convidados, sem exceção, extrapolaram o tempo.

Resultado: a BMW decidiu usar a propaganda tradicional para avisar que estes filmes poderiam ser vistos na internet, no endereço bmwfilms.com. São de diretores como Ang Lee, John Frankenheimer, Tony Scott, Guy Ritchie e Wong Kar-Wai, que escalou a modelo brasileira Adriana Lima para contracenar com Mickey Rourke no filme The Follow, da série da BMW.

Para Tikhomiroff, que foi jurado este ano na categoria filmes do Festival de Cannes, esta associação entre cinema e publicidade mais que tendência, é uma parceria que está virando regra.’



Érica Polo

‘Publicidade enganosa: como agir’, copyright O Estado de S. Paulo, 29/08/05

‘Não são raros os casos de consumidores que se decepcionaram com a constatação de que o produto adquirido não possui exatamente todas as características anunciadas na propaganda. ‘Propaganda enganosa é aquela que traz alguma informação falsa, capaz de levar o consumidor a comprar um produto diferente do que ele esperava’, esclarece Maria Inês Dolci, coordenadora-jurídica da Pro Teste.

Há também a propaganda enganosa por omissão, lembra a especialista. Ela ocorre quando o fornecedor do produto ou serviço deixa de informar dados importantes antes da venda. ‘Costumo dar sempre o mesmo exemplo: a propaganda por omissão acontece quando uma ótica anuncia desconto na compra de lentes de contato à vista, mas deixa de informar que esse abatimento só é válido para um determinado tipo de lente’, exemplifica.

Qualquer que seja o tipo de fraude, existem basicamente três opções para o consumidor, dizem advogados: exigir o que foi prometido na propaganda, pedir um produto ou serviço equivalente ou, então, pedir a devolução do dinheiro. ‘O roteiro já é conhecido: deve-se enviar a reclamação por escrito para a empresa, com aviso de recebimento (AR), e indicar prazo para que a questão seja solucionada’, diz Maíra Feltrin, advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Não há prazo definido por lei, mas em casos assim o cliente pode exigir solução imediata. ‘A menos que o fornecedor justifique que precisa de determinado prazo para cumprir o que o consumidor pede’, lembra Maíra. Se houver dúvida na hora de caracterizar a questão como um caso de propaganda enganosa, deve-se buscar orientação com órgãos de defesa do consumidor.

É importante que o cliente guarde os anúncios de publicidade, caso seja preciso recorrer à Justiça. A orientação é sempre procurar primeiro o fornecedor e, em caso de negativa, recorrer aos órgãos de defesa do consumidor. Se mesmo assim não houver solução, o caminho será procurar a Justiça.

Fábia Souza de Oliveira é uma das que pagaram por um produto e levaram outro. ‘Pelo que a consumidora contou, é exemplo típico de propaganda enganosa’, comenta Maíra, do Idec. Fábia comprou um sofá este ano na loja Marinho Móveis. ‘Vi o anúncio, em uma revista, dizendo que o sofá era à prova de unha de gato, ou seja, não desfiaria. Tenho dois gatos. Qual não foi a minha frustração quando eles conseguiram desfiar o tecido na primeira semana’, conta. ‘Liguei para a loja e mandaram um técnico à minha casa uns dias depois. Não recebi o laudo, tentei trocar o item, houve demora e acabei pedindo para devolverem os meus cheques.’ Após dois meses de tentativas, ela conseguiu os cheques de volta na semana passada. ‘Houve também descumprimento de oferta’, acrescenta a advogada do Idec.

Em resposta ao Estado, a loja diz ter detectado defeito de fabricação no lote do tecido que foi utilizado para fazer o sofá vendido à consumidora. A Marinho Móveis informa ter descoberto o problema após contato com o fornecedor do tecido. A demora para resolver a questão, justifica, ocorreu por ser época de reestruturação do Serviço de Atendimento ao Consumidor. ‘Infelizmente, o cancelamento da compra foi realizado, mas mandamos para a consumidora duas poltronas decorativas como um pedido de desculpas’, diz, ainda, a nota.’



TV GLOBO
Laura Mattos

‘Herdeiros de Janete Clair questionam Globo’, copyright Folha de S. Paulo, 29/08/05

‘Os herdeiros de Janete Clair questionarão a Globo, por meio de advogados, sobre o fato de a emissora ter utilizado uma radionovela da autora apesar de não ter comprado os direitos da obra.

‘Noiva das Trevas’, escrita por Clair (1925-1983) para a rádio Tupi na década de 50 e depois adaptada por ela para a Nacional, serviu de base para a telenovela ‘Direito de Amar’ (1987), quatro anos após a morte da autora.

Trama de época exibida pela Globo no horário das seis, abordava a disputa entre um banqueiro (Carlos Vereza) e seu filho (Lauro Corona) pelo amor da mocinha Rosália (Glória Pires). Teve a assinatura do autor Walter Negrão e, segundo o ‘Dicionário da TV Globo’, foi ‘inspirada’ na radionovela de Janete Clair.

A questão da utilização da obra veio à tona em razão de a família recentemente ter tirado o acervo de Clair do guarda-roupas (literalmente) e passado às mãos de pesquisadores do recém-formado Instituto Janete Clair.

Originais datilografados de seus mais de 300 títulos estão sendo recuperados e digitalizados. Além disso, os herdeiros contrataram um agente, Luque Daltrozo, para cuidar dos direitos autorais. Ele negocia com a Record e com emissoras internacionais a venda de obras de Clair que não fazem parte do contrato firmado com a Globo (detentora das novelas escritas para a emissora e do romance ‘Nenê Bonet’). São mais de 30 radionovelas, que podem ser adaptadas para a TV, e três telenovelas (Tupi e Excelsior).

Segundo Daltrozo, os herdeiros deverão notificar a emissora nos próximos 15 dias a fim de obter informações sobre a utilização de ‘Noiva das Trevas’. ‘Será um questionamento amistoso. Só entraremos com um processo judicial se não houver acordo nessa fase inicial e se for possível reunir provas de que ‘Direito de Amar’ é realmente uma adaptação da radionovela’, explica.

Para Márcio Tavolari, coordenador do Instituto Janete Clair, não há dúvidas de que a novela exibida pela Globo tenha sido adaptada da escrita por Clair.

De acordo com ele, a sinopse de ‘Noiva das Trevas’ foi ‘utilizada na íntegra, com uma ou outra alteração’. O pesquisador afirma que ‘Direito de Amar’ não foi ‘inspirada’ na radionovela, como diz a Globo, mas ‘adaptada’ do original radiofônico.

Segundo Tavolari, os originais da obra de Clair podem comprovar a semelhança. Além disso, diz, a grife da autora foi largamente utilizada na divulgação do lançamento de ‘Direito de Amar’, que ‘salvou’ a Globo de uma crise no horário das seis e obteve sucesso também com a exportação (foi vendida a 50 países, mais do que os cerca de 30 de ‘Terra Nostra’).

Para a Globo, trata-se de uma ‘homenagem’. ‘O que a novela ‘Direito de Amar’ fez foi uma homenagem a Janete Clair. A novela foi escrita sob a forma de um folhetim melodramático, bem ao estilo de Janete. A história em si se inspira livremente no mote universal da luta entre pai e filho por uma mulher, que também foi utilizado na idéia central da radionovela ‘Noiva das Trevas’ e em milhares de outras obras. Época, personagens, locações, tramas paralelas e o desenvolvimento da trama central são completamente diferentes nas duas obras’, respondeu Luís Erlanger, diretor Central Globo de Comunicação.

A família da autora também questionará a Globo sobre o uso de trechos da mesma radionovela em ‘Hilda Furacão’ (1998). A minissérie foi adaptada de romance de Roberto Drummond por Glória Perez, colaboradora de Clair no início da carreira.

Para esse caso, a Globo dá a mesma resposta. ‘Em ‘Hilda Furacão’, Glória Perez também fez uma homenagem a Janete Clair: havia cenas em que as famílias se reuniam, como faziam na época, para ouvir radionovelas da autora’, diz Luís Erlanger.’



O Estado de S. Paulo

‘Hoje É Dia de Maria é aposta internacional da rede’, copyright O Estado de S. Paulo, 29/08/05

‘A Divisão de Vendas Internacionais da Globo está tentando emplacar Hoje É Dia de Maria no mercado exterior. A série dirigida por Luiz Fernando Carvalho será apresentada a várias produtoras na próxima MIP Com – feira de TV que reúne os maiores produtores de conteúdo do mundo – que ocorre em outubro.

Outra iniciativa da rede para emplacar a série lá fora é a inscrição em várias premiações de TV, entre elas, o Emmy, considerado o maior evento mundial do gênero.

‘Inscrevemos no Emmy, mas não sabemos ainda se será indicada em alguma categoria’, fala o diretor da Divisão de Vendas Internacionais da Globo, Ricardo Scalamandré. ‘É um produto muito sofisticado, fala do nosso folclore, mas por outro lado, é uma linguagem moderna, totalmente diferente, pode chamar muito a atenção de outros mercados’, continua o diretor. ‘Estamos estudando um jeito de montar um formato interessante para a comercialização da série. Essa feira será um termômetro de como o mercado vai enxergar o produto.’

Scalamandré explica que alguns mercados pedem nova formatação na hora de comprar. ‘A Europa, por exemplo, não tem o costume de exibir uma minissérie de muitos capítulos. Eles preferem produtos menores, para serem exibidos no máximo em três capítulos’, conta ele. ‘Por isso, às vezes temos de condensar alguns produtos. Talvez com Hoje É Dia de Maria aconteça isso, tenhamos que transformar a série em apenas dois capítulos de uma hora e pouco cada um.’’