Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Carlos Heitor Cony

‘Alguns leitores reclamaram de crônica publicada neste espaço, quando afirmei e reafirmei que a maioria da população brasileira, ao contrário do que a mídia e os políticos estão dizendo por aí, não está escandalizada e muito menos ligada aos escândalos que provocaram a crise nacional mais importante dos últimos anos.


No seu último boletim, divulgado domingo passado, o IVC (Instituto Verificador de Circulação), que funciona oficiosamente como termômetro da venda avulsa dos órgãos da imprensa escrita, revelou que o mensalão (e muito menos o estouro nos Correios) não aumentou a circulação dos principais jornais do país, apelidados de ‘jornalões’.


Dois deles, a Folha e o ‘Jornal do Brasil’, tiveram ligeiro aumento de circulação, 0,4% para o primeiro, 0,6% para o segundo. Os outros dois tiveram venda reduzida, ‘O Globo’ com -0,3% e o ‘Estadão’ com -0,2%.


A amostragem nada tem a ver com a qualidade ou quantidade de espaço dedicada pelos jornalões ao assunto. Uns pelos outros, são as mesmas. O assunto é que não colou, a não ser nas classes A e B, que formam aquilo que a mídia chama, enfaticamente, de ‘sociedade’. Valérios, Delúbios, Sílvios et caterva não tiveram até agora a empatia que se verificou, por exemplo, naquela novela da qual nem guardei o nome, mas que tinha como trama final saber quem tinha matado um dos personagens, chamado Lineu, aliás interpretado pelo meu velho e querido amigo Hugo Carvana.


Faço -ou melhor, repito- esse comentário para demonstrar mais uma vez que nada entendo de mídia e sobretudo de política. Não tenho culpa de ter desconfiado da horizontalidade das denúncias, investigações e de toda a papelada que jamais será examinada integralmente. E de estranhar a ausência da verticalidade, que poderia levar o escândalo da planície para o planalto.


Tampouco entendo de novela. Até hoje não sei nem quero saber quem matou Lineu.’



Zuenir Ventura


‘Uma cena banal’, copyright O Globo, 3/08/05


‘Como todo mundo que conheço, e acho que até os que não conheço, estou diante da televisão acompanhando o depoimento de José Dirceu no Conselho de Ética da Câmara. Mas já que não posso esperá-lo acabar, e o desfecho do capítulo é imprevisível, vou tratar de outro assunto, um que nos toca de perto, literalmente: a violência urbana carioca. Que o valerioduto, o mensalão, as malas, todo o dinheiro desviado não nos deixem esquecê-la, o que aliás não é difícil. A todo momento somos lembrados.


Sábado último em Ipanema, por exemplo, cerca das 10h, fazia uma radiosa manhã, bem própria a esse mês que atrai tantos turistas à praia. Temperatura a 22 graus, gente passando, sol aquecendo sem queimar, uma leve brisa, um dia enfim que, ao que se diz, faz de vez em quando no paraíso. De repente, vem em minha direção uma senhora aflita, contando o que acabara de presenciar a duas quadras dali. Precisava desabafar com alguém: ‘Tenho 51 anos, sou jornalista e pela primeira vez na vida não quis ver o que tinha acontecido.’


Ela estava andando no calçadão quando ouviu bem perto um, dois, três… oito tiros. Era um tiroteio entre dois assaltantes e a polícia. Aos gritos de ‘deita, deita’, ela e mais umas 20 pessoas se atiraram na areia. Acompanhei-a de volta ao local, onde encontramos outros ‘sobreviventes’. Um deles, um rapaz indignado, lembrava que na véspera um amigo seu levara um tiro na cabeça ao ser assaltado de bicicleta e só não morreu por sorte. ‘Sabe quando o governo vai fazer alguma coisa? Quando os bandidos passarem de carro metralhando a gente e causando uma chacina como a da Baixada.’


Não havia mais sinal do ocorrido: um dos assaltantes fora ferido na perna e não se soube de vítima fatal. Tudo voltara ao normal. No ar, um certo alívio porque ninguém morrera. Afinal, o que eram oito tirinhos sem rumo diante do balanço da véspera, quando, além do jovem atingido na cabeça, um homem de 68 anos fora executado no Centro da cidade com oito tiros (os bandidos não poupam mais munição)? O que eram esses assaltantes pés-de-chinelo em comparação com as duas quadrilhas que invadem prédios e casas, agredindo os moradores? Reclamar de quê, se nessa semana até uma defunta foi atingida por bala perdida? O incidente da praia não passava de uma cena banal em meio a uma rotina de terror.


A que ponto chegamos. Por anestesia e resignação, não nos escandalizamos mais e ficamos agradecidos por nos terem poupado a vida. Nos consolamos achando que podia ser pior – e o pior é que sempre pode.’



Cristiane Jungblut


‘Lula chama Dirceu de companheiro e critica imprensa’, copyright O Globo, 3/08/05


‘O Palácio do Planalto acompanhou o depoimento do ex-ministro José Dirceu no Conselho de Ética da Câmara e também, por intermédio de petistas, a preparação de Dirceu. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manteve informado do teor das declarações de Dirceu, principalmente por ministros e assessores como o articulador político, o ministro das Relações Institucionais Jaques Wagner.


Wagner conversou várias vezes com Dirceu nas últimas horas sobre a linha de seu depoimento. Enquanto Dirceu falava, o presidente Lula participava da cerimônia de instalação do Conselho Nacional da Juventude. Em seu discurso, Lula citou a crise política e chamou Dirceu de companheiro, uma deferência ausente de seus discursos públicos desde a saída de Dirceu da Casa Civil, dia 16 de junho.


– Muitas vezes, num ato como este, possivelmente o destaque que este ato (Conselho da Juventude) terá na imprensa será quase nenhum. Porque está acontecendo o processo da Comissão de Ética, o companheiro José Dirceu está lá e, certamente, como minha mãe dizia, coisa ruim sempre tem mais privilégio do que coisa boa no noticiário do mundo inteiro, não apenas no Brasil – disse Lula.


Momentos antes, o presidente foi lacônico e irônico ao responder a uma pergunta se a crise chegaria a ele:


– Depende de vocês – disse sorrindo, sem dar explicações.


Lula citou o ‘companheiro Dirceu’ no fim do discurso, quando falava de improviso. Antes e depois da cerimônia, ele era informado do desempenho do ex-ministro. Segundo assessores, Lula recebia cópias das agências de notícia. Desde cedo, o presidente manteve encontros políticos para analisar a crise.


O presidente chegou ao Planalto às 16h10m, 40 minutos atrasado para uma solenidade que deveria começar às 15h30m, mesmo horário do início do depoimento de Dirceu. Jaques Wagner, que conversara na noite de segunda-feira com o ex-ministro, disse a Lula que o companheiro de partido já tinha avisado que faria um discurso inicial político e que rebateria as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).


Planalto faz avaliação positiva do depoimento


No Planalto, havia grande temor em relação ao comportamento de Dirceu, mas essa preocupação deu lugar a uma avaliação mais tranquila, de que não houve grandes revelações. A avaliação interna, no fim do dia, era de que Dirceu estava bastante tranquilo, seguro e que foi bem, pois manteve o controle sobre o depoimento e cumpriu a promessa de não fazer ataques ao governo. Ao contrário, fez vários elogios a Lula.


Pela manhã, Lula se reuniu com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), para discutir a crise política. Também participaram o ministro Jaques Wagner e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Foi o segundo encontro de Lula com Severino em uma semana.


À tarde, ainda em seu discurso, Lula fez referências à crise:


– Vivemos um momento interessante na História política do nosso país.


E, no momento em que o governo é envolvido em denúncias de irregularidades cometidas pelo PT, Lula garantiu que sua gestão está fazendo com que o Estado brasileiro seja ‘expressão do interesse público e do bem comum’.


– Jamais (o Estado) será abrigo de privilégios e de interesses particulares. Governar para todos é algo difícil, que exige muita dedicação e sacrifício — disse Lula.’



Eduardo Scolese


‘Lula acusa mídia de privilegiar ‘coisas ruins’’, copyright Folha de S. Paulo, 3/08/05


‘Em mais um ataque direto à atuação da imprensa, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou ontem o depoimento do ‘companheiro’ José Dirceu (PT-SP) ao Conselho de Ética da Câmara como um exemplo de que a mídia nacional ‘privilegia’ as notícias ruins diante das ações ditas como positivas do governo federal.


A declaração do presidente ocorreu em discurso de meia hora na cerimônia de instalação do Conselho Nacional de Juventude, no Planalto. Minutos antes, ao ser abordado por jornalistas, Lula sugeriu que a imprensa pode deslocar o foco das denúncias de corrupção para ele. ‘Depende de vocês’, disse o petista, ao ser questionado por repórteres se a atual crise poderia atingi-lo diretamente no decorrer das investigações.


A seguir, tratou do tema afirmando que as ‘coisas ruins’ sempre têm espaço no noticiário. A declaração, que se tornou uma rotina, ocorreu depois de ter listado números positivos do governo -créditos da agricultura familiar, prisões da Polícia Federal e programas de saúde e educação.


‘Eu estou dizendo isso [ações do governo] porque, muitas vezes, num ato como esse possivelmente o destaque que este ato terá na imprensa será quase nenhum. Porque está acontecendo o processo do Conselho de Ética, o companheiro José Dirceu está lá e, certamente, como a minha mãe dizia, coisa ruim sempre tem mais privilégio do que coisa boa no noticiário do mundo inteiro, não apenas no Brasil’, disse. A cerimônia começou 45 minutos após o início do interrogatório do deputado petista.


A relação do governo com a imprensa possui um histórico de conflitos, que remonta às tentativas de criação de um conselho para ‘fiscalizar’ os jornalistas e de expulsar do país um jornalista estrangeiro. Os ataques de Lula também ganharam destaque em falas recentes. Há uma semana, em Bagé (RS), o presidente já havia criticado o comportamento da mídia na cobertura da pior crise política do governo petista. Na ocasião, ele atacou setores da imprensa por somente ‘vender a desgraça’ e afirmou que alguém terá de pedir ‘desculpas’ aos que estão sendo ‘manchados’.


Ontem, a entidades estudantis, Lula não citou diretamente a turbulência política, mas admitiu que, numa administração, é preciso ‘corrigir erros’. E rotulou de ‘interessante’ o atual momento político: ‘É por isso que nós estamos vivendo um momento, que eu diria, interessante na história política do país’.’



Eliane Cantanhêde


‘Lula avalizou acerto com tele, diz Jefferson’, copyright Folha de S. Paulo, 3/08/05


‘O deputado federal Roberto Jefferson desistiu de preservar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse à Folha que foi por orientação de Lula que o publicitário Marcos Valério e o tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri, foram a Lisboa para negociar operações que servissem para quitar dívidas de campanha dos candidatos petebistas.


Os contatos foram, segundo Jefferson, com o Banco Espírito Santo e com o ministro de Obras de Portugal, Antonio Meixias, que foi administrador de uma das pontas da instituição, o Banco Espírito Santo Investimentos.


Valério e Palmieri viajaram no dia 24 de janeiro na primeira classe do vôo 8706 da Varig, de São Paulo para Lisboa, e voltaram no dia 26, no vôo 7405, que decolou às 9h55 para o Rio de Janeiro.


Eles foram obter informações sobre a transferência de US$ 600 milhões do Instituto de Resseguros do Brasil que estavam depositados num banco do Reino Unido para o banco português, um dos principais acionistas da Portugal Telecom. O ‘troco’ da operação seria de cerca de R$ 100 milhões que, segundo Jefferson, seria distribuído entre o PT e o PTB.


Ontem, durante o depoimento do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu ao Conselho de Ética da Câmara, Jefferson disse que Dirceu patrocinou ‘uma aproximação’ de Lula com o grupo Portugal Telecom, e depois emissários foram despachados para Lisboa. Em nota, a empresa negou ter havido reunião com representantes de partidos políticos para buscar uma solução para as dívidas do PT e do PTB (leia texto ao lado).


Dirigindo-se a Dirceu, o deputado disse: ‘(…) para que nós negociássemos de lá, depois do encontro que V. Ex.ª patrocinou do grupo da Portugal Telecom com o presidente Lula, um acordo que pusesse em dia as contas do PTB e do PT’. Acrescentou: ‘Tratei de todos os assuntos com V. Ex.ª, deputado José Dirceu, os republicanos e os não-republicanos. V. Ex.ª nos deixava todos à vontade para qualquer conversa na ante-sala do presidente da República’.


Dirceu negou: ‘Não é verdade, não é fato. Nunca tive relação com a Portugal Telecom de nenhum tipo, nem administrativa nem funcional, nunca tratei com a Portugal Telecom nenhuma matéria.’ Em seguida, disse: ‘Não tive nenhuma participação nesse episódio e o presidente Lula, tenho certeza absoluta, também não teve nenhuma participação. (…) ‘[a história] Ou é uma questão de total irresponsabilidade ou é um fato de extrema gravidade’.


Cronologia


Na versão de Jefferson, reunindo o que ele contou à Folha em 19 de julho e ao Conselho de Ética ontem, toda a operação começou a ser armada em 2004.


Em 19 de outubro daquele ano, Lula concedeu audiência ao presidente executivo da Portugal Telecom, Miguel Antonio Horta Costa, no Palácio do Planalto. Em dezembro, quando os candidatos petebistas ‘estavam com a corda no pescoço’ -na versão de Jefferson à Folha- a empresa de telefonia portuguesa voltou à tona.


Jefferson teve um encontro com o ministro Walfrido Mares Guia (Turismo), do PTB, fazendo um relato das dívidas de campanha dos correligionários.


Mares Guia teria ido a Lula, pedindo socorro, e Lula disse que tomaria providências. Em novas conversas, das quais o próprio Jefferson participou, foram discutidas explicitamente a operação da Portugal Telecom e a ida de intermediários a Lisboa.


A Folha perguntou ao deputado, na conversa do dia 19: ‘O presidente, então, sabia de tudo?’. Ele ratificou: ‘Claro!’. A conversa foi em ‘off’ (o deputado não assumia as declarações) e por isso não foi publicada. Ontem, ele orientou sua assessoria a telefonar para a Folha, durante o depoimento, assumindo o que dissera.


Segundo Jefferson, na conversa, a operação com Portugal chegou a ser armada, mas foi considerada arriscada. Telefonou para o então presidente do PT, José Genoino, sugerindo que fosse abortada.


Os deputados Rodrigo Maia (PFL-RJ) e Gustavo Fruet (PSDB-PR), da CPI dos Correios, já vinham trabalhando a informação de que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares ia com freqüência a Portugal. Em alguns momentos, praticamente todas as semanas. Colaborou FÁBIO ZANINI, da Sucursal de Brasília’



Lourival Sant’Anna, João Domingos, Luciana Nunes Leal e Vera Rosa


‘Dirceu mandou pedir dinheiro à Portugal Telecom, diz Jefferson ‘, copyright O Estado S. Paulo, 3/08/05


‘O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) roubou a cena mais uma vez. Fiel a sua tática de administrar homeopaticamente suas denúncias, num crescendo, Jefferson introduziu durante o depoimento do deputado José Dirceu (PT-SP) ao Conselho de Ética da Câmara um novo capítulo do escândalo. Segundo ele, com base em acordo feito com Dirceu, então ministro-chefe da Casa Civil, um emissário do PTB e outro do PT foram a Lisboa, em janeiro, captar recursos na Portugal Telecom para pagar dívidas de campanha.


Jefferson ainda acusou Dirceu de fazer a ‘aproximação da Portugal Telecom com o presidente Lula e depois autorizar que o PTB e o PT mandassem emissários a Portugal para negociar um acordo que pusesse em dia as contas do PTB’. E acrescentou: ‘Vossa Excelência não era tão poderoso assim, não está sozinho nisso. Não agiu em companhia de outros? Tomava todas as atitudes sozinho? É isso, ex-ministro, atual deputado, quero dizer que Vossa Excelência não falseie.’


O caso veio à tona durante o duelo entre os dois deputados, esperado há dois meses, desde que Jefferson denunciou a existência do mensalão e atribuiu ao então ministro a chefia do esquema. ‘Tratei de todos esses assuntos com Vossa Excelência, que nos deixava a todos à vontade para qualquer conversa, na ante-sala do presidente Lula’, pontuou Jefferson.


Dirceu negou a acusação. ‘Não é verdade, nunca tive relacão com a Portugal Telecom. É mais uma denúncia para atacar minha honra’, disse. ‘Esse caso é muito grave, joga acusacão no ar, que organizei um negócio escuso. Diz que levei ao presidente da República. Fico indignado. O senhor está mentindo.’ Deputados que falaram depois pediram à mesa que Jefferson fosse formalmente inquirido sobre quem eram os emissários.


‘MONTAGEM’


Dirceu disse que teve contatos com o publicitário Marcos Valério, apontado como operador do mensalão, apenas em ‘um ou dois eventos sociais’, e com diretores do Banco Rural, que foram conversar com ele na Casa Civil. ‘Mas o assunto era o Banco Rural.’ Ele tachou de ‘montagem ridícula’ a versão de que o Roberto Marques que aparece na lista dos sacadores da conta de Valério seria o seu assessor e amigo de mesmo nome.


Ao iniciar o depoimento, às 15h35, Dirceu garantiu que não renunciaria ao mandato para escapar de eventual cassação e 8 anos de inelegibilidade, como tem sido especulado, e como fez na véspera o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP). ‘Não conseguiria olhar nos olhos dos deputados, da minha geração de 68, dos companheiros que caíram durante a ditadura, da militância do PT’, dramatizou. ‘Vou lutar pela minha honra até o fim.’ E, lembrando os anos na clandestinidade: ‘Não aceito ser banido da vida política do País de novo.’


Ele negou ter qualquer coisa a ver com o vídeo em que o ex-funcionário dos Correios Maurício Marinho pega R$ 3 mil de propina, que desencadeou as denúncias de Jefferson, e ofereceu sua interpretação para o rompimento do petebista com o governo: ‘O senhor se desentendeu conosco porque queria capturar vários órgãos públicos e não permitimos as nomeações.’ Ele disse que se arrependeu de ter ido à casa de Jefferson pedir-lhe que retirasse sua assinatura do pedido de abertura da CPI dos Correios: ‘Não era minha atribuição.’


Dirceu também se referiu à ‘gravidade dos erros’ cometidos por ‘setores do PT’ e fez autocrítica do governo por não ter promovido a reforma política. Comentando o quanto Dirceu, agora humilde, costumava ser temido, Jefferson confessou: ‘Vossa Excelência desperta em mim os instintos mais primitivos.’


Apesar das provocações e do domínio de cena de Jefferson, Dirceu se manteve sereno no depoimento – à exceção de rápida troca de farpas com a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP). Quando dizia que ‘nunca foi arrogante quando era ministro’, arrancando risos da platéia, Zulaiê retorquiu: ‘O senhor nasceu arrogante.’ Exigindo respeito, Dirceu afirmou: ‘A senhora não achava isso quando convivia comigo na universidade, quando era minha amiga.’ Em seguida, pediu desculpas e prometeu não mais perder a calma.


Na situação de testemunha no processo por quebra de decoro parlamentar contra Jefferson, Dirceu fez um esboço de sua estratégia de defesa, ao lembrar que, no período a que se referem as denúncias de pagamento de propina, era ministro e não deputado. ‘Esse reparo quer significar alguma coisa?’, quis saber o relator, Jairo Carneiro (PFL-BA). ‘Não’, respondeu Dirceu. ‘É apenas uma leitura institucional e jurídica que faço. Eu estava licenciado como deputado, portanto não há como eu ter quebrado o decoro parlamentar. Os tribunais vão decidir.’’



João Domingos e Luciana Nunes Leal


‘Valério confirma viagem a Lisboa ‘, copyright O Estado S. Paulo, 3/08/05


‘O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza admitiu ontem à noite que manteve conversas com o presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, em janeiro deste ano. Mas apresentou uma versão frágil para justificar os encontros, num dos quais tomou parte o ex-tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri. Disse que foi fazer ‘prospecção’ de clientes. ‘Havia o rumor de que a Portugal Telecom estava comprando a Telemig Celular. Como a minha ex-agência DNA tinha a conta da Telemig, fui a Portugal atrás de oportunidades de negócios’, afirmou. ‘Não sou lobista nem representante de ninguém.’


Valério contou que foi três vezes a Portugal se encontrar com Miguel Horta e Costa, confirmando o que o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) disse durante o depoimento do deputado José Dirceu (PT-SP) no Conselho de Ética.


O empresário referiu-se a Palmieri como um ‘amigo’ que o teria acompanhado numa das viagens a passeio. Na entrevista coletiva que concedeu ontem à noite, Valério também admitiu ter se encontrado com o ministro de Obras Públicas de Portugal, Antônio Mexia. Mas não explicou a razão do encontro.


Em nota divulgada à noite, a Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto confirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu representantes da Portugal Telecom nos dias 21 de janeiro de 2003 e 19 de outubro de 2004. ‘Em nenhum momento foi tratado qualquer assunto que não se referisse aos empreendimentos da companhia portuguesa no País’, destacou o comunicado.’



Rubens Valente e Marta Salomon


‘Agência de Duda sacou em ano não-eleitoral’, copyright Folha de S. Paulo, 3/08/05


‘O total de recursos do suposto esquema de caixa dois transferido pelo empresário Marcos Valério para a publicitária Zilmar Fernandes da Silveira -sócia de Duda Mendonça-, representa cerca de 50% a mais do valor declarado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) como pagamentos aos marqueteiros por serviços prestados na campanha eleitoral de 2002.


O objetivo dessas transferências do caixa dois, que totalizaram R$ 15,5 milhões, não foi esclarecido pela gerente administrativa da SMPB, Simone Reis Vasconcelos, em seu depoimento de anteontem à Polícia Federal.


As datas dos repasses são todas de um ano não-eleitoral, 2003. Mais da metade dos pagamentos se deu entre fevereiro e abril daquele ano (R$ 10 milhões), um ano e três meses antes da disputa eleitoral de 2004.


Duda Mendonça, que hoje divide com outras duas agências o contrato de publicidade da Presidência, atuou na campanha de Lula por meio da empresa CEP (Comunicação e Estratégia Política), da qual Zilmar é sócia.


De acordo com a prestação de contas enviada ao TSE, a CEP atuou em cinco campanhas eleitorais em 2002. Os valores declarados ao TSE foram os seguintes: Lula a presidente, com R$ 8,9 milhões; José Genoino (PT), ao governo de São Paulo, R$ 150 mil; Benedita da Silva (PT), ao governo do Rio, R$ 1,2 milhão; Aloizio Mercadante (PT), ao Senado por São Paulo, R$ 50 mil; e Adhemar de Barros Filho (PP), a deputado federal por São Paulo, R$ 65 mil.


Os valores agora revelados por Valério colocam em xeque uma nota pública divulgada por Zilmar no último dia 21, quando a CPI dos Correios divulgou o primeiro repasse à publicitária, no valor de R$ 250 mil. Em nota, Zilmar disse que sua empresa recebera apenas R$ 500 mil, por suposto trabalho realizado para o Diretório Nacional do PT.


De acordo com o depoimento prestado anteontem à Polícia Federal, em Brasília, pela gerente administrativa de Valério, Simone Vasconcelos, os saques destinados à sócia de Duda eram realizados por dois policiais civis de Minas Gerais, David Rodrigues Alves e Luiz Costa Lara.


No depoimento que prestou à Polícia Federal de Minas Gerais, David Alves disse que entregava o dinheiro a Cristiano Paz, sócio de Marcos Valério. O policial Lara afirmou que o dinheiro que sacou ficou sob responsabilidade de um taxista que morreu meses depois.


Entre os supostos responsáveis por receber os repasses, além de Zilmar, do próprio Duda e dos policiais, aparece na planilha de Valério o nome de Antônio Kalil Cury, que é diretor financeiro da Duda Mendonça Associados.


Além das campanhas eleitorais de 2002, o marqueteiro Duda Mendonça também organizou a festa da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O PT divulgou, à época, que a festa custou cerca de R$ 1,5 milhão.


Em depoimento prestado à Procuradoria Geral da República, o ex-tesoureiro nacional do PT e ex-tesoureiro da campanha eleitoral de Lula, Delúbio Soares, afirmou que dois empréstimos avalizados pelo publicitário Marcos Valério, no valor de R$ 5,4 milhões, foram tomados pelo partido para custear gastos com a transição de governo e com a festa da posse. Assim, esses gastos não estariam incluídos no suposto caixa dois.


PTB


A planilha entregue à Polícia Federal pela funcionária de Marcos Valério, Simone Reis Vasconcelos, atribui R$ 3,8 milhões a pessoas ligadas ao PTB. Em entrevistas à Folha, o ex-presidente nacional do PTB Roberto Jefferson (RJ) havia dito que a sigla recebera R$ 4 milhões do PT, como parte de um acordo para apoio mútuo nas eleições de 2004.


De acordo com a planilha, receberam recursos o tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri (R$ 2,46 milhões), ex-diretor da Embratur, Jair dos Santos (R$ 1 milhão), ex-motorista do ex-presidente nacional da sigla, José Carlos Martinez, morto num acidente aéreo, e o deputado federal de Minas Gerais Romeu Queiroz (R$ 350 mil).’



***


Publicitários não comentam saques da SMPB‘, copyright Folha de S. Paulo, 3/08/05


‘Os publicitários Duda Mendonça e Zilmar Fernandes da Silveira, procurados pela Folha desde o início da tarde de ontem, não foram localizados.


Foram deixados recados nos escritórios das empresas da Duda Mendonça Associados em Brasília, São Paulo e Salvador (BA), mas não houve retorno a um pedido de esclarecimentos sobre os R$ 15,5 milhões que teriam sido transferidos aos publicitários por meio de um esquema de caixa dois operado pelo publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza.


No último dia 21, a empresária Zilmar divulgou uma nota para comentar a primeira divulgação, feita por parlamentares da CPI dos Correios, de que houve um repasse de R$ 250 mil para a empresa.


Segundo a nota da publicitária, o valor era relacionado a um serviço prestado ‘ao PT’. Ao todo, de acordo com o comunicado, os repasses somariam apenas R$ 500 mil.


De acordo com a nota da empresa, os recursos recebidos teriam sido declarados no Imposto de Renda e devidamente contabilizados nas finanças da empresa Duda Mendonça Associados.’



O Globo


‘Sintonizados no depoimento’, copyright O Globo, 3/08/05


‘O público começou a ocupar calçadas e mesas a partir das 15h. Com dez aparelhos de TV ligados no canal que transmitia o depoimento do ex-ministro e deputado federal José Dirceu (PT), o bar Amarelinho atraiu velhos freqüentadores e o público que passava pela Cinelândia ontem, no Centro do Rio. O cartunista Jaguar parou para tomar um chope e aproveitou para ver o combate entre Dirceu e o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ):


– Vamos assistir a uma peleja dos tempos da Idade Média. É como se fosse também uma final do Myke Tyson. Isso é melhor que novela da Globo – exclamou o humorista.


Jaguar criticou o comportamento de alguns parlamentares que, segundo ele, usam os depoimentos como palanque e os transformam num ‘circo’. O humorista elogiou, no entanto, as investigações e acha que depois dessas denúncias de corrupção expostas na mídia os políticos vão pensar duas vezes antes de roubar.


– Isso é uma grande festa, um circo. Quem ganha são os pipoqueiros, que aumentam as vendas na porta dos locais de transmissão e os humoristas. Somos a única categoria que não pode reclamar da crise – disse, entre um gole e uma olhada na TV.


O vereador Brizola Neto foi almoçar no Amarelinho com dois advogados que trabalham em seu gabinete e se sentou em frente ao maior aparelho de TV do bar.


– Estamos na primeira fila e na expectativa de ouvir o Dirceu esclarecer tudo, principalmente as denúncias do Roberto Jefferson – disse o neto de Leonel Brizola.


O aposentado Aristeu Leandro tinha compromisso, mas também parou alguns minutos para assistir ao depoimento. Ele votou em Lula e espera que o presidente saia ileso.


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também assistiu a trechos do depoimento ao lado do presidente do Parlamento Europeu, Josep Borrel, no Instituto Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo.


No Centro, as lojas de eletrodomésticos que deixaram alguns aparelhos de TV ligados no depoimento também atraíram o olhar de curiosos. Mas a maioria evitou deixar todas as TVs ligadas. Segundo o gerente de uma loja na Rua Uruguaiana, Osmar Souza e Silva, a norma é não sintonizar os aparelhos em jogos de futebol nem em CPIs:


– É para evitar roubos e tumulto.’



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‘Lula exonera braço direito de Luiz Gushiken’, copyright O Globo, 3/08/05


‘Dentro da reestruturação da comunicação do governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exonerou ontem o subsecretário de Comunicação de Governo, Marcus Flora, que era o braço direito de Luiz Gushiken na antiga Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica). Na semana passada, Lula tinha reduzido ainda mais o poder de Gushiken: ele deixou de ser ministro e passou a ser apenas o chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE), órgão de assessoria direta do presidente. Com a mudança, a Secom foi transformada em subsecretaria e passou a ser subordinada ao ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência).


O nome de Flora apareceu na agenda de Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário Marcos Valério.


Para o lugar de Flora, Lula nomeou ontem, também no Diário Oficial, Luiz Tadeu Rigo, que trabalha com Dulci na Secretaria Geral. Mas ele ocupará o cargo interinamente.’



Folha de S. Paulo


‘A Defesa de Dirceu’, Editorial, copyright Folha de S. Paulo, 3/08/05


‘O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi enfático em seu depoimento no Conselho de Ética da Câmara ao refutar a hipótese de renúncia e reivindicar que princípios jurídicos presidam o julgamento político ao qual está sendo submetido desde as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) acerca de seu suposto envolvimento no chamado esquema do ‘mensalão’.


‘Quero Justiça’, afirmou, ressaltando que não é dele o ônus da prova. No que considerou ‘talvez a batalha mais importante’ de sua vida, o deputado foi incisivo ao negar que tivesse conhecimento das nebulosas operações realizadas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares em associação com o publicitário Marcos Valério. A tática de transferir para Delúbio e a cúpula do PT a integral responsabilidade pelos desvios foi secundada pela tentativa de diminuir a percepção de que se comportava como um ‘superministro’ na Casa Civil, a orquestrar não apenas as ações administrativas e parlamentares do governo mas também as estratégias do ‘projeto de poder’ do PT.


O deputado rebateu as afirmações de que exercia influência sobre a Polícia Federal e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e procurou circunscrever sua atuação no Executivo às atribuições inerentes ao cargo.


‘Eu não estou sendo acusado de corrupção em nenhum órgão público’, afirmou ao contestar seu arqui-rival Jefferson, que ironizou suas negativas e renovou as denúncias de que o ex-ministro agia em ‘conluio’ com o ex-presidente do PT José Genoino, o ex-secretário Silvio Pereira, além de Delúbio e Valério.


Até o fechamento desta página, de mais inquietante havia surgido a declaração de Jefferson de que Dirceu patrocinara um encontro entre o presidente Lula e representantes da Portugal Telecom, após o qual emissários do PT e do PTB viajaram a Lisboa com o propósito de negociar uma captação de recursos para beneficiar petebistas -episódio que o ex-ministro disse desconhecer.


De um modo geral, Dirceu procurou caracterizar uma situação de palavra contra palavra no embate com Jefferson. Embora testemunha, viu-se obrigado a defender-se -e o fez com relativa eficiência. Mas não a ponto de dirimir as dúvidas e rebater de maneira cabal os indícios de que sabia mais do que admitiu -como já indicaram outros depoimentos. Ainda será preciso que o deputado submeta-se à arguição das CPIs para que possa cumprir -ou não- o intento de preservar seu mandato.’



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‘Pessoas ligadas a Duda Mendonça sacaram R$ 15,5 mi ‘, copyright Folha de S. Paulo, 2/08/05


‘A listagem de pessoas indicadas pelo PT para receberem recursos de empréstimos de Marcos Valério Fernandes de Souza inclui não só Zilmar Fernandes da Silveira, sócia de Duda Mendonça, mas o próprio publicitário.


Segundo essa listagem, R$ 15,5 milhões, entre fevereiro e novembro de 2003, foram repassadas a pessoas ligadas a Duda Mendonça. Entre os beneficiários, também aparecem os nomes de Antonio Kalil Cury, David Rodrigues Alves -policial civil em Minas Gerais- e Luis Carlos Costa Lara.


Rodrigues Alves, em depoimento à Polícia Federal, afirmou que fizera saques a mando de um sócio de Valério, Cristiano Paz.


Até ontem, o nome de Zilmar era relacionado apenas a saques que totalizavam R$ 500 mil.


Em depoimento à Procuradoria Geral da República, no mês passado, Valério admitiu ter repassado dinheiro para o caixa dois do PT. A origem dos recursos seriam empréstimos bancários feitos por empresas de Valério e repassados a petistas ou a terceiros indicados pelo PT.


Na época, Zilmar disse que o dinheiro era pagamento de despesas de propaganda partidária gratuita para qual o comando petista havia contratado o serviço do publicitário.


Duda é o principal publicitário ligado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tendo feito sua campanha em 2002 e o orientando com freqüência. Ele tem contratos com Secretaria de Comunicação de Governo, Ministério da Saúde e Petrobras.


Despiste


O terceiro depoimento da gerente administrativa Simone Vasconcelos estava previsto para ocorrer em Belo Horizonte, segundo a assessoria da PF. A própria polícia chegou a divulgar que o depoimento havia sido suspenso. Mas Simone entrou na sede da PF em Brasília às 13h21.


O advogado de Simone tenta negociar com a CPI dos Correios para que seu depoimento, marcado para amanhã, seja reservado.


Depois de quase oito horas na sede da Polícia Federal em Brasília, ela deixou o local às 21h em um carro de vidros com película escura. Estava deitada no banco de trás do veículo.’



TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Em andamento‘, copyright Folha de S. Paulo, 3/08/05


‘O espetáculo seguia sem conflito e sem graça. Daí a manchete da Folha Online, às 16h, ‘Se quebrei decoro, que provem, diz Dirceu’.


Na Globo Online, ‘Dirceu promete lutar até o fim’. No site Estadão, ‘Vou lutar pela minha honra, diz Dirceu’.


Na transmissão ao vivo por Globo News, Band News e TV Câmara, acrescidas ontem das redes Record, Rede TV! e Band, as coisas se arrastavam.


Até que Roberto Jefferson abriu seu microfone para o ‘duelo’. Desta vez ele não foi bem na forma, na representação. Mas não estava aí sua surpresa para o espetáculo de ontem, e sim no conteúdo.


Até então sem novidade, os mercados fecharam o dia em ‘bom humor geral’, expressão cunhada pelo Valor On Line, que noticiou, às 17h:


– A ausência de notícias negativas no ambiente político garantiram a sexta queda sucessiva do dólar… Até o momento, segundo agentes de mercado, o depoimento -em andamento- não acrescentou nada.


Mas a sessão ainda estava ‘em andamento’. E começaram logo a seguir as surpresas.


Não que fossem novidade, propriamente. O Blog do Moreno já havia adiantado, por exemplo, no fim de semana:


– Jefferson, a seus pares, dá uma pitadinha: ‘Sabem aquela história de Furnas que eu contei? Aquela conversa ocorreu na presença do Lula’.


Pois ele contou ontem, de novo. E foi para a manchete da Folha Online, por volta das 19h, ‘Jefferson envolve Lula’.


Envolveu para além da divisão de cargos em Furnas:


– Ele acusou Dirceu de aproximar Lula da Portugal Telecom e depois autorizar que o PTB mandasse emissários para tratar com a empresa a negociação para liberação de dinheiro.


O petista, de bate-pronto, falou em ‘mentira’. Mas horas depois era uma das manchetes do ‘Jornal Nacional’:


– Jefferson apresenta nova acusação contra Dirceu. Diz que o deputado teria facilitado encontro do presidente Lula com empresa de telefonia portuguesa. A empresa pagaria dívidas do PT e do PTB.


No recém-criado Blog do Cesar Maia, o prefeito pefelista comemorava, ‘Jefferson finalmente inclui Lula no caso’.


E começava a editar freneticamente inúmeras supostas provas das relações entre Dirceu e a Portugal Telecom.


Apesar do susto que causou, sobre comentaristas do ‘Jornal da Band’ ao ‘Jornal das Dez’, da Globo News, também o caso não é nada novo.


Vem ecoando em Portugal desde a primeira semana de julho, quando o ‘Expresso’ deu a primeira reportagem, baseada em depoimentos de Jefferson. Isso, um mês atrás.


Em meados de julho, o petebista deu longa entrevista ao jornal, aliás noticiada no Brasil, mas apresentando outra versão -a de que Valério foi a Portugal para se encontrar com o então ministro de transportes e comunicações e discutir sobre a Varig. E que teria sido tudo por ‘encomenda’ de Dirceu.


Ontem no ‘Jornal da Globo’, o próprio Valério deu ainda outra versão. A de que foi tratar com a empresa telefônica por ter a conta publicitária da Telemig. E que levou o representante do PTB porque era seu ‘amigo’ e queria descansar.


MAIS NADA


O site Nomínimo, em meio à crise, foi rever ontem o documentário ‘Entreatos’, de João Moreira Salles, sobre a campanha presidencial de Lula, e concluiu que já estavam lá ‘as sombras que se formariam no governo e os fantasmas que ainda o assombram’.


Pior, com o tempo, ‘o filme ficou triste’. Em alguns momentos, ‘brincadeiras que provocavam risos só causariam, hoje, desconsolo’. Por exemplo, na primeira reunião após a vitória, ‘em que a cúpula da campanha ri dizendo que José Dirceu não vai deixar Lula governar’. Estão lá Genoino, Delúbio Soares, Silvio Pereira falando das relações entre partido e governo.


Entre as cenas selecionadas pelo site, para lembrar, a declaração de um motoqueiro:


– Lula, vai lá! A gente acredita em você. Acabou você, a gente não acredita em mais nada.


Resultado


Ao fundo, na transmissão do depoimento e nos telejornais, enunciados na linha ‘Eduardo Azeredo nega envolvimento com Valério’.


Era o presidente tucano, que foi por conta própria à CPI dos Correios. O Blog do Noblat não comprou e ironizou anunciando o ‘resultado do depoimento espontâneo: ele será convocado a depor assim mesmo’. E o blog tucano E-Agora manteve a pressão sobre Azeredo.


Entretenimento


Nos blogs mais anárquicos e menos tendenciosos, não faltou quem se divertisse com o depoimento de Dirceu, espinafrando os atores. Dois, mais contidos: para Narrativas de Niill, ‘a maior diversão das audiências é ver Luciana Genro ser invariavelmente humilhada’; já A Nova Corja não suportou o sotaque e reclamou sem parar, ‘pára de falar esse ‘r’ escroto!’.’



***


‘O próximo’, copyright Folha de S. Paulo, 2/08/05


‘Já no primeiro enunciado da Globo, para não deixar dúvida sobre o motivo:


– Para não correr risco de cassação, Valdemar Costa Neto renunciou ao mandato agora à tarde.


Foi com transmissão ao vivo por Band News e Globo News, após a Folha Online anunciar a decisão, meia hora antes. E assim foi possível ver e ouvir Valdemar:


– Como presidente do PL, continuarei na vida pública e usarei todos os poderes que meu cargo permite… Renuncio ao mandato, mas não aos objetivos que me trouxeram a esta casa por quatro vezes…


Renunciou para se reeleger. E tome Severino:


– Não posso deixar de ressaltar a prova de dignidade como Vossa Excelência agiu, para engrandecer o mandato popular, que eu espero que São Paulo o faça de volta.


Já nem sem questiona. É certo que Valdemar vai voltar.


Como apontou o ‘JN’, agora ‘fica no ar a pergunta: é a primeira de uma série de renúncias?’. Desde o final da tarde, o Blog do Moreno trazia uma piada-enquete:


– Faça a sua aposta. Quem será o próximo?


A CBN ironizava então que, ‘depois do presidente do PT, caiu o do PL, e resta saber quem é o próximo’. Arriscava talvez outro presidente, mas tem gente antes, na fila.


Segundo o Blog do Noblat, por exemplo, ‘Sandro Mabel, líder do PL, estava pronto para renunciar quando foi atropelado por Valdemar’. E no PT, quem vai primeiro?


– João Paulo contou a amigos que fará [amanhã] discurso destinado a alcançar ‘larga repercussão’. Na semana passada, cogitou renunciar.


EUA E A CORRUPÇÃO


Snow com bandeiras dos EUA e Brasil


No meio do escândalo, sem falar das operações militares na tríplice fronteira, surgiu nas Globos e em Brasília, para reuniões com Lula e ministro Antonio Palocci, o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow. E saiu falando em corrupção.


Ao ser questionado sobre o escândalo, na entrevista à Globo News destacada na Globo, disse que ‘é assunto interno’ e que ‘o importante é o Brasil continuar buscando boas políticas econômicas’.


Depois, questionado genericamente quanto à reportagem de Larry Rohter e outros no ‘New York Times’, sobre corrupção na América Latina:


– A corrupção em si é um impedimento ao crescimento e à prosperidade.


ATITUDE HIPÓCRITA


No site Ethics World, o diretor-executivo da Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, lançou ‘crítica incisiva’ ao texto de Larry Rohter no ‘NYT’, sobre corrupção na América Latina. Trecho:


– A reportagem mostra defeito presente vezes demais no noticiário da grande mídia americana sobre a região: uma atitude hipócrita baseada em impressões arbitrárias e um mau trabalho de reportagem.


Para quem lê o ‘NYT’, mais crítica incisiva.


O Huffington Post, que reúne blogs de nomes como Norman Mailer e todo o establishment democrata, abriu uma série de denúncias contra Judith Miller, a repórter presa por não revelar sua fonte.


A acusação central é que foi ela própria, na verdade, a fonte original dos jornalistas que divulgaram ilegalmente o nome de uma agente secreta da CIA, Valerie Plame -que é a mulher de um especialista que questionou, no próprio ‘NYT’, reportagens de Miller atestando armas de destruição em massa no Iraque.


‘Usada’


Entrou até na escalada, mas o ‘JN’ relutou de novo:


– Relator da CPI diz que nomes de possíveis assessores de Dirceu aparecem em duas autorizações de saques.


São só ‘possíveis’. Mas havia mais nas manchetes:


– Ex-mulher de Dirceu confirma que conseguiu emprego e empréstimo por intermédio de Marcos Valério.


Era um eco da manchete dos jornal ‘O Estado de Minas’ -ao qual a ex-mulher de Dirceu, em nota, respondeu dizendo ter sido ‘usada’ por Valério para tentar ‘comprometer’ o ex-ministro.


‘Torresmo’


Para o blog tucano E-Agora, ‘é em Minas que estão sendo movidos os cordéis da crise’, com as ‘reportagens mais explosivas dos últimos dias’:


– É óbvio que Alencar, Clésio, Walfrido e Aécio Neves são personagens-chaves desta crise. Eles submergiram em águas profundas, o que não significa que estejam imóveis…


Franklin Martins vai em outra direção, na Globo News:


– Uma provocação. Vocês acham que esta lavanderia do Valério, esse tipo de esquema, é produto tipicamente mineiro, como o torresmo, ou existe em outros Estados?’