Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Carlos Heitor Cony


‘Somente uma instituição com dois mil anos de história poderia esnobar a tecnologia, que, em nossos tempos, tornou-se o deus ótimo e máximo, atributos que os romanos dedicavam a Júpiter, deus dos deuses. Numa época em que a comunicação chegou a um estágio que jamais poderia ser imaginado pela humanidade, pelo menos até a segunda metade do século passado, a igreja recorre a um dos processos mais primitivos para comunicar o fato mais importante de sua caminhada através dos tempos: a eleição de um novo chefe.


A chaminé no telhado da capela Sistina lembra aquele processo dos índios que se comunicavam, de tribo em tribo, por meio da fumaça de fogueiras, fumaça que eles controlavam com panos ou esteiras de palha, criando um código que seria o ancestral do sistema usado por Morse.


Espantoso ainda é que, durante séculos, o sinal emitido pela chaminé só era visto pelos romanos que se aglomeravam na praça São Pedro. A notícia custava a chegar ao resto do mundo. Andou um pouco mais depressa com a invenção do telégrafo. Uma prova a mais de que a igreja não tem pressa nem mesmo nas questões que nada têm a ver com o dogma e a moral.


O herói da Maratona correu 42 quilômetros para dar a notícia de uma batalha. Cumpriu sua missão e morreu ainda quente da corrida. A carta de Pero Vaz Caminha demorou um tempão para dar a notícia da descoberta ou do achamento do Brasil a dom Manuel, o Venturoso, venturoso, entre outras coisas, por causa daquela notícia em si.


O atentado de 11 de Setembro foi visto ao mesmo tempo por bilhões de pessoas espalhadas pelo mundo. A rapidez da internet, a imagem imediata da TV não alteraram o sentido e o design da chaminé que recolherá a fumaça do gigantesco fogão em que será cozinhado o novo papa. Fogão decorado por Michelangelo. Fumaça efêmera, que não dará para poluir o gostoso céu de Roma.’



O Globo


‘Fumaça preta no céu do Vaticano’, copyright O Globo, 19/04/05


‘Quando a fumaça preta saiu ontem da chaminé da Capela Sistina, a multidão de cerca de 40 mil fiéis que se concentrava na Praça de São Pedro emitiu um ruído prolongado, semelhante ao que torcedores fazem num estádio de futebol quando um jogador perde um gol. A fumaça era um sinal de que os 115 cardeais reunidos para eleger o novo Papa haviam feito uma votação inicial sem chegar a um consenso. Já a reação do público era uma clara indicação da imensa expectativa com que católicos do mundo inteiro acompanharam ontem o primeiro dia do conclave.


Uma pomposa cerimônia televisionada para o mundo inteiro, pela primeira vez, marcou o início do primeiro conclave do terceiro milênio. Depois de uma missa na Basílica de São Pedro, os cardeais seguiram em procissão para a Capela Sistina, ao som da Liturgia dos Santos entoada pelo Coro do Vaticano, que tinha como solista o padre brasileiro Marcos Pavan. No interior do templo, os chamados príncipes da Igreja entoaram a prece ‘Veni Creator’ (‘Venha, Criador’) para invocar o Espírito Santo, aquele que, segundo a tradição católica, apontará a eles quem será o novo Papa.


– Se você não crê, pensa que é como política. Mas se você crê, como eu, no poder da prece, sabe que eles (os cardeais) serão iluminados para fazer a escolha certa – disse Annick Vandam, que veio de Paris acompanhar o conclave.


Um a um, os cardeais puseram a mão direita sobre um livro do Evangelho depositado no meio da capela, fazendo um juramento de segredo e fidelidade à Igreja, sob a orientação do decano, Joseph Ratzinger, que os instruíra minutos antes a não se deixar influenciar por outros. Ao fim da celebração, o arcebispo Piero Marini, mestre de cerimônias, proclamou, em latim aos presentes:


– Extra omnes (Todos fora).


Logo, todos se retiraram e a grande porta de madeira do templo foi fechada, enquanto aplausos ecoavam na praça, onde a multidão acompanhava a cerimônia por telões. Só ficaram na capela os cardeais eleitores – aqueles que têm menos de 80 anos. Naquele momento, eles se isolavam do mundo. E assim ficarão até cumprirem a tarefa de escolher o sucessor de João Paulo II. Quando o fizerem, o mundo saberá porque será branca a fumaça da chaminé.


Duas horas e meia depois, a chaminé indicou que a primeira votação não escolhera o novo Papa. De início, a fumaça produzida pela queima de votos era cinza, levando fiéis que estavam na praça a achar que fora eleito o novo Pontífice. Mas seguiram-se rolos de fumaça preta. Confusão semelhante ocorreu nos dois conclaves de 1978, o que levou o Vaticano a instalar uma nova fornalha.


Aplausos mais fortes são para o cardeal Ratzinger


Padres, freiras e fiéis saudaram cada cardeal que passava em procissão. Os papáveis foram mais aplaudidos, entre eles o hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga e o italiano Carlo Maria Martini. Mas os aplausos mais fortes foram para o alemão Ratzinger, que reagiu com um largo sorriso. Segundo vaticanistas, os cardeais iniciaram o conclave divididos entre um corrente conservadora – liderada por Ratzinger – e outra progressista, representada por Martini. Na capela, eles ficaram sentados diante de uma longa mesa diante de pratos com seus nomes, indicando que muitos não se conhecem bem. Mas o fato de já terem votado ontem mostraria uma disposição para acelerar o processo.


O Papa deverá ser eleito com maioria de dois terços dos votos (77). Os cardeais farão até quatro votações diárias, encerradas com a queima de votos. Se ao fim de três dias não houver consenso, haverá um recesso de no máximo um dia e uma conversa informal entre eles antes de ser reiniciada a votação. Se depois de cerca de 30 votações não houver resultado, o Papa será eleito com maioria simples de votos. Nenhum dos oito últimos conclaves durou mais de cinco dias.’



TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘Alvoroço danado’, copyright Folha de S. Paulo, 19/04/05


‘BBC World, CNN, Fox News, Globo News, Band News: os canais de notícias entraram todos ao vivo por volta das 15h, para mostrar a chaminé da capela Sistina:


– O mundo aguarda a fumaça branca.


Saiu fumaça preta, não muito, como destacou a BBC, que ficou em confusão, até a fumaça ganhar volume.


A Rede Globo, de sua parte, lançou cobertura da chaminé, com Fátima Bernardes surgindo também ao vivo às 15h, em figurino dourado, num cenário dourado, ao lado de um comentarista eclesiástico. E a correspondente em Roma:


– Emocionante. Um alvoroço danado na praça São Pedro. Amanhã começa de novo.


Fátima Bernardes:


– A partir das 7h, as atenções vão se voltar para a chaminé.


No ‘Los Angeles Times’, no ‘Financial Times’, na agência Associated Press, crescem relatos da ‘divisão’ na Igreja Católica da América Latina.


A agência despachou do ABC, a exemplo de diversos jornais nos últimos dias.


Falou da torcida de personagens como Djalma Bom, Vicentinho e outros por d. Cláudio Hummes, mas encerrou com um membro da diocese de Juiz de Fora, torcendo por d. Geraldo Majella Agnelo.


Na avaliação do ‘Los Angeles Times’, em texto que repercutiu na BBC Brasil:


– A América Latina tem mais de 40% dos católicos, mas até aqui os cardeais da região se mostram divididos e pouco dispostos a agir em bloco para promover um deles mesmos.


A correspondente da Globo, de todo modo, ouviu italianos e identificou, por lá, a ‘torcida’ por um papa latino-americano.


UM PAÍS COM REPUTAÇÃO


O Dateline, da rede NBC, viajou ao Rio para contar a história de Jesse James Hollywood, americano preso e deportado semanas atrás. Sobre o Brasil: – Um país com uma reputação de paraíso para fugitivos, de nazistas como Josef Mengele a Ronnie Biggs, do grande assalto ao trem pagador, que viveu décadas no Rio como celebridade local.


‘PARECIA GUERRA’


O RJTV ouviu a ‘peça-chave no inquérito da Polícia Federal para apurar a maior chacina do Rio’. Algumas passagens, da testemunha:


– Parecia uma guerra, eles passaram de porta aberta, atirando… Será que eles não pensaram nas crianças de quem tiraram a vida?… Eu sei que um dia isso vai acabar, só que eu acho que está demorando muito… Eu dei sorte, eu nasci novamente.


Para não ficar só no Rio, o SPTV também ouviu alguns moradores de prédios de classe média de São Paulo, alvo de arrastões. De duas mulheres:


– Quando eu vi os assaltantes agarrando o meu filho, que fazia aniversário ontem, achei que seria o último momento em que o via.


– Num quartinho ficaram umas 30 pessoas e ele invocou comigo. Disse que ia atirar em mim. Achei que minha vida estava acabando naquele momento.


A verdade


O PFL, para a sua propaganda em rede, ontem, tinha bandeira -contra os impostos. Mas a campanha para 2006 não abre bem quando meio programa, em horário nobre, é gasto com explicações sobre crise da saúde do Rio, por mais que se repise que é ‘A Verdade’.


Mais tempo


Em campanha pelo referendo sobre a venda de armas, Globo, Globo News e Globo Online falam em ‘semana decisiva’ para aprovar o decreto legislativo. Ou sai nesta semana ou não tem referendo neste ano.


O problema, segundo a Jovem Pan, é que Severino Cavalcanti ‘deu mais tempo à comissão de Segurança e atrapalhou a votação’. Ele, de sua parte, culpa as medidas provisórias.


Abate


A Globo chegou a dar no Bom Dia Brasil, bem como a rádio Bandeirantes, mas aos poucos a notícia do ‘abate’ -expressão da Globo- de um avião pela Polícia Federal desapareceu do noticiário, ontem.


Foi na fronteira de Brasil e Uruguai. E ecoou aqui e ali, pela América Latina.


Protagonista


Paulo Coelho segue em reportagens pelo mundo, sobre o novo livro que está saindo ‘em 83 países e 42 línguas’.


Ontem foi o ‘Guardian’, de Londres, que deu com estardalhaço que a protagonista do livro é baseada em Christina Lamb, do ‘Sunday Times’, que já foi correspondente no Brasil e entrevistou o escritor.’



INTERNET


O Globo


‘Adobe compra Macromedia por US$ 3,4 bilhões’, copyright O Globo, 19/04/05


‘A Adobe Systems Inc., fabricante dos softwares Acrobat e Photoshop, fechou a compra da Macromedia Inc. por cerca de US$ 3,4 bilhões. O negócio permitirá que a Adobe incorpore programas que exibem imagens e áudio em páginas da internet. A oferta representa um ágio de 25% em relação ao preço de mercado da Macromedia.


A aquisição da Macromedia, a maior já realizada pela Adobe, dá ao principal executivo da empresa, Bruce Chizen, um conjunto mais amplo de programas para rechaçar a provável concorrência a ser imposta pela Microsoft Corp., que poderá incluir mais recursos para documentos em sua próxima versão do software Windows.


– O negócio faz muito sentido – disse Stuart O’Gorman, co-administrador de US$ 700 milhões em ações tecnológicas, entre as quais ações da Adobe e da Macromedia, na Henderson Global Investors de Londres.


A próxima versão do Windows da Microsoft, que está sendo desenvolvido sob o codinome de Longhorn, deve ser lançado no fim de 2006. Chizen, de 49 anos, que continuará como principal executivo da empresa resultante da fusão, disse que o programa terá recursos semelhantes aos oferecidos pela Macromedia e pelo Adobe. Nos últimos cinco anos, as ações da Macromedia caíram 63%, enquanto as da Adobe valorizaram 21%. (Da Bloomberg News)’