Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Carlos Heitor Cony

‘Mulher bonita, mais que bonita: impressionante. Talvez nem fosse bonita, mas bastava olhá-la para nunca esquecê-la. O rosto projetado para frente, um tipo eslavo, silencioso, pupilas claras que olhavam o mundo sem nunca deixar de ver dentro -sua pátria era ela mesma, aquilo que hoje poderemos chamar de ‘praia’.


Foram muitos os que se apaixonaram por ela -pela mulher, não ainda pela escritora. Durante anos, seus livros ficaram amontoados nos sebos da cidade. Nos jornais e revistas, volta e meia aparecia uma resenha amável feita de estima ou de homenagem à colega -Clarice era também jornalista, creio que trabalhou em ‘A Noite’, jornal antigo que pertencia ao governo e que teve a sua fase de grande vespertino.


Até ser publicada pela turma da Editora do Autor, ela foi uma curiosa espécie de inédita. Todos sabiam que Clarice escrevia e escrevia bem, mas poucos a liam. Durante anos fez entrevistas, perfis, reportagens para a revista ‘Manchete’, onde colaboravam Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Vinicius de Moraes e outros que também integravam o elenco daquela editora que mais tarde se chamaria Sabiá.


Não foi a crítica que descobriu Clarice Lispector. Foram os leitores, principalmente leitoras, ao atingirem o nível universitário. O grande público custou a chegar, preferia então um tipo de ficção mais colorido e movimentado. O mergulho introspectivo em nossa literatura era seara de iniciados que apreciavam Cornélio Pena e tinham acesso a Katherine Mansfield.


De repente, sua obra começou a ser lida e discutida, era a preferida para teses de mestrado. Vieram em cascata as traduções e os estudos críticos, publicaram-se, no Brasil e no exterior, os primeiros ensaios acadêmicos sobre sua ficção. Nascia um fenômeno que vinha de baixo para cima, que subia do leitor para a crítica, do limbo para o olimpo editorial.


Mais ou menos pela mesma época, quando seus livros saíram do pó para o destaque das livrarias e da mídia, um acidente quase a matou. Clarice gostava de escrever em uma pequena máquina portátil, que colocava ao colo. Fumava muito, muitas de suas fotos, hoje tornadas clássicas, a mostram de cigarro na boca. Uns dizem que ela já estava deitada quando cochilou com o cigarro aceso. Saiu do incêndio com queimaduras que cirurgias reparadoras disfarçaram. O belo, o enigmático rosto de Clarice Lispector nunca mais foi o mesmo.


Morava no Leme, num apartamento recuado da rua General Ribeiro da Costa, pouco depois da ladeira onde morava Ary Barroso. Eram os dois moradores mais famosos do pedaço e talvez nunca se tenham conhecido. Clarice não era dada à badalação nem costumava freqüentar lugares obviamente corretos.


Desquitada de um diplomata, com filhos já crescidos, ela podia ter entrado em circulação no complicado universo dos ‘casos’. Não faltavam pretendentes. É possível que ela tenha se ligado a um ou a outro, mas sempre discretamente. Paixão para ela não era segundo a carne -não foi à toa que escreveu ‘Paixão Segundo G.H.’


Por sinal, esse título nasceu depois de o livro estar quase pronto. No início dos anos 60, ela me telefonou, tinha uma amiga, a embaixatriz Maria Martins, que desejava me conhecer. Pediu que Clarice me levasse a seu apartamento, no Flamengo. Apanhei-a em casa, eu tinha um Gordini cinza, era novidade na época, Clarice elogiou o carro. Apresentou-me a Maria Martins, conversamos sobre arte, leitura e um pouco sobre política, que estava fervendo naquela ocasião. Depois fui levá-la de volta ao Leme, e ela me perguntou o que eu estava escrevendo.


Não estava escrevendo nada, naquele momento. A editora Civilização Brasileira anunciava um novo livro meu, ‘Paixão Segundo Mateus’, título chupado de J.S. Bach, aliás, chupado dos evangelhos. Como sempre acontece comigo, tinha o título, mas não tinha a história. Clarice tinha a história, mas não tinha o título. Na crônica que escrevia no ‘Correio da Manhã’, sob a rubrica ‘Da Arte de Falar Mal’, não a acusei de ter roubado o título que afinal não era meu, era de Bach e do Novo Testamento. Clarice já se instalara na prateleira mais nobre de nossa literatura, ‘A Maçã no Escuro’ estourara. Ela chegou a pensar em só se dedicar às letras, mas o mercado era pequeno, teve de voltar ao jornalismo, a fazer entrevistas estranhas. Lembro de duas: com o ex-presidente Jânio Quadros e com a primeira-dama de então, dona Yolanda Costa e Silva. Impressionante a sua capacidade de dar conta do recado profissional, traçar o perfil de personalidades que nada tinham a ver com Clarice Lispector, com seu mundo, sua alma.


A diferença é que ela vestia um escafandro para viajar em universo alheio. Sua arte, sua beleza, só vinham quando mergulhava nua em si mesma. Branca, enorme peixe fosforescente, iluminava com surpreendentes centelhas o mundo submerso no qual vivia e do qual nos trazia notícia.


PS – Este artigo foi publicado numa revista semanal que não mais existe. Grupos de estudantes de diversos Estados, que trabalham sobre a vida e obra de Clarice, me pedem que o reproduza.’




AMÉRICA
Tribuna da Imprensa


‘Novela América estimula emigração ilegal, diz relator’, copyright Tribuna da Imprensa, 23/9/2005


Tem gente querendo ver Jota, o bem-sucedido chofer de Miami, a pé. O personagem da novela ‘América’, da Rede Globo, interpretado pelo ator Roberto Bomfim, é o exemplo de brasileiro que foi trabalhar nos Estados Unidos e se deu bem.


Quem torce por um final triste no folhetim é o deputado federal Paulo Magno (PT-MG), relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso sobre a Emigração Ilegal. ‘Já há dados concretos de que a novela tem estimulado e muito a emigração ilegal. A depender do final da novela, tememos que o incentivo ao tráfico internacional de emigrantes seja ainda maior.’


O deputado participou quarta-feira de um chat no site da Agência Câmara no qual discutiu com internautas a emigração ilegal, principalmente, para os Estados Unidos. Criticou a novela, defendeu o aumento de 6 mil para 25 mil dos vistos de trabalho concedidos todo ano pelo governo americano aos brasileiros e mais rigor na punição de agenciadores que lucram com os emigrantes. O deputado afirmou que a novela ‘atemoriza a travessia pelo México’, mas incentiva ‘em função do consumismo apresentado’.


Magno contou que foram apresentados na CPI requerimentos para uma audiência pública no Congresso com a participação de Glória Perez, autora da novela, e da atriz Deborah Secco, que faz a personagem Sol. Os deputados querem discutir e avaliar com elas o impacto da novela na emigração. Ele só não explicou por que a atriz foi escolhida entre tantos atores do elenco de ‘América’. ‘A partir da discussão no Congresso, esperamos sensibilizar os responsáveis pela novela para os efeitos sociais da trama’, disse Magno, um dos sete deputados petistas denunciados pelas CPIs dos Correios e do Mensalão.


Ele é acusado de receber R$ 326 mil do esquema do publicitário Marcos Valério. Disse que não sabia a origem da dinheiro, usado para pagar dívidas de campanha. Glória Perez disse achar que o deputado deveria chamar para depor pessoas que tentaram a travessia da fronteira do México com os EUA. Ela afirmou que não recebeu convite do deputado ou da CPI. ‘Nem acho que vou receber parabéns pelo fato de a novela ‘América’ ter trazido esse drama para a primeira página dos jornais quando assunto tão grave era completamente ignorado por todos.’ A Rede Globo respondeu em nota que ‘responsabilizar a novela ‘América’ e/ou a tv Globo por um provável aumento da imigração ilegal nos EUA seria como culpar a janela pela paisagem’. Diz ainda a emissora que ‘a função de uma novela não é estimular nem desestimular a realidade, mas refletir sobre ela. A abordagem que a autora Gloria Perez vem dando ao tema já foi elogiada até mesmo pelo embaixador americano’.


O deputado afirmou ainda que a CPI pedirá aos Estados Unidos o aumento do número de vistos legais de trabalho dados por ano aos brasileiros. O Brasil recebe 6 mil e as Filipinas, 45 mil. Disse ainda que proporá penas mais severas para agências de turismo e agenciadores de emigrantes ilegais. O trabalho da comissão termina no fim do ano. ‘Já há evidências muito fortes que nos levarão a tomar providências contra os envolvidos.’’


Marcelo Godoy


‘Relator de CPI não quer final feliz para novela ‘América’’, copyright O Estado de S. Paulo, 23/9/05


‘Tem gente querendo ver Jota, o bem-sucedido chofer de Miami, a pé. O personagem da novela América, da Rede Globo, interpretado pelo ator Roberto Bomfim, é o exemplo de brasileiro que foi trabalhar nos Estados Unidos e se deu bem. Quem torce por um final triste no melodrama é o deputado federal Paulo Magno (PT-MG), relator da Comissão Parlamentar de Inquérito do Congresso sobre a Emigração Ilegal. ‘Já há dados concretos de que a novela tem estimulado e muito a emigração ilegal. A depender do final da novela, tememos que o incentivo ao tráfico internacional de emigrantes seja ainda maior.’


O deputado participou anteontem de um chat no site da Agência Câmara no qual discutiu com internautas a emigração ilegal, principalmente, para os Estados Unidos. Criticou a novela, defendeu o aumento de 6 mil para 25 mil dos vistos de trabalho concedidos todo ano pelo governo americano aos brasileiros e mais rigor na punição de agenciadores que lucram com os emigrantes.


O deputado afirmou que a novela ‘atemoriza a travessia pelo México’, mas incentiva ‘em função do consumismo apresentado’. Magno contou que foram apresentados na CPI requerimentos para uma audiência pública no Congresso com a participação de Glória Perez, autora da novela, e da atriz Deborah Secco, que faz a personagem Sol. Os deputados querem discutir e avaliar com elas o impacto da novela na emigração. Ele só não explicou por que a atriz foi escolhida entre tantos atores do elenco de América.


‘A partir da discussão no Congresso, esperamos sensibilizar os responsáveis pela novela para os efeitos sociais da trama’, disse Magno, um dos sete deputados petistas denunciados pelas CPIs dos Correios e do Mensalão. Ele é acusado de receber R$ 326 mil do esquema do publicitário Marcos Valério. Disse que não sabia a origem da dinheiro, usado para pagar dívidas de campanha.


Ao Estado, Glória Perez disse achar que o deputado deveria chamar para depor pessoas que tentaram a travessia da fronteira do México com os EUA. Ela afirmou que não recebeu convite do deputado ou da CPI. ‘Nem acho que vou receber parabéns pelo fato de a novela América ter trazido esse drama para a primeira página dos jornais quando assunto tão grave era completamente ignorado por todos.’


A Rede Globo respondeu em nota que ‘responsabilizar a novela América e/ou a TV Globo por um provável aumento da imigração ilegal nos EUA seria como culpar a janela pela paisagem’. Diz ainda a emissora que ‘a função de uma novela não é estimular nem desestimular a realidade, mas refletir sobre ela. A abordagem que a autora Gloria Perez vem dando ao tema já foi elogiada até mesmo pelo embaixador americano’.


O deputado afirmou ainda que a CPI pedirá aos Estados Unidos o aumento do número de vistos legais de trabalho dados por ano aos brasileiros. O Brasil recebe 6 mil e as Filipinas, 45 mil. Disse ainda que proporá penas mais severas para agências de turismo e agenciadores de emigrantes ilegais. O trabalho da comissão termina no fim do ano. ‘Já há evidências muito fortes que nos levarão a tomar providências contra os envolvidos.’ Colaborou: Cristina Padiglione’


TELEJORNAL DO SBT
Taíssa Stivanin


‘Regional será lançado em 60 dias’, copyright O Estado de S. Paulo, 23/9/05


‘O SBT está na fase final da pré-produção de seu telejornal que será exibido na hora do almoço, entre 12h30 e 13h30, durante meia hora. O jornalístico deve estrear em dois meses, segundo o diretor de jornalismo Luiz Gonzaga Mineiro.


A maioria dos profissionais já foi contratada. Mineiro chegou a cogitar Márcio Canuto, do SP-TV, e José Roberto Burnier, do Bom Dia Brasil, ambos da Globo. Os jornalistas, entretanto, já haviam renegociado seus contratos com a Globo.


A reestruturação do jornalismo no SBT mexeu com o mercado. Repórteres da Globo no interior do Brasil têm se debandado para o SBT, com salários bem maiores. ‘Isso acontece porque somos um jornal do Brasil, não de Brasília. Valorizamos as praças’, fala Mineiro.


A idéia do diretor é elaborar um telejornal de serviços, metropolitano, com cobertura detalhada dos principais acontecimentos de cada região de São Paulo. ‘Por mim, colocava um apresentador dentro de um trailer para comandar o jornal’, diz. ‘Quero que seja um telejornal de rua’, explica o diretor. Ainda sem nome, a atração tem sido cobrada pelo próprio Silvio Santos, preocupado em consolidar o jornalismo na programação.


AUDIÊNCIA


O SBT Brasil atingiu até a quarta-feira média de 9 pontos e picos de 11 com a mudança de horário – o jornal agora é exibido das 19h45 às 20h30. O último bloco, que compete com o Jornal Nacional, é o que tem demonstrado melhores índices. Na terça-feira, o jornal de Ana Paula Padrão chegou a dar picos de 12 pontos.’


PRIMAVERA DOS LIVROS
O Globo


‘Primavera dos Livros começa hoje no Jockey’, copyright O Globo, 23/9/05


‘Abre hoje para o público a quinta edição da Primavera dos Livros, no Jockey Club da Gávea. Até domingo, 90 pequenas e médias editoras que integram a Liga Brasileira de Editoras (Libre) oferecem obras de seu catálogo com descontos de 20% a 40%. Além disso, a festa, que tem o escritor João Ubaldo Ribeiro como patrono, conta com sortida programação cultural, em debates, atividades para crianças e sessões de autógrafo. Às 15h de hoje, a primeira mesa de debates do dia terá a participação dos poetas Ferreira Gullar, o patrono do ano passado, e Marina Colasanti, que falarão sobre ‘Quixote para jovens’, a respeito das versões da obra-prima de Cervantes que este ano tem seus 400 anos comemorados em todo o mundo.


Também hoje, às 19h, a Primavera receberá o cubano Tirso W. Sáenz, que falará sobre seu livro ‘O ministro Che Guevara’ (editora Garamond). E à noite, às 20h30m, mesa-redonda reunindo Maria Carmem Barbosa, Geraldinho Carneiro e Rodrigo Lacerda, com mediação de Edney Silvestre, discutirá o desafio de adaptar a obra de João Ubaldo, seja para cinema, TV ou teatro. Amanhã à tarde, o escritor, que lança na festa ‘Obra seleta’, pela Nova Aguilar, conversará com o público às 17h. No livro, há romances, coletânea de contos, crônicas, além de vasta fortuna crítica.


A Primavera poderá ser visitada das 10h às 22h. No domingo, a festa também ganha ares musicais, com a participação de Chico César, que às 16h lançará o livro de cordéis poéticos ‘Cantáteis – Cantos elegíacos da amizade’ (Garamond) e de Gabriel, O Pensador, que às 18h vai autografar ‘Um garoto chamado Roberto’ (Cosac), para as crianças.


Moacyr Luz lança livro com histórias de bar


O sambista Moacyr Luz também lança livro no evento: ‘Manual de sobrevivência nos butiquins mais vagabundos’ (Senac Rio). Ilustrado por Jaguar, o livro de Luz reúne 25 histórias ambientadas no ambiente dos sagrados pés-sujos. O sambista participa da mesa de debates Samba para Ler, às 18h de domingo, com a participação de Nei Lopes, Luiz Fernando Vianna e Hugo Sukman e mediação de Rachel Valença.


O espaço para as crianças tem como tema o mar. Ao longo dos três dias, haverá a participação de contadores de histórias, jogos e oficinas para a confecção de brinquedos. O ingresso na Primavera custa R$ 2 e o estacionamento, R$ 5 (preço fixo). Mais informações podem ser obtidas no site www.primaveradoslivros.com.br.’