‘A imprensa brasileira está desperdiçando a principal pauta ambiental dos últimos anos: a adoção, de fato (e de direito questionável) das commodities agrícolas transgênicas, principalmente a soja, no Brasil. Embalada pelo discurso do apoio irrestrito e acrítico à agricultura de exportação para gerar dólares, que desde Fernando Henrique Cardoso é divulgada pelo governo, os jornalistas não têm questionado a falta de estudos de impacto ambiental na adoção dos organismos geneticamente modificados (OGMs) para atendimento ao mercado externo. Com isso, na prática, serve de (mais ou menos) inocente (muito) útil ao lobby pró-transgênicos, que opera da mesma forma em todos os países-alvo dessa tecnologia patenteada.
O argumento do lobby é sempre o mesmo: ‘há anos comida transgênica é consumida nos Estados Unidos, sem que um caso sequer de malefício à saúde dos consumidores e de impacto negativo sobre o meio ambiente tenha sido registrado’. Esse é um argumento. Que, entretanto, não tem da imprensa brasileira a devida contextualização, o que colocaria em pauta outros questionamentos.
Por exemplo: posso estar enganado, mas não lembro de um só meio de informação no Brasil ter dado destaque ao fato de que a legislação dos EUA não obriga a empresa vendedora de transgênicos colocar no rótulo da comida modificada geneticamente a informação de que aquele produto contém transgênicos. Assim, se alguém tiver uma crise de alergia e morrer um segundo após ter ingerido tal comida, os legistas estarão impedidos de atribuir a causa mortis à ingestão do produto modificado geneticamente, porque os peritos simplesmente não saberiam que o consumidor ingeriu um organismo geneticamente modificado.
Cai, portanto, a primeira parte do argumento e surge automaticamente a pergunta a ser feita pelos jornalistas: por que não informar o consumidor, no rótulo da embalagem que ele compra nos mercados, que aquele produto contém transgênicos?
Também não se pode atribuir qualquer problema ambiental à disseminação inesperada de OGMs na natureza, porque a Agência de Proteção Ambiental dos EUA, a EPA, mostrada como parâmetro de eficiência mundo afora, nunca requereu dos fabricantes de transgênicos estudos de impacto ambiental. A EPA, quando liberou para consumo comercial o primeiro transgênico há cerca de 10 anos, considerou-o ‘significativamente semelhante’ a outros produtos anteriormente licenciados pela própria agência.
E, quando esses dois questionamentos não forem o bastante para alertar os jornalistas, é interessante ouvir a voz da experiência. Ao argumento de que há ausência de provas de malefícios proporcionados pelos transgênicos, Washington Novaes, que ao lado de Lúcio Flávio Pinto é o ícone do jornalismo ambiental no Brasil, costuma responder: ‘ausência de prova não significa prova de ausência’.
E por que não duvidar de outra assertiva do lobby, a de que transgênicos consomem menos agrotóxicos, o que lhes garantiria um perfil mais ambientalmente amigável? Afinal, os maiores fabricantes de transgênicos são também os maiores fabricantes de agrotóxicos.
Até aqui observei apenas a perspectiva ambiental da cobertura jornalística sobre as commodities agrícolas transgênicas no Brasil e não tratei de vários outros ângulos sob os quais se poderia olhar a polêmica.. Não abordei a questão das incertezas científica, agronômica e econômica dos transgênicos. Isso, afinal, é tema para outro(s) artigo(s).
Não sou, entretanto, de todo pessimista quanto ao desempenho da imprensa na cobertura desse assunto tão complexo e que envolve tantos interesses (para terem a idéia, a posição do Brasil, se aceita em definitivo as commodities transgênicas, vai em boa medida determinar a viabilidade econômica de várias empresas em nível internacional). Até hoje, os jornais, principalmente a Folha de São Paulo, já produziu algumas matérias de denúncia de como o lobby tem operado nos governos FHC e Lula.
Também há pelo menos duas excelentes teses de mestrado que tratam da cobertura da imprensa sobre o assunto. A primeira, ‘Segurança e risco: desinformações científicas no noticiário sobre alimentos transgênicos’, foi defendida em 2003 na ECA da USP pelo jornalista Francisco Belda, hoje professor da PUC de Campinas, do Centro Universitário de Araraquara (UNIARA) e das Faculdades Hoyler (Hortolândia). A íntegra está na revista digital Comunicação em Agriibussiness e Meio Ambiente, editada pelo professor da USP e da UMESP Wilson Bueno e pode ser encontrada aqui.
A segunda tese foi defendida em 2004 na Escola de Comunicação da UFRJ pelo jornalista Claudio Cordovil, hoje doutorando daquele mesmo centro científico. A tese de Cordovil ainda não está no ar, mas posso enviar aos interessados, em arquivo pdf, uma excelente matéria que o autor escreveu recentemente para a revista Insightnet com os dados de sua tese, e que servem como uma espécie de resumo executivo dessa dissertação de mestrado intitulada ‘Transgênicos, mídia impressa e divulgação científica: Conflitos entre a incerteza e o fato’.
******
O Núcleo Paulista de Jornalismo Ambiental vai realizar neste sábado, dia 11 de dezembro, o1º Fórum Paulista de Jornalismo Ambiental, no Sesc, reunindo alguns dos melhores jornalistas que cobrem meio ambiente em São Paulo. Mais informações com Adalberto Wodianer Marcondes, diretor das Agências Envolverde e Webjornal.net, no 011- 30341009.’
TODA MÍDIA
‘Dos Estados’, Editorial, copyright Folha de S. Paulo, 13/12/04
‘Foi um dia em que o Santos venceu ‘e só depende de si para ser campeão’, no destaque do UOL. E em que ‘Daiane dos Santos é ouro!’, na exclamação da Globo News.
Mas para a ‘corte’ e para quem vive dela, o domingo foi outro, bem mais modorrento, embora também com torcidas e viradas jurídicas. Novas velhas caras fizeram a diferença, na convenção do PMDB, ontem em Brasília. No comentário da Globo News:
– Desde as eleições diretas, em 89, o PMDB esteve com uma parcela no governo. A diferença é que agora a parcela contra o governo está crescendo e parece majoritária.
São personagens que, no PMDB, fazem lembrar tempos anteriores a 89. Ontem, todos cercavam nas imagens o atual presidente da legenda, Michel Temer, que foi ‘aplaudido’ e até ‘carregado’.
Estavam lá Orestes Quércia, Jarbas Vasconcelos, Roberto Requião, Germano Rigotto, nas cenas da convenção nos canais e sites. Requião:
– É o PMDB das bases, dos Estados.
A exemplo do PFL, que se mantém na oposição há dois anos, a duras penas, trata-se de um PMDB que pode, vai saber, mudar os últimos 15 anos de sua própria história.
Mas a legenda vai precisar de tempo para ser reconhecida além de suas alas ‘governista’ e ‘tucana’ -que também deram as caras, ontem.
O próprio Temer, que teria um indicado seu nos Correios, apareceu no Globo Online para garantir que o PMDB seguirá votando com o governo Lula, ‘desde que em favor do país’ ou algo assim.
Nas palavras do editor de América Latina do ‘Financial Times’, ontem:
– Na maior parte dos países, a perda de aliado no Congresso, por governo minoritário, seria uma derrota bastante grande. Não no Brasil.
O argumento é aquele: o PMDB é rachado entre caciques estaduais e congressistas e não tem ‘ideologia coerente’.
Operação Dirceu
No fim de semana em que foi capa de duas revistas, o ministro José Dirceu foi também o arauto da boa nova sobre o novo salário mínimo, na primeira manchete do Jornal Nacional:
– Dirceu disse que o aumento será acima da inflação.
O mesmo Dirceu, segundo o blog de Ricardo Noblat, festejou ontem a derrota da articulação governista no PMDB.
Aguarde!
O ‘repórter’, nas imagens do programa Pânico na TV, ontem, tentou convencer Marta Suplicy a ‘calçar galochas da enchente’ e nada. Apelou:
– Eu te amo, Marta.
Mas a prefeita saiu sem nada falar. E o programa se vingou com uma ameaça:
– Estaria a Marta almejando calçar sandálias da humildade? Aguarde!
Rohter 1
Dias atrás, uma reportagem do correspondente Larry Rohter no ‘New York Times’ anunciou que o Brasil, entre outros, deu milhões ao ex-ditador chileno Augusto Pinochet. Na sexta, um ‘erramos’ no jornal disse que não era bem assim.
E ontem outra reportagem de Rohter, quatro vezes maior, se esforçava em dar as finanças de Pinochet de forma correta.
Rohter 2
Também ontem foi publicada outra longa reportagem no ‘NYT’, de Rohter, mas agora inesperadamente simpática ao Brasil e à América do Sul, que procuram ‘encher a mesa do mundo’. É a história conhecida, do Centro-Oeste.
O correspondente, no site do jornal, faz até um comentário de própria voz, em multimídia, com imagens ao fundo.’
***
‘Sozinha’, copyright Folha de S. Paulo, 10/12/04
‘No relato do SPTV, ‘Marta chegou sozinha, por volta das 6h, e se emocionou’. Quase chorou, indicou o telejornal, que passou a listar os motivos.
– Durante o tempo em que ela ficou fora da cidade, São Paulo enfrentou problemas graves por causa das chuvas.
Mais detalhadamente, sobre imagens de arquivo:
– Em sua ausência, a cidade enfrentou temporais e enchentes. No recém-inaugurado túnel da avenida Rebouças, carros ficaram submersos. Na 9 de Julho, uma cratera rompeu o asfalto.
E mais, enquanto Marta ‘esteve em Paris e Milão’:
– Instabilidade no tempo e nas finanças. Durante a viagem, uma crise ficou evidente: falta dinheiro para serviços essenciais.
Um servente de limpeza, sem receber, disse que pediu ‘carona ao motorista de ônibus para vir ao trabalho’. E uma servente deu o quadro mais dramático:
– Estou sem receber, aluguel atrasado, a minha filha de seis meses só tem leite até hoje.
E Marta:
– Críticas sempre existirão. Não vejo nada, no que aconteceu, que poderia ser diferente com a minha presença.
O QUARTETO
Enquanto ‘Le Monde’, ‘Financial Times’, ‘El País’ e outros se estendiam sobre a Comunidade Sul-Americana, seus ‘sonhos’ e problemas, a ‘Economist’ foi curta e irônica:
– O ar de Cusco dá vertigens. Líderes anunciaram lá a criação de uma ‘Comunidade Sul-Americana de Nações’.
Outro texto, maior e com menos ironia, se voltou para o encontro mais concreto do Mercosul, na semana que vem, em Ouro Preto. Segundo a revista, ‘por um lado, as coisas nunca foram melhores para o incipiente mercado comum’ -com crescimento das quatro economias etc. Por outro, ‘o estranho quarteto’ não se entende, sobretudo Brasil, Argentina e os seus respectivos setores empresarias.
Para a revista, o grupo sairá de Ouro Preto como entrou, ao mesmo tempo defendendo e detonando o Mercosul.
O QUE O BRASIL TEM
Ilustrado por foto da Nasa, o ‘USA Today’ deu que imagens de satélite da agência ‘poderão ‘olhar’ a produção cítrica do Brasil, o maior concorrente da Flórida’. Ouvido, um funcionário federal ‘relutou’ em falar de espionagem:
– Nós não gostamos da palavra.
Mas um produtor de laranjas da Flórida foi direto:
– Todo mundo sempre quis saber o que o Brasil tem.
Os mais
Sites diversos da Índia e da América Latina destacavam ontem um levantamento feito pela entidade Transparência Internacional, com a visão dos cidadãos de 64 países, sobre várias instituições.
Na relação dos ‘políticos mais corruptos’, o Equador surge na ponta (4,9 pontos), seguido de Índia, Argentina e Peru (4,6) e de Brasil, México, Bolívia e Costa Rica (4,5).
‘Equação’
Um dia depois da reunião da Executiva do PMDB, ontem os governistas espalhavam, pelos comentaristas tantas vezes simpáticos da Globo News, que o encontro rendeu ‘mais votos ao governo’.
– Nem Golbery montaria equação tão perfeita. Permitiu avançar nas votações… Com apoio dos parlamentares do PMDB, o governo limpou a pauta da Câmara…
Dias depois
A notícia tem uma semana, mas o governo soltou de novo porque, segundo a Globo News, ela sumiu em meio aos dados do crescimento.
E ontem foi virar manchete nos jornais da Record, da Band, nos sites:
– A carga tributária tem primeira queda em oito anos.
‘Parabéns’
Questionada pelos preços baixos no leilão de energia, a ministra Dilma Roussef obteve um apoio inusitado ontem, do ex-ministro Bresser-Pereira. Dele, em seu site:
– A ministra implantou um sistema muito mais racional, que permite a convivência de energia velha e nova a preços diferentes. Parabéns.
De quebra, atacou o sistema anterior, dos ‘ultraliberais’.’
***
‘Custos maiores’, copyright Folha de S. Paulo, 9/12/04
‘Do líder peemedebista Renan Calheiros, cercado ontem nos canais de notícias e telejornais, sobre a reunião da executiva do partido:
– Isso é uma brincadeira.
Do presidente peemedebista, Michel Temer, a seguir:
– Renan fez uma brincadeira.
Seja de quem for, o resultado da ‘brincadeira’ foi derrota para os governistas do PMDB e para o governo. Do comentarista Franklin Martins, na CBN:
– Os governistas é que pediram a reunião, dizendo que tinham votos para adiar a convenção. Não conseguiram. Foi empate, mas no caso o empate, para eles, é derrota.
E não só para eles:
– Está claro também que a articulação política do governo está patinando nesta história.
Cristiana Lôbo concordou, na Globo News, apontando ‘derrota para o Palácio do Planalto’. Fernando Rodrigues também, no UOL, falando em ‘derrota política do governo’.
E o âncora Boris Casoy, no Jornal da Record:
– O governo Lula sofreu um enorme revés.
Só o Jornal Nacional viu diferente, evitando falar em ‘derrota’. Das manchetes:
– A divisão no PMDB se agrava entre os que apóiam e os que combatem o governo.
Na reportagem, relatou que ‘houve empate’ e Temer, então, votou duas vezes.
Qual é o efeito, daqui para a frente? Foi a pergunta que se fez Martins, na CBN, para responder que a convenção deve aprovar a saída do governo:
– E aí, o que acontece? A maioria da bancada vai parar de votar com o governo? É muito pouco provável.
Tereza Cruvinel, da Globo News, ecoou:
– O que vai acontecer? As bancadas não vão obedecer, os ministros vão continuar ministros e o PMDB, rachado. Parte votando com o governo, parte votando com a oposição.
Já ontem à noite, segundo o JN, ‘os líderes na Câmara e no Senado divulgaram nota mostrando que não vão respeitar qualquer decisão que seja tomada pela convenção’.
Casoy concordou na Record que, ‘como há anos, os governistas continuarão apoiando o governo e os outros continuarão na oposição’. Porém:
– Se o rompimento se consumar, os custos para o governo, do toma-lá-dá-cá, serão muito maiores no Congresso.
ESVAZIADO
Em destaque na Argentina, Lula, Duhalde e o ‘otimismo’
Até a Globo saiu dizendo que ‘apesar de começar nas alturas, em Cusco, a Comunidade Sul-Americana ainda não decolou’. O encontro ‘esvaziado’ pelo presidente argentino, Néstor Kirchner, inicia ‘um caminho difícil’.
Nas agências, o mesmo tom, com a Reuters destacando que Argentina e Brasil se esforçavam ontem em ‘negar uma crise no Mercosul’. No jornal chileno ‘La Tercera’, o peruano Alvaro Vargas Llosa dizia que ‘Kirchner irrita o Brasil e vive o pior momento na relação com Lula’:
– Desapareceu a magia daqueles tempos em que Lula apoiou a candidatura de Kirchner e Kirchner, já eleito, privilegiou o vizinho em sua primeira visita ao exterior.
Curiosamente, era no lado argentino que se notava um esforço em dar apoio à Comunidade. O ‘La Nación’, no site, destacou o ‘otimismo’ do ex-presidente Eduardo Duhalde. E o ‘Clarín’ deu artigo do chanceler argentino Rafael Bielsa, com louvores à Comunidade, ao ‘ponto de inflexão histórico’, ao ‘sonho emancipador de gigantes como Bolívar, San Martín, O’Higgins, Sucre’ -até dos incas e seu ‘primeiro projeto de união’.
Da parte de Kirchner, nada.
Modelo?
O ‘New York Times’ adiantou pesquisa da ONU que mostra, ‘pela primeira vez em nove anos’, que a fome cresceu no mundo. Mas sobraram elogios à América Latina e ao Brasil, pelas ‘histórias de sucesso’. Segundo o ‘NYT’, ‘o Fome Zero foi destacado como um modelo’.
Lei e ordem
O ‘Guardian’ trouxe longa reportagem sobre a BR-163, projeto que vai ligar Cuiabá e Santarém, na Amazônia. Para o jornal, citando grilagem e desmatamento, o problema não é tanto o impacto ambiental da pavimentação e sim ‘se o governo conseguirá impor a lei e a ordem’.
AMEAÇA VERMELHA
Como adiantou o ‘NYT’ no fim de semana, uma empresa chinesa comprou a produção de PCs da IBM -e, pela repercussão ontem, assustou. No ‘Financial Times’, a ilustração (acima) trazia a bandeira da China abraçando o mundo. O ‘Los Angeles Times’ apontou a ‘importância simbólica’ para o país, que sai dos rádios para ‘produtos de alto valor’. O ‘Washington Post’ viu ‘sinal dramático da transformação’. O ‘NYT’ falou da ‘ambição’. E o ‘Wall Street Journal’ disse que a chinesa Lenovo é agora a terceira empresa do setor no mundo. E quer mais.’
***
‘Emprego ou fome’, copyright Folha de S. Paulo, 8/12/04
‘Os telejornais e demais meios ecoaram o dia todo os números do Ibope anunciados pela Confederação Nacional da Indústria.
Na manchete do Jornal Nacional, ‘aumento da aprovação popular do governo Lula’.
Na CBN e no UOL, ‘aprovação do governo sobe de 38% para 41%’. No site da Agência Estado, ‘confiança em Lula sobe de 58% para 63%’.
Aqui e ali, como no JN e no site da Bloomberg, pipocou a avaliação de que ‘a principal razão para a melhora na popularidade foi aprovação à atuação no combate ao desemprego’.
Mas não para o site da própria CNI -que noticiou ter sido ‘o combate à fome e à pobreza o destaque no desempenho positivo do governo’.
É a fome de que tanto se ocupa o marketing de Lula.
Emprego ou fome, é no Nordeste que estão, dizia a manchete da Agência Nordeste, ‘as melhores taxas’:
– 77% dos nordestinos aprovam o governo Lula.
O JN nem citou, mas o Jornal da Band chegou a dar manchete para as primeiras impressões da eleição de 2006:
– Números da pesquisa CNI/Ibope mostram que o presidente seria reeleito.
‘Lula venceria’, destacou também a Folha Online, enquanto a Agência Estado sublinhava que o tucano ‘José Serra é o mais forte para enfrentar Lula em 2006’. E não o governador Geraldo Alckmin.
AQUÉM DO ESPERADO
O ‘megaleilão’ de energia, realizado ontem, foi antecipado pelo ‘Financial Times’ como ‘um teste-chave para o modelo novo e mais intervencionista adotado [para o setor] pelo governo de esquerda do presidente Lula’.
Também a ‘Economist’ tratou assim, dizendo que, ‘se for bem, vai sinalizar a recuperação do Brasil depois de meia década em que o racionamento de energia afetou o crescimento’.
Nas avaliações de bate-pronto na web, a Folha Online disse que ‘o desempenho foi abaixo do esperado’ e o Globo Online comentou que os preços foram ‘aquém do esperado’. Também a agência Bloomberg:
– O leilão empurrou para baixo os preços, despertando preocupação nos investidores.
Revogado
Atropelado por ordem da Justiça um dia antes, o governo espalhava ontem que Lula iria ‘revogar o decreto de FHC nas próximas horas’. O anúncio ‘oficial’ chegou para o JN, à noite:
– A Casa Civil da Presidência da República informou que será revogado o decreto assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que permitia o sigilo de documentos ultra-secretos por 50 anos. A decisão já foi tomada pelo presidente Lula.
Fechar contas
Num debate em que ainda não se viu a oposição, os governistas seguiam especulando, ontem nos telejornais e canais de notícias, com as apostas para o salário mínimo do ano que vem.
Luiz Marinho, da CUT, e o deputado Paulo Paim voltaram às câmeras, depois de conversas com o presidente, dizendo que Lula agora ‘tem interesse num reajuste bem melhor’. Mas aí entra o ministro da Fazenda:
– É legítimo que os trabalhadores, num momento de crescimento, façam demandas. Agora, o meu papel é fechar contas.
Masmorras
O JN destacou, bem como Globo News e Globo Online, que o Rio de Janeiro ‘passou’ São Paulo no ranking dos Estados com maior renda per capita.
Mas a boa notícia para o Rio, com dados de 2002, veio acompanhada de outra, também em destaque nas várias Globos:
– A organização Human Rights Watch divulgou relatório que revela a situação de centros de detenção de menores no Rio. O documento compara as unidades a masmorras, as prisões subterrâneas da Idade Média.
O pior
E havia outro levantamento internacional negativo, não ao Rio, mas ao Brasil inteiro.
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico divulgou o resultado de testes realizados com jovens de 41 países. Em matemática, ‘o país em pior posição é o Brasil’, escreveu o londrino ‘Guardian’ -o que ecoou no JN, em manchete em tom mais contido:
– Uma pesquisa internacional mostra falhas na educação dos adolescentes brasileiros.
A CNN APELA AO MUNDO
A CNN não cede. Em entrevista ao ‘Independent’, o presidente do canal pioneiro de notícias insistiu que sua concorrente conservadora -e agora líder nos EUA- Fox News tem ‘fãs’ e não audiência. Disse que a CNN vai continuar a ‘irritar’ alguns americanos. E destacou:
– O alcance internacional é o nosso diferencial.’