‘A Globo fará um debate entre José Serra (PSBD) e Marta Suplicy (PT), candidatos à Prefeitura de São Paulo, no dia 29, após a novela Senhora do Destino. é o último prazo legal para campanha na TV. De acordo com Luiz Cláudio Latgé, diretor de Jornalismo em São Paulo, o debate terá os mesmos moldes do encontro promovido pela Globo entre Lula e Serra na véspera do 2.º turno presidencial. Isso inclui o cenário, em que os candidatos podem circular à vontade. O mediador será o jornalista Chico Pinheiro.
‘O debate está sendo tratado como se fosse de rede’ afirmou Latgé ao Estado. O diretor ainda espera confirmação dos partidos em relação a alguns detalhes.
Antes do debate, os candidatos participarão de duas rodadas de entrevistas – com 10 minutos cada. No dia 15, Marta estará no SPTV 1.ª edição, e no dia 25, no SPTV 2.ª edição. Serra estará dia 18 no SPTV 1.ª edição, e dia 22, na 2.ª edição.’
Gaudêncio Torquato
‘O Brasil que sai das urnas’, copyright O Estado de S. Paulo, 7/10/04
‘O exercício da democracia política atinge o clímax nas campanhas eleitorais. Esta é uma hipótese consagrada pela ciência política, cujo fundamento é o de que nesse momento o jogo eleitoral propicia aos cidadãos a possibilidade de escolher livremente os representantes, depois de ter acesso à sua livre expressão e de ouvir o compromisso público de defesa da sociedade. Se esse pressuposto fundamental da democracia é questionado até em sistemas democráticos consolidados, em função das máquinas de persuasão que ajustam perfis ao sabor das circunstâncias, desenhando os campos da informação eleitoral com as tintas do marketing, imagine-se o que acontece num país de frágeis instituições partidárias como o Brasil.
O que se viu neste país de presidencialismo imperial – capaz de determinar e monitorar a pauta do Congresso Nacional – foi o braço do poder ajudando candidaturas, a tecnologia do marketing a serviço de uma falsa pedagogia da ‘fazeção’, a cooptação de línguas de aluguel, a compra de partidos, o erro de institutos de pesquisa, a feição frankensteiniana de siglas, os últimos sussurros de perfis decadentes, a ‘despaulistanização’ do PT e, mais uma vez, a sabedoria do povo ao promover o equilíbrio do poder na geografia nacional.
O Brasil que sai das urnas é melhor que a ficção cosmetizada pela máquina de enganação das massas. A começar pelo equilíbrio entre os grandes partidos, medido por taxas que oscilam entre 12% e 17% dos votos, distribuídos entre os quatro principais partidos. O PT, mesmo ganhando maior quantidade de votos (mais de 16 milhões), fica longe do ambicionado projeto hegemônico, alcançando apenas 400 prefeituras. Sua máquina de marketing, movida por montanhas de dinheiro, graças à inteligente equação ‘mais petistas governando, mais dinheiro pingando’, repetiu velhos discursos sem considerar culturas locais. Na maior campanha municipal, em São Paulo, errou ao abusar da pedagogia da ‘fazeção’, pela qual a candidata Marta ‘faz melhor’, repetindo surrado slogan de seu criador. Lágrimas escorrendo em faces enrugadas de velhinhas, músicas de autores consagrados e recriadas com letras marotas (caso de Carinhoso, a linda canção de Pixinguinha-João de Barro) e ladainhas de homenagem soaram como emoções artificiais. O eleitor está vacinado contra essa antiga forma de enganar.
O PT do ABC paulista abandonou o azedume. Adoçado por estilos mais humanizados, como o do prefeito de Belo Horizonte (Fernando Pimentel), sintonizado com falas mansas como a do prefeito do Recife (João Paulo) e mesmo com a jovialidade do prefeito de Aracaju (Marcelo Déda) ou a independência de Luizianne (Fortaleza), alastra-se pelo Norte, Nordeste e Centro-Oeste, ganhando sabores menos apimentados. Finca raízes na esfera central do espectro político, batendo de frente em outros entes que ali se refugiam. E surge o imbróglio. Quem restará do embate pelo voto de classes médias de grandes e médias cidades? Que discurso virá ao encontro das demandas de setores cada vez mais organizados e críticos? Chegando ao meio, o PT desloca os tucanos para o canto direito do centro, invadindo também territórios do multifacetado PMDB, do engordado PTB e do corroído PP, jogados nas pequenas e médias cidades do interior. O que fará o fraturado PFL, com a índole conservadora e um corpo fino nos núcleos mais densos?
César Maia, a maior referência, tem cacife para reerguer a bandeira pefelista? Todos querem ocupar o espaço central da sociedade. Um inevitável processo de canibalização se instalará na luta pela ocupação dos nichos sociais à disposição: o do meio, que abriga as classes médias urbanas e o eleitorado mais racional; o conservador-liberal, à direita; a geografia periférica, que agasalha as classes C, D e E; e os núcleos ideológicos radicais, à esquerda. Às margens desses nichos, giram as siglas de porte médio, como PPS (que poderá absorver o PDT) e o PSB, com bom potencial de crescimento.
A soma do primeiro turno abrange ainda as alianças tortas feitas com a linha do PT. Os aliados não obtiveram tão bons resultados quanto o principal parceiro. Haverá retaliação, com conseqüências que apontam para estas conclusões: o fim do ciclo da geléia partidária; maiores dificuldades para Lula administrar a teia de relações construída com massa de péssima qualidade, como cargos dados pela metade a aliados. (Ministros não petistas se queixam por não poderem formar equipes). Isso tudo convergirá para a reforma política (fidelidade partidária, voto em lista fechada, etc), alternativa que resta a partidos que não se querem transformar em caudatários do projeto hegemônico do PT.
Ainda como lição, o bom senso inspirou a decisão de um eleitor que não deu bolas às pesquisas. Os institutos erraram muito, a partir de São Paulo, onde mostraram na reta final empate entre Serra e Marta. Em muitos lugares não detectaram a migração de votos. Também se queimaram para sempre certas línguas de aluguel. Proxenetas da política apareceram, vendendo suas abjetas figuras, alugando a boca para sujar adversários. Uma dessas personagens se mostrou por inteiro farejando migalhas no banquete das ofertas de oportunidade. Comprometidas saem também figuras carimbadas da política, que, por veredicto do eleitorado, amargaram derrotas vergonhosas em seus Estados.
Em certos momentos, o pântano encheu de lama corredores da campanha.
Partidos venderam-se. Cidades ficaram emporcalhadas. Nunca se viram tantos batalhões de rua remunerados, empunhando bandeiras, recitando slogans, puxando brados, entrando nos lares a título de visitação sem aviso prévio, ocupando espaços nos logradouros públicos e até agredindo eleitores.
A imagem do País que sai do primeiro turno é a de uma fotografia democrática flagrada por dois espelhos esféricos: um convexo e um côncavo. O primeiro espelho exibe a democracia achatada, comprimida por máquinas administrativas, mando patrimonialista e marketing; diante do outro, a democracia aparece exuberante, refletindo a alma de uma população que não se quer deixar enganar. Surge um eleitor simples, sábio e autônomo, que dá ao País a receita de equilíbrio e o passaporte de continuidade para os bons administradores. Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor-titular da USP e consultor político E-mail: gautor@gtmarketing.com.br’
O Estado de S. Paulo
‘Band faz dia 14 primeiro debate Serra x Marta’, copyright O Estado de S. Paulo, 8/10/04
‘O diretor de jornalismo da Band, Fernando Mitre, fechou com a assessoria dos candidatos José Serra (PSDB) e Marta Suplicy (PT) o formato do primeiro debate do segundo turno das eleições municipais, a ser realizado no próximo dia 14. Mediado pelo jornalista Carlos Nascimento, o programa terá cinco blocos e cerca de 90 minutos. A novidade é que os candidatos, munidos de um microfone de lapela, poderão andar pelo cenário do programa.
No primeiro bloco o mediador fará uma única pergunta para os candidatos. A prefeita, escolhida por sorteio, será a primeira a responder. Nos três blocos seguintes, os candidatos poderão fazer duas perguntas um ao outro. No quinto, os dois farão suas considerações finais. ‘Serão 48 miniconfrontos entre os dois. Não houve ainda na eleição corpo-a-corpo tão direto entre Serra e Marta’, diz Mitre.’
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‘Zica quer proibir pesquisas 15 dias antes das eleições’, copyright O Estado de S. Paulo, 9/10/04
‘O deputado Luciano Zica (PT), derrotado no primeiro turno em Campinas, disse que vai propor ao Congresso projeto de lei para proibir a divulgação de pesquisas 15 dias antes da eleição. Zica se sentiu prejudicado pela pesquisa do Ibope, que na véspera da votação lhe dava 14% e a Hélio de Oliveira Santos (PDT), 20%. Tecnicamente, estavam empatados em segundo lugar, já que a margem de erro era de 4% para mais ou para menos. Zica alegou, porém, que obteve 21,56% dos votos, 7,56% acima da porcentagem divulgada pelo Ibope.
Santos conseguiu 22,63% e Carlos Sampaio (PSDB) teve 39,85%. ‘Muita gente me disse que ia votar no Dr. Hélio para praticar voto útil, achando que eu não teria chance no segundo turno.’’
Observatório Brasileiro de Mídia
‘Serra registrou aumento de matérias neutras publicadas nas duas semanas anteriores a eleição; Marta continua na liderança das matérias negativas’, copyright Boletim do Observatório Brasileiro de Mídia, 8/10/04
‘Essas são algumas das conclusões das últimas pesquisas realizadas pelo Observatório Brasileiro de Mídia (www.observatoriodemidia.org.br) nas semanas de 16 a 22 de setembro e de 23 a 29 de setembro
As conclusões das últimas pesquisas divulgadas pelo Observatório Brasileiro de Mídia, que desde o dia 26 de agosto faz monitoramento do comportamento dos cinco maiores jornais paulistanos – Agora São Paulo, Diário de S.Paulo, Jornal da Tarde, Estado de S.Paulo e Folha de S.Paulo – apontam um aumento na quantidade de matérias neutras sobre o candidato José Serra (PSDB) publicadas durante a campanha eleitoral municipal. Marta Suplicy (PT) continua sendo a campeã de matérias negativas e aparece, nas cinco pesquisas realizadas pelo Observatório, como a candidata com menos matérias positivas. Os últimos levantamentos são referentes às semanas de 16/09 a 22/09 e de 23/09 a 29/09.
De acordo com o morfômetro – o critério desenvolvido pela equipe da USP para aferição qualitativa das matérias sobre as eleições -, 39,22% das matérias veiculadas a respeito de Serra durante as cinco semanas analisadas são neutras. Entre as que citam a ‘candidata’ Marta Suplicy (PT), 26,96% são neutras. Dos textos que se referem a ‘prefeita Marta’, apenas 12,22% são neutros.
Como nas pesquisas que vêm sendo realizadas pelo Laboratório de Pesquisas em Comunicação Política e Opinião Pública (Doxa) do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), além dos candidatos propriamente ditos, a análise do Observatório Brasileiro de Mídia incluiu uma categoria especial para as matérias que fazem referência – direta ou indiretamente – apenas à administração de Marta em São Paulo. O critério utilizado foi o seguinte: a partir de uma reportagem sobre a dificuldade na reparação de buracos no asfalto do município, por exemplo, foi gerado um registro para a Marta ‘prefeita’.
Assim, enquanto o candidato do PSDB obteve 34,20% de matérias positivas e 26,58%, de negativas, os textos favoráveis a ‘Marta candidata’ somaram 23,46% e os desfavoráveis, 49,58%. Entre as matérias sobre a ‘Marta prefeita’ 67,03% foram negativas e 20,75% positivas. Os dados são referentes ao acúmulo de todos os dados coletados, desde o dia 26 de agosto até o dia 19 de setembro.
O recurso do morfômetro permite que seja atribuída uma nota de 2 a 10 a cada matéria, de acordo com sua localização na página e com os elementos gráficos, como foto e outros recursos gráficos, como trechos em destaque.
O levantamento do Observatório Brasileiro de Mídia mostra que o equilíbrio na cobertura de Serra se acentuou nas duas últimas semanas. O morfômetro da primeira semana analisada (26 de agosto a 1 de setembro) apontava uma porcentagem de 35,49% de matérias neutras sobre o candidato. Na segunda, 57,02% dos textos eram neutros. Na semana seguinte (9 a 15 de setembro), a porcentagem foi de 41,75%. Os últimos dados demonstram que do dia 16 a 22 de setembro foram divulgadas 54,26% de matérias neutras e que na última semana antes das eleições (23 a 29 de setembro), essa porcentagem foi para 74,75%.
As matérias positivas sobre Serra na primeira semana de análise (26 de agosto a 1 de setembro) somaram 48,86%% do total, enquanto as negativas foram 15,64%. Na semana de 2 a 8 de setembro 33,07% das matérias foram favoráveis e 9,91 % contrárias. Na semana seguinte (9 a 15 de setembro) , os textos positivos foram 23,35 % do total publicado e os negativos, 34,9%. Na quarta semana, do dia 16 a 22 de setembro, 27,72% das matérias foram positivas e 18,02%, negativas. Na semana que antecedeu as eleições, de 23 a 29 de setembro, as porcentagens de positivas foram 13% e de negativas, 12,25%.
Já a ‘candidata Marta’ obteve 12,26% de matérias favoráveis e 14,65% desfavoráveis na primeira análise. Na pesquisa seguinte, com dados levantados entre os dias 2 e 8 de setembro, as porcentagens foram de 21,05% de textos positivos e 59,71%, negativos. Na terceira semana, 11,46% dos textos foram positivos e 59,11%, negativos. Os dados da semana de 16 a 22 de setembro foram: 27% matérias positivas e 57,01% negativas. E da última semana de setembro: 10,82% positivas e 50,11% negativas.
A ‘prefeita Marta’, que no primeiro estudo somou 14,65% de matérias positivas e 79,22% de negativas; no segundo, obteve 5,95% dos textos favoráveis e 91,62% desfavoráveis. Na terceira semana (9 a 15 de setembro), 5,63% das publicações que citaram a prefeita foram positivas e 92,37% negativas. Do dia 16 a 22 de setembro, 15,59% das matérias foram positivas e 74,08%, negativas e do dia 23 a 29 de setembro, as porcentagens foram 14,38% e 76,01%, respectivamente.
A pesquisa também analisou a coberturas das candidaturas de Paulo Maluf (PP) e Luiza Erundina (PSB).
Os dados da pesquisa foram levantados por uma equipe de alunos de jornalismo da Escola de Comunicações e Artes da USP, sob orientação do professor José Coelho Sobrinho. A coordenação geral do estudo é do jornalista Carlos Carolino. Os resultados completos que mostram a cobertura de cada candidato por veículo pesquisado estão disponíveis na página do Observatório Brasileiro de Mídia: www.observatoriodemidia.org.br’