‘LIBERDADE DE IMPRENSA EM QUEDA NA ITÁLIA
Um estudo em 193 países aponta problemas em dez. O nome de Berlusconi reluz no relatório
Silvio Berlusconi segue firme em busca de reconhecimento como um dos grandes vilões do mundo contemporâneo. Também prossegue mostrando sua capacidade ímpar, sem competidores à vista, de envergonhar um país com as tradições da Itália.
Uma pesquisa realizada em 193 países pela ONG Freedom House, divulgada na quarta-feira 28, aponta uma piora da liberdade de imprensa em dez países, entre os quais Bolívia, Bulgária, Gabão, Guatemala e… Itália – o único integrante do G 7 (o grupo dos sete mais desenvolvidos do mundo) na lista.
O estudo observa que o primeiro-ministro Berlusconi ‘exerce influência indevida sobre o canal público RAI’ – uma crítica que já havia sido formulada anteriormente em documento oficial da União Européia. ‘Isso exacerba ainda mais o ambiente preocupante caracterizado por uma cobertura não equilibrada do enorme império de mídia de Berlusconi’, escreve a Freedom House.
Berlusconi não vê conflito de interesses no fato de ser dono das principais emissoras privadas do país e controlar também as três emissoras de tevê públicas. O exemplo que dá é preocupante, alertou a União Européia e, agora, a Freedom House. Rupert Murdoch no papel de primeiro-ministro da Austrália, ou da Inglaterra? Se outros países seguirem o exemplo da Itália, podemos vislumbrar pesadelos ainda maiores.
CENSURA – II
UM DOCUMENTÁRIO RETIDO NA GAVETA
TV Cultura anuncia programa sobre os 20 anos das Diretas, mas cancela a exibição sem explicar
No apagar das luzes de sua gestão de nove anos à frente da Fundação Padre Anchieta, Jorge da Cunha Lima foi atropelado por um insólito episódio de censura política. Ironicamente, foi censurado um documentário do qual ele é um dos participantes. Mais ironicamente ainda, o tema do documentário é a campanha das Diretas Já, que há 20 anos foi o maior movimento popular da história do Brasil.
A TV Cultura anunciou, mas não exibiu no sábado 17 de abril, o documentário Diretas Já! 20 anos – As histórias que ninguém contou em 1984, co-produzido pelo Núcleo de Documentários da emissora.
Apesar de se intitular pública, não informou ao prezado público os motivos do cancelamento. Daí a conclusão de que os motivos seriam inconfessáveis, beirando o ridículo e o inacreditável. Seria esquisito informar a todos que a exibição foi cancelada por decisão de uma só pessoa, convencida de que não faria bem à casa a veiculação de certas declarações contidas no produto – muitas delas formuladas pelo próprio Jorge da Cunha Lima.
O documentário apresenta, além de Cunha Lima, depoimentos de Dante de Oliveira, Aécio Neves, Fafá de Belém, Osmar Santos, Mino Carta, Eugenio Montoro, Michel Temer, Mario Covas Neto, Marcello Nitsche, Edwaldo Pacote, José Aníbal, que até agora não receberam nenhum esclarecimento.
Segundo fontes bem situadas, a censura teria sido provocada por críticas à TV Globo, ao PT e ao próprio PMDB e justificada, internamente, pelo clima tenso resultante da disputa em torno da presidência da Fundação, que chegou a bom termo, com acordo em que Jorge da Cunha Lima permanece detendo uma parcela do poder e assume a presidência Marcos Mendonça, na segunda-feira 10. Espera-se que o novo presidente, ao assumir o cargo, livre a TV Cultura de censores que sobreviveram às Diretas Já.’
Folha de S. Paulo
‘Um terço do mundo não tem mídia livre’, copyright Folha de S. Paulo, 3/05/04
‘Cerca de um terço da população mundial esteve privada de liberdade de imprensa em 2003, segundo relatório anual da ONG internacional Repórteres Sem Fronteira (RSF), com sede em Paris.
‘Mais de 130 jornalistas se encontram atualmente presos no mundo, e 42 perderam a vida em 2003 por exercer sua profissão ou expressar suas opiniões, contra 25 mortes registradas em 2002’, disse a organização, ressaltando que, desde 1995, esses dados não haviam sido tão negativos. Além disso, 766 jornalistas foram detidos, mais de 1.460 foram agredidos ou ameaçados e 501 meios de comunicação foram censurados em todo o mundo em 2003.
A maioria das vítimas mortais ocorreu na Ásia, com 16 mortes, considerada a maior prisão para jornalistas do planeta. No Oriente Médio, 15 jornalistas de diversas nacionalidades perderam a vida em 2003. ‘Além da carência de meios de comunicação independentes e a fortíssima autocensura em vários países, a Guerra do Iraque e a continuação do conflito israelo-palestino submeteram a liberdade e a segurança dos jornalistas a uma dura prova.’
No Iraque, além das duras restrições impostas pelo regime iraquiano até a sua queda, em abril, e da violência das milícias e insurgentes iraquianos, os RSF ressaltam a agressividade das forças americanas. ‘Os soldados americanos mataram cinco jornalistas durante ou depois da guerra e não foi feita nenhuma investigação.’
Com ao menos oito jornalistas mortos em 2003, a América Latina segue uma terra de contrastes para a liberdade de imprensa, seriamente ameaçada em Cuba e na Colômbia e vítima de instabilidade política na Bolívia, no Equador, na Venezuela e no Peru.
Cinco das mortes ocorreram na Colômbia, considerada o país mais perigoso da região, com mais de 60 jornalistas seqüestrados. Os RSF denunciaram a onda de repressão em Cuba, com 27 jornalistas presos na onda repressora que levou ao todo 75 dissidentes à prisão e a condenações de até 27 anos. ‘Seus crimes? Publicar artigos no exterior e conversar com diplomatas dos EUA.’
No Brasil, os RSF vêem a situação como satisfatória, mas apontam graves violações, principalmente o assassinato de dois jornalistas: o fotógrafo Luiz Antônio Costa, morto em São Paulo por criminosos, e Nicanor Linhares Batista, dono da Rádio Vale do Jaguaribe em Limoeiro do Norte, Ceará, morto por motivo político.’
O Estado de S. Paulo "Um terço da população convive com censura", copyright O Estado de S. Paulo, 3/05/04
"Em comemoração ao Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que se celebra hoje, a organização Repórteres Sem Fronteiras divulgou ontem seu relatório anual sobre o tema. O levantamento aponta que cerca de um terço da população mundial se viu privada da liberdade de imprensa em 2003. ‘Mais de 130 jornalistas se encontram atualmente presos e 42 morreram no ano passado, por exercer sua profissão ou expressar suas opiniões’, garante a organização. Os números de mortes não eram tão altos desde 1995.
Ainda em seu relatório, a organização aponta que 766 jornalistas acabaram detidos para alguma investigação oficial em 2003, outros 1.460 foram agredidos e 501 meios de comunicação, censurados.
A maioria das mortes foi registrada na Ásia e no Oriente Médio. ‘Além da falta de meios de informação independentes e da fortíssima censura profissional em vários países, a guerra no Iraque e a continuação dos conflitos entre israelenses e palestinos submeteram a liberdade e a segurança dos jornalistas a duras provas’, assegura o relatório.
Os dez piores – O Iraque é hoje o país mais perigoso do mundo para os jornalistas, seguido de Cuba e Zimbábue. A revelação é do Comitê para Proteção de Jornalistas, que divulgou ontem o relatório com os dez piores países para se exercer a profissão.
Desde que a guerra no Iraque começou, em março de 2003, 25 jornalistas morreram no país, a maioria depois de o presidente George W. Bush ter declarado oficialmente o ‘fim da guerra’. Vários outros foram seqüestrados por rebeldes iraquianos.
Em Cuba, ações do governo contra a imprensa deixaram em 2002 ‘um número sem precedentes de 29 jornalistas presos’, muitos deles com sentenças próximas a 30 anos de prisão. De acordo com o relatório do Comitê, os que não foram presos são constantemente ameaçados pela polícia, sob pena de sofrerem punições caso continuem escrevendo.
A polícia no Zimbábue prendeu jornalistas que escreveram sobre manifestações pró-democracia no país e muitos foram atacados for forças pró-governo. No ano passado, o governo, que tem ameaçado e prejudicado a imprensa nos últimos quatro anos, fechou o único jornal independente do país. Em fevereiro deste ano, a Justiça local estabeleceu que exercer jornalismo sem consentimento governamental é crime.
‘Em todos esses países, escrever sobre o que acontece é um ato de coragem e convicção’, disse Ann Cooper, diretora executiva do Comitê. Também estão na lista dos piores locais para o exercício do jornalismo Turcomenistão, Bangladesh, China, Eritréia, Haiti, Cisjordânia e Faixa de Gaza e Rússia. (AFP e AP)"