SUBJETIVIDADE E DIVERSIDADE
Quando morre a liberdade
‘Escreve um estudante, não entende CartaCapital porque ensinam seus mestres que o jornalismo tem de ser imparcial. Escreve uma leitora: ‘Por que vocês reclamam tanto da posição política de certos meios de comunicação, se vocês são escancaradamente petistas?’
Os mestres talvez também ensinem que jornalismo tem de ser objetivo. Pois não é, objetiva só mesmo minha velha Olivetti. Sou subjetivo até quando deposito sobre a folha branca uma humilde vírgula. A subjetividade é da natureza humana, mas há homens que se deixam manipular e mergulham na frase feita, no clichê. Ou no preconceito, no ódio de classe, no golpismo.
Vivemos em um mundo em que o conflito, a divergência, desenvolvidos à sombra da lei, são a regra. No Brasil existe a convicção de que é preciso buscar a uniformidade, que é a morte da liberdade.
É comum, em países mais avançados democraticamente, que órgãos da mídia definam sua posição, a favor ou contra o governo, ou candidatos às vésperas de eleição. Nunca deixou de fazê-lo, por exemplo, o New York Times. No começo deste ano, o Il Corriere della Sera, diário italiano de tradição conservadora, liberal à moda antiga, comunicou aos leitores sua preferência pela candidatura de Romano Prodi contra Silvio Berlusconi. Optou pelo centro-esquerda no confronto com o centro-direita.
Muitos mestres nativos têm visão bastante confusa do mundo. Ou são hipócritas como, salvo raríssimas exceções, a nossa mídia. A qual atua escancaradamente a favor da minoria, aquela que o governador Cláudio Lembo apelida de ‘branca’, pois se enxerga branca mesmo ao ter, como dizem os graúdos com o devido desprezo, ‘um pé na cozinha’.
A mídia cuidou, desde sempre, dos interesses dos privilegiados, por ser ela própria do privilégio, enquanto, impavidamente, alegava suprema imparcialidade. CartaCapital faz suas escolhas com absoluta nitidez em respeito aos seus leitores. E se preferiu Lula, em 2002 e neste ano, não foi em nome de um escancarado petismo, e sim por razões claramente expostas.
Do governo do presidente Lula, durante o primeiro mandato, fomos críticos pontuais, das políticas e das decisões a nosso ver contrárias aos interesses do País. Não foram poucas as críticas, muitas vezes contundentes. Quanto a mim, nunca militei no PT, embora, desde os tempos do Jornal da República, tenha apoiado a idéia de um autêntico partido de esquerda, capaz de juntar à sua sombra a maioria finalmente consciente da cidadania e da sua capacidade de pressão.
Não deixei de verberar, contudo, o fato de que, alcançado o poder, o PT se portasse como todos os demais partidos surgidos por aqui. Nem por isso, CartaCapital escapou às suspeitas, aos insultos, às calúnias de quem se move ao sabor do pensamento único, partidas, sobretudo, de articulistas, colunistas, blogueiros, editorialistas. Aos quais pergunto, não sem candura, como fiz ao dar as boas-vindas aos convidados da festa de CartaCapital da noite de segunda-feira 6 (leia a cobertura nesta edição), diante de uma platéia de empresários, autoridades e, se não me engano, também de publicitários: que vantagem leva no Brasil quem rema contra a corrente? Ou, por outra, a favor do povo?
Alegam que vendemos a alma ao demônio para melhorar de vida. É hora de gargalhar, como ao assistir o Gordo e o Magro. Está claro, porém, que os caluniadores são incapacitados, em função de seus próprios humores, a percorrerem a zona miasmática situada entre o fígado e a alma, a compreender que alguém pode agir apenas, e tão-somente, em nome de princípios e crenças.
Alguns, entre eles, continuam a bater na tecla do famigerado dossiê e a se perguntar como e por que não chega às conclusões a investigação policial. Proponho que procurem no blog de Paulo Henrique Amorim, jornalista que, a meu ver, honra a profissão, a entrevista com o controlador-geral da União, ministro Jorge Hage, na quarta 8.
O esquema das compras superfaturadas de ambulâncias, esclarece Hage, começou no governo de Fernando Henrique Cardoso. Segundo o controlador, a Planam, empresa dos Vedoin, ganhou 60% das emendas destinadas à compra entre 2001 e 2002. Foram identificados convênios assinados pelo então ministro da Saúde, Barjas Negri, pupilo de José Serra, e por Darci Vedoin. Em lugar dele deveriam estar os prefeitos envolvidos na operação. No entanto, o vendedor os representava. ‘Veja a que ponto chegava, diz Hage, a certeza da impunidade e a promiscuidade.’’
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