Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Carta Capital

TORTURA
Ivana Bentes

Mídia e Mílicia, 16/6

‘É grave um jornal ou jornalistas serem chantageados, torturados, tolhidos em sua função de investigar, mas ninguém se pergunta porque na ficção a novela das oito que terminou, Duas Caras, mostrava uma favela bem resolvida sob o comando de uma ‘milícia do bem’, romantizada e glamourizada na figura de Antonio Fagundes, o Juvenal da Portelinha, líder da ‘milícia legal’ que seriam ‘diferentes’ dos milicianos que torturaram e expulsaram jornalistas da favela do Batan, em Realengo, aqui no nosso Rio de Janeiro.

Mas afinal o que tem em comum a Mídia e a Milícia? Não podemos esquecer que a mídia hoje é uma espécie de ‘primeiro comando simbólico da capital’. É identificada como um lugar de poder, que pode se usar tanto para aprofundar a democracia quanto para golpeá-la. Não só a milícia pratica a ilegalidade, como também a própria mídia, hoje, atua nessa zona obscura entre o legal/ilegal, ético/anti-ético, utilizando métodos policiais como as câmeras escondidas e grampos telefônicos, nas suas ‘investigações’, nem sempre neutras ou desinteressadas.

Essa invasão da privacidade, segundo o contexto, pode ser tão grave quanto outras aberrações, como a tortura. A sociedade deve questionar tanto os métodos policiais quanto os midiáticos, colocar em questão o corporativismo da polícia, da mídia e da milícia.

A importância dada ao debate acerca da segurança dos jornalistas e da liberdade de imprensa não deveria obscurecer a crueldade da disseminação da tortura policial, real ou simbólica, subjetiva. Práticas de ostentação de poder que podem afetar qualquer um.

Quando a vítima de tortura é o cidadão comum, que não faz parte dos círculos do poder simbólico, como os jornalistas, não encontramos o mesmo nível de indignação. Pouco se fala sobre o morador que também sofreu com os atos de tortura e se encontra desaparecido. Na mídia, a fonte primordial de informações sobre as favelas, ainda é a própria polícia, o que só complica, quando a policia se mistura com as milícias ou a mídia virá lugar de negociação e produção de crise e de poder.

MIDIATIVISMO e MIDIA LIVRE

Daí a importância dos novos produtores de mídia, midiativistas e midialivristas, que produzem uma outra comunicação sobre as favelas e periferias, deslocando os discursos do medo e do terror que simbolicamente exilam a favela e criam um estado de exceção, real e simbólico.

É ai onde a mídia tradicional não consegue entrar que se deve fortalecer essas redes, blogs, sites, observatórios, ‘Pontos de Mídia’, como o Observatório de Favelas da Maré, a CUFA (Central Única das Favelas) em Cidade de Deus e em favelas no Brasil todo, o Nós do Morro, no Vidigal, centenas de coletivos de mídia em todo Brasil. Redes que neutralizam o terror e o medo, que criam uma inclusão subjetiva das favelas e periferias na comunicação da cidade, neutralizando o clima de terror que abole o direito de enunciação.

Entre esses novos fazedores de mídia, uma das experiências mais singulares é o CANAL** MOTOBOY, em que os motoqueiros fazem a emissão de vídeos, fotos, imagens e texto por celular de toda a grande São Paulo, durante sua jornada de trabalho ou lazer. Vão mapeando a cidade, seu fluxo, sua deriva, seus bons encontros e também terríveis acidentes de moto e carro (condições adversas de trabalho), mapeando vias e vidas, viadutos, jardins, automóveis, pessoas e paisagens. São os Motoboys de SP fazendo mídia e formando para mídia, o exemplo mais radical de autonomia e liberdade pela mídia.

O Canal Motoboy, o Nós do Morro, CUFA, Cubo Vídeo, Observatório de Favelas, Festival Visões Periféricas, Oficina de Imagens, professores, estudantes, jornalistas, midialivristas, radialistas, produtores de audiovisual, fazedores de políticas públicas estiveram reunidos no I Fórum de Mídia Livre, que aconteceu nesse fim de semana, dia 14 e 15 de junho de 2008 na Escola de Comunicação da UFRJ.

São os nós da rede se ativando e despertando para um contexto radical em que a mídia explode com o corporativismo e se torna biopolítica, se torna vital.’

TELEFONIA
Leandro Fortes

Ana Lúcia, da Brasil Telecom, 10/6

‘Os fatos relatados abaixo são reais e revelam o grau de precariedade ainda vigente nas relações de consumo no Brasil. Demonstram, no genérico, a forma mais explícita de desrespeito adotada pelas operadoras de telefonia do país, e, no particular, a desastrosa estratégia de assédio bolada pela Brasil Telecom para tentar manter os muitos clientes que, em Brasília, fogem dela para empresas melhores, mais eficientes e mais corretas no trato com os usuários.

Quarta-feira, 28 de maio, 10h09. Do outro lado da linha, o serviço automático de atendimento da Brasil Telecom, o 10314. Aperto as teclas que me mandam para ser atendido. Antes de me remeterem ao inferno de quase uma hora ao lado de uma atendente diabólica, me pedem para, ao final, dar uma nota sobre a qualidade do atendimento. Será a minha vingança, mas, por ora, voltemos ao começo. Disco todos os números e espero, finalmente, que um ser humano me atenda do outro lado. Quero cancelar uma linha de telefone fixo. Antes, contudo, vem uma musiquinha irritante, de três acordes, meio buzina, meio bateria eletrônica. Superposta a ela, começam as propagandas.

Primeiro, sobre o celular BrT, da empresa, cheio de facilidades para conferir e-mails ou faturas das contas. Mais música. Pedem para eu conferir as funções do menu do BrT Celular (eu nem tenho um) para ‘ficar por dentro’ de muitas promoções ‘e muito mais’ (o que será? Prefiro esperar o atendente). A musiquinha volta, infame. ‘A fim de conhecer mais pessoas?’, me pergunta a gravação do outro lado. Não, não estou, mas ela não me ouve. ‘Consulte o menu (do BrT Celular, claro) e cadastre o seu perfil’. E lá vem a musiquinha infernal. ‘Registrou um momento único? Mande um torpedo!’. Eu não mereço isso. ‘Quer ganhar prêmios todos os dias?’. Ué, quem não quer? Enquanto não sou atendido, descubro que basta enviar torpedos e trocar pontos por prêmios. Se eu tivesse um torpedo, começaria por apontar para o serviço de atendimento da Brasil Telecom. Mas continuo aguardando, paciente.

A musiquinha ganha fôlego. E tome propaganda. ‘Não consegue acompanhar notícias do dia-a-dia?’. Eu não consigo, ninguém consegue, mas descubro – oh! – que basta acessar o menu do BrT Celular para que o mundo se abra aos meus olhos. ‘E muito mais!’. Adoro isso. Aliás, descubro, ainda, que o expediente do torpedo é a maneira mais fácil e rápida de se comunicar ‘quando você não pode falar ou não quer falar’. Entenderam a sacada? Como pude viver até hoje sem perder uma hora da minha manhã ouvindo os reclames da Brasil Telecom? Depois, incrivelmente, a voz gravada me pergunta: ‘Cansado da musiquinha do seu celular?’ Hahahahahahahaha! Esses caras do BrT Celular são uns pândegos!

São 10h21, Estou ouvindo propaganda há 10 minutos, e nem sei se estou pagando essa ligação. Preciso lembrar de perguntar ao atendente, se ele me atender, é claro. A musiquinha não pára. ‘Sua conta da Brasil Telecom tem selo de qualidade do Inmetro’. Já o serviço de atendimento… ‘Tem tudo para facilitar a sua vida’. Ok, ok, eu sei quando estão tirando sarro de mim. Mas não vou desistir. Acho que eles percebem o meu espírito perseverante porque, após um último informe sobre os serviços de convergência da empresa (‘multiconferência com vídeo, áudio e web’), sou finalmente atendido por alguém em carne osso. O nome dela é Ana Lúcia. São 10h24.

Ana Lúcia é da infantaria do telemarketing da Brasil Telecom, percebo logo. Ela não quer saber de frescura nem de desculpa besta.

– Quer cancelar a linha? Por quê? Qual o motivo? Alguma coisa ocorreu?

Tento acalmá-la, digo que é por um motivo pessoal, preferi mudar de operadora. Ana Lúcia fica furiosa. Nem respira. Dispara uma metralhadora verbal que me deixa aturdido.

– É um motivo pessoal? Que motivo pessoal? Olha, o senhor está querendo cancelar uma linha econômica, um pacote excelente. Não quer transferir para outra pessoa? O senhor pode transferir para outra pessoa! Uma boa ação faz o mundo melhor!

São 10h28 e eu preciso trabalhar. Digo isso para Ana Lúcia, mas ela não foi treinada para ter piedade. Na Brasil Telecom a ordem, imagino, é nunca perder um cliente, nem que para isso seja preciso azucriná-lo, tomar-lhe o tempo de trabalho e deixá-lo plantado por uma hora apenas para cancelar uma linha. Ana Lúcia insiste, sabe que estou trocando a empresa dela por outra, quer saber o nome, quer saber o porquê dessa traição. Perco um pouco a paciência.

– Ana Lúcia, você pode, por favor, cancelar a minha linha, porque eu preciso trabalhar?

– Mas eu nunca disse que não podia, eu só quero saber por que o senhor quer cancelar a linha.

– Por um motivo pessoal, já disse.

– Mas qual motivo? O senhor trocou de operadora por que, afinal?

– Achei a logomarca da outra mais bonita.

Foi um erro. Jamais deveria ter usado de ironia com Ana Lúcia. Naquele momento, soube que tinha arranjado uma inimiga feroz dentro do sistema. Iniciei, então, uma batalha sinistra com a atendente da Brasil Telecom.

São 10h29. Ana Lúcia muda o tom de voz, torna-se fria, pragmática. Pede o meu número do CPF, a data de nascimento, o nome completo. Diz que vai ‘analisar’ minha conta e pede para eu aguardar. Eu arrisco uma ofensiva.

– Você é Ana Lúcia de quê?

– É só Ana Lúcia, é meu nome de atendimento.

Silêncio do outro lado da linha. Ana Lúcia deve estar fazendo consultas no manual de atendimento. Tenta entender minha estratégia, descobrir o que está errado. Talvez até tenha chamado o supervisor. Passados seis minutos, tenho a impressão de que ela desligou. Arrisco-me de novo.

– Alô?

Ana Lúcia reaparece, tem a voz gélida. Põe em prática o tratamento dispensado pela empresa aos traidores.

– Aguarde mais um instante, por favor.

Eu aguardo. Estou disposto a não desistir. O funcionário da outra operadora, quando eu disse que iria cancelar o telefone fixo da Brasil Telecom, deu uma risadinha de dó. Segundo ele, ninguém estava conseguindo, só no Procon. Eu havia chegado até Ana Lúcia, não iria desistir agora. Fiquei aguardando. Iria aguardar até o outro dia, se necessário. Iria resistir. Ana Lúcia é o exército alemão, eu, Stalingrado. Mas não vai ser fácil.

– Senhor, estou verificando sua linha, ela tem muito mais economia em relação a qualquer operadora.

Ah, essa é Ana Lúcia. Incansável. Chego a admirá-la. Em outras circunstâncias, poderíamos mesmo ser amigos. Mas agora eu tenho que derrotá-la, e não vou abrir mão disso. Ela tenta me alertar para as ‘propagandas fantasiosas’ das outras operadoras, do erro que estou cometendo ao abandonar a Brasil Telecom por outra empresa de ‘qualidade inferior’. Estranho, ela nem sabe qual é a outra empresa. Mas Ana Lúcia é assim, despreza detalhes bobos.

– Matematicamente falando, o senhor vai pagar excedente na outra operadora.

Ana Lúcia quer me enlouquecer, matematicamente falando. Mantenho a atitude, sei que ela está ferida por conta da minha ironia lá de cima, mas, principalmente, pela minha posição irredutível. Aproveito o momento de fraqueza dela. Em vão.

– Ana Lúcia, por favor, cancele a minha linha e me informe o número do protocolo.

– Então, continue aguardando. Mas deixe eu continuar falando sobre a sua linha.

Fecho os olhos. Do outro lado, Ana Lúcia recupera terreno. Fala da economia da qual estou abrindo mão, da qualidade do serviço (ela não sabe que, para instalar a linha lá em casa, passei um mês indo e vindo à Brasil Telecom). A certa altura, sai-se com essa.

– Trocar o certo pelo duvidoso é uma coisa incerta.

São 10h40. Começo a temer pela saúde mental de Ana Lúcia. Ela tem meus dados, meu endereço. Pode querer se vingar. Eu não devia ter feito aquela gracinha da logomarca. Nos cinco minutos seguintes, ela passa a alternar silêncios com um tenebroso ‘aguarde mais um pouco, por favor’. Às 10h45, ela tenta de novo.

– Tenho que preencher o espaço da justificativa para o cancelamento da sua linha. Coloco que foi porque o senhor achou a logomarca mais bonita mesmo?

É só uma ligação, mas pude sentir o cheiro de enxofre. Ana Lúcia é muito melhor treinada do que eu imagino. Agora ela veio com ironia para cima de mim. Por essa eu não esperava, Ana Lúcia tem reações subjetivas! Se eu fosse supervisor dela, a promovia. Mas sou só o inimigo. Preciso vencê-la.

– Sim, para mim está ótimo.

– E nome da operadora?

– Prefiro não falar.

– Então, aguarde. Qualquer dúvida, é só me chamar.

São 10h45. Estou há 35 minutos tentando cancelar uma linha telefônica. Penso em desligar. Estou cansado, o celular está queimando a minha orelha, mas penso em Ana Lúcia, vitoriosa do outro lado, a comentar com as colegas, ‘venci mais um’. Mantenho minha posição. Ela me pergunta se a próxima fatura pode ser mandada para o mesmo endereço. Digo que sim. Pergunta-me o número do telefone fixo da nova operadora. Digo que não é preciso. Isso a deixa realmente frustrada. A voz dela perde os agudos, parece um sussurro de morte.

– Então, vai ficar incompleto aqui.

Eu aproveito para tripudiar.

– Por mim, não tem problema.

Aguardo mais um tempo. Há seis ligações em espera no meu celular. Estou exausto, irritado, cheio de ódio no coração, mas Ana Lúcia não pode perceber. Fico pensando como deve ser viver em um país onde você não precise explicar para a atendente as razões que o levaram a mudar de operadora. Algo como ‘disque 7 e cancele sua linha, muito obrigado’. Em dois minutos, no máximo. Sem Anas Lúcias, sem o deboche de ter que esperar uma hora para fazer uma coisa dessas.

São 10h59. Ana Lúcia anuncia sua capitulação.

– Senhor, sua solicitação foi concluída com sucesso. A Brasil Telecom agradece, etc, etc, etc.

Recebo o número do protocolo de atendimento (?) e espero para dar nota ao serviço, conforme me foi solicitado, quase uma hora atrás. Uma voz mecânica me avisa:

– Digite ‘1’ se a sua avaliação for ‘muito insatisfeito’.

Digitei. Aliás, esperaria mais uma hora para digitar esse ‘1’, se fosse necessário.’

 

CARTA CAPITAL
Mino Carta

Uma história de catorze anos, 13/6

‘Meu sobrinho Andrea queria muito abrigar uma revista de business debaixo do teto da Carta Editorial, fundada pelo pai, e irmão meu, Luis, em 1976, 18 anos antes dos fatos que me preparo a contar. Eu deixara a direção da IstoÉ em agosto de 1993 e no começo do ano seguinte estava saborosamente desempregado. Andrea, que me chamava zio Mino, tio em italiano, bateu à minha porta.

Respondi que gostaria de trabalhar com ele, mas o business está fora dos meus alcances por uma série interminável de razões. Ele insistia. Andrea era apaixonado e duro na queda. Ao cabo declarei meu possível interesse por uma revista destinada a analisar o poder onde quer que se manifestasse, sem exclusão do mundo dos negócios.

Nasceu ali o projeto da CartaCapital, Carta não por minha causa, mas por ser publicada pela editora do mesmo nome. Quanto a Capital, cuidei de esclarecer na edição número 1: ‘Significa principal, essencial, fundamental, decisivo, determinante. Mas capital também é substantivo, e significa valor econômico, centro administrativo de um país, riqueza na sua acepção mais estreita e mais vasta. A escolha do nome não indica mania de grandeza: explica simplesmente o propósito de uma CartaCapital endereçada ao coração do poder’.

Meu irmão estava em Madri, onde fora convocado pela Condé Nast para fundar e dirigir na Espanha mais um feudo do império da família Newhouse. E de Madri abençoou o empreendimento. Era fim de março de 94, faleceria menos de um mês depois, colhido antes de completar 58 anos por uma doença que não perdoa. O trabalho de preparação iniciou-se no começo de junho, e o primeiro passo foi uma reunião a quatro, com Bob Fernandes e Nelson Letaif, companheiros de aventuras anteriores, Senhor e IstoÉ, mais Wagner Carelli, o filho pródigo. Estivera comigo na IstoÉ do final dos anos 70 e no Jornal da República, fracasso esculpido por um santeiro de cemitério, do qual me orgulho. Presentes também um correspondente de Paris, Gianni Carta, e a minha irredutível secretária (hoje há 20 anos), Mara Lúcia.

CartaCapital não desfigurou como mensal e em março de 1996 tornou-se quinzenal, sem deixar de manter o projeto inicial, ao valorizar as áreas econômicas, macro e micro. Não se deu por acaso que a revista Exame publicasse anúncios para recomendar: recuse imitações. (Clique na imagem acima para ver uma seleção de capas anteriores).

O pendor pela política acentuou-se aos poucos. Era desfecho inevitável. Memorável, no meu entendimento, a capa da primeira edição de janeiro de 1999: colocava o presidente FHC em um círculo de fogo e exclamava: quebramos! Recordo que naquela semana Andrea Carta convocou uma reunião de publicitários para assistir a um debate entre Delfim Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo. Cabia-me o papel de mediador e o assunto foi a chamada conjuntura.

A platéia seleta ficara revoltada com a nossa capa e não deixou de manifestar seu desagrado. No entanto, o Brasil estava mesmo quebrado e FHC acabava de cometer um dos grandes engodos eleitorais da história nativa. Depois de prometer campanha afora a estabilidade da moeda, desvalorizou o real tão logo tomou posse na Presidência pela segunda vez.

Difícil é praticar no Brasil um jornalismo independente, isento, honesto. Nem por isso perdemos a oportunidade de prosseguir na escalada e em agosto de 2001, exatos sete anos depois do lançamento da mensal, CartaCapital virou semanal, ao definir claramente seu papel de revista de política, economia e cultura.

A situação havia mudado bastante. Dos pais fundadores sobravam Bob Fernandes e o acima assinado, sem que pudesse ser esquecida a bela contribuição de Carelli e Letaif. (Bob também saiu em dezembro de 2005, depois de ter mostrado todo seu talento de grande repórter). A redação crescera, aparelhada para a tarefa mais complexa, mas sobretudo surgira uma nova empresa, a Editora Confiança, para abrigar CartaCapital e cogitar da ampliação do leque editorial.

Na Confiança, Luiz Gonzaga Belluzzo e eu selamos com uma singular sociedade empresarial uma amizade de quatro décadas. Fique claro que Manuela Carta, a publisher, e o próprio Belluzzo tratam de me deixar afastado do negócio, de sorte a não comprometê-lo. Como já disse, não tenho a mais pálida vocação para o business.

No editorial da primeira semanal sublinhava que a revista permanecia atada aos princípios defendidos desde o nascimento: fidelidade canina à verdade factual, exercício desabrido do espírito crítico, fiscalização incansável do poder onde quer que se manifeste. No nosso entendimento – o plural não é majestático, indica o consenso da alameda Santos, 1.800, 7º andar, São Paulo, Brasil – tais são os requisitos do bom jornalismo. Aquele que busca nivelar por cima, voltado para os interesses da nação em peso. Leitores, ou não, queremos brasileiros cada vez mais conscientes em lugar de um público imbecilizado, a trafegar entre chavões e mentiras.

A transformação em semanal, meta de chegada sempre perseguida, implica ainda questões propostas pelo jornalismo dos começos do século XXI. Quando fui chamado pela Editora Abril para dirigir aquela que seria a Veja, tratava-se de editar o primeiro newsmagazine brasileiro. Vinha de estágios no L’Express, na Der Spiegel, na Time e na Newsweek. Na época, as americanas eram o modelo mais celebrado, e o foram, de um pólo ao outro, por muito tempo.

Que sentido teria agora repetir o padrão para uma platéia submetida diuturnamente à hegemonia da informação? Notícias nos alvejam da aurora à calada da noite. Quisemos aplicar uma receita adequada aos tempos, e mais uma vez o plural não é majestático. A novidade não está apenas no enfoque independente, que resulta, neste nosso Brasil, em navegação contra a corrente. Está em mais dois pontos capitais. Primeiro: seleção rigorosa dos assuntos, aqueles que determinam o futuro próximo ou remoto, abordados em profundidade, a bem de um jornalismo dito investigativo, pronto, inclusive, a atingir qualidade literária. Por que não?

Segundo: análise dos fatos entregue a quem dispõe de autoridade para tanto, de Raymundo Faoro, nosso Profeta, que infelizmente nos deixou faz cinco anos, a Delfim Netto. De Thomaz Wood a Marcio Alemão. De Belluzzo a Wálter Fanganiello. De Nirlando Beirão ao Doutor Sócrates. Etc. Etc.

Não pretendemos que os leitores concordem conosco e sim que levem em conta, sem preconceitos, sem tolos mergulhos na banalidade e no clichê, a opinião de quem merece respeito.’

 

CINEMA
Camila Alam

Blockbuster, 13/6

‘O Incrível Hulk, nos cinemas a partir de 13 de junho, faz jus à história do cientista Bruce Banner (Edward Norton) e seu alter ego, também conhecido como Golias Esmeralda. Mais fiel que a primeira adaptação, dirigida por Ang Lee, em 2003, o novo filme começa com um Banner acuado, escondido nas estreitas ruas da Favela da Rocinha, viciado na eterna busca pela cura de sua anomalia.

Mas, logo, ele é encontrado pelo General Thunderbolt Ross (William Hurt), que ordena ao soldado Emil Blonsky (Tim Roth) que execute o cientista. O general não contava, porém, com a revolta do subordinado, transformado em uma criatura de alto poder destrutivo.

Segue-se, então, o confronto entre Hulk, agora confiante e feroz, e o Abominável, como é conhecido seu inimigo. As cenas de ação são carregadas de tensão. E nem poderia ser diferente, já que o filme é dirigido por Louis Leterrier, da série Carga Explosiva. O ótimo elenco impulsiona a nova empreitada da Marvel, após o desastre da primeira versão. Há participações especiais do criador do personagem, Stan Lee, Lou Ferrigno, que deu vida ao Hulk na série de tevê nos anos 80, e Robert Downey Jr., na pele do Homem de Ferro.’

 

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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