INTERNET
Liberdade para baixar músicas por assinatura, 21/11
‘A solução para a pirataria musical ainda não foi encontrada. O empreendedor americano John Buckman apostou na liberdade total como modelo e fundou o Magnatune, um site de músicas e também gravador ‘que não é maligno’, segundo o bordão inscrito na página de internet (www.magnatune.com). O fundador atirou para todos os lados e esperou os resultados.
O Magnatune funciona de duas maneiras. Na tradicional, vende faixas a granel ou o disco inteiro, como faz a Apple no iTunes. Na inovadora, lança mão de assinaturas. Por 5 dólares, o usuário pode ouvir todo o catálogo da companhia por meio da internet. Por 10 dólares, pode ouvir e baixar qualquer música. A enorme diferença é que o arquivo baixado não tem restrição quanto a cópias, transferências, transmissões ou qualquer outro procedimento que permita que a música seja passada para outro consumidor que não tenha efetuado a compra original.
Isso implica a existência de um novo conceito. O comprador é dono do produto final e pode fazer dele o que quiser. Fica claro que Buckman confia que o consumidor tenha bom senso e não passe o arquivo para uma centena de amigos. O site pede que não seja copiado mais do que um disco ao mês para outros usuários, mas a opção fica com quem pagou pela faixa. Atualmente, as grandes gravadoras se entendem donas, por exemplo, do CD comprado por um garoto de 15 anos, que não pode sequer copiar as faixas para um tocador de mp3 de uso pessoal, porque as mesmas são protegidas por tecnologias avançadas.
Buckman explica um pouco do raciocínio por trás da empreitada num texto de apresentação da empresa. ‘Pensei em criar uma gravadora que tivesse uma noção precisa do que fazer. O site ajuda os artistas a conseguir maior exposição, ganhar ao menos a mesma quantia de dinheiro que teriam com os selos tradicionais, angariar mais fãs e ter seus shows promovidos. Meu objetivo é criar uma gravadora que viva na realidade da internet. Isso inclui transferência de arquivos, rádio on-line, direitos autorais, enfim, tudo o que o ambiente virtual engloba’, escreve o empresário.
O modelo de assinaturas pode parecer um gesto desesperado por ser tão permissivo, mas Buckman sustenta que não é uma ‘queima de estoque’ e tem funcionado muito bem para a empresa. ‘Muitos consumidores aderem ao Magnatune diariamente e posso dizer, até com certo orgulho, que temos o dobro do faturamento em assinaturas se comparado ao de vendas de faixas. Estas mesmas assinaturas reergueram nosso negócio e estamos crescendo novamente’, explica. ‘O modo de competir nesse novo mundo é oferecer algo melhor do que o que está disponível de graça, de todas as maneiras que pudermos imaginar.’’
TELES
Redação CartaCapital
E Lula assinou, 21/11
‘Na quinta-feira 20, o presidente Lula assinou o decreto que altera o Plano Geral de Outorgas (PGO). É o sinal verde para que a Oi, sócia de seu filho Fábio na Gamecorp, incorpore a Brasil Telecom.
Quem defende a idéia argumenta que a mudança contempla a atual tendência do mercado mundial de telecomunicação, de concentração. E que a união dará ao Brasil uma empresa nacional capaz de competir internacionalmente. Os detalhes político-policiais prefere-se esquecer.
Sob o comando do delegado Protógenes Queiroz, a Operação Satiagraha, que tantas dores de cabeça trouxe ao governo, a ponto de provocar uma guerra interna na Polícia Federal e entre esta e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), iria redundar inevitavelmente nas articulações que levaram à fusão agora autorizada pelo presidente. Basta reler o relatório de Queiroz para encontrar o fio da meada a unir os anseios particulares e políticos encobertos sob o manto do interesse público.
O delegado, vê-se, está sendo bombardeado. Confia-se que seu substituto, Ricardo Saadi, não desperdiçará as linhas de investigação. De qualquer maneira, o doutor Queiroz produziu durante quatro anos farto material, suficiente para explicar parte essencial das relações de poder no Brasil. E a fusão entre a Oi e a BrT é um capítulo recente e importante.
Lula assinou o decreto. Já o delegado Queiroz continua sentado sobre uma espécie de caixa de Pandora. As conseqüências são imprevisíveis, se o conteúdo desta caixa vier à tona.’
FÁBIO ASSUNÇÃO
O prazer do folhetim, 23/11
‘O inferno astral de Fábio Assunção começou às vésperas de uma telenovela que ia ter o emblemático título de Juízo Final (hoje, A Favorita) – e na qual caberia a ele o papel de um delinqüente irrecuperável (o Dodi, feito por Murilo Benício). Passou por mau momento numa delegacia de polícia de São Paulo ao ser flagrado, no seu flat, com um traficante de drogas. Não era enredo de ficção, não – era a verdade nua e crua.
Aparentemente, a própria família de Fábio fez a denúncia, na presunção caridosa de que, eliminando-se
a causa, suprimido estava o efeito. O ator tentou a volta por cima, num Negócio da China – mas o ser humano por trás da máscara sucumbiu.
Esta é a história, sobre a qual, com aquele sadismo paradoxal de voyeur e de moralista, têm desaguado páginas longas e cavilosas. Aqui, neste Estilo, um parágrafo para o folhetim – está de bom tamanho, não está? A agonia pública de um astro com carisma é de fato uma tristeza, mas a gente acredita que é mais solidário, até mesmo generoso, investigar o fenômeno do que chafurdar no fato.
A tevê é o holofote sob o qual querem se aninhar todos os ansiosos da fama. Fábio Assunção, celebridade relutante, sempre trafegou na contramão. Mas não é só a tevê que chama hoje a atenção. A hiper-histeria midiática multiplica-se em mil canais do que a antropóloga argentina Paula Sibilia, professora
da Universidade Federal Fluminense, chama de ‘o show do eu’ (título do livro que acaba de lançar pela Nova Fronteira).
Show abastecido hoje por uma miríade de blogs, fotologs, pelo YouTube, pelo Facebook, pelo fascínio editorial e autovisual das biografias – sem falar do exibicionismo selvagem dos reality shows e de certos talk shows.
A intimidade, que o desafortunado Fábio Assunção tanto procurou resguardar, sobe aoofertório da banalização. O espírito do folhetim prevalece. Os amigos, muy amigos, amplificam, em supostas manifestações piedosas, os suspiros de dramalhão. Os falsos agentes da moral caem de cacetada.
Bom menino, mocinho virtuoso, protagonista – quase sempre – dos bons sentimentos, Fábio Assunção desabou sob o peso da demanda midiática de servir de exemplo e de espelho. Não será o primeiro nem o único herói problemático a sucumbir, num descuido muito sintomático, à tentação de provar do lado podre da maçã. Ante o deleite deletério dos que hoje fazem da vida o despudor virtual de um videogame, no qual cabe tudo, menos recato e anonimato.’
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