Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Carta Capital


JORNAL NA REDE
Felipe Marra Mendonça


Uma saída graciosa


‘A batalha ideológica do acesso a notícias na internet continua feroz.
Existem dois movimentos díspares e simultâneos. Alguns veículos-, como o New
York Times (www.nyt.com), decidiram abrir o conteúdo das edições on-line depois
de muita reclamação dos leitores, mesmo que continuem à procura do equilíbrio
perfeito entre uma edição gratuita e um serviço pago e exclusivo. Outros, como o
Wall Street Journal (www.wsj.com), decidiram que fornecer notícias de graça não
tem lá muito futuro e têm cobrado o acesso de usuários.


O enredo ganhou um capítulo cativante na primeira semana de novembro. Saul
Friedman, colunista do Newsday (www.newsday.com), pediu demissão do jornal
quando os diretores da publicação decidiram cobrar o acesso. Pedir demissão
durante um período difícil do setor é algo corajoso, mas a beleza da decisão
está nos detalhes. Friedman é um cavalheiro na oitava década de vida e a coluna
que escrevia no Newsday, a Gray Matters (título que pode ser traduzido como
‘matéria cinzenta’), tinha como foco principal assuntos de interesse da terceira
idade.


Não faz parte do estereótipo tão difundido e demonizado pelas grandes
corporações, a horda de jovens que supostamente ‘quer tudo de graça’. O Newsday
tem Long Island como principal freguesia, uma ilha a leste de Manhattan com uma
população eclética. Parte da ilha é ocupada pelos bairros de Queens e Brooklyn,
enquanto a outra ponta tem áreas ricas como os Hamptons. A empresa dona do
jornal, a Cablevision, é líder do mercado de tevê a cabo e do acesso à internet
em Long Island, mas, até a compra do título em 2008, não tinha qualquer
experiência em administrar uma publicação. Logo surgiram especulações de que
isso levaria a decisões potencialmente autodestrutivas. De fato, assim que o
anúncio da cobrança de acesso foi feita, alguns dos seus colunistas, como
Friedman, decidiram pedir demissão do jornal.


A explicação de Friedman para sua saída foi publicada numa página do Poynter
Institute (http://www.poynter.org/forum/view_post.asp?id=14000), escola de
jornalismo localizada na Flórida. É uma explicação sucinta e merece ser lida na
íntegra: ‘A principal razão foi que a nova dona do Newsday, a Cablevision,
cortou o acesso ao site até mesmo para mim. Ele agora só é acessível aos
assinantes do Newsday ou aos que têm o serviço de internet da Cablevision.
Então, eu não posso enviar minhas colunas para as pessoas que não assinam o
Newsday. E se for elencado pelo Google ou pelo Yahoo!, não vai ser acessível aos
usuários não pagantes’.


Outra possibilidade de acesso, não informada pelo jornalista, é pagar 5
dólares semanais para ter acesso ao Newsday. Note-se que Friedman mora nos
subúrbios da capital americana, Washington. Presumivelmente, não é assinante do
Newsday e a área de cobertura impossibilita que a Cablevision seja sua provedora
de acesso à internet.


E o que fará o corajoso Friedman a partir de agora? Escreverá para um blog,
conforme a nota publicada pelo Poynter Institute. ‘Cortei minhas relações com o
Newsday e agora devo escrever para o Time Goes By, de Ronni Bennett.’ O endereço
do blog é www.timegoesby.net e ele serve ao mesmo perfil demográfico contemplado
por Friedman com suas colunas no Newsday. A coluna lhe deseja toda a sorte e
pretende tornar-se leitora voraz de sua nova morada.’


 


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