Friday, 27 de September de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1307

Cesar Tartaglia e Paulo Marqueiro

‘O comando da campanha peemedebista parece viver um dilema. Apesar de poder atribuir ao casal Rosinha Matheus e Anthony Garotinho boa parte do crescimento de quatro pontos percentuais da candidatura de Luiz Paulo Conde (PMDB) na mais recente pesquisa Ibope/TV Globo, o ex-prefeito deve ou não dar visibilidade ao apoio do secretário de Segurança? Os estrategistas de Conde hesitam em levar ao ar, no programa eleitoral, depoimento de Garotinho, que teve sua popularidade arranhada pelas dificuldades que enfrenta na área de segurança.

A dúvida se manifesta principalmente pelo fato de, já na reta final das eleições, até agora Garotinho não ter entrado para valer na campanha.

– Na hora que quiser, ele entra na campanha. Garotinho será sempre bem-vindo – costuma desconversar Conde.

Apesar das portas abertas, o secretário ainda não apareceu no programa eleitoral do partido. O dilema parece não atingir a governadora. Apesar de ter sido excluída do programa de abertura de Conde na TV, Rosinha tem aparecido com mais freqüência no horário eleitoral. Ontem, a principal avalista da candidatura Conde deu um longo depoimento no programa. Já o secretário era esperado para gravar uma mensagem, mas até o início da noite não havia aparecido no estúdio.

De acordo com a última pesquisa Ibope/TV Globo, Conde tem 13% das intenções de voto e está tecnicamente empatado em segundo lugar com Marcelo Crivella (PL), que tem 17%. Cesar Maia, com 44%, lidera a disputa com folga. A margem de erro é de 3,5 pontos percentuais, para mais ou para menos. Em relação à pesquisa anterior, de 27 de julho, Conde cresceu quatro pontos percentuais.

Uma análise mostra que, entre os eleitores que ganham até dois salários-mínimos, Conde subiu de 10% para 18%. Entre os que têm até a quarta série do ensino fundamental, passou de 9% para 17%.’



Flávia Marreiro

‘Zona leste é novo alvo de programas na TV’, copyright Folha de S. Paulo, 2/09/04

‘O esforço para conquistar os eleitores da zona leste, o maior colégio eleitoral da cidade, com 34,7% dos votos, apareceu ontem no horário eleitoral da TV.

As ações e planos para a região foram o principal assunto da prefeita Marta Suplicy (PT) e de Paulo Maluf (PP). José Serra (PSDB) voltou no tempo para abrir seu programa com ação dele na região: o metrô Itaquera, na gestão estadual de Montoro (1983-1987).

A petista e o ex-prefeito valorizaram as obras viárias -a expansão da av. Jacu-Pêssego, que será ligação da região com o aeroporto de Guarulhos e com o porto de Santos, foi o destaque. ‘A obra foi iniciada por Maluf mas está sendo concluída e ampliada por Marta’, disse o locutor do PT no programa exibido à tarde e à noite.

Para colar na imagem de ‘fazedora’ mas se diferenciar da ‘tradição malufista’, a petista fez questão de explicar que as ações fazem parte de um planejamento balizado por consultoria de ‘uma empresa internacional’ para o desenvolvimento e a geração de emprego na área.

‘Isso não é vida’, disse Marta sobre os trabalhadores que têm de sair da zona leste para trabalhar em outras áreas. Junto com a zona sul, a região reúne os piores indicadores sociais da cidade.

Citou os nove CEUs, escolões carro-chefe na campanha, e os telecentros (para acesso à internet) construídos na área e prometeu CEUs-Saúde.

Pesquisa Datafolha divulgada nesta semana revelou que Marta e Maluf são ‘os mais realizadores’ para os eleitores. A prefeita é escolhida por 31%, o ex-prefeito, por 30%, Serra, por 15%.

As obras apresentadas por Marta fazem parte do ‘Plano de Desenvolvimento Econômico da Zona Leste’ iniciado por ela neste ano. ‘[Essas obras] são verdade. Quem está assistindo e mora na zona leste sabe’, disse.

Apresentado na semana passada, o plano de obras de Maluf foi detalhado para a região leste na hora do almoço. Além da menção à expansão da Jacu-Pêssego, citou piscinões e obras de saneamento. À noite, os planos para a zona sul foram detalhados.

Sem obras próprias para mostrar à tarde, Serra apareceu ao lado de várias realizações do Estado, como a expansão do metrô e os piscinões. À noite, com nova edição de imagens, Serra, já apresentado como filho da zona leste (Móoca), citou o metrô de Itaquera como benefício para a área.

Pela primeira vez, Serra mencionou os CEUs: garantiu que eles continuarão. Para falar dos programas sociais, exibiu o Renda Cidadã, de Geraldo Alckmin -uma resposta antecipada aos bem avaliados programas de transferência de renda de Marta, que ainda não apareceram no horário eleitoral.

O tucano aproveitou o programa para alimentar o movimento de ‘voto útil’. Exibiu a última pesquisa Ibope, que o mostra à frente de Marta: 34% contra 30%.’



Fernando de Barros e Silva

‘Eleição, Papai Noel e botox’, copyright Folha de S. Paulo, 2/09/04

‘O verdadeiro Papai Noel de Marta Suplicy não é o simpático Gonzalo Vecina, o médico bonachão que trocou o PSDB pelo PT e aparece no horário eleitoral vendendo o CEU Saúde. O Papai Noel de Marta chama-se bilhete único, iniciativa que agrada a funcionários e empregadores, empregadas e patrões. É estranho por isso constatar que, transcorridas mais de duas semanas de campanha na TV, o PT tenha atirado contra o próprio pé. Jogou luz sobre um assunto no qual a vantagem de Serra é evidente e escondeu a sua cesta de presentes.

Polarizada, a campanha entrou agora em nova fase -e seria ingênuo supor que o PT não vá atuar para corrigir seus equívocos estratégicos. Seja como for, o primeiro round da TV ficou melhor para o PSDB.

Não é fácil saber ao certo o que se passa no coração de uma campanha, ainda mais quando se trata de uma disputa tão acirrada e indefinida como esta que se vê em São Paulo. Mas os sinais emitidos pela candidatura Marta são no mínimo curiosos.

Há uma evidente esquizofrenia entre o ar angelical exibido pela petista -na TV ou nos debates- e o temperamento explosivo da prefeita. A dissintonia entre o estilo água-com-açúcar de Duda Mendonça e o jeito arestoso de Marta ficará tanto mais evidente à medida que as coisas não evoluírem como o PT espera.

O partido não está preparado para perder. Montou uma máquina de propaganda como nunca se viu -milionária quanto aos recursos e leninista nos seus métodos. Nada menos que 20% das residências paulistanas foram visitadas pelo exército remunerado do PT, como mostra na edição de hoje o Datafolha. A campanha tucana visitou apenas 2%.

Marta, porém, está desconfortável no rico figurino que lhe foi proposto. Parece engessada. O que, à sua maneira, talvez seja um sintoma do novo PT. A esquerda sucumbiu ao estilo botox quando chegou ao poder.’



Folha de S. Paulo

‘Excesso de Candidatos’, Editorial, copyright Folha de S. Paulo, 1/09/04

‘A cada novo pleito, quando tem início o horário eleitoral gratuito, chama a atenção o grande número de candidaturas lançadas pelos chamados partidos ‘nanicos’. Na atual campanha de São Paulo, 45% dos candidatos a vereador – 545 de um total de 1.215 postulantes a 55 vagas- são filiados a partidos pequenos, com pouca ou nenhuma representação na Câmara Municipal.

Embora esse fenômeno possa ser considerado como a mera realização de um anseio legítimo por participação política, a abundância de candidaturas tem conseqüências indesejáveis. O excesso, em vez de servir para oferecer mais alternativas ao eleitor, acaba por confundi-lo. É uma tarefa árdua discernir quem é quem nessa floresta de interessados em ingressar na vereança.

É verdade que não se pode negar que essas candidaturas sejam legítimas. Todo cidadão, salvo em circunstâncias excepcionais, tem direito a concorrer a cargos públicos. Além disso, as normas eleitorais vigentes facultam a cada partido a possibilidade de inscrever um número de candidatos equivalente a 150% das vagas da Câmara Municipal, criando a proteção legal para a multiplicação de postulantes.

No entanto as aparições dos ditos ‘nanicos’ na televisão -repetidamente marcadas por propostas mirabolantes, bordões bizarros e atuações histriônicas- corroboram a impressão de que, em alguns casos, partidos pequenos assumem a clássica e nefasta figura da legenda de aluguel. A ausência de discurso programático e a representatividade quase nula dessas agremiações sugerem que muitas delas se prestam a abrigar personagens que desejam tirar algum proveito pessoal da exposição na mídia propiciada pelo horário eleitoral gratuito.

Essa situação não deixa dúvida de que, a despeito das conquistas democráticas obtidas pela sociedade, ainda há muito a avançar no aprimoramento do sistema partidário e da cultura política no país.’