Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Cláudia Collucci

‘Cris foi chamada de recalcada pela cunhada. Odete, proibida de passear no playground com o sobrinho. Heloísa, impedida de acariciar a barriga da amiga grávida. Em comum, têm o fato de sofrerem dificuldades de gravidez e colecionarem histórias de preconceito por causa dessa condição.

Na semana passada, ONGs que tratam de questões ligadas à infertilidade enviaram mensagens de protesto à Rede Globo em razão de cenas da novela ‘Senhora do Destino’ que reforçariam falsos estereótipos em relação à mulher infértil.

Na trama, a vilã Nazaré (Renata Sorrah) é estéril e seqüestrou Isabel (Carolina Dieckman) quando ela era bebê. Adulta e grávida, Isabel descobre as mentiras da falsa mãe e diz pérolas do tipo ‘ela [Nazaré] me olhou com o ódio de uma mulher estéril para uma grávida’, ‘você [Nazaré] é seca’, ‘nunca vai entender o que é amor porque nunca foi mãe’ e ‘sua barriga é oca’.

A personagem Maria do Carmo (Suzana Vieira), mãe de Isabel, também não deixa por menos. Ofendida por Nazaré, devolve o insulto com algum termo pejorativo referente à condição de estéril da vilã.

‘é um absurdo. Os termos seca e oca são pejorativos, cruéis. Em hipótese nenhuma devemos permitir que sejam associados à infertilidade’, diz Odete dos Santos, 46, da ONG Projeto Ser Mãe, que reúne mulheres com dificuldade de gravidez ou vítimas de abortos.

Para a psicóloga Helena Lima, professora da PUC e presidente da ONG Statamo, de educação e saúde, retratar o ‘olhar da mulher estéril’ como nocivo ou maléfico e ter a bondade refletida na fertilidade (Maria do Carmo) ‘é ótimo para entreter, mas tende a reforçar preconceitos’. ‘Mulheres sem filhos já sofrem bastante. No Brasil, esse preconceito é imenso e ainda gera outros preconceitos sociais e raciais.’

A psicóloga Luciana Leis, que trabalha com casais inférteis, reforça que é preciso tomar cuidado com as possíveis associações que podem ser criadas a partir de Nazaré. ‘Ao escolherem uma personagem má e instável emocionalmente para representar a esterilidade, pode-se pensar que toda mulher infértil tenha distúrbios psicológicos’, diz.

Estima-se que 2,1 milhões de casais brasileiros sofram dificuldades de gravidez. Desses, pelo menos 500 mil vão precisar recorrer a tratamentos mais complexos, como a fertilização in vitro (FIV), conhecida por ‘bebê de proveta’. Porém, menos de 2% deles têm condições de se tratarem em clínicas privadas, que chegam a cobrar R$ 18 mil por ciclo de FIV.

Há uma semana, o governo federal anunciou que estuda oferecer tratamento de reprodução assistida na rede SUS, como parte da política nacional de planejamento familiar.

O médico Selmo Geber, professor de ginecologia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), lembra que esse tipo de distorção faz com que casais que enfrentam dificuldades de gravidez se sintam ainda mais isolados.

Rose, 38, concorda. Casada há 11 anos, ela tenta engravidar há 9. Já tentou várias induções de ovulação com medicamentos, quatro inseminações e três FIVs.

‘Eu e meu marido nunca falamos para ninguém da nossa dificuldade de engravidar. Não conseguiríamos conviver com pessoas sentindo pena, ironizando-nos. é mais fácil dizer que não queremos filhos.’’



Daniel Castro

‘Autor protesta pela própria aposentadoria’, copyright Folha de S. Paulo, 20/02/05

‘Seu Jacques, personagem de Flávio Migliaccio em ‘Senhora do Destino’, não é só o porta-voz de milhares de aposentados que freqüentam as filas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) reclamando a revisão do benefício.

Seu Jacques, que vive dizendo que não morre sem ter sua aposentadoria corrigida, é um alter ego do próprio autor da novela, Aguinaldo Silva, que deve embolsar cerca de R$ 3 milhões em salários e comissões por merchandising com ‘Senhora do Destino’.

Silva, antes de ser um bem pago autor de novelas de sucesso, foi jornalista e, em 1997, se aposentou como tal. Recebe atualmente R$ 493 mensais.

‘Estou esperando há exatos sete anos que eles [do INSS] refaçam o cálculo de minha aposentadoria, que, por engano, foi feito para baixo’, diz Silva.

Segundo Silva, a história de Seu Jacques, assim como a dele próprio, ficará aberta no final da novela das oito _ou seja, ele não conseguirá a tão sonhada revisão da aposentadoria.

Mas Silva adianta que Seu Jacques também não irá morrer. ‘E ainda ganha um prêmio, já que reencontra Djenane [Elisângela], sua morena. Não me pergunte como, é surpresa’, diz o autor.

Para quem não se lembra ou não assiste à novela, Djenane foi vítima fatal da escada assassina de Nazaré (Renata Sorrah).

OUTRO CANAL

Letras Marcello Antony quer virar escritor. Após ‘Senhora do Destino’, ele viajará para o Nepal e pretende escrever um livro sobre a experiência. O ator se prepara para a jornada investindo no condicionamento físico. E passou a tomar ‘revitalizantes’ à base de gengibre, geléia real e extratos vegetais, indicados por Suzana Vieira, sua mãe na ficção.

Fundo A Record anda assediando pesadamente o galã Marcos Palmeira. Quer que ele seja o protagonista de uma de suas próximas novelas. O ator, daqueles que a Globo não gostaria de abrir mão, resolveu dar um tempo da emissora carioca para interpretar o papel-título da minissérie ‘Mandrake’, da HBO.

Plano B Marcelo Menezes, que participou de ‘O Aprendiz’, não conseguiu ganhar o emprego nem levar Roberto Justus para uma ilha deserta _desejo que revelou no programa. Mas ‘faturou’ a funcionária de Justus que fazia o papel de secretária no ‘reality show’. Os dois estão namorando.

Escala A novela ‘América’ ainda nem estreou, mas Jayme Monjardim, seu diretor, já está escalado pela Globo para comandar a próxima minissérie da emissora, sobre Juscelino Kubitschek, que Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira vão escrever.’



TV / AÇÃO AFIRMATIVA
Isabelle Moreira Lima

‘‘Excluídos’ invadem o horário nobre’, copyright Folha de S. Paulo, 20/02/05

‘Para bom observador, meia novela basta: 2005 é o ano da ação afirmativa na televisão brasileira. Na faixa de maior audiência da Globo, a ‘Senhora do Destino’ é uma nordestina. Uma hora mais tarde, com o ‘Big Brother Brasil 5’, os telespectadores podem acompanhar o confinamento de um grupo de 12 pessoas, entre eles três negros e cinco nordestinos, sendo um homossexual. Em outros canais, o cenário não é diferente. Ao mudar de canal, ainda durante a noite, encontra-se desde o drama colonial ‘A Escrava Isaura’ (Record) até a melodramática ‘Esmeralda’ (SBT), ambas com negros no elenco.

Para estudiosos ouvidos pela Folha, a maior presença na TV de grupos da sociedade considerados excluídos é óbvia e tem explicação, principalmente comercial. ‘Uma segmentação de mercado, que acontece com viés democrático’, como explica o antropólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Edmilson Felipe. A imagem dos grupos hoje é menos caricatural do que a mostrada há uma década, mas ainda tem estereótipos.

‘Não há representação positiva do negro na TV em papéis como advogado, médico, empresário. A televisão ainda peca por isso’, afirma a doutora em antropologia social pela Universidade de São Paulo Eliana Oliveira. Para ela, há uma mudança, mas ainda não é suficiente pelo contingente da população negra. ‘Os papéis dos negros são sempre inferiores, de submissão. Há grandes talentos, é preciso observar a diversidade.’

Para o antropólogo da Universidade de Brasília José Jorge Carvalho, autor da proposta de cotas da instituição, o tipo de inclusão racial feito nas novelas é conservador e não-revolucionário porque isola um núcleo negro do resto dos personagens das tramas. ‘Na TV, [a inclusão] é a conta-gotas e, se continuar assim, pode acontecer um efeito perverso. A TV fica mais racista’, diz. Ele cita o caso de Taís Araújo em ‘Da Cor do Pecado’. ‘É uma negra no papel principal, mas é a negra no papel sensual, não é uma cirurgiã.’

Quando o ‘excluído’ em questão é homossexual, as críticas não são diferentes. A doutora em comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro Cida de Sousa acredita que apenas os personagens estereotipados são bem aceitos. ‘Todas as novelas que trataram do tema de forma estereotipada não causaram problemas. Quando o homossexual é normal, aí é complicado’, diz. ‘As garotas [casal de lésbicas de ‘Senhora’] não estão incomodando porque o foco não recai sobre elas’, diz.

Sousa também aponta problemas na construção da imagem do nordestino causada pela falta de pesquisa. Para a professora, o contexto da TV pede a inserção de todos os grupos. ‘Mas ela faz isso da maneira menos inteligente, dentro da cultura do estereótipo’, afirma, lembrando ‘Tropicaliente’ (1994), em que os atores cearenses ‘falavam de uma forma que ninguém fala no Ceará’.

Maria do Carmo e Lula

O antropólogo Edmilson Felipe, no entanto, vê um lado bom no ‘boom’ da nordestinidade na TV, liderado por Maria do Carmo, personagem de Suzana Vieira em ‘Senhora do Destino’.

‘A figura do nordestino que venceu pode ser uma coisa positiva. Há a idéia da força, de continuar batalhando, de não desistir das coisas. É jogar um pouco isso, que também é a trajetória do Lula, um predestinado, que sofreu a vida inteira, um analfabeto, mas que hoje é o presidente. É um alento para as pessoas.’

Mas Felipe faz uma ressalva: ‘Óbvio que nós sabemos que [vencer] é uma coisa muito difícil porque há preconceitos e problemas, mas acredito que a personagem passa uma mensagem muito importante da figura ética’.’



SBT
Daniel Castro

‘SBT tem lucro de R$ 3 milhões em 2004’, copyright Folha de S. Paulo, 19/02/05

‘Depois de um prejuízo de R$ 33,7 milhões em 2003, o SBT fechou 2004 com um lucro líquido de pouco mais de R$ 3 milhões. Parece muito pouco para a segunda maior rede de TV do país, que registrou uma receita publicitária líquida (já descontadas comissões de agências) de R$ 600,353 milhões. Mas poderia ter sido pior.

Os executivos do SBT passaram o ano todo tentando evitar prejuízo. A emissora, apesar de demitir funcionários e cortar custos administrativos e de produção, só não fechou 2004 no vermelho porque teve uma reação espetacular no último trimestre, quando cresceu 25% (R$ 180 milhões), seu melhor resultado trimestral.

Os resultados foram anunciados anteontem em encontro com afiliadas. O faturamento de 2004 representa um crescimento de 16% sobre 2003, inferior à média do mercado de TV (cerca de 20%). Para 2005, o SBT prevê crescer de 11% a 15% em um cenário conservador e até 22% em uma perspectiva otimista.

A pequena margem de lucro do SBT se justifica pelos altos custos pelos direitos de filmes, desenhos e novelas, que consumiram cerca de R$ 200 milhões no ano.

A Globo cresceu em média 24% em 2004 _28% das emissoras da família Marinho (faturamento de R$ 4,2 bilhões) e 18% das afiliadas (R$ 1 bilhão). Seu lucro bruto (antes de amortizações, depreciações e impostos sobre o lucro) deve ficar em torno de R$ 800 milhões.

OUTRO CANAL

Ondas 1 A Band está se tornando a maior controladora de rádio do país. O grupo já tinha a Bandeirantes AM e a Band FM, que somam 92 emissoras no país. Em 2004, passou a gerir a Sucesso FM. Acaba de comprar a Nativa, uma das líderes de São Paulo.

Ondas 2 Na negociação com a família Camargo, ex-dona da Nativa, a Band também incorporou a pop 89 FM e a ‘adulta’ Alpha. Pelo acordo, as estações continuam sendo da família Camargo, mas passam a ser geridas pela Band. José Ernesto Camargo assume o cargo de vice-presidente de rádio da Band. A idéia é criar redes nacionais para cada uma dessas emissoras.

Notícia Um importante executivo do SBT, defensor do investimento em jornalismo, almoçou anteontem com Boris Casoy. Mas o telejornal que a emissora vinha exibindo às 21h já saiu do ar.

Negativo Octavio Florisbal, diretor-geral da Globo, nega os rumores de que promoverá uma reformulação do organograma da emissora, que incluiria a volta do cargo de diretor-geral de São Paulo. ‘Não há reestruturação interna na TV Globo’, afirma.

Ufa ‘Senhora do Destino’ é um sucesso de audiência, mas sua trilha sonora praticamente passou despercebida. Só agora, faltando menos de um mês para a novela acabar, emplacou um grande hit nas FMs: ‘Calling All Angels’, de Lenny Kravitz.’