Quarta-feira, 2 de abril de 2025 ISSN 1519-7670 - Ano 2025 - nº 1331

Clóvis Rossi

‘Fazia tempo que não me permitia o luxo de mergulhar em discussões intensas sobre o ofício de jornalista. A Fundación para un Nuevo Periodismo Iberoamericano, criado pelo Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, deu-me esse presente.

Melhor ainda: discussões que envolveram jornalistas muito jovens, abaixo dos 30 anos, e outros de tremenda experiência, como o colombiano José Salgar, ativo e instigante nas idéias aos seus 85 anos, dos quais 70 como jornalista.

Profissionais de 14 países envolveram-se diretamente nos debates, número suficiente para mostrar que uma nuvem de perplexidade cerca a profissão no mundo todo (detalhe: perplexidades que nem remota nem tangencialmente são tocadas pelo projeto de criação dos conselhos de jornalismo no Brasil).

Seria impraticável resumir aqui todas as perplexidades, mas uma delas me parece a central. Começa pela constatação de que houve uma queda forte na venda de jornais em quase todo o mundo (o debate foi essencialmente sobre mídia impressa). Continua com a avaliação de que é a internet que está devorando os leitores dos jornais.

Se fosse só isso, o problema poderia resumir-se a transferir os jornais do papel para os meios eletrônicos. O diabo é que, segundo cálculos exibidos nos seminários (referentes aos Estados Unidos), o lucro de um ano de um site de jornal na internet eqüivale ao lucro de uma semana de um jornal impresso.

Ou, posto de outra forma: o jornal pela internet não é suficientemente rentável para sustentar uma Redação como as que hoje fazem o jornal em papel (por mais que tais Redações tenham sofrido brutais lipoaspirações nos últimos anos).

Não é difícil entender, por isso, a perplexidade tanto de velhinhos como eu, para quem o jornal em papel faz mais parte da vida diária do que o fato de o sol nascer todos os dias, como a da garotada, que tem dificuldade para ver um lugar no futuro que já chegou.’



INTERNET
Ethevaldo Siqueira

‘A luta mundial contra a fraude na internet’, copyright O Estado de S. Paulo, 5/09/04

‘Quase a metade de tudo que circula na internet é lixo. Trocando em miúdos: no Brasil e no mundo, os usuários da internet estão sendo inundados por uma onda de spams, de vírus, de pornografia, de pedofilia, de propaganda nazista, de roubo de dados, de comercialização de produtos pirateados, de medicamentos falsos, de propostas mentirosas, de endereços e remetentes apócrifos e oferecimentos semelhantes. Como acabar com os abusos e a fraude na internet?

Para que possamos utilizar em paz e com segurança a parte boa da rede mundial, temos que enfrentar os responsáveis pelo lixo. A luta não é fácil nem vai durar pouco tempo. E, para obter algum resultado, tem de ser de toda a sociedade, aí incluídos o cidadão, a indústria e o governo.

Uma boa parte da ação corretiva depende de cada usuário. Você, leitor, pode ajudar nesse combate à fraude, de diversas formas. Eis, a seguir, alguns conselhos práticos nesse sentido:

Proteja seu computador. Invista em recursos de segurança contra vírus e spams. Vale a pena.

Rejeite o anonimato. Não abra nenhuma mensagem suspeita, sem identidade, com endereço falso ou assunto malicioso. Delete esses e-mails sem pestanejar. E o maior castigo: não compre nada de sites anônimos ou apócrifos.

Não pague antes. Desconfie de todas as ofertas que lhe pedem pagamento antecipado.

Rejeite ofertas milagrosas. Não se iluda com propostas mirabolantes, em especial, de produtos pirateados. Se decidir comprar por mero impulso, saiba que vai perder dinheiro e ainda vai alimentar a corrupção.

Não compre remédios. Não se entusiasme com ofertas de medicamentos, genéricos ou não, sem receita médica, sem as exigências legais, apenas porque os preços lhe parecem tentadores. Muitos desses remédios são falsos.

Você porá em risco sua saúde e a de seus familiares. Não acredite nas milhares de propostas de aumento do tamanho de qualquer órgão de seu corpo.

Não tema ameaças. Não leve a sério e-mails com avisos de cobranças ou advertências ameaçadoras para pagamento de débitos fictícios ou para fazer a limpeza de seu nome em órgãos de proteção do crédito (como Serasa, Serviço de Proteção ao Crédito, Receita Federal ou outros). Esses órgãos não se comunicam via e-mail com ninguém. Jamais forneça seus dados de CPF, RG, endereço e telefone em resposta a esses malandros. É exatamente isso que eles buscam.

Nunca informe sua senha. Mais ainda: não forneça seus dados pessoais para nenhum suposto ‘recadastramento’ e, jamais, revele a senha de sua conta bancária. Só forneça seus dados pessoais mais detalhados a sites conhecidos, com tradição, nome e credibilidade e, de preferência, em ambientes seguros.

Nada de correntes. Não seja imaturo nem ingênuo: não entre em correntes da felicidade.

Não estimule a ação de malandros anônimos que lhe fazem mil ofertas tentadoras, sempre com pedido de depósito antecipado, para a compra de CDs com 500 obras literárias, cursos de oratória, ou de violão, manuais de boas maneiras ou conquistas amorosas.

Outra parcela da ação corretiva cabe à indústria, produzindo melhores softwares de proteção, tais como os firewalls, antivírus e anti-spams.

Logins falsos – Nessa luta contra a fraude eletrônica, cabe ao governo adequar a legislação, fiscalizar e punir com o maior rigor. É preciso acabar com os remetentes e logins falsos, uma das formas mais freqüentes de se enganar o destinatário. Enquanto não dispusermos de softwares capazes de filtrar com eficácia os spams, a única forma de combatê-los é deletar pura e simplesmente a mensagem intrusa, sem sequer abri-la. Assim tenho feito.

Crime e castigo – Nos Estados Unidos, país campeão mundial de spams, uma nova lei está sendo aplicada no combate aos fraudadores. Em agosto, foram presas mais de 300 pessoas, acusadas de enviar milhares de e-mails com propostas enganosas, furto de identidade e tentativas de estelionato na internet, segundo noticiou o jornal The New York Times. Os culpados ficarão na prisão até por cinco anos.

Enquanto não havia risco de punição – desde a aprovação da lei até agora – o percentual de spams na internet norte-americana cresceu de 58% para 65%, segundo a empresa Symantec. Em muitos casos, juntamente com os spams, são enviados anexos com vírus que causam enorme prejuízo aos usuários da internet em todo o mundo.

Mesmo com toda a dificuldade atual em localizar e aplicar a punição aos chamados ‘spammers’, é possível aprimorar os meios e identificá-los com maior rigor. O que todos os usuários deveriam fazer é rejeitar sistematicamente as propostas de negócios suspeitos e recusar qualquer e-mail suspeito, com falso remetente ou assunto mentiroso. Os fraudadores da web devem ser, sim, reprimidos com o maior rigor.

Embora seja mundial, o problema é muito mais grave nos Estados Unidos, no Brasil, na Rússia e na Polônia, como demonstra uma pesquisa recente feita por empresas especializadas, tais como a Sophos, fornecedora de soluções corporativas antivírus e anti-spam. Um desses estudos mostra que os spammers são sempre mais ousados e não temem a punição, até que ela aconteça. A polícia polonesa, por exemplo, prendeu recentemente uma gangue de mais de uma centena de hackers que vendiam música pirateada e filmes na web.’



Robson Pereira

‘Nova safra de vírus chega ao mercado’, copyright O Estado de S. Paulo, 1/09/04

‘Uma em cada dez mensagens eletrônicas enviadas pela internet em agosto estava acompanhada de arquivos com vírus ou outras pragas digitais criadas por uma nova geração de criminosos – que em vez de AR-15, AK-47, UZI ou Glock utilizam armas candidamente batizadas como Zafi, Netsky, Bagle, MyDoom ou Mimail, entre outras, todas com enorme poder de destruição.

Somente no mês passado, a Sophos, uma das principais empresas européias da área de segurança digital, identificou e criou vacinas para 1.157 tipos diferentes de vírus, uma produção 85% maior do que a média mensal registrada ao longo de 2003 e a segunda maior marca em toda a história da internet. Com a nova safra, o arsenal de pragas digitais espalhado por aí alcançou a fantástica marca de 92.645 espécies diferentes, criadas com os mais diversos objetivos – todos criminosos, evidentemente.

Além do crescimento contínuo e acelerado do catálogo de armas digitais, os relatórios da Sophos (www.sophos.com) chamam a atenção para a sofisticação das novas famílias de vírus, capazes de uma atuação cirúrgica, como aquelas utilizadas em guerras recentes transmitidas pela TV. Um dos exemplos citados é o Banker, em suas variações AR e K (como os fuzis), projetadas exclusivamente para o ‘mercado’ brasileiro.

A tática imaginada pelos seus criadores, o uso de programas espiões para capturar dados pessoais e bancários da vítima, não chega a ser novidade na internet. Tampouco, a forma como ele entra nos computadores – quase sempre anexado a uma mensagem eletrônica. O que preocupa no Banker, a ponto de torná-lo uma terrível ameaça, é a estratégia.

Uma vez instalado no computador, o Banker permanece ‘adormecido’, esperando a hora do ataque, que só vai ocorrer quando o usuário – a vítima, vale dizer – acessar o site do seu banco. A partir daí, o espião simula uma página falsa de login, abrindo espaço para a captura de senhas, números de contas e outras informações cadastrais.

Vários outros programas fazem isso, mas a diferença fundamental, no caso do Banker, é que ao ser ativado durante o acesso a uma página verdadeira é grande a chance de levar o usuário a supor que está em um ambiente seguro, sem desconfiar que está prestes a cair numa engenhosa arapuca.

Outra evidência da sofisticação das novas famílias de vírus que chegaram recentemente ao mercado está na descoberta do Rbot-Gr, também conhecido como Spybot, uma praga especialmente concebida para atacar a garotada apaixonada por jogos online, como o Counter-Strike e o Unreal Tournament, dois campeões de audiência entre a turma mais jovem.

Além de focado para uma faixa bem definida de público, o Spybot utiliza uma técnica inédita até agora para monitorar a atividade das vítimas durante as sessões online: câmeras de vídeo e microfones eventualmente instalados no computador. Os dados capturados (cadastros ou qualquer outro arquivo armazenado no computador) são transferidos por um canal de IRC, possibilitando ao invasor o controle remoto da máquina infectada.

Os analistas da Sophos acreditam que a descoberta do Spybot inaugura uma nova tendência na escalada de crimes praticados com o auxílio do computador:

o alvo definitivamente passou a ser o usuário doméstico, aquele que se sente seguro e a salvo no aconchego do seu quarto.

Roupa nova, golpe antigo Chegou a vez das concessionárias de serviços públicos servirem de isca para os usuários menos atentos. Desde a semana passada, vários e-mails enviados em nome de empresas telefônicas, de abastecimento de água e de energia elétrica tentam atrair incautos para um golpe antigo: o roubo de dados pessoais para crimes ainda maiores.

Uma das mensagens que caiu na minha caixa postal simula um ‘comunicado da Embratel’ informando a existência de ‘uma pendência’ em relação a uma suposta conta telefônica e a iminência de meu nome ser enviado para o cadastro de inadimplentes do Serasa.

‘Clique no link abaixo para confirmar o seu endereço, número do telefone e demais dados cadastrais, incluindo o valor do débito das contas em atraso’, sugere a mensagem. O programa espião, auto-executável, oculto no texto e na foto sorridente da sósia mirim da atriz Ana Paula Arósio, está instalado em um serviço de hospedagem gratuita de páginas web. Todo o cuidado é pouco.’



Portal Exame

‘Depois da internet, capital de risco dos EUA busca novas áreas e cresce’, copyright Portal Exame, 3/09/04

‘Quatro anos após o estouro da bolha da internet, o mercado de capital de risco começa a dar sinais de retomada. No segundo trimestre, os investimentos cresceram 22% sobre o mesmo período do ano passado, atingindo 5,8 bilhões de dólares, contra 4,7 bilhões nos Estados Unidos (leia também reportagem de EXAME sobre capital de risco). Segundo analistas, os investimentos de risco devem aumentar 11% neste ano, passando de 18 bilhões de reais, em 2003, para 20 bilhões. Dois motivos explicam a expansão. O primeiro é o próprio aquecimento da economia americana, que fomenta a abertura de novos negócios. O segundo é o redirecionamento do capital de risco da internet para outras áreas, como o setor de saúde e equipamentos médicos.

Quando se considera a fase do empreendimento em que os investidores aplicam seu capital de risco (abertura, desenvolvimento inicial, expansão de empresa consolidada, etc), o interesse recai sobre empresas recém-inauguradas ou em fase de abertura, conforme pesquisa da consultoria Venture Economics citada pelo jornal americano The New York Times. No segundo trimestre, 231 companhias em fase de abertura receberam investimentos de risco. Em igual período do ano passado, o número foi de 207. Segundo a pesquisa, esse grupo representou 30% do total de investimentos de risco realizados no período – a maior taxa dos últimos três anos.

Em relação ao tipo de negócio que está atraindo os investidores, o maior destaque é o conjunto de empreendimentos voltados às ciências da vida, como biotecnologia, saúde e equipamentos médicos. Juntas, essas empresas responderam por 25% do capital de risco desembolsado entre abril e junho, conforme levantamento da Pricewaterhousecoopers, também citado pelo New York Times.

Apesar da elevação dos desembolsos de risco, os analistas são unânimes em afirmar que o mercado não voltará mais aos patamares de 1999, auge da expansão da bolha da internet. Naquele ano, os EUA movimentaram 108 bilhões em capital de risco.’