Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Clóvis Rossi


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou de líder de massas ao confinamento a uma espécie de Projac, cidades cenográficas montadas para que ele possa sentir-se no meio do ‘povo’.


Pena que o ‘povo’, na verdade, seja constituído, essencialmente, pelo que os mexicanos chamam de ‘acarreados’, a gente arrebanhada pelos manda-chuvas locais para fazer de conta que é um ato de massas, método levado à perfeição nos 70 anos de domínio do PRI (Partido Revolucionário Institucional).


O Projac para Lula é armado assim: escolhe-se uma cidade média ou pequena, de preferências nos arrabaldes. Nessas áreas, autoridades de grosso calibre são sempre atração, até turística, tão raras as chances de a população local vê-las ao vivo.


Acrescente-se o ponto facultativo, para liberar os funcionários públicos e as crianças das escolas estaduais e/ ou municipais. Ponha-se ônibus a disposição do ‘povo’ (em Vitória da Conquista, anteontem, foram 36). Pronto: o Projac parece um banho de multidões.


Será que o presidente se arriscaria a deixar os Projacs que lhe oferecem para caminhar pela praça da Sé, em São Paulo, pela Candelária, no Rio, pelas chamadas ‘bocas malditas’ de Curitiba, Florianópolis e Belo Horizonte? Ou, para ficar no Nordeste, a área em que sua popularidade ainda é comparativamente maior, será que se animaria a descer as ladeiras do Pelourinho? Não dá nem para pensar em fazer esse teste, porque o risco de um vexame descomunal é explosivamente elevado.


Na prática, o presidente está exilado em seu próprio país, além de isolado de sua própria história de vida, na medida em que os amigos desinteressados debandaram ou foram afastados (Frei Betto, José Graziano, Ricardo Kotscho, Oded Grajew, mesmo Guido Mantega, ainda presidente do BNDES, mas em outra cidade).


Sempre se pode voltar do exílio, mas nunca se é o mesmo.’



Tereza Cruvinel


‘Campanhas chatas, escolhas insensatas’, copyright O Globo, 19/08/05


‘Mais uma vez o autoritarismo perpassa o projeto aprovado ontem pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado com o objetivo de baratear as campanhas eleitorais. De autoria do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), foi aprovado em versão modificada pelo relator José Jorge (PFL-PE). Algumas das propostas trarão resultados mas o retorno dos programas eleitorais no formato semelhante ao imposto pela Lei Falcão será uma restrição à liberdade de expressão dos candidatos, com poucos ganhos sobre o custo de produção.


Ao determinar que os programas de televisão usem apenas imagens de estúdio, deles podendo participar apenas os candidatos e os filiados ao partido, ficando proibidas as cenas externas e outros recursos técnicos, o projeto intencionalmente progressista de um partido liberal torna-se autoritário e reacionário. Com sua Lei Falcão, a ditadura permitia apenas a leitura da biografia do candidato com a exibição de sua fotografia e seu número. A nova proposta não chega a emudecer os candidatos mas passa a exigir que se expressem apenas pela boca, num tempo em que as imagens valem muito mais que as palavras. Ficam eles proibidos de usar outros recursos de linguagem que, melhorando a qualidade dos programas, contribuem para elevar o nível de compreensão dos eleitores. Ficam proibidas, além das cenas externas, montagens ou trucagens, computação gráfica, desenhos animados, efeitos especiais e conversão para vídeo de imagens cinematográficas. O candidato que burlar a lei ficará fora do ar por dez dias.


Ademais, segundo profissionais de publicidade e marketing político, isso pouco influirá no custo global de um projeto de estratégia eleitoral, produto de valor altamente complexo. Estarão sendo cortados apenas os custos de produção material mas é possível que os criadores tenham até que cobrar para trabalhar sob tamanhas restrições à expressão.


Em tais condições, levarão vantagem os demagogos, os promesseiros e outros falastrões, que não poderão ser desmentidos com imagens e depoimentos de pessoas não filiadas ao partido. O PT, por sinal, está concordando por conveniência com esta proposta. No ano que vem, ninguém poderá exibir imagens das CPIs, de Valério ou Delúbio abusando de nossa paciência, de presos com cuecas recheadas de dinheiro.


Insossos, verborrágicos e aborrecidos, os programas eleitorais convidarão o eleitor a desligar a televisão, em prejuízo do discernimento na hora de votar.


Outras medidas do projeto podem, sim, contribuir para o barateamento: a redução do tempo de campanha eletrônica (de 45 para 35 dias), a proibição de showmícios e de distribuição de brindes como as camisetas e os bonés. A limitação do valor das doações legais, por sua vez, não acabará com o caixa-dois, mas é positiva a adoção de punições mais severas para os crimes eleitorais. Boa também a proibição da divulgação de pesquisas nos 15 dias que antecedem os pleitos. Se não houver recurso ao plenário, o projeto vai agora para a Câmara.


A criminalização da política


A divulgação do papo-cabeça de membros da CPI dos Correios com Toninho da Barcelona, criminoso condenado em busca da delação premiada, foi a manifestação mais aguda de certo clima macartista que está no ar: vale tudo contra o inimigo. José Carlos Aleluia, pefelista e líder da minoria nada indulgente com o PT e o governo, fez um duro discurso contra a leviana atitude de seus colegas por divulgarem o briefing de Barcelona sobre o que poderia dizer, se convocado, contra o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Jogar levianamente figuras públicas na fogueira, diz Aleluia, desestimula as pessoas mais preparadas, ricas ou não, a prestar serviços ao país, ingressando no governo, em qualquer tempo. Thomaz Bastos foi durante quatro décadas um dos maiores advogados do país e sob sua chefia a Polícia Federal prendeu Barcelona. Meirelles é um executivo bem-sucedido; responde a um processo, mas não está condenado.


– Agora está virando moda denunciar político para ter redução de pena – diz o senador Tião Viana, antevendo o que dirão os três doleiros convocados pela CPI dos Correios.


Barcelona ficou para depois mas terá seu desejo de convocação atendido. O depoimento da cafetina Jeany Mary Corner pode dar o toque final de delegacia de costumes ao corredor das CPIs.


Na vida cotidiana, diz Tião, quem acusa tem o dever de provar. Na política, mesmo provando a inocência, o acusado dificilmente sai ileso.


HÁ DOIS ANOS morria Sergio Vieira de Mello, data lembrada ontem pelo ministro Celso Amorim: ‘A melhor homenagem que hoje lhe podemos render é continuar sua incansável luta em favor da paz e dos instrumentos coletivos de ação.’


MIGUEL ARRAES, que se foi no último sábado, é o personagem lembrado hoje pelo programa ‘Conexão Roberto D’Ávila’. Vão ao ar depoimentos gravados durante seu exílio, cenas de campanha e dois períodos em que governou Pernambuco após o retorno.


GODOFREDO PINTO, prefeito petista de Niterói, propôs à executiva do PT que todos os dirigentes do partido abram mão do sigilo bancário e fiscal ao assumir. Foi anotada, mas dali está difícil sair mais que o pedido de desculpas. Por isso mesmo é que o presidente Tarso Genro não assinou a nota das desculpas com o secretário-geral Ricardo Berzoini.’



Arthur Dapieve


‘A hora do Plasil’, copyright O Globo, 19/08/05


‘Está inscrito na mitologia dos filmes de guerra. No meio do combate mais feroz, o pau comendo solto, o tenente de origem universitária tem um chilique, trava, não consegue tomar decisão alguma e, por inação, põe em risco a vida de seus subordinados. Então, do fundo da trincheira, surge o sargento. Simples e tosco, mas vivido, chama o superior às falas (às vezes até lhe dá uns tabefes para ele deixar de frescura), assume o comando e conduz o pelotão à vitória ou à retirada honrosa. A man’s gotta do what a man’s gotta do.


Na nossa mitologia, Lula tinha, se não tudo, muito para encarnar o sargento. Em oito anos de tucanato, com as hesitações intrínsecas ao PSDB, o tenente Fernando Henrique comandou a tropa aquém do que seu preparo acadêmico poderia fazer supor. Então, do fundo das urnas, vem o sargento Luiz Inácio, condena a ‘herança maldita’ do antecessor, passa a mandar na soldadesca e… Nada acontece. Na verdade, a única parte de sua tática que parece funcionar (há controvérsias) é exatamente a econômica, herdada do tenente.


Sob o debate do sabia ou não sabia dos crimes de guerra de seus cabos eleitorais do PT, do corrompeu(-se) ou não corrompeu(-se), tenho tentado, fascinado por filmes de guerra que sou, entender que tipo de comando exerce Luiz Inácio Lula da Silva. O perfil que emerge dos depoimentos e entrevistas de seus aliados e ex-aliados é contraditório. Ora trata-se de líder centralizador, implacável, duro. Ora, mais amiúde, de comandante sem gosto pelo comando, um boa-praça que gosta é de discurso em parada de Sete de Setembro.


Se, como nos lembram os analistas políticos dia sim e outro também, a única dúvida é se Lula pecou por ação ou por omissão, não é preciso muito tirocínio para atinar qual imagem lhe é menos danosa, machão ou cabrão. Assim, são coerentes com esta estratégia os atestados de abulia, as peladas de fim-de-semana, os discursos panglossianos, a sensação de que o presidente vive em outra República. Melhor um alienado vivo do que um herói morto politicamente, por mais que o gogó esteja convencidíssimo do próprio heroísmo.


Lula tem buscado se dissociar não só do PT – no discurso da sexta-feira passada, liberou sua primeira pessoa do singular, oculta, num ‘decidi criar um partido novo’ para logo em seguida emendar-se num ‘ajudei a criar este partido’ – como do seu próprio governo. Em oito anos de mandato, bastava Fernando Henrique pôr o pé no jato para criticar o governo, como se nada tivesse a ver com ele. Agora, sob fogo cruzado, basta Lula ir ao Nordeste para prometer tentar sensibilizar o Palocci a diminuir os juros.


Neste quadro de fuga da realidade, entendo a tristeza de Roberto Schwarz, que, na mesa dividida com a argentina Beatriz Sarlo na última Festa Literária Internacional de Paraty, lamentou a chance histórica involuntariamente desperdiçada por nós, brasileiros: termos eleito ‘pessoas esclarecidas’ como Fernando Henrique e Lula à presidência e não termos conseguido avançar nada, ou quase nada, na justa redistribuição da riqueza nacional.


Na mesma Flip, na noite dividida com Jô Soares, a ao menos até então otimista Isabel Lustosa lembrou-se da excitação do seu grupo de intelectuais, que, no início dos anos 80, partiu em caravana do Rio para a Baixada Fluminense a fim de ouvir Lula falar. Na ocasião, em seu discurso, o líder sindical ironizou a metáfora econômica favorita da ditadura (‘Primeiro é preciso fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo’) dizendo que, aos trabalhadores, haviam restado apenas aquelas bolinhas metálicas do confeito.


Vinte e cinco anos depois, o autor da metáfora do bolo, Delfim Netto, só não foi ministro de Lula porque não quis outra pasta que não a das Comunicações, já empenhada com o PMDB. Delfim continuou deputado federal pelo PP. Além de ser o partido do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, é o do ex-governador Paulo Maluf. Diante disso, diante dos lucros legais mas imorais dos bancos, quando alguém acusa ‘as elites’ pelos infortúnios do PT, não sei se rio, choro ou me consolo com o filósofo romeno Cioran, que disse: ‘Quando escuto alguém falar em ‘elite’, sei que estou diante de um imbecil.’


As classes médias, que por tanto tempo idealizamos Lula como o sargentão que iria pôr ordem na caserna, ficamos com cara de tacho, de Rousseau que descobre que Voltaire é que tinha razão. Afinal, o nosso ‘bom selvagem’ se aliou a Delfim, Severino, Maluf, José Janene, Sandro Mabel, Valdemar Costa Neto, Bispo Rodrigues, Roberto Jefferson, Renan Calheiros, José Sarney. Contudo, seria a tropa de choque (ou de cheque) do agora tenente Luiz Inácio (ou de seus cabos eleitorais) a única responsável pela paralisia pós-2002?


Leitores pedem para apor a assinatura a uma petição virtual para que Lula dê uma coletiva à imprensa, leitores pedem que retome o tema do voto nulo, cogitado numa coluna de 4 de março passado, ou seja, pré-Mensalão. No primeiro caso, lamento, é inútil: se o presidente desse a tal entrevista, nada falaria de útil, está claro. Do segundo, desisti: no ano que vem, votarei em alguém, sei lá quem, válida e desesperançadamente. Se aprendi algo com Duda Mendonça, foi que é preciso ter medo. Veja o tenente Luiz Inácio. Enquanto trava, a soldadesca ainda morre de bala, de fome ou de vergonha mesmo.


Agora, com licença, que está na hora do meu Plasil.’



José Sarney


‘Da velhice com rabeca ‘, copyright Folha de S. Paulo, 19/08/05


‘Muito se tem falado em política e em valores morais nestes últimos meses. Esse é um tema permanente na atividade pública. Alceu Amoroso Lima, no prefácio que escreveu para ‘O Homem e o Estado’, estudos coordenados por Alejandro Bugallo, disse que a política não é uma solução total do destino humano, mas ‘uma condição para essa solução’, acrescentando na citação de Walter Lippman que ‘o homem é um animal ingovernável’.


Em cada momento, em cada tempo, em cada século, em cada ano, na experiência mesmo do espaço de nossas vidas, vamos sedimentando idéias, conceitos, práticas e caminhos de encontrar e de resolver a situação do mundo, a começar por nossas cidades, por Estados, países, continentes.


A longa vida nos faz, com os anos, saber que o que pensamos já foi pensado e que as nossas soluções já foram testadas e, mais ainda, que o tempo que vivemos, em algum momento, já foi vivido. Daí porque a velhice traz um pouco de contemplação e de compreensão.


Bobbio, de quem outro dia o senador Jefferson Péres me recordou seu livro sobre a tranqüilidade -’O Elogio da Serenidade e outros Escritos Morais’-, escreveu outro sobre a senectude, aqui traduzido como ‘O Tempo da Memória’. Ali, ele diz que a velhice é um tema não-acadêmico. ‘Falo como velho, e não como professor’. A experiência vivida, que sempre preocupou os pensadores na linha memorável de Cícero, que abriu caminho e escreveu o mais profundo livro sobre o assunto, ‘De Senectute’, nos ensina a não achar, em momentos de dificuldades, que o mundo vai acabar. Sou tentado a falar também de velhice e de amor. Não sei quem me disse que o amor é uma coisa tão eterna que devia ser descoberto somente na velhice, para morrer conosco, e não atributo da juventude, que o torna passageiro. Gabriel Garcia Márquez escreveu um livro belíssimo sobre o amor dos velhos, ‘O Amor nos Tempos do Cólera’, aquele romance que corre belo nas águas do rio Madalena. Por sinal, também escreveu um dos piores livros sobre o tema, ‘Memórias de Minhas Putas Tristes’, livro de circunstância, que não está à altura do seu gênio. O nosso Gabo não soube como terminar o livro e perdeu-se.


A velhice traz o domínio da tranqüilidade e da serenidade. A política é sempre um mundo de paixões. Daí ser difícil, aos vividos, perder a cabeça na paixão da política. Talvez não seja tanto nas questões do amor.


Rui Barbosa -e hoje estou citando demais- separa política de politicalha. São diferentes. A política, a arte de gerir o Estado, é definida por princípios morais. ‘A politicalha é a industria de explorar, nela, interesses pessoais’.


Ontem, vimos o quanto é nocivo transferir para a sociedade a luta política. Um dia, os estudantes dizem ‘sim’, outro dia, dizem ‘não’. Como ocorreu na Argentina, mas com um atraso de cinco anos, ouve-se o grito ‘Fora todos!’, ‘Congresso, Partidos, Deputados, todos!’. Na Argentina, também esse era o grito: ‘Que se vayan todos!’.


Mas, em meio a tudo isso, é necessário manter a serenidade, compreender que tudo passa. Se todos vamos, os que protestam também. É a tal política de multidão, podemos dizer da cólera, antítese da política do bom senso.


Repetir, assim e assado, o provérbio nordestino, por mim tantas vezes citado e que acho muito bom e próprio para muitas horas: ‘Com grito não se afina rabeca’.


José Sarney escreve às sextas nesta coluna.’



Fernando Rodrigues


‘Duda perde contrato com a Presidência’, copyright Folha de S. Paulo, 19/08/05


‘O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu não renovar o contrato de publicidade que mantinha há dois anos com o marqueteiro Duda Mendonça, que fez a campanha presidencial do PT em 2002. A decisão foi tomada anteontem, tarde da noite.


Duda comandava a conta da extinta Secom (Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência), hoje Subsecretaria de Comunicação Institucional. Sua função era cuidar da imagem do governo e do presidente. Trabalhava com uma verba estimada em até R$ 150 milhões por ano, junto com as agências Matisse e a Lew, Lara.


A intenção do Planalto é renovar o contrato só com a Matisse e com a Lew, Lara, o que deixou o publicitário baiano irritado. Ele se considera injustiçado: acha que prestou um serviço a Lula em meio à crise. Quando fez um depoimento à CPI dos Correios, o marqueteiro contou sobre o caixa dois de campanha petista, mas sempre isentou o presidente.


A decisão de rompimento foi política. Duda confessou na semana passada ter recebido cerca de R$ 10 milhões em uma conta no exterior por campanhas do PT em 2002. Por ter admitido esse ilícito, o Planalto considerou incompatível que continuasse a cuidar da imagem do governo.


Há um temor entre os palacianos sobre qual poderá ser a reação de Duda. Embora a decisão sobre a não-renovação tivesse sido tomada anteontem, o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, não havia emitido uma nota oficial até a conclusão desta edição.


Havia preocupação do Planalto sobre a forma com que o rompimento com o marqueteiro seria anunciado. O caso precisava ser minuciosamente analisado pela área jurídica do governo, pois Duda poderia recorrer à Justiça exigindo a renovação que deve ser oferecida à Matisse e à Lew, Lara.


Para tentar reverter sua situação, Duda esteve em Brasília nesta semana. Veio fazer lobby para permanecer com a conta da Secom. O marqueteiro esteve na capital federal de maneira discreta, junto com sua mulher, Lica.


Preocupado com a perda iminente, procurou direta ou indiretamente vários aliados políticos. Um deles foi o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. Não teve sucesso. Segundo a Folha apurou, o estado de espírito do publicitário tem oscilado nos últimos dias entre a raiva e a depressão.


Duda ascendeu como publicitário no plano federal com a chegada de Lula ao Planalto. Além da Secom, conquistou duas contas de primeiro nível: Petrobras e Ministério da Saúde. Sua preocupação agora é não perdê-las.


As agências do empresário Marcos Valério de Souza já tiveram suspensos os contratos que mantinham com o Banco do Brasil e com os Correios. Se o mesmo procedimento usado com Valério valer para Duda, o prejuízo será grande. O marqueteiro terá de desmobilizar sua estrutura em Brasília. Em 2003 e 2004, o faturamento total da agência Duda Mendonça com as contas estatais federais foi de R$ 120 milhões.


No mercado, a avaliação é que o publicitário baiano, que no passado atendeu a Paulo Maluf (PP), poderá entrar numa fase de poucos negócios. É possível que a iniciativa privada preferia guardar distância dele por um período.’



Fábio Zanini


‘PT procura novo publicitário para programa na TV ‘, copyright Folha de S. Paulo, 19/08/05


‘O PT pretende romper o contrato assinado com o publicitário Duda Mendonça para a produção dos programas de TV do partido neste ano.


A decisão política foi tomada pela nova cúpula partidária e tem relação com o depoimento de Duda à CPI dos Correios na semana passada, em que ele disse ter recebido recursos do PT por meio de uma offshore nas Bahamas.


O comportamento de Duda foi considerado ‘desleal’ por alguns petistas, porque, para eles, o publicitário não informou ao partido sobre o que diria e fez revelações sem apresentar provas.


Procurada, a assessoria de Duda Mendonça não respondeu até a conclusão desta edição.


Caso o PT não consiga um ‘divórcio amigável’ de Duda, o contrato deverá ser rescindido unilateralmente.


Um novo marqueteiro já está sendo procurado para produzir programas mais baratos, com menos imagens externas e privilegiando cenas em estúdio.


O programa nacional de 20 minutos do partido, em 27 de outubro, não será feito por Duda. Será a primeira vez que isso acontece desde maio de 2001, quando o publicitário baiano estreou com grande estardalhaço na comunicação petista, com um comercial mostrando ratos roendo a bandeira do Brasil. O mote era ‘Xô, Corrupção’ -uma crítica ao então presidente Fernando Henrique Cardoso.


O contrato de Duda com o partido para os programas de 2005 é de R$ 300 mil. O programa do primeiro semestre, equivalente a metade desse valor, ainda não foi quitado. O PT reconhece essa dívida e vai negociá-la, mas não aceita que Duda seja credor de R$ 14 millhões em campanhas atrasadas, como disse à CPI.


‘Não existe o desejo de manter o contrato com Duda Mendonça. Desde as declarações do publicitário à CPI não existe mais clima para continuar’, disse o secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini.


Teoricamente, o contrato rompido é apenas o referente a 2005. Nada impede que ele volte a ser contratado no ano que vem para fazer a campanha presidencial, mas tudo indica que o casamento chegou mesmo ao fim.


‘A decisão de romper o contrato é mais política do que financeira. Ele fez um discurso desastrado à CPI sem nos comunicar’, diz o secretário de Mobilização do PT, Francisco Campos.


O eventual retorno de Duda às campanhas dependerá do esfriamento da crise e da opinião de Lula, caso dispute a reeleição. Mas o presidente teria de arcar com o ônus político de bancar o amigo.


Para o secretário de Comunicação, Humberto Costa, que lida diretamente com Duda, o relacionamento ficou ‘difícil’. ‘Tecnicamente, ele pode fazer um trabalho excelente para nós, mas politicamente ficou muito complicado.’


O contrato assinado prevê uma brecha para rescisão, segundo Berzoini. ‘Se houver fatos supervenientes que venham a justificar a quebra, ela poderá ser feita. Não há nada que obrigue a execução do contrato’, diz. O ‘fato superveniente’ seria o depoimento do publicitário à CPI.’



Regina Alvarez e Cristiane Jungblut


‘Escândalo leva Planalto a cancelar contratos com Duda Mendonça’, copyright O Globo, 19/08/05


‘O escândalo envolvendo o PT e as contas em paraísos fiscais decretaram mais uma baixa: o fim da ligação entre Duda Mendonça e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo decidiu não renovar o contrato com a agência Duda Mendonça & Associados, que venceu ontem. A decisão sobre o contrato foi tomada numa reunião entre Lula e o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, responsável pela Subsecretaria de Comunicação de Governo (antiga Secom). A verba de publicidade da Presidência em 2005 é de R$ 131,8 milhões.


Duda foi o marqueteiro de Lula na campanha de 2002, mas o seu envolvimento no escândalo dos repasses de Marcos Valério inviabilizou a renovação dos contratos com a Presidência. Duda ficou com cerca de 50% da verba da Secom desde que o contrato foi assinado, em agosto de 2003.


A decisão de afastar Duda não foi tranqüila. Segundo um assessor do presidente Lula, ele resistiu muito a encerrar o contrato com o amigo por causa das denúncias envolvendo o PT. O presidente tem uma relação muito próxima e grande afinidade com o publicitário baiano.


O próprio Duda conversou com o ministro Dulci, tentando manter a conta da Presidência. Foi informado de que todos reconheciam sua competência e capacidade técnica, mas a situação era muito delicada.


Duda deve buscar ainda algum recurso jurídico para manter a conta da Secom, mas no governo a avaliação é de que o encerramento do contrato está alicerçado em aspectos jurídicos e na questão da imagem da agência e do marqueteiro, seriamente comprometida com a confissão do próprio Duda, de que recebeu R$ 15,5 milhões do esquema de Valério, sendo que R$ 10,5 milhões depositados numa conta no exterior.


Com a saída de Duda da Secom, permanecem atendendo à Presidência da República as agências Lew Lara e Matisse. Seus contratos, que vencem amanhã e no dia 1 de setembro, devem ser renovados.


O Palácio do Planalto chegou a discutir o encerramento dos três contratos e a realização de uma nova licitação, mas essa saída criaria problemas operacionais e talvez jurídicos para o governo. A Presidência ficaria por um período de seis meses, no mínimo, sem agência de publicidade e impossibilitada de tocar a política de comunicação num momento de crise.


Além disso, somente a agência de Duda Mendonça foi envolvida no escândalo do valerioduto. As outras duas não foram citadas, o que poderia resultar em recursos na Justiça contra a decisão do governo.


A realização de nova licitação para substituir a agência de Duda Mendonça ainda está sendo discutida no Palácio do Planalto. Duda mantém por enquanto outras duas grandes contas no governo. O contrato com a Petrobras vence em dezembro e o contrato com o Ministério da Saúde foi assinado em abril deste ano.’



João Domingos e Luciana Nunes Leal


‘PT pagou dívidas de partidos em troca de apoio, admite Delúbio ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 19/08/05


‘O ex-tesoureiro Delúbio Soares admitiu ontem, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Mensalão, que para conseguir o apoio do PTB, do PPS e de parte do PMDB à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno da eleição presidencial de 2002 o PT assumiu dívidas desses partidos. Esses débitos foram pagos com dinheiro de caixa 2 oriundo dos empréstimos do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza cujo valor total ultrapassa os R$ 55 milhões.


A deputada Zualiê Cobra (PSDB-SP) lembrou a Delúbio que repasses financeiros de um partido para outro configuram crime. ‘Isso é ilegal. Um partido não pode assumir a dívida do outro’, disse ela. Delúbio respondeu que, se o dinheiro fosse legal, não haveria problema. ‘Como é dinheiro não contabilizado, sei que é ilegal. Por isso, estou tendo tantas dificuldades’, afirmou o ex-tesoureiro do PT.


Para o PTB, o dinheiro foi repassado, primeiro, para o ex-presidente do partido José Carlos Martinez, que morreu em 2003 num acidente de avião, e depois para o deputado Roberto Jefferson (RJ). No PMDB, as negociações eram feitas com o deputado José Borba (PR), que renunciou ao cargo de líder depois de ter seu nome envolvido no escândalo do mensalão. Delúbio contou ainda que, quando o PP passou para a base do governo, as dívidas do partido também foram assumidas pelo PT. Nesse caso, as negociações eram feitas diretamente com o deputado José Janene (PR), líder do partido na Câmara.


Ainda no depoimento à CPI, Delúbio disse que, por intermédio de Marcos Valério, repassou R$ 457 mil para que o hoje ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, pagasse as gravações de suas falas favoráveis a Lula na disputa do segundo turno da eleição. ‘Esse dinheiro se destinou ao pagamento de fornecedores e das gravações feitas por Ciro Gomes de apoio ao candidato do PT’, disse Delúbio.


O ex-tesourerio afirmou ainda que, em negociação realizada na casa do deputado Paulo Rocha (PT-PA), onde foi fechada a chapa Lula-José Alencar e a dobradinha do PT com o PL, ficou combinado que caberia ao partido do vice 25% do total da arrecadação da campanha. ‘Esperávamos arrecadar R$ 40 milhões; chegamos a R$ 36 milhões. Era algo em torno de R$ 9 milhões, R$ 10 milhões’, disse Delúbio. De acordo com informação de Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, o valor foi fechado em R$ 10 milhões. Valdemar disse que pediu R$ 20 milhões, mas o PT só deu a metade. Desse encontro participaram Delúbio, Valdemar e José Dirceu. Num outro cômodo, ficaram Lula, Alencar e Paulo Rocha.


No depoimento à CPI dos Correios, Delúbio admitiu que a dívida do PT com Marcos Valério, do dinheiro do caixa 2, era de R$ 39 milhões.


Ontem, no entanto, na CPI do Mensalão, ele aceitou a versão do empresário, de que foram R$ 55 milhões. Mas não soube precisar um número exato. ‘Pode ser R$ 55 milhões, R$ 56 milhões, R$ 58 milhões.’


PAPAI NOEL


Nesse ponto, foi lembrado pelo relator da CPI, Ibrahim Abi-Ackel, que ‘Papai Noel não existe e ninguém dá assim R$ 50 milhões se não tiver alguma garantia’. Para Abi-Ackel, a garantia eram os contratos de publicidade ou a transferência de dinheiro dos fundos de pensão para os bancos emprestadores, o Rural e o BMG. Delúbio disse que ele reconhece a dívida e espera ver o PT quitá-la. Mas o presidente do partido, Tarso Genro, disse que não a paga, porque não há documentos que a comprovem.


Delúbio reconheceu que não há nada mesmo que possa documentar os empréstimos. ‘Não fizemos contabilidade nenhuma. Eu falava com o Marcos Valério, ele fazia o empréstimo. Não temos nem contabilidade de caderneta.’ Delúbio disse também que pretende se encontrar com Marcos Valério, para pedir ajuda sobre o quanto cada um dos beneficiados recebeu do Caixa 2 e qual é o montante do dinheiro. Ele não soube precisar nem quanto pagou ao publicitário Duda Mendonça nem ao PL ou ao PP e muito menos ao PT. O relator da CPI disse que não se surpreendia com os lapsos de memória de Delúbio. ‘Afinal, o senhor mexia com milhões. Como se lembrar de números pequenos?’


O ex-tesoureiro negou ainda que o PT tenha feito compra de votos. ‘O PT nunca comprou voto, nunca comprou deputado.’ Disse que nenhum valor conseguido pelo partido – nem os do caixa 2 – saiu de empresas públicas ou do exterior. Afirmou que as investigações vão apurar tudo. Lembrado que a CPI também investiga, afirmou que espera que ela apure tudo e chegue a uma conclusão. Como não sabe nada a respeito de números – embora fosse a pessoa que autorizava os gastos -, comprometeu-se a mandar à CPI, dentro de uma semana, um quadro com valores recebidos e pagos e a quem. Isso atende principalmente aos petistas, que se desesperaram com a falta de memória de Delúbio. Eles querem que o tesoureiro os ajude a provar que não receberam o mensalão.


CARRO


Delúbio afirmou ainda que o carro blindado utilizado por ele para ir à última reunião do PT foi pago por sua mulher, Mônica Valente. ‘Desde o assassinato do prefeito Celso Daniel, em 2002, a Polícia Federal me aconselhou a andar em carro blindado. Quero comprar um, mas não encontrei nenhum para meus recursos, que são de R$ 60 mil a R$ 70 mil, que vou conseguir com a venda do carro de Goiânia’, disse Delúbio. O carro é um Toyota Corola.’



Tânia Monteiro e Ana Paula Scinocca


‘Após revelações à CPI, Duda perde contrato milionário com Presidência ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 19/08/05


‘A Presidência da República decidiu não renovar o contrato com o publicitário Duda Mendonça, que venceu ontem. A decisão faz parte de uma estratégia do Palácio do Planalto de afastar o publicitário do governo federal, depois de seu depoimento, na semana passada, em que tentou se livrar de acusações e deixou o governo e o próprio presidente Lula em situação delicada. Ainda não há definição do que será feito com os demais contratos de Duda com estatais. Mas a tendência é de que não sejam também renovados. Há quem defenda no Planalto que estes outros contratos sejam cancelados de imediato e abertas novas licitações. Só que há muitos problemas jurídicos para agir desta forma.


O contrato com Duda faz parte de um pacote com outras duas empresas – Matisse e Lew Lara – e somam R$ 131,8 milhões, em 2005. Ontem, só venceu o contrato com Duda, que, não renovado, foi redistribuído entre a Matisse e Lew Lara.


Na semana que vem, vence o contrato das outras duas, que deverá ser ratificado. Esses contratos são para propagandas institucionais, de prestação de contas e ações de programas de governo.


Desde agosto de 2003, a Duda Mendonça & Associados prestava serviços ao governo Lula. A renovação do contrato – firmado com a extinta Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica (Secom), atualmente Subsecretaria de Comunicação Institucional – deveria ser automática, como no ano passado, o que não aconteceu em razão do envolvimento do marqueteiro no esquema do empresário Marcos Valério.


Em depoimento à CPI dos Correios na semana passada, Duda Mendonça admitiu crimes ao afirmar que recebeu dinheiro de caixa 2 do PT. ‘Fica difícil manter contrato com uma empresa que assumiu cometer irregularidades e crimes’, comentou um assessor do presidente. O marqueteiro revelou que ter recebido R$ 11,4 milhões de Marcos Valério como parte do pagamento pelas campanhas que fez para o PT em 2002, incluindo a do presidente. A maior parte do dinheiro, disse Duda, o equivalente a R$ 10 milhões, foi depositada na conta Dusseldorf, no BankBoston das ilhas Bahamas, notório paraíso fiscal do Caribe.


Em 2003 e 2004, os gastos da Presidência com publicidade foram de R$ 175,2 milhões, segundo dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi). Do total, a agência de Duda levou R$ 85,2 milhões, o que corresponde a 48,6%.


Em 2005, a Duda Mendonça & Associados já recebeu R$ 27,8 milhões. O orçamento para publicidade programado para este ano é de R$ 131,8 milhões, a ser dividido entre as três agências. O Estado procurou Duda Mendonça, mas não obteve retorno. A reportagem deixou recado no escritório de Brasília e no de São Paulo, além de ter feito contato na sede da Comunicação e Estratégica Política (CEP), outra empresa do marqueteiro, também na capital paulista.


A agência de Duda Mendonça tem ainda outro dois contratos com o governo Lula: com a Petrobrás e com o Ministério da Saúde.


PT


Duda Mendonça começou a cuidar da imagem do presidente Lula na campanha de 2002. À época, o contrato firmado foi com a CEP no valor original de R$ 5 milhões. Mas, segundo o PT, a empresa acabou recebendo efetivamente R$ 7,085 milhões, já que os gastos ultrapassaram a previsão inicial.


O pagamento foi registrado, esclareceu o partido, na prestação de contas do PT ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em relação aos contratos firmados, também com a CEP, para campanhas institucionais do PT, a assessoria de imprensa do partido informou que entre 2001 e 2005 somam R$ 4,4 milhões, sendo R$ 300 mil referentes a este ano.’



Folha de S. Paulo


‘Caixa dois pagou gravação de TV para Lula, admite Delúbio’, copyright Folha de S. Paulo, 19/08/05


‘O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares admitiu ontem, em depoimento na CPI do Mensalão, que o dinheiro sacado das contas de Marcos Valério por um ex-assessor do ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) foi usado para pagar despesas do segundo turno da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.


Segundo Delúbio, Márcio Lacerda, ex-secretário-executivo de Ciro, recebeu R$ 457 mil de Valério para quitar uma dívida com a empresa New Trade -que prestou serviços para a campanha presidencial do próprio Ciro, no primeiro turno, e para a de Lula, no segundo. A dívida, segundo Delúbio, seria relativa a despesas com gravações de programas de TV. Apesar de ter admitido a operação, o ex-tesoureiro, em outros momentos, disse que a campanha de Lula não recebeu dinheiro por fora.


Delúbio confirmou ter havido um acerto financeiro entre PT e PL na campanha de 2002, mas eximiu o ex-ministro José Dirceu e Lula da participação na negociação, o que contraria versão dada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Segundo Delúbio, o acordo previa o repasse ao PL de 25% de tudo o que a coligação arrecadasse de doações oficiais, cerca de R$ 10 milhões.


No depoimento, iniciado às 9h29 e encerrado às 18h22, Delúbio voltou a negar a existência do chamado ‘mensalão’. ‘O PT nunca comprou deputado ou deu dinheiro a parlamentar para votar em projeto A ou B.’


Por diversas vezes, enfatizou que ‘não há recursos públicos’ no esquema que montou em parceria com o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, suposto operador do ‘mensalão’. Sobre os R$ 55 milhões que Valério teria obtido por meio de empréstimos nos bancos Rural e BMG, a pedido do PT, Delúbio disse que orientava o publicitário a transferir dinheiro a partidos aliados que tinham dívidas eleitorais de 2002 ou que precisavam preparar a campanha de 2004. Mas negou conhecer a forma como eram feitos esses pagamentos.


‘Foi para o Lula no segundo turno’


Ontem, em depoimento à CPI do Mensalão, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares explicou que o valor sacado de conta do publicitário Marcos Valério de Souza por Márcio Lacerda, ex-assessor do ministro Ciro Gomes (Integração Nacional), foi usado para pagar despesas da campanha presidencial de Lula no segundo turno.


Segundo Delúbio, os R$ 457 mil sacados por orientação de Márcio Lacerda, ex-secretário-executivo de Ciro, quitaram uma dívida com a empresa New Trade -agência que trabalhou no primeiro turno para o então candidato do PPS, Ciro Gomes, e no segundo turno, na de Lula.


‘Foi para a campanha do Ciro Gomes e para o Lula no segundo turno’, afirmou Delúbio.


O ex-tesoureiro disse que a dívida se referia a despesas de Ciro Gomes durante o segundo turno da campanha de 2002, quando apoiou a candidatura de Lula. Seriam gastos de gravações de programa de televisão.


Sobre o acordo entre o PT e o PL, Delúbio confirma que foi fechado um acerto financeiro para a campanha. Pelo acordo, 25% de tudo o que a coligação arrecadasse iria para o vice-presidente José Alencar distribuir ao PL. ‘Foi um acordo eleitoral’, afirmou.


CIRO GOMES – Sobre os R$ 457 mil sacados por orientação de Márcio Lacerda, o ex-tesoureiro disse: ‘Foi para a campanha do Ciro Gomes e do Lula no segundo turno’. ‘Ele [Einhart Jacome Paz, dono da New Trade] prestou um serviço’. ‘Foi uma despesa que o Einhart fez e só tomei conhecimento depois e mandei pagar’. Em seguida, Delúbio acrescentou: ‘Foi para pagar despesas de imagem que o Ciro fez no segundo turno. Para fazer televisão, equipe.’ Diante da insistência de um parlamentar, que perguntou se o dinheiro foi para Ciro Gomes pagar despesas em sua participação no segundo turno, respondeu: ‘Sim, foi isso’.


ACORDO PT-PL – O ex-tesoureiro confirma que o PT e o PL fecharam um acerto financeiro para a campanha que elegeu Lula presidente. Pelo acordo, 25% de todo o valor arrecadado pela coligação iria para o vice-presidente José Alencar distribuir ao PL. ‘Foi um acordo eleitoral’, afirmou.


Ao contrário do que sustenta o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, Delúbio diz que José Dirceu não participou do acerto, que teria sido fechado na casa do deputado Paulo Rocha (PT-PA). ‘A conversa não foi no quarto, mas no escritório’, afirmou, arrancando risos dos parlamentares.


CAIXA 2 – Embora afirme não ter a certeza sobre valores exatos, Delúbio assume ter recebido de Valério ‘cerca de R$ 50 milhões’, que o publicitário teria conseguido por meio de empréstimos nos bancos Rural e BMG. Sempre dizendo que a transação não envolveu recurso público, o petista diz que usou o dinheiro para pagar dívidas eleitorais do PT e de partidos aliados e para bancar parte das eleições municipais de 2004.


Sobre quem teria conhecimento do esquema, Delúbio declara que a direção do partido sabia dos repasses a aliados, mas desconhecia a forma como isso era feito. Ele diz que não entrava em detalhes sobre os métodos de Valério. ‘Eu pedia para ele pagar e, então, o credor parava de reclamar.’


O ex-tesoureiro citou dirigentes das legendas com quem negociou: José Borba (PR), ex-líder do PMDB na Câmara, José Janene (PR), líder do PP, Valdemar Costa Neto (PL), José Carlos Martinez (ex-presidente do PTB, morto em acidente aéreo em 2003) e Roberto Jefferson (PTB).


Delúbio também chegou a listar os diretórios estaduais do PT que receberam recursos de caixa dois . Citou São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás, além do Distrito Federal. ‘Pedi para o Marcos Valério resolver com esses Estados’, disse.


DUDA MENDONÇA – Sobre a off- shore -empresa cujos proprietários não são identificados- aberta em nome de Duda Mendonça para que ele recebesse o dinheiro de Marcos Valério, que seria o pagamento por serviços prestados na campanha de 2002, Delúbio confirma apenas ter mandado Valério pagar Duda. ‘Como foi feito entre o Marcos Valério e o Duda, não tenho nenhuma responsabilidade em relação a isso.’ Ele negou também conhecer o doleiro Toninho da Barcelona. ‘O PT não tem dinheiro no exterior’, afirmou o ex-tesoureiro.’



O Globo


‘Projeto agora proíbe pesquisas perto de eleições’, copyright O Globo, 19/08/05


‘As denúncias de corrupção investigadas pelas CPIs dos Correios e do Mensalão levaram a Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) a aprovar ontem mudanças na lei eleitoral para diminuir os custos de campanha e punir a prática do caixa dois. A proposta aprovada, porém, inclui medidas polêmicas e inseridas de última hora, entre elas a proibição de divulgação de pesquisas eleitorais 15 dias antes do pleito.


Com o projeto de reforma emergencial do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), os tesoureiros das campanhas se tornam responsáveis, ao lado dos candidatos, por todas as informações relativas às contas. Até hoje, somente o candidato deveria responder à Justiça por ilegalidades.


O projeto, modificado por várias emendas, estabelece punições mais rígidas para tentar evitar as ‘doações por fora’. Receber recursos sem registrá-los oficialmente será crime punido com detenção de três a cinco anos e multa de R$ 20 mil a R$ 50 mil. Além disso, a pena estabelece a perda dos recursos do fundo partidário e a cassação do registro do candidato beneficiado. A movimentação financeira da campanha deverá ser restrita a uma conta única, aberta cinco dias depois do registro dos candidatos. Fica proibido receber dinheiro de outra fonte além dessa, sob pena de perda do registro da candidatura.


– Podemos chamar essa lei de Lei Delúbio – disse o relator, senador José Jorge (PFL-PE).


Para virar lei e regular as próximas eleições, o projeto precisa ser sancionado até 30 de setembro. A proposta, aprovada por 12 votos a favor e um contra, vai agora para a Câmara dos Deputados. Se for modificada, voltará ao Senado.


Outra mudança nas finanças eleitorais será a permissão para os sindicatos doarem recursos a candidatos. Já as organizações não governamentais (ONGs) ficam proibidas de contribuir, por receberem dinheiro público e do exterior. Segundo Bornhausen, em 2004 essas organizações ganharam cerca de R$ 1 bilhão em recursos governamentais. Parlamentares de estados do Norte, onde é forte a presença de ONGs ambientais, tentaram mudar o projeto, sem sucesso.


O relator inicialmente vedava também contribuições dos sindicatos, mas cedeu aos argumentos do líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), autor da proposta de emenda. Segundo José Jorge, essa será uma experiência, para que no futuro não haja mais qualquer restrição a doações, caso prevaleça o financiamento privado de campanhas políticas. Os sindicatos são tradicionais apoiadores de campanhas petistas. O autor, Bornhausen, era contra, mas foi voto vencido.


– A contribuição sindical é prevista em lei. O trabalhador já é obrigado a doar um dia de salário por ano e quer que o sindicato defenda seus interesses, não de seus candidatos – afirmou Bornhausen. – A política é uma atividade legítima e estou propondo transparência. Por que só o mundo do capital pode financiar a política? Por que não o mundo da cidadania?


Com o projeto, a política e os candidatos serão a única atração da eleição de 2006. A campanha será mais curta, de 60 dias. Além dos showmícios, acabam também os brindes. Na próxima campanha, só bandeiras e broches serão liberados. No dia da eleição, nem isso.


Os programas eleitorais do horário gratuito no rádio e na TV também mudam radicalmente. Serão exibidos por 35 dias, dez a menos que na lei atual. E vão se resumir à presença do candidato e de filiados do partido, em cenas de estúdio. Fica proibido usar um apresentador, mostrar cenas externas, empregar truques, efeitos especiais ou computação gráfica.


– A campanha vai ficar mais chata, sem dúvida, mas muito mais honesta – acredita José Jorge.’