Portal Imprensa, 15/3
Luiz Gustavo Pacete
A mídia pode falar de trabalho infantil de forma diferenciada, defende relatório da Andi
O relatório ‘Piores formas de trabalho infantil. Um guia para jornalistas’, produzido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em parceria com a Agência Nacional dos Direitos da Infância (ANDI) alerta: ‘É possível ser criativo na hora de produzir matérias sobre trabalho e exploração infantil fugindo de fórmulas preestabelecidas’.
Em 1989, o IBGE apontava mais de sete mil crianças trabalhando. Já em 2010, o país foi destaque na conferência de Haia por ter reduzido em 50% os casos. Apesar disso, o problema ainda existe. Renato Mendes, coordenador da Organização Internacional do Trabalho (OIT), admite que o fator principal para a redução é a informação. ‘Até a década de 1990, havia uma rejeição dessa ideia. Hoje, já existe o desenvolvimento de uma política pública focalizada’.
A jornalista Andréia Peres reconhece o importante papel da mídia para a redução dos casos, mas lembra do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como fator fundamental. ‘É importante que a imprensa considere o estatuto, pois ele foi responsável pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PET)’, lembra. Andréia foi responsável por editar o levantamento ‘Situação da Infância Brasileira 2006’ para o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).
Conforme aponta a Andi, a exposição na mídia é feita em um momento de total fragilidade da criança. Por isso, é importante que o jornalista seja responsável na preservação da imagem.
Entre outros fatores imprescindíveis para a cobertura está a regionalização, que segundo a OIT é fundamental. Já que muitos casos de exploração acontecem fora dos grandes centros. ‘O problema possui características muito singulares dependendo do estado ou da região’, afirma o material.
O relatório ainda mostra que uma das atribuições mais importantes da mídia na cobertura sobre o caso é alertar a população de que não se deve enxergar o trabalho infantil como algo natural. ‘É essencial tratá-lo como um problema que gera danos imediatos à criança. Além disso, é essencial que as matérias não fiquem somente no pejorativo e mostrem resultados positivos’.
Fontes qualificadas
A Andi e a OIT alertam que fontes e números publicados devem vir acompanhados de uma interpretação contextualizada. De acordo com Fabio Senne, responsável pela área de políticas públicas sociais da Andi, a entidade se esforça para levantar informações que contribuam com a discussão do assunto.
Além do trabalho de pesquisa da Andi no Brasil, inúmeras outras entidades atuam no sentido de qualificar o tema. O resultado apontado por uma pesquisa da entidade mostra o crescimento da visibilidade sobre criança e adolescência nos principais jornais impressos do país. Em 1993, o número de citações relacionadas ao tema era de 10 mil, em 2009, chegou a 160 mil.