Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Com WSJ, Murdoch lança guerra ao NYT


Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


************


O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 19 de outubro de 2007


MÍDIA NOS EUA
Bobbie Johnson


Murdoch: guerra ao ‘NYT’


‘The Guardian, San Francisco – Rupert Murdoch apresentou planos drásticos para reformular o Wall Street Journal e lançar uma incursão no setor dos grandes jornais americanos. Ele, que deve concluir este ano a turbulenta aquisição da Dow Jones, proprietária do Journal, por US$ 5 bilhões, anunciou o desejo de conduzir o diário para além de suas raízes financeiras e atacar concorrentes como o New York Times.


‘Temos muitos planos e muitas idéias que precisam ser refinadas’, disse ele numa conferência em São Francisco. ‘Mas quero melhorar (o jornal) em todos os sentidos: naquilo que ele faz hoje em finanças, para começar, mas também quero acrescentar mais notícias nacionais e internacionais.’ O presidente da News Corporation disse que gostaria de ampliar a cobertura de assuntos culturais, para aproveitar as oportunidades de atrair anunciantes como estúdios de cinema. ‘Quero acrescentar uma grande cobertura das artes, moda e cultura’, afirmou. Indagado se pretende eliminar o New York Times, respondeu: ‘Seria bom’.


O acordo para a aquisição da Dow Jones só foi alcançado depois de uma prolongada disputa com a família Bancroft. Durante as negociações, Murdoch tentou seduzir os acionistas da Dow Jones prometendo não interferir em decisões editoriais.


No entanto, com a transação quase concluída, Murdoch disse que planeja harmonizar o Wall Street Journal com as outras propriedades da News Corporation, entre elas, jornais ao redor do mundo e a rede de televisão Fox. Disse ter planos arrojados para a Fox Business Network, canal noticioso americano dedicado à economia e lançado esta semana, e atacou concorrentes como a CNBC, qualificando-os de ‘semimortos’.


Os comentários foram feitos no encontro anual da Web 2.0 em São Francisco, onde ele ressaltou também o sucesso da News Corp. na internet. Respondendo a sugestões de que os investidores do website de relacionamento Facebook avaliam a companhia em US$ 15 bilhões, afirmou que o número indicaria que o MySpace.com – site rival que ele comprou por US$ 580 milhões – vale US$ 50 bilhões.


‘O que isso mostra é que a News Corp. está subavaliada’, disse. Afirmou ainda que não está animado para comprar mais propriedades de internet, por causa dos preços inflados.’


 


AQUECIMENTO GLOBAL
Luiz Felipe Lampreia


A agenda internacional do meio ambiente


‘Poucas vezes o Prêmio Nobel da Paz foi tão justamente atribuído quanto o deste ano, que distinguiu Al Gore e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas(IPCC) das Nações Unidas. O político americano, após sua duvidosa derrota para George W. Bush em 2000, dedicou-se de corpo inteiro a promover a consciência dos graves perigos que provocam as mudanças climáticas resultantes da ação do homem. Seu filme, Uma verdade inconveniente, foi um excelente instrumento de comunicação de massa e contribuiu para que a questão das emissões de gases de efeito estufa esteja presente na mente de milhões de pessoas em todo o mundo. Já o IPCC, presidido pelo cientista indiano Rajendra Pachauri, produziu em poucos anos um trabalho científico colossal, jogando por terra todas as crendices que duvidavam dos efeitos nefastos das mudanças climáticas.


Existe na ONU uma velha piada segundo a qual um camelo é um cavalo desenhado por um comitê. O IPCC não é um camelo nem sequer um comitê, é um foro de cientistas para o intercâmbio de pesquisas e avaliações sobre o efeito das mudanças climáticas. Não é, portanto, um órgão de negociação entre governos nem visa a criar normas para reger o comportamento das nações e das sociedades: seu foco é apenas o diagnóstico científico e não está sujeito aos condicionamentos políticos que geralmente levam a soluções de compromisso mais diluídas. E este diagnóstico foi claríssimo: se não forem tomadas medidas importantes para reverter os efeitos dos gases estufa que causam o aquecimento global, haverá conseqüências graves na forma de desertificação de regiões tropicais, derretimento de geleiras e elevação do nível do mar ameaçando as cidades costeiras, fortes prejuízos para a agricultura mundial e para a fauna, entre outras.


Em todo o mundo, o que era um tema marginal, quase restrito aos ecologistas, se transformou num dos tópicos políticos mais em foco. Nos Estados Unidos, por exemplo, a questão figura em posição destacada na agenda do já intenso debate para as eleições presidenciais de 2008, em parte porque está associada à questão crucial de como evitar a dependência do petróleo importado e, de outro lado, porque a devastação de Nova Orleans pelo furacão Katrina funcionou como um alerta dramático sobre os perigos dos fenômenos naturais acelerados pela ação humana. Até o presidente Bush – apelidado de ‘texano tóxico’ no passado, por suas fortes ligações com as empresas de petróleo – está agora tentando parecer construtivo, após ter denunciado o tímido acordo de Kyoto sob a alegação de que inibiria o crescimento da economia norte-americana. A própria China, que hoje é a campeã mundial da poluição, acaba de fazer da proteção ao meio ambiente uma de suas prioridades, inovando assim significativamente.


Mas se pode dizer que as condições estão dadas para um amplo acordo internacional sobre o aquecimento global? A resposta não é clara.Ela começará a ser esboçada em Bali, nas próximas semanas, quando se iniciam negociações governamentais com este objetivo. Há duas categorias de dificuldades:


Questões políticas – Não está claro qual será o grau de engajamento dos dez países que são os maiores responsáveis na tarefa de impor limites às emissões de CO2. Os europeus parecem ser os únicos que têm uma postura positiva já definida. Por diversas razões, os Estados Unidos, a China, a Rússia, a Índia, a Indonésia e o nosso Brasil (grande emissor de CO2 por causa do desmatamento da Amazônia) manifestam relutância em aceitar uma disciplina internacional.


Questões de método – Está havendo um grande debate sobre quais seriam os métodos mais eficazes para combater o aquecimento global. A fórmula mais amplamente preconizada tem origem já no acordo de Kyoto: limitar as emissões e permitir que se desenvolva um comércio internacional de créditos de excedentes de carbono, conhecido pelo título em inglês cap and trade. Em outras palavras, os países aceitariam a obrigação de restringir suas emissões de CO2, mas haveria estímulo que pudesse compensar suas emissões pela aquisição de certificados de projetos que absorvam gases de efeito estufa. Muitos consideram que este esquema é de viabilidade duvidosa pela dificuldade de estabelecer as cotas, controlar as emissões e os próprios projetos, verificar a observância dos compromissos e implementar um sistema ambicioso de comércio de créditos de carbono. Para estes analistas, a única alternativa viável seria a criação de um imposto proporcional às emissões, destinando-se os fundos arrecadados ao desenvolvimento de tecnologias não poluentes, inclusive na área de energia, para a proteção das florestas.


Creio que o debate que vai se iniciar em Bali será longo e complexo. Finalmente, entretanto, deverá resultar numa fórmula global de compromisso. Os governos não podem mais evitar a adoção de medidas universais de controle das emissões de CO2.


O Brasil encontra-se curiosamente em posição paralela à dos Estados Unidos, opondo-se a medidas universais e preconizando apenas que cada país tenha suas próprias metas e métodos de controle. Continuamos, assim, na contramão, como disse recentemente o professor José Goldenberg. É lamentável que seja assim no momento em que, ao contrário das fanfarras presidenciais, o Ministério do Meio Ambiente informou nesta semana que o desmatamento cresceu fortemente nos últimos três meses, em particular em Mato Grosso e em Rondônia.


Luiz Felipe Lampreia, professor de Relações Internacionais da ESPM, foi Ministro das Relações Exteriores (1995-2001)’


 


PROVOCAÇÕES
Tiago Décimo


DEM critica Wagner por espaço a Dirceu no ‘Diário Oficial’


‘A exibição de uma entrevista do ex-ministro José Dirceu ao programa Provocações, pela TVE Bahia (emissora estadual), e o uso de sua imagem em destaque no Diário Oficial do Estado, anteontem, causaram revolta na bancada de oposição ao governador Jaques Wagner (PT).


‘Existe, entre eles, uma confusão entre o que é máquina pública e o que é máquina partidária’, dispara o líder da oposição na Assembléia Legislativa, Gildásio Penedo (DEM). De acordo com ele, a bancada já se reuniu e decidiu entrar com uma denúncia de autopromoção partidária contra o governo no Ministério Público da Bahia. ‘Todo mundo sabe dos graves problemas pelos quais a política cultural está passando no Estado. O espaço que foi usado para promover o José Dirceu, tanto no Diário Oficial quanto na TV, poderia ser usado para divulgar nossa cultura em si.’


A coordenadora de jornalismo do governo do Estado, Ivana Braga, alega que o uso da imagem de Dirceu no Diário Oficial foi decidido por critérios objetivos e jornalísticos. ‘Qualquer que fosse o entrevistado do programa, ele teria espaço no local, porque a página em questão é sempre usada para informar a programação cultural do dia no Estado, na TV e em outros locais’, disse. ‘Não ‘politizamos’ nosso trabalho.’


O texto do Diário Oficial destaca: ‘Dirceu, que também é advogado, esclarece as acusações feitas contra ele e diz que nunca conseguiram provar nada contra sua pessoa. Comenta que já foi condenado e cumpriu pena.’ Segundo Ivana, são apenas comentários sobre o que o ex-ministro falou na entrevista concedida ao ator e diretor Antônio Abujamra.


O diretor da TVE Bahia, Pola Ribeiro, afirma que o programa Provocações é produzido pela TV Cultura, de São Paulo, e faz parte da grade padrão da emissora estadual baiana. ‘A bem da verdade, seria uma honra para nós produzirmos um programa apresentado pelo Abujamra, ainda mais com o José Dirceu como entrevistado. Que emissora não gostaria disso?’’


 


CINEMA
O Estado de S. Paulo


George Lucas planeja levar Star Wars à TV


‘O diretor americano George Lucas, criador da série Guerra nas Estrelas, planeja realizar uma versão televisiva da saga. Em entrevista ao jornal Los Angeles Times, Lucas admitiu que ‘acabara de começar a trabalhar esta idéia’. No entanto, afirmou que a trama será centrada nos ‘pequenos personagens’ do universo de Guerra nas Estrelas e que, desta forma, os fãs não verão novas histórias de personagens célebres da história do cinema, como Luke Skywalker e Darth Vader. ‘É algo completamente diferente. Mas é uma boa idéia, e vai ser muito divertido levá-la à frente’, indicou ele, sem revelar detalhes da trama.’


 


TELEVISÃO
Keila Jimenez


SBT perde Grammy


‘A Band acertou anteontem a compra dos direitos de transmissão do Grammy Latino, premiação musical que por muitos anos foi exibida pelo SBT.


A emissora do Morumbi tomou a dianteira nas negociações do evento logo após um artista lançado pelo Programa Raul Gil, Rick Vallen, ganhar uma indicação na categoria ‘revelação’.


O Grammy Latino, que irá ao ar ao vivo na Band, no dia 8, terá como âncora a jornalista Mariana Ferrão. Patrícia Maldonado estará em Las Vegas nos links da premiação. A Band ainda não acertou quem serão os comentaristas do evento.


Entre os cantores brasileiros indicados para o prêmio este ano estão: Ivete Sangalo, Skank, Capital Inicial, Lobão, Zé Ramalho, Zezé Di Camargo e Luciano e Daniela Mercury.


O SBT, por meio de sua Assessoria de Imprensa, diz que a rede abriu mão do evento, mas nos bastidores a história não é bem essa. Sabendo do interesse da Band, a emissora de Silvio Santos foi atrás da transmissão e levou desvantagem por ter dado pouca importância à premiação em outros anos, exibindo compactos gravados da festa.’


 


CINEMA
Luiz Carlos Merten


Deborah Kerr, a atriz que soube amar


‘Ela virou um ícone importante dos anos 50, como Marlon Brando na moto de O Selvagem ou Marilyn Monroe com as calcinhas à mostra, seu vestido levantado pelo vento do metrô em O Pecado Mora ao Lado. Deborah Kerr estabeleceu-se no imaginário dos cinéfilos rolando na areia da praia, com Burt Lancaster, na tórrida cena de adultério de A Um Passo da Eternidade. Hoje em dia, aquilo é fichinha perto do que se pode ver hoje na Sessão da Tarde, mas, em 1953, o diretor Fred Zinnemann estava dando um passo importante para ajudar a enterrar o obsoleto Código Hays – o que só ocorreu na década seguinte -, ao mostrar daquele jeito um casal, e ainda por cima de adúlteros. Rezava a tradição hollywoodiana que mesmo marido e mulher tinham de dormir em camas separadas.


Deborah Kerr tornou-se uma referência tão fundamental que Rita Lee incluiu-a na letra de Flagra, que virou tema da novela Final Feliz, no verso imortal ‘Se a Débora Kerr/que o Gregory Peck’, evocando não apenas ela, mas também o astro que morreu em 2003. Deborah Kerr morreu anteontem no Condado de Surrey, aos 86 anos. Há tempos sofria de mal de Parkinson, que foi se agravando cada vez mais. Causou comoção a imagem da trôpega Deborah Kerr que recebeu o Oscar de carreira que a Academia de Hollywood lhe atribuiu, em 1994. Ela pisou naquele palco vacilante, exibindo o que para muitos pareceu uma imagem degradante, vindo de uma mulher que representara a maturidade do sexo, na tela. O problema não era de Deborah. Envelhecer não é crime. criminoso é o preconceito da sociedade, que delega ao idoso – algumas pessoas assinalaram isso – pesos muito maiores do que o cansaço dos anos.


Deborah Kerr nasceu Jane Kerr-Trimmer em 1921, em Hennelsberg, na Escócia. Estudou dança e começou a fazer teatro muito jovem. Sua estréia no cinema ocorreu aos 20 anos, na versão da peça Major Bárbara, realizada por Gabriel Pascal, em 1941. Aos 30, a elegância tipicamente inglesa de Deborah Kerr tomou de assalto Hollywood e no biênio 1950-51, ela fez dois grandes sucessos da época – As Minas do Rei Salomão, a versão de Andrew Marton e Compton Bennett, com Stewart Granger; e Quo Vadis?, que Mervyn LeRoy adaptou do romance do polonês Henryk Sienkiewicz. Nos anos seguintes, com raro talento, Deborah Kerr conseguiu criar na tela todo tipo de personagem feminina. Fosse ela uma adúltera (A Um Passo da Eternidade) ou uma freira (O Céu É Testemunha, de John Huston), o espectador podia estar seguro de que ia ver na tela uma atriz capaz de expressar sentimentos viscerais da mulher.


Talvez tenha sido este o grande legado de Deborah Kerr. Na sua grande fase, ainda anterior ao feminismo, ela humanizou a mulher no cinema, abordando seus sentimentos em relação ao amor e ao sexo em papéis (e filmes) que se tornaram inesquecíveis. A inválida de Tarde Demais para Esquecer, de Leo McCarey; a amante do pai hostilizada pela jovem Jean Seberg em Bom-Dia Tristeza, de Otto Preminger; a governanta das crianças que podem estar possuídas de Os Inocentes, terror gótico de Jack Clayton; a missionária reprimida de A Noite do Iguana, que John Huston adaptou de Tennessee Williams; e o novo casal adúltero que ela formou com Burt Lancaster em Os Pára-Quedistas Estão Chegando, de John Frankenheimer, mostraram que essa grande dama não temia subverter a própria imagem, para melhor servir a seus personagens. Um de seus grandes papéis foi em Movidos pelo Ódio, de Elia Kazan, em 1969. Deborah era a mulher de Kirk Douglas, mas ele estava mais interessado na amante, Faye Dunaway. Numa cena ousada, ela dava vazão à sua sensualidade insatisfeita, pegando de forma obscena no mastro da cama. Grande Deborah Kerr. É impossível ser cinéfilo sem ter amado essa grande atriz.’


 


LUTO
Flávia Guerra


Uma missa para celebrar o talento de Paulo Autran


‘‘O que fazer com a saudade?’, perguntavam-se os presentes à missa de sétimo dia celebrada ontem em homenagem ao ator Paulo Autran, morto na última sexta, aos 85 anos. De fato, como matar a saudade que fica de Paulo Autran? ‘No coração de cada um. O amor que temos por ele é eterno. Esta missa é para lembrar que a vida dele deve ser celebrada. E não sua partida’, completou o padre Michelino Roberto.


Quem lotou ontem a Igreja Nossa Senhora do Brasil, no Jardim Europa, em São Paulo, não fez mais que concordar. Não por acaso, amigos, parentes e fãs se ajoelharam diante da memória do ator. Em uma cerimônia silenciosa, mas emocionante, a viúva de Autran, a atriz Karin Rodrigues, única a subir ao púlpito e se pronunciar, entoava a Liturgia da Palavrra: ‘Aos olhos dos homens parecem ter sido castigados, mas sua esperança é cheia de imortalidade.’


‘Ele foi um mestre para todos. E se houve alguém que celebrou a vida, que se doou com amor e dignidade ao ofício de ator, este alguém foi o Paulo’, declarou a atriz Eva Wilma. Beatriz Segall completou: ‘Ele teve uma vida plena. Viveu cada segundo. E recebeu as justas homenagens também em vida. É por isso que estamos felizes pelo caminho que ele segue agora.’


E é para a lista dos imortais que Autran definitivamente entrou. ‘Estamos confortados porque ele não sofreu. Esteve sempre muito bem cuidado. Sabia que estava na hora de ir. Agora fica sua falta imensa’, dizia uma de suas irmãs, Marta Autran, que recebeu saudações de personalidades como o governador José Serra, o rabino Henry Sobel e artistas como Lígia Cortez, Eliana Fonseca, Regina Braga, Juca de Oliveira e Glória Menezes. Quem também recebia abraços como verdadeira irmã era Tônia Carrero. ‘O Brasil deve tanto a vocês. Ele foi o grande amor da vida de nós todos’, dizia um grupo de colegas. Tônia desatou a chorar. ‘Começamos juntos no teatro em 1949. Primeiro fomos amantes. Depois fomos irmãos. Foi um privilégio ter o Paulo como companheiro. E esta irmandade seguiu e seguirá por toda eternidade’, dizia a atriz com sofreguidão. ‘Vocês eram indivisíveis’, definiu Sérgio Mamberti. ‘Isso! Faltei com ele nos últimos momentos. Não estava a seu lado. Mas jamais estive longe dele. Nem ele de mim. Me mandou um beijo antes de partir.’


O corpo do ator foi cremado e suas cinzas deveriam ser jogadas no jardim de Karin, em uma cerimônia particular, após a missa. ‘Depois da celebração de hoje, tudo se renova, as energias se refazem. Sua memória estará sempre viva’, disse Marta Autran. ‘A morte é a passagem para a dimensão da eternidade’, concluiu o padre. Se depender do legado que deixa Paulo Autran, esta é a mais genuína das verdades.’


************


Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 19 de outubro de 2007


VENEZUELA
Nelson Motta


As chaves do fracasso


‘RIO DE JANEIRO – Quando Chávez não renovou a concessão da RCTV, a emissora tinha 30% da audiência nacional. Seus estúdios e transmissores foram transferidos para a Televisora Venezolana Social, a TV pública bolivariana, com uma programação feita para elevar a cultura da população e ser um bom exemplo para os outros canais, onde o povo pudesse se ver, respeitando a pluralidade e o gosto popular: a população decidiria o que quer ver. Em setembro, a TVS tinha caído para 4,6%, e, em outubro, para 3,6%. A audiência da RCTV migrou para outros canais privados, e a TV chavista tem muito dinheiro e apoio político, só não tem público.


Programas sobre artesanato, danças folclóricas, escolas comunitárias, saúde da mulher, música nativista, celebração de heróis nacionais, entremeados por propaganda governamental, não estão conseguindo agradar o público, que continua preferindo as novelas, os telejornais e as séries americanas das TVs privadas.


O que ganharam os venezuelanos com isso? Mais opções de diversão? Mais qualidade de informação?


A TVS é ótimo exemplo de tudo o que uma boa TV pública não deve ser. Uma emissora movida a dinheiro de impostos tem que ter metas de desempenho que justifiquem os seus investimentos e os salários de seus funcionários e gestores, chegando ao público que menos tem e mais precisa de informação e diversão. Não basta que alguém ou algum conselho diga que os programas são ‘bons’. É o público que vai julgar, vendo ou mudando de canal. E aí, mudem-se os programas, não o público.


Num país de 190 milhões de habitantes, quando um programa de televisão, por ‘melhor’ que seja, é visto só por 5 mil pessoas (a média diária das TVs estatais), o dinheiro de todos está pagando o privilégio de poucos. Em vão.’


 


Felipe Seligman


Odebrecht paga livro sobre Bolívar


‘A Venezuela planeja distribuir neste ano, a escolas públicas de São Paulo e outros quatro Estados brasileiros, uma coletânea com cem textos escritos por Simón Bolívar entre 1805 e 1830. O Distrito Federal também receberá os livros, cuja primeira tiragem é patrocinada pela construtora Odebrecht.


As idéias de Bolívar, herói da independência da América hispânica, servem de inspiração para o atual presidente venezuelano, Hugo Chávez, que se esforça para ser reconhecido como líder da América do Sul.


O lançamento da versão em português do livro ‘Simón Bolívar – o Libertador’ acontecerá no próximo dia 30 de outubro, no Museu Nacional de Brasília. Lá devem estar presentes diretores das 624 escolas públicas do Distrito Federal, que serão os primeiros a receber o livro para suas bibliotecas.


A prática deve ser repetida nos cinco Estados onde existem consulados venezuelanos: São Paulo, Rio de Janeiro, Roraima, Rondônia e Amazonas. Cada consulado já possui cópias do livros, que devem ser doados a partir do mês que vem. De acordo com o adido cultural da Embaixada da Venezuela, Wilfredo Machado, a meta é atingir todo o território brasileiro com novas edições.


A construtora Norberto Odebrecht, que patrocinou os primeiros 5.000 exemplares, possui diversos empreendimentos naquele país. A assessoria de imprensa da construtora diz que, desde 1959, adota uma política de contribuição cultural e já patrocinou cerca de 200 livros, grande parte deles no Brasil. Também diz que a obra mostra apenas o pensamento de Simón Bolívar, ‘líder reconhecido internacionalmente’.


A apresentação do livro, escrita pelo embaixador da Venezuela no Brasil, Julio García Montoya, celebra o ‘libertador’ Simón Bolívar como ‘a essência de nossa história, um ideal de justiça e liberação’. ‘Consideramos ser da maior importância a divulgação desses documentos entre as novas gerações de brasileiros’, diz o texto do embaixador.


Simón Bolívar nasceu na Venezuela em 1783. No século 19, participou de movimentos pela independência de alguns países da América Latina.


A doação de livros a escolas brasileiras tem como referência recentes decisões de Caracas, que prepara uma reforma para implantar um ‘currículo bolivariano’ nas escolas venezuelanas nos próximos anos. A versão final da reforma curricular ainda não foi divulgada pelo governo Chávez.’


 


LUTO
José Sarney


Paulo Autran


‘SÃO LUÍS do Maranhão, uma das cidades mais antigas do país e onde está preservado o maior conjunto da arquitetura colonial portuguesa, tinha no teatro uma devoção cultural. Basta dizer que a igreja de Nossa Senhora da Luz foi inaugurada, em 1617, com uma representação teatral, diálogos compostos pelo padre Luís Figueira, um dos mártires jesuítas da evangelização da Amazônia.


O Teatro São Luís é o segundo do Brasil, foi construído por iniciativa privada e inaugurado em 21 de junho de 1816 com o nome de Teatro União. No tempo da navegação a vela, São Luís era o porto mais próximo da Europa, 28 dias, viagem favorecida pelos ventos e correntes marítimas, e ali primeiro aportavam as companhias líricas que vinham apresentar-se no Brasil. Havia o gosto do teatro, e cada sobradão guarda até hoje um espaço que era obrigatório para o seu teatrinho, onde as famílias cultivam essa arte.


O Teatro São Luís foi construído tendo como modelo o Scala de Milão, em tamanho pequeno, aconchegante, belo. Tem um ar de uma casa em que todos participam do espetáculo, tão próximos ficam platéia e artistas. Por ali passou Furtado Coelho, aquele cuja mulher Eugênia Câmara era a musa e amante de Castro Alves. Num camarim nasceu a maior atriz brasileira de todos os tempos, Apolônia Pinto. O teatro tinha assinantes, e as óperas e operetas eram as grandes atrações da cidade.


Nesse teatro, onde, por tradição e uma certa superstição nos meios artísticos, dava sorte estrear, conheci Paulo Autran na década de 50. Nós fundáramos uma Sociedade de Cultura Artística (Scam) com a professora Lilá Lisboa, Lucy Teixeira, Lago Burnett, e recebíamos e nos fazíamos de cicerones aos artistas que nos visitavam. Lembro-me que acompanhei Henriette Morineau, Tônia Carrero, Maria Della Costa e Paulo Autran.


Com Paulo, Henriette e Tônia fizemos uma amizade bem forte. Com que encanto e nostalgia lembro-me das noites gloriosas do ‘Otelo’ e do ‘Entre Quatro Paredes’, o público em delírio, e do tempo de Tônia -essa beleza que não passa- e Paulo na sua companhia com Adolfo Celi.


Ninguém no Brasil representou tanto o chamado a uma vocação artística quanto Paulo Autran. Encheu o coração de sua geração e das novas gerações. Grande e magnífico ator -o maior de todos. Criatura extraordinária. Quando presidente, o mandei convidar para Ministro da Cultura: ele não aceitou, nem Fernanda Montenegro. Perdi eu. Foram fiéis ao teatro, mais do que eu à literatura.


Sua morte deixa a lembrança da frase de Rilke sobre Rodin: ‘Todos os grandes homens já morreram’.’


 


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Cana-de-açúcar lá


‘Saiu o relatório do FMI sobre o futuro da economia mundial e, no ‘Wall Street Journal’, o enunciado foi ‘Etanol de cana do Brasil recebe impulso do Fundo’. É ‘o único mais barato’ em produção que a gasolina, o que expõe o milho dos EUA à ‘exacerbação do debate comida vs. combustível’.


E ontem mesmo o ‘New York Times’ deu que, na Flórida e em Louisiana, produtores de açúcar de cana vêem seu ‘futuro’ no etanol -e bancam legislação por subsídios. De volta ao ‘WSJ’, também a China busca opções ao milho. Nada de cana; a aposta é a mandioca.O ‘SUPERCICLO’ Não, não foi a Turquia que elevou o petróleo até US$ 90, arrisca a ‘Economist’. Levada pelos Brics, a economia global poderia estar abrindo ‘superciclo’ -e o céu é o limite para as commodities, dos metais à soja, do gado ao cacau. E, na foto, uma bomba de etanol.


PALAVRAS, PALAVRAS


O ‘NYT’ selecionou, do encontro na África do Sul, a frase de Lula sobre Doha, ‘é inútil ser convidado para a sobremesa’. Já o ‘Washington Times’ foi mais otimista.


No destaque do ‘Hindu’, mais palavras. No ‘Economic Times’, o alerta de que a cooperação Sul-Sul se prende à ‘retórica’, com ‘visível falta de ação’. E o ‘Sify’, também indiano, foi além e, sobre Doha, arriscou que ‘o fracasso poderá marcar o começo do verdadeiro multilateralismo’.


EUA E OS COMANDOS


Ray Colitt, da Reuters, adiantou parte da nova edição da revista da Americas Society, ‘Crime e (In) Segurança’. O almirante-chefe do Comando Sul dos EUA aborda terror na América Latina, mas trata também, com outros, das ‘gangues’ urbanas do Brasil.


MURDOCH QUER MATAR


Reportagem do ‘Guardian’ deu que Rupert Murdoch, novo dono do ‘WSJ’, foi questionado se deseja ‘matar o ‘NYT’ com as mudanças que planeja -e ele respondeu, ‘seria bom’. Sobre a NBC, concorrente de seu novo canal, Fox Business Network, afirmou que já está ‘meio morta’.


Já o ‘NYT’ e o também concorrente ‘Financial Times’ deram -e criticaram- o novo canal com expressões como ‘alegre’ e ‘para diversão, não conselhos de investimento’.


REDES NA REDE


O ‘FT’ noticiou dias atrás e o ‘NYT’ publicou longa crítica ontem sobre a programação -cada vez mais extensa- das redes americanas na internet, com séries tipo ‘Lost’ e até ‘Ugly Betty’. É seu ‘novo modelo de negócios’ para a web.’


 


FCC
Folha de S. Paulo


EUA podem flexibilizar lei de comunicações


‘O presidente da FCC (Comissão Federal de Comunicações, que regula o setor nos EUA), Kevin Martin, disse que o órgão pode votar até o fim do ano mudanças na lei sobre quantas empresas de mídia uma companhia pode ter em uma mesma cidade.


Pela proposta de Martin, a lei seria mais flexível. No modelo atual, há uma série de barreiras que torna difícil, por exemplo, uma empresa ter um jornal e uma emissora de TV na mesma cidade.’


 


PUBLICIDADE
Thiago Reis


Grife é multada pela Justiça por usar modelos sem roupa


‘A grife Ellus Jeans foi condenada pela Justiça de Santa Catarina a pagar indenização de R$ 500 mil por danos morais por uma publicidade considerada abusiva. A empresa já recorreu da decisão.


Veiculada no verão deste ano, a campanha mostra os modelos Evandro Soldati e Letícia Birkheuer seminus.


Para o juiz Domingos Paludo, da Vara da Fazenda Pública de Florianópolis, a peça ultrapassou ‘as barreiras morais atuais sugerindo às abertas, para vender calças, que elas influem nas práticas sexuais dos jovens e dos adolescentes -a quem se destinam com maior freqüência ou a quem os apelos convidam mais eficientemente’.


As imagens, veiculadas em outdoors e em outros meios, foram retiradas no final do ano passado, por uma decisão provisória concedida por Paludo.


Em uma das fotos, os modelos abraçados usam apenas calças. Em outra, Letícia aparece nua à beira-mar usando os jeans para cobrir o corpo.


Na ação, o promotor de Justiça Fábio Trajano diz, sobre uma das fotos, que ‘não há quem precise de muita imaginação para entender o gesto do rapaz. Ele está prestes a tirar as calças, enquanto a garota já se encontra sem roupa.’


Segundo o Ministério Público, a propaganda tem ‘forte apelo sexual’ e ‘houve flagrante deturpação de valores sociais e culturais, pois uma empresa que tem como principal objetivo a comercialização de roupas [nem] sequer as mostra’.


A indenização será destinada ao Fundo de Bens Lesados do Estado. A decisão de 23 de julho só foi divulgada anteontem, quando as partes foram notificadas. O presidente e fundador da Ellus, Nelson Alvarenga, afirmou, em nota, que ‘não concorda com o teor que está sendo objeto de recurso’.’


 


OUTRO CANAL
Daniel Castro


Globo veta comercial com trio da Record


‘A Globo vetou uma campanha publicitária de uma instituição de ensino superior que pretendia, inicialmente, juntar os três apresentadores do ‘Hoje em Dia’, da Record.


Por causa da restrição, só foram gravados comerciais para televisão em que Ana Hickmann, Britto Jr. e Eduardo Guedes aparecem separadamente anunciando as Faculdades Anhangüera. Nos anúncios em jornais e na internet, os três apresentadores do matinal da Record estão lado a lado.


Um executivo da Globo confirmou à Folha que a publicidade com os três juntos foi vetada porque remeteria o telespectador ao programa da concorrente e seria quase uma ‘chamada para a Record’.


O veto, no entanto, foi embasado em uma norma da Globo. Essa instrução proíbe qualquer artista da emissora de fazer comerciais interpretando seu personagem. Com o objetivo de preservar os respectivos programas, o elenco de ‘A Grande Família’, por exemplo, não pode fazer um comercial junto. Nem Ana Maria Braga pode anunciar com o Louro José. As restrições também valem para programas da concorrência.


No caso da campanha do trio do ‘Hoje em Dia’, não houve regravações de comerciais, porque a Globo foi consultada antes. A Folha apurou, no entanto, que o veto frustrou o anunciante. Ele contratou os três apresentadores pensando em tê-los juntos na TV.


ARRANCADA 1 O capítulo de anteontem de ‘Duas Caras’ marcou 45 pontos, quatro a mais do que sua maior audiência até então.


ARRANCADA 2 O curioso é que os dois maiores ibopes de ‘Duas Caras’ foram às quartas, segundo pior dia da semana para as novelas. Anteontem, no entanto, ‘Duas Caras’ pode ter se beneficiado do futebol, embora sua audiência tenha sido cinco pontos maior do que Brasil x Equador.


PALAVRÃO A Globo deixou vazar a torcida xingando Galvão Bueno, aos 24 minutos do segundo tempo. Incomodado, ele falou ‘atendima’ em vez de ‘atendimento’. Depois, justificou: ‘O torcedor começa a se irritar de vez. Aí está sobrando pra todo lado’. O placar ainda era 1 a 0.


CRESCIMENTO CHINÊS Maior operadora de TV paga do país, a Net anunciou ontem ter fechado o terceiro trimestre com 2,402 milhões de assinantes, 17% a mais do que um ano antes. A empresa já tem 419 mil assinantes de pacotes digitais.


VALE QUANTO PESA? A programação de 2008 da Band já está praticamente definida. A única dúvida é o programa de Gilberto Barros, o Leão. Avalia-se que a atração custa muito pela audiência que dá.


MARATONANDO De olho no crescente interesse do brasileiro por corridas de rua, o SporTV comprou os direitos de transmissão com exclusividade total (TVs paga e aberta) da Maratona de Nova York, dia 4. E torce para o brasileiro Marílson dos Santos, vencedor da prova em 2006.’


 


DIÁRIO DE S. PAULO
Monica Bergamo


Vai e volta


‘O ex-governador Orestes Quércia foi procurado por emissários que perguntaram se ele gostaria de recomprar o jornal ‘Diário de S. Paulo’, das Organizações Globo. Ele disse que não. Por meio de assessoria, Paulo Novis, diretor da Infoglobo, desautoriza a sondagem e diz que a publicação não está à venda. A empresa, aliás, contesta pedido de falência de credor que pede US$ 29 milhões por dívida antiga. O caso será julgado nas próximas semanas.’


 


LITERATURA
Folha de S. Paulo


Booker Prize quer colocar obras na rede


‘Todas os romances finalistas do Booker Prize, o mais importante prêmio literário inglês, devem ficar disponíveis em breve na internet. Segundo Jonathan Taylor, presidente da fundação que concede o prêmio, as negociações com as editoras e o British Council, instituição que promove a cultura britânica no exterior, as negociações estão avançadas.


Para Robin Robertson, diretor-adjunto da editora Jonathan Cape, o projeto parece com o último experimento feito pela banda Radiohead, que ofereceu a seus fãs a possibilidade de baixar da internet seu último álbum, ‘In Rainbows’, por um valor à sua escolha. Na última terça-feira, a irlandesa Anne Enright recebeu o prêmio por ‘The Gathering’ (o encontro).’


 


CINEMA


Folha de S. Paulo


Oscar 2008 tem número recorde de inscrições


‘O Brasil vai disputar vaga no Oscar de melhor filme estrangeiro em edição com número recorde de concorrentes. A Academia terá que escolher entre 63 produções seus cinco indicados a melhor filme estrangeiro na 80ª edição da premiação. ‘O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias’, de Cao Hamburger, é o candidato brasileiro.


Há 11 trabalhos hispano-americanos concorrendo. Nomes veteranos, como o polonês Andrzej Wajda e o português Manoel de Oliveira, participam da disputa com ‘Katyn’ e ‘Belle Toujours’, respectivamente. ‘Lust, Caution’, longa de Ang Lee vencedor da última edição do Festival de Veneza, não poderá participar porque os responsáveis pela seleção em Taiwan afirmam que o longa não respeita a exigência de que determinados membros da equipe do filme tenham nascido no país. Em 2001, ‘O Tigre e o Dragão’, também de Lee, ganhou quatro Oscar, incluindo melhor filme estrangeiro.’


************