Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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‘O banco de investimentos Merrill Lynch divulgou, nesta segunda-feira (21/06), um relatório questionando a confiabilidade dos números de exemplares vendidos apresentados pelos jornais americanos. O relatório, assinado pela analista Lauren Rich Fine, foi motivado pelo fato de alguns jornais – Chicago Sun-Times e Newsday, entre outros – terem admitido que informavam números superiores aos reais.

Na segunda-feira (21/06), a Tribune Co., segunda maior editora de jornais dos Estados Unidos, informou que está revisando a maneira como a circulação é calculada para 14 de seus jornais, incluindo o Los Angeles Times, o Baltimore Sun e o Chicago Tribune.

A empresa tomou essa decisão depois que duas de suas publicações, Newsday e Hoy, admitiram ter aumentado os números de suas vendas. Apesar da ampla investigação, a Tribune não acha que os outros jornais tenham erros de circulação.

O Newsday reduzirá o número divulgado de sua circulação diária em 40 mil exemplares, ou 6,7%, referente a setembro de 2003. O número da edição dos domingos foi reduzido em 60 mil exemplares, ou 8,9%. No Hoy, o corte será de 15 mil por dia, de segunda-feira a sábado, e 4 mil nos domingos.

Na sexta-feira, um jornal concorrente, o Chicago Sun-Times, revelou que o Newsday, de Nova York, e o Hoy, em língua espanhola, haviam informado números acima dos reais em 2002 e 2003. Só que a controladora do Sun, a Hollinger International, está sendo processada por dois anunciantes que acusam o jornal de ter mentido sobre a circulação.

Os investidores temem que os anunciantes exijam a redução das tabelas de publicidade e que os acionistas vendam os papéis das empresas se não estiverem seguros sobre o número de exemplares vendidos.

A Washington Post Co., controladora do jornal do mesmo nome, também está revendo seus controles de circulação, informou na segunda-feira (21/06) seu presidente e diretor-geral, Stephen Hills. Ele explicou que a revisão é um procedimento periódico da companhia.

O relatório do Merrill Lynch também diz que pode haver falhas no sistema de auditoria do Audit Bureau of Circulations (ABC), organismo semelhante ao Instituto Verificador de Circulação (IVC) no Brasil. A analista do banco sugere que o ABC faça auditorias complementares o mais rápido possível.

O ABC verifica a circulação dos jornais uma vez por ano. O presidente do grupo, Robert Troutbeck, disse que o escândalo dos jornais será discutido no mês que vem.’



O Estado de S. Paulo

‘‘Los Angeles Times’ demite 160 empregados’, copyright O Estado de S. Paulo / Los Angeles Times, 24/06/04

‘Enfrentando queda na publicidade, o jornal Los Angeles Times demitiu 60 jornalistas e 100 funcionários do setor burocrático. Além disso, cerca de 30 empregos foram cortados pelas publicações filiadas à holding Tribune, incluindo os jornais Recycler, Times Community News e California Community News. No final de 2003, o Los Angeles Times tinha 3.420 funcionários, 1.110 deles na parte editorial.

‘Todas essas pessoas que estão saindo deram uma significativa contribuição para o jornal e para a vida na redação. Lamentamos perdê-las’, afirmou John Carroll, editor desse jornal de Los Angeles. A Tribune, holding responsável por essas publicações, tem um projeto mais amplo de redução de custos. Com 20 mil funcionários, ela pretende cortar pouco mais de 1% do pessoal.

A direção da Tribune informou ainda que está revendo a análise de circulação de todas as suas 14 publicações, ao constatar que os números de duas delas estavam inflados – do Newsday, de Melville, Nova York, e do jornal Hoy, publicado em espanhol.

Os números revistos indicam que em setembro passado a circulação do Newsday caiu 6,7% (40 mil exemplares a menos por dia) e 8,9% (60 mil exemplares a menos) nos domingos. No caso do Hoy, a revisão foi de 16% (15 mil exemplares diários) e de 4 mil a menos aos domingos.’



EUA / MÍDIA & JUSTIÇA
Bia Moraes

‘Promotor ‘vazava’ informações para a mídia’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 24/06/04

‘Na mesma semana em que a mídia norte-americana trata diária e exaustivamente de dois assuntos bastante desconfortáveis para a administração Bush – o lançamento da autobiografia do ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, ‘My Life’, e a aguardada estréia do novo longa metragem de Michael Moore, ‘Fahrenheit 9/11’ – esta mesma imprensa está sendo colocada em xeque por sua atuação duvidosa durante o processo de impeachment de Clinton, conduzido pela controversa figura do promotor Kenneth Starr.

Enquanto o ex-presidente recupera seu brilho e recebe tratamento de popstar da mídia e do público, concedendo entrevistas e fazendo disputadíssimas sessões de autógrafos – nas duas livrarias de Nova York onde Clinton esteve nessa terça-feira (22/06) os fãs começaram a formar filas nas calçadas 24 horas antes – um documentário em cartaz em alguns cinemas da cidade mostra quanto dinheiro e esforços foram consumidos nas investigações conduzidas pela comissão independente liderada por Starr, na tentativa (frustrada) de tirar Clinton do cargo de presidente dos EUA. Mas, além de revelar as artimanhas e manobras escusas utilizadas por um grupo de republicanos, o que fica evidente no filme ‘The Hunting of the President’ é a manipulação da imprensa durante o período em que as manchetes de todos os veículos de mídia tratavam do caso Clinton x Monica Lewinsky.

Um bom segmento do filme é dedicado ao tema da atuação da imprensa. Repórteres e editores de grandes jornais, que cobriram os escândalos da era Clinton, relatam a histeria vivida na época. ‘Não se tratava de investigar a verdade. Tratava-se de fazer a notícia do dia’, diz um editor. ‘Se algum de nós, jornalistas, questionasse – será que Clinton é mesmo culpado? – era imediatamente tratado como louco e desacreditado pelos colegas. Todos seguiram a mesma onda.’

Outro se refere ao período em que correspondentes eram enviados para a cidade natal do então presidente, Little Rock, no Arkansas, em busca de ‘furos’ ou histórias que pudessem corroborar a versão de que Clinton teria um passado repleto de casos de traição a Hillary ou qualquer outro tipo de conduta irregular. Ele conta o quanto era difícil suportar a pressão do editor, exigindo diariamente novas histórias, quando não havia nada de novo a contar.

Outro jornalista entrevistado no filme reporta o clima de histeria à competição entre os jornais – todos estavam cobrindo o caso e precisavam de novidades diariamente – e também à lembrança do caso Watergate, investigado por dois repórteres do jornal Washington Post e que acabou resultando na renúncia do presidente Richard Nixon nos anos 70. ‘Havia no ar aquela sensação de que estávamos vivendo um novo Watergate. Cada um de nós poderia ser o Bob Woodward ou Carl Bernstein dos anos 90’, relembra o jornalista.

A denúncia mais grave em relação à imprensa mostrada em ‘The Hunting of the President’, no entanto, é a revelação de que o promotor Kenneth Starr deliberadamente ‘vazava’ para a mídia informações preciosas sobre as investigações. Ciente de que os jornalistas estavam ansiosos por qualquer novidade sobre o caso, Starr diariamente revelava trechos estratégicos do processo, ou mesmo adiantava quais seriam as perguntas durante a investigação no dia seguinte, feita pela comissão independente que ele liderava. ‘A pessoa chegava para ser interrogada, no que supostamente era um procedimento secreto, e todo mundo já sabia de antemão o que aconteceria ali porque havia sido publicado por algum jornal. E pior: todos os repórteres sabiam que era o próprio Starr quem vazava as informações. Mas nenhum jornalista o denunciou, para não perder a fonte’, revela um repórter.

O próprio Bill Clinton fez uma crítica sobre a imprensa em uma das entrevistas concedidas nesta semana para o lançamento de ‘My Life’. Questionado pelo repórter David Dimbley, da BBC, sobre o caso Lewinsky, o ex-presidente respondeu: ‘Um dos motivos que levou Kenneth Starr a levar o caso adiante foi porque pessoas como você perguntam apenas esse tipo de coisa para pessoas como eu. Vocês deram carta branca a Starr ‘.

Depois, Clinton disse que os repórteres se tornaram ‘ferramentas’ nas mãos dos republicanos durante o processo de impeachment. O ex-presidente afirmou também que a mídia ficou ao lado de Kenneth Starr enquanto o promotor levava ‘pessoas humildes do Arkansas’ para depor na Corte. ‘Quem se importou se a vida dessas pessoas estava sendo destruída, se suas crianças estavam sendo humilhadas? Vocês (da imprensa) deveriam assumir responsabilidade sobre isso. Vocês deveriam dizer ‘sim, eu me importei mais com os escândalos de Clinton do que com o resgate do povo da Bósnia’, disse Clinton ao repórter britânico, que seguiu adiante com a entrevista perguntando se o ex-presidente realmente não considerava que sexo oral como uma forma de relacionamento sexual. Clinton disse que não responde a esse tipo de pergunta.’