Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Comunique-se

MERCADO EDITORIAL
Cristina Vaz de Carvalho

A efervescência do mercado carioca em 2005, 21/12/05

‘A correspondente deste Jornalistas&Cia no Rio de Janeiro, Cristina Vaz de Carvalho, teve um ano de muito trabalho para acompanhar a intensa movimentação no mercado carioca, fato que não se via desde o boom da Internet. Cristina viu nascer dois novos jornais populares, divulgou mudanças estratégicas no comando dos veículos, mostrou detalhes da diversificação de mercados praticada por um dos mais tradicionais títulos brasileiros e pôde, enfim, ‘saborear’ um ano com boas informações. É dela o texto abaixo, com uma retrospectiva do que se passou na mídia do Rio, em 2005. Vale a pena conferir.

Um 2005 com mais samba-enredo nos gabinetes que nas redações de jornais. Tevê e rádio agitam o mercado de trabalho.

Roda, roda, roda e avisa – Este ano, assistiu-se a um sem-número de discussões sobre os números dos jornais. Quem roda mais; as diferenças entre tiragem declarada e auditada; daquilo que rodou quanto de fato vendeu; por que preço vendeu. Não se trata de debater a queda de circulação do jornal impresso em geral, que vem sendo discutida há muito tempo – e deve ser – mas a tiragem diária. Fez falta um espaço maior para se falar do conteúdo, principalmente dos populares e seu papel social, de levar informação concreta a novos leitores que a ela ainda não tinham acesso.

Líder vs líder – Apesar de a principal disputa dos jornais cariocas ter ocorrido nas ruas, como veremos mais adiante, o ano começou revelando as preocupações no campo do leitor fiel, das assinaturas, e no âmbito da circulação nacional. Em março, a Infoglobo (O Globo + Extra) viu seus números encostarem nos da Folha de S.Paulo, líder do mercado, e projetou ultrapassá-los no segundo semestre. Os acontecimentos a fizeram tomar um rumo um pouco diferente. Foi obrigada a defender o Extra em várias frentes: a volta de O Dia ao perfil popular; o lançamento do Meia Hora, de aspecto tão semelhante que motivou uma pesquisa; a chegada do Q! com distribuição diferenciada; a promessa do Aqui de vir para o Rio com preço próximo do jornal gratuito. Ainda que todos os concorrentes somados não atinjam a vigorosa circulação do Extra, foi preciso uma atenção redobrada com o conteúdo, e cobrir ofertas, aqui e ali, para não perder estrelas na redação. Como se não bastasse, até a gráfica, filha mais jovem e motivo de orgulho da empresa-mãe, este ano deu o seu mau passo, no episódio da troca de uma página do Extra impressa em O Globo e vice-versa. O fogo cruzado distraiu a Infoglobo da meta traçada para este ano. Com isso, ganhou a Folha de S. Paulo, que manteve a liderança nacional, impávido colosso. Num cenário árido, de crise política e violência urbana, é de se notar o cuidado editorial das duas publicações, traduzido em muitos prêmios. Os cadernos especiais de O Globo, o jornalismo investigativo do Extra e sua nova revista foram destaques este ano. E, para a frente, não é demais lembrar aos concorrentes cariocas que, se for preciso, a Infoglobo pode lançar um jornal gratuito; o projeto existe.

Impacto – Dizem que o ano só começa depois do Carnaval e 2005, para os jornais do Rio, foi pontualíssimo. Em plena temporada de folia para uns e férias para outros, Eucimar de Oliveira, então editor-chefe do Extra, anunciou sua volta, longamente negociada, para O Dia. Chegou com a fama de ter feito do Extra um campeão de vendas. O Dia, que tivera, nos áureos tempos, a maior circulação do País, amargava curva descendente nos últimos anos e, numa jogada decisiva, tirou do concorrente o principal executivo para tentar virar o jogo. Até o final do ano, esta percepção se alterou. O novo diretor editorial logo trocou pessoas em postos de confiança na redação, reduziu editorias e fechou sucursais para manter apenas a da Baixada. Em meados do ano, o jornal lançou a revista Tudo de bom e o grupo mudou a diretoria nas áreas administrativa e comercial. Mas nada se comparou ao impacto da chegada do tablóide Meia Hora, em setembro, amplamente discutida pela mídia que cobre mídia. Concentrou os esforços nas bancas, limitando a área editorial ao mínimo indispensável, e abriu seu espaço com agressividade, como uma metáfora da vida na rua. O jornal O Dia continua em queda, enquanto o Meia Hora, que triplicou a tiragem e dobrou a redação em três meses, é um inegável sucesso. O grupo O Dia continua no páreo, e dá sinais de que, para tanto, talvez precise substituir aos poucos a marca antiga pela nova, e colocar a estrutura de que dispõe a serviço de outros tempos. Fiel à tradição de Ari Carvalho.

Começar de novo – Correndo em raia própria, e arcando com o ônus de recomeçar do zero, uma das herdeiras do mesmo grupo O Dia lançou em novembro o vespertino Q!. Em termos de noticiário, e ainda que o primeiro slogan mencionasse o jornal do dia seguinte, o Q! se posicionou como concorrente não dos jornais impressos, mas dos telejornais da noite, procurando o consumidor que não vai para casa depois do trabalho. Não por acaso, a redação tem no comando nomes vindos da televisão. Apostou na distribuição por jornaleiros em pontos-chave; em vez de promoções, ofereceu aos anunciantes esse veículo para distribuição de brindes. Ainda faz ajustes, no conteúdo, no pessoal – a fase é de maturação do investimento.

O percurso – O JB começou em janeiro a se transferir da Av. Rio Branco para o Rio Comprido e só terminou a mudança em dezembro. No meio do caminho, com as caixas de papelão espalhadas pela redação, mudou muito. Montou uma gráfica, uma sucursal em Niterói e lançou um caderno para essa cidade, nos moldes do bem sucedido Barra. Começou o ano com Ziraldo no Caderno B, termina com uma incógnita. Eliminou suplementos, anunciou a criação de outros. Perdeu Marcus Barros Pinto e Boechat; promoveu Ana Tahan, contratou Amaury Mello e formatou um aquário com novo modelo; trouxe Paulo Fraga para o Comercial. Foi sentida – e reclamada por Maurício Menezes no Embratel – a ausência do JB nos prêmios de final de ano, que dão tanto gás a uma redação que se esforça para driblar as dificuldades do percurso.

Na luta – O Jornal do Commercio aderiu aos novos tempos. Inaugurou em outubro a tão anunciada sucursal em São Paulo; fez edições regionais para Brasília e Minas a partir da edição carioca. Passou a circular às 2as.feiras – sob os protestos da redação pouco habituada aos finais de semana. Na rota dos populares, prometeu lançar no Rio o Aqui, experiência dos Associados este ano em Minas. Apesar da postura agressiva, não perdeu a ternura, e leva o troféu de mais civilizado do ano, por conta de seu entendimento com o Sindicato. Diante de cortes iminentes, foram tomar satisfações e o presidente Maurício Dinepi respondeu com cordialidade: convidou os diretores do Sindicato para almoçar e negociou à mesa, que não a de reuniões, um acordo satisfatório para ambas as partes.

E ainda – O Fluminense providenciou uma reciclagem na redação, mudando o comando em março, e acompanhou a tendência editorial, lançando em junho uma revista mensal. Também em março, o Lance estreou a rádio Lance no Ar na Internet e, no segundo semestre, reformulou a revista Lance A+. As revistas semanais, mergulhadas na briga pelos destaques da crise política que assolou o País, destaques esses que raramente nasciam no Rio, deu às sucursais muito trabalho mas menos chances de brilhar, e tampouco promoveu grandes mudanças. Em maio, Mino Pedrosa assumiu a direção da IstoÉ, liberando o chefe da sucursal Aziz Filho para a reportagem.

Zapping – Nenhuma das mídias assistiu a tanta movimentação de pessoal como as tevês. A concorrência partiu com vontade para cima do 2º lugar, a ponto de repercutir sobre a líder, em termos de audiência e de pessoal. A TV Globo começou o ano montando escritório na China e, em seguida, lançou o Globo Notícia, jornais curtos no meio da programação diurna. Enfrentou dentro de casa a rumorosa saída de Ana Paula Padrão para o SBT, o que provocou mudanças no formato de apresentação do Jornal da Globo e uma troca de cadeiras entre os apresentadores de todos os telejornais, aí incluídos os da GloboNews. Firme na expansão regional, a Globo abriu sucursal na Baixada Fluminense. O SBT Brasil fez renascer o jornalismo da emissora, adormecido por longo tempo, e o escritório do Rio precisou montar equipe completa de apoio. A Record Rio criou um núcleo para a produção de programas em rede nacional, inaugurou filial na Baixada, e terminou o ano como a emissora que mais cresceu em audiência, embora não tenha atingido o 2º posto do SBT. A Band Rio fez obras na casa e no cenário, reforçou a equipe e manteve um toque carioca no noticiário, que pode ser atribuído à personalidade forte de Ricardo Boechat. O grupo estreou em maio a Rádio BandNews FM, também com equipe completa no Rio. Apresentando-se como a primeira FM exclusiva de notícias, provocou a imediata reação da CBN, que passou a transmitir também nessa freqüência, depois de tantos anos no mercado sem concorrente direto. Houve espaço ainda para as emissoras públicas, que viram este ano Arnaldo César assumir a TV Alerj e Jorge Guilherme, a Rádio Roquete, com notável aprimoramento do conteúdo. A mídia eletrônica como um todo merece, sem dúvida, o troféu de principal empregador do ano, a que abriu mais postos de trabalho para os jornalistas.

Assessorias – Ganharam as assessorias de empresas e órgãos públicos ao atrair nomes consagrados, que angariaram respeito nas redações. Foi o caso de Lívia Ferrari e Mônica Magnavita, trocando a Gazeta Mercantil pelo BNDES logo em janeiro. No segundo semestre, Marcus Barros Pinto mudou-se para Brasília, a caminho da CNI. Perderam as assessorias que os deixaram sair, como a Fecomércio, com Sonia Rezende e Consuelo Sanchez. Até outubro, desfez-se a tropa de elite da Petrobras, trocando a experiência pelos concursados. Também a Fundação Roberto Marinho realizou uma reformulação geral. Ivan Accioly aderiu ao plano de demissão do Sebrae, e deixou a casa depois de 14 anos. Em setembro, vimos movimentação nas mais importantes editoras de livros, simultaneamente à Feira de Frankfurt, com se todas precisassem adequar seu discurso aos novos títulos adquiridos. É costume as assessorias de políticos acolherem com generosidade jornalistas temporariamente afastados das redações. Mas, este ano (que ainda nem é ano eleitoral), nada se comparou ao coração de mãe de Anthony Garotinho, escancarando secretarias e autarquias para os atingidos pelos cortes, principalmente de O Dia. O candidato à Presidência da República fez estoque de mão-de-obra da melhor qualidade, em grande quantidade.

Dura lex – O Sindicato dos Jornalistas do Município deu trabalho aos advogados. Precisou defender seu presidente e um repórter em processo criminal movido por Nelson Tanure, que considerou ofensivos editorial e matéria publicados na revista Lide. Mais tarde, porém, pode comemorar a conquista dos ex-funcionários da Bloch, que conseguiram receber direitos trabalhistas há muito pendentes, a partir de ações conjuntas decididas em assembléias. E a Arfoc – Associação dos Repórteres Fotográficos, chorou a perda de Alaor Barreto, um ícone de sua geração.

Notícias boas ou ruins, ano que vem tem mais.’

DIRETÓRIO ACADÊMICO
Carlos Chaparro

Emoção, sim, mas sem enganar, 23/12/05

‘O XIS DA QUESTÃO – Saber usar a linguagem da emoção para chamar a atenção dos leitores (títulos criativos, imagens agressivas, números contundentes, falas surpreendentes…) é competência própria do bom jornalista. Mas a falta de uma boa pitada de honestidade intelectual pode estragar a receita. E é intelectualmente desonesto usar os truques da emoção para enganar os outros.

1. Inusitado gorro

Em tempo de Natal, por que não falar de assunto natalino?

Notícia, por exemplo.

Ontem, hoje, anteontem, amanhã – em tempos de compras e Papai Noel, até o olho gordo dos comerciantes sobre o 13º dos pobres vira notícia natalina. Portanto, nada mais natalino do que certas notícias.

E por falar em Notícia e em Papai Noel, o que mais me chamou a atenção, no noticiário dos últimos dias, mais especificamente nos telejornais do dia 21 e nos diários do dia seguinte, foi a profusão de fotos e imagens filmadas do gorro vermelho usado pelo papa, na audiência semanal concedida aos fiéis.

Peguemos, por exemplo, o Estadão de 22 de dezembro. O dia estava servido por um banquete de grandes notícias: a revelação do primeiro relatório de verdade da CPI, mostrando os caminhos do dinheiro do mensalão; as repercussões da histórica eleição de Morales na Bolívia e a sua decisão de nacionalizar a exploração do gás natural; o casamento de Elton John com o seu companheiro de há 12 anos, em Londres; a crise de insolvência que ameaça de intervenção a PUC de São Paulo; os sinais de que, enfim, começam a chegar ao consumidor os benefícios da queda dos juros; a festa argentina com o maior crescimento econômico dos últimos cem anos; a acusação de Saddam, de que foi torturado pelos americanos; a transferência dos arquivos secretos da ditadura para o Arquivo Nacional de Brasília, liberados do sigilo que os protegia…

Pois num dia desses, o que mais chamou a atenção dos editores do Estadão foi o inusitado gorro vermelho usado pelo papa – ‘por causa do frio, não para homenagear Papai Noel’, tiveram eles o cuidado de esclarecer, para que nenhum de nós, leitores do jornal, começasse a desconfiar de que a Igreja decidira elevar Papai Noel ao altar das coisas veneráveis.

Temos aí, então, a estranha situação jornalística de se dar emoção de notícia importante a um fato sem a mínima importância. O papa nada disse, nada fez que pudesse mexer com o mundo. Resolveu, porém, usar um gorro vermelho que pertencera a João XXIII, e isso bastou para os editores cederem um quarto da capa do jornal ao assunto, produzindo, até, o ofuscamento da manchete, dedicada ao relatório da CPI.

2. Emoção e Honestidade

Qualquer um de nós, se colocado na posição de ter que decidir o que mais deveria chamar a atenção dos leitores ou telespectadores nos jornais daquele dia, provavelmente faria mesmo. Ou seja: usaria a curiosa e inesperada imagem do papa para fisgar a atenção do leitor.

Ainda que assim fosse, isso em nada melhoraria o mérito jornalístico da notícia – que, afinal, não passou do aproveitamento oportunista de uma daquelas curiosidades que o jornalismo adora acolher, do tipo ‘o homem mordeu o cachorro’, porque são ótimas para chamar a atenção dos destinatários da notícia.

Fica claro, portanto, que o destaque dado pelo jornalismo universal ao gorro vermelho do papa se deve à semelhança criada com o Papai Noel, e não ao frio. E o fato de o gorro ter pertencido a João XXIII não agrega ao fato quaisquer atributos de notícia.

Simbolicamente, no plano dos processos cognitivos que organizam as nossos relações com os jornais, o gorro vermelho, usado publicamente às vésperas do Natal, transformou o Papa em Papai Noel – ainda que o conservador Bento XVI deteste essa figura-mito do consumismo natalino, universalizada pelo marketing americano. E esse foi o ingrediente que chamou a atenção do mundo.

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Falamos, aí atrás, em processos cognitivos, o que, para efeito das razões deste texto, exige uma certa explicação. Para que possamos nos entender, vamos aceitar que, no sentido genérico, cognição é a operação do intelecto que, por atos conscientes, nos leva a adquirir notícias de alguma coisa, por semelhança ou representação em relação a um certo objeto – seja ele objeto real, abstrato ou fictício. Portanto, o que nos torna leitores interessados dos jornais é o exercício cognitivo da inteligência.

No caso do papa, olhando aquela foto, quem de nós não pensou em Papai Noel? Na mente de quem se deixou fascinar pela foto a cinco colunas, a notícia não era aquela sugerida pelo título do Estadão – ‘Bento XVI veste o gorro de João XXIII’. A notícia que emergia da foto era a de que Bento XVII se fantasiara de Papai Noel. Aliás, o próprio Estadão, em uma das legendas das duas fotos publicadas, informa que ‘alguns fiéis, principalmente as crianças, acharam que se trata de um gorro de Papai Noel’.

Eis aí, a verdadeira razão de o gorro vermelho ter conquistado as primeiras páginas. Ao Estadão, faltou coragem e honestidade para assumir que essa era também a razão do destaque dado á foto. A Folha, ao contrário, além de mais discreta no aproveitamento do ‘factóide’, não hesitou em dar ao texto-legenda um título intelectualmente honesto: ‘Papa Noel’.

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Em resumo, o que quero dizer é o seguinte: a elaboração final de qualquer notícia é obra do leitor, porque pertencem ao seu mundo os objetos da cognição que usa para o entendimento e a interpretação da realidade relatada. Saber chamar a atenção dos leitores (com títulos criativos, imagens agressivas, números contundentes, falas surpreendentes…), para lhes ativar o interesse, é competência própria do bom jornalista. Mas a falta de uma boa pitada de honestidade intelectual pode estragar, irremediavelmente, a receita.

E mais uma vez para que nos possamos entender, diga-se que, no exercício do jornalismo, por honestidade intelectual entendo a escolha consciente e voluntária de não usar os truques da emoção para enganar ou tentar enganar os outros.’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Nota dez, 22/12/05

‘Evite acidentes !

Faça tudo de propósito.

(Da lavra do saudoso Carlito Maia, enviado por Fausto Ryo Osoegawa.)

Nota dez

De Bolívar Lamounier, que é o mais preparado cientista político do Brasil, em resposta a uma pergunta de Veja:

‘A pessoa que se diz desencantada, que xinga o governo, que freqüentemente está falando do assunto com os colegas está participando da política, e isso é bom. Outro ponto positivo: tirar o aspecto mágico e messiânico do PT e de Lula traz benefícios para todo mundo. Países não têm nada a ganhar com a mistificação ou a idolatria.’

O professor Bolívar, é sempre bom lembrar, está com um livro precioso em todas as livrarias: o recém-lançado Da Independência a Lula – Dois séculos de política brasileira.

(Leia no Blogstraquis a íntegra da excelente entrevista a Veja, surrupiada da revista em nome do interesse público.)

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Minissérie

Janistraquis está ansioso para ver a minissérie global ‘JK’, que, como todos suspeitam, deve ser uma deslavada deferência ao companhêro:

‘Considerado, a identificação de Lula com Juscelino Kubitschek é tão completa e avassaladora que a minissérie só pode ser encarada como bajulação da emissora, né não?’

Concordo. Além do companhêro ter cumprido, até agora, trinta anos em três, nos faz lembrar em tudo o construtor de Brasília, seja no modo de se vestir, falar ou sorrir para esse afortunado povo brasileiro.

Cuidado, cachorro!

A considerada leitora Vanda Guedes de Figueiredo, que tem canil no Rio de Janeiro, envia chamadinha de capa do UOL:

Cão sem fucinheira — Homem fica 15 dias preso no Rio de Janeiro.

A moça ficou indignada:

‘Focinheira com U? Esta eu nunca tinha visto. Espero que o redator seja mordido (levemente, vá…) por um rotweiller daqueles bem bravos!’

Janistraquis garante: não se usa focinheira no Brasil porque muitos nunca ouviram falar em tal equipamento e alguns, quando o conhecem, nem sabem escrever o nome certo.

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Conceito elástico

Deu na revista jurídica Última Instância:

Lugar onde clientes bebem e pagam por sexo não é prostíbulo, diz TJ-SP.

Janistraquis, que passou infância e adolescência nas zonas do mais baixo meretrício, apoiou a decisão do Tribunal:

‘Considerado, num país que tem um Congresso como o nosso, deve ser bastante elástico o conceito de putaria…’

(Leia no Blogstraquis a íntegra da estimulante matéria.)

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Dureza

Chamadinha na capa do UOL:

Presente de Natal — Um em cada 3 brasileiros não vão comprar nada.

Janistraquis, que ainda não confunde tatame com tapume, garante que ficaria melhor assim: Um em cada 3 brasileiros não vai comprar nada.

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Copa do Mundo

Japão de Zico é o maior obstáculo para o Brasil, titulou o JB em chamada de primeira página.

Janistraquis, veterano de outras copas do mundo, discorda:

‘Considerado, se a gente pensar um segundinho chegará à conclusão de que o Brasil é que será o maior obstáculo para o Japão de Zico…’

É bem pensado.

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Racismo

Janistraquis abandonou o computador, disse que ia ao banheiro, porém antes fez questão de acentuar:

‘Considerado, como se radicaliza neste pobre país, né mesmo?’

Pensei que ele se referia à Bolívia, porém fui conferir o motivo da frase e encontrei, enviada pela considerada leitora Beatriz Maffei, este textinho de matéria da Agência Folha, sob o título Ouro Preto muda bandeira ‘racista’:

Considerada racista e motivo de constrangimento para os moradores, a bandeira da cidade histórica de Ouro Preto (89 km a sul de Belo Horizonte) ganhou ontem um novo texto.

A frase em latim ‘proetiosum tamen nigrum’ (precioso ainda que negro), referência ao ouro coberto por óxido de ferro encontrado na região, foi substituída por ‘proetiosum aurum nigrum’ (precioso ouro negro).

Beatriz empinou o papagaio:

É mesmo de espantar! Durante mais de dois séculos a população de Ouro Preto se deixou constranger por uma frase em latim!!! Está provado e comprovado que os brasileiros não são todos analfabetos.

Esta coluna tem, contudo, certeza de que não havia motivo para exacerbações; afinal, tudo estaria resolvido se os ouro-pretanos se lembrassem de que o dístico não se refere aos, digamos, afro-brasileiros, mas aos tizius que abundam a região.

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Boa piada

Deu numa recuada coluna do sempre bem informado Ancelmo Gois:

Márcio 2006

Tem gente importante sugerindo um novo nome para o PT lançar como candidato ao governo de São Paulo, ano que vem.

O do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

A conferir.

Janistraquis leu e foi assaltado por tamanha e insidiosa crise de gargalhadas que mereceu censura de toda a vizinhança aqui do sítio.

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Sérgio Augusto

Fomos ensinados a não fazer justiça com as próprias mãos. E com os pés, quantos não a fazem ou tentam fazê-la? Juízes, desembargadores, procuradores. Com um único objetivo: controlar e tolher a liberdade alheia (…) Nem a internet, que parecia uma intocável e inexpugnável trincheira de liberdade, escapou à sanha repressora de governos e burocratas autoritários. Como se já não nos bastassem os neocons conhecidos, os neoconservadores, uma nova raça de neocons, os neocontroladores, prolifera mundo afora como cogumelos venenosos.

Leia no Blogstraquis o espetacular texto do Mestre, escrito originalmente para o caderno Aliás, do Estadão, e intitulado O festival de controle que assola o planeta.

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Primor de notícia!

O considerado Gilberto Gonçalves, diretor da Clik Notícia, de Campinas (www.cliknoticia.com.br), envia despacho:

O fato, por si só, já é curioso. Descrito então em texto confuso e levemente tendencioso a notícia ganha outras dimensões. Vê-se na página A6 da edição de hoje (19/12) do Correio Popular, de Campinas, a seguinte manchete sob o chapéu CRIME INUSITADO: Rapaz é preso com 2kg de bacalhau na cueca; a linha fina do título completa: Acusado já tem ficha criminal e disse na delegacia que pretendia vender o peixe (…).

O leitor faz uma série de observações à matéria, todas pertinentes, e você pode conferí-las no Blogstraquis.

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Malasartes

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal em Brasília, de cujo quartinho de despejo é sempre possível ver algum araponga da Kroll a espionar os jornalistas, pois Roldão escutou o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), da CPI dos Correios, comentar a evasiva do ministro Antônio Palocci em comparecer à comissão:

O senador comparou o ministro a Pedro Malasartes, ‘personagem de Monteiro Lobato que vivia querendo enganar todo mundo’. Antero confundiu-se, pois o personagem Pedro Malasartes é uma antiga figura do folclore internacional, não é criação do famoso escritor brasileiro de literatura infantil. Parece que o deputado não foi leitor de Lobato.

Janistraquis acha, ó Roldão, que Antero não foi leitor de muitas coisas mais!

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Errei, sim!

‘COMEÇE A ANDAR – Título de boas proporções no caderno de turismo do Estadão: Aposente as chaves do carro e começe a andar. Janistraquis, que é mais radical, recomenda que, nesses casos, o sujeito começe logo a trotar ou galopar…’ (setembro de 1991)’

MÚSICA & JORNALISMO
José Paulo Lanyi

Mas por que nós somos assim?, 23/12/05

‘Mais um Natal e até agora nada daquelas listas de promessas de Ano Novo. Costumava produzi-las nos tempos em que esperava algo mais de mim mesmo, nos tempos em que me levava a sério e cultivava a culpa de não ser um ser humano melhor.

A memória me puxa para os dias em que prometia organizar os meus cadernos – os rascunhos amassados do mapa do Inferno, comparados aos dos meus coleguinhas do primário. Nunca me perdoava por não usar aqueles hidrocores que emolduravam a caligrafia infantil dos meus amigos. Escrevia por cima, com azul ou vermelho abissal, riscava tudo com uma letra indigna de um bom menino. Não que não tentasse, nos primeiros dias de aula. Cuidadoso, letrinha arredondada, canetas multicoloridas, dir-se-ia que se tratava do caderno de um garoto, digamos, delicadinho…

Mas logo baixava a impaciência de pequeno bárbaro, e eu me punha a me autochibatar com a mais dolorosa das perguntas: – Mas por que eu sou assim?

Vieram os anos e – que ironia!-, passei a ganhar a vida com garranchos insólitos em folhas soltas. Olhei para o lado e notei outros tantos como eu: uma horda de rabiscadores, uma malta de bagunceiros que, ao fim e ao cabo, sabiam o que estavam fazendo. Era gente crescida e, assim mesmo, chamava-se de ‘coleguinha’. Não usava hidrocores, mas Bics quebradas sobre blocos descartáveis.

Eu prometia, também, ser um aluno sisudo. Nada de bagunça. Sentava-me à testa da professora… Alguns dias depois, já estava no meio da sala. Mais alguns e me despejava no lugar de onde nunca deveria ter saído. Não tinha jeito: eu era da turma do fundão. E a pergunta acomodava-se ao meu lado: – Mas por que eu sou assim?

Anos depois, na faculdade, nem mais isso eu seria. Passei o segundo ano namorando nos corredores; no terceiro, bebi nos bares da Joaquim Eugênio; no quarto, não tinha tempo de dar o ar da graça. E foi assim que aprendi: seja ‘alternativo’, mas dê um jeito de trabalhar, sem perder o rumo. Escolha a turma do ‘fundão do bem’ e saiba levar as coisas.

Adulto, já não havia listas, mas alguns propósitos. ‘Seja mais paciente com as pessoas’, ‘escreva todos os dias’, ‘cuidado com o stress’, ‘coma pratos saudáveis’…

Algumas lacunas se percebem no dia-a-dia, independem de ciclos. Sempre me incomodou, por exemplo, não me dedicar plenamente à música, essa que me suportou os passos pesados de adolescente, entre acordes e batidas de violão roqueiro. A cada Ano Novo o hobby se acentuava. Até que, apenas uns dias atrás, na esteira da teledramaturgia, me pus a compor trilhas incidentais com um músico que conheci há alguns meses.

Apresento-lhe a primeira, como testemunho de renovação. Nada de listas de Ano Novo, mas de trabalho. É como tem que ser.

O meu parceiro musical se chama Flávio Villar Fernandes e tem apenas 20 anos. Completou os nove anos de piano erudito em conservatório e hoje cursa o quarto ano da faculdade de composição na USP. Ele já compôs oitenta obras de diversos gêneros, com ênfase no erudito, e pesquisa o ‘microtonalismo’, corrente em que se debruçam desde grandes ‘luthiers’ como Seizi Tagima (dono da marca e da indústria) até instrumentistas respeitados como o violinista Felipe Dias e regentes como o maestro Marcelo Martins. As possibilidades do ‘microtonalismo’ são exponencialmente maiores que as dos doze sons. E é assim que o Flávio busca romper com o tradicional.

Pois bem. Com o meu parceiro, verti a música da ‘cabeça e do violão’ para o piano. É o que você vai conhecer agora. Os frutos já despencam das árvores. Mostrei a trilha ao jornalista Alberto Luchetti, diretor-geral da allTV. Ele gostou e, num gesto de adequação à sua proposta, aceitou a troca da voz pelo violino. ‘Invernada Op1n1’ será a trilha do editorial da allTV para o ano que se avizinha.

Ofereço-lhe aqui. Melancólica e onírica, ‘Invernada Op1n1’ expressa o inconsciente, esse vulto poderoso e desprezado, numa expressão humana que, como bem disse Caetano, ‘é o avesso do avesso do avesso’.

Importa, como mensagem, dizer que, em 2006, devemos ser o que sempre fomos, desde que disso extraiamos o melhor para nós e para os outros. Que seja com a turma do fundão ou com cadernos rabiscados e amarfanhados. Que sejamos felizes. É o que desejo para você, que me aturou ao longo de mais um ano.

Ouça a música com o cuidado de aumentar a caixa de som para não perder o detalhe do encerramento.

E que 2006 seja o primeiro dos melhores anos da sua vida.’

EUA / TELEVISÃO
Antonio Brasil

Novidades e riscos nos telejornais americanos, 19/12/05

‘Nem todo o mundo está discutindo a verdadeira identidade secreta do espectador médio dos telejornais. Em vez de tantas polêmicas, deveríamos colocar a mão na massa e começar a ‘testar’ novas idéias para o jornalismo de TV. Antes que seja tarde demais. Todas as pesquisas demonstram a redução e o envelhecimento do público do jornalismo ‘sério’ nas grandes redes. Se não fizermos algo com urgência, poderemos perder ainda mais espaços na programação para as baixarias de João Kleber, das telenovelas e similares.

Aqui nos EUA, nas últimas semanas, foram divulgadas mudanças dramáticas nos principais telejornais das redes americanas. A crise bateu forte e de frente. Os âncoras que sustentavam o prestígio, audiência e faturamento dos telejornais se aposentaram, foram aposentados ou, simplesmente, morreram. Vale tudo para evitar o fim dos telejornais.

A rede de TV ABC tomou a dianteira. Nos últimos dias lançou uma série de idéias experimentais e inovadoras. Algumas dessas idéias são meio arriscadas. Mas em tempos de crise, a pior estratégia é insistir nos erros. Os executivos americanos perceberam o problema e estão dispostos a lançar medidas ousadas para evitar a decadência do meio. Com algumas adaptações, podem ser úteis para os nossos telejornais.

Apresentadores ‘pechinchas’

A primeira grande novidade foi a substituição do falecido Peter Jennings por uma dupla meio desconhecida, inexperiente e nada carismática de apresentadores. Elizabeth Vargas e Bob Woodruff tentam compensar a falta de ‘prestígio’ e experiência com muita garra e vontade de acertar. Não são estrelas do jornalismo de TV. Comparado aos salários dos grandes âncoras, são verdadeiras ‘pechinchas’. Apesar da crise, pode vir a sobrar mais dinheiro para os investimentos nas coberturas jornalísticas.

Bem que a ABC tentou convencer Charles Gibson (ver aqui), o veteraníssimo apresentador do Good Morning América, a assumir a bancada do seu principal telejornal, o World News Tonight. Após meses de negociações, Gibson preferiu continuar fazendo gracinhas e sucesso nos programas matinais. Ele não quis trocar o certo pelo incerto. Há muitos anos, os telejornais da manhã viraram programas de entretenimento com alguns ‘breaks’ para as notícias. O sucesso tem sido enorme.

Ao contrário dos telejornais noturnos, a audiência dos noticiários da manhã está em ascensão. A razão desse sucesso talvez seja porque esses programas não pareçam telejornais. Os apresentadores matinais não parecem seres divinos ou alienígenas em cenários espaciais. Eles não ditam as notícias com aquela famigerada ‘voz de Deus’. Os programas matinais de jornalismo aprenderam a lição. Eles conversam com o público. Para esse misterioso e polêmico personagem, o espectador médio dos telejornais, o mundo não deve fazer o menor sentido. A voz de Deus, ou seja, a voz dos apresentadores dos telejornais continua distante e não explica nada. Ela dita as notícias e não comunica.

Meio a contragosto, os produtores da ABC desistiram do modelo ‘velho âncora’ com a voz de Deus e estão investindo pesado na carreira dos jovens repórteres que viraram apresentadores ‘pechinchas’. Ao contrário da nossa dupla ‘estática’ de apresentadores do JN – sempre no conforto e segurança dos estúdios globais – os executivos da ABC resolveram lançar a nova apresentadora, a pobre da Elizabeth Vargas, direto no olho do furacão. Esta semana ela está apresentando o telejornal diretamente de Bagdá. Até aí, nada de novo.

Todos os âncoras sempre aproveitaram os grandes eventos para viajar, sair do estúdio e, principalmente, investir no jornalismo, na credibilidade de suas ‘personas’.

A novidade, no entanto, novamente está na Internet. Elizabeth Vargas está oferecendo conteúdo adicional das suas inúmeras reportagens em forma de Videoblog no novo site da ABC News, o BroadcastPlus (ver aqui).

Telejornal na Internet

A boa notícia para o público é que essas matérias exclusivas para a Internet podem ser vistas sem controles, requisição de registros e grátis! Uma idéia interessante para os executivos do JN. Assim como o prestigioso New York Times e tantas outras empresas jornalísticas de grande porte, eles deveriam oferecer conteúdo dos telejornais de forma gratuita na Internet. Trata-se de um meio novo que merece um tratamento privilegiado. Nem que seja durante algum tempo para conquistar um novo público.

Depois de garantir a fidelidade do telespectador, como passou a fazer agora o NYT, o jornal decidiu cobrar pequenas quantias em uma primeira etapa. Há que se investir ou arriscar, para conquistar esse novo público para os telejornais.

E esse pode ser o caminho para encontrarmos novos meios e novos formatos para o jornalismo de TV. A ABC News também resolveu inovar na forma de utilizar as novas tecnologias como a Internet. Em vez de ignorar, combater ou menosprezar a rede, preferiu cooptá-la para os noticiários de TV de uma forma ‘ousada’.

A partir de agora, as matéria mais quentes e importantes dos telejornais da ABC não terão que aguardar o horário sagrado na grade da programação da rede para serem divulgadas. Os produtores da ABC resolveram enfrentar ‘cânones sagrados’ do jornalismo de TV e estão dispostos a pagar para ver. O risco dessa nova estratégia é enorme. Os telejornais de rede sempre privilegiaram o conceito de furo de reportagem e da exclusividade. Agora, em plena crise, vale tudo para sobreviver. A medida é corajosa e reconhece a imbatível eficiência e velocidade da Internet nas notícias de última hora.

A ABC vai colocar as suas matérias exclusivas na rede enquanto ainda estão sendo produzidas. O problema é que os concorrentes também poderão monitorar essas pautas e partirem para o contra-ataque. O risco é enorme. Mas temos que reconhecer a ousadia dessa iniciativa e, principalmente, a vontade de enfrentar as conseqüências dessas novas estratégias de distribuição de notícias.

Fim dos telejornais nacionais

Uma das maiores críticas que costumo fazer aos nossos telejornais é essa visceral falta de vontade ou coragem para mudar. No máximo, as demais redes contratam apresentadores ex-globais com salários astronômicos, secretíssimos e os colocam em cenários estranhíssimos. O que não muda jamais é o formato sagrado e o conteúdo superficial das matérias. Sempre as mesmas matérias com a mesma sintaxe verbal e visual. Nada muda em telejornalismo.

Outra idéia extremamente ousada da ABC é produzir duas versões diferenciadas dos seus telejornais nacionais. A partir de janeiro, o World News Tonight, o JN da ABC News, terá uma versão para a costa leste e outra versão para a costa oeste. Os executivos da rede americana decidiram quebrar com um dos maiores dogmas do telejornalismo mundial. Ou seja, não há mais um único telejornal noturno para todo os EUA. Abaixo à centralização e à ditadura dos telejornais nacionais. A medida foi aplaudida pelos observadores, críticos e jornalistas da costa oeste americana. Há muitos anos eles criticam os noticiários nacionais originados somente em uma única capital: Nova Iorque. A tendência à segmentação da audiência imposta pelas TVs por assinatura, finalmente atinge os ‘dinossauricos’ telejornais das redes americanas.

Prêmios universitários para telejornais

Ainda no terreno das ousadias, a rede NBC não quis ficar para trás. Em uma decisão considerada histórica pelos críticos do meio, divulgou esta semana que disporia o conteúdo integral, não editado, da sua entrevista exclusiva com o presidente americano George Bush, na rede para deleite dos internautas. Imaginem a coragem e o potencial jornalístico dessa idéia. Para nós brasileiros, imaginem assistir à totalidade daquela polêmica entrevista do presidente Lula em Paris sem cortes e edições oficiais.

Outra idéia interessante é a premiação dos principais telejornais, matérias e documentários de TV por parte de universidades de prestígio como a Columbia University (ver aqui). Esta semana foram anunciados os vencedores do prestigioso prêmio Du Pont. Trata-se de uma espécie de prêmio Pullitzer exclusivo para o jornalismo de TV.

Em vez de se digladiarem em polêmicas inúteis, trocas de acusações com resultados duvidosos e imprevisíveis, a melhor escola de jornalismo dos EUA prefere utilizar seu poder e prestígio para selecionar e premiar os profissionais de TV que se destacaram durante o ano. Mais uma vez, a ABC News, a rede das novidades, foi a grande vencedora com a cobertura do furacão Katrina. Além de conferir prestígio e reconhecimento acadêmico, a premiação também aproxima os professores dos profissionais de TV. O objetivo é evitar uma guerra desnecessária entre atividades complementares e essenciais para o jornalismo e para a sociedade. Ambos segmentos deveriam cultivar pontos de sintonia. Além da reflexão crítica, cabe à universidade apresentar soluções.

Quem não arrisca…

O futuro do jornalismo de TV também depende de uma formação mais competente das novas gerações de jornalistas em nossas instituições de ensino. Para evitar uma decadência ou crise semelhante à dos grandes jornais e telejornais, as escolas de jornalismo brasileiras deveriam perceber que não existe mais uma formação especifica voltada para um jornalista de meios impressos, rádio, TV ou Internet.

Hoje, a convergência de mídias exige uma formação holística para os futuros profissionais do jornalismo. Tanto faz se a matéria vai ser veiculada no jornal, radio, TV ou Internet. O jornalismo se tornou multimídia. Mas o mais importante continua sendo a capacidade e competência de seus profissionais. As especializações baseadas em conceitos profissionais do século passado simplesmente desaparecem. O importante é prestigiar o conteúdo. Saber contar uma boa história utilizando todos e quaisquer meios disponíveis. Quando perguntado se o jornalista é um profissional de jornal impresso, rádio, TV ou Internet, a resposta deveria ser imediata: Sou jornalista!

É obvio que muitos vão criticar ou, como sempre, dizer que todas essas ‘idéias’ e mudanças não vão dar certo, que o público de TV não merece, não está preparado, não se interessa e que no Brasil tudo é diferente. Pode ser. Mas o que mais me incomoda é essa cultura do pessimismo, da mesmice ou do desastre sempre inevitável. O telejornalismo é assim mesmo. Boa desculpa para justificar o comodismo. Como todo risco, principalmente em um meio tão conservador e avesso às mudanças como o jornalismo de TV, podemos enfrentar situações adversas e inesperadas. Mas como dizia o meu velho pai, um herói de guerra vivendo com salário-mínimo: ‘filho, quem não arrisca… não petisca’.’

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