Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Comunique-se

JORNALISMO ECONÔMICO
Eleno Mendonça

Economia de primeiro mundo, 14/8/06

‘A estabilidade da economia produz, para quem já viveu tantos momentos econômicos, coisas inusitadas. Outro dia li a notícia de que a inflação ficou acima das expectativas dos analistas. O esperado era 0,16% e deu 0,19%. Portanto, estamos falando num erro de 0,03 ponto porcentual. É precisão demais para alguém acertar, não é verdade? Mas a economia brasileira foi, definitivamente, para o primeiro mundo, onde se discutem as filigranas, os detalhes. Isso significa que a economia nacional se sofisticou, assim como a previsão do tempo. Antes, a gente se contentava em saber o que aconteceria mais ou menos com o tempo de amanhã ou depois de amanhã. Vinha a previsão, havia margem de erro enorme. Hoje a gente quer saber se vai chover à tarde. E, o que é melhor, dá para saber.

Vários fatores colaboraram para essa situação da economia. Tanto a chamada relatividade das coisas econômicas ficaram mais previsíveis, quanto a qualidade de quem faz as análises. A economia está mais confiável. É possível hoje medir mais de perto as conseqüências de se elevar ou se diminuir a taxa de juro em meio ponto porcentual. Antes, as coisas eram tão desorganizadas que iam meio que no tapa, no chute. Se tirava um ponto e via o que acontecia. Se a reação média era positiva, tudo bem, se era negativa ia se voltando atrás até ajustar.

Falando assim parece discurso de um velho. Mas na verdade tive a felicidade de viver quase todos os grandes momentos econômicos importantes nos últimos 20 anos. Esse período foi marcado por muitas experiências de ajuste até chegarmos ao que se tem hoje. Quando um jovem estudante vê essas discussões em torno de 0,03 ponto porcentual deve achar absolutamente normal. Para os da minha geração, tudo é tão pequeno que parece bobagem.

Graças a essa estabilidade, conquistada em muitos planos e governos, é possível até esquecer de cobrir o cheque especial por uns dois dias, deixar o dinheiro no bolso do casaco algum período. Afinal, você estará perdendo ou deixando de ganhar zero vírgula alguma coisa. Antes não, dois dias poderiam representar uma desvalorização tão grande que poderia levar à bancarrota qualquer empresa ou cidadão.

Entramos, portanto, na estabilidade. No longo prazo, claro, os 0,03 passam a ser muito importante. Passamos a discutir, assim, o longo prazo. Isso vale matéria, vale uma imersão nesse fenômeno que a gente via anos atrás no noticiário dos Estados Unidos e achava graça.

(*) Também assina uma coluna no site MegaBrasil, é diretor de Comunicação da DPZ e âncora da Bandnews. Ele passou pelo Estado de S. Paulo, onde ocupou cargos como o de chefe de Reportagem e editor da Economia, secretário de Redação, editor-executivo e editor-chefe, Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.’



ECOS DA DITADURA
Milton Coelho da Graça

Quem não aprende com a história…, 16/8/06

‘A reedição do livro ‘1964 – A conquista do Estado, ação política, poder e golpe de classe’ é oportuna, não só porque nos lembra que corrupção, ‘república sindicalista’ e ‘ameaça comunista’ eram os motivos invocados pelos militares. O excelente livro de René Dreifuss, um uruguaio apaixonado pelo Brasil e cuja morte foi uma grande perda para o estudo de nossa história, vai além disso e mostra como a ação organizada de empresas nacionais e multis, através do IPES (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais) e do IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), empurrou os militares para o golpe.

A lembrança do IBAD nos interessa mais de perto, porque era o braço mais dedicado a ‘trabalhar’ a imprensa e seus profissionais, com os objetivos de influenciar as eleições de 1962 e a opinião pública.

As quase 900 páginas oferecem um belo painel dessa conspiração, mas acrescento um detalhe ilustrativo, que me valeu oito meses de prisão ilegal após o golpe.

Eu tinha sido enviado a Pernambuco por Samuel Wainer, juntamente com Múcio Borges da Fonseca, para lançar a edição pernambucana de Última Hora em julho de 1962, três meses antes das eleições estaduais, atendendo a pedido de Miguel Arraes, candidato a governador hostilizado por todos os jornais e emissoras locais.

Contra todas as previsões, Arraes venceu. E eu, depois de me desentender com UH por motivos salariais, decidi viver em Pernambuco e arranjei emprego no Jornal do Comércio, cujo diretor, Esmaragdo Marroquim, só fez a exigência de que eu não assinasse matérias.

Tornei-me amigo do Secretário de Segurança, coronel Hangho Trench, um militar não-golpista, e descobri que um ex-funcionário do IBAD havia guardado os talões de cheques com anotações cuidadosas dos subornos e procurava ‘fazer um ganho’ com aquela papelada.

Para encurtar a conversa, folheei os canhotos e vi alguns nomes famosos de jornais, rádio e TV, inclusive Rui Cabral, apresentador de ‘Cadeira de Engraxate’, líder absoluto entre os programas de entrevistas na televisão pernambucana. Tentando desmoralizar Última Hora, durante a campanha eleitoral, Cabral só se referia a UH como Ofélia, uma personagem de comédias que mentia compulsivamente. Depois da vitória de Arraes, todos os jornalistas e operários do jornal havíamos saído pelas ruas do Recife como bloco carnavalesco, sob o nome ‘Ofélia perdoa’.

Depois de complicada negociação com a direção do Jornal do Comércio, foi decidida a publicação de uma matéria minha, única vez em que assinei, e uma negociação dos nomes dos subornados – no caso do Cabral, fechei questão.

Por conta disso, o coronel Ibiapina, chefe da Segunda Seção (serviço secreto) do IV Exército, me prendeu após o golpe e só me soltou no final de novembro de 1964, graças a um habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal.

Este registro final não tem nada a ver com o livro de Dreifuss, mas é irreprimível: nem isso, nem mais 20 dias no Dói-Codi e no DOPS paulista, e outros seis meses no presídio do Hipódromo em 1975 e 1976 (por editar jornais clandestinos) me credenciaram a ser anistiado pela Comissão montada por José Dirceu; nem recebi até agora as indenizações aprovadas por decretos do governo paulista de Geraldo Alckmin e do pernambucano de Jarbas Vasconcelos.

Não se iludam, caros amigos, a vida de jornalista não só é dura em Bagdá, Haifa ou Beirute.

(*) Milton Coelho da Graça, 75, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’



CORREÇÕES DE KOTSCHO
Comunique-se

Ricardo Kotscho admite imprecisões em seu livro, 18/8/06

‘Em artigo publicado no dia 17/08 no site No Mínimo, o jornalista Ricardo Kotscho admite imprecisões em sua autobiografia, ‘Do golpe ao Planalto – Uma vida de repórter’. No texto, ele afirma que qualquer erro que seja apontado por outros será retificado na edição seguinte do livro.

Kotscho deixa claro que fez uma opção consciente de contar sua versão dos fatos de memória, sabendo que isso abriria brechas para eventuais falhas. A outra opção, realizar uma ampla pesquisa, se mostrou inviável pois ‘levaria dez anos para ser feita e é uma autobiografia, não um conjunto de entrevistas’, afirmou o jornalista.

Dentre as falhas apontadas , apenas uma levou o autor a reescrever um trecho da obra e publicá-lo na Internet. Em dois parágrafos, Kotscho retifica uma injustiça que cometeu contra o também jornalista Fernando Molica. O trecho versa sobre um episódio de 1993, quando Molica, então repórter da Folha de S. Paulo, realizou uma entrevista com Lula onde o atual presidente se referiu a Itamar Franco com termos deselegantes, porém sem a intenção de ofendê-lo.

No dia seguinte, a matéria sobre o caso foi publicada na Folha, porém, o que se lia na capa do jornal foi redigido de forma mais agressiva do que o que o repórter escreveu. A entrevista foi realizada durante a Caravana da Cidadania, que acompanhava o líder petista em suas andanças pelo país. O fato aconteceu no último dia em que o jornalista estava escalado para acompanhar o cortejo.

Molica admite que ficou muito chateado, irritado até, ao ler o livro. Além de algumas imprecisões menores, o que realmente o incomodou foi o trecho que passava a idéia de que ele teria deixado a Caravana porque sua matéria havia gerado um desconforto tão grande entre seus pares jornalistas que também acompanhavam Lula, que ele teria sido impelido a se retirar.

Após um encontro entre os dois, ficou acertado que Kotscho realizaria os acertos apontadas por Molica numa próxima edição do livro e também que escreveria o artigo para o No Mínimo sobre o assunto. ‘É importante deixar claro que ele agiu com muita clareza, foi atencioso diante da reclamação desde o começo e se comprometeu a fazer isso [os acertos], a única solução possível’, esclarece Molica, atualmente repórter da tv Globo.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Hélio Fernandes, 17/8/06

‘O que vejo não verás tão cedo

nesta terra de dor

e séculos de sangue.

(Celso Japiassu in Dezessete Poemas Noturnos)

Hélio Fernandes

O colunista recebeu somente agora o número 307 do Jornal da ABI, de abril último (porque apenas há algumas semanas se filiou à entidade), número cuja matéria de capa é uma especialíssima lição de jornalismo e História do Brasil.

Sob o título A ditadura vai acabar, nós não, manchete da Tribuna da Imprensa de 27 de março de 1981, depois que o jornal sofreu um atentado terrorista que quase destruiu suas instalações, a edição, ilustrada por fotos históricas, conta a tumultuada trajetória profissional de Hélio Fernandes, em texto cuja origem foi a aula magna que ele proferiu durante os festejos do 980 aniversário da Associação.

Pode-se gostar ou não do diretor da Tribuna, abraçar ou desprezar suas idéias, mas ninguém lhe nega a capacidade como repórter, que esta sempre foi sua verdadeira função no jornalismo. E porque sempre escreveu o que quis, Hélio Fernandes despertou ódios e paixões pela vida afora. Infelizmente, não existem mais profissionais de tal e preciosa linhagem.

(Visite o site da ABI.)

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Literatura

O considerado Rogério Pereira, diretor do Rascunho, único e excelente jornal literário do Brasil, divulga a programação de cursos de Coordenação de Literatura da Fundação Cultural de Curitiba. Confira no Blogstraquis.

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Bons tempos

O considerado Moisés Rabinovici, velho amigo e companheiro do JT dos anos 70, conseguiu reunir boa parte dos melhores profissionais daquele tempo na Redação do jornal que hoje dirige, o Diário do Comércio, de São Paulo.

Lá estão, veteranos com a disposição de focas, Luciano Ornellas, Kleber de Almeida, Marino Maradei, Alcides Lemos, Bob Jungman, Luiz Antônio Maciel, Chico Lelis, Tim Teixeira… Timaço pra jornal nenhum botar defeito.

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Poema noturno

Leia no Blogstraquis a íntegra do poema de Celso Japiassu que encima esta coluna, intitulado Dizer. E se você gosta de cultura, viagens, gastronomia, pornografia & outras licenças poéticas, visite o site Uma Coisa e Outra.

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Mágica na Veja

Os considerados Fernando Paiva, João Bosco da Rocha Strozzi, Samuel Antunes, Clara Pereira Rabelo e mais 22 (vinte e dois!) leitores aos quais a coluna pede desculpas por não lhes transcrever os nomes, por absoluta carência de espaço, pois os considerados, sempre atentos, apontam sensacional tropeço da Redação deste portal na matéria intitulada Roberto Pompeu de Toledo lança seu primeiro romance, publicada na página 2 da editoria Prefácio:

Roberto Pompeu de Toledo é jornalista há 40 anos. Hoje, ele escreve diariamente uma coluna na última página da revista Veja.

É, pessoal, Janistraquis concorda; escrever diariamente numa revista semanal não é façanha para escritor, mas para mágico…

Porém, uma informação verdadeira deve ser passada: segundo a crítica literária, é excelente o romance Leda, de Roberto Pompeu de Toledo.

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Supostamente

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre a vida real é possível ver o pessoal da CUT a dar alegres cambalhotas no gramado do Congresso, nosso Roldão, dizíamos, lia o Correio Braziliense quando teve a atenção despertada por um texto-legenda abaetado sob o título Animado, Fidel recebe a visita de Hugo Chávez:

A imprensa oficial cubana divulgou ontem novas fotos de Fidel Castro, supostamente tiradas em seu leito do hospital Cimeq, em Havana, durante a visita do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Mais tarde a TV estatal exibiu um vídeo de 10 minutos do encontro. As imagens mostram Fidel na cama, conversando com Chávez, escrevendo num caderno e tomando iogurte, na presença do irmão, Raúl Castro.

O Mestre implicou com o ‘supostamente’:

Por que a ressalva? O jornalista ainda estava na dúvida?

Janistraquis garante que o redator do texto-legenda desconfia de que a história da doença e do hospital não passa de boquejo ou aldrabice; o Comandante está mesmo é de férias, acompanhado de Chávez, os dois hospedados na fazenda que George Bush mantém no Texas.

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Segurança máxima

A considerada Emília Dubrovski Moreira, do Rio de Janeiro, ficou alarmada com o ‘presídio de segurança máxima’ de Presidente Bernardes:

Que segurança máxima é essa? Vi na TV aqueles presos ameaçarem os policiais e um deles não queria abrir a porta para que a cela fosse revistada. Entende-se que ele se fecha por dentro, como se morasse num apartamento, o que é um verdadeiro absurdo.

Janistraquis, que é fã das prisões americanas, onde preso é tratado como merece, concorda com você, Emília, mas acha normal a ‘segurança máxima’ no Brasil ser aquela esculhambação que a TV mostrou. Num país de m… como este, tudo é feito pela metade.

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Marcola

Um adEvogado, cujo nome Janistraquis infelizmente não guardou, garantiu na TV que a manutenção do bandido Marcola em confinamento é mesmo inconstitucional:

‘Não apenas fere a Carta Magna como agride os direitos humanos. Afinal, um interno tratado dessa forma terá poucas chances de ser reintegrado à sociedade’, ladrou o adEvogado.

Janistraquis, que só não tomou nota do nome da criatura porque cozinhava de costas para a televisão, quase bota a perder o angu do jantar:

‘Considerado, será que esse adEvogado acredita mesmo na reintegração de Marcola à sociedade? A qual sociedade ele se refere? À máfia?!?!

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Cheque sem fundo

Dizem os jornais que o craque Edmundo acusa Vanderlei Luxemburgo de lhe ter passado dois cheques sem fundos, de R$ 200 mil cada um, em 1999. O técnico, condenado em primeira instância a devolver o dinheiro, mais juros e correção monetária, jura que é mentira e apela à Justiça divina. Foi então que Janistraquis, sempre incapaz de passar a perna em alguém, manifestou seu estupor:

‘C’os diabos, considerado! Esse disse-me-disse é absurdo! Afinal, os malditos cheques existem ou não existem?!?!?!’

É mesmo. Se foram devolvidos pelo banco, devem existir.

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Foca barbuda

Eu estava a velejar na internet quando Janistraquis, que escutava rádio enquanto dava milho às galinhas, gritou lá do quintal:

— Considerado, veja aí se o Lula viajou para a França!

— Por que França?!?!

— É que disseram aqui no rádio que apareceu uma foca barbuda às margens do Sena!

Juntos, vimos depois que não poderia ser o Lula, porque, jornalisticamente falando, ele está muito longe de ser foca; basta ver a dinheirama que distribuiu aos Estados do sul, um dia antes de aparecer para alguns comícios de campanha.

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Velinhas

O considerado leitor está informado de que a CUT, filial de Brasília, completa 22 aninhos no próximo dia 28? Janistraquis promete fazer um bolo e convidar alguém da Fenaj para soprar as velinhas.

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Nota dez

Sob o título Lula deveria licenciar-se do cargo, o considerado Ricardo Setti escreveu no site No Mínimo, em 10/8:

Quem fala demais, reza o implacável dito popular, acaba dando bom-dia a cavalo. O presidente Lula não chegou a dirigir, especificamente, cumprimentos a nenhum exemplar da simpática comunidade eqüina, mas sua verborragia descontrolada está em perfeito estado.

Leia aqui a íntegra do notável artigo, eleito pela maioria absoluta de nossos fiéis leitores.

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Errei, sim!

‘FRASE CAPENGA -Lá embaixo, espezinhado pelo título Tarado corre atrás de crianças na Bica do Boi, lia-se esta obra-prima no Diário de Jacareí (SP): ‘Gaguinho não está só em sua sacanagem com as crianças. Segundo Claudina, existe um outro tarado de cabelos tingidos de vermelho que sempre estão correndo atrás de crianças neste trecho’.

Andrea Manograsso Pavin, que enviou o recorte, ficou perplexa com frase tão capenga e Janistraquis chegou a perder o fôlego: ‘Considerado, enquanto o tarado sacaneia as crianças, o redator do Diário de Jacareí estupra a língua portuguesa’. É, marafoneou-se a concordância.’ (julho de 1995)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).

(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.’



WEBJORNALISMO
Mario Lima Cavalcanti

Globo Online entra na era 2.0, 15/8/06

‘Na última semana, o Globo Online exibiu durante todos os dias uma animação em flash mostrando trabalhadores fazendo uma reforma na primeira página do site e uma placa que, em contagem regressiva, dizia: ‘Faltam N dias para a estréia do novo portal O Globo Online’. No dia da estréia, ou seja, no último sábado, 12 de agosto, uma nova animação mostrava uma banda musical caminhando pela mesma página principal tocando uma música e anunciando ‘Não perca hoje a estréia do novo portal O Globo Online’. A versão impressa do mesmo dia também fazia a sua parte, exibindo um anúncio similar. Tanto barulho não foi em vão. A nova versão do Globo Online – a quinta grande reforma realizada pelo portal – é uma entrada de gala na era da Web 2.0.

A primeira coisa que o leitor notará é a cara mais encorpada. Com uma largura maior, o portal, que completou dez anos no último dia 29 de julho, fez uma reformulação na estrutura de navegação e soube aproveitar o espaço. Segundo notícia no jornal O Globo, tal reforma gráfica foi ‘fruto de um trabalho de dois anos, que incluiu estudos de usabilidade, consultorias e visitas a alguns dos mais importantes sites de notícias do mundo’. As mudanças, no entanto, não param no layout. O portal agora aposta mais em elementos multimídia, regionalização do conteúdo e participação dos leitores. E é aí que a coisa começa a ficar boa.

Multimídia

No que diz respeito a conteúdo multimídia, o Globo Online abraça tudo que um jornal virtual pede: galerias de fotos, podcasts, vídeos complementando notícias etc. A seção ‘Hoje em foto’ agrega as melhores imagens do dia, feitas por fotógrafos dos jornais O Globo, Diário de S. Paulo e Extra e de agências de notícias internacionais. Uma página especial também foi criada para reunir todo esse conteúdo multimídia. Os podcasts ganham um espacinho no menu principal do site, no topo da primeira página. O jornal agora possui uma nova ilha de edição na redação que permite com facilidade a geração de podcasts de boletins de notícia e programas de áudio. Repórteres e editores do jornal passaram por um treinamento de produção e edição de áudio e vídeo.

Regionalização do conteúdo

É um ponto forte do Globo Online. Agora, o portal possui três versões: uma que destaca notícias do Rio, uma para São Paulo e uma nacional. Logo na página principal, o leitor pode escolhe qual versão quer ler, podendo a qualquer momento de alternar entre elas. É para onde grandes jornais podem caminhar. No mínimo, uma versão natal (com conteúdo sobre o estado onde foi criado) e uma versão nacional devem ser pensadas. O Globo, que possui poder de fogo suficiente para isso, soube aproveitar a questão da regionalização.

Jornalismo participativo

A aposta no jornalismo colaborativo fica a cargo da seção Eu-Repórter, que passa a agregar notícias produzidas pelos leitores. No novo serviço, qualquer usuário cadastrado pode enviar textos, fotos, áudios e vídeos com notícias para os editores do site, que, por suas vezes, analisarão o conteúdo. Além de reunidas na seção, as informações produzidas pelos leitores podem figurar em editorias relacionadas a seus temas, sempre com a marca Eu-Repórter (para identificar que foram produzidas por usuários). Uma excelente sacada e um grande estimulo para a participação do leitor.

Versão digital

Obrigatória para jornais online já há alguns anos. No caso do Globo, foi produzida com maestria. O portal reúne na seção O Globo Digital (requer cadastro) nada mais nada menos que todos os cadernos, suplementos e a revista de domingo em edições digitais idênticas ao impresso. Em se tratando de publicidade, o jornal fez uma coisa curiosa: os anúncios podem ser clicáveis, possibilitando que o leitor vá direto para o site do produto ou serviço dos anunciantes. Bom para eles. Mas, como dizem por aí, tudo que é bom, dura pouco. A gigantesca edição digital está aberta por tempo limitado. Em alguns meses o jornal começará a cobrar pelo acesso a ela.

Considerações finais

Vale uma navegação com calma para prestar atenção em outros pontos que não destaquei aqui, como as versões RSS (muito bem organizadas) e os blogs do jornal, que também passam a ter um espaço fixo na página principal.

Em termos de apresentação de informações, gostei muito da nova versão. Posso dizer inclusive que foi uma das coisas mais bacanas que eu já vi em termos de jornalismo online brasileiro. Como disse Bruno Rodrigues em um post no Ponto JOL, ‘simplesmente uma obra-prima’. Parabéns à editora-chefe do Globo Online, a ilustre Joyce Jane, e a toda a sua equipe. Até a próxima!

Em tempo

– Acesse aqui o tour virtual criado pelo Globo Online para explicar o novo portal ao leitor;

– Veja aqui notícia no JW sobre o lançamento da nova versão do Globo Online;

– Leia aqui comentário de Bruno Rodrigues no blog Ponto JOL.

(*) Trabalha com conteúdo online desde 1996 e já passou por empresas de renome na Internet. Foi editor do AQUI!, extinta revista virtual do Cadê?, editor do canal Digital do portal StarMedia e coordenador de operações do Prêmio iBest. Realizou seminários e ministrou diversas palestras sobre jornalismo digital. Em fevereiro de 2000, criou o site Jornalistas da Web (JW), primeira publicação virtual brasileira sobre jornalismo online e cibercultura. Em 2005, criou e implantou a Biblioteca de Comunicação Digital e Cibercultura (BCCD) no campus 3 das Faculdades Integradas Hélio Alonso – FACHA, no Rio de Janeiro. Atualmente, Cavalcanti é pesquisador de mídias digitais e editor de conteúdo do JW.’



JORNALISMO & HISTÓRIA
Eduardo Ribeiro

A História de uma pesquisa histórica, 16/8/06

‘Vários jornalistas brasileiros têm se embrenhado a fundo em pesquisas históricas, movidos tanto pelo faro jornalístico quanto pela curiosidade de saber mais sobre assuntos que julgam empolgantes. Usam o jornalismo e a pesquisa (jornalística e histórica) como adrenalina para complementar a atuação que têm na faina diária desse exaustivo trabalho dentro das redações e assessorias.

Hamilton Almeida é um desses incansáveis pesquisadores, atraído que foi por descobrir a verdadeira história do padre cientista Roberto Landell de Moura. Faz 30 anos que ele corre atrás de novidades sobre o verdadeiro inventor do rádio e, por incrível que pareça, sempre aparecem coisas novas, pequenos detalhes que colaboram para desvendar outras particularidades ou facetas da personagem que escolheu para dar vida.

Já escrevi aqui sobre ele e sobre seus livros, mas pela importância do tema para nós jornalistas, pedi que escrevesse um artigo contando um pouco dessa engenhosa e fascinante experiência, convencido da utilidade que teria para os leitores deste Comunique-se, especialmente os mais jovens e também para aqueles que carregam nos respectivos DNAs o gene da curiosidade, da busca do novo, das descobertas inusitadas.

Deixo-os, agora, com o belo relato deste disciplinado e entusiasmado pesquisador.

Por Hamilton Almeida

A publicação do livro ‘Padre Landell de Moura: um herói sem glória. O brasileiro que inventou o rádio, a TV, o teletipo…’, lançado recentemente pela Editora Record, sintetiza uma aventura que começou em 1976, numa aula na Faculdade de Jornalismo da FAAP. Pesquisar e escrever sobre o padre-cientista Roberto Landell de Moura é algo que faz parte de toda a minha vida de jornalista.

Capturado pelas vibrantes palavras do professor de radiojornalismo, o chileno Júlio Zapata – ele enfatizou que se sabia pouco sobre o brasileiro que inventou o rádio antes de Marconi e que, certamente, novas descobertas poderiam ser feitas – comecei a pesquisar por acaso.

Na primeira tentativa, uma incursão à cidade de Mogi das Cruzes, já apareceu uma jóia. Benedicto Olegário Berti, que havia sido coroinha do Padre Landell entre 1906 e 1907, revelou fatos que nunca haviam sido publicados. Até então, o único livro sobre a saga do Padre Landell fora escrito por Ernani Fornari, em 1960: ‘O incrível Pe. Landell de Moura’.

Decidi investigar mais. E não parei mais. E as novidades foram aparecendo em Porto Alegre, Campinas, Santos, Botucatu, São Paulo, Rio de Janeiro e até nos Estados Unidos e Europa. Contemporâneos do Padre Landell foram localizados e entrevistados. Novos documentos vieram à tona. Uma nova biografia do Padre Landell foi ganhando corpo.

Na capital gaúcha, em 1976, Guilherme Landell de Moura, sobrinho do padre inventor, informou-me da descoberta, em casa de parentes, de uma pilha de papéis que pertenceram ao sacerdote e que ninguém havia tomado conhecimento desde a sua morte. Um dos desenhos imediatamente chamou a minha atenção: ‘The Telephotorama ou a Visão à distância’, de 20 de agosto de 1904.

Esses documentos careciam de análise técnica acurada para se avaliar o que representaram em sua época. A busca de gente qualificada e interessada nesse desafio levou anos. Entre as conclusões dos peritos, novas revelações sobre a genialidade do padre-cientista: além do rádio, ele pode ser considerado precursor da televisão, do teletipo e do controle remoto pelo rádio.

Na primeira vez que visitei o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, aconteceu algo insólito. Lá encontrei um sacerdote, idoso, que havia conhecido o Padre Landell e era responsável pela instituição. Ele me disse: ‘Tudo o que existe sobre o Padre Landell já foi publicado no livro do Fornari. Não há nada mais.’

Fiquei frustrado. Anos depois, quando voltei a Porto Alegre para dar continuidade aos trabalhos, decidi visitar novamente o Instituto Histórico e Geográfico. Para minha surpresa, monsenhor Balem já havia falecido. Os funcionários do Instituto me mostraram, então, as cartas patentes e uma série de manuscritos, cadernos e páginas avulsas. E chegaram a comentar que aquele senhor, que me havia negado a possibilidade de pesquisar, passava as tardes lendo… as anotações do Padre Landell!

Quase 40 cadernos manuscritos, de repente ficaram na minha frente. Entre os milhares de textos, há dissertações religiosas, filosóficas e científicas. Os manuscritos do Padre Landell não são de fácil leitura. O lado positivo é que, com o tempo, se aprende a ‘decifrar’ o texto mais rapidamente.

Padre Landell foi pároco da Igreja do Rosário, no centro de Porto Alegre, nos últimos 13 anos da sua vida. Quando fui lá pesquisar, um padre me trouxe o livro tombo da paróquia. Fiquei numa sala, próxima ao altar, e comecei, naturalmente, a copiar tudo o que estava redigido sobre o paroquiato do Padre Landell.

Um tempo depois, o padre abriu a porta e perguntou: ‘Você está copiando tudo?’ Respondi que sim. Passou um tempo e ele voltou à sala, de forma mais incisiva: ‘O Padre Landell foi um padre que teve algumas sombras em sua vida’. Eu o escutei e continuei escrevendo. Passou mais um tempo, e o padre entrou na sala com a fisionomia alterada. E disse, taxativamente: ‘Vou fechar a igreja em cinco minutos, ao meio-dia.’ Sem outra alternativa, concordei. Mas esperei o padre sair da sala e fotografei todas as páginas restantes do livro tombo que eu ainda não havia copiado!

Outra frente de trabalho foi a pesquisa em livros de época. Cheguei a comprar, via internet, dois livros de J.C. Oakenfull que estavam em livrarias de usados nos Estados Unidos. Oakenfull registrou o pioneirismo do Padre Landell nos primeiros anos da República! A busca de informações nos jornais da época demandou horas e horas, dias e dias de persistente trabalho. E, muitas vezes, não se encontrou nada.

A pedido, um especialista fez uma análise comparativa entre as patentes de Landell e Marconi. Foi necessário estudar o desenvolvimento das telecomunicações – a história oficial -, e o contexto sócio-cultural brasileiro da época em que viveu o biografado (Segundo Império e República).

Ao pesquisar sobre como foi a implantação no Brasil da tecnologia de comunicação sem fio, a radiotelegrafia, o que praticamente colocou o Padre Landell à margem da história, me emocionei. Foi como sentir a dor do esquecimento. O país importou o telégrafo sem fio em 1905!

A busca do possível local onde aconteceram as primitivas transmissões de rádio, na Avenida Paulista, no século XIX, exigiu uma pesquisa à parte, envolvendo livros, jornais, o consulado britânico…

Não há como não se impressionar com a dramática e fascinante história de vida do padre-cientista Roberto Landell de Moura (1861-1928). E quanto mais novos detalhes de sua vida vêm à tona, mais interessante ainda se torna o saber. Padre Landell foi um dos maiores inventores na área de telecomunicações de seu tempo e… pouca gente ficou sabendo disso. E… até hoje ele, infelizmente, é pouco conhecido.

Padre Landell foi, na verdade, longe demais. Com poucos recursos, sem o apoio de ninguém, dividindo seu trabalho entre a religião e a ciência, desenvolveu uma série de inventos mesmo estando imerso num ambiente hostil. Conhecer a sua história é entender o passado. Um passado que não pode ser desconhecido.

Hamilton Almeida é jornalista formado pela FAAP – Fundação Armando Álvares Penteado (1977). Trabalhou na Agência noticiosa Telenotícias, do Grupo Visão. Colaborou com os jornais Movimento e O São Paulo. Foi repórter de economia do jornal O Estado de S.Paulo (1979) e redator-chefe da revista Energia Elétrica. A partir de 1983, repórter especial de Economia do jornal Zero Hora, de Porto Alegre. Nos anos de 1994 a 2000 foi correspondente internacional, em Buenos Aires, de ZH e da Gazeta Mercantil Latino-Americana. Voltou para a Gazeta Mercantil em São Paulo, no início de 2001. Trabalha na CDN desde abril de 2002. É autor dos livros ‘O outro lado das Telecomunicações – A saga do Pe. Landell’ (1983, Ed. Sulina),’Landell de Moura’ (1984, Ed. Tchê/RBS), ‘Pater und Wissenschaftler’ (2004, Debras Verlag, Alemanha), ‘Sob os olhos de Perón’ (2005, Ed. Record) e ‘Padre Landell de Moura, um herói sem glória. O brasileiro que inventou o rádio, a TV, o teletipo…’ (2006, Ed. Record).

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’



RÁDIO
José Paulo Lanyi, 17/8/06

Rádio só tem um ouvinte

‘(Baseado em fatos reais)

Profissional 1 (editor-chefe de um novo programa de rádio e oriundo da TV):

-Olha, muda aí, ‘você vai ouvir’ pra ‘vocês vão ouvir’.

Profissional 2 (especialista em rádio):

-Mudar pra quê?

Profissional 1:

-Muda, a gente tá falando pra várias pessoas.

Profissional 2:

-Claro, eu sei, mas em rádio não se usa plural pro ouvinte, isso é básico.

Profissional 1:

-Em TV a gente usa os dois, singular e plural. Qual é o problema?

Profissional 2:

-Bicho, rádio é ‘eu e você’. Não tem essa história de falar pra um monte de gente.

Profissional 1:

-Como não? Tá louco?

Profissional 2:

– Meu amigo, você já viu alguém dizer: ‘Bom, pessoal, é hora de ouvir rádio!’ ou ‘Vamos todos ouvir rádio agora’? Isso não existe!

Profissional 1:

-Já ouvi, sim.

Profissional 2:

-Quando?

Profissional 1:

-Na hora do futebol.

Profissional 2:

-Isso é exceção, eu falo de programa. Imagina a cena. Todo mundo na sala, batendo papo, de repente um cara diz: ‘Fulana, pega o rádio, vamos lá no quarto ouvir o programa do Bolota Júnior’.

Profissional 1(rindo):

-Bolota Júnior?

Profissional 2 (diverte-se):

-É, Bolota Júnior, nome fictício. Um amigo meu usou na novela dele.

Profissional 1:

– Sei… E aí?

Profissional 2:

-Ninguém faz isso, bicho, ninguém convida ninguém pra ouvir rádio hoje em dia.

Profissional 1:

– Ah, mas nos confins do Brasil…

Profissional 2:

– Nos confins do Brasil é televisão, meu amigo! Televisão. Nego não tem grana pra comprar comida, não tem banheiro, mas tem televisão. Tem rádio também, mas esse não é o ponto, não tem isso de convidar pra ouvir. Se acontece é raro, é exceção, e exceção não conta.

Profissional 1:

– Tudo isso por causa de um plural.

Profissional 2:

– Pra você é bobagem porque não conhece o veículo, desculpa a sinceridade. O cara que ouve rádio ouve sozinho, no carro, na cozinha, o cara tá sempre fazendo outra coisa. O rádio é o companheiro, é a outra ponta do diálogo, entendeu? O ouvinte tá na rua, no trabalho, no raio-que-o-parta, tá sempre ocupado, você tem que chamar a atenção dele, o cara não pára só pra ouvir. (ironiza) Bom, só na hora da oração da Ave-Maria, né. Aí, sim, o cara pára tudo. Mas sozinho. Não é missa, é falar com a santa, entendeu?

Profissional 1:

-Tá legal, deixa no singular mesmo.

Profissional 2:

-Beleza.

Profissional 1:

-Me diga uma coisa.

Profissional 2 (saindo):

-Fala.

Profissional 1:

-Você ouve a Ave-Maria?

Profissional 2 (bem-humorado):

– Às vezes…

(sai)

(*) Jornalista, escritor, ator, é autor de quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).’



MERCADO EDITORIAL
Comunique-se

EFE: Revista ‘Time’ passa circular às sextas-feiras, 18/8/06

‘Nova York, 17 ago (EFE).- A revista ‘Time’ começará a chegar às bancas nas sextas, ao invés de segunda, a partir de janeiro de 2007 com o objetivo de alcançar mais leitores, informou nesta quinta-feira (17/08) a empresa.

A mudança atingirá todas as edições publicadas no mercado americano e também as internacionais, como parte de um plano de relançamento que também inclui a versão digital da publicação.

Além disso, a mudança significa uma volta às origens, pois a revista da Time Warner chegava às bancas na sexta quando Henry Luze a fundou em 1923.

Pesquisas de mercado sugeriram que o início das vendas na sexta permitirá que os leitores dediquem mais tempo à leitura da publicação e trará mais benefícios para os anunciantes, que passarão a receber a revista no sábado.

Ed McCarrick, presidente e editor mundial da ‘Time’, afirmou que o novo dia de circulação ‘proporciona aos anunciantes uma tremenda oportunidade para comunicar suas mensagens para os 27 milhões de leitores da revista antes do fim de semana, quando os consumidores fazem a maior parte de suas compras’.

A ‘Time’ é a maior revista de variedades do mercado atual, com uma tiragem de mais de 5 milhões de exemplares em todo o mundo, informa a empresa. (c) Agencia EFE’



TELEVISÃO
Antonio Brasil

Telejornais da Cultura continuam muito ruins, 14/8/06

‘‘Deve-se fugir de qualquer esquema, inclusive deste esquema

de fugir de qualquer esquema’.

Campos de Carvalho, autor de O Púcaro Búlgaro.

Por que os telejornais têm que ser sempre tão chatos e previsíveis? Por que não mudam nunca? Há uma enorme e evidente resistência às inovações no jornalismo de TV. Confunde-se troca de apresentadores e cenários com mudanças de verdade. Mas como inovar nos telejornais sem arriscar a falência total do modelo, a ‘imbecilização’ do público ou a perda de audiência?

Essas não são perguntas fáceis de serem respondidas. Em um meio tão conservador como a televisão, o telejornalismo é o setor mais ‘imexível’ de toda a programação.

Há alguns meses, o ombudsman da TV Cultura, Oswaldo Martins tentou denunciar os erros e apontar soluções para os telejornais da emissora e… perdeu o emprego. O jornalismo de TV é muito resistente às inovações e ainda mais, às críticas!

Sob nova direção

Mas apesar das ‘resistências’, pelo menos na TV Cultura de São Paulo, alguns jornalistas estão tentando fugir do esquema e inovar. Infelizmente, até agora, sem muito sucesso. Eles conseguiram mudar os apresentadores, os cenários, as gracinhas, mas os jornais da Cultura continuam muito ruins. A ameaça de extinção permanece no ar.

Para quem não sabe ou não percebeu, os telejornais da Cultura estavam em crise, mudaram e agora estão ‘sob nova direção’. O experiente e competente Albino Castro assumiu o jornalismo da TV Cultura em 10 de Abril. Na época, declarava que ‘o objetivo é fortalecer a linha editorial da emissora, imprimindo um trabalho de qualidade, independente e inovador, comprometido com o jornalismo público’. Hoje, após quase seis meses, já é possível avaliar as mudanças e os ‘objetivos’.

Sou fã declarado da TV Cultura. Para mim, apesar dos problemas recorrentes da emissora e da enorme pretensão de um ‘jornalismo público sem público’, ainda é a melhor TV do Brasil. Pena que os paulistas e os brasileiros não estejam dispostos a prestigiar com mais entusiasmo, recursos e audiência esse modelo de televisão. Não sei se há futuro para uma televisão pública com tantos ou mais comerciais do que as outras TVs. Mas continuo torcendo e acreditando. A TV Cultura não é campeã de audiência, mas é sem dúvida líder em promessas e renovações. Muitas dessas renovações não mudam muito e grande parte das promessas não é cumprida.

Dentre tantos problemas, culpam-se sempre a eterna falta de recursos e a resistência do público tradicional da cultura. Conciliar renovação com tradição não é tarefa fácil. Mas continuo torcendo pelo sucesso das novas propostas da emissora paulista. Não queria um dia ter que escrever o epitáfio da emissora ou dos seus telejornais. Mas também queria parar de falar de promessas e renovações.

Telejornal Ratimbum

Após alguns meses, é possível perceber que os ‘novos’ telejornais da Cultura mudaram muito pouco. Alguns tentam ser diferentes e até mesmo descontraídos ou engraçados. Por alguns segundos tentam escapar das amarras do ‘jornalismo público sem público’. Mas ainda decepcionam. Todos são jornais ‘meia bomba’. Não têm coragem de mudar de verdade.

As ‘mudanças’ são puramente cosméticas e superficiais. Trocam-se alguns apresentadores, retiram-se as bancadas, incentivam-se as gracinhas no estúdio, mas o conteúdo dos jornais continua medíocre, pesado, arrastado, repetitivo e desinteressante. O recém-demitido ombudsman da Cultura talvez tenha razão. É possível mexer na apresentação dos telejornais, no estúdio, mas a redação da Cultura continua ditando o modelo do conteúdo das matérias dos telejornais. Ou seja, os principais telejornais da Cultural, agora sob nova direção, continuam rigorosamente os mesmos de sempre. Muito, muito chatos!

Ao meio-dia tenta-se algo um pouco mais ousado. O novo jornal do Meio-dia, o jornal Ratimbum, tem a proposta de ser um telejornal com ênfase na cultura e nos esportes com uma linguagem mais jovem e descontraída. Essa é uma palavra muito perigosa em telejornalismo. Costuma ser confundida com qualquer coisa. Menos com descontração de verdade.

Mas o talento e boa-vontade dos novos apresentadores do Cultura ao meio-dia, Rodrigo Rodrigues e Maria Júlia Coutinho, não conseguem fazer milagres. Eles bem que tentam. Mas o esquema rígido do jornalismo público inibe a experimentação e a criatividade do telejornal. No estúdio, eles deveriam ter o direito de tentar e errar. Mas o esquema de descontração de mentirinha, alguns segundos de gracinhas persiste. Casal de apresentadores deveria interagir. Deveria conversar e comentar as matérias de verdade. Quem sabe, até sair do estúdio e produzir matérias. E este é o grande problema do Telejornal Ratimbum e de todos os demais telejornais da Cultura.

Mudaram os apresentadores, mas as matérias continuam as mesmas de sempre. Investe-se em novos cenários, retira-se a bancada, investe-se na descontração dos apresentadores, mas na rua, na produção das matérias do telejornal, tudo continua rigorosamente igual.

As mesmas matérias de sempre produzidas pelos mesmos jornalistas de sempre que não acreditam em mudanças. Tudo muito, muito chato, sem imaginação, sem renovação, sem agilidade e, principalmente, sem garra.

Os âncoras que não ancoram permanecem engessados no velho esquema dos telejornais da Cultura, das eternas promessas do tal jornalismo público. Para mim, lugar de apresentador de telejornal, sempre que possível, é na rua, produzindo matérias, interagindo com o público e… apresentando o jornal. Telejornal, principalmente um telejornal jovem, não pode mais ‘ditar’ as notícias. Tem que conversar e interagir com o público. Não adianta retirar a bancada, colocar os apresentadores em pé e impedir que eles circulem pelo estúdio. Não parece falso. É falso e o público não é bobo. Logo cansa das inovações que não inovam.

Por outro lado, não se pode mais ignorar a convergência da Internet nos telejornais. Cada vez mais, o público assiste à televisão conectado na rede. Esse tipo de mudança de paradigma e de linguagem oferece grandes possibilidades para a sobrevivência dos telejornais. Investimentos milionários em novos cenários ou recursos virtuais digitais impedem os apresentadores de interagir com as matérias, com os demais repórteres e com o público. Impedem os apresentadores de trocarem experiências verdadeiras, de conversarem de verdade e de fazer jornalismo de verdade. Tudo continua muito igual, surreal, muito, muito chato e previsível.

Descontração de apresentadores de telejornais ainda assusta. Mas não adianta mudar o estilo do telejornal no estúdio e continuar tudo do mesmo jeito de sempre na redação e na produção das matérias de rua.

Nos outros telejornais da Cultura a mesmice e a falta inovação são ainda maiores. Trocaram seis por meia-dúzia. Muda a fachada, mas não muda o conteúdo. As matérias continuam as mesmas. Falta quase tudo nos telejornais da Cultura. Inclusive a sincronia entre as novas propostas da direção de jornalismo, a atitude mais solta dos novos apresentadores com a produção de matérias realmente melhores e diferentes.

O rígido formato dos telejornais permanece sagrado, ‘imexível’. A desculpa é sempre a mesma: telejornal é coisa séria e não se pode arriscar. Sempre foi assim e sempre será A ditadura da audiência, mesmo em uma televisão pública, continua soberana, mantém esquemas falidos e impede uma renovação de verdade.

Telejornal You tube

Soluções? Por que não investir em uma parceria com algumas das boas escolas de jornalismo, por exemplo? Com um investimento mínimo, os telejornais da Cultura poderiam contar com a produção de novas pautas em formatos diferenciados e inovadores. Não custa nada ‘arriscar’. Não faltam jovens com ótimas idéias. A maioria não consegue exibir suas produções ns TVs. Em tempos de revolução na Internet, estão disponibilizando seus vídeos nos novos sites de distribuição livre como o YouTube. Por que não investir em um YouTube brasileiro com matérias jornalísticas? Um site experimental que avaliaria o conteúdo das novas matérias e o interesse do público antes de serem exibidas nos telejornais da Cultura? Sonhar é preciso.

Além oferecer oportunidade para novos repórteres, essas parcerias digitais poderiam incentivar ou incomodar os jornalistas mais velhos e acomodados. Frente à inesperada competição, muitos desses jornalistas poderiam voltar a produzir boas e inovadoras matérias para os telejornais. Pode ser um bom esquema e… sonhar ainda é preciso.

O modelo das matérias do quadro Profissão Repórter do Fantástico – apesar dos excessos do Caco Barcellos – poderia indicar um novo caminho para o telejornalismo brasileiro. Aqui entre nós, as matérias têm sido muito boas, mas o Caco Barcellos deveria se restringir a orientação jornalística dos novos repórteres em vez de aparecer tanto. Outro dia, contei oito passagens do veterano jornalista da Globo em uma matéria de oito minutos. Mas a vaidade exagerada de quem aparece e quer continuar aparecendo na telinha a qualquer custo é algo que nem Freud explica. Telejornalismo é muito resistente.

Na Cultura, para melhorar ou simplesmente para evitar a extinção dos telejornais, seus diretores deveriam evitar o comodismo de velhos esquemas, reinventar o meio e mudar de verdade.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’



VIDA DE JORNALISTA
Cassio Politi

O repórter estava marcado para morrer, 18/8/06

‘O telefone da redação da Globo tocou. O repórter imaginou que o advogado que insistia para ter um encontro às escondidas estivesse querendo retomar as conversas. Mas não era ele, e sim uma fonte que o jornalista tinha na Polícia Federal de Manaus.

– Fachel, eu vi aquela matéria que você fez da madeira roubada. Você se lembra daquele cara que foi dado como o responsável pelo roubo?

– Lembro, claro.

– Pois é, acharam ele morto. Mataram o cara.

A notícia, que parecia ser apenas mais uma notícia policial, revelaria que Flávio Fachel, repórter da Globo, é quem estava marcado para morrer. Como não foi ao tal encontro, o cabeça da quadrilha foi assassinado em seu lugar.

Megajangada

O avião sobrevoava alguns anos atrás a região de Tefé (AM). Num afluente do Rio Solimões, um volume enorme de mogno deu razão aos fiscais do Ibama, que já desconfiavam de que muita madeira tivesse sido extraída ilegalmente naqueles dias, naquela região. Lá do alto, Fachel calculou que a área ocupada pela madeira era equivalente a uns dois estádios de futebol.

Quando a equipe do Ibama se aproximou, o barulho do motor denunciou a fuga dos ladrões em um hidroavião. O jornalista fez a reportagem e mostrou como era levada a madeira roubada. As toras eram amarradas umas às outras, formando uma jangada. Até casas provisórias eram feitas sobre a jangada, uma vez que a viagem rio abaixo dura dias.

Dois furtos

No dia seguinte, um dos funcionários do Ibama telefona para Fachel.

– Fachel, sabe aquela madeira que a gente apreendeu ontem?

-Sim, o que tem ela?

– Roubaram.

– Como assim, roubaram? Eram centenas de milhares de toras.

– Sim, durante a noite, foram lá e levaram embora. Mas não tem problema. Como o volume é grande, a gente encontra a madeira sobrevoando a região novamente.

Dito e feito. Horas mais tarde, o Ibama apreendeu a madeira pela segunda vez em menos de 24 horas. A matéria foi ao ar contando a recuperação do mogno roubado.

Papo por aí

Duas semanas depois, alguém atendeu o telefone da redação da TV Globo de Manaus. Era o advogado de um homem apontado como líder da quadrilha que roubara o mogno.

– Queria falar sobre aquela matéria que você colocou no ar. Meu cliente quer direito de resposta.

– Olha, o que está em andamento é um inquérito. Vocês têm de responder ao Ibama e às autoridades, não a mim.

– Mas ele está querendo conversar contigo. Vamos marcar um lugar?

– Tudo bem, eu converso. Mas não tem ‘um lugar’. O lugar é aqui, na TV. A gente conversa aqui.

Por uns dez dias, o advogado telefonou sem dar trégua. Queria marcar a tal conversa, em algum lugar pela cidade. A idéia de conversar na TV parecia não lhe agradar.

Acerto de contas

O advogado, enfim, parou de ligar. Dias depois, o telefone da TV Globo toca novamente. Era uma fonte de Fachel na Polícia Federal. Na época do assassinato, a PF investigava o que estava por trás daquele roubo de carga todo. Havia a suspeita de que o mogno estivesse encomendado por italianos. E os brasileiros responsáveis por extrair a madeira e enviá-la à Itália haviam recebido o pagamento adiantado.

Os policiais federais desconfiavam de que o dinheiro obtido com o roubo e a venda do mogno já havia sido usado em campanhas políticas na cidade de Tapauá (AM). Depois de pagar pela madeira e não recebê-la, o grupo italiano foi claro: ‘queremos a cabeça do responsável por isso no Brasil’.

Os ladrões de mogno optaram por entregar a cabeça de Fachel. ‘Por isso, eles queriam marcar uma reunião comigo em um lugar escondido. Na região da Amazônia, é fácil sumirem com alguém. O corpo é jogado na selva e nunca mais é encontrado’.

O tempo passou. Impacientes, os italianos teriam optado por não ouvir mais desculpas dos brasileiros e matar o líder do grupo. O instinto de jornalista investigativo salvou a vida do repórter.

(*) Cassio Politi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como videorrepórter de matérias de Cidades e Especiais no Uol News, comandado por Paulo Henrique Amorim até 2004. Trabalha com Internet desde 1997. Esteve em projetos pioneiros em jornalismo na Web, como sites da Zip.Net. Ministra cursos de extensão há cinco anos e deu aulas em 24 estados brasileiros para quase 2 mil jornalistas e estudantes de Jornalismo. Atualmente, tem suas atenções voltadas para a área de Marketing. Ocupa o cargo de Diretor da Escola de Comunicação, a unidade de cursos e seminários do Comunique-se.’



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O Estado de S. Paulo – 2

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