Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Comunique-se

YOU TUBE CENSURADO
Tiago Cordeiro

Brasil Telecom bloqueia YouTube, 8/01/07

‘A Brasil Telecom confirmou nesta segunda-feira (08/01) que bloqueou o acesso ao YouTube para seus usuários. A decisão ocorreu devido a sentença judicial do Tribunal de Justiça de São Paulo já que, segundo a empresa, não é tecnicamente possível bloquear apenas um vídeo do site. O bloqueio afeta usuários do provedor em todo o País.

Na semana passada, o desembargador Ênio Santarelli Zuliani acatou pedido dos advogados da apresentadora Daniela Cicarelli e seu namorado, Renato Malzoni Filho. Na ocasião, a assessoria do TJ-SP reiterou que a decisão não se aplicava ao site, mas apenas ao vídeo com cenas de sexo do casal.

Exagero

Na semana passada, o advogado Gilberto Martins, especializado em direito na internet, afirmou ao Comunique-se que o bloqueio para sites brasileiros seria inadequado. ‘É como se uma editora de livros fosse obrigada a fechar as portas caso publique um livro considerado problemático, comprometendo as vendas de outros livros, o que não é razoável’, explicou.

Procurada pela reportagem, a Brasil Telecom apenas reiterou que a decisão foi para cumprir a sentença judicial.

Na web

A blogueira do Info Online Sandra Carvalhou afirmou que bloquear o YouTube pela reprodução de cenas públicas estaria ‘entre o ridículo e o patético’. Diversos outros blogueiros protestaram contra a apresentadora e também em relação à decisão judicial.

Muitos sites e blogs já explicam aos usuários como burlar o sistema para poder acessar o site, um dos mais acessados no Brasil. O br-Linux.org vai além e garante que burlar o bloqueio não seria ilegal, mas que não seria permitido assistir as imagens da apresentadora.

Imagem X Imagens

Para Bruno Rodrigues, colunista do Comunique-se e especialista em conteúdo online, a ação será péssima para a imagem da apresentadora. ‘Acho que ela consegue retirar o vídeo de sites oficiais, mas ele nunca deixará de existir na internet. Isso é péssimo, péssimo, péssimo. Ela vai virar motivo de chacota’, reiterou.

A Brasil Telecom, porém, pode também ter sérios prejuízos para sua imagem com o cumprimento da decisão. Para Gilberto Martins, a empresa se expôs para seus clientes. ‘Eu acho que ela está se expondo a uma decisão e possibilitando que seus clientes a processem. É um precedente muito perigoso. Acho que é um exemplo ruim.’

Perícia

Para o perito Paulo César Breim, contratado pelo advogado Rubens Decoussau Tilkian, que representa os interesses do casal, a tarefa de bloquear apenas o vídeo ao invés de todo o site seria possível. ‘Na verdade, a perícia foi para dizer se era possível bloquear um domínio. É possível também bloquear não só todo o site, mas também apenas o link dos vídeos, ainda que isso seja mais difícil’, explicou.’



INTERNET
Marcelo Tavela

G1 acionará portal que plagiou sua estrutura, 8/01/07

‘A Globo.com, que mantém o portal G1, já acionou seu departamento jurídico para estudar quais medidas legais usará contra o portal A Notícia Digital, sediado no Mato Grosso, devido às semelhanças entre a estrutura das duas páginas. O visual pode ser comparado nos endereços www.g1.com.br e www.anoticiadigital.com.br.

Os sites podem não ser tão parecidos agora, mas até aproximadamente às 17h30, pouco após o Comunique-se entrar em contato com o A Notícia Digital, o desenho estava diferente. Todos os fundos em azul estavam em tons de vermelho, como no G1, e a logo era parecida com o do portal da Globo.com. Próximo às 17h39, a logo foi substituída por outra diferente. Depois, às 18h15, os títulos das matérias foram convertidos de vermelho para azul.

‘São parecidos, sim. Mas em internet tudo é muito parecido’, admitiu antes das mudanças Luís Rogério Mena, diretor responsável do A Notícia Digital. Mena disse que, como ainda não recebeu nenhuma notificação judicial, ainda não se posicionará. ‘Mas, se forem necessária trocas, nós faremos. O G1 não é concorrente do A Notícia Digital. Não queremos nada que prejudique a eles, e muito menos a gente’, completa. Em novo telefonema, após as alterações, Mena disse que as mudanças assim sempre são feitas.

Mas, para o designer Rodrigo Simas, as semelhanças não estão só nas cores. ‘Diagramação, espaço para os links, o corpo das fontes nos textos, títulos e chamadas, o mouse over [efeito quando a seta do mouse passa sobre um link] e até a marcação do horário no plantão: tudo é igual. As diferenças estão na barra de scroll, de outra cor, e que o A Notícia Digital tem mais espaço para publicidade no canto direito. Nunca tinha visto algo assim’, exclama.

Segundo o advogado Gilberto Martins, o caso se enquadra no artigo 184 do Código Penal – Violação de Direito Autoral e nos artigos 12 a 14 da Lei 9609/98, a Lei do Software.’



NOBLAT NO GLOBO
Milton Coelho da Graça

Noblat na contramão ou na futura mão?, 8/01/07

‘A contratação de Ricardo Noblat para a publicação de seu blog na edição impressa do GLOBO abre um novo caminho de interação entre informação impressa e on-line. Mostra, de um lado, como O Globo está atento às rápidas mudanças na busca de informação e, de outro, como Noblat soube criar um estilo de redação adequado à internet e aceito pelo jornal sem problema. Este parece existir na situação contrária.

Parece que alguns ótimos jornalistas insistem em escrever para a web com o mesmo estilo usado antes em jornal. Já existe pesquisa informal (o que me impede de revelar plenamente autores e resultados) sobre ‘circulação’ de jornais on-line. Um desses jornais exibe incrível zero e a única explicação possível é a rejeição da forma como é escrito.

Por favor, peguem as calculadoras

A China, com 1 bilhão e 370 milhões de habitantes parece ter chegado em 2006 a um equilíbrio entre nascidos e mortos. Ou seja, mantido o ritmo que, em menos de 30 anos, reduziu para zero um crescimento anual de 2 a 3 por cento, o país poderá reduzir sua população a menos de 900 milhões entre 2050 e 2060 (quem estiver estudando jornalismo guarde essa previsão para conferir na aposentadoria).

Isso também significa que, se o crescimento do PIB for mantido na faixa de 9 a 10 por cento, a renda per capita, nesse mesmo período, subirá quase 40 por cento a mais do que o PIB. E, se o PIB dobrar a cada dez anos – como ocorreu nos últimos 30 – a renda per capita chinesa chegará mais ou menos a 44 vezes o valor atual. Deng Xiao Ping não disse apenas ‘tanto faz o gato ser branco ou preto, o importante é que cace ratos’. Ele acrescentou em voz mais baixa: ‘E que cada casal de gatos tenha só um gatinho.’

Os Estados Unidos têm hoje um PIB 4 vezes e picos o chinês, mas apenas 300 milhões de habitantes. A renda per capita é umas 20 vezes maior. Com um ritmo de crescimento igual à média dos últimos dez anos e se o muro entre EUA e México realmente funcionar, os dois PIBs estarão próximos, mas cada americano ainda estará ganhando, pelo menos, o dobro de cada chinês

Toda essa numerologia é só para atiçar a reflexão sobre a importância de termos uma política de crescimento populacional responsável, capaz de viabilizar um projeto de desenvolvimento econômico e social que ofereça a cada cidadão brasileiro o mesmo nível de americanos, chineses ou espanhóis.

Lula tem o ghost writer certo?

Todo líder político escolhe o escritor de discursos que, a seu ver, dá a forma mais adequada a seu pensamento. Mas Lula tem um estilo muito próprio quando fala e os discursos lidos nem de longe se parecem com os improvisados.

Muitos comentários foram feitos sobre a ‘adaptação’ do texto de um pastor evangélico usada pelo ‘ghost writer’ no discurso de posse. A citação de textos famosos é perfeitamente aceitável em falas presidenciais, mas pessoalmente acho de mau gosto o plágio, sem menção à fonte e com troca de palavras que modificam o sentido do autor.

Pior ainda: será correto que o ‘fantasma’ produza um texto obviamente não escrito por quem o lê? Não seria mais correto que o ‘fantasma’ usasse ao máximo possível o vocabulário e o estilo do presidente, de maneira que o discurso não pareça falso e incoerente com os discursos de improviso?

(*) Milton Coelho da Graça, 76, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’



ASSESSORIA DE IMPRENSA
Ivan Lessa

Francine Brandão, 8/01/07

‘Francine Brandão me ama. Francine Brandão beija a terra que eu piso. Francine Brandão não vive sem mim. Só muita paixão justifica tanto bilhete, tanto convite. Todo dia, lá está Francine Brandão batendo seu doce ponto na minha caixa de correspondência eletrônica.

Francine Brandão não sabe o que é distância. Francine Brandão está em São Paulo, no Brasil, e eu em Londres, no Reino Unido. Francine Brandão pouco se importa. Francine Brandão me inunda todo santo dia (minto, acho que fim de semana não) com os mais diversos convites. Francine Brandão quer porque quer minha companhia.

Francine Brandão não acredita em distâncias. Francine Brandão não aceita meu silêncio. Francine Brandão não reconhece meu não-comparecimento a todos os eventos em que ela espera me ver, contar comigo, fazer sabe Deus o que com este pobre deste velho expatriado estropiado.

Francine Brandão deseja meu corpo? Francine Brandão se apaixonou por meu espírito? Francine Brandão bateu em porta errada, ou, mais precisamente, emailou mal, muito mal.

Francine sem véus

Francine Brandão é assessora de comunicação, a segunda profissão mais comum no Brasil eletrônico. Francine Brandão, por um mistério inexplicável, ou canalhice de um inimigo, obteve meu endereço eletrônico pessoal.

Como faz parte de sua profissão, digitou alguma tecla da vida e passei a ser mais um objeto e alvo em seu dia-a-dia agitado, onde viver não é mais que comparecer à estréia de filmes chatos, peças chatas, lançamentos de livros chatos, concertos de gente chata, palestras de chatos – chatices, chatices, chatices.

Deve dar um dinheirão a profissão de assessoria de comunicação. É só bater umas linhas no computador, ‘acessar’ (como devem dizer) o auto-corretor gramatical e ortográfico, dar mais uma imprensada (lato sensu) numa tecla e pronto: como num passe de mágica, como dizem as pessoas insuportavelmente chatas, a função assessorial foi cumprida. Pouco importa se foi importunar gente a 9 mil quilômetros de distância ou pessoas absolutamente desinteressadas do que se passa com as chatices de um Brasil já chato pela própria natureza.

O negócio é faturar. Será que os clientes de Francine Brandão sabem da perda de tempo que ela ocasiona? Do número de pessoas que ela aliena? Saberão da má vontade que Francine Brandão gera e distribui, como aqueles chatos nas ruas tacando volante na mão dos passantes? Saberão ainda que Francine Brandão não tem nem de organização digna do nome, nem do mínimo de critério? Espero que alguém os informe.

A presuntada

Francine Brandão é apenas uma das pessoas responsáveis pelo fenômeno mundial do ‘spam’, esse inferno informático a qual todo internauta está sujeito. Pesquisas recentes dão como 7 bilhões o número de ‘spams’ enviados diariamente pelo mundo afora.

De cada 10 emails, 9 são ‘spam’. Muitos deles não originados pela Francine Brandão – essa é meu inferno particular. Os bem-informatizados dizem que os números tendem a crescer.

Pequeno parágrafo possivelmente tão desnecessário quanto a Francine Brandão: ‘spam’ vem de um esquete dos Monty Python em que acaba todo mundo endoidecido repetidamente seguidamente a palavra ‘spam’.

Por quê ‘spam’? Porque durante a segunda guerra mundial, com o brutal racionamento, os britânicos só tinham em fartura o spam’. Palavra e lata de comida de origem americana, metade ‘spice’ (tempero), metade ‘ham’ (presunto): ‘spiced ham’. Quer dizer, nossa presuntada. Cortada em fatias, condimentada com cravo e mel, e cozinhada no forno, eu gosto.

Não gosto é da Francine Brandão. Essa sim poderiam cortar em fatias e mandar para o forno. Francine Brandão que, num único dia de novembro, me mandou 13 ‘spams’, driblando meu filtro e marcando um de seus muitos tentos contra minha saúde mental. Parabéns, Francine Brandão.

(*) Jornalista. Fonte: BBC Brasil’



MEMÓRIA / LESTER MOREIRA
Comunique-se

Morre Lester Moreira, jornalista e assessor político em Minas Gerais, 8/01/07

‘Morreu na tarde de sexta-feira (05/01) em Belo Horizonte o jornalista Lester Moreira, de 61 anos. Ele foi vítima de um infarto enquanto se exercitava, e foi sepultado no sábado (06/01), no cemitério Parque da Colina, na capital mineira.

Moreira teve ampla participação no jornalismo de Minas Gerais. Participou da implantação do jornal Hoje em Dia, em 1988, e depois foi chefe de redação da publicação entre junho de 1993 e julho de 1996. Passou também pela chefia de redação do Diário de Minas e Diário do Comércio. Foi um dos idealizadores da Revista do Galo, ligada ao Clube Atlético Mineiro; do Jornal da Pampulha, atual Jornal Pampulha; e do extinto jornal Cidade Nova.

O jornalista também atuou como assessor político dos ex-governadores de Minas Gerais Itamar Franco e Newton Cardoso, ambos do PMDB. Seu último emprego foi como assessor do vice-prefeito de Belo Horizonte, Ronaldo Vasconcellos (PV).’



JORNALISTA SEQÜESTRADO
Comunique-se

Fótógrado da AFP é libertado, 8/01/07

‘O fotojornalista peruano Jaime Razuri foi libertado neste domingo (07/01) em Gaza, após um seqüestro que durou seis dias. O profissional da Agência France-Press (AFP) já deixou a região e, segundo fontes policiais, seu equipamento teria ficado com os seqüestradores, identificados como integrantes de um clã familiar ligado ao Exército do Islã. Razuri afirmou que foi bem tratado.

Durante os seis dias do seqüestro, colegas de Razuri advertiram que ele tinha problemas de coração e necessitava de medicamentos urgentemente. Meios de comunicação israelenses informaram que Mumtaz Durmush, suposto líder do Exército do Islã, ordenou a libertação do fotógrafo. As autoridades palestinas não confirmaram a informação.

Na ocasião, Durmush teria afirmado que só libertaria Razuri caso o Hamas entregasse militantes responsáveis pela morte de milicianos do Exército do Islã.

(*) Com informações da Agência Efe.’



CRÔNICA ESPORTIVA
Marcelo Russio

Para quê ser modesto?, 2/01/07

‘Olá, amigos.

Fim/começo de ano é tempo de retrospectivas e de poucas notícias no esporte. As especulações e as notícias sobre os mais variados esportes e fatos começam a aparecer nos cadernos de esportes e nas capas dos sites, que diminuem, obviamente, o número de páginas e de atualizações durante o dia.

Entretanto, um fato neste fim de ano me chamou atenção: a forma com que os veículos de imprensa trataram o mineiro Franck Caldeira, vencedor da São Silvestre de 2007, dias antes da prova. É fato que, como dizia o meu mestre maior, Nélson Rodrigues, o brasileiro sofre de um complexo de vira-latas incurável. Vez por outra, conquistas históricas nos tiram esse sentimento por algum tempo, mas ele sempre acaba voltando.

Ao contrário da imprensa de outros países, como os EUA, por exemplo, que dá um caráter quase épico a personagens que falam com todas as letras ‘SEREMOS CAMPEÕES’, no Brasil essa frase, dita por algum esportista, é lida com aquele ar de ‘tá falando antes da hora’. A previsão da tragédia passa a ser o prato do dia, como se, bem no fundo, se desejasse que o sujeito quebrasse a cara apenas para vermos como ele reage diante de uma pretensa ‘lição de humildade’.

Lembro que, em 1994, com os NY Rangers amargando uma fila de 54 anos sem vencer a NHL – a liga profissional norte-americana de hóquei sobre o gelo – o canadense e cracaço Mark Messier convocou uma coletiva e disse, com todas as letras, que o Rangers não perderia a sétima e decisiva partida das quartas-de-final para o New Jersey Devils, se não me engano. A declaração foi capa de todos os jornais – inclusive do sempre sisudo New York Times – e o tratamento da matéria foi quase de idolatria a Messier, que acabou cumprindo a promessa e liderando a equipe à vitória contra o Devils e, depois, ao título histórico após mais de meio-século sem levantar a cobiçada Stanley Cup, fazendo o gol da vitória contra o Vancouver Cannucks, do russo Pavel Bure, também na sétima e decisiva partida.

Guardadas as proporções, li e vi na última sexta-feira Franck Caldeira dizendo que seu maior adversário na São Silvestre de 2007 era ele mesmo. Ele tinha confiança em si mesmo, e não se importava se os quenianos e brasileiros mais fortes não competiriam. Segundo Franck, pelo seu momento atual, ele venceria mesmo se todos estivessem lá.

Após esta matéria, o mineiro acabou sendo tratado como pouco humilde e inexperiente, por ter declarado o seu favoritismo. O famoso ‘pé atrás’ reina não só na nossa imprensa como também na nossa cultura. Gostamos de vencer sem ter a pressão pela vitória, para provar que nos superamos ou sei lá mais o quê.

O fato é que Caldeira venceu a São Silvestre com o pé nas costas, fazendo um excelente tempo e dizendo, ao fim da prova, que correrá a maratona no Pan com chances de levar a medalha de ouro.

Dou os parabéns ao Franck e àqueles que trataram as matérias com o sabor de se valorizar um sujeito que acredita em si mesmo, prova que tem qualidade e talento, não tem vergonha de se exaltar, e que não é nenhum criminoso por isso.

E louvo novamente o mestre máximo Nélson Rodrigues, por ter detectado esta, assim como muitas outras facetas do brasileiro de forma tão sublime, simples e definitiva. Tomara que, um dia, possamos nos orgulhar de sermosbons sem sermos taxados de soberbos ou de lunáticos.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Confusão da pomba, 4/01/07

‘O burro desse desenho

imortaliza os desvios

da insensatez e maldade.

(Paschoal Motta, Burro no seu desenho)

Confusão da pomba

Denunciado pelo site Vidanet:

‘O Talmude babilônico fala de Jesus como um mago, um agitador que zombou das palavras dos sábios, teve cinco discípulos e foi enforcado na véspera da Páscoa’ (trecho de matéria que saiu na revista Aventuras da História. Leia mais).

Janistraquis, que costuma respeitar todas as religiões deste mundo abandonado, fez breve comentário:

‘Considerado, Aventuras na História cometeu o pecado de confundir Jesus Cristo com Saddam Hussein e o reveillon com a semana santa. A penitência deveria ser um fim de semana em Bagdá.’

Cemitério

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, que transformou seu escritório numa espécie de cidadela contra as vicissitudes desta vida severina, despachou via malote:

O Correio Braziliense deste dia 1º do ano escreve no quadro Cemitério de Obras, à página 23:

Rodovias — O recapeamento do asfalto do Eixo Monumental durou cerca de mais de cinco meses e acabou em setembro, mas a pintura das faixas não foi feita até hoje.

Roldão respirou fundo:

‘Isso é o que se pode chamar de ‘incerteza da imprecisão’: cerca de mais de cinco meses!!!’

Tremenda praga

O considerado leitor Henrique de Jesus Miranda, do Rio de Janeiro, enviou à coluna a primeira mensagem de 2007:

‘Não vou desejar feliz ano novo a ninguém, para que mais tarde não xinguem a minha mãe, porém uma coisa é certa: depois do que aconteceu com Saddam Hussein, temos pelo menos alguma esperança por aqui…’

Janistraquis não entendeu, ó Miranda, mas se o amigo carrega Jesus no nome poderia pelo menos ser um pouco mais condescendente com o presidente Lula, né não?

Paschoal Motta

Leia no Blogstraquis a íntegra do poema cuja estrofe encima esta coluna. Pertence à lavra do poeta mineiro que se mantém alerta ‘para não enferrujar a lira’, como ele mesmo assegura.

Feliz Ano Novo

Este Sítio Maravalha, onde a única riqueza é o cenário, ficou sem telefone desde antes do Natal até ontem (3/1/07), tragédia que não atingiu os vizinhos. Os premiados fomos exclusivamente nós. Janistraquis, que se mostrou revoltado com a incompetência e desdém dos ‘prestadores de serviço’, lançou:

‘Considerado, a Telefônica precisa ser privatizada com a maior urgência!’

Lua de mel

Deu em tudo quanto é jornal, revista, TV, rádio e o escambau:

O cidadão Marcos Willians Herbas Camacho, de 38 anos, alcunhado Marcola, que preside o PCC (Primeiro Comando da Capital), casou-se com a gentil senhorinha Cynthia Giglioli da Silva, de 30 anos, estudante de direito. Em 2005, ela foi presa porque teria recebido R$ 90 mil da organização criminosa.

Janistraquis, que está afinadíssimo com a justiça brasileira, tem certeza de que a gentil senhorinha recebeu os 90 mil simplesmente para preparar o enxoval, inalienável direito de qualquer noiva, honesta ou não, e mantém apenas uma dúvida a respeito do acontecido:

‘Considerado, onde será que o casal passará a lua-de-mel? Afinal, dizem que o preso está sob Regime Disciplinar Diferenciado e deveria permanecer isolado.’

É mesmo. Onde será a lua-de-mel?

Deus castiga

O professor de direito, advogado e escritor Ives Gandra Martins escreveu polêmico artigo no Jornal do Brasil, a propósito do movimento que pretende retirar das repartições e de todas as dependências dos três poderes quaisquer símbolos religiosos sob a alegação de que o Estado brasileiro é laico.

É que, mal informados, os, digamos, infiéis procuraram logo o doutor Ives, católico praticante, para ajudá-los na ingente tarefa. No artigo intitulado Sob a proteção de Deus, cuja íntegra devidamente pirateada dormita no Blogstraquis, o autor perora:

(…) Parece-me que os ateus e agnósticos – que se auto-outorgaram o direito de ser os únicos a opinar na democracia brasileira – teriam que começar por mudar o preâmbulo da Lei Maior. Para serem mais fiéis a seus princípios, o preâmbulo poderia dizer:

‘Nós, representantes do povo brasileiro, ….. promulgamos, sem a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil’

Janistraquis leu, releu e inaugurou sua perplexidade versão 2007:

‘Considerado, por que envolvermos a excelsa figura do Altíssimo em tão ínfimo assunto? E se o preâmbulo dissesse apenas ‘Nós, representantes do povo brasileiro, ….. promulgamos a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil?’. Deus deve ter mais o que fazer, né não?’.

Imagina-se que sim.

Cara de mau

Com seu olhar número 38, carga dupla, Janistraquis examinou a cara do presidiário Edson Félix dos Santos, um dos quinze mil presenteados com a liberdade nas festas de fim de ano (somente em São Paulo!!!), pois Janistraquis olhou bem para o sujeito, o tal que seqüestrou a mulher em Osasco, e disparou:

‘Considerado, nem é preciso prestar muita atenção; basta uma simples olhadela pra qualquer um negar liberdade ao elemento; até o cachorro Vesgo, personagem da excelente novela de Carmo Chagas, enxergaria tal obviedade.’

Taí, o considerado leitor pode acreditar: cara de bandido é coisa que existe realmente e não engana nem os cães estrábicos. Quem esquece a reação do cachorro, quando Wilson Pistoleiro (Jack Palance) se levanta da cadeira para enfrentar Alan Ladd em Os Brutos Também Amam?

Umas crianças…

Com o peito pisoteado pelo horror, Janistraquis leu na Folha Online, tocaiado sob o título Após série de ataques, Rio volta a registrar ações criminosas:

Depois de um dia marcado pela violência, ações criminosas voltaram a ser registradas no Rio, entre a noite de quinta-feira e a madrugada desta sexta (…) Em Botafogo (zona sul), após o ataque a uma cabine da PM, foram deixados panfletos com o texto: ‘Rosinha e Garotinho apóiam a ‘melíssia’ (sic) contra o pobre e o favelado e a resposta é Rio de sangue’.

A mensagem referia-se à governadora e a seu marido, o ex-governador Anthony Garotinho, ambos do PMDB. O bilhete refere-se às milícias (formadas por policias e ex-policiais) que vendem proteção contra o tráfico e cobram por proteção a moradores principalmente de favelas do Rio.

Meu secretário inferiu que é o analfabetismo exacerbado que absolve os bandidos:

‘Considerado, quem escreve melíssia em lugar de milícia está a anos-luz de entender o Código Penal; portanto, nada mais inocente e inimputável do que um malfeitor, né mesmo?’

Nota dez

O considerado Nelson Motta escreveu em sua coluna da Folha de S. Paulo:

O senador Sibá Machado, petista do Acre, tem um projeto revolucionário: o fim do vestibular e o sorteio das vagas nas universidades. Como o ensino público é péssimo, o vestibular privilegia os alunos de classe média, que tem acesso a melhores colégios. É uma injustiça. O sorteio é mais democrático, porque nivela todos no ideal social de igualdade de oportunidades. A ética do acaso.

Leia no Blogstraquis a íntegra do excelente artigo que revela mais uma do deficiente senador, o qual é sempre chamado de Sabá por Janistraquis, talvez para lembrar a assembléia noturna de feiticeiros que antigamente se reunia à meia-noite dos sábados, sob a animada direção de Satanás.

Errei, sim!

‘MILAGROSO TITA – Da seção Erramos Mas Ainda Não Atinamos, publicada pela Folha de S. Paulo sempre no dia anterior do Erramos que não é publicado no dia seguinte – se é que o considerado leitor entendeu: ‘O atacante brasileiro Tita foi o destaque da última rodada da primeira fase da Copa da Itália. Ontem, ele marcou um dos dois gols da vitória do Pescara sobre o Messina por 4 a 3.’ (outubro de 1988).

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).

(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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Terra Magazine