COMUNIQUE-SE, 8 ANOS
Comunique-se
A comunidade jornalística faz cinco anos, 8/09/06
“Ele começou como um site, depois se tornou um portal, fazendo valer o slogan ‘O Portal da Comunicação’. O Comunique-se, a maior comunidade jornalística do País, completa cinco anos neste domingo (10/09). Ao longo desse tempo, passou por uma série de mudanças no layout, nos produtos, nas matérias e nas marcas que envolvem o nome do portal, como o Prêmio Comunique-se, referência entre a comunidade. Muitas das mudanças aconteceram a partir da terceira versão do Comunique-se, lançada em março de 2003, quando passou a abrigar sites voltados para jornalistas, aplicando assim o conceito de portal – duas das versões antigas ilustram esta matéria.
O Comunique-se foi ao ar pela primeira vez meia noite e um do dia 10/09/2001. O presidente do portal, Rodrigo Azevedo, determinou que fosse enviado um e-mail marketing para dois mil jornalistas para informá-los que nascia então um espaço dedicado a eles. ‘Em poucas horas foram criados milhares de cadastros. Só para se ter idéia, no primeiro mês já tínhamos 10 mil cadastrados’, lembra. Hoje, este número chega a mais de 100 mil.
O portal é conhecido como um veículo que aborda notícias de mercado e de bastidores do jornalismo. Muitas delas chegam à redação através da colaboração de usuários, que enviam sugestões de pautas e artigos.
Além do conteúdo específico, o portal prestigia a integração entre seus usuários por meio de sua área de comunidade, que, depois de uma febre de cadastros criados, tornou-se tão grande que dentro dela há subcomunidades. Os usuários passaram a comunicar pelo Comunicador, expressar suas opiniões na área de comentários, participar do ‘Papo na Redação’, criar um blog (Blog-se) e aproveitar as promoções do Clube do Usuário.
A terceira versão do Comunique-se, lançada em março de 2004, passou a abrigar sites voltados para jornalistas, aplicando assim o conceito de portal. Desde então, na área de Produtos Corporativos, cada produto ganhou um hot site, com cases de utilização e testemunhos de clientes. O portal também passou a oferecer cursos online e presenciais. Este ano, está sendo realizado o primeiro e-MBA de Gestão em Comunicação Corporativa. Duas características são os diferenciais do curso: o formato inovador conhecido como sistema EPR (Ensino Presencial em Rede) e o corpo docente, formado por profissionais com experiência no mercado. A duração total é de 14 meses. O certificado é reconhecido pelo MEC. O curso é fruto de uma parceria entre o Comunique-se , a Educartis (empresa especializada em EPR(r)) e a FECAP, instituição de ensino com mais de 100 anos de existência em São Paulo.
Uma das mais importantes realizações foi o Prêmio Comunique-se, que este ano chega à sua quarta edição. O prêmio se diferencia dos demais porque os indicados, finalistas e vencedores são escolhidos pelos próprios jornalistas, que votam nos colegas que mais se destacaram pelo conjunto de seu trabalho em determinado período.
Desde o ano passado, o conteúdo do portal vem passando por uma série de reformulações. Além do maior investimento em reportagens, foram lançados dois novos canais: o Foca em Destaque, canal participativo voltado para estudantes de Jornalismo, e o Literário, espaço que reúne crônicas e contos, com colaboradores fixos e aberto também a usuários.
As editorias ganharam retrancas para identificar cada uma delas, assim como cada coluna.
‘A partir de 2005 passamos a investir ainda mais em conteúdo, reportagens e também em comunidade. Ultrapassamos 12 mil blogs, nossa audiência está superior a 600 mil visitantes únicos por mês. O prêmio iBest 2006, pelo segundo ano consecutivo, vem mostrar a consolidação do Comunique-se no setor’, comemora o presidente do portal, Rodrigo Azevedo.
Alguns percalços, mas uma história de sucesso
Bons momentos, mas com alguns tropeços, como acontece com todas as empresas. Para permanecer no ar, o Comunique-se passou por verdadeiras provações para chegar até aqui. A mais recente, lembra o presidente do portal, Rodrigo Azevedo, aconteceu em 2004, quando ele e um grupo de funcionários compraram a participação de um sócio investidor. ‘Foi um movimento ousado, utilizamos todos os recursos disponíveis para comprar o Comunique-se e passamos a ser uma empresa totalmente independente. Captamos mais de uma centena de novos clientes, aumentamos equipe, investimentos em novos servidores e o negócio, bem como a comunidade, se fortaleceram mais do que nunca.’
Azevedo lembra que entre os responsáveis pelo sucesso do portal também estão os usuários. ‘O Comunique-se só é o que é graças aos jornalistas. Tudo que a gente faz aqui é a pedido deles. Mudamos, ajustamos. As alterações feitas até agora são um exemplo disso. Nem sempre é possível atender a tudo que se pede, mas procuramos dar ao Comunique-se a cara do jornalista’.
A prova do sucesso também está no fato de o Comunique-se ter se tornado um negócio lucrativo. Desde 2001, a média de crescimento anual é de 89%. ‘Estamos felizes por fazer cinco anos e em muito boa forma, com a audiência cada vez maior, lucratividade e 50 empregos diretos, 100% regularizados’, diz Azevedo.
Números
Atualmente, há 120 mil jornalistas cadastrados no portal. Como há muitas áreas que não exigem login e senha, a média mensal de visitantes únicos é de 600 mil.
São quase 500 empresas atendidas, entre elas estão as maiores agências de Comunicação, como CDN, Voice, FSB, Hill & Knowlton, Gaspar & Associados, e Burson-Marsteller e também algumas das maiores organizações no país como Bovespa, Senado Federal, Oracle, Ambev, Embraer, Petrobras, Souza Cruz, Credicard e Wal Mart.
Os serviços online
O modelo comercial do Comunique-se se consolidou ao longo desse período. O portal transformou-se na maior empresa de prestação de serviços online para o mercado de Comunicação Corporativa. Ferramentas como Coletiva Online, Sala de Imprensa, Distribuidor de Release e Termômetro garantem a agilidade, a credibilidade e o sucesso do trabalho de grandes empresas, dos mais diversos segmentos.
A partir de 2003, na área de Produtos Corporativos, cada produto ganhou um hot site, com cases de utilização e testemunhais de clientes.
Destaque para a Coletiva Online, que, como os outros serviços, tem como objetivo facilitar a vida daqueles que vivem na correria do dia-a-dia das redações. Só na próxima semana, a equipe de Produto vai realizar quatro coletivas.
O Programa Assessoria Parceira reúne 60 assessorias de imprensa e comunicação parceiras, que estão treinadas para aplicar as soluções do Comunique-se junto aos seus clientes.
E, em 2005, o Comunique-se iniciou uma nova área de negócios, voltada a cursos na área de jornalismo e Comunicação. Até em MBA o portal investiu. Atualmente, há 90 alunos estudando desde março em nove cidades do País.
Também têm destaque Matéria-Prima, em que assessores podem sugerir pautas, e o Banco de Empregos, uma oportunidade para quem procura uma oportunidade no mercado de trabalho e para as empresas interessadas em contratações. Ambos são serviços gratuitos.
Comunique-se ganha seu segundo Prêmio iBest Imprensa
Um dos prêmios mais importantes para um veículo de Comunicação online do Brasil, o iBest Imprensa é concedido por um júri especial, a Academia iBest de Imprensa, composta por jornalistas de todo o Brasil.
Pela terceira vez consecutiva, o Comunique-se apareceu entre os TOP10 do Prêmio iBest Imprensa – a indicação dos 10 melhores sites desta categoria. Em seguida, foi selecionado como TOP3. No ano passado, quando também ganhou o prêmio, concorreu com o Observatório da Imprensa e o NoMínimo, mesmos concorrentes deste ano. Em 2004, seus concorrentes foram a Folha de S. Paulo e o vencedor Google. Nesta categoria não há votação popular.
O conteúdo e a área de Comunidade
‘Um bravo centenário, tchê!’ – tratava dos 100 anos completados pelo jornalista Plínio Saraiva, que faleceu no dia 09/08 – foi a primeira matéria publicada no Comunique-se no dia 10/09/2004. Na época, a área de conteúdo era atualizada uma vez por dia. Mas, por se tratar de um veículo online, percebeu-se a necessidade de atualizar as notícias freqüentemente ao longo do dia. Os usuários já sabem que, quando se trata de informações sobre assuntos polêmicos, movimentos do mercado, podem acessar o Comunique-se para terem acesso a informações detalhadas, análises e opiniões, através de artigos dos próprios usuários. Muitas das informações de mercado e de bastidores do jornalismo chegam à nossa redação através da colaboração de usuários, que enviam sugestões de pautas e artigos.
Este ano o Jornal da Imprensa ganhou o Foca em Destaque e o Literário. O primeiro é voltado a alunos de jornalismo, que ganham espaço no Comunique-se com reportagens sobre os bastidores de imprensa. Já o Literário, aberto também a usuários, reúne contos, crônicas e outros textos, com 25 colaboradores fixos.
O ‘Papo na Redação’, chat semanal, também já faz parte da agenda de usuários interessados em trocar idéias com profissionais renomados do mercado. Nomes como Carlos Nascimento, João Rodarte, Marcos Losekann, Rosa Magalhães, Ana Paula Padrão e Mônica Waldvogel já participaram do bate-papo online.
Hoje, graças à área de Comunidade, usuários já se conhecem pelo nome, trocam idéias livremente através da área de comentários, do Chat, do Comunicador, do Blog-se e podem utilizar o Clube do Usuário. Esse modelo contribuiu, e muito, para os resultados comerciais do Comunique-se.
Muitos coleguinhas criaram verdadeiros laços de amizade graças à comunidade criada. Alguns brigaram, fizeram as pazes. Outros jornalistas foram contratados. Fora os casos pessoais: um casal se apaixonou e se casou depois de se conhecer navegando no portal.
Todos os colunistas têm espaço garantido na capa do portal. O Canal Aberto é outra área importante para a Redação do Comunique-se, já que é através dela que chegam muitas sugestões de pauta para nossos jornalistas.
Os comentários podem ser aprovados ou reprovados pelos coleguinhas. Aquele que tiver maior índice de aprovação verá seus comentários postados com destaque.
A Central de Links reúne os principais sites voltados para jornalistas ou de conteúdo jornalístico. São endereços dos sindicatos, associações e dos principais prêmios da área. Os usuários também encontram tudo sobre legislação envolvendo jornalistas e a imprensa, como a Lei de Imprensa, Código de Ética e Lei dos Direitos Autorais.
Matéria-prima está dividida em Pautas, Coletivas, Eventos e Cursos, solicitação feita pelos próprios assessores de imprensa para diferenciarem suas sugestões de pauta. As assessorias dão a opção de cadastrar seus clientes. Dessa forma, para se descobrir qual assessoria presta serviço para uma determinada empresa, basta digitar o nome da companhia para se obter o contato.
O Prêmio Comunique-se
O Prêmio Comunique-se já era um sonho desde o início do portal. Em 2003, o projeto ganhou vida e agora está na sua quarta edição. De dois anos para cá, o Prêmio se aprimorou, ganhou novas categorias e subcategorias. Os profissionais de imprensa fazem uma análise dos colegas que mais se destacaram no ano anterior e dão sua contribuição para a escolha dos vencedores das 24 categorias e subcategorias. A votação é popular e online e acompanhada pela empresa independente de auditoria Deloitte. A festa de premiação reúne a nata do jornalismo brasileiro, que aguarda, com expectativa, conhecer os nomes daqueles mais reconhecidos da carreira. É o que vai acontecer na próxima terça-feira (12/09), no Tom Brasil Nações Unidas, em São Paulo – a premiação será transmitida ao vivo pela Internet para todos os usuários.”
***
Aniversário do C-se: ilustres coincidências, 8/09/06
“À zero hora e um minuto do dia 10 de setembro de 2001 entrou no ar o Comunique-se. Coincidências à parte, a data é a mesma do dia em que, por mais de 60 anos, comemoramos o Dia Nacional da Imprensa.
Há quase 200 anos, em 10/09/1808, surgiu a Gazeta do Rio de Janeiro, o primeiro jornal impresso do Brasil. Por decreto, Getúlio Vargas vinculou o início da atividade jornalística no País ao nascimento desta publicação. A partir de 2000, o Dia Nacional da Imprensa passou a ser comemorado em 01/06, dia em que o Correio Braziliense, de José Hipólito da Costa, circulou pela primeira vez.
A mudança foi justa. A Gazeta funcionava apenas como um diário oficial da Corte, publicando o que interessava à Coroa. Já o Correio, que também é de 1808, pregava a liberação do Brasil dos domínios de Portugal.
Mas não é só o aniversário da Gazeta do Rio que coincide com o do C-se. Muitos outros fatos importantes ocorreram nesta mesma data. E em comemoração aos nossos cinco anos de existência, procuramos, escavamos e descobrimos muitos outros agradáveis virginianos, nascidos no mesmo dia que nós.
O poeta e jornalista Ferreira Gullar é um deles. Ele nasceu em São Luís (MA), em 1930. O papa Júlio III também, em 1497. O tenista Gustavo Kuerten, único brasileiro a ganhar o torneio de Roland Garros, é outro que apaga velinhas junto com o C-se.
Fora os fatos e momentos históricos que têm como marco o 10/09. Em 1939, a Alemanha de Adolf Hitler invadia a Polônia. Em 74, Portugal reconhecia a independência da Guiné-Bissau e foi em 77 que a França executou o último homem na guilhotina. Eugen Weidmann, criminoso alemão, foi julgado culpado do assassinato de seis pessoas, todas mortas com um tiro na nuca.
A data também marca o fim da trajetória da imperatriz austríaca Sissi. Elizabeth de Wittelsbach casou-se aos 16 anos, com Franz Joseph I. A festa foi considerada o maior acontecimento social do século. Sissi foi assassinada, em 10/09/1898, pelo anarquista italiano Luigi Luccheni.
Voltando ao jornalismo, não podemos esquecer que foi em 1945 que os Estados Unidos restabeleceram no Japão o direito a liberdade de opinião e da imprensa, e que, em 1980, estudantes brasileiros iniciaram uma greve de três dias com reivindicações de verbas para a educação, aumento de salário para os professores e contra o ensino particular.
São muitos, inúmeros os momentos importantes da história brasileira e mundial calhados em 10/09. São coincidências, mas não custa abrilhantar nossa data com alguns exemplos ilustres.”
***
O que eles pensam do Comunique-se?
“Desde que surgiu, no dia 10/09/2001, o Comunique-se se tornou referência no mercado jornalístico. Além das informações sobre os bastidores da imprensa, o portal formou uma comunidade jornalística que tem a oportunidade de debater questões importantes que dizem respeito a ela, fazer amigos, se especializar, etc.
Além dos depoimentos abaixo, pela primeira vez a nossa redação torna disponível, no YouTube, um vídeo institucional, datado de 2003. Para assisti-lo, clique aqui.
Confira agora o que pensam alguns profissionais de imprensa sobre o portal:
Aziz Filho, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio e editor da IstoÉ no Rio de Janeiro
‘O mais importante é que através do Comunique-se o jornalista virou notícia. Estávamos acostumados ao contrário. O fato de que o jornalista nunca vira foco, mas é importante que o profissional de mídia tenha essa visibilidade e tenha onde discutir as questões éticas da profissão. O Comunique-se não só trouxe como está trazendo a cada dia mais um espaço aberto para nós jornalistas, que através do portal, estamos aprendendo a discutir a profissão’.
Cristina Dissat, responsável pelo Blog-se Fim de Jogo
‘O jornalismo mudou muito depois da criação do Comunique-se. Principalmente no quesito de troca de informações entre os próprios jornalistas, porque apesar de trabalharmos em comunicação, a comunicação entra a gente não acontecia tão facilmente. Hoje temos um espaço para informar sobre nossos clientes, matérias que estamos produzindo, prêmio que podem concorrer. Através do Blog-se, as nossas idéias foram mais facilmente encontradas pelos colegas de profissão, já que os mais atualizados têm espaço na capa no portal’.
Guta Nascimento, editora do SBT Brasil
‘Acho importante ter um portal onde nós, jornalistas, possamos discutir assuntos de ética, de política, o papel do nosso trabalho, da imprensa e eu acho que o site consegue reunir esse espaço onde pessoas de todo o Brasil, de veículos grandes e pequenos, de diversas mídias. É um espaço importante para a gente discutir a profissão, que na correria do dia-a-dia a gente não consegue. É onde o jornalismo consegue cruzar todos essas áreas, Internet, assessoria, que também é importante, estão ali reunidos. As discussões que o Comunique-se levanta são extremamente importantes. As pessoas tomam conhecimento do que esta acontecendo e das posições colocadas ali. Mais de 100.000 pessoas discutindo no mesmo espaço, mesmo aquelas que não escrevem, estão lendo e se informando’.
Larissa Magrisso, editora do Portal Terra
‘Minha experiência com o site sempre foi mais para anunciar vagas. Já usei em duas ocasiões e foi um retorno muito bom, com pessoal qualificado. Já contratei gente por lá. Acho que é o espaço melhor para fazer isso’.
Marcelo Beraba, ombudsman da Folha de S. Paulo
‘O Comunique-se surgiu junto a outras iniciativas importantes que tiraram a imprensa da redoma, do círculo fechado em que ela viveu por décadas em função dessa idéia de que ela não era notícia, fruto da noção de que ela se autobastaria e também de um pouco de arrogância. Isso foi sendo quebrado por vários fatores e iniciativas como o Comunique-se são reflexo dessa nova visão do que deve ser a imprensa, que deve ser tão transparente quanto as empresas e os governos em relação aos quais ela exige transparência.’
Márcio Chaer, diretor do site Consultor Jurídico
‘Conseguiu criar uma coisa inédita na imprensa, que é um ponto de encontro e um veículo amplo que serve não só pra jornalistas como também para estudantes, empresários interessados nesse noticiário para compartilhar informações sobre essa caixa preta. Ao mesmo tempo em que a imprensa se propõe a ser um instrumento de difusão da informação. A mídia não tinha até então um local em que se discutisse amplamente o que acontece com o jornalista brasileiro.
Nós temos outros sites, como o Observatório da Imprensa e a Revista Imprensa, que tratam de assuntos mais discursivos sobre análise editorial do trabalho jornalístico, mas não trocam informações a respeito de questões mais funcionais do dia-a-dia. O C-se não só abre espaços para troca de informações sobre o que acontece nas redações como também oferece oportunidades para quem procura emprego e para quem busca jornalistas ou assessores. Por isso, o portal ele tem esse papel múltiplo de olhar a imprensa como um todo e não só como um núcleo de debates internos sobre a qualidade do jornalismo. É menos editorial e mais jornalístico. Temos um espaço amplo, aberto, que ao mesmo tempo é um tribuna livre para pessoas se manifestarem.
É possível também troca de informações internas e há também espaço para quem quer distribuir informações, no caso das assessorias. E principalmente fazer o mapeamento do jornalismo e do jornalista do Brasil. Hoje se eu quero saber onde está trabalhando Severino Góes, de Brasília, ou o Jomar Martins, de Porto Alegre, eu sei que entro no C-se e vou localizar onde ele está. É uma serventia multifacetada. Além de ter criado o Oscar do Jornalismo, que um dia ainda vai conseguir separar a visibilidade que tem um jornalista de TV do da mídia escrita’.
Marco Siqueira, chefe da Assessoria de Imprensa da Febem
‘Acho tudo aqui muito interessante. Este é um espaço que estava aberto, que o Comunique-se está sabendo utilizar com muita eficiência para atender à demanda do jornalista. Quando eu preciso de alguma informação em relação a jornalistas, este é um caminho que eu procuro. Uma das coisas que interessa bastante são os cursos. Sempre que há debates procuro as opiniões dos colegas’.
Talis Andrade, jornalista e um dos usuários mais ativos do portal
‘Eu acho que o Comunique-se agrupou todos profissionais das ciências da comunicação. Esse pessoal estava disperso porque não temos nenhuma associação que agrupe todos eles. É uma ponte de referência para estudantes, de atualização para os professores e jornalistas do batente. Pelo Comunique-se temos a informação do que acontece no jornalismo como ciência e profissão tanto no Brasil, como no mundo. Considero o principal e mais completo portal existente no mundo do jornalismo hoje. Conheço vários, até na Itália e em Portugal, e não tem melhor não’.”
JORNALISMO ECONÔMICO
Eleno Mendonca
Saco de maldades, 4/09/06
“O candidato de oposição Geraldo Alckmin esperava pelos dados do crescimento econômico para poder bater no candidato de situação Lula. A notícia, aqui e acolá, foi divulgada na semana passada. Saiu o índice e não se viu nada disso. Lógico que o tucano usou a informação, mas não com a veemência esperada. O que os meios de comunicação não divulgam, porque agora com a nova legislação todos os veículos têm medo até de citar nome do candidato A ou B, é que o povo está se lixando para o que acontece na economia.
Uma eleição é feita de todas as camadas sociais. A grande expectativa de quem foi ou estava na oposição, no caso Heloisa Helena e Alckmin, respectivamente, era de que aos poucos as chamadas faixas mais esclarecidas exercessem algum poder sobre as camadas da base da pirâmide de modo a convencer a todos de que o melhor voto era o contrário à situação. Nesse sentido, bateram feio nos ‘causos’ da corrupção, apelaram para os dados econômicos, jogaram nas propostas para um novo país, cheio de desenvolvimento e emprego.
Tudo isso não funciona mais. O velho tom do populismo é o que manda no voto nessas eleições e a imprensa se recusa a publicar isso, morrendo de medo da legislação eleitoral. A lei deveria determinar que participação em debates e entrevistas no dia-a-dia fosse obrigatório apenas para os que tivessem mais de 5% de intenção de voto. Afinal, a quem interessa a agenda do candidato C ou D? A mídia promove essas pessoas apenas por obrigação, da mesma forma como fazem uma cobertura sintética, inodora, por temer o que pode determinar os tribunais.
Mas voltando às intenções de voto, o povo quer saber é se terá bolsa família todo mês. Ainda que isso possa representar um marco do atraso, na medida em que muita gente fará força para parecer pobre, ainda que melhore de vida. O sistema de distribuição de renda é uma boa maneira de engessar o status quo de uma sociedade. A partir de agora, quem melhorar ficará na informalidade ou mentirá deslavadamente para continuar recebendo o dinheirinho todo mês.
Lógico que para boa parte da população beneficiada esse dinheiro é bem vindo. Lógico que é dever do estado cuidar de todos e em alguns casos dar dinheiro sim. Mas o critério de seleção seria melhor se antes disso se pudesse oferecer emprego. O que será da imagem de um pai saudável e com vontade de trabalhar com um cartão na fila à espera de um dinheirinho do governo? É essa a cultura que vamos perpetrar por gerações?
Há múltiplas possibilidades de melhorar a vida das pessoas, fazer frentes de trabalho e construir uma forma mais saudável de distribuir renda. O exemplo dos mais velhos, em tudo, fica para sempre. Mas o medo de dizer isso é tão grande que nem a oposição se vale dele, prefere dizer que vai manter o esquema, o que é simplesmente lamentável para um país tão necessitado de braços.
(*) Também assina uma coluna no site MegaBrasil, é diretor de Comunicação da DPZ e âncora da Bandnews. Ele passou pelo Estado de S. Paulo, onde ocupou cargos como o de chefe de Reportagem e editor da Economia, secretário de Redação, editor-executivo e editor-chefe, Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.”
JORNAIS EM CRISE
Milton Coelho da Graça
Onde está o futuro dos jornais?, 6/09/06
“O presidente da Associação Mundial de Jornais (WAN), Timothy Balding, atravessou o Atlântico para fazer, no Congresso anual dos empresários brasileiros de imprensa, uma palestra quase ridícula sobre a ‘reação’ dos jornais à ameaça da internet, dando, entre outros exemplos, o aumento de circulação em 2005 – de 0,56% em relação a 2004.
Considerando-se que a circulação mundial de jornais gratuitos já supera os 30 milhões, o crescimento da população e o número de alfabetizados somente na China e na Índia durante o ano passado, o otimismo de Mr. Balding não tem sentido.
Para acentuar ainda mais o despropósito desse otimismo, basta ler as revistas The Economist (edição de 24 de agosto) e Hora de Cierre (trimestral, edição de julho-setembro, da Sociedade Interamericana de Imprensa}.
O artigo da revista britânica – ‘O futuro do jornal’ – é implacável e os parágrafos finais são quase uma antecipação de epitáfio:
‘Consultores dizem que várias empresas tradicionais de jornais estão planejando apertar seus narizes e lançar diários gratuitos (N.A.: já são 200 em todo o mundo e, na Espanha, 51% do mercado, segundo Mr. Balding). Le Monde, por exemplo, planeja mais um na França , e a News Corporation, de Rupert Murdoch, um outro, vespertino, em Londres.
‘A decisão de lançar ou não um jornal gratuito exemplifica perfeitamente a desagradável escolha que a indústria de jornais pagos enfrenta hoje, na medida em que tenta encontrar um futuro para si mesmas. Durante os próximos poucos anos, elas terá de decidir se mantém o compromisso com a noção de ‘jornalismo de qualidade’ e adota uma atitude mais inovadora e mais empresarial – ou corre o risco de se tornar uma bela peça de museu’.
Hora del Cierre, em artigo de Horácio Ruiz Pavón, prefere apontar os blogs como ‘um duro rival da imprensa tradicional’ e se refere aos bloggers como jornalistas cidadãos. Em recente mesa redonda na Espanha, o subdiretor do jornal ABC, de Madri, juntou os blogs e os jornais gratuitos como as causas da má situação dos diários tradicionais. Mas foi apontada também a queda de qualidade do jornalismo em geral: ‘Repórteres que têm de trabalhar simultaneamente para vários meios de comunicação ou empresas que recorrem a estagiários sem experiência são distorções em alguns diários impressos. Isso estaria fortalecendo o papel dos periodistas cidadãos.’
‘O analista espanhol Juan Zafra – diz também o artigo de Hora de Cierre – acha que os blogs não devem confundir-se com jornalismo. (…) Considera ser um contra-senso que os diários coloquem os melhores jornalistas na criação de blogs que nada têm a ver com sua profissão.’
Bons para o jornalismo, mas não são jornalismo, sentencia Zafra, dando como exemplo um recente incêndio em Madri, quando vários blogs começaram a informar, minuto a minuto, o que ocorria. Mas foram os meios convencionais que deram a melhor informação: ‘Os blogs – afirma Zafra – não estavam ali na rua, junto às chamas, com o cheiro de queimado, as sirenes de bombeiros, mas sim os jornalistas, porque esse é seu ofício, sua vocação e seu salário.’
O texto de Ruiz Pavón, em ‘Hora del Cierre’ é um belo resumo dos méritos, possibilidades e deficiências dos blogs, especialmente as de natureza ética. Infelizmente o espaço é curto para uma discussão mais extensa. Mas recomendo muito a leitura dos dois artigos, acessíveis através dos links abaixo:
www.economist.com/business/displaystory.cfm?story_id=7827135
www.siapa.org
(*) Milton Coelho da Graça, 75, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.”
MERCADO EDITORIAL
Eduardo Ribeiro
IVC começa a viver a Era Digital, 6/09/06
“Aos 45 anos, o engenheiro aeronáutico Pedro Martins Silva, formado pelo ITA, só exerceu sua profissão por cinco anos. Há 17 na filial brasileira da Procter & Gamble, multinacional americana que fabrica produtos de higiene e limpeza, ele passou por várias áreas da organização, entre elas logística, recursos humanos e mídia, até virar o diretor de Relações Externas da empresa. A proximidade com a comunicação e com o mundo da mídia, no entanto, acabaria sendo decisiva para que seu nome fosse indicado para um dos mais importantes cargos da comunicação brasileira, o de presidente do IVC, o Instituto Verificador de Circulação, que há anos garante a lisura e a credibilidade dos números de circulação dos principais jornais e revistas do País.
E não poderia haver casamento mais perfeito: um homem com origem na tecnologia para presidir uma instituição no momento em que ela começa a ingressar na Era Digital, assumindo a obrigação de somar à tradicional circulação dos jornais e revistas impressos os exemplares virtuais, lidos em computadores e transmitidos aos assinantes pela web. Vale registrar que hoje o IVC audita cerca de 250 das perto de 3 mil revistas existentes no País e 84 dos quase 1.300 jornais. E se mais não audita é simplesmente porque para o mercado anunciante e publicitário esses são os veículos que importam.
Pedro lembra que o princípio básico da auditoria é certificar que o veículo, seja ele impresso ou digital, foi lido e que sua circulação é desejada, e isso pode ser aferido por venda em banca, por assinatura (paga ou não) ou outra forma de manifestação expressa de desejo do leitor, inclusive a assinatura do exemplar eletrônico. Executivo da Procter & Gamble e presidente do IVC, Pedro se desdobra entre os dois afazares e pelo visto não tem do que se queixar.
Pela tradição do Instituto, que prevê um rodízio no comando, o seu sucessor sairá das lides das agências de propaganda. Mas isso apenas em 2008, quando se encerra seu mandato, isso caso não venha a pleitear a reeleição, o que é permitido pelos estatutos. Pedro recebeu, no último dia 24 de agosto, os editores Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli, na sede da P&G, no Centro Empresarial de São Paulo, para uma conversa sobre o mercado editorial brasileiro, particularmente aquele sobre o qual o IVC tem maior intimidade, o de jornais e revistas. A seguir a íntegra da entrevista:
Jornalistas&Cia – Gostaríamos que você começasse explicando um pouco a história do surgimento da auditoria de circulação no mundo.
Pedro Martins Silva – Ela começou no início do século passado, quando a grande mídia eram os jornais. Já havia questionamentos sobre qual o tamanho da circulação, havia essa necessidade. Isso foi junto com os primórdios da publicidade, que era feita através de jornais.
J&Cia – É possível fazer um resumo da evolução desse tipo de trabalho até hoje? Tecnologicamente, sabe-se que há diferenças homéricas, mas, em termos de conteúdo, o que se audita hoje é diferente do que se auditava no início? Ou é mais ou menos a mesma coisa?
PMS – Mudanças tecnológicas alteraram de forma sinificativa o processo de auditagem. E também o processo de administração sofreu grandes evoluções durante o século passado, com uma gestão cada vez mais técnica e científica. Existem algumas coisas que se mantêm constantes; por exemplo, o porquê se faz a auditoria de circulação, que começou junto com a publicidade. Quem faz uma publicidade está muito interessado em saber com quem está falando, e de uma forma bem objetiva, porque tem uma mensagem a comunicar, e está pegando uma carona – no caso, pagando uma passagem – num veículo de comunicação, que é o jornal, e aí começa a falar com esse público-alvo. E isso tem uma relação direta com vendas. O número de pessoas com quem você fala tem uma relação direta com o número de produtos que vende. E a publicidade tenta fazer isso, vender mais produtos, através da comunicação dos benefícios do seu produto, o que ele é, quanto custa, como está disponível.
Basicamente, é um processo de informação, só que direcionado para o seu produto, com o objetivo de fazê-lo vender mais, ter maior aceitação. Esse princípio continua o mesmo. Quando as empresas passaram a fazer uso da publicidade, começaram também a falar com o seu público, a querer entendê-lo melhor. Assim, também a pesquisa de mercado começou a se desenvolver muito, de uma forma estruturada e científica, no começo do século passado, em paralelo com esse uso da publicidade. Nesse momento, houve uma transferência de tecnologia da área de pesquisa para a área de auditagem, depois para a comunicação dos jornais, que começaram a utilizar as pesquisas para entender melhor o seu leitor. Essa é a origem dos princípios operacionais do processo de auditagem e de tornar a comunicação um meio mais objetivo e eficaz.
J&Cia – Em outros países os institutos são estruturados de forma parecida com o do Brasil?
PMS – Sim, porque isso foi se expandindo para o mundo todo. O IVC foi criado no Brasil em 1961, quando já existia um movimento mais globalizado da indústria de propaganda. E começou-se a colocar essa tendência, esse princípio, essa necessidade da publicidade em diversos países. Nessa época, ainda era o jornal, ou o meio impresso, o principal veículo de comunicação. O rádio tinha, digamos assim, entrado desde a década de 30, a televisão já começava a ser mais interessante no sentido de crescimento, de novidade, mas o grosso, o principal ainda era feito pela mídia impressa. Foi então fundado a IFABC, uma federação global que congrega diversos institutos e estabelece os princípios comuns de operação.
Creio ter sido nesse momento que se institucionalizaram os princípios de auditagem em todos os países. Mas o que vigora em todos os países, como princípios da IFABC, é que estejam representados no instituto o tripé da publicidade, que são os veículos – no caso, mídia impressa -, agências, que são os especialistas nesse processo, e anunciantes, que são os compradores finais dessa comunicação. Esse princípio vale no mundo todo.
J&Cia – Vamos aproveitar o gancho para falar da estrutura do IVC. Como funcionam os principais órgãos gestores? Sabemos que ele não tem fins lucrativos, mas como se remunera? Quais os principais critérios para poder se associar? Quem pode, quem não pode?
PMS – Temos no IVC um grupo técnico que executa o trabalho de auditoria nos veículos. A diretoria não-remunerada é dividida de maneira igualitária entre as três áreas que mencionei. As agências são associadas ao IVC para obter essa informação para fazer os planos de comunicação para os anunciantes; são, na verdade, as usuárias finais. Os anunciantes se associam, para, digamos assim, participar do processo. E os veículos de comunicação entram com seus títulos buscando a certificação dos números declarados de circulação, que vão servir de base para a análise técnica de compra. Quando um veículo, um título, quer se associar ao IVC, o primeiro passo é ele manifestar essa vontade e entrar em contato para que formalize isso e receba também as informações básicas do processo de auditoria.
Uma vez qualificado, o veículo passa ao IVC uma informação jurada de qual é a circulação dele e a cada seis meses a auditoria do IVC vai lá para confirmar se os números realmente foram produzidos da maneira correta, se o processo é consistente e se aquela informação está dentro da variação aceitável, de 4%, pelo anunciante. Temos um corpo técnico, fixo, remunerado, que executa o serviço, e a diretoria, que orienta e delibera sobre o que é importante para a execução. O custo para o veículo é uma taxa mensal que ele paga para o IVC por participar como associado, e depois tem o custo da auditoria, que é variável pois ela precisa ser feita dentro de alguns períodos, num prazo determinado.
J&Cia – Quantos associados tem hoje o IVC e quanto isso representa do mercado potencial, que poderia estar no IVC?
PMS – Hoje temos entre 400 e 450 associados, a maior parte veículos que são pouco mais de 300. Mas é importante separar esse universo em duas áreas: jornais e revistas, que têm processos de produção e circulação distintos. A característica das revistas é que elas têm uma presença nacional, embora também tenhamos publicações regionais, que circulam como encartes ou associadas às revistas semanais de interesse geral. Já os jornais têm uma característica muito mais regional. Há grandes jornais regionais e outros que são nacionais com o foco específico em uma área, como economia ou coisa do tipo. Os jornais são diários e as revistas têm periodicidade semanal ou superior, e com um tratamento gráfico distinto. Nós conseguimos auditar a circulação paga dos jornais, os que são comprados, assinados.
O IVC tem presença maciça junto aos grandes jornais que são quase todos associados. Já dos regionais é menor o número dos que querem se filiar. Nas revistas, essa divisão é mais entre as que são de circulação paga e aquelas que são segmentadas, de nichos não-tradicionais, ou seja, que não tem circulação paga muito alta. Nós dependemos muito de assinaturas para auditar, e às vezes essas revistas de conteúdo dirigido são gratuitas. No setor de publicações pagas, a presença de revistas no IVC é bem alta. Nas de conteúdo dirigido, a nossa presença é um pouco menor.
J&Cia – Você pode dar uma idéia de números?
PMS – Deve haver por volta de 3 mil revistas, e o IVC audita cerca de 250, quase 10%. Se analisarmos por circulação, nas grandes revistas essa situação já se inverte. Acho que os jornais são perto de 1.300 no Brasil, e nós auditamos 84; ou seja, ficamos só com os grandes veículos. Creio que isso reflete – e é importante termos essa perspectiva – a real necessidade de um veículo participar do IVC; e essa necessidade é ele ter acesso a um número que é correto, auditado, que vai permitir que a sua venda de publicidade seja transparente, por exigência do anunciante. É esse fluxo de verbas publicitárias em grande parte que determina a participação dos veículos no IVC. Se um veículo não tem acesso a verbas ou tem um anunciante que não exige essa comprovação de circulação, realmente ele não tem nenhum benefício em fazer parte do IVC. Se ele tem uma certa dimensão e quer participar de um bolo publicitário bem estruturado, bem gerenciado, fatalmente vai ter que participar do IVC para ter acesso a esse mundo de publicidade, porque ter credibilidade nos números é uma demanda do anunciante.
Jornais de cidades pequenas, de regiões mais distantes, normalmente não têm participação em verbas publicitárias de anunciantes nacionais ou regionais fortes. Eles têm acesso a verbas de anunciantes locais que não vêem vantagens ou não têm a sofisticação de uma análise de mídia mais focada para fazer a sua publicidade. Muitas vezes há dois jornais na cidade e ele anuncia nos dois. Aí a negociação passa a ser muito menos sofisticada do que quando se lida com grandes anunciantes, que têm diversas opções e vão colocar a publicidade naquilo que dá o melhor retorno, que tem o maior alcance e um preço melhor. A penetração do IVC precisa ser entendida dentro desse contexto. Ela não é alta nem baixa, boa ou ruim, simplesmente reflete a realidade do mercado de publicidade no Brasil.
J&Cia – Muda alguma coisa com a chegada dos exemplares virtuais?
PMS – Muda, sim, mas aquela necessidade de o material publicitário chegar aonde deve chegar, isso continua. Toda essa tecnologia disponível está fazendo com que o mundo seja mais complexo, mais diverso. Desde a bolha da internet, desde os avanços na comunicação digital que ocorreram na década passada, o mundo da comunicação tem passado por grandes revoluções, principalmente na mídia impressa, na mídia lida, aquela que não é necessariamente impressa, mas é comunicada através da palavra escrita. Essa comunicação ainda está em transformação e creio que, nesse sentido, a auditagem de edições digitais é importante, pois da mesma forma certifica se o material foi lido, se a circulação é desejada. Esse é o princípio: quando se faz a comunicação por meio de um veículo, é fundamental que ele seja lido, senão acaba sendo uma mala direta, que tem índice de leitura muito mais baixo, chega e às vezes vai direto para o lixo.
Se a circulação é paga demonstra que o assinante tem interesse pelo conteúdo. E mesmo em alguns casos, no jornal de conteúdo dirigido, por exemplo, embora não seja pago, existe o pedido do leitor, na assinatura, de que ele receba o material. Se ele se dá ao trabalho de pedir, se cadastrar, se registrar, isso demonstra interesse no veículo. Este é o princípio que devemos manter: a circulação tem que ser desejada, porque quando ela é desejada ela é lida, e junto, nesse conteúdo, vai estar a comunicação publicitária. Com edição digital, mudam os métodos, os processos, e eventualmente o hábito do leitor, pois é diferente ler um material no papel e no computador; mas ela continua sendo uma circulação desejada.
J&Cia – Quantos veículos têm edições virtuais auditadas?
PMS – No Brasil, temos dois jornais com edições digitais que estão sendo auditadas, o Jornal da Tarde e o Estado de S. Paulo (Nota da Redação: uma semana após essa entrevista, a edição digital de Veja também começou a ser auditada.). Existem outras edições digitais, mas que decidiram não entrar por enquanto no processo de auditoria do IVC. Quando isso não é feito, o número da edição digital não pode ser contabilizado na circulação divulgada do jornal. Se esse número é muito baixo ou tem dinâmicas diferentes, então faz sentido a empresa não querer entrar nesse processo. Mas é uma tendência, e nós do IVC estamos obviamente prestando atenção nesse movimento, para entender o que ele muda no processo e, se é uma circulação desejada, como é que conseguimos determinar isso para que o anunciante tenha certeza de que aquele material foi lido.
As edições digitais crescem no mundo todo, mas ainda estão mais ou menos no mesmo estágio de penetração que existe no Brasil. E o IVC também não está muito distante dos outros institutos, e procura se manter atualizado.
J&Cia – Como auditar os jornais gratuitos?
PMS – É um grande desafio. A questão básica é saber se eles têm uma circulação desejada, se são lidos; essa informação é importante para o mercado publicitário. Logo, ela precisa ser auditada de alguma forma, referendada, validada, que é o que o IVC faz. Os de circulação gratuita são na verdade um desafio para o IVC. Como provar que aquela circulação é desejada? Como provar que o número divulgado pelo jornal é o que vai dar ao anunciante a segurança de que ele terá aquela audiência também no anúncio?
Para nós, a circulação gratuita é tão válida quanto a circulação paga, desde que seja lida. O nosso desafio – e é assim no mundo todo -, é: como eu me certifico de que esse número é o correto? Porque o processo de auditoria do IVC é feito por meio de dados financeiros, de assinaturas, pagamentos, para confirmar que aquela circulação é desejada. No caso dos jornais gratuitos, como fazer isso?
J&Cia – Na Europa já existe algum movimento de auditagem para esses jornais?
PMS – Essa preocupação existe no mundo todo, porque é necessário, de alguma maneira, ter certeza se a mensagem será lida e qual a tiragem, se são dez mil ou cem mil. O preço muda completamente quando são dez mil e quando são cem mil.
J&Cia – A fórmula ainda não foi encontrada?
PMS – A fórmula ainda não foi encontrada, não existe nenhuma solução para que o mundo todo diga ‘Ok, agora sei como fazer, agora tenho certeza, consigo ter números equiparáveis entre circulação paga e circulação gratuita’. Por isso é um desafio.
J&Cia – A ANJ, por exemplo, não aceita a filiação de um jornal com circulação gratuita. Sabe-se, no entanto, que eles são hoje mais de 160 no mundo, alguns com tiragem de 1 milhão, 1,2 milhão na Europa. Significa que, com auditagem ou sem ela, esses jornais crescem e os anunciantes, mesmo sem auditagem, estão arriscando e até apoiando esse tipo de iniciativa.
PMS – Sem dúvida eles são importantes. O que eu falei que era um grande desafio – não um problema – é que eles possam ser certificados e auditados pelo IVC segundo uma norma que faça sentido e que os coloque realmente numa comparação adequada com os jornais pagos.
J&Cia – E como os anunciantes procedem em casos de veículos não auditados pelo IVC?
PMS – Os anunciantes muitas vezes gostam de experimentar novas alternativas e acabam fazendo programações em veículos não auditados. O problema é que fazem isso de uma forma não comparável. Ou seja, exigem descontos maiores, estimam pela metade a circulação informada para chegarem a um número que seja mais razoável, pois sabem que a publicidade depende muito de resultados; você faz uma campanha e quer saber qual será o resultado das vendas. Sem as ferramentas para fazer essa avaliação previamente, você arrisca, faz uma experiência, vê se dá certo ou não. Mas se não der certo não saberá exatamente as razões.
Esse é um problema da circulação não auditada. Porque a publicidade funciona ou não funciona baseada em alguns elementos importantes, mas que são independentes. Primeiro: se for um produto de consumo, ele tem que ser bom, ter um preço adequado, estar disponível na prateleira. Além disso, a comunicação tem que ser bem feita, o consumidor precisa ver e entender, e ela tem que chegar ao consumidor, o que se dá exatamente pela circulação. Se todos esses elementos estiverem corretos, o publicitário sabe se vai ser um sucesso ou não, ou pelo menos consegue analisar onde não foi muito bem. E saberá, com precisão, qual o peso que a circulação teve no processo, sem atribuir-lhe culpas ou responsabilidades indevidas.
J&Cia – A circulação dos meios impressos tem caído no mundo inteiro, nos últimos trinta anos. No Brasil também, talvez não de forma tão acentuada. Mas ao contrário dos países desenvolvidos, que chegaram praticamente ao pico de circulação e há anos vem perdendo mercado, o Brasil teria ainda oxigênio para ver as tiragens crescerem. Como você vê isso?
PMS – É verdade, essa constatação é uma realidade. Eu não sei se o caminho a ser seguido será uma reprodução do que foi em outros países, onde o desenvolvimento social, através de educação, hábitos de leitura, levou a um mercado maduro, totalmente desenvolvido em termos de leitura dos cidadãos. O fato de entrar atrasado nesse processo de educação e de qualificação da sociedade, ao mesmo tempo em que se tem meios diferenciados, pode levar a um estágio de maturidade mercadológica diferente daquele que existiu quando havia apenas uma mídia, porque desde já começa a concorrer com outras informações. Hoje os veículos impressos e eletrônicos competem.
E muitas vezes o hábito de ter acesso a eles fica arraigado. As gerações mais recentes, que estão com as novas tecnologias disponíveis, que não têm muitas vezes essa tradição passada de pai para filho, de ler jornal no café da manhã, vão desenvolver seus próprios hábitos e eventualmente não levarão a comunicação impressa ao potencial de maturidade que chegou em outros países. Essa é a parte de incógnita quando se tem mudanças tecnológicas ao mesmo tempo que o desenvolvimento social está um pouco mais atrasado. Isso vale não só para a mídia impressa como também para a comunicação escrita, e já existem meios eletrônicos fazendo comunicação escrita. Pode-se voltar a ter tradições mais orais, combinando áudio e imagem, que supram essa necessidade de informação do cidadão. E este pode não criar o hábito da leitura, optando por assistir a um jornal em vez de ler um jornal.
J&Cia – O que mostra a curva de circulação dos meios impressos nos últimos dez anos?
PMS – Há aí uma mistura de influências e é importante abordarmos essas mudanças ao mesmo tempo. Existe a concorrência da mídia eletrônica escrita, que ocorreu fortemente com o desenvolvimento da internet e que ainda está acontecendo – principalmente no Brasil, onde a penetração ainda não é o que pode ser, dado o atual estágio de nosso desenvolvimento social -, que fez com que num momento inicial a informação deixasse de ser privilégio de assinantes ou de pessoas que ainda tinham como comprar um jornal.
Isso provocou no final dos anos 90 e início dessa década uma queda na circulação dos veículos impressos, a despeito de a internet, com toda a abundância de informações que disponibiliza, não oferecer a mesma credibilidade daqueles. Hoje existe um outro movimento, que é o de popularização da comunicação impressa, tanto pelo lado das revistas como dos jornais; acho que o de revistas começou até um pouco antes. As revistas populares começaram a crescer e encontrar o seu público nas classes sociais com menos acesso a dinheiro.
Não vou citar títulos, mas há revistas que foram comercializadas a R$ 1 ou menos, isso dentro de grandes e pequenas editoras. No ano passado e neste ano, alguns jornais entraram nesse segmento e com o êxito que obtiveram têm efetivamente contribuído para ampliar a circulação total impressa, tanto a auditada, como já ficou constatado, quanto a não auditada.
J&Cia – Que fatores são levados em consideração na auditoria dos veículos?
PMS – Em geral aqueles ligados à área econômica do jornal. O que até certo ponto faz com que não exista caixa dois nessa área. Caixa dois pode até ser que exista, mas dentro da parte de circulação não dá para ter porque o número tem que estar nos livros, tem que ser registrado.
J&Cia – O que pode e o que não pode ser divulgado em relação aos números auditados pelo IVC, pelos veículos?
PMS – Temos algumas normas que são importantes na hora dos veículos divulgarem um número de circulação auditado. Eles precisam mencionar o último período e não podem pinçar dados. Existe uma norma estruturada para evitar a divulgação de números que possam distorcer a realidade. Na verdade, é preciso deixar claro que o IVC, aí incluídos todos os seus sócios e interlocutores, trabalha com o conceito de que ‘se pode ser medido, pode ser auditado’. Dentro desse princípio, sempre que há necessidade nós mudamos as regras de divulgação dos números. Se é importante para o mercado ter dados mais detalhados, regionalizados, segmentados – e há como se medir e auditar isso -, nós fazemos e colocamos esses números à disposição de nossos associados. E eles podem divulgar, desde que comparem com o último período. Isso é uma regra básica, para não ficar falando coisas do tipo ‘sou líder’ quando na verdade deveria estar dizendo ‘fui líder’. Para isso a divulgação do último período tem que estar sempre presente no material impresso.
J&Cia – O último período é um ano?
PMS – Não, o último mês ou a última edição, porque você tem veículos com periodicidade menor do que mensal. A última edição, ou o último período em que foi medido, tem que estar disponível. O último período tem não só que sempre ser divulgado, mas há uma data-limite para que isso aconteça e precisa ser divulgado por quem está jurando esse número, pelo veículo. Por quê? Porque os dados são sempre comparativos, e você que está, digamos assim, comunicando liderança ou que cresceu, precisa ter dados comparativos, ou entre você e você mesmo ou entre você e outro, para provar que subiu.
E depende de dados que são informados pelo outro e que tem que seguir a mesma norma. Então, a idéia é ter essas regras básicas para material publicitário, de divulgação. O que as pessoas falam é outra coisa. Algumas vezes acontecem algumas denúncias e aí analisamos o que fazer com o caso.
J&Cia – Uns tem acesso aos números dos outros?
PMS – Todos têm acesso aos mesmos números. Eles podem falar ‘estamos crescendo’ e publicar a informação de que estão crescendo. A única função do IVC é ver se seguiram as normas de publicar o último período. Aí não há problema, a informação é do associado, ele pode dar publicidade aos números. Nessa disputa pelo primeiro lugar, esse é um título importante.
J&Cia – Quando vocês fazem auditoria numa determinada região, num determinado veículo, e os números mostram que caiu ou subiu, entram no mérito das causas? Não têm esse interesse nelas?
PMS – Como IVC, não. Não temos a função de fazer essa análise. Obviamente que o IVC é composto por associados que, sim, têm interesse em entender o porquê. Conversamos sobre isso no IVC, mas é uma conversa não do instituto e sim de publicitários, anunciantes e veículos sobre tendências. O IVC não vai deliberar nada, não vai tomar nenhuma atitude para apurar esses dados. Ele vai, sim, eventualmente fornecer os dados para os seus associados, mas quem vai analisar, se preocupar com isso, aí são os outros.
J&Cia – E o que dizer do futuro?
PMS – Há um esforço de fortalecer os métodos e procedimentos internos, como sempre se fez. Isso naturalmente passa por qualificação dos auditores, dos funcionários, aperfeiçoamento e estruturação das normas. Outra coisa que estamos vendo com otimismo é a decisão do Governo Federal de usar a auditoria de circulação para definir os critérios de veiculação da publicidade oficial. É um movimento interessante porque vem como reflexo de um processo de aperfeiçoamento de anunciantes que existem dentro do governo, de tornar a administração de verbas publicitárias mais transparente; mas também resulta de um processo externo que ocorreu por causa dos escândalos de governança corporativa no começo da década, nos EUA.
Tudo isso se juntou no sentido de precisarmos fazer o processo de gerenciamento da administração das verbas da publicidade governamental de uma forma mais certificada, correta. Da mesma forma que acontece com os anunciantes da iniciativa privada, é o Governo querendo certificar-se de que comprou exatamente o que pagou pela comunicação.
J&Cia – Pode detalhar?
PMS – Como anunciante, se eu compro uma veiculação de publicidade preciso ter certeza de que ela ocorreu. Não é um processo de compra em que eu pago, você finge que entrega e fica tudo tranqüilo. Me dá um tanto de carne aí! Não quero um tanto de carne, quero tantos quilos de carne; se não, depois não consigo provar internamente que fiz uma administração correta dos recursos da empresa. E a empresa não é minha, é dos acionistas. Eu preciso comprovar que comprei uma veiculação em tantas edições, preciso comprovar internamente que esse é o meu público-alvo, que eu recebi, e que é mais barato, ou terei justificativas para não ser o mais barato em comparação com outra opção. Todo esse processo, em termos de auditoria, de controles internos, também precisa acontecer no Governo.
Eu acho esse esforço extremamente louvável. E isso é reflexo das novas regras de governança corporativa da SOX, que é uma nova legislação americana (Nota da Redação: Lei Sarbanes-Oxley, ou SOX, criada pelo governo americano no rastro de escândalos como os da Enron e WorldCom, à qual as grandes companhias americanas que negociam ações em bolsa terão de finalizar seu processo de adequação até o mês de novembro). Tem outras coisas, mas acho que o enfoque é garantir que os seus recursos estejam sendo corretamente aplicados, que a sua administração profissional esteja fazendo um bom trabalho. E você precisa de números de auditoria para fazer isso. E as auditorias, mais do que nunca, sabem do tamanho de sua responsabilidade e do quanto é importante a sua credibilidade, depois que algumas empresas do ramo desapareceram em função dos escândalos de Enron etc. Como a Arthur Andersen e outras, que atestaram que a contabilidade era correta e as normas eram boas e aí todo mundo viu que não eram. A empresa entrou numa gigantesca crise e a auditoria perdeu toda a sua credibilidade. Por que isso ocorreu? Porque o outro cliente, que também usava a auditoria, disse assim: ‘Ok, você errou naquele. Eu preciso certificar para o mundo externo que eu estou fazendo a coisa certa. Eu estou fazendo a coisa certa. Mas quando você diz isso, não vale nada para eles.
Então preciso de alguém de nome que diga que vale alguma coisa; por isso vou procurar outra auditoria que tenha credibilidade.’ Numa auditoria, quando você perde credibilidade perde tudo, perde o negócio. No caso do IVC, essa é uma preocupação constante. Estamos vivendo um momento muito interessante. Primeiro, a relevância e a importância das auditorias aumentou muito e isso faz com que a responsabilidade fique maior. Mas, por outro lado, a necessidade de auditoria vem aumentando por uma demanda maior. Hoje não dá para você comprar publicidade só com informações etéreas, você precisa comprovar o que comprou. E nesse ponto o IVC ganha uma relevância importante no mercado de circulação impressa.
J&Cia – Alguns veículos contratam auditorias próprias, independentes. O que leva a isso? Alguma briga com o IVC?
PMS – Não, não é briga com o IVC. São empresas de auditoria que fazem outro tipo de trabalho. É importante salientar que elas não fazem o mesmo que nós. A única auditoria de circulação que existe no Brasil é o IVC. Outras empresas também fazem auditoria, e tem validade, só que é uma auditoria de tiragem. Auditoria de tiragem é para dizer quantos exemplares foram impressos. É uma auditoria importante, não estou dizendo que não seja, mas não necessariamente traduz a necessidade do anunciante.
Pode traduzir outras necessidades, mas para o anunciante interessa saber quem leu. Então, se eu imprimir, foi distribuído e não foi lido, a auditoria de tiragem não me diz isso; ela mostra que foram impressos ou distribuídos xis exemplares. Para o anunciante, se não houve leitura dessa quantidade que foi distribuída, esse número não vale nada. Existe espaço para auditoria de tiragem, mas prefiro não falar sobre isso porque é uma área em que não atuamos.
J&Cia – Vocês trabalham com que estrutura, em termos de funcionários fixos e variáveis?
PMS – Não é uma estrutura muito grande. Temos cerca de 40 funcionários, divididos em duas sedes, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro.
J&Cia – Esse é o pessoal permanente?
PMS – Permanente, remunerado, que tem carreira, que executa as auditorias ou trabalhos administrativos dentro do IVC.
(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.”
JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu
Cartão amarelo, 8/09/06
“Pudera ser minha vida
como um campo de caça
Sem arestas: puro pampa
(Nei Duclós in No Meio da Rua)
Cartão amarelo
O leitor Walter Aniceto Reis, pernambucano que vive em São Paulo, assistia à vitória do seu Náutico sobre o Atlético Mineiro (3 a 0), nesta terça-feira à noite pelo Sportv, quando escutou esta do comentarista:
Luciano recebeu cartão amarelo embora a reclamação dele não tenha sido muito intensiva.
Se Luciano, do Náutico, reclamou do juiz, Aniceto Reis reclama do comentarista:
Intensiva poderia até ter sido, se a reclamação viesse de esforço desmesurado, mas o comentarista quis dizer mesmo ostensiva, ou seja, praticada de forma intencional, de modo provocador.
É verdade, considerado Aniceto; ostensiva, assim como a honestidade do PT.
(E por falar nesse canal da Sky, Janistraquis e eu gostamos muito do Arena Sportv, comandado pelo competente e sempre bem-humorado Cléber Machado; e ainda podemos rever Marco Antônio Rodrigues, o Bodão, velho amigo e companheiro dos bons tempos do Jornal da Tarde.)
******
Brasil, urgente!
A considerada Lourdes Coimbra, de São Paulo, via o Brasil Urgente, da Band, e ficou ‘duas vezes horrorizada’ com a reportagem sobre uma criança de três anos de idade que foi torturada e morta pela mãe e o amante desta:
Digo que fiquei duas vezes horrorizada porque o crime foi coisa de maníacos e o substituto de Luiz Datena, a pretexto de condenar a barbárie, contou a história de como uma coelhinha que ele conheceu tratava seus desprotegidos láparos e depois saiu-se com esta: ‘Nem os animais são capazes de tanta crueldade’, ou algo assim, pois não gravei a fala do moço. Ora, não existe animal cruel, perverso, mau-caráter; só o homem, o ser humano, é capaz de cometer barbaridades como a tortura e morte de uma criança.’
Tá mais do que certo, considerada Lourdes. O que há de ruim na natureza é obra dessa criatura feita à imagem e semelhança do Altíssimo…
******
Vidente
Janistraquis tenta desesperadamente contatos imediatos com o professor Juscelino Nóbrega da Luz, mais conhecido como ‘Vidente de Pouso Alegre’, iluminado que previu o ataque às torres gêmeas de NY, a tragédia do Tsunami, apontou ainda o esconderijo de Saddam Hussein e, segundo consta, escreveu a Lula avisando-o da derrota nas eleições:
‘Considerado, se o candidato/presidente sobe diariamente nas pesquisas e Juscelino insiste em que a derrota é certa, trata-se de vidente capaz das maiores façanhas. Portanto, gostaria de saber dele se o Vascão vai chegar lá em cima no Brasileirão e se o Flamengo fará companhia ao Atlético Mineiro na Segundona…’
Trata-se de assunto pra lá de sério e, portanto, vamos à procura do professor Juscelino!!!
******
Datastraquis
Responda com sinceridade: existe algo mais constrangedor do que um candidato que se orgulha de ser filho e neto de analfabetos, ele mesmo apedeuta empedernido, fazer da educação uma bandeira de sua campanha à reeleição para presidente da República?
Respostas na área de comentários.
******
Carlitos Tevez
O considerado Bruno Viécili, de São Paulo, corinthiano sempre atento, escreveu à coluna:
Passeando pelo UOL em busca do paradeiro de Carlitos Tevez, fico em dúvida sobre o que mais me surpreende, se é o fato de o argentino ter ido para um clube inglês medíocre ou se o trecho em que o texto da agência EFE reproduzido pelo decano dos portais brasileiros explica que o West Ham United é um ‘time do leste de Londres’. O redator faltou às aulas de Inglês, de Geografia ou às duas?
Janistraquis, que torce pelo Vasco, nem sempre se liga nas coisas mas anda numa fase de otimismo petista, acha que a ‘explicação’ da EFE está ótima, ó Viécili:
‘Poderia ser bem pior, considerado, bem pior; afinal, não se pode esquecer que ham é presunto…’
******
Nei Duclós
Leia no Blogstraquis o belo poema intitulado Puro Pampa, cujo excerto é a epígrafe desta coluna.
******
Festival
A expressão ‘menas verdade’ foi criada por Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto), o qual, como sabemos, denunciou o Festival de Besteiras que Assola o País (Febeapá). Vítima do terceiro infarto, em setembro de 1968, aos 45 anos de idade, a obra do genial humorista está cada vez melhor, como os argentinos dizem de seu eterno ídolo Carlos Gardel.
Recorde no Blogstraquis algumas frases da poderosa lavra do sobrinho dileto de Tia Zulmira, a sábia anciã da Boca do Mato, frases extraídas do livro Dupla Exposição: Stanislaw Sérgio Ponte Porto Preta, do jornalista Renato Sérgio (Ediouro Publicações S.A. – Rio de Janeiro, 1998).
******
Estatal?
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de onde foi possível acompanhar a alegria palaciana pela vitória nas eleições de outubro, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando esta notinha lhe feriu os olhos:
A Embraer conseguiu ontem dar um passo audacioso no mercado chinês de aviação civil. O presidente Lula participou da assinatura de um contrato de venda de 100 aviões fabricados pela estatal brasileira para a chinesa HNA. O negócio é o maior que a Embraer assinará este ano: renderá US$ 2,7 bilhões e abrirá caminho em um mercado gigantesco.
Roldão, que jamais se perdeu em vôo algum, lamentou:
Pena que a Embraer há muito deixou de ser estatal… e agora tem também boa parte do capital estrangeiro.
******
Espírito de porco
Lula quer direito de resposta porque Heloisa Helena disse: ‘deve ser mentira o resultado das pesquisas eleitorais que apontam para a vitória do banditismo político.’
Segundo os advogados da coligação do presidente, ‘o espírito é coibir para que a propaganda não descambe para a chamada ‘baixaria’, bem como para que os seus parâmetros fiquem no campo das propostas, projetos ou programas de Governo.’
O considerado leitor Hermes Araújo, de São Paulo, achou graça do tal ‘espírito’:
Era só o que faltava! Lula sempre foi o principal beneficiário das bandalheiras do PT e agora, em plena campanha eleitoral, quer proibir que se fale no assunto. Baixaria é o que faz o partido do presidente e é preciso fazer o eleitorado recordar o passado recentíssimo, né não?
Claro que sim, ó Araújo; os ‘politicamente corretos’ imaginam que o Brasil seja um país escandinavo, mas, tanto aqui quanto em Oslo (pronuncia-se Óslo) denunciar safadezas nunca foi crime eleitoral.
******
Megafurto
O considerado leitor Aníbal Leite, de Porto Alegre, implicou com a chamadinha na capa do UOL:
Ligações com o PCC: Polícia prende 28 no RS e impede megafurto a banco.
Que diabo vem a ser um megafurto?!?! Ora, tentativa de roubo a banco não é furto. Este é praticado por descuidistas, que em Portugal são chamados de carteiristas, ou seja, aquele ladrão que bate a carteira da gente. Não implica violência. Furto com violência é roubo; se tiver arma no meio é assalto; se do assalto resultar morte da vítima, vira latrocínio. Pelo menos foi assim que aprendi no meu curso de Direito. Ou estou dizendo besteira?
Não estás a dizer besteira, ó Anibal! É isso mesmo. Janistraquis acha que megafurto acontece quando, por exemplo, Tevez e Mascherano passam a perna na torcida do Corinthians; ou quando Parreira aplica um rabo-de-arraia nos sonhos do país do futebol.
******
Nota dez
O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal mineira, envia texto desse grande Mestre do jornalismo que é Nahum Sirotsky. Nos anos cinqüenta, Nahum acompanhou Assis Chateaubriand pela madrugada de Copacabana, numa aventura capaz de ‘salvar o país’, comportamento típico do ‘Rei do Brasil’, muito bem retratado na obra de Fernando Morais.
Leia no Blogstraquis.
******
Errei, sim!
‘FAÇO SABER… – O considerado leitor Paulo César Lima, de Parnaíba (Piauí), lê a Folha de S. Paulo armado de poderoso microscópio. Em tal dia, por artes do capiroto, não encontrou falha na Folha. Não desanimou e correu até o Classifolha onde, finalmente, foi saciado. ‘Comunicado à Preça’ dizia o anúncio. Achei o erro grave, porém Janistraquis defendeu o jornal: ‘Considerado, comunicado à preça é quando a gente tem pressa de comunicar algo à Praça…’ (junho de 1992)
Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).
(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.”
INTERNET
Bruno Rodrigues
Como seria o Brasil sem o Orkut?, 6/09/06
“Não tenho perfil no Orkut. Procure por Bruno Rodrigues e você achará vários – nenhum deles sou eu. Em diversas ocasiões quis encontrar um motivo para criá-lo, mas a dúvida permanece.
Embora não faça parte do Orkut, estou sempre por lá. Ossos do ofício. Como minha praia é o estudo da informação para a mídia digital, o Orkut é uma de minhas prioridades.
Ele não pode ser desprezado: no Brasil, o Orkut tem mais de 15 milhões de usuários. Se no resto do mundo ele não pegou, por aqui é um fenômeno.
Este é o ponto: enxergamos no Orkut o que os outros não vêem ou o que vemos de tão especial já existe em outros sites há tempos, e de maneira mais ampla?
Seja o que for, os brasileiros transformaram o que poderia ser um Boeing de última geração em um aviãozinho de papel.
Cheque o que fizemos com o Orkut. Não estou me referindo aos adolescentes: deixe-os em paz. Se eles criam perfis falsos, publicam fotos de baladas ou criam comunidades baseadas em ‘amo fulano’ ou ‘odeio sicrano’, eles podem: é da idade.
A questão, para variar, está com os adultos, que participam do Orkut de modo quase constrangedor, seja para procurar colegas da época do colégio, para serem lembrados do aniversário de amigos de forma automática ou porque é assim que as empresas de RH ‘modernas’ selecionam pessoal para as grandes empresas – mesmo?
Claro que estas ações também acontecem fora do Orkut. Elas existem em várias comunidades de relacionamento e através de outras ferramentas da internet, como o bom e velho e-mail. Mas o Orkut acaba sendo um resumo significativo destas ações de relacionamento.
Mesmo não estando no Orkut, é claro que acabo me divertindo com alguns perfis que leio, me emociono com outros e por vezes me facilitaria muito a vida se eu pudesse postar parabéns para alguns amigos não tão próximos. Mas acho que os brasileiros poderiam muito mais com o Orkut se fossem além da ‘página 10’.
E a página seguinte começa com as comunidades. Até agora, infelizmente, fazemos delas um prolongamento do perfil, como novas categorias de dados pessoais. Sei que José da Silva, além de morar em Porto Alegre e ter 33 anos, é pesquisador de combustíveis alternativos e membro da Renovação Carismática. Mas pára por aí.
Agora, imagine se José da Silva e as outras 15 milhões de pessoas participassem ativamente de uma comunidade, ao menos.
Como todas as outras, as comunidades do Orkut existem para troca, e toda troca gera conhecimento, que leva a uma ação. Não peço que as comunidades do Orkut virem um fórum de transformação social, mas faria uma enorme diferença se não as encarássemos só como ferramenta de identidade pessoal. Seríamos profissionais mais bem informados, cidadãos mais conscientes e, talvez, até pessoas melhores – apenas utilizando o real potencial do Orkut.
Na semana passada, a Justiça brasileira, em reação à atitude do Orkut Brasil, que alegou não ter condições de entregar nomes de seus usuários e assim colaborar na caça aos racistas e pedófilos, ameaçou multar e punir o Google que, por conta, não descarta fechar o Orkut aos usuários nacionais, caso haja insistência.
Para o Google, que não ganha um centavo com a comunidade, pensar em perder um dinheiro que não se ganhou pode ser a gota d’água. A porta na cara dos brasileiros faria sentido.
Como seria o Brasil sem o Orkut? Perderíamos tanto assim? No âmbito pessoal, bastante. Mas, a pensar no que poderíamos ter ganhado com as comunidades, não perderíamos nada. Afinal, mal começamos.
Não se sabe o rumo que o affair com a Justiça irá tomar, mas, ainda que fique tudo na mesma, seria possível o Brasil do Orkut amadurecer com o tempo?
Se o Google criar um objetivo palpável para o ‘fenômeno’ Orkut, digo que sim. Mas isso só acontecerá se ele incluir lucro. Se vierem com subjetividades, esqueça, porque perdemos.
Caso um modelo de negócios vingue, estará nas mãos do Orkut o processo de catequese, a missão de mostrar aos brasileiros que há muito mais a fazer na comunidade. E isso só eles podem fazer. Nenhum usuário chegará a essa conclusão sozinho, como não aconteceu até agora.
O que me faz, hoje, repensar se haveria um bom motivo para estar no Orkut é o convite que recebi, há tempos, para participar de uma comunidade sobre webwriting. Talvez seja a hora de deixar a resistência de lado, aderir, e aguardar pelo futuro próximo. E torcer para que não seja tarde demais…
(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’. Ministra treinamentos e presta consultoria em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em seis anos, seus cursos formaram 1.200 alunos. Desde 1997, é coordenador da equipe de informação do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, com 4.000 páginas em português e versões em inglês e espanhol e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’ (Editora Objetiva, 2001), há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.”
José Paulo Lanyi
‘O Orkut destrói a família brasileira’, 5/09/06
“A frase do título é de um amigo meu. Ele acha o Orkut um perigo. Mensagens carinhosas que pululam de um computador para o outro acabam com relacionamentos, semeiam crises, denunciam estrepolias íntimas, bagunçam a vida dos internautas. Como esse meu amigo não é homem de, vamos dizer, uma mulher de cada vez, tem suas razões para evitar a superexposição na rede.
Lembrei-me dele, ao ler uma notícia de hoje sobre mais um crime cometido nessa seara eletrônica. Conforme a reportagem de Plínio Delphino publicada no Diário de S. Paulo, um estudante de 17 anos sugeriu a uma quadrilha que roubasse a casa de um ex-colega de escola, Ramon Augusto Merighi Sobrinho, um garoto de 18 anos, ‘ao saber, por meio do site, que o pai da vítima estaria viajando’.
O Orkut teria sido o palco do planejamento do crime, mas também do castigo. O relato nos diz que lá mesmo, no mundo dos ‘sociobytes’, Ramon acabaria descobrindo uma foto de um dos assaltantes junto ao seu ‘amigo’ virtual.
Tudo teria começado assim:
‘Depois de contatar Ramon pelo Orkut e simular interesse em jogar videogame na casa do rapaz, seu ex-colega encontrou-se com Jeferson, Cição e Pé – os dois últimos estavam armados. Na Rua Agostinho Lattari [Alto da Mooca, São Paulo], o adolescente tocou a campainha da casa de Ramon, que, ao vê-lo à porta, acompanhado de outras três pessoas, atendeu. Pé e Cição sacaram armas, dominaram Ramon, seus dois irmãos, a mãe e duas empregadas da casa. O ex-colega fingiu também ter sido rendido e, durante a ação, agiu como se fosse refém dos assaltantes’.
Os bandidos foram embora com um carro, aparelhos de DVD, videogame, TV, jóias e outros objetos roubados. Na seqüência, Ramon teria deparado, no Orkut, com a foto do seu ‘amigo’ lado a lado com um dos assaltantes. Decepção, encrenca e polícia.
Esse é um entre tantos crimes praticados por meio do Orkut. Há poucos dias, a pedido do Ministério Público Federal, a Justiça Federal autorizou a quebra de sigilo de 38 criadores de perfis e comunidades do site vinculados a pornografia infantil, racismo e apologia ao suicídio e ao homicídio- informa a mesma reportagem. A Google Brasil, subsidiária da americana Google Inc., proprietária do Orkut, anda não encaminhou esses dados à Justiça e terá de pagar uma multa diária de R$ 1,9 milhão caso não cumpra a determinação em um prazo de 15 dias. No entanto, a Google Brasil resiste na peleja judicial.
Ontem, o pai do adolescente envolvido no roubo, do tal ‘amigo’ do Orkut, estava desesperado e chorava na delegacia. ‘A dor que estou sentindo no coração é igual à sentida com a perda dos meus pais’, desabafou o comerciante de 52 anos, envergonhado pelo filho e ‘sem chão’.
O Orkut não destrói a família brasileira. É a família brasileira que está destruindo o Orkut. Ou, para sermos realistas, o indivíduo doente que emerge de uma sociedade desestruturada, se não pela inconsistência dos relacionamentos reais, pela própria condição humana, aquela que cria para depois ter que conter as conseqüências dos vícios que lhe são naturais.
O Orkut da pedofilia e do roubo está para o seu criador, o turco Orkut Buyukkokten, como o avião de guerra estava para Santos Dumont, que se suicidou em 1932, no Guarujá, desolado por ver o seu invento transformado em um artefato de destruição.
Matou-se em vão.
A mesma dinamite usada para fins pacíficos (vide a história de Alfred Nobel), como a engenharia, sangra milhares de uma só vez, em nome da ambição de três ou quatro imorais. Assim é com a mesma faca que descasca a laranja e retalha o objeto da tara dos assassinos em série.
Voltando ao foco: ‘A internet não é uma terra sem lei’. Esta frase não é do meu amigo-filósofo, mas da advogada paulista Patrícia Peck, autoridade sobre o uso da rede, entrevistada pela IstoÉ desta semana. ‘Quem se relaciona virtualmente responde por seus atos com base na Constituição Federal e nos Códigos Civil e Penal. O que falta é um código específico para nortear o uso da internet’.
A especialista diz que atualmente há cinqüenta projetos de lei no Congresso para coibir uma série de crimes praticados na web. Sobre a responsabilidade dos pais, ela alerta, na entrevista a Julio Wiziack: ‘Eles se esquecem que podem responder por crimes cometidos por seus filhos. É o que diz a lei em relação aos menores de 18 anos. Os jovens precisam ouvir de seus pais que não dá para escrever tudo o que pensam em blogs, e-mails ou comunidades virtuais porque responderão por suas idéias caso alguém se sinta ofendido por elas. Emoções que antes eram manifestadas verbalmente hoje ficam registradas na internet. Existem casos de demissões por justa causa devido a manifestações desapropriadas em páginas do Orkut e o mau uso de e-mails corporativos’.
Ainda sobre o Orkut: é natural que a Google hesite em abrir o sigilo dos freqüentadores do site. Romper o compromisso com a privacidade pode ser letal no mundo dos negócios. Mas é preciso considerar: pior mesmo é ficar com fama de abrigar um ponto de encontro de quadrilha. Seria esconderijo, se não fosse público.
(*) Jornalista, escritor, ator, é autor de quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).”
TELEVISÃO
Antonio Brasil
Crítica ao jornalismo ameaça a democracia, 4/09/06
“O jornalismo se confunde com a democracia. Não é possível haver uma democracia verdadeira sem um jornalismo livre, competente e, principalmente, independente. Hoje, o jornalismo após cometer grandes erros enfrenta uma crise sem precedentes. Nunca foi tão criticado e a sociedade parece prescindir do jornalismo.
Mas como deve ser uma observação crítica do jornalismo? Como evitar que uma crítica cada vez mais contundente e intransigente ao jornalismo venha a comprometer os princípios da democracia? Como a filosofia e a história podem nos ajudar a resgatar os valores do jornalismo? Afinal, como seria um ‘jornalismo ideal’? .
Estas são algumas das questões propostas pela jornalista e professora francesa Geraldine Muhlmann em seu livro Du Journalisme en Democratie (Do Jornalismo na Democracia) editado pela Payot em 2004.(ver aqui http://www.payot-rivages.fr/asp/fiche.asp?id=5364)
Filosofia do jornalismo
Já citei outra livro da Profa. Muhlmann aqui neste espaço (ver artigo Por uma história política do jornalismo brasileiro publicado no C-se em 25/02/2005). Mas, infelizmente, apesar da importância e relevância, seus livros continuam inéditos no Brasil. Mas vale a pena conferir as investigações ‘apaixonadas’ da professora francesa em defesa do jornalismo.
Segundo o Professor Edgard Rebouças, ‘Trata-se de um viés mais filosófico sobre nossa profissão naquilo que ela chama de ideal-crítico, enfim, como criticar o jornalismo se mantendo fiel à democracia’. Eu não poderia descrever melhor.
Em seu livro, a autora mostra que a posição do jornalista na democracia é determinante. Seu trabalho permite estabelecer uma união em torno da comunidade política em defesa do conflito de idéias e contra um consenso imposto ou aceito pela sociedade a qualquer custo.
E quais seriam os ideais críticos que podem justificar as denúncias contra o jornalismo?
Antes, seria necessário destacar as principais críticas que existem hoje contra os jornalistas e distinguir entre um jornalismo ideal e o jornalismo real. A crítica ao jornalismo nem sempre percebe essa diferença.
Por um lado, as críticas estariam concentradas no conceito de ‘jornalistas a serviço dos poderosos’, os jornalistas perversos diante de um público inocente. Do outro, as críticas estruturais contra os meios de comunicação que estariam subjugado à vontade perversa de seus proprietários ou controladores com o apoio de ‘jornalistas lacaios’. Nesse modelo, há a descrição de um sistema de dominação e cumplicidade entre os donos do poder e seus agentes, os jornalistas.
Crítica aos críticos
Geraldine Muhlman também aponta uma crítica predominante contra os jornalistas enquanto ‘manipuladores manipulados pelos seus próprios sistemas de manipulação’. Como quase tudo em filosofia, parece confuso, mas é simples. São os jornalistas que passam a acreditar nas suas próprias verdades, mesmo aquelas que não são passíveis de comprovação e que são vítimas de suas próprias rotinas profissionais. Querem um exemplo? O tal ‘faro jornalístico’ que norteia os responsáveis pelas pautas jornalísticas. Tudo se justifica pela ‘crença’ de que o jornalismo é assim mesmo. Dessa forma, os jornalistas se tornam vítimas de suas próprias armadilhas profissionais.
Essa descrição crítica do jornalismo foi apresentada anteriormente de forma pessimista e quase trágica pelo sociólogo francês Pierre Bourdieu. Ele também advertia contra as expectativas exageradas da sociedade em relação ao jornalismo e ao próprio ‘espaço público’ democrático. Assim como na política, há uma grande diferença entre as promessas e a realidade do jornalismo. Esse seria um exemplo da tal diferença entre o jornalismo ideal e o jornalismo real.
Em seu livro, a Profa. Muhlmann também descreve e defende três ideais filosóficos do perfil profissional dos jornalistas em uma democracia:
Primeiro, o jornalismo flanador (flaneur), um personagem solitário que passeia fascinado pelos objetos da grande cidade (mas esquivo ao espírito capitalista). Esse conceito de jornalista é baseado nas análises de Walter Benjamin. Em essência, o jornalista seria um filósofo do cotidiano e a sua curiosidade seria um ‘vício’.
Segundo, o modelo de ‘jornalista lutador’, descrito por Karl Marx. Ele conhecia bem o poder e os limites da profissão. Apesar de seus intensos estudos econômicos e filosóficos, nunca deixou de ser jornalista. Durante muitos anos, foi correspondente em Londres do jornal americano Herald Tribune. Um exemplo de pragmatismo entre a luta ideológica e a própria sobrevivência. Já naquela época ele defendia a liberdade de expressão no jornalismo e criticava a tendência dos filósofos à solidão. Segundo Marx, os intelectuais deviam se expor à crítica e entrar nos jornais. E em relação à censura, ele diria que é um ‘preservativo contra a verdade’. Nesse modelo conceitual, o jornalista-herói deveria lutar sempre em busca da verdade.
E por ultimo, Geraldine Muhlmann descreve um jornalista mais ‘explorador’, mais dedicado à investigação, aquele que, por sinal, tem a sua preferência. O jornalista que não se limita a nos mostrar o mundo. Mas que amplia a nossa visão desse mundo. O jornalista que apesar de denunciar os constantes conflitos da sociedade também procura manter e valorizar os laços políticos essenciais que nos mantém unidos em torno da democracia. O jornalista que ‘descentraliza’ a sua visão para poder perceber melhor outros pontos de vista.
Reação dos observadores
O livro de Geraldine Muhlmann também recorre às investigações filosóficas para criticar o monitoramento da mídia e do jornalismo da forma como ele é feito hoje.
Em seu livro, a professora francesa faz um alerta contra as críticas consideradas apressadas e superficiais dos observadores de mídia. ‘As críticas ao jornalismo podem significar uma ameaça à democracia’, afirma a autora. O trabalho deles – apesar de importante e relevante – poderia estar sendo utilizado pelos inimigos da democracia para desacreditar não só o jornalismo como a própria democracia.
Por outro lado, essa crítica aos críticos foi recebida com uma certa inquietude pelos observadores de mídia franceses.
Primeiro, a Profa. Muhlmann foi acusada de ‘querer aparecer na mídia’. Jovem, atraente e boa comunicadora, ela é o que Pierre Bourdieu chamava de ‘intelectual midiática’. Está sempre na televisão falando sobre quase tudo. Mas para os observadores de mídia franceses, seu verdadeiro objetivo seria fazer uma defesa intransigente de um jornalismo ‘comme il faut’, como deveria ser, mas não é. Um jornalismo que comete erros e que não aceita críticas. (ver aqui http://www.acrimed.org )
A defesa do direito à crítica pelos observadores franceses prossegue ainda mais contundente. Segundo seus opositores, em seu livro Du Journalime en Democratie, Geraldine Muhlmann, em verdade, estaria fazendo acusações contra aqueles que criticam o poder das mídias e, principalmente, o poder do jornalismo.
E por que fazer uma observação crítica do jornalismo e das mídias? ‘Para nos informar e para nos obrigar a pensar sobre as verdadeiras intenções da mídia’, dizem os observadores franceses. ‘A mídia não é intocável ou incriticável. Esses ataques recorrentes contra os observadores de mídia visam a impedir as críticas ao jornalismo’.
‘Não devemos permitir que essa observação da mídia deixe de ser feita’, acrescentam. Eles defendem uma crítica radical, intransigente, mas justa. Para isso, também anunciam uma resposta a altura das acusações da Profa. Muhlmann. Os observadores de mídia franceses criaram um Petit Manuel de L’Observateur Critique des Médias, (ver aqui: http://www.acrimed.org/article.php3?id_article=1446).
Os organizadores do manual afirmam que a observação crítica da mídia se tornou um produto midiático como outro qualquer. Esse monitoramento se tornou um assunto demasiadamente sério e importante para ser limitado aos jornalistas e aos próprios observadores de mídia. A observação crítica da mídia, assim como a observação da democracia pertence a toda a sociedade. Pelo jeito, a guerra pelo direito de criticar a mídia só está começando.
Se você quiser ler um exemplo do trabalho da Profa Geraldine Muhlmann sobre Marx, o jornalista e o espaço público em português e ouvir a íntegra da sua conferencia realizada na teatro Maison de France em 2005 em francês, clique aqui
http://www.cultura.gov.br/foruns_de_cultura/cultura_e_pensamento/conferencias/index.php?p=10504&mo re=1&c=1&pb=1 . Vale a pena conferir.
Apesar das críticas às críticas, eu arrisco a dizer que esse foi um dos melhores livros que já li sobre jornalismo. Não se trata de uma leitura fácil. A Profa. Mulhmann escreve muito bem. Mas o livro é uma avalanche de citações de leituras filosóficas que precisam ser bem pesquisadas para facilitar a compreensão das propostas. O livro é um verdadeiro mapa do tesouro com muitas indicações de novos caminhos para um questionamento filosófico do jornalismo. É difícil, mas é leitura indispensável.
(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.”
JORNALISMO & HISTÓRIA
Carlos Chagas
Mensagem aos jovens jornalistas, 6/09/06
“Fonte: Mato Grosso On-line – Discurso de paraninfo da turma de formandos do primeiro semestre de 2006 da Universidade de Brasília, proferido a 29 de agosto de 2006:
‘Saudações. É com um misto de tristeza, nostalgia e também de felicidade que volto a esta casa que por 25 anos foi a minha casa. E continua sendo. Tristeza por não fazer mais parte do corpo de seus professores, aposentado que estou. Nostalgia por ter vivido, aqui, os anos mais fecundos de minha vida, onde pude dividir com vocês certezas e dúvidas. Felicidade, por ser a Universidade de Brasília o refúgio permanente de quantos, mesmo afastados como eu, para aqui acorrem recompensados pela gratidão de quantos não nos esqueceram.
Existem momentos na vida em que o tempo parece interromper-se. O que era, deixou de ser. O que vai ser, ainda não é. As formaturas exprimem esses momentos. O passado terminou e o futuro ainda não começou, para vocês formandos. O presente, por isso, adquire as características do eterno.
Ao entrar neste auditório, vocês deixaram de ser universitários. Quando saírem, diplomados, serão profissionais: jornalistas, publicitários, cineastas, radialistas, enfim, comunicadores. Enquanto aqui estivermos, nesta noite, vocês já deixaram de ser e ainda não são.
Aproveitemos então este momento raro para, pela última vez, praticarmos em conjunto aquilo que, reunidos, praticamos enquanto nas salas de aula. Vamos continuar questionando.
Vamos cultivar a dúvida. Vamos erodir as teorias. Vamos contestar os mitos. Vamos descrer dos modelos. Vamos desfazer verdades absolutas. Esta é a proposta maior da comunicação social: opor os fatos aos mitos. Suplantar as ilusões com a realidade, mas sem deixar nunca de sonhar. Constituem, os sonhos, os fatos e a realidade, o Deus que devemos adorar. Assim como as verdades absolutas, os modelos, as teorias e os mitos, o demônio que precisamos exorcizar. Uma referência, apenas, à universidade.
Ao contrário do que muitos pretendem e apregoam, a universidade não é uma simples matriz produtora de mão-de-obra qualificada para a sociedade. Jamais ela será reduzida ao papel de um forno produtor de pão para o banquete das elites. É claro que vocês se prepararam para trabalhar nos jornais, revistas, rádios, televisões, blogs, agências de notícias on-line, agências de publicidade, assessorias de empresas públicas e privadas e instituições dos poderes da nação. No entanto, muito mais preparados devem estar e estão para questionar a comunicação social. Prontos para renovar, reformar e, se necessário, revolucionar os meios de comunicação.
Porque uma universidade não é uma instituição destinada a servir aos detentores do poder, seja esse poder político, econômico, sindical, esportivo, artístico, cultural ou qualquer outro. Uma universidade existe para contestar o mundo à sua volta.
Já me alongo. Chegou a hora de dizer adeus. Digo ter de vocês uma profunda inveja. Porque vocês enfrentarão desafios e realizarão mudanças muito mais profundas do que as que tentei realizar e enfrentar.
Deixo-lhes apenas algumas exortações: rebelem-se contra o preconceito dos que pretendem resumir a vida a um sistema; insurjam-se diante de doutrinas, ideologias ou modelos que se apregoam dispor de resposta para todas as perguntas; empurrem para o fundo da estante os livros que se imaginam repositórios de toda verdade, todo conhecimento e toda sabedoria.
Sacudam a poeira da intolerância dos que apresentam o ser humano como simples conjunto químico dotado de inteligência. Mas releguem ao lixo da história a concepção oposta, de que precisamos nos conformar com a injustiça, a fome, a miséria, o desemprego e o sofrimento, nesta vida, para recebermos a compensação numa incerta vida futura.
Levantem-se contra a teoria das ditaduras, tanto quanto contra a ditadura das teorias. Cultivem o senso grave da ordem e o anseio irresistível da liberdade. Creiam, acima de tudo, no poder da razão, porque da razão nasce a liberdade, da liberdade nasce a justiça, da justiça nasce o bem-comum, e do bem-comum nasce o amor. O amor, a derradeira oferta do indivíduo à sociedade. E de um professor aos seus alunos. Adeus’.”
******************
Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.