Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Comunique-se

MEMÓRIA / OCTAVIO FRIAS DE OLIVEIRA
Comunique-se

Morre Octavio Frias de Oliveira, 29/04/07

‘O empresário Octavio Frias de Oliveira, publisher do Grupo Folha, morreu em São Paulo na tarde de domingo (29/04) devido a uma insuficiência renal grave. Frias tinha 94 anos e estava com a saúde debilitada desde novembro do ano passado, após uma queda em sua casa, que o levou a ser submetido a uma cirurgia para retirada de um coágulo no cérebro. Ele passou os últimos dois dias inconsciente.

Frias adquiriu a Folha da Manhã em 1962, em sociedade com o empresário Carlos Caldeira Filho, e o rebatizou para Folha de S. Paulo. Foi um dos principais responsáveis por sanear as contas da empresa e transformar o jornal em um dos mais influentes e com a maior circulação do País.

Carioca criado na Vila Operária (SP), onde seu pai for prefeito, Frias foi diretor de contabilidade da Secretaria de Estado da Fazenda e fundador do Banco Nacional Imobiliário, que teve papel importante na construção dos arranha-céus da cidade. Os primeiros projetos de Oscar Niemeyer em São Paulo foram feitos sob sua encomenda.

O corpo de Octavio Frias de Oliveira será velado nesta segunda-feira (30/04) no cemitério Gethsêmani, à Praça da Ressurreição, 1, Jardim Colombo, São Paulo, a partir das 9h. Seu enterro será às 12h, no mesmo local.

A cobertura completa da morte de Octavio Frias de Oliveira será publicada nesta segunda-feira no Comunique-se.’

JABOR vs. LEGISLATIVO
Comunique-se

Câmara pode processar Arnaldo Jabor, 27/04/07

‘Arlindo Chinaglia, deputado do PT e presidente da Câmara dos Deputados, avalia se a instituição deve processar Arnaldo Jabor por comentários proferidos por ele na rádio CBN. Em sua coluna de 24/04, Jabor atacou o gasto de gasolina dos parlamentares, que, informa, apenas nos meses de fevereiro e março seriam suficientes para comprar um milhão de litros de gasolina, o suficiente para dar 255 voltas na Terra ou fazer 15 vezes a viagem de ida e volta à Lua.

Jabor utiliza os dados, colhidos numa reportagem de Estado de S. Paulo, para atacar com ironia os gastos dos deputados federais, apontando que o ressarcimento supervalorizado da verba de combustíveis é uma forma secreta de se dar aumento de salário. Disse que os deputados são canalhas e questionou se ‘Arlindo Chinaglia não vê isso [o gasto excessivo] ou continua pensando apenas no bem do PT’.

O deputado considerou as afirmações desrespeitosas e antidemocráticas, no sentido que atacam a instituição Congresso Nacional de forma generalizada e injusta. Num primeiro momento afirmou que deveria processar Jabor, mas reavaliou a posição e disse que se o comentarista voltar atrás e esclarecer melhor suas posições eles não devem ter problemas.

Chinaglia ainda usou o fato para defender a implantação de uma consultoria jurídica para a Câmara, nos moldes da Advocacia Geral da União, um dos ítens da pauta do Congresso. A consultoria seria útil para defender deputados em casos análogos, argumentou.

O Comunique-se questionou o deputado por correio eletrônico sobre o caso e, até o fechamento desta matéria, não foi respondido. Arnaldo Jabor também não foi encontrado.’

TRIBUNA DE ALAGOAS
Tiago Cordeiro

Após ocupação, profissionais da Tribuna de Alagoas criam novo jornal, 27/04/07

‘As frases ‘jornalistas do mundo todo uni-vos’ e ‘se a moda pega’ nunca foram tão apropriadas ao mesmo tempo. Após a paralisação e ocupação da redação em protesto contra cinco meses de salários atrasados, os jornalistas da Tribuna de Alagoas passaram a produzir o jornal Tribuna Independente com as máquinas e o material do antigo veículo pertencente à família Farias (o veículo foi comprado por Paulo César Farias, ex-secretário do presidente Fernando Collor de Mello) e arrendado por um grupo empresarial do ex-governador Ronaldo Lessa.

‘Estamos em duas linhas de frente. Uma é a recuperação dos créditos trabalhistas juntos à Editora Tribuna de Notícia [empresa do grupo de Lessa] e a outra é a criação de uma cooperativa formada pelo grupo de trabalhadores’, declarou Valdi Junior, jornalista da Tribuna e diretor financeiro do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas. Os funcionários decidiram passar a publicar o jornal após o fracasso nas negociações com O Jornal que estava interessado em imprimir suas edições na gráfica da antiga Tribuna.

‘Fracassou porque eles exigiram R$ 1 milhão adiantado’, declarou Valdi. De acordo com o Sindicato, os diretores comunicaram que não reabririam o jornal, não dariam baixa nas carteiras dos trabalhadores e nem se pagariam seus direitos.

Protesto

Além da nova publicação, os funcionários do jornal também irão enviar uma carta-denúncia ao governo, a autoridades federais e a partidos para cobrar providências contra os arrendatários do jornal. Curiosamente, Ronaldo Lessa foi indicado para o cargo de secretário executivo do Ministério do Trabalho. A indicação é criticada no texto.

‘A empresa simplesmente disse que não abriria mais e nos disse para procurar a justiça. Ela simplesmente abandonou seus trabalhadores’, explica Carlos Roberto, presidente do sindicato. De acordo com ele, a idéia é publicar a próxima edição do jornal em maio e, a partir daí, publicar regularmente todas as impressões. O movimento conta com o apoio da Central Única de Trabalhadores (CUT) e entidades sindicais.

Segundo Carlos Roberto, os principais desafios dos novos gestores é preparar a manutenção de equipamentos e o custo dos funcionários. A Tribuna de Alagoas foi fundada, através da empresa Gráfica Tribuna de Alagoas, por PC Farias, que morreu antes de pagar o financiamento do jornal para o Banco Nordeste. Desde então, sua família arrenda o jornal para grupos empresariais. O último foi de Lessa e do empresário Robert Lyra.

Direito

Apesar da situação de trabalhadores se tornarem donos de uma empresa por atraso nos salários parecer inusitada, de acordo com o advogado trabalhista Haroldo Del Rey Almendro, ela é possível. ‘Existe uma empresa de tubos aqui de São Paulo que foi assumida por seus funcionários’.

Mesmo assim, o advogado lembra que é preciso respeitar certos protocolos. ‘Primeiro o dono teria que concordar com essa negociação. Eles poderiam até pedir os ativos deles através de material do jornal, mas não é assim que se toca o barco. Vivemos em um estado de direito. Hoje esse equipamento pertence ao seu empregador e não a eles’, explica Almendro, que reitera que assim como o dono dos equipamentos não pode ser lesado, os funcionários também não podem ficar sem receber.

Procurado pela reportagem do Comunique-se, Ronaldo Lessa não atendeu nossos telefonemas.’

AGÊNCIA CARTA MAIOR
Comunique-se

Carta Maior comemora anunciante e mantém esperanças de vencer a crise, 27/04/07

‘A direção da Agência Carta Maior está comemorando os primeiros resultados da visibilidade que o anunciante Gol Linhas Aéreas trouxe para o veículo. Segundo o diretor-presidente da agência, Joaquim Palhares, das 14h desta quinta-feira até o final da noite, 39 mil pessoas visitaram a página. O banner da Gol teve mais de 3.200 cliques. Se a empresa conseguir mais dois ou três anunciantes como a companhia aérea, Palhares acredita que poderá resolver todos os problemas que hoje a Carta Maior enfrenta.

‘O patrocínio trouxe mais do que recursos e sim a grande possibilidade para a abertura para o mercado privado. Pela crise, ela representa uma ajuda significativa, mas está longe de ser a solução. Estou trabalhando e rápido para poder recompor o quadro. Porque uma empresa do porte da Carta Maior tem um custo importante e que precisa ser pago, atendido’, observou Palhares.

O diretor afirmou que o pagamento dos funcionários e outras despesas está regularizado. ‘A Carta Maior não é uma empresa de lucro, eu não preciso disso. É uma empresa que precisa do suficiente para poder pagar suas contas e avançar’.

Críticas

Algumas críticas chegaram à redação pelo fato de a agência receber recursos do setor privado. ‘É muito autoritarismo, fascismo, isso não é nada democrático. Vão cobrar da Globo que leva grande parte da verba publicitária do governo. Ninguém cobra nada deles’, alfineta.

Parcialidade sim

A Carta Maior continua mantendo sua posição de esquerda, na defesa da reforma agrária, do meio ambiente e da educação no País. E Palhares defende a parcialidade, desde que os veículos assumam o apoio a um determinado partido e/ou candidato – no caso de eleições. ‘Eu não sou filiado ao PT. Não ligo para partido. Eu sou de esquerda. Em todas as eleições sempre vamos dizer de que lado nós estamos’.

Palhares não acredita na imparcialidade da imprensa. ‘Todo mundo tem um lado. Um juiz quando vai decidir tem lado. Temos os nossos princípios e quem for contra eles, seja governo ou setor privado, vai levar pau. Seja anunciante ou não’.’

TV RECORD
Comunique-se

Policial federal prende equipe da Record, 27/04/07

‘Uma equipe da TV Record foi presa por um agente da Polícia Federal sob a acusação de desacato à autoridade na terça-feira (24/04), em Belém. A repórter Célia Pinho, o cinegrafista Edílson Matos e o motorista Marcelo Silva estavam em frente a um colégio assaltado no dia anterior, onde um dos assaltantes foi morto, quando o policial federal Alessandro Oliveira quebrou parte do equipamento e deu voz de prisão. Foi ele quem atirou no bandido.

‘Em 20 anos de profissão, é a primeira vez que isso acontece comigo. É uma humilhação qualquer profissional sofrer uma arbitrariedade como essa’, exclama Célia. A repórter conta que estava no local colhendo depoimentos sobre a insegurança no bairro quando o policial – que tem um filho matriculado no colégio – algemou e prensou o cinegrafista contra a parede, e danificou a câmera tentando pegar a fita.

‘Naquele momento, ele não tinha nenhuma autoridade. Não houve nenhum tipo de desacato, e ele só foi se identificar como policial quando já estávamos na delegacia’, relata Célia.

Os profissionais foram levados à delegacia, onde ficaram incomunicáveis. Segundo a Record, uma outra equipe foi impedida de filmar no local. Célia, Edílson e Marcelo foram liberados depois de seis horas. Eles fizeram exame de corpo de delito e registraram um boletim de ocorrência.

O Sindicato dos Jornalistas do Pará e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiaram a ação do policial. A Divisão de Comunicação Social da PF em Belém informou que enviará ainda nesta sexta-feira uma nota sobre o caso.’

INTERNET
Bruno Rodrigues

(Ainda sobre) Todos podem escrever, 26/04/07

‘Mexer com a formação do profissional de Comunicação Social é meter a mão em um vespeiro. Se o caso é o diploma de Jornalismo, então, é como atear fogo ao vespeiro e ainda sair com queimadura de terceiro grau. Já vi muita gente que eu considerava calma e ponderada quase babar de ódio com a simples menção do assunto.

Como jornalistas, publicitários, relações públicas, sabemos que é preciso entender do riscado para trabalhar na área. Tenho 40 anos, quase 20 de profissão, e se nesse tempo já ficou claro para mim que não é qualquer um que pode executar bem um trabalho na área de Comunicação, imagine para quem tem 50 anos de estrada… Não é fácil nem rápido atuar na área. É seleção natural, e a grande maioria sabe disso. Em resumo, pelo menos para mim, a vivência já responde a questão.

Ou seja, não vou me estender, porque este aspecto da discussão é tão bobo e óbvio que não vejo razão para gastar o teclado. Talvez, um dia, em uma mesa de chope, se faltar assunto.

Como trabalho com internet, ficou mais fácil enxergar o que realmente vale a pena investigar. Na mídia digital – como eu descrevi na coluna anterior -, muito do que vale para TV, rádio, revista e jornal não se encaixa. Quem escreve para um site de uma empresa, lidando com material institucional, precisa ser jornalista? Então ser jornalista é… escrever? Mesmo? A atividade se diluiu tanto ao longo dos anos que terminou como escrita?

Há algumas colunas disse que escrever não é dom divino. As reações foram pesadas. Pelo menos dois leitores reagiram indignados, e afirmaram que, sim, escrita não é para todos, é vocação, é inspiração, é mexer com as entranhas, é sofrer, é…

(Peraí… Mas isso não é Literatura?)

Quem tem tempo para pensar em inspiração, quando o fechamento do jornal se aproxima perigosamente, e até mesmo na web, quando há vários textos para um hotsite que precisam ser entregues no dia seguinte? Há espaço para tanto ‘subjetivo’?

Em 2000, participou de um de meus cursos uma simpática profissional do Sindicato dos Jornalistas do Rio. Já na época, a questão do diploma na web veio à tona. Com toda a calma de quem observa as mudanças sem medo, ela foi clara:

– Jornalismo é apuração, não é redação, gente…

Isso! Então chegamos à questão que vale a pena perder tempo, gastar teclado e varar a madrugada tagarelando em uma mesa de chope.

Apuração é talento. Mas um talento que se aprende. Ou deveria, se as faculdades de Jornalismo centrassem seus esforços nesta direção.

Não coloquem a culpa nas universidades e nos professores, apenas. Levante a mão quem não quis ser jornalista porque escrevia bem? O ruído começa do início.

(Intervalo: não preciso dizer aqui que é óbvio que o texto do redator precisa ser bom, preciso? Então está dito).

Não dá para argumentar pela escrita. Argumente pela apuração. Ela é a alma do jornalismo, seja na web ou na mídia impressa, no rádio ou na TV. A apuração é digna, ela se aprende, se desenvolve. É ela que coloca a atividade jornalística no patamar de uma Medicina, de uma Engenharia.

A sociedade não se move sem a apuração – ou andaria às cegas, sem ela. Batalhemos por Faculdades de Apuração, então!

* A redação foi o meio que a apuração encontrou para a notícia chegar ao leitor *. E só. O resto diz respeito a ego, nossa maior armadilha…

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No dia 8 de maio inicio mais uma edição de meu curso Webwriting & Arquitetura da Informação – a de número 53 – no Rio de Janeiro, na Faculdade Hélio Alonso, em Botafogo.

Serão cinco terças-feiras seguidas, sempre à noite. Para mais informações, é só ligar para 2102-3200 (Cursos de Extensão) ou enviar um e-mail para extensao@facha.edu.br.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

REGULAMENTAÇÃO vs. CENSURA
Milton Coelho da Graça

Sem hipocrisia. De qualquer lado, 27/04/07

‘Em países com tradição democrática mais longa e enraizada, nenhum profissional da cultura confundiria ‘defesa da liberdade de expressão’ com ‘defesa da liberação geral da sacanagem na televisão com o objetivo de aumentar os níveis de audiência’.

Mas isso infelizmente está acontecendo com a nossa jovem, incompleta e várias vezes interrompida democracia, e também infelizmente por pessoas que merecem todo o nosso respeito em suas áreas de atuação. Mas que metem literalmente o pé na jaca, quando tratam a esperteza das emissoras de TV aberta em busca de maior audiência como se fosse uma justa batalha contra a censura.

A sociedade está pagando por vários erros: primeiro, o de aceitar a auto-regulamentação imposta pela pressão das emissoras sobre o poder político, algo semelhante a permitir que os fabricantes de remédios controlem a vigilância sanitária; segundo, o de ficar calada quando Executivo e Legislativo engavetaram vergonhosamente a decisão constitucional de criar um Conselho de Comunicação Social, destinado a copiar, pelo menos parcialmente, o papel que a FCC e a OFCOM cumprem nos Estados Unidos e no Reino Unido, respectivamente.

A OFCOM é uma agência moderna, criada em 2003 para unificar e substituir cinco atos regulatórios anteriores. Sugiro que Cristiane Torloni e Ricardo Waddington leiam as normas (Broadcasting Standards) estabelecidas pelo OFCOM e verifiquem se elas têm algum fedor de censura ou são apenas simples regras de comportamento para emissoras preocupadas com o efeito social de seus programas e não apenas com seus faturamentos. Domingos de Oliveira e Roberto Farias, grandes cineastas, deveriam pensar se a proibição de determinados filmes para menores de 14 anos, por exemplo, é mera recomendação para os pais ou mandatória por interesse da sociedade.

A OFCOM não faz censura prévia. Mas recebe queixas apresentadas pelos telespectadores em relação a falta de exatidão ou imparcialidade nos noticiários, qualquer tipo de manifestação de racismo ou preconceito, violação de privacidade. E também exageros eróticos em novelas e outros programas apresentados em horários inadequados.

Por favor não venham com o argumento ridículo de que compete aos pais determinar o que os menores devem ver. Nenhum dos profissionais da cultura que deitaram falação pela imprensa sobre o assunto está em casa na hora em que seus filhos ou netos ligam a TV.

Amigos artistas, vamos também parar com essa conversa de que o Estado não deve se meter na questão de decidir o que as crianças devem ver na TV. Também acho isso, mas também acho que a sociedade tem o direito de DETERMINAR – queiram ou não o Estado e as emissoras – quem deve ter concessões de TV e rádio e também a liberdade e os limites que essas concessões devem embutir.

Isso seria verdadeira democracia, sem hipocrisia de nenhum lado – nem do governo, nem das emissoras, nem dos artistas.

(*) Milton Coelho da Graça, 76, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

JORNALISMO ESPORTIVO
Marcelo Russio

Imprensa esportiva morde tudo que vem pela frente, 24/04/07

‘Olá, amigos. Não é novidade nenhuma que o técnico Abel Braga está de malas prontas para deixar o Internacional, time pelo qual foi campeão dos dois títulos mais importantes que um clube pode ganhar, sendo eles da América do Sul: Libertadores e Mundial de Clubes. Mas, ouvindo a entrevista do meia Juninho Pernambucano ao ‘Redação SporTV’ da última segunda-feira, me dei conta de que temos aqui no Brasil uma inversão total de valores. O técnico que ganha os títulos mais importantes está à beira de sair do clube por não chegar à final do menos importante, que é o Estadual.

OK, muitos vão dizer que ele perdeu a Libertadores e que o time, sob seu comando, foi o primeiro da história a ser campeão em um ano e cair na primeira fase no ano seguinte. Beleza, discussão válida, papo de boteco, que certamente renderá vários porres e vários debates inflamados.

Mas aí é que entra a imprensa. Nós, profissionais da notícia, sempre dizemos que os clubes estão errados em demitir a torto e a direito, como vem fazendo o Fluminense, que já soma dois técnicos em quatro meses no ano. Mas, na hora em que a notícia que mais vale é a da demissão de um técnico, seja ela procedente ou não, agimos como chacais diante de uma possibilidade de caça. Vamos para cima com tudo, sem dó nem piedade, mordendo tudo o que está à nossa frente.

Só nestes últimos três dias, li que pelo menos cinco técnicos estariam ‘acertados’ com o Internacional: Tite, Geninho, Gallo, Renato Gaúcho e Joel Santana. Alguma coisa está errada. Não podemos noticiar que cinco técnicos estão acertados com um clube que nem demitiu o seu ainda, sem que isso pareça ‘chutonalismo’ ou ‘jornachutismo’. É aquela velha prática de atirarmos em todo mundo para, se um realmente substituir o Abel no Colocrado, vir aquela célebre frase no lead: ‘Conforme o XX antecipou no dia tal…’.

Ratifico: ficamos parecendo chacais, mordendo tudo que vem pela frente. Só que, como vi em um belo documentário na TV a cabo, os chacais, quando voam para cima de suas presas, acabam saindo machucados da caça. Motivo: são tão ávidos, que mordem suas próprias patas e a dos próprios companheiros de grupo.

Fica a lição.

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Assistindo ao ‘Linha de passe – Mesa Redonda’ da ESPN Brasil, vi que o Juca Kfouri recomendou a leitura da crônica do poeta Affonso Romando de Sant’anna a respeito dos 999 gols de Romário. Dizia ele que os mestres da música clássica jamais chegaram à décima sinfonia, deixando no imaginário dos apreciadores a dúvida de como ela seria, se suplantaria as nove anteriores.

É um ponto interessantíssimo, que gera muita discussão e debate. Mas, cá para nós, no esporte, o que vale são os mil gols mesmo. Se Pelé tivesse parado nos 999, não haveria um momento essencial na história do esporte, que foi o do gol 1000, que se tornou uma meta quase inalcançável. Como os 100 pontos de Chamberlain em um jogo da NBA, ou os 1000 home runs no beisebol profissional dos EUA – ainda não atingidos.

O esporte é uma arte, acho, de superação, pois existe um item importante: a competição. Na música ou na arte, não há vencedores. Mozart não é melhor nem pior que Beethoven ou que Strauss. São gênios únicos. No esporte, a necessidade de vencer coloca em questão o ingrediente da competitividade, que acaba fazendo com que o gol 1000 seja, sim, mais importante do que parar nos 999.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’

SBT NO IRÃ
Eduardo Ribeiro

Impressões de Marcelo Torres, do SBT, sobre o Irã, 25/04/07

‘O SBT Brasil, telejornal noturno comandado por Carlos Nascimento e Cynthia Benini, está transmitindo esta semana uma série de reportagens especiais sobre o Irã. O fato chama a atenção porque são poucos os jornalistas ocidentais autorizados a fazer reportagens no país. A série, feita em nove dias pelo correspondente do telejornal em Londres, Marcelo Torres, aborda diversos aspectos da vida no Irã, desde o dia-a-dia da população até a explosiva questão nuclear. Em depoimento ao editor-executivo deste Jornalistas&Cia, Wilson Baroncelli, ele relata algumas das coisas que mais o impressionaram ao percorrer o país dos aitolás. Fala do calor humano do povo iraniano, das pequenas transgressões sociais praticadas, sobretudo pelos mais jovens, do culto à personalidade, entre outros assuntos.

Hospitalidade – ‘O que mais chamou a minha atenção foi a hospitalidade do povo. Todos, de velhinhos a crianças, abrem um sorriso ao ver um estrangeiro. E não é de maneira interesseira. São simpáticos de graça. Ficam extremamente felizes se você diz uma palavra em farsi e fazem questão de mostrar o orgulho que têm da cultura iraniana’.

Programa nuclear – ‘Sobre o programa nuclear, é notório que a grande maioria da população é a favor. Obviamente, a propaganda do governo é intensa e questões como a dificuldade de se lidar com o lixo nuclear não aparece na mídia. Mas o povo de lá acha que, se o Paquistão e a Índia podem ter um programa nuclear, eles também podem. Em off, falei com inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica em Viena. A impressão que se tem é que o Ocidente não quer nem mesmo que o Irã tenha um programa para gerar energia, já que o país ainda está muito, mas muito longe de dominar a tecnologia para enriquecer o urânio a mais de 90%, o que permitiria fabricar armas atômicas’.

Pequenas transgressões – ‘Na sociedade iraniana percebe-se um universo meio nelsonrodriguiano, principalmente entre a classe média. Nas ruas, as mulheres usam as roupas islâmicas, mantêm as aparências, mas na vida privada tudo acontece. Muita gente tem álcool contrabandeado em casa e outros tantos fabricam seus próprios vinhos. Nas montanhas ao redor de Teerã, onde jovens fazem caminhadas durante o fim-de-semana, quase todas as mulheres andam sem o véu, já que não há policiais para puni-las’.

Lembranças dos anos de chumbo – ‘Em muitos momentos, senti como se estivesse no Brasil dos anos 70 (nasci em 75, mas li muito a respeito), com toda aquela patrulha ideológica, palavras como ‘subversivo’ na moda e muita rebeldia explodindo a cada momento (a maioria das mulheres do norte de Teerã faz questão de mostrar pelo menos uma parte do cabelo para revelar o penteado ou a tintura nova). Também há um ar parecido ao que eu imagino que tenha sido a União Soviética durante o comunismo ou aquela imagem da sociedade totalitária do livro 1984. Em cada esquina há um painel com o rosto dos aiatolás Khomeini e Khamenei. Eles são como os ‘grandes irmãos’. Há também aquela histeria por controlar informações e jornalistas. Só no primeiro dia de trabalho, fui parado oito vezes por policiais e agentes. Isso porque eu estava com toda a documentação em dia, além de andar acompanhado de uma tradutora contratada via uma agência oficial do governo. Reclamei disso com um alto diplomata que me deu uma entrevista e ele respondeu que às vezes muitos funcionários de baixo escalão querem mostrar autoridade e acabam sendo rigorosos demais’.

O impacto das culturas – ‘Durante nove dias, vivi no Irã quase como um santo, sem ver mulheres descobertas nas ruas, sem ver ninguém de short ou de chinelos, sem tomar vinho no jantar. Quando voltei a Londres, foi até engraçado ver pessoas tão livres. Eu já havia me acostumado um pouco às restrições do Irã. Se comigo foi assim, imagine o que se passa na cabeça de quem nunca saiu de lá. Dá pra entender como, mesmo descontente, boa parte da população não tem energia para brigar por mudanças de uma maneira mais contundente’.’

JORNALISMO POLICIAL
José Paulo Lanyi

Contribuição ao jornalismo policial, 24/04/07

‘Afinal: os humanos são ou não são os únicos seres que praticam atos violentos por razões que não estejam relacionadas à sobrevivência? Quantas vezes não nos comparamos com os (outros) animais, quando deparamos com notícias escabrosas? Quantas vezes não nos pegamos dizendo: ‘Fulano é pior do que um animal’, ou ‘os animais não têm maldade…’?

Um artigo de Alberto Dines, publicado há alguns dias no Observatório da Imprensa, segue esse pensamento:

‘Primatas, mesmo ferozes como gorilas ou orangotangos, só matam para comer ou se defender. Não dominam a Natureza – ao contrário, são dominados por ela. Empregam todas as suas energias e instintos para sobreviver. Desconhecem o ato de matar por prazer ou para satisfazer outros impulsos insaciáveis’.

Dines escrevia sobre o massacre universitário de Virginia. Numa de suas andanças pela internet, o observador havia encontrado uma notinha com uma pista evolutiva sobre os comportamentos ‘animalescos’:

‘No site G1, na noite de segunda-feira (16/4), logo abaixo do relato sobre a matança em Blacksburg apareceu uma ‘curiosidade’ cientifica: os chimpanzés evoluíram mais do que o seu parente humano, o número de suas proteínas é 50% maior. Explicação: os símios enfrentaram mais desafios para sobreviver e, no processo para preservar os mais aptos, desenvolveram-se mais do que seus primos altamente civilizados’.

O jornalista conclui: ‘Mentes racionais e organicamente sadias vêm sendo treinadas há milênios para conviver com a idéia de aniquilar os semelhantes considerados indignos de viver. O choque das civilizações existe, sim. Entre homens e chimpanzés. E estes, a persistir sua evolução, podem ganhar de goleada’.

Venho, pois, contribuir com uma sugestão de leitura que pode trazer luz a esta discussão, quer seja na mídia, quer seja nas festas ou nos velórios. Há alguns anos tive o prazer (intelectual) de ler um livro cujo título costuma produzir piadas entre amigos: ‘O Macho Demoníaco’ (1996, Editora Objetiva). No original, ‘Demonic Males’. Trata-se de um estudo de dois pesquisadores americanos: Richard Wrangham, professor de Antropologia da Universidade de Harvard e diretor do Kibale Chimpanzee Project de Uganda, e Dale Peterson, professor da Tufts University e escritor especializado em livros científicos.

A orelha do Macho Demoníaco (sic) faz uma bela síntese desta obra: ‘Contradizendo a crença de que chimpanzés na selva são criaturas mansas e pacíficas, Wrangham e Peterson observaram, desde 1971, chimpanzés machos da África praticando estupros, ataques nas fronteiras de seus territórios, surras brutais, guerras contra grupos rivais’.

Fatos dessa natureza verificados entre os grandes primatas têm sido observados por mais de vinte anos em algumas regiões africanas. Apresentam-se como indícios de uma suposta ancestralidade violenta da humanidade que extrapolaria os limites da sobrevivência comumente demarcados, por exemplo, pela necessidade de matar para comer ou de atacar para se defender.

O leitor percorrerá capítulos nada fofinhos, ao longo de intertítulos como ‘Infanticídio entre os Gorilas’, ou ‘Surra de Chimpanzés’, ou, ainda, ‘Estupro entre Orangotangos’. Destaco dois trechos do livro:

‘Comparando com meus colegas as anotações dos dias quentes e excitantes desse ano de descobertas, passei a partilhar com eles uma nova visão dos chimpanzés machos como defensores do território de um grupo, um bando dedicado à pureza étnica de seus próprios integrantes. No dia 14 de agosto de 1973, uma equipe de machos de Kahama me conduziu ao corpo de uma fêmea adulta desconhecida que acabara de ser morta. A essa altura já tínhamos chegado à plena aceitação do fato de que esses primatas eram ferozes defensores do território da comunidade. Perfurações nas costas da vítima indicavam dentadas, seu corpo estirado e as mãos crispadas mostravam que ela havia sido arrastada contra sua vontade, e a postura final, retorcida, ecoava a violência de sua morte;

Limpeza étnica? O Kosovo dos macacos?

‘Por mais horripilantes que fossem esses acontecimentos [o extermínio de uma comunidade rival], o aspecto mais difícil de ser aceito não era a parte física desagradável, mas o fato de que os atacantes conheciam muito bem as suas vítimas. Eles tinham sido companheiros íntimos antes de a comunidade se cindir. Era duro para os pesquisadores conciliar esses episódios com as observações diametralmente opostas, mas igualmente corretas, de machos adultos compartilhando amizade, generosidade e alegria: rolando uns de encontro aos outros em tardes sonolentas, rindo juntos em brincadeiras infantis, saltando em volta de um tronco de árvore e tentando bater nos pés uns dos outros, oferecendo um naco de carne, fazendo as pazes depois de uma rusga, afagando-se durante muitas horas, fazendo companhia a um amigo doente. Os novos episódios de violência, ao contrário daqueles anteriores, revelavam emoções fortíssimas, normalmente ocultas, atitudes sociais que podiam se transformar com uma facilidade extraordinária e repugnante. Nós todos nos sentíamos surpresos, fascinados e com raiva à medida que aumentava o número desses casos. Como podiam eles matar assim seus amigos de antes?’

Lembram ou não atos humanos? Seja como for, chimpanzés ainda são bichos, e, a darmos como corretas as informações desse estudo, vivem o seu próprio padrão de violência pela violência. Conquista e manutenção de território, dizimação de grupos rivais, estupros, ambição de conquista, ‘limpeza étnica’, traição e rivalidade absurdamente destrutiva tendem a ser vistos como atributos humanos indesejáveis do processo civilizatório. É por isso que chamamos os desafetos de ‘animais’. Talvez, agora, tenhamos razão para fazê-lo.

(*) Jornalista, escritor, crítico, dramaturgo, escreveu quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).’

COMUNICAÇÃO PÚBLICA
Carlos Chaparro

Bucci, pretexto para falar de comunicação pública, 27/04/07

‘O XIS DA QUESTÃO – A comunicação do Governo e do Estado não pode ser reduzida a mera ferramenta de jogos partidários, nas lutas rasteiras pelo poder. E também não pode ser limitada ao bom relacionamento com a Imprensa. Até porque o verdadeiro relacionamento a ser estabelecido não é com a imprensa, mas com a sociedade, que se movimenta e se organiza nutrida pelo direito à informação.

1. Torcida por Eugênio Bucci

Se quiser levar a sério o ambicioso projeto de comunicação cujos contornos Franklin Martins esboçou na boa entrevista dada ao ‘Roda Viva’, o governo não deveria abrir mão de um quadro qualificado como Eugênio Bucci, que no passado dia 20 deixou a presidência da Radiobrás. É certo que, com a escolha de José Roberto Garcez para o substituir na presidência na Empresa Brasileira de Radiodifusão, Bucci teve publicamente reconhecido o mérito do trabalho realizado. Afinal, durante quatro anos e três meses, Garcez foi o seu braço direito, dirigindo a área de jornalismo da Radiobrás. E o fato de se entregar a presidência da empresa a alguém que foi um dos protagonistas de maior relevo na importante mudança feita na Radiobrás chancela a aprovação oficial ao trabalho realizado.

Franklin Martins já havia formalizado essa aprovação, ao convidar Eugênio Bucci para continuar no cargo. Houve uma recusa inicial, mas o ministro insistiu enfaticamente no convite. Infelizmente, circunstâncias dolorosas da vida particular, que não vem ao caso revelar, fortaleceram a opção pelo ‘não’.

Sei que Franklin Martins ainda não abriu mão de Eugênio Bucci. O ministro quer tê-lo no Grupo Executivo Interministerial criado para, em três ou quatro semanas, propor ao Presidente da República as idéias básicas do modelo da TV pública, projeto já carimbado como prioridade de governo.

Oxalá desta vez Eugênio Bucci decida e possa aceitar o convite. Pouca gente no Brasil poderia dar à arquitetura intelectual de uma TV pública a contribuição que se pode esperar Bucci. Além de ser um dos mais rigorosos, criativos e persistentes estudiosos de Ética e Televisão, Eugênio Bucci enriqueceu, e muito, a sua capacidade de elaboração teórica com a experiência prática de ter dirigido e mudado a Radiobrás.

Há meses que não converso com Eugênio Bucci. Não sei, portanto, quais são os seus projetos pessoais para o amanhã. Oportunidades e convites certamente não lhe faltarão, no mercado da comunicação e/ou do ensino e da investigação científica. Mas torço para que decida ajudar o Brasil a pensar e a construir uma TV pública verdadeiramente integrada aos objetivos permanentes da Nação.

2. Comunicação com espírito público

Pode até ser que esteja enganado. Mas sinto, nos ecos vindos de Brasília (um dos quais o esforço para manter Eugênio Bucci nos quadros do governo), sinais de que o Planalto tem uma nova cabeça pensante. Não para escrever discursos, embora também o possa fazer. Mas para sobrepor razões e argumentos de espírito público à enjoativa pequenez do discurso, às vezes partidário, às vezes sindicalista, que contamina e tanto empobrece enunciados e enunciações dos improvisos presidenciais.

Ao que parece, as coisas começaram a mudar, pelo menos no que se refere às falas presidenciais.

Se é verdade o que penso, a nova cabeça pensante do Planalto tem nome. Chama-se Franklin Martins, é ministro da Comunicação Social, e já disse o suficiente ao governo, ao País e ao próprio Presidente da República, para que todos entendam que comunicação de Governo e de Estado não pode ser reduzida a ferramenta dos jogos partidários, nas lutas rasteiras pelo poder. E também não pode ser limitada ao bom relacionamento com a Imprensa. Até porque o verdadeiro relacionamento a ser estabelecido não é com a imprensa, mas com a sociedade, que se movimenta e se organiza nutrida pelo direito à informação. Por isso é essencial que a Nação possa acreditar no que lhe é dito.

Eis aí algumas boas razões para Eugênio Bucci permanecer nos quadros da comunicação social do governo.

(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 1994), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’

TELEVISÃO
Antonio Brasil

Quando o Fantástico quase salvou o Vianinha, 24/04/07

‘‘Eu sou um revolucionário, entendeu? Só porque

uso terno e gravata e ando no ônibus 415

não posso ser revolucionário?’

‘Rasga Coração’, Oduvaldo Vianna Filho.

Recordar é viver.

Talvez você não conheça, Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha. Mas certamente conhece a Grande Família, um de seus maiores sucessos na TV. Ou já tenha ouvido falar de ‘Rasga Coração’, uma das melhores e ousadas peças da moderna dramaturgia brasileira.

Pois nesse domingo, mais uma vez, desliguei a TV e fui assistir ao relançamento de ‘Rasga Coração’ no Teatro Glória, aqui no Rio. A peça apesar de escrita nos anos 70 ainda é superatual e a montagem de Dudu Sandroni é impecável. Programa imperdível.

Rasga Coração é uma ‘viagem’ pela história recente do Brasil. Mostra de maneira muito crítica e dinâmica, as desastradas tentativas da esquerda brasileira de tomar o poder ou simplesmente de construir um país melhor, mais solidário e menos injusto. Para o autor, trata-se de uma ‘homenagem ao lutador anônimo político, aos campeões das lutas populares: preito de gratidão à velha guarda, geração que me antecedeu, que foi a que politizou em profundidade a consciência do país’.

O herói da peça, Manguary Pistolão, típico militante da esquerda, é funcionário público modesto, pai de família exemplar, dedicado a enfrentar as agruras de uma vida medíocre com a utopia da militância partidária. Mas as constantes decepções e frustrações se repetem através dos tempos. Assim como o nosso país, geração após geração, Manguary se vê diante dos mesmos problemas pessoais, familiares e políticos. O Brasil e os brasileiros não mudam. A esquerda sonha, sofre e luta. Mas a direita permanece no poder. Haja coração!

A obra é um clássico da nossa produção teatral. É programa obrigatório para os jornalistas do passado e do futuro.

Mas não queria falar de a peça. Queria falar do autor, Oduvaldo Vianna Filho. Em plena ditadura, ainda nos anos 70, muito jovem, sofria de câncer. Sua longa agonia foi acompanhada por toda uma geração de colegas e admiradores. Eu fazia parte dessa última turma. Ainda estudante de jornalismo, trabalhava na Globo, adorava cinema e teatro. Como todos, esperava por um milagre.

Nessa época, em seus primeiros anos, o Fantástico costumava apresentar matérias ‘sensacionais’ sobre novidades médicas e curas milagrosas. José Itamar de Freitas, jornalista experiente e talentoso, tinha acabado de assumir a direção do programa. Ele era entusiasta defensor dessas matérias médicas.

E dá-lhe reportagens sobre quase todos os males do mundo. Cada domingo, o público era apresentado a uma nova ameaça, uma nova ou velha doença. O Fantástico foi o primeiro programa falar de AIDS no Brasil. Na época, ainda era chamado de ‘câncer gay’ e a matéria teve grande repercussão. Causou a maior polêmica.

O público respondia a essas matérias médicas com altos índices de audiência e muitos telefonemas. Muito antes da Internet, os telespectadores buscavam mais informações sobre as curas milagrosas apresentadas no programa. Atendi a várias dessas chamadas. Dava pena. Eram pessoas desesperadas, chorando no telefone pedindo pelo amor de Deus para darmos mais detalhes sobre as novas doenças e os tais tratamentos milagrosos.

Infelizmente, a maioria dessas matérias vinha do exterior. Os tratamentos eram ainda experimentais e caríssimos. Obviamente, poucos teriam acesso e a frustração do público era inevitável. Dava pena.

Putéria Pariri

A direção do programa resolveu apostar em algo diferente. Quem sabe, buscar e mostrar curas milagrosas aqui mesmo no Brasil.

Pois foi assim que conheci o drama do Vianinha.

Um dia chego à redação da Globo e recebo do velho Itamar uma pauta estranha e inusitada. Deveríamos embarcar imediatamente para a Amazônia em busca da Putéria Pariri, (parece brincadeira, mas o nome é sério), uma erva recém-descoberta, da família das sapotáceas. Essa planta misteriosa, encontrada somente no meio da selva amazônica, teria poderes anticancerígenos e poderia salvar a vida do grande Vianinha.

E lá fomos nós. Em tempos pioneiros de muitas ousadias, improvisações e vacas magras, a equipe formada por dois garotos inexperientes (eu e Ralph Souza tínhamos pouco mais de vinte anos e ainda estudávamos jornalismo na PUC do RJ) deveria ir em busca da milagrosa Putéria Pariri, a erva da família das sapotáceas.

A viagem foi uma saga e quase terminou em desastre. Não tínhamos muitas informações a respeito da localização da erva e ainda menos experiência de sobrevivência na selva.

Viajamos de avião até Manaus para conseguir maiores detalhes no INPA, o Instituto de Pesquisas Amazônicas. Depois embarcamos em um monomotor até Itacoatiara onde encontramos um guia da região. Ele nos no disse que conhecia a erva milagrosa e que nos levaria ao local. Estávamos dispostos a acreditar em qualquer coisa.

Pegamos um barco, viajamos durante vários dias e finalmente entramos a pé pela floresta. Foi o nosso primeiro contato com a Amazônia de verdade. Um horror! Ainda voltaria em diversas oportunidades, mas jamais esqueci aquela aventura. Foi quase um desastre. No meio da selva, o dia parecia noite, chovia torrencialmente, os insetos me devoravam e quase me perdi várias vezes.

Achei que eu iria virar notícia e mistério. Certamente morreria antes de achar a tal ‘Putéria Pariri’ e jamais seria encontrado naquele fim de mundo. E ainda por cima uma erva milagrosa com esse nome! Só podia ser brincadeira de mau gosto.

Após vários dias, quando já estávamos quase desistindo, finalmente encontramos a tal erva. Sinceramente, não conseguia ver qualquer diferença entre milhões de folhas e a tal Putéria pariri, da família das sapotáceas. Mas àquela altura, não cabia duvidar ou discutir com o guia. Queria voltar o mais rápido possível. Queria salvar o Vianinha.

E, na dúvida, para evitar surpresas ou o pior, ter que voltar à floresta, enchemos diversos sacos enorme com uma quantidade absurda da erva Pariri e embarcamos de volta para o Rio de Janeiro.

Sonhando e tentando

A recepção na redação foi calorosa. A primeira expedição do Fantástico à floresta amazônica, em busca da erva milagrosa que salvaria o grande Vianinha já era considerada um grande sucesso.

A matéria ficou ótima, fechou o programa e teve enorme repercussão. Ainda nos seus primeiros anos, o Fantástico reinventava a televisão brasileira, batia recordes de audiência e agora trazia curas milagrosas. Recebemos muitos telefonemas de apoio, congratulações e agradecimentos.

O final dessa história, no entanto, é bem previsível.

Vianinha morreu alguns meses depois, em julho de 1974, aos 38 anos. A frustração era enorme e inevitável. Nunca soube se ele recebeu a Putéria Pariri e se experimentou o tratamento milagroso. Nós tentamos.

Hoje, quando assisto ao enorme e constante sucesso da Grande Família na TV e à atualidade de ‘Rasga Coração’ no teatro também relembro as loucuras dos primeiros anos do Fantástico. Éramos muito jovens e acreditávamos no impossível.

Não salvamos o Vianinha, a TV brasileira ou o Brasil. Mas, assim como Manguary Pistolão, o herói de ‘Rasga Coração’, nós sonhamos, lutamos e continuamos tentando. Sempre!

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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