ELEIÇÕES 2006
Comunique-se
Barrados no Palácio do Planalto, 18/09/06
“Nesta segunda-feira (18/09), o Palácio do Planalto proibiu o acesso de repórteres à solenidade de assinatura do decreto que modifica as condições para concessão do certificado de entidade beneficente a instituições de saúde, que passariam a ser reconhecidas como hospitais filantrópicos. Somente fotógrafos e cinegrafistas tiveram acesso a cerimônia que durou menos de dez minutos e foi transmitida pelo sistema interno de vídeo e ao vivo pela TV oficial a cabo NBR.
Os jornalistas chegaram a ser chamados para o segundo andar, local da cerimônia, mas depois foram informados pela assessoria do Planalto que não poderiam cobrir o evento. A situação ocorre logo após o hipotético envolvimento de Freud Godoy, funcionário da Secretaria Particular do gabinete pessoal do presidente da República, na compra de um dossiê contra José Serra, candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB. As investigações e as acusações, situadas em pleno ambiente eleitoral, fariam parte da pauta de perguntas dos repórteres, como é de praxe.
No início da tarde, a Secretaria de Imprensa da Presidência da República divulgou anúncio informando que o tratamento reservado à imprensa é comum em eventos deste tipo, com curta duração e no terceiro andar do Palácio do Planalto. Além disso, o órgão informou que a solenidade teve doze minutos e que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não discursou.”
Milton Coelho da Graça
Quanto mais divisão, mais olho na união, 14/09/06
“Pertenço aos 5% mais ricos do povo brasileiro, porque ganho mais de dez salários mínimos – recebo aposentadoria e trabalho em quatro lugares para realizar esta façanha. Também pertenço à casta dos 11% que tiveram o privilégio de concluir um curso superior. E ainda faço parte do grupo seleto que consegue superar (e por boa margem, estou quase nos 77!) o nível de expectativa de vida do homem brasileiro.
A Datafolha diz que a maioria do pessoal mais rico, como eu, vai votar para presidente em Geraldo Alckmin (52% x 25% em Lula), da mesma forma como a maioria do pessoal que estudou mais (43 x 29).
Mas, entre os 95% mais pobres e os 89% sem canudo, a situação é completamente diversa. Lula vence disparado nos dois casos e, para comprovar que a questão da grana no bolso divide o país, entre os remediados (que recebem entre 5 e 10 salários mínimos) há um virtual empate – Alckmin é o preferido para 39% e Lula, para 36%.
Além das diferenças entre os níveis de renda e os níveis de conhecimento, há uma outra, talvez mais desafiadora: Lula é arrasador no Nordeste (70 a 15), Norte e Centro-Oeste (53 a 30), ganha por 42 a 33 no Sudeste, mas com profundas diferenças de comportamento entre paulistas e mineiros. O empate no Sul complica ainda mais o enigma federativo.
Quando diferenças de rendimento, conhecimento e local de residência produzem visões políticas tão antagônicas, o bom senso exige muita reflexão de seus cidadãos em favor de um projeto nacional viável e consistente. Seria muito bom que os jornalistas estivessem empenhados nessa tarefa.
(*) Milton Coelho da Graça, 75, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.”
INTERNET
Bruno Rodrigues
A palavra, coadjuvante na web, 18/09/06
“Texto, texto, texto. A Web é o paraíso da palavra. É nossa enciclopédia, biblioteca, revista semanal. Algum problema? Pelo contrário – a Web surgiu desta maneira, e muito de sua força ainda reside na informação como palavra.
Eu disse ainda. Busque uma definição para Web e encontrará várias, mas todas giram em torno de um ponto: é nela que reside o potencial da imagem na internet; é ela a interface gráfica da Rede.
Não há como escapar. A Web é cruel com quem aposta na força da força solitária da palavra – não há site que sobreviva sem um impacto visual, todos sabem. Em nenhuma outra mídia o clichê ‘a imagem vale mais que mil palavras’ foi tão verdadeiro. E olhe que estou falando apenas em layout, em ilustração, em fotografia – ainda não cheguei ao vídeo.
Se a imagem é capaz de levar vários recados em um só pacote, o vídeo é a maior concentração de informações por pixel quadrado. O vídeo dá conta do recado, e com uma capacidade de persuasão que a palavra não alcança.
Não adianta espernear, porque é um caminho sem volta. Na Web, a palavra está fadada a desempenhar o papel de coadjuvante da informação. Uma coadjuvante de luxo, mas, ainda assim, coadjuvante.
Eu amo a palavra. Sou, antes de tudo, um redator. Mas aprendi, ao longo de todo este tempo de trabalho com Web, que a palavra precisa se enamorar da imagem. Muito mais do que já acontece na mídia impressa.
Falou-se muito, nos últimos anos, em convergência de mídias. Que a Web iria integrar texto, imagem, áudio e vídeo. Como a banda larga ainda era insípida no mundo inteiro e a história não caminhava, a tal convergência perigou não acontecer. Mas, de três anos para cá, a realidade mudou.
O You Tube, site gratuito com vídeos postados por qualquer um que se disponha a dividir o que tem, é apenas a ponta do iceberg. Demonstra que o interesse do internauta mudou, que ele evoluiu na forma de consumir informação na Web. E que, com a explosão da banda larga, ele agora pode – e quer – mais.
Como recuperar a palavra em um ambiente *realmente* multimídia como será a Web daqui por diante? O redator irá sobreviver? Na dúvida, como profissionais de Comunicação, precisamos entender que nossa matéria-prima é a Informação, seja lá qual for o seu formato.
Você sabe que não é preciso entender de vídeo para trabalhar um uma revista. Mas, na Web, limitar a experiência – e interesse – à palavra pode ser arriscado. O perigo não é individual, mas diz respeito à classe como um todo. O novo profissional de Comunicação, aquele está saindo das universidades, precisa ter noção de que o mercado de mídia digital espera muito mais dele.
Para os que já estão no mercado, temos uma vantagem, porque já experimentamos a Informação em um formato ou mais. Basta não criar resistência e, antes de tudo, ajudar na conscientização dos que estão chegando.
Não perca tempo imaginando se a palavra precisa dar uma volta por cima ou se a Web irá virar o crepúsculo do texto, até porque não é verdade. Por muito tempo ela dividirá as atenções com o vídeo, e é bastante provável que nunca venha a existir uma Web sem informação textual.
Enfim, invista seu tempo entendendo como funciona esta tal convergência de mídias e você estará acrescentando muito mais ao mercado!
(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’. Ministra treinamentos e presta consultoria em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em seis anos, seus cursos formaram 1.200 alunos. Desde 1997, é coordenador da equipe de informação do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, com 4.000 páginas em português e versões em inglês e espanhol e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’ (Editora Objetiva, 2001), há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.”
JORNALISMO ECONÔMICO
Eleno Mendonça
Um bom tema para a campanha, 18/09/06
“Houve um tempo no Brasil em que ter o curso básico concluído era o suficiente para se virar na vida. Depois começaram a pedir faculdade, incluíram o inglês, depois outra faculdade, MBA e por aí vai. Isso tudo mostra um mercado no qual há muito mais pessoas atrás de uma mesma vaga de emprego. Entra governo, sai governo e não se dá conta nem de arrumar vagas para os 2% da população que todos anos entram no mercado.
Ainda que você nunca vá precisar de tantos requisitos eles estão lá para triar as pessoas interessadas na vaga. Com isso, criou-se um mercado de trabalho para muito pouca gente. Afinal de contas, quem tem condições de berço para tanto curso e quem pode buscar tanta qualidade assim num país onde é preciso criar programas de renda mínima para garantir não o acesso a compras, mas a própria sobrevivência de algumas parcelas da população?
Os meios de comunicação e os governos deveriam dar mais atenção a isso tudo. Os mercados de trabalho são o coração de tudo, de quem participa, consome, faz a máquina virar. A cada desempregado reduz-se a expectativa de compra de tudo, inclusive de informação. Antes havia uma cobertura mais vigorosa em torno do assunto, em alguns veículos existia até editoria específica para falar de emprego. Eles foram sumindo, acabaram com as equipes. É o velho argumento de que se não há emprego não há necessidade de ter um fórum para falar dele. Da mesma forma como acabaram as áreas de prestação de serviços econômicos sob a alegação de que não havia mais inflação.
Essa desculpa é no mínimo esfarrapada. Há tanto para se falar do mercado de trabalho, tanta cobrança a ser feita ao governo que o assunto poderia ocupar até um jornal específico sobre o tema. Da mesma maneira que as coisas relacionadas ao dia-a-dia das contas, como prestações, juros bancários, empréstimos dos vários gêneros, consórcio, casa própria etc.
O mercado avança e não se dá às pessoas as ferramentas necessárias, nem se dá acesso para formação, muito menos emprego. Se olharmos nos últimos anos todos os ministérios de trabalho pouco fizeram efetivamente pelo emprego novo, pela inclusão dos jovens, pela manutenção dos velhos, pelo disciplinamento das relações de trabalho, que hoje são totalmente terceirizadas a partir de determinados salários. Os programas que surgem ou estão fora da realidade ou não dão conta de abarcar as necessidades.
Assim é que cada um se vira como pode no sentido de se instruir e tentar acompanhar o ritmo do mercado. Por esses dias vi que a pesquisa Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) realizada pelo IBGE em 2005 mostrou que o computador está mais presente nos lares. De 2004 a 2005, o número de domicílios com Pcs cresceu 16%, superando outros bens duráveis, como televisão e rádio. Mas, apesar do crescimento, a informática só chega a 18,6% das casas brasileiras e apenas 13,7% dispõem e acesso à internet. A inclusão digital, é bom que se diga, foi programa de governo e está arrolada no rol de corrupção da máfia dos sanguessugas. Ou seja, da vez que estavam certos apareceram logo os aproveitadores e detonaram a seriedade de um programa bem intencionado.
Com a queda do dólar e barateamento dos equipamentos aos poucos as pessoas vão comprando, outros vão trocando e repassando as máquinas mais antigas. De maneira que, mais por conta própria do que por outra coisa o povo vai tentando chegar lá.
(*) Também assina uma coluna no site MegaBrasil, é diretor de Comunicação da DPZ e âncora da Rádio Bandnews. Ele passou pelo Estado de S. Paulo, onde ocupou cargos como o de chefe de Reportagem e editor da Economia, secretário de Redação, editor-executivo e editor-chefe, Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.”
JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu
Música e Lágrimas, 14/09/06
“Nasci vingativo,
negando
o que deveria perdoar
(Fabrício Carpinejar in Um Terno de Pássaros ao Sul)
Música e Lágrimas
A coluna recebeu 32 (trinta e duas!) mensagens de telespectadores que debocham do Jornal Nacional porque este confundiu Glenn Ford com Glenn Miller ao noticiar a morte do ator de Gilda e Gatilho Relâmpago, entre tantos e tantos sucessos do cinema americano.
Um dos remetentes, José Antônio Veiga de Menezes, paulistano da Mooca e colecionador de discos raros da era do vinil, destaca-se dos demais porque identificou mais um erro na matéria do JN:
‘Não sei se o considerado assistiu ao telejornal naquela noite inesquecível, mas os apresentadores, ao corrigirem o erro na mesma edição, trocaram o trombone de vara de Glenn Miller pelo trumpete não-sei-de-quem…’.
Pois é, Menezes, o pessoal não viu nem mesmo o filme Música e Lágrimas, dirigido pelo genial Anthony Mann, sucesso de 1953 que ainda passa de vez em quando na TV.
(O bandleader e trombonista Glenn Miller desapareceu em 1944, em missão de guerra, aos 40 anos de idade; o ‘gatilho relâmpago’ morreu em casa, aos 90.)
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SAI GLOBO, ENTRA BAND
A coluna pede desculpas à Rede Globo, porque o telejornal referido na nota acima não é o Jornal Nacional, mas o Jornal da Band. As consideradas Pilar e Camila, zelosas funcionárias da Comunicação da emissora, enviaram a prova do erro, mas nem era preciso, pois assim que recebeu o primeiro telefonema de protesto Janistraquis já apelou a um amigo dono de clipagem eletrônica e descobriu a confusão.
O leitor que costuma marcar de perto o colunista há de perguntar: por que esse cara não confere a veracidade de suas fontes? Respondo que não havia a menor necessidade, pelo número expressivo de colaboradores com a mesma informação e também por causa da desimportância do assunto. Se se tratasse de uma denúncia séria…
O episódio me fez recordar um momento de minha passagem pela Denison Propaganda, entre 1986 e 1988, quando uma pesquisa revelou algo deveras inédito e impressionante: consultados, telespectadores de todo o país atribuíram à Rede Globo notícias e eventos ocorridos noutros canais. Quer dizer: o elemento está de olho na Band, mas a cabeça não sai da Globo.
Sempre otimista, Janistraquis comentou: ‘Considerado, pelo menos uma coisa ficou clara nesse, digamos, incidente; é que a audiência do Jornal da Band é maior do que a gente imaginava; só falta acertar o recall…’
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Estátua
Janistraquis está convencido de que o comentarista Casagrande, ídolo da torcida corinthiana, empenha-se agora em virar estátua no estádio de São Januário, a julgar por sua especialíssima visão da partida desta quarta-feira, na qual o Vasco perdeu (novamente!!!) para o Corinthians, desta vez no Canindé:
‘Considerado, Casagrande passou o jogo inteiro a elogiar o Vasco, azaradíssimo time, incapaz de acertar dois passes seguidos e que ainda perdeu por 3 a 1. Nem Eurico Miranda, fanático presidente do clube, é tão otimista.’
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Pedra Lascada
Nosso correspondende na Europa, o considerado Giulio Sanmartini, mais brasileiro e carioca dos italianos, despacha de Belluno o que chama de ‘Suruba de equívocos’ cometida por matéria do Estadão, enfiada sob o título Rodoanel revela a SP da pedra lascada.
Sanmartini seleciona os trechos e mete os comentários:
Grandes obras públicas multiplicam a descoberta de sítios pré-coloniais —
‘(…) no trecho oeste, que remontam a uma ocupação datada do século 13, de índios agricultores, anteriores ao império tupi-guarani que dominou a capital’.
(Ora, na línguanheengatu inexistem os sons F, L e R, o que levava o europeu a dizer que os índios não tinham Fé, Lei e Rei. Portanto, a falta de um monarca impede a existência de um Império.)
‘Nesse caso, a especialista foi chamada para sondar o terreno quando a terraplanagem havia sido feita (…)’.
(Erra-se muito no uso dessa palavra, o que não pode acontecer a jornalistas medianamente preparados; não existe terraplanagem e sim terraplenagem.)
‘(…) passando pela vida na metrópole indígena antes da colonização e de como se deu o contato com os portugueses (…)’
(Dentro de sua precária organização político-cultural o silvícola brasileiro desconhecia a formação de cidades; portanto, é impossível uma ‘metrópole tupi-guarani’.)
Janistraquis adorou as observações de Sanmartini, incansável pesquisador de nossa História e comportamento, embora lamente que ele não tenha informado como se diz suruba no idioma nheengatu.
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Dúvida cruel
O considerado Francisco Sérgio Bocamino Rodrigues, de Campinas, diz que nada entende de jornalismo mas implicou com este título na capa da Folha de S. Paulo desta terça, 12/9:
Crime passional matou coronel, suspeita polícia
Bocamino está convencido de que, no mínimo, o redator apunhalou o Manual da Redação:
Na faculdade aprendemos que o sujeito ativo de um crime é o homem; então, não consegui vislumbrar um crime matando alguém, ainda mais um crime passional. O correto não seria: Coronel é vítima de crime passional?
Janistraquis acha que o leitor está coberto de razão, porém não arrisca um palpite:
‘Me inclua fora dessa, considerado; quando a matéria fala de crime e tem coronel no meio, é melhor a gente desguiar…’
Compreendo a prudência do meu secretário, mas é preciso fazer pequena observação no título sugerido por Bocamino: Coronel é vítima de crime passional é frase afirmativa, enquanto a polícia ainda está na fase da dúvida cruel.
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Porre
Deu no site do Meio & Mensagem:
Campanha divulga Joaquim, 1º vinho da Villa Francioni
Janistraquis ficou entusiasmado:
‘Considerado, que nome lindo pra vinho, né mesmo? Espero que a concorrência lance imediatamente o licoroso Jacó!’
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Orgasmos
O considerado Gilson Caroni Filho, professor de Sociologia da Facha e também flamenguista ilustre, escreveu no Observatório da Imprensa um abalizado artigo que tem merecido enérgica fogueteada no arraial petista. Algumas amigas de Janistraquis, lulistas de carteirinha, caniço e samburá, tiveram orgasmos múltiplos ao ler o texto intitulado JN e Alckmin: assim é, se lhe parece, em que o professor discorre acerca do jornalismo global nas recentes campanhas políticas.
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Pica-Pau
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, cuja varanda debruça-se sobre a sem-vergonhice geral, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando deparou com esta, digamos, excentricidade, aninhada sob o título Nas asas do Pica-Pau:
‘Nenhum dos pseudo-aviões pode ter motor. Vence quem conseguir flanar por mais tempo, até cair num lago com quatro metros de profundidade.’
Roldão fez um muxoxo:
‘Flanar é andar ociosamente, ‘bater pernas’; o verbo certo é planar.’
Janistraquis acha, ó Roldão, que neste país de m…, onde um quilo tem novecentos gramas e o metro não passa de noventa centímetros, quem plana sempre flana.
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Carpinejar
Convida-se o considerado leitor para ler no Blogstraquis a íntegra do poema que encima esta coluna, colhido na generosa lavra de Fabrício Carpinejar, excelente poeta, jornalista e mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
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Tá fedendo…
A considerada leitora Djenane Pinto Rosas, de São Paulo, que foi prejudicada por um inquilino safado e há cinco anos tenta diminuir o prejuízo com ações que se arrastam, ficou indignada com o conteúdo de matéria publicada na Folha de S. Paulo, intitulada Bancos pagam feriado na praia de 47 juízes:
‘A atitude desses juízes combina perfeitamente com o que disse Paulo Betti a propósito de se meter as mãos em matéria fecal. Este país fede no Judiciário, no Executivo e no Legislativo. É uma pena não ter terremotos nem vulcões no Brasil, porque assim teríamos pelo menos esperança de que algum dia tudo isso explodisse de uma vez.’
Janistraquis reprova o radicalismo de dona Djenane, embora admita que um tsunamizinho quebraria o galho…
(Leia no Blogstraquis a excelente reportagem de Fernando Rodrigues.)
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Nota dez
Leiam o belo e inquietante texto do Mestre Deonísio da Silva no Observatório da Imprensa, texto inspirado nos jovens mortos no trânsito e na lembrança de Drummond: ‘A maior perda da vida é ter que enterrar o próprio filho.’
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Errei, sim!
‘FALECIDO REDATOR – Manchete de página do caderno São Paulo, da Folha: Número de mortos em Guaratuba já são 27. Li em voz alta para meu secretário, que fuzilou de lá: ‘O número de mortos éééééé 28, considerado!’. ‘Como você sabe que já são 28 os mortos de Guaratuba?’, perguntei. Janistraquis imitou a voz de Leão Serva (ex-Folha) quando castiga um repórter: ‘Incluí o redator.’ (março de 1995)
Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).
(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.”
MÍDIA & PIRATARIA
José Paulo Lanyi
Piratas a vista ou a prazo, 13/09/06
“O gancho é o texto do Fábio de Lima no nosso ‘Literário’ (leia Compras na 25 de março, por Fábio de Lima). Lá ele diz que fez uma farra ao dar DVDs piratas para a sua filha. Há quem lhe aprove a atitude, há quem lhe reprove.
Fato é que- e eis a minha fatia- temos gananciosos e exploradores no, vamos dizer, extra-oficial e no oficial. Numa ponta, o crime organizado; na outra, o crime da usura- não o catalogado pela legislação, mas o identificado pela inteligência de quem se sabe ‘roubado’ por aqueles que lucram exorbitâncias à custa do povo (sim, não são poucos por aqui).
Foi com essa cara de consumidor-corno que conversei sobre música, CDs e outras modalidades com o jornalista Toninho Spessoto. Ele é do ramo. Foi editor das revistas Shopping Music, Showbizz, DVD Screen e DVD Celebrity, repórter da Folha da Tarde, editor de programação e conteúdo dos sites Usina do Som e Almanaque Musical, colunista do site Expresso 2222, editor de música e colunista do site Revista Paradoxo e colaborador das revistas Bizz, Qualis, Áudio News, DVD Home Fun e Jornal do Vídeo.
Atualmente é colunista da revista Sucesso (publicação dirigida ao mercado fonográfico) e dos sites JC OnLine (edição eletrônica do Jornal do Commercio, do Recife), Jornal Movimento (especializado em música popular brasileira) e Futrico (especializado em notícias sobre o segmento artístico).
Spessoto apresenta e produz o programa ‘Fora de Série’, com raridades e clássicos do pop/rock internacional, na Rede USP de Rádio (USP FM de São Paulo, São Carlos e Ribeirão Preto). Também produz e co-apresenta os programas musicais ‘Vitrola’ e ‘Central do Brasil’ e dirige o ‘Miscelânea Rock’, todos da allTV.
Link SP – Como você analisa a briga entre gravadoras e artistas contra a pirataria?
Toninho Spessoto – O choro dos descontentes pelo lado das gravadoras e o desespero dos prejudicados pelo lado dos artistas. As gravadoras praticam preços abusivos para os lojistas, e estes, por sua vez, praticam preços mais abusivos ainda para o consumidor final, o que causa distorções como, por exemplo, um CD chegar ao mercado a trinta e cinco, quarenta reais. Os artistas, por sua vez, são prejudicados porque os discos simplesmente não vendem. Os consumidores ou não compram ou compram piratas ou baixam as músicas pela Internet.
Link SP – O que é justo e o que é injusto nessa história?
Toninho Spessoto – Um disco sai da fábrica para a gravadora por pouco mais de três reais. A gravadora pode repassar esse disco no máximo a quinze reais para os lojistas, mas repassa a vinte, vinte e cinco. O lojista, por sua vez, joga para o alto o preço para o consumidor final. Já ao artista resta reivindicar, apenas…
Link SP – Como fica o consumidor? Será que é como aquela história de que, na briga entre o mar e o rochedo, quem se ferra é o marisco?
Toninho Spessoto – O consumidor não se aperta, apela para o pirata sem qualquer pudor, ou para a Internet. O consumidor de menor poder aquisitivo vai às Casas Bahia e compra seu CD player a preços baixíssimos. Sai da loja com o aparelho e entra na casa de discos para comprar o CD do seu ídolo. O preço é de trinta e cinco reais. O sujeito não compra. Resultado: passa na banca do pirata e gasta os mesmos trinta e cinco reais mas, em vez de um, compra sete CDs. E não adianta alegarem que CD pirata estraga o aparelho, pois isso é bobagem, a matriz é digital e a mídia também…
Link SP – Qual é a porcentagem que os artistas recebem das gravadoras?
Toninho Spessoto – A parcela gira em torno de oito por cento por cópia vendida, mas alguns artistas conseguem melhores condições de negociação. Os que vendem mais, recebem mais…
Link SP – Oito por cento… Qual é a sua análise sobre os jabás das gravadoras nas emissoras de rádio?
Toninho Spessoto – Os jabás continuam, infelizmente. É um crime as rádios e TVs terem tabelas de preços para cobrança do jabá. Existe um movimento liderado por músicos cariocas, o JABASTA, que quer acabar com isso. Tomara que eles consigam… A boa música tem que ter livre trânsito nas emissoras, sem a necessidade de remuneração ou negociações escusas.
Link SP – O que o consumidor deve fazer em meio a essa guerra?
Toninho Spessoto – Sem dúvida, pressionar as gravadoras a cobrar preços menores. Se as gravadoras quisessem, poderiam baratear o preço final. Existem iniciativas inovadoras, como o CD pôster, que coloca o CD a dez reais no mercado, e o SMD, Semi Metallic Disc, mas as gravadoras não dão apoio.
Link SP – O que dizer sobre a forma como, de modo geral, os veículos estão cobrindo essa questão da pirataria e do jabá?
Toninho Spessoto – A mídia não cobre porque tem o chamado ‘rabo preço’, principalmente setores da mídia ligados a gravadoras.
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Reflexão: Esta é uma terra de piratas e corsários, qualquer que seja o ponto de vista do observador.
(*) Jornalista, escritor, ator, é autor de quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).”
MEMÓRIA / ALDÍSIA DE SÁ
Carlos Chaparro
Em Adísia Sá, a palavra que gera e perpetua, 15/09/06
“O XIS DA QUESTÃO – Adísia Sá tinha 21 anos quando se formou em Filosofia. No calendário, dezembro de 1954. Logo no ano seguinte, ‘embalada pela melodia das rotativas e impregnada do perfume gostoso da tinta e da fuligem das máquinas’, entrou no jornalismo, para não mais sair. Fez-se mulher de jornal, rádio e televisão. ‘Sempre em busca da palavra que gera e perpetua’. Por isso, continua a ensinar, no que diz e no que escreve.
1. Caminhos cruzados
Procurei em vão, nas estantes em desordem, o livro Clube dos Ingênuos, de Adísia Sá. Aparecerá, qualquer dia desses. Não sei quando nem onde. Mas deveria estar aqui, à minha frente, e não está. Por isso, começo de mau humor este texto, para o qual havia previsto, na abertura, a transcrição de algum dos registros críticos com que Adísia relata ao mundo a sua experiência de ombudsman do jornal O Povo, de Fortaleza.
Adísia Sá foi a primeira mulher no Brasil a desempenhar a função de ombudsman num grande jornal diário, isso nos anos 80 do século passado. E o fez de maneira admirável. Depois, com a edição do Clube dos Ingênuos, socializou o conhecimento produzido nessa experiência. É um livro formidável. E não me conformo com a impossibilidade de usá-lo, neste momento. Porque transcrever alguns trechos das análises e revelações feitas na obra por Adísia seria um jeito ótimo de apresentar aos leitores o espírito crítico, a sabedoria, o humor cortante, a lucidez intelectual, o brilho profissional e o senso de independência dessa mulher notável que tão bem soube casar Jornalismo e Filosofia, em 51 anos de uma carreira sempre composta de duas profissões: a de jornalista e a de professora.
Por que Jornalismo e Filosofia?
Ela mesma respondeu, a quem teve o privilégio de ouvi-la no Congresso da Intercom:
Na vertente da Filosofia – ‘Em 1951, para coroar a conclusão do curso científico, o Colégio onde estudava programou um ‘retiro espiritual’. O pregador, padre Arquimedes Bruno (dois filósofos num só pessoa…), na última palestra, falou que na natureza nada se perdia; expandia-se, transformava-se (com o tempo me aproximei mais de Lavoisier). A partir daí, e ainda hoje, busco a voz que se fez eterna… e fiz da palavra o instrumento que penetrava no terreno fértil das inteligências jovens que me cercavam nas salas de aula…’
Na vertente do Jornalismo – ‘Minha família saiu do interior cearense para a capital. Eu, menina, tinha a cabeça cheia de histórias da Amazônia (mistérios… assombrações… espaços a se perder de vista…) contadas por meu pai. Passava tudo para o papel e sonhava publicar um dia. A casa onde fomos morar estava na rua das redações dos jornais: Unitário… Correio do Ceará… O Estado… Gazeta de Notícias… O Povo. Dormia embalada pela melodia das rotativas e me impregnava do perfume gostoso da tinta e da fuligem das máquinas.’
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Adísia Sá tinha 21 anos quando se formou em Filosofia. No calendário, dezembro de 1954. E logo no ano seguinte entrou em jornal, para não mais sair do jornalismo.Fez-se mulher de jornal, rádio e televisão. Mas sempre com tempo para ‘cursos em Faculdades e palestras e conferências por este Brasil a fora. Sempre em busca da palavra que gera e perpetua’.
Nessa busca, foi pioneira do ensino de Jornalismo no Ceará, primeiro criando dois cursinhos para principiantes (1964 e 1965), patrocinados pelo Sindicato dos Jornalistas e pela Associação Cearense de Imprensa. Depois, criando um Curso Livre, experiência que deu base ao Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará. E Adísia ensinava, sem jamais parar de estudar: doutorou-se, fez Livre Docência em Pernambuco, tornou-se Professora Titular da sua Universidade do Ceará – sempre vinculada ao ensino e à pesquisa de jornalismo.Nutrindo-se, sempre, nas fontes inesgotáveis da Filosofia. E também sempre com espaço e tempo para outra paixão: a militância sindical, ‘iniciada’, como ela conta, ‘no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Ceará e coroada na Federação Nacional dos Jornalistas’ – com um acréscimo enfático: ‘Sem abandonar a Associação Cearense de Imprensa’.
2. Saber da maturidade
Adísia Sá, 83 anos de vida, em plena caminhada. Mulher, jornalista, professora, pensadora, resolveu mais uma vez usar a palavra para ensinar. E assim falou em Brasília, sobre o que é ser intelectual, ao receber o Prêmio Luiz Beltrão – categoria Maturidade Científica, no Congresso da Intercom:
Árdua é a tarefa do intelectual – levanta discussões, estuda, tenta compreender, interpretar e transformar o mundo. Por isto, não pode ser apático, conformado, indiferente ao que se passa ao seu redor e onde está inserido.
O intelectual é, por natureza, revolucionário: pensa e repensa o existente sem cadeias, conveniências, tremor e tenor da sociedade, de indivíduos e de governos.
A liberdade de pensamento, entretanto, não o torna absoluto, dono da verdade e senhor das vontades.
Norberto Nobbio aponta as características do intelectual: a independência de seus juízos, o vigor das suas opiniões, o amor à aventura espiritual, o gosto pelos paradoxos, a valentia das idéias, o espírito crítico e a tendência à inovação, com a consciência de excluir do grupo aqueles que, podendo ingressar nele pela atividade e função que desempenham, não possuírem, diante de quem os mede por esse padrão, as qualidades requeridas (‘Intelectuais’, in Antologia: o filósofo e a política, Contraponto Editora).
O intelectual pensa o mundo e tudo o que nele existe e vive e se move, diria Galileu. Ao pensar, se contrapõe àqueles que têm o poder de mando.
(…)
O intelectual forma o grupo de entes da cultura, do saber, da libertação. O seu papel é, na imagem de Platão, ajudar os outros (homens e mulheres) a sair da caverna da ignorância, da superstição, da ilusão, das promessas vãs, das palavras enganosas e sedutoras de palanques e microfones, de imagens e de sons, de hipnotizadores das plataformas eleitorais e juramentos de campanhas…
Em relação à Política, à Moral e à Ética, qual o papel do intelectual?
A Política trata do que pode (poderia…) ser feito; a Moral, do que é feito; e a Ética – do que deve ser feito. Nesta visão tríplice, o intelectual tem como norma o que deve ser feito. (…)
O intelectual é aberto ao diálogo, ao debate, à livre manifestação do pensamento e do ato criador. Aí, nesse instante, o ‘ergo sum’ do intelectual.
O intelectual nasce, viceja e vive em clima de liberdade.
Como nem sempre a liberdade nos cerca e movimenta, o intelectual tem o dever de lutar por ela, enfrentando, se necessário, a fogueira que queima o corpo e purifica a alma; a tortura que esmigalha cada centímetro da carne e dos ossos e faz explodir o grito da dor nas ruase nas catedrais, nas tribunas e nas sinagogas, levando multidões a rasgar regras da inquisições, a derrubar bastilhas e a incendiar bunkers, a levantar bandeiras de liberdade até então arriadas.
O intelectual não pode se submeter à perseguição, à opressão, à tirania do poder – venha este sob a forma de governo ou das massas, de constituições outorgadas ou dos dogmas de religiões e ciências.
Por tudo isto, o intelectual é um ser de e da luta. Luta contra a tirania, tenha ela a forma que lhe der o tirano.
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E nada mais deve ser acrescentado.
(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 1994), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.”
JORNALISMO & CINEMA
Antonio Brasil
Um festival de filmes para jornalistas, 18/09/06
“Esta semana começa o festival de filmes do Rio de Janeiro. Para quem gosta de cinema, é um ótimo programa. Mas para os jornalistas, trata-se de um evento imperdível. Os profissionais da imprensa têm muito a aprender com os bons filmes. Além de nos mostrar o mundo e seus conflitos, esses filmes nos ensinam a contar boas histórias. E essa ainda é a essência do melhor jornalismo.
Este ano fui convidado pelos organizadores para assistir alguns dos melhores filmes do festival em sessões reservadas aos jornalistas. Para quem gosta de cinema e jornalismo, essas sessões ‘cabine’ são muito próximas do paraíso na Terra. São horas a fio assistindo aos melhores filmes do mundo na companhia de colegas que sabem tudo de cinema. Ver cerca de três seguidos é muito bom. Durante o festival, assistir a mais de cinco em um único dia é puro ainda melhor. Assim com fazer jornalismo, cinema é bom, mas vicia.
Para os jornalistas cinéfilos, conversar sobre cinema durante horas a fio também é quase tão importante durante assistir a bons filmes. E para os mais jovens, a crítica cinematográfica ainda pode ser uma boa opção profissional. Não custa nada sonhar!
No festival do Rio tem filmes para todos os gostos. São quase 400 títulos de sessenta países exibidos em 35 salas cinemas do Rio durante duas semanas. Uma verdadeira maratona de filmes inéditos, diretores desconhecidos e muitas surpresas. As grandes atrações deste ano devem ser os novos filmes de diretores consagrados como Ken Loach, Martin Scorcese, Brian de Palma, Robert Altman, e um dos meus favoritos, ‘Volver’ com Penélope Cruz e Camem Maura do diretor espanhol Pedro Almodóvar.
Cinema odeia TV
É uma história simples, mas muito bem contada. Volver ganhou os prêmios de melhor roteiro e melhor interpretação feminina (dado em conjunto às seis atrizes principais) no Festival de Cannes de 2006.
Em uma pequena cidade espanhola, dezenas de mulheres cumprem o ritual de limpeza das tumbas de seus parentes e amados. Uma dessas mulheres é Raimunda (Penélope Cruz), que trabalha como faxineira no aeroporto de Madri para sustentar o marido desempregado e a filha adolescente. Sole, sua irmã mais velha, trabalha em casa, onde instalou um salão de beleza. Ambas visitam rotineiramente o túmulo da mãe Irene, que morreu em um incêndio causado pelo calor e pelos fortes ventos da região. Certo dia, Irene reaparece. Ela tem assuntos pendentes a acertar com as filhas.
Além de contar uma boa história, Almodóvar nos convida a visitar o misterioso e inusitado universo feminino. O filme é muito bom. Trata da busca de lembranças erespostas. Mas, para variar, Almodóvar, assim como uma boa parte dos diretores de cinema, aproveita a narrativa para ‘cutucar’ o grande inimigo: a TV. Em uma das cenas mais engraçadas, uma das personagens participa de um desses programas vespertinos que misturam sensacionalismo com jornalismo. Hoje é quase sinônimo. O título do programa era ‘Onde quer que estejas’ ou algo parecido. O objetivo do programa é colocar a pobre da convidada frente às câmeras em um auditório repleto para que ela conte sua história triste, peça para que alguém ‘volte’ para delírio do público. Após tantos anos, o cinema – com grande dose de razão – não perde a oportunidade de criticar o poder da TV.
Cinema jornalístico
Mas para quem gosta de história recente e jornalismo internacional, a minha dica para os colegas vai para outro filme espanhol, ou melhor dizendo, catalão. Trata-se de Salvador de Manuel Huerga com Daniel Brühl e Tristan Ulloa.
O roteiro é baseado no livro ‘Compte Enrere’, do nosso colega jornalista espanhol Francesco Escribano. Trata-se de um exemplo clássico do filme de militância política que nos lembra o passado e nos ajuda a refletir sobre o presente.
Salvador mostra a história real do militante, assaltante de bancos e anarquista Salvador Puig Antich, integrante do grupo Movimiento Ibérico de Liberación. Preso em 1974, foi a última execução realizada na Espanha com o método do ‘garrote vil’. Instalou uma enorme polêmica internacional que ajudou a decretar o fim da ditadura franquista e o retorno da democracia ao país.
Se você não tem a menor idéia sobre o que seja um ‘garrote vil’… deveria saber. Nem mesmo o sanguinário inquisidor espanhol Torquemada imaginaria morte mais cruel. Em uma agonia lenta por estrangulamento, quebram-se as vértebras da vítima que permance consciente até os últimos segundos. Nada mais vil. Dá arrepios só de imaginar!
Pois essa pena de morte existiu na justiça espanhola em pleno século XX. Foi utilizada contra um jovem estudante, que assim como tantos outros da nossa geração, inclusive brasileiros, ousaram sonhar com um mundo melhor. O filme também nos ajuda a refletir sobre a questão da irreversibilidade da pena de morte que, em época de eleições, tantos candidatos defendem para os problemas de violência no Brasil.
Mudar o mundo
Salvador acompanha as desesperadas tentativas da família, dos colegas e dos advogados de Salvador para evitar sua execução. Na época, essa notícia mobilizou diversos países do mundo e também contribuiu para acabar com a pena de morte na Europa. É cinema que nos faz pensar.
O filme de Manuel Huerga participou da mostra Un certain regard, do Festival de Cannes de 2006, com grande sucesso e aqui no Rio participa da mostra Expectativa.
É mais um filme imperdível. Principalmente, para os jornalistas – velhos e jovens – que ainda acreditam que podemos mudar o mundo e que o cinema ainda é a maior diversão.
(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.”
PRÊMIO COMUNIQUE-SE
Cassio Politi
Nos bastidores do Prêmio Comunique-se, 15/09/06
“Quem esteve na cerimônia do Prêmio Comunique-se, terça-feira (12/09), no Tom Brasil, em São Paulo, deve ter saído por aí comentando coisas de bastidores. Isso é próprio do jornalista. Vou, então, compartilhar aqui algumas das imagens que achei curiosas, antes que eu me esqueça de contá-las.
Ainda repercute pelos quatro cantos a declaração de amor feita por William Waack a Fabiana Scaranzi. Foi mais ou menos assim: ‘Dedico este prêmio a Fabiana [Scaranzi], dona do meu coração. Espero ser o dono do seu coração. Eu te amo’. O que ninguém contou por aí foi a reação da platéia: um ‘ooohhh’, como quem diz ‘que romântico!’, sucedeu a declaração.
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No saguão de entrada do Prêmio, havia caricaturas de todos os finalistas do Prêmio. Um trio ilustre da TV Globo passou um bom tempo se divertindo com as dezenas de desenhos: Pedro Bassan (vencedor da categoria Jornalista de Esportes de Mídia Eletrônica), Ernesto Paglia (finalista da categoria Repórter de Mídia Eletrônica) e sua esposa, Sandra Annemberg, não menos competente que os finalistas.
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Pouco antes do anúncio dos vencedores da categoria Repórter de Mídia Eletrônica, Marina Person, que circulava pela platéia como repórter dos apresentadores Zeca Camargo e Lorena Calábria, entrevistou Caco Barcellos. Perguntou se era verdade que ele, com tanta experiência em matérias investigativas, estava nervoso. Caco confirmou: estava muito nervoso. Marina perguntou em quem Caco tinha votado. A platéia riu. Concorriam com ele Ernesto Paglia e Zileide Silva. O jornalista foi hábil na resposta: ‘Quem de nós vencer terá recebido o voto dos outros dois concorrentes.’
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A vencedora da categoria Repórter de Mídia Impressa, Eliane Brum, vivia um momento especial logo após o anúncio. Vencedora de mais de 30 prêmios em sua carreira, a jornalista de Época ficou emocionada. ‘Ainda não consegui acreditar. Estou tentando voltar para a terra’, comemorou. O prêmio cai justamente no período do lançamento de seu livro, A Vida que Ninguém Vê.
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Terminada a festa, um vozeirão veio do saguão. ‘Ô meu! Roubaram a minha foto, pô!’. O vozeirão, com ar de gozação que lhe é peculiar, era inconfundível. Sílvio Luiís, experiente narrador do BandSports, acabou indo embora sem sua caricatura. ‘Já que não fiquei com a minha, levei a do Reali Júnior’.
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Preparando-se para reestrear a peça Plantão de Notícias no Rio, em Novembro, Maurício Menezes se divertiu com a reação de Silvio Luiz e com outras histórias bem humoradas na imprensa para inseri-las em seu repertório. Estava munido de um bloco de anotações para não perder nenhuma passagem.
Deduzo que cobrir o Oscar se assemelhe a isso, guardadas as proporções, é claro. Como será a Julia Roberts sem uma câmera por perto? A humanização daquela figura das telas (de TV ou de cinema) causa curiosidade. Dizem que matar a curiosidade é, na essência, a razão de ser do Jornalismo.”
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