CASO CARANDIRU
Coronel Ubiratan não comandou o massacre, 23/02/06
‘Há uma desinformação recorrente na cobertura do Massacre do Carandiru. O
coronel Ubiratan Guimarães não é o responsável pela carnificina. Pela simples
razão de que, no momento em que os crimes começaram a ser praticados, ele nem
estava lá. Basta a leitura dos autos e de reportagens da época, embora o leitor
de hoje não tenha o privilégio da informação correta, como a que você encontra
abaixo, no brilhante relato de Ricardo Stefanelli, do Zero Hora, de Porto
Alegre, texto publicado em janeiro de 1998 e republicado no mesmo ano pela seção
‘Feitos e Desfeitas’, do Observatório da Imprensa:
‘Ainda na escadaria entre o térreo e o primeiro pavimento, uma explosão muda
o rumo da guerra.
– O coronel Ubiratan foi atingido! – grita um oficial.
O tubo de uma tevê, atingida pelas chamas, explode ao lado do coronel
Ubiratan Guimarães. Jogado contra a parede, Ubiratan desmaia e é carregado para
fora nos ombros de um subordinado. Na rua, seu motorista leva-o para a
enfermaria do presídio e, mais tarde, ao pronto-socorro. Ubiratan está fora de
combate. A Operação Carandiru, 10 minutos depois de iniciada, fica à
deriva’.
O que ocorrera, até então, ou seja, antes do ferimento do comandante da
operação? Stefanelli narra, com base no processo:
‘O capitão Wanderlei Mascarenhas, à frente do Grupo de Ações Táticas
Especiais (Gate), encontra duas dezenas de detentos acuados numa Tenda de
Umbanda, ainda no térreo. Os presidiários são conduzidos para fora. Menos um
deles.
– Nos mostre o caminho – ordena o capitão. Os PMs não conhecem o prédio. O
detento será o guia da missão. O soldado Marcos Heber Júnior, das Rondas
Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), esfrega dois dedos no chão:
– É óleo – avisa aos colegas. – Cuidado que eles podem colocar fogo!
O pânico se espalha pela tropa. Sem perceber a aproximação de três rebelados,
o soldado Heber recebe uma pancada com ferro no braço esquerdo. Desmaiado,
perdendo sangue, é carregado pelos colegas para fora do prédio.
As baixas não interrompem o confronto. Os homens do Gate entram pela
esquerda. Os policiais do Comando de Operações Especiais (COE) e os do
Grupamento de Polícia de Operações Especiais (GPOE) usam o corredor da direita.
Eles abrem caminho para a Tropa de Choque e a Rota. O capitão Mascarenhas ouve
tiros no andar de cima. Quatro frentes de combate são abertas ao mesmo tempo. O
primeiro-sargento Raul Santos de Oliveira, do 2º BPChoque, ordena que seus
companheiros, no térreo, façam uma triagem dos presidiários rendidos. Ninguém
obedece. Todos preferem a linha de frente. As saraivadas de tiros confundem os
próprios policiais e atordoam os rebelados’.
A partir daí, começam as atrocidades. Enquanto um Ubiratan Guimarães
desacordado é transportado para o hospital, com perda temporária de audição,
outros oficiais assumem o comando. Com a patente da época: o tenente-coronel
Luiz Nakaharada, comandante do 3º Batalhão de Choque, o tenente-coronel Edson
Faroro, comandante do 2º Batalhão de Choque, e o major Armando Rafael Araújo,
comandante do 1º Batalhão de Choque, ou seja, a Rota.
O coronel Ubiratan Guimarães apoiaria a hecatombe, talvez pela combinação de
algumas razões:
– Regojizo com a vingança mais do que desproporcional protagonizada pelos
seus comandados. Afinal, ele havia sido tirado de combate e até hoje ressalta a
labirintite traumática provocada pela explosão do tubo de TV;
– Espírito corporativista;
– Despreparo para o comando de uma tropa oficial, considerando-se o desprezo
pela ação que busca o cumprimento da lei, não o bangue-bangue no melhor estilo
bandido x bandido;
– Oportunismo político motivado pela aprovação de parcela significativa da
população, que acabaria por elegê-lo deputado estadual sob o número 111.
Por suas declarações e pela sua ação eleitoreira, o oficial pode e deve ser
responsabilizado na esfera moral. Pode e deve ser responsabilizado pela
História, lado a lado com outro que achou tudo natural, o autor da ordem de
invasão, o então governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho. Mas
Ubiratan não estava no comando, quando a operação degenerou. Que os fatos sejam
respeitados, primeiro passo para que se exija a condenação dos verdadeiros
responsáveis pela selvageria.
O Coronel Ubiratan foi absolvido há alguns dias. Os três oficiais que estavam
no comando da invasão ainda não foram julgados em plenário pelo Tribunal do
Júri. Eles integram uma lista de cerca de 120 réus. O adiamento resulta de uma
série de recursos interpostos por alguns defensores.
Moral da história: acordem, a pauta é outra.’
DIRETÓRIO ACADÊMICO
No campo da Ética, os conflitos essenciais, 24/02/06
‘O XIS DA QUESTÃO – A propósito de um drama vivido pelo jornalista Cláudio
Tognolli, coloca-se a seguinte questão: à luz de valores éticos, como escolher
entre proteger no sigilo a fonte que fez uma revelação de grande impacto, ou
sacrificar a fonte e a ferramenta do ‘off’, em favor do dever de informar a
sociedade de algo que lhe interessa? A experiência ensina que, nos casos
concretos das escolhas éticas, de pouco adianta pedir socorro aos códigos.
Porque o território fundamental da ética está num objeto abstrato quase
indefinível, que pertence ao universo da vida mental, mas que todos sabemos
muito bem o que é: a consciência.
1. Sob permanente pressão
Logo no início da minha vida de repórter, corria o ano de 1957, alguém
resolveu ser generoso comigo e me avisou: ‘Cuidado, rapaz! Não vá com muita sede
ao pote, porque nesta profissão morre-se mais cedo do que em outras’. Fez a
calculada pausa do suspense, olhou-me nos olhos. E acrescentou, seco, sem
comentários: ‘Morre-se do coração’.
Duvidei. Naquela altura da vida, com todas as curvas do itinerário ainda à
minha frente, não me convinha acreditar em maus presságios. Nem perder tempo com
eles. Resolvi viver o mais intensamente possível as emoções e os desafios da
profissão, sem pensar em riscos, menos ainda em morte.
Anos mais tarde, acabei convencido de que a agourenta advertência tinha um
certo lastro científico. Alguém me mostrou dados estatísticos, de boa fonte, que
confirmavam a veracidade da presunção. Mas como nada podia fazer para mudar de
profissão, nem para trocar de vocação, resolvi me interessar pelo estudo das
causas.
Por que o jornalismo mata mais cedo?
Passaram-se os anos e até hoje não alcancei resposta satisfatória. Olhando,
porém, para o meu próprio retrovisor, passei a trabalhar com a hipótese de que a
morte prematura de jornalistas pode ser atribuída ao constante estado de stress
a que a profissão submete quem nela trabalha. O jornalista está permanentemente
sob a pressão de ter de tomar decisões sem volta, que geram conseqüências
irreversíveis.
2. Nas escolhas éticas, a tensão maior
No plano das coisas mais rotineiras da profissão, várias vezes ao dia, é
preciso decidir (por exemplo) sobre coisas como a informação que vai para o
título ou abre a matéria, qual a frase do entrevistado a destacar, qual a foto a
publicar, qual o assunto que dá manchete etc..
Esse é o quadro de pressões contínuas do dia-a-dia. Mas a tensão aumenta, e
muito, quando as decisões envolvem escolhas que podem produzir efeitos
incontroláveis sobre pessoas. Ou quando, para enfocar, compreender ou atribuir
significados a um conflito, se impõe a necessidade de fazer escolhas entre
valores éticos igualmente importantes, mas contraditórios entre si. Como –
permitam-me outro exemplo – escolher entre o direito à informação e o direito à
privacidade.
Ou escolher entre preservar no sigilo a fonte que fez uma revelação de grande
impacto, ou sacrificar a ferramenta do ‘off’ em favor do dever de informar a
sociedade de algo que lhe interessa.
Vem isto a propósito do stress que o colega Cláudio Julio Tognolli está
submetido há tempos, depois de ter sido convocado, por um alto quadro da Polícia
Federal, para negociar, no Iraque, a liberação do corpo do engenheiro João José
de Vasconcelos Jr., aquele, da Construtora Odebrecht, seqüestrado dia 19 de
janeiro de 2005, por grupos terroristas.
Quem ainda não conhece a história, pode inteirar-se dela na coluna de Marcelo
Rubens Paiva, no Estadão (em 4/2/2006). Seis dias depois, em sua própria coluna,
no AOL, Tognolli elucidou o que faltava, para compreendermos a história por
inteiro.
3. Escolha dolorosa
Escreveu Tognolli, se expondo por inteiro (transcrevo o que pareceu
essencial):
‘Semana passada perdi um grande amigo: o delegado Mauro Marcelo. Ele está
vivo e forte, ainda bem. Aprendi a admirá-lo pela sua sagacidade, inteligência,
caráter e honestidade. (…) Semana passada, Marcelo Rubens Paiva, velho amigo,
noticiou no Estadão como eu fora convidado por Mauro Marcelo para ajudar a
encontrar o corpo do engenheiro Vasconcellos, da Odebrecht. A TV Record replicou
a notícia. Tirei uma cruz da caravaca das costas: tornar público o que achei que
deveria ser tornado público. A família do engenheiro assim não entendeu: seus
parentes deixaram vários ataques contra a minha pessoa em minha caixa postar do
celular.
Com Marcelo não foi diferente. (…)’
‘(…) Há um problema em você ficar amigo de uma fonte que admira: quando a
fonte te conta algo de interesse público, e você é jornalista, deve tornar o
assunto público. Não deve haver nesse sentido o off the records. O assunto foi
tornado público: Ok, dirão. Missão cumprida. Mas perdi um amigo, uma fonte, e
ainda tomamos agressões verbais da família. Tudo bem: o que vale é que tirei uma
cruz de minhas costas. Melhor dizendo: tirei uma e botei outras no lugar…’
Eis aí um tema dramático dos conflitos e dos rigores éticos que envolvem a
profissão. Proponho que se faça a discussão sem julgamentos. Tognolli – que
merece a nossa solidariedade – fez a escolha dele seguindo os ditames da própria
consciência, não em função de códigos. Exerceu a liberdade de ser e agir, em
função de valores em que acredita. E assim deve ser.
******
Não é fácil fazer escolhas éticas, de efeitos dolorosos, quando as razões do
interesse da coletividade se sobrepõem às tentações de apenas olhar as emoções e
as razões do espaço individual.
Em casos como este, de pouco adianta pedir socorro aos códigos. Porque o
território fundamental da ética está num objeto abstrato quase indefinível, mas
que todos sabemos muito bem o que é e quando deve ser levado em conta: a
consciência.’
O SEQÜESTRO DE KLESTER
Belém há 6 anos: repórter de Veja foi seqüestrado. E a matéria saiu.,
24/02/06
‘Vencedor de um Prêmio Jabuti em 2005, o jornalista pernambucano Klester
Cavalcanti passou dois anos na Amazônia como correspondente de Veja. Em março de
2000, viveu um inferno. Foi seqüestrado e amarrado a uma árvore no meio da
selva. Não ligou para a ameaça de morte quase concretizada e publicou a matéria
sobre grilagem, dando nome aos bois. Ou melhor, aos fantasmas e aos criadores
dos fantasmas.
Seqüestro
Encapuzado por um saco plástico grosso e preto, o jornalista tentou fazer
perguntas aos seqüestradores. Não obteve resposta. Ele estava desorientado, não
conseguia se concentrar em nenhum pensamento. Pelos solavancos, sentiu que o
carro saía do asfalto para uma estrada de terra. Mais de uma hora depois de ter
sido capturado em Belém, o repórter Klester Cavalcanti, então trabalhando em
Veja, foi puxado para fora do carro. Ainda encapuzado e com as mãos amarradas
para trás, foi conduzido, a pé, mata adentro, por pelo menos três homens.
Durante a caminhada, idéias incrivelmente otimistas começaram a se organizar
sob o barulho que a forte chuva provocava no capuz preto. ‘Não sou valentão. Mas
eu tenho uma característica: nunca acho que vai acontecer o pior’, descreve-se
Klester. Por seus cálculos, a caminhada durou pouco menos de meia hora. Nesse
período, conseguiu se concentrar e acreditar que estava sendo levado até o chefe
da quadrilha. Talvez isso enriquecesse a reportagem. Talvez fosse assassinado
ali mesmo.
O turbilhão de idéias foi interrompido pela fala de um dos seqüestradores.
‘Aqui está bom’. Dois homens o seguraram e o arremessaram de costas,
violentamente, contra uma árvore. O terceiro desatou suas mãos e voltou a
amarrá-las, com os pulsos ligados por uma corda grossa e separados pelo tronco
de uma árvore. Uma voz se dirigiu a ele. ‘Isso é só um aviso. Se a matéria sair,
a gente volta para terminar o serviço’.
Ele ouviu os homens se afastarem e ficou aliviado por estar vivo. Mas tinha
dois problemas. O primeiro era conseguir se soltar. Afora isso, nas muitas
reportagens que fizera na Amazônia, tinha aprendido com especialistas a
distinguir, pelo cheiro, umidade e clima, uma selva de um matagal. Estava aí o
segundo problema: mesmo sem poder enxergar nada, deduziu que estava numa selva.
Acertou. Era uma selva densa. Tinha de lutar pela própria salvação. O seqüestro,
como qualquer outro, foi covarde e a ameaça, em vão. Uma vez que sobreviveu para
contar esta história, sobreviveu também para garantir que a matéria de denúncia
fosse publicada na edição seguinte de Veja.
A denúncia
Desmatamento, venda ilegal de madeira, turismo e outras pautas pela Amazônia
faziam parte do cotidiano do correspondente. A investigação minuciosa deu a
Klester provas de que uma quadrilha roubava terras públicas no Pará desde os
anos 70. Após semanas circulando por arquivos de órgãos públicos, entrevistando
de madeireiros irregulares a delegados, ele conseguiu provas e entender
detalhadamente o esquema de grilagem, que era grande. Muito grande.
A trapaça ganhou engenhosidade possivelmente em 1975. O advogado Flávio
Augusto Titan Viegas esteve, daquele ano em diante, em cartórios. Tinha sempre
em mãos uma procuração assinada por um sujeito chamado Carlos Medeiros, que
figurava como dono de 120 mil quilômetros quadrados de terras espalhadas por 89
municípios do Pará. Esse patrimônio o tornava o maior latifundiário do mundo,
pois era dono de uma área equivalente à de Portugal e Bélgica juntas. Acontece
que essas terras todas pertenciam, na realidade, ao estado do Pará ou à União. E
o mais impressionante: Carlos Medeiros não existia. Seu nome fora inventado. Era
um fantasma.
Com a procuração em mãos, Titan Viegas vendia a terra a madeireiras por
valores irrisórios. Agindo de boa-fé ou não, os compradores se amparavam em
documentos que lhes dava uma falsa garantia de propriedade daquelas terras.
‘Consegui achar centenas de títulos de terras e fui atrás dos proprietários.
Sempre me identifiquei como repórter de Veja. Os entrevistados negavam todas as
irregularidades. Mas isso eu já esperava. O importante era conseguir as fotos
dos locais, totalmente desmatados’.
O poderoso chefão
A soma de documentos e depoimentos colhidos até os primeiros dias de março de
2000 eram mais do que suficientes para que a matéria provasse toda a falcatrua.
Mas faltava a última missão: entrevistar Titan Viegas. Klester ouviu de
funcionários do Ibama que o advogado, então com 72 anos de idade, deixara Belém
dez anos antes. Profissionais das polícias Civil e Federal, do Incra e de outros
órgãos de Belém não tinham certeza do paradeiro. A maioria dizia que tinha se
mudado para São Paulo.
O jornalista decidiu abrir a lista telefônica e procurar assinantes cujo
sobrenome fosse Viegas. Achou nove. Telefonou para o primeiro número e pediu
diretamente para falar com o senhor Flávio. Não havia ninguém com esse nome. Na
segunda tentativa, idem. Na terceira, uma mulher atendeu.
– Pois não…
– Boa tarde. Eu gostaria de falar com o senhor Flávio, por favor.
– O pai ou o filho?
Kléster tomou um susto. Não imaginava que a tática tão improvável pudesse ser
tão eficaz. Pediu para falar com o pai. Após uma rápida saudação, começou a
conduzir a conversa ao ponto aonde queria chegar.
– O senhor é Flávio Titan Viegas, né? O pai.
– Sou eu mesmo. Por quê? Você quer falar com o meu filho?
– Não. Quero falar com o senhor mesmo.
Klester apresentou-se como repórter de Veja, falou sobre a reportagem em que
trabalhava e das provas de seu envolvimento com todo o esquema. O advogado
apenas disse que não tinha nada a falar a respeito. E desligou o telefone.
Caça
Diariamente o telefone tocava na casa de Titan Viegas. A filha do advogado o
maltratou. O filho o ameaçou.. Klester tornou a telefonar para expor
insistentemente a necessidade de ouvir o principal acusado daquela denúncia. Foi
insistente. Chato como um repórter deve ser. Faltavam poucos dias para o
fechamento. Na sexta-feira, 3 de março, véspera do início do Carnaval, o filho
prometeu convencer o pai a enviar um documento com sua defesa. Na segunda-feira,
chegou ao apartamento do jornalista uma simples declaração de inocência assinada
por Titan Viegas. Aquilo estava longe de ser uma defesa.
Já era definitivo: a matéria sairia sem a defesa de Titan Viegas, que não
quis falar. Então, que as páginas trouxessem pelo menos a foto dele. ‘Queria dar
uma cara ao fantasma. Fiz tocaia em frente à casa dele. Cheguei a me disfarçar
de fiscal, com boné do Ibama e o colete do fotógrafo. Levei um documento até a
casa dele, para que visse ao portão e assinasse. Aí meu fotógrafo pegaria a
imagem dele. Mas quem apareceu foi só a filha’.
Nesse meio tempo, um segundo envelope foi deixado no prédio onde morava o
jornalista. O conteúdo da correspondência estava ainda mais longe de ser uma
defesa. Um bilhete escrito a mão era tão metafórico quanto objetivo: ‘Não se
meta com fantasmas pra não virar mais um deles também. Assinado: Carlos
Medeiros’. Klester não deu bola. Tratou de se dedicar ao texto, que estava quase
pronto. Quase.
O seqüestro
Chovia na quarta-feira de Cinzas, 8 de março de 2000. Klester saiu para sacar
dinheiro. Foi a pé até o Shopping Iguatemi. Estava fechado. Na volta, passava
pela Rua Veiga Cabral quando dois homens que usavam máscara de Carnaval o
abordaram. Pensando que fosse brincadeira de fim de Carnaval, empurrou um para
longe. O segundo o agarrou com mais força e o empurrou para dentro de um
carro.
Já encapuzado, sentiu um cano de revólver pressionar-lhe a barriga. Uma frase
descuidada do seqüestrador levantou a suspeita de envolvimento de policiais.
Ouviu um dos homens perguntar: ‘Posso amarrar as mãos dele agora, sargento?’. A
resposta afirmativa veio num tom de voz impaciente: ‘amarra logo e não fala mais
nada’. Até hoje não se sabe se ‘sargento’ era a patente, o apelido ou o disfarce
do criminoso.
Como sair da selva?
Os músculos dos braços doíam de cansaço. Se fosse de náilon, a corda talvez
oferecesse mais resistência e ferisse ainda mais os pulsos. Por ser mais grossa,
os cabos finos que a compunham iam se rompendo lentamente por causa do
incessante atrito com a casca da árvore. Quando finalmente consegui rompê-la,
Klester arrancou o saco da cabeça e olhou para o relógio: 17h49. Precisava sair
dali antes que anoitecesse. A chuva continuava forte e apagara as pegadas
demarcadas na vinda.
Dois anos antes, ouvira uma dica de um soldado do Exército em Roraima. Se não
encontrasse uma picada na selva, que tentasse identificar de onde vinha a maior
luminosidade. Isso não era possível naquela mata densa, num fim de uma tarde
chuvosa. Restava a terceira e última opção ensinada pelo militar: localizar
árvores menores, pois elas indicam que no passado houve desmatamento por ali.
Onde há desmatamento, há presença humana. Klester subiu numa árvore de 25 metros
e visualizou uma clareira a uns dois quilômetros dali.
Andou naquela direção. Deu certo. Com o sol já se pondo, chegou a uma
rodovia. Castigados por tombos e espinhos, os joelhos sangravam. Os pulsos
também. Tentou pedir carona, mas foi invariavelmente ignorado pelos motoristas.
‘Eu parecia um mendigo. Tinha cabelo comprido e estava molhado e machucado. Quem
daria carona para mim?’. O jeito foi escolher caminhar em uma direção. Encontrou
uma casa com um terraço, em que quatro pessoas conversavam. Pediu ajuda, mas um
morador fechou rapidamente o portão e o mandou embora. ‘Se você quiser ajuda,
tem um posto da Polícia Rodoviária a uns dois quilômetros daqui, a caminho de
Belém’.
Klester tentou correr, mas não agüentou nem dez minutos. Voltou a caminhar e
avistou uma luz à frente. Chegar até ela seria uma maratona. Quando finalmente
entrou no posto policial, teve forças apenas para jogar seus documentos à mesa
do policial e desmaiar em um pequeno sofá. Antes de adormecer, ainda ouviu o
comentário. ‘Esse cara está bêbado. Deixa ele tirar um cochilo e a gente manda
ele embora’. O policial examinou sua carteira e desconfiou que estava
enganando.
Pai, é tudo bobagem
O posto policial fica a 35 quilômetros de Belém. Os policiais rodoviários o
levaram-no até sua casa. Protegido por policiais 24 horas por dia, fez exame de
corpo de delito nos dias seguintes. E recebeu ordens da direção de Veja. A
primeira: não dar entrevistas até a publicação da matéria. A segunda: ir embora
de Belém o quanto antes. Klester concordou com a primeira, mas relutou contra a
outra. ‘Por que ir embora? A matéria sairia no domingo seguinte. Eles
[seqüestradores] não são bobos. O nome do Titan Viegas estava na reportagem. Se
eu morresse, automaticamente ele seria apontado como mandante’, raciocina. O
pedido para continuar em Belém foi negado pelos seus chefes, que não concordaram
com a tese.
No sábado, Klester desembarcou no Recife, sua terra natal. A matéria sairia
na edição de número 1.640. A reportagem não foi assinada por Klester porque boa
parte abordava o seqüestro. Preocupado em poupar os pais de sofrimento, tentou
minimizar a gravidade daquilo que viria escrito nas páginas 48, 49, 50 e 51.
– Pai e mãe, vai sair uma matéria no domingo. É tudo bobagem. Não liguem,
não.
No domingo, Klester foi à praia, encontrou amigos e bebeu água de coco. ‘Sou
muito tranqüilo. Vivi um inferno, mas não fiquei traumatizado, não’. Quando
voltou da praia, abriu a porta e se aproximou do pai, que estava deitado na rede
com a revista em mãos. ‘Meu pai me puxou pelas mãos e checou meus pulsos. Viu
que, realmente, estavam bastante machucados. Ele me abraçou e começou a
chorar’.
* * * * *
* Uma conversa de 20 minutos basta para entender que Klester Cavalcanti tem o
temperamento que diz ter nesta coluna (ou ‘coluna-reportagem’, como sugeriu um
amigo). O que mais me chamou a atenção foi a tranqüilidade com que fala de uma
situação de extremo perigo pela qual passou. Mais do que isso: não se coloca
como herói. Tampouco se orgulha de dizer que foi vítima de um seqüestro. Mas se
orgulha de dizer que só depois da publicação da reportagem em Veja foi aberta a
CPI da Grilagem de Terras da Amazônia. Ele mesmo prestou depoimento à CPI em
Belém e em Brasília. Ou seja, se orgulha de ter praticado Jornalismo, na
essência da palavra.
* Foi no final de 2005 que recebi um e-mail encaminhado pelo nosso estimado e
competente colega de Comunique-se Eduardo Ribeiro. A mensagem sugeria criação de
novos cursos e era assinada por Klester Cavalcanti. Marcamos um almoço para
depois do ano novo. Quando nos sentamos à mesa do Ráscal do Shopping
Villa-Lobos, em São Paulo, começamos a falar de Jornalismo. Descobrimos um ponto
em comum: adoramos (ler e escrever) reportagens especiais. Ele falou em ensinar
a produzir livro-reportagem em nossas oficinas e cursos. Achei a idéia ótima e
folheei rapidamente os dois livros com os quais me presenteou. Não conhecia a
obra ‘Direto da Selva’ (veja a sugestão abaixo) e perguntei se o texto contava
histórias interessantes. Ele respondeu: ‘leia a contracapa’. Eu li. Relata em
oito linhas parte do seqüestro. Tecnicamente, não precisávamos conversar por
mais duas horas (e nos atrasar para voltar ao trabalho). Saí dali convencido a
ler seus livros e a planejar o curso. De antemão, indico os livros, que são
excelentes!
* Sugestões sinceras de leitura: ‘Direto da Selva – As Aventuras de um
Repórter na Amazônia’ (Geração Editorial) e ‘Viúvas da Terra – Morte e
Impunidade nos Rincões do Brasil’ (Editora Planeta). Com esta segunda obra,
Klester foi vencedor do Prêmio Jabuti em 2005 na categoria Reportagem e
Biografia.
* Atualmente, Klester é editor da revista Contigo!, da Editora Abril, que
edita também Veja. Ele vem tendo atuação decisiva na mudança da linha editorial
pela qual a publicação vem passando.’
MERCADO EDITORIAL
Milton Coelho da Graça, 22/02/06
‘Existe um forte lobby para mudar o artigo 289 da Lei das S.A. e acabar com a
obrigatoriedade da publicação em jornais de balanços e outras informações
financeiras. Há uma batalha legislativa na Comissão de Fiscalização e
Tributação, na Cãmara Federal, onde o projeto de mudança da Lei das S.A. está
sendo discutido. Se a obrigatoriedade acabar, é certo que os ‘grandes’ Gazeta
Mercantil, Jornal do Commercio, DCI e Valor, além de muitos menores pelo Brasil
afora, enfrentarão sérios problemas e até fechamento, com risco de muitas
demissões.
Tudo isso é verdade, mas a minha coluna sobre o assunto (que ainda pode ser
lida aqui) apresenta vários equívocos sérios, a maioria das quais em decorrência
de informações dadas por uma fonte que me parecia segura: o assessor de um
jornal que tem a missão de acompanhar de perto o trabalho da CFT.
Felizmente a Associação Nacional de Jornais, através de seu diretor, Fernando
Martins, enviou uma longa mensagem corretiva sobre o assunto, que me leva a
corrigir a coluna. Vou apurar melhor, não confiarei mais nessa fonte – por mais
respeitabilidade que pareça ter – e voltarei ao assunto tão logo disponha de
dados indiscutíveis.
Peço desculpas aos leitores. Nem a Veja escapou de anunciar uma planta que
dava batata e tomate ao mesmo tempo.
‘289 pode ser número de demissões
Milton Coelho da Graça
Já está redigida a sentença de morte ou duro sofrimento para vários jornais e
centenas de empregos de jornalistas. Tem o número 289 e a forma de uma mudança
nesse artigo da nova Lei das Sociedades Anônimas.
Até agora esse artigo dizia o seguinte: ‘As publicações ordenadas pela
presente Lei serão feitas no órgão oficial da União ou do Estado ou do Distrito
Federal, conforme o lugar em que esteja situada a sede da companhia, e em outro
jornal de grande circulação editado na localidade em que está situada a sede da
companhia.
Com a emenda já aprovada pela Comissão de Fiscalização e Tributação da Câmara
Federal, o 289 passaria a ser assim: ‘As publicações ordenadas pela presente lei
serão feitas em jornal de grande circulação no Estado em que for situada a sede
da Companhia.’
Como a definição de ‘jornal de grande circulação’ é dúbia, os balanços,
editais e ‘fatos relevantes’ das empresas de capital aberto poderiam ser
publicados em jornais menores do interior, tornando a nova lei algo em que
haveria perdedores e ganhadores.
Mas, no meio do parágrafo primeiro, acaba a alegria. É dispensada o uso de
jornais ‘desde que seja assegurada sua divulgação por outro meio’ – sites
especializados da Internet, é claro.
O lobby em favor dessa mudança inclui a Federação dos Bancos e a CNI, cujo
presidente, Armando Monteiro, é também presidente da Comissão. A ANJ deve estar
meio devagar, quase parando, porque os maiores jornais não terão grande
prejuízo.
A paulada maior será em cima da Gazeta Mercantil, Jornal do Commercio e DCI.
O Valor também vai sofrer, mas sua circulação paga já está acima de 50 mil
exemplares. A redação é fortíssima em política, economia e negócios, e o jornal
já está se tornando leitura obrigatória de quem precisa de boa informação nessas
áreas.
Além desses, há vários pequenos jornais, que vivem da nebulosidade do que
seja ‘jornal de grande circulação’ e vivem da publicação de balanços e editais,
cujas empresas na maioria das vezespreferem esconder. Qualquer dinheiro é bom
para esses jornais, cujas tiragens raramente passam de 2 mil.
É possível que estejamos diante do inevitável, que a entrada da Internet
nesse business seja um natural avanço tecnológico. Mas muitas dezenas de
empregos podem estar sendo imolados no altar desse avanço. Mas não seria
interessante que nossas entidades sindicais pelo menos se preocupassem com o
assunto?
******
Olhaí, pessoal, jornalismo é isso
Cada edição de jornal sempre ensina e muito e não existe curso de jornalismo
melhor do que ler jornal. É por isso que tomo a liberdade de recomendar a todos
os estudantes a leitura de algumas matérias: uma de Monica Bergamo, na Folha de
S. Paulo (somente para assinantes da Folha ou do UOL) desta segunda-feira
(20/2), as outras de Pedro Motta Gueiros, no Globo desta quarta (22/2).
Monica foi a um evento de celebridades juntamente com dezenas ou centenas de
outros repórteres e produziu mais uma de suas especialidades: descobrir uma
estória que ninguém mais enxergou, divertida, reveladora, da qual é impossível
desgrudar o olho depois que se começa a ler.
Pedro foi a Arapiraca acompanhando o presidente Lula. Além de traçar um
extraordinário quadro da miséria de Arapiraca, a segunda cidade de Alagoas e uma
das primeiras em desigualdade no Brasil, ele ainda arranjou tempo para escrever
duas matérias esportivas. Quem foi correspondente ou enviado especial em algum
momento da profissão sabe que produzir um conjunto desses numa só edição não é
fácil. E tudo de primeira qualidade.
Não deixem de ler. Valem um semestre de curso.’
MERCADO DE TRABALHO
Mudanças na Abril e na Folha e muito carnaval, 22/02/06
‘Estes tem sido dias relativamente movimentados em redações como as da
Editora Abril e, em menor escala, na Folha de S. Paulo. Na Abril, após os
anúncios da saída do presidente-executivo Maurizio Mauro e da chegada do filho
de Roberto Civita, Giancarlo Civita, para ser o vice-presidente de Operações da
empresa, agora é a vez de as mudanças abrangerem as diretorias de redação de
algumas das principais publicações da empresa. Ao todo, oito redações serão
afetadas pelas mudanças (incluindo uma da concorrência), envolvendo a troca de
cadeiras de cinco profissionais.
Rodrigo Velloso troca a Playboy pela direção de Redação do Almanaque Abril e
do Guia do Estudante, função que Cláudia Giudice ocupava até recentemente, antes
de ser promovida a diretora do núcleo de negócios Celebridades. Para o lugar de
Rodrigo na Playboy vai Edson Aran, atual diretor de Redação da concorrente Sexy,
da Editora Peixes. Aran, que já foi redator-chefe de Vip, volta a Abril para
trabalhar com Felipe Zobaran, que também acaba de deixar a Direção de Redação da
Vip para assumir o comando do núcleo de negócios Homem. O novo diretor de
Redação de Vip é Édson Rossi, que deixa a Contigo depois de liderar o mais bem
sucedido processo de reposicionamento de revista na Abril nos últimos dois anos.
Na gestão de Édson, Contigo dobrou o número de assinantes, cresceu em 20% a
venda de exemplares avulsos e triplicou a receita publicitária. Foi também a
revista brasileira de celebridades mais premiada no último ano. Édson será
substituído no comando da Contigo por Félix Fassone, até agora diretor das duas
revistas de televisão e novela da Abril: Tititi e Minha Novela. Com a promoção
de Félix, as redações dessas duas revistas responderão diretamente à diretora de
núcleo Cláudia Giudice.
A dança de cadeiras dos diretores de Redação é parte do programa de gestão de
talentos da Abril, que, entre outros objetivos, busca oferecer aos seus
profissionais a oportunidade de acumular experiências variadas, ocupando funções
diferentes num espaço de tempo relativamente curto. Dos cinco profissionais
envolvidos nas mudanças desta semana, nenhum ocupou a cadeira por mais de dois
anos. Os novos diretores vão assumir os respectivos cargos no dia 6/3.
Numa outra mudança na área editorial da Abril anunciada um pouco antes,
Eurípedes Alcântara, diretor de Redação de Veja, passou a responder também pela
direção editorial das Vejinhas São Paulo e Rio de Janeiro, que têm como
diretores de Redação, respectivamente, Carlos Maranhão e Fábio Rodrigues. Essas
duas revistas eram orientadas por Tales Alvarenga, falecido há duas semanas.
Ainda não está definido quem vai orientar Exame e Você SA, as duas outras
publicações, do Grupo Exame, que respondiam a Tales.
Na Folha de S. Paulo as mudanças atingem o Esporte, Mundo e a cadeira de
correspondente nos Estados Unidos. No Esporte, deixa o cargo de editor, após 13
anos de titularidade, Melchíades Filho, o Melk, que decidiu buscar novos
desafios profissionais. Até maio, no entanto, ele permanecerá no jornal
concluindo o projeto de reforma gráfica e editorial, que coordena desde
setembro. Melk brinca dizendo que era o único chefe das editorias diárias da
Folha que veio do milênio passado, tendo chancelado, nesse período, a
contratação de exatos 115 profissionais. O novo editor de Esportes do jornal é
José Henrique Mariante, que foi por anos adjunto de Melk e que no último ano
desempenhou as funções de secretário-assistente de Redação, área de Produção.
Para esta função, aliás, o jornal já anunciou o nome de Samy Charanek, pauteiro
de Brasil.
Outra novidade por lá foi o anúncio de que Cláudia Antunes, atualmente
estudando em Harvard, assumirá em julho a editoria de Mundo. O posto está vago
desde dezembro, quando o então titular, Vinícius Mota, foi para a editoria de
Opinião.
Por fim, após suceder Mônica Bergamo por quase dois meses, e com o retorno
desta à ativa, Sérgio Dávila voltará a ser correspondente internacional da Folha
de S. Paulo e novamente nos Estados Unidos, baseado em Washington. Seguirá com a
esposa Teté Ribeiro, em viagem que está inicialmente marcada para 12/3. Sérgio
já havia sido correspondente do jornal em Nova York, anteriormente, e passou
parte de 2004 e de 2005 em Los Angeles, por conta de uma bolsa de estudos que
ganhou da Universidade de Stanford. De volta ao Brasil, vinha atuando como
repórter especial do jornal (até suceder interinamente Mônica Bergamo, na
coluna) e como comentarista de assuntos internacionais do SBT Brasil. Seguirá
como correspondente efetivo da Folha, lembrando que a praça também é ocupada por
correspondentes bolsistas – o atual é Iuri Dantas.
Para véspera de Carnaval, até que não está nada mal. Aliás, por falar em
Carnaval, abaixo segue o calendário preparado pela correspondente Cristina Vaz
de Carvalho sobre os desfiles dos blocos de jornalistas, no Rio de Janeiro. Tem
samba para todos os gostos. Acompanhe:
22/2 (4ª feira) – O bloco Filhos da Pauta faz roda de samba para apresentar
seu enredo deste Carnaval, em Niterói. O tema – Da roda de samba ao Imaginário
Periférico – reúne uma série de homenagens, e a parceria para compor o samba
representa bem o enredo: Renato Guima (21 – 9848-2673), o artista plástico
Nivaldo Carneiro e a sambista Suely Soares. A festa será no Restaurante Monteiro
(Rua da Conceição, 55, no Centro), com entrada franca. Informações também com
Hélio Branco (21 – 2721-0785 e 9812-3627).
23/2 (5ª feira) – Sai a Banda da Rua do Mercado, criada por componentes da
Gazeta Mercantil, no tempo em que o jornal estava na Praça XV, junto com
operadores da Bolsa de Valores. O animador da banda ainda é Ricardo Moraes (hoje
no BNDES). Este ano, o tema são As Carioquices de Ricardo Cravo Albin, puxado
pelos músicos do Cordão do Bola Preta. A camiseta foi feita pelo cartunista Lan.
Concentração às 17h, em frente ao prédio da Bolsa, com saída marcada para as 19
horas. O percurso é pelo Centro Histórico: sai da Praça XV, e segue pelas ruas
Sete de Setembro, Quitanda, Rosário. O homenageado Cravo Albin, pesquisador
consagrado da MPB, retribuiu produzindo um show de grandes nomes do samba, que
será apresentado depois do desfile, por volta das 21 horas.
25/2 (sábado) – Desfile dos blocos de empolgação de Niterói na Rua da
Conceição, perto da Estação das Barcas. O Filhos da Pauta concentra no
Restaurante Monteiro (ver nota anterior) às 14h e desfila às 17 horas. O 2º
Clichê faz concentração às 17h na rua Visconde de Itaboraí, próximo ao jornal O
Fluminense, com o samba Quem é do bar não enjoa. A hora da saída ainda está
pendente, porque a Prefeitura tinha escalado o bloco para abrir o desfile mas o
pessoal reclamou do horário – impossível para os que estiverem trabalhando – e
os organizadores ficaram de dar um jeito. Conferir com Fernando Paulino (21 –
8882-7352), Sérgio Soares (21 – 9895-6646) ou Ciléa da Matta (21 –
9642-2891).
1º/3 (4ª feira de Cinzas) – Primeiro desfile do bloco Atrasa, mas …, do
pessoal do Jornal do Brasil. O nome do bloco foi submetido a uma votação interna
para completar as reticências; o resultado sai nesta 4ª feira (22/2) e as opções
mais votadas, até agora, são ‘recupera’, ‘fecha’, ‘sai’ e ‘chega lá’. O enredo
inaugural homenageia pessoas da Fotografia do jornal, e o samba Joinha é criação
coletiva, encabeçada por Daniel Ramalho, da Foto, é claro. A camiseta tem
desenho de Bruno Liberati. A bateria do Empolga às 9 (que na 4ª feira de Cinzas
já encerrou o expediente) vem com a rainha Márcia, motorista da casa. Tom e
Evelyn, da administração, são mestre-sala e porta-bandeira, no percurso para dar
uma volta na praça Paulo de Frontin. Concentração às 20h, na porta da igreja
junto à Casa do Bispo, no Rio Comprido. A Organização considera uma boa
oportunidade para todos conhecerem a nova sede do JB, e avisa aos convidados que
já falou com os batalhões da área, com o morro e, portanto, está tudo dominado.
Informações com Joana Dale (jdale@jb.com.br), na Domingo, e Ana Paula Verly
(apv@jb.com.br), na Cidade.’
WEBJORNALISMO
Alegorias com muita informação, 21/02/06
‘Não é preciso dizer que um bom site é aquele que reúne conteúdo, eficiência
e boa aparência. Não é preciso dizer também que boa aparência não se refere
somente a sites repletos de firulas. Alguns jornais online, no entanto,
conseguem ser informativos e manter uma cara pra lá de atraente. Recentemente,
foram anunciados os vencedores da edição 2006 do Digital Edge Awards, programa
da Associação dos Jornais da América (Newspaper Association of America – NAA)
que premia as ações mais inovadoras dos jornais norte-americanos no meio
digital. Uma de suas categorias, ‘Best Design and Site Architecture’ (‘melhor
design e arquitetura de site’), analisa justamente a aparência e a organização
da informação.
Em tempos de carnaval, vamos conhecer os sites cujas alegorias estão
brilhando, segundo o Digital Edge Awards.
Melhor Design e Arquitetura de Site (circulação menor que 50 mil)
Lawrence.com
Pertencente ao Lawrence Journal-World, o Lawrence.com já é veterano na
premiação. Em 2005 levou o título de ‘Best Home Page User Experience’ (algo como
‘melhor página principal voltada para o usuário’) e tem a sua ferramenta de
busca como um dos pontos mais fortes. Segundo o Digital Edge, a ferramenta
conecta de forma eficiente o leitor com o conteúdo que ele deseja. O layout –
recheado – é algo que não se vê sempre em jornais virtuais, lembrando um pouco
sites de entretenimento e de cinema.
Melhor Design e Arquitetura de Site (circulação entre 50.001 e 99.999)
Masters 2005
A página especial montada pelo Augusta.com, braço virtual do The Augusta
Chronicle, é, segundo a premiação, um modelo para sites focados em eventos.
Ainda de acordo com o Digital Edge, o Masters 2005 exibe uma apresentação
sofisticada de estatísticas e resultados esportivos.
Melhor Design e Arquitetura de Site (circulação entre 100 mil e 249.999)
KnoxNews.com
A edição online do Knoxville News Sentinel aposta em um layout simples e em
apresentações multimídia. Todo o conteúdo do site é bem categorizado. Segundo o
Digital Edge, os juízes não pouparam adjetivos para descrever o KnoxNews.com:
elegante, limpo, confortável, objetivo.
Melhor Design e Arquitetura de Site (circulação acima de 250 mil)
StarTribune.com
O design sempre limpo do StarTribune.com – braço de ferro online do Star
Tribune, de Mineápolis – parece ter chamado a atenção do júri. Em termos de
layout, o site possui o que podemos chamar de característica de um jornal online
tradicional, ou seja, mantém alguma semelhança com o layout de jornais
impressos. De acordo com o prêmio, usuários podem facilmente encontrar o
conteúdo e o anúncio de classificados que eles procuram, devido, entre outras
coisas, à página principal ‘customizável’.
Os quatro jornais online fazem bom uso de imagens, algumas complementando a
informação textual, outras meramente ilustrativas. Dois deles, o Augusta.com e o
KnoxNews, utilizam imagens grandes, porém leves, o que parece ser uma tendência.
Todos possuem suas áreas de conteúdo pensadas para monitores que utilizam
resolução de no mínimo 800×600 pixels.
Obviamente existem infinitos atributos a serem observados. No caso desse tipo
de premiação, é sempre bom conhecermos os sites – não só os ganhadores, mas
também os finalistas -, analisarmos os comentários da banca julgadora e
absorvermos as idéias que acharmos mais interessantes.
Em tempo:
– O Digital Edge Awards possui uma categoria destinada a premiar sites que
buscam de forma inovadora a participação do usuário, a ‘Most Innovative Visitor
Participation’, que foi uma grande sacada e merece uma olhada com atenção;
– O Bluffton Today, site com proposta de colaboração participativa e um dos
ganhadores na categoria mencionada acima, possui um layout simples que
particularmente me agrada;
– O PalmBeachPost.com foi finalista em cinco categorias, e o
Washingtonpost.com, em seis. Vale visitar o site da premiação e conhecer melhor
quais atributos de cada um desses dois jornais chamaram a atenção dos
juízes.’
JORNAL DA IMPRENÇA
Terceira idade, 23/02/06
‘‘Armar o bote na tarde
de olho na estrada
e na morte’
(Nei Duclós in No Meio da Rua)
Terceira idade
Nesta antevéspera de Carnaval, foram tantos os considerados leitores que
enviaram este doloroso mea-culpa do jornal A Gazeta, de São Bento do Sul (SC),
que a coluna nem dispõe de espaço para nomeá-los e, por tal razão, simplesmente
agradece a deferência e bota o bloco na rua. Eis o episódio que anda a circular
na internet e traumatizou a sociedade são-bentense:
‘ERRATA — Na edição no 2823, de segunda-feira, 06 de fevereiro, a editoria
Cotidiano publicou ‘equivocadamente’ uma mensagem para Dona Laura que fazia
aniversário naquele dia. Na ocasião, uma comunicação interna do jornal acabou
sendo veiculada, causando constrangimento não só à equipe do jornal A Gazeta,
mas principalmente à autora da homenagem, que ressaltamos, nada tem a ver com a
‘gafe’ publicada. Para tanto, deixamos registradas nossas sinceras desculpas a
toda família de Dona Laura pelo erro.’
A mensagem equivocadamente publicada foi esta:
‘Laura! Neste dia especial, quero desejar-lhe toda a felicidade do mundo.
Parabéns pelo seu aniversário. De seus netos, filho e em especial nora. (Colocar
só a véia)’
Janistraquis, que anda a confundir garanhões com Garanhuns, acha que o
pessoal d’A Gazeta se martirizou por quase nada:
‘Considerado, véia é carinhosa corruptela de velha, nada mais; pior seria se
chamassem Dona Laura de velhinha ou anciã, que são palavras assaz depreciativas;
veterana, então, seria impensável, pois transmite vislumbre de saliência. E
macróbia? Deus a livre!’
O idioma é perverso com os da terceira idade…
Primeira idade
Não percam o artigo do Mestre Alberto Dines sobre os espetáculos de besteira
protagonizados por Mick Jaegger e Bono, tudo festejado com o oba-oba geral da
mídia. Intitula-se O Brasil foi salvo pelo rock e é a manchete do Observatório
da Imprensa.
Copa do Mundo
Janistraquis está impressionado com a sagacidade do comentarista da ESPN,
Paulo Calçade, que há alguns dias comentou os problemas físicos de alguns
craques e concluiu: ‘A cem dias da Copa do Mundo, isso me preocupa muito’. Meu
secretário, que jamais se preocupou com a Seleção Brasileira, a qual, sempre e
sempre, considera favorita à conquista de todas as copas, desde 1950, quando
iniciou sua militância de torcedor, fez o seguinte comentário:
‘A preocupação do Calçade é aquela dos comentaristas verdadeiramente
espertos; se a Seleção superar seus males e vencer a Copa, tudo bem, os cem dias
serviram para deixá-la no ponto certo; se perder, o que não ocorre com
facilidade, Calçade virá a público para declarar: há cem dias eu disse que esse
time me preocupava; deu no que deu…’
Barra pesadíssima
Li em voz alta para Janistraquis esta matéria do UOL, cujo título é deveras
assustador — Homem mata companheiro de quarto por falta de papel higiênico.
Agachado sob tal absurdo, lia-se o texto:
Franklin Paul Crow, de 56 anos, foi acusado formalmente ontem pela morte de
Kenneth Mattews, de 58, seu companheiro de quarto e a quem agrediu com um
martelo, segundo a Polícia do condado de Marion, ao norte de Tampa, no estado da
Flórida.
Impressionado, meu secretário balbuciou:
‘É terrível, considerado, e quando você leu o título eu tive certeza de que
se tratava de crime cometido por militante do PT, cuja sede tem poucos banheiros
pra tanta m… e o papel higiênico nunca dá pra todos!
(Vale uma chegadinha ao Blogstraquis para ler a íntegra da bizarrice)
Verdades rígidas
Leiam excerto abaixo e confiram no Blogstraquis a íntegra do excelente artigo
de João Sayad publicado na Folha de S. Paulo:
O Brasil é o país da tolerância. Aqui, Ogum é S. Jorge e a Virgem Maria,
Iemanjá. Sofremos do melhor racismo do mundo, ainda que continue sendo racismo.
Os negros se consideram brancos e os brancos dizem que gostariam de ser negros.
Ricos toleram os pobres e pobres agradecem a tolerância.
Somos pragmáticos diferentes dos americanos. Não precisamos conviver com
verdades rígidas. Aqui a verdade é menos nítida, convive bem com contradições.
Seríamos um país admirável se tanta tolerância não for apenas fruto de
indiferença.
Personagens fictícios?
O considerado Pedro Aurélio, que é, certamente, apaixonado pelo jornalismo
investigativo, envia mensagem ao colunista para manifestar sua desconfiança a
respeito de alguns colaboradores de Janistraquis:
Andei procurando entre os cadastrados do Comunique-se e não encontrei alguns
nomes citados na coluna; essas pessoas existem mesmo ou são inventados pelo
considerado?
A dúvida é procedente, pois neste país que nem fraude explica (para recordar
uma frase do saudoso Carlito Maia), ocorrem falcatruas do arco da velha. Não
seria nada demais se os personagens fossem fictícios, porém devo lembrar ao
considerado Pedro Aurélio (e talvez a outros tão escabreados quanto ele) que
esta coluna tem a honra de ser transcrita no Observatório da Imprensa e ali
recebe atenção de um público enorme e qualificado. E há também os que escrevem e
assinam com pseudônimo e a coluna os aceita, quando suas mensagens não agridem a
honra de ninguém.
Sempre em forma
O considerado leitor que deseja realmente se informar sobre os acontecimentos
do Oriente Médio não precisa perder tempo com outras mídias geralmente
superficiais e/ou confusas; basta ler os textos do Mestre Nahum Sirotsky, que
hoje, aos 80 anos de idade, continua tão bom ou até melhor do que nos tempos da
Editoria Internacional do excelente Jornal do Brasil dos anos sessenta.
Confira no Último Segundo.
Muvuca
Leia no Blogstraquis o sensacional artigo do Professor Deonísio da Silva,
jornalista e escritor de escol, originalmente publicado no Jornal do Brasil. Eis
um trechinho:
(…) É prova de mesquinhez a venda solitária de livro autografado por amigo,
ainda que o sujeito o tenha comprado em sessão de autógrafo. Quem, em vida do
autor, vende um livro autografado, se era seu amigo, ipso facto deixou de ser.
Marketing agrecivo
Assinada por um certo Luiz Torres, da revista Seleções, o colunista recebeu a
seguinte mensagem, intitulada Clique na chave para descubrir qual carro 0km
poderá ser seu!
Boas notícias, Moacir!
Tenho o prazer de anunciar que seu nome superou com sucesso duas etapas para
participar do 13º Grande Concurso SRD: a seleção dos participantes e possíveis
finalistas e a atribuição de seu Código Pessoal de Acesso. Agora só resta a
terceira e última etapa: a apuração dos ganhadores. Suas chances de ganhar nesta
etapa decisiva dependem inteiramente de você, Moacir.
Pedi a Janistraquis para descobrir se enlouqueci, posto que também deixei de
beber, como o presidente Lula. É que nada sei a respeito deste Grande Concurso e
meu convívio com Seleções do Reader’s Digest se deu por meio de minha falecida
mãe, leitora da revista entre 1942 e 1951.
Fico a imaginar se este tipo de marketing funciona mesmo.
Proclamação
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal em Brasília, de
cuja varanda debruçada sobre a vida real dá pra ver O Abstêmio embriagar-se com
as pesquisas de opinião, pois Roldão voltou-se para o passado desta infeliz
Nação e escreveu o seguinte bilhete ao diretor da revista História Viva:
A edição de fevereiro, página 88, diz que a Proclamação da República foi em
1891, quando todos sabemos que foi em 15 de novembro de 1889; não é?
Nota dez
Intitulado Exclusão sem choro nem vela, pertence à generosa lavra do poeta,
escritor e jornalista Nei Duclós o bem escrito, bem pensado e bem vivido texto
abrigado na editoria Em Pauta deste portal. Avalie o tom:
Quem trabalha em redação sabe: os veículos de comunicação, em geral, não
gostam de arriscar em pessoas desconhecidas e por isso vivem ocupados com as
mesmas personalidades. É um vício de marketing: você reitera o Mesmo, que pode
ser rapidamente identificado. Há também um fator estratégico: destacar alguém
desconhecido significa, num sistema de vasos comunicantes, insuflar o prestígio
do jornalista ou do veículo em quem não tem ainda prestígio. É o famoso ‘colocar
azeitona na empadinha alheia’.
Errei, sim!
Leitor desta coluna, que prefere o sossego do anonimato, literalmente exumou
este inesquecível anúncio fúnebre publicado no Estadão em 10/01/1981: ‘É com
prazer que a Diretoria e Funcionários da Terrafoto S/A comunicam o falecimento
do seu colega ENG.o SERGIO…’ (segue-se o sobrenome, que omito por respeito ao
falecido). ‘Na verdade’, sentenciou Janistraquis, ‘a diferença entre prazer e
pesar é mínima; só depende da honestidade do uísque.’ (agosto de
1993)’
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