JB
Milton Coelho da Graça
Se der certo, vai virar discurso de Lula, 19/04/06
‘Nunca houve nada igual, o JB realmente inovou. Manteve o formato tradicional para os assinantes mas imprime também outra edição, para as bancas, em formato novo (470mm x 270), nem Berliner nem tablóide. Ficou com o nem-nem também no preço. Custa 75 centavos, bem abaixo de O Globo, Folha e Estadão, um pouco abaixo de O Dia e Extra, e bem acima (50%) dos assumidamente populares (Meia Hora e Expresso).
O projeto dessa edição para bancas é do Ziraldo, que já há algum tempo tornou-se o editor de arte de todo o jornal, com a costumeira competência. Mas a estratégia do JB é surpreendente, porque o jornal tem muito pouco conteúdo novo: Paulo Caruso na Revista de Domingo, a troca de Márcia Peltier por Fred Suter, Renato Gaúcho como cronista de futebol. Lílian Witte Fibe foi anunciada mas ainda não apareceu.
Qualquer estratégia de buscar público por conta do preço é desmentida pelo reduzido espaço (estou falando da edição desta quarta, 19/4) dado às editorias de Cidade, Polícia e Esporte: menos de oito páginas. Em Polícia, só meia página de matéria do dia. O jornal continua claramente voltado para seu público-alvo tradicional.
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Colunas de domingo e segunda: perigo!
O ‘pescoção’ é uma praga e escrever na sexta-feira coluna noticiosa para a edição de segunda é um dos maiores riscos no jornalismo diário. Ilimar Galvão é praticante dessa corda bamba e, pior, só nesse dia fatídico, como substituto de Tereza Cruvinel, no Globo.
Aprecio muito o trabalho do Ilimar, por isso deixei pra lá esta brincadeirinha durante três semanas. Mas foram muitos os e-mails sobre o caso e, como digo a meus alunos, nem mamãe escapa se for notícia.
No dia 27 de março, o título da coluna do Ilimar foi ‘Palocci resiste’. E a primeira frase era categórica: ‘Apesar de toda a pressão, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não deve deixar o cargo’. Nessa segunda, o ministro disse adeus.’
JORNALISMO ECONÔMICO
Um ministro de tirar o sono, 24/4/2006
‘Ter um ministro da Fazenda como Guido Mantega é perder noites de sono. Mantega deve estar fazendo isso com o presidente Lula. Logo que assumiu, todo mundo sabia que, primeiro, ele não era a melhor alternativa ao cargo, era uma espécie de tampão de nome possível dentro de uma conjuntura eleitoral segundo a qual quem não está com a imagem queimada vai tentar alguma coisa nas urnas. Além disso, não se deve esquecer que sua administração no Planejamento foi marcada por disputas conceituais de condução da política econômica com seu antecessor, Antonio Palocci. Mantega nunca concordou com a evolução da taxa de juro nem com o cumprimento à risca das metas estabelecidas para o déficit público.
Suas primeiras falas, em torno de um juro mais flexível, causaram, como não convém, medo no mercado. Há amarras na economia que garantem vários indicadores. Mexer numa ponta, por mais simpática e eleitoreira que possa parecer a medida, pode desencadear um desajustamento sem precedentes. Exatamente o que aconteceu antes do Real e que fez o País perder ganhos importantes. Lula sabe disso, sabe que não pode pôr em risco a credibilidade do País, as notas que tem recebido das agências internacionais de risco, o desempenho da balança e a certa estabilidade em termos de crescimento econômico. Ainda que não seja o espetáculo que esperava, é crescimento. Além disso, não está ruim nas pesquisas eleitorais, portanto seria risco desnecessário.
O novo ministro teve de ser desmentido pelo próprio presidente logo no começo, quando Lula veio a público quase dizendo que ele, Lula, era o guardião da economia, seu maior fiador, e que não havia mágica a ser feita, que em economia não existe mandrake.
Agora, o mesmo ministro tira o sono do presidente. No exterior definiu-se como ‘não-ortodoxo’, e que ‘o superávit é de 4,25% do PIB, mas tem gente que gostaria que fizéssemos um superávit maior. Quem são eles? São os ortodoxos. Eu não sou ortodoxo. Eles são aquelas pessoas que não gostam dos programas sociais que o governo faz. Não dizem isso claramente, mas falam dos gastos sociais, que estariam aumentando’. Em outras palavras, Mantega tende a ser mais populista. Agrada o presidente, mas certamente põe em risco a estabilidade.
O ministro, certamente alertado pelo chefe, baixou a bola e disse que o governo se compromete a manter a ‘forte política fiscal de gerar um superávit fiscal primário de pelo menos 4,25%’ em relação ao PIB. Ele está na reunião do Comitê Financeiro e Monetário Internacional de primavera do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial.
Talvez pelo cenário, ou para querer mostrar-se marcante, o ministro sai com declarações como essas. Quando foi nomeado, a intenção certamente era bem outra. Mantega não tem que fazer nada, apenas ficar à espera do fim do mandato. Se as pesquisas se mantiverem fortemente favoráveis ao presidente, sorte da economia. Se Lula cair, bem, aí tudo poderá acontecer.’
SINDICALISMO
Eleições no SJPSP: chapas brigam por lista, 24/04/06
‘A listagem completa com todos os jornalistas sindicalizados aptos a votar nas eleições para a diretoria do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo já está nas mãos da Chapa 2 – Democracia pra Valer, Sindicato é Pra Lutar!. Na relação, os associados estão divididos por regional ou cidade, contendo nome, endereço, telefone, correio eletrônico e local de trabalho.
Na semana passada, a polêmica em torno desta lista ocasionou na ordem de prisão do vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Fred Ghedini, atual presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e também membro do conselho de diretores da Chapa 1. O juiz Samir Soubhia, da 22ª Vara da Justiça do Trabalho, concedeu, na última quinta-feira (20/04), uma liminar obrigando a direção do SJPSP a fornecer a lista.
Três oficiais de justiça foram até a sede do sindicato para retirar a relação. Como, mesmo mediante a liminar, o sindicato não a disponibilizou, foi dada a ordem de prisão a Fred Ghedini, que foi levado à sede da Polícia Federal de SP. Ghedini explicou, através de comunicado publicado no site do sindicato, que não entregou a relação por não ter a senha e não saber operar o software do banco de dados do sindicato. ‘É verdade que já havíamos entregado à Comissão Eleitoral que dirige o pleito no SJSP e à própria Chapa 2 parecer de autoria da Coordenadora do Departamento Jurídico do Sindicato, a advogada Silvia Neli, segundo o qual a Constituição Federal não nos permite liberar dados pessoais de associados a terceiros. Mas também temos plena consciência que uma ordem judicial deve ser cumprida, sem delongas. Se não pudemos fazê-lo, foi porque os oficiais de justiça chegaram ao sindicato após o horário de trabalho, quando o funcionário responsável pelo cadastro já havia ido embora’.
Segundo o advogado especializado em processos eleitorais Ricardo Penteado, o sindicato tem o direito ao sigilo das informações contanto que garanta a igualdade na veiculação da propaganda das duas chapas. ‘Não se pode entregar uma peça de tamanha importância a um grupo que pode vir a fazer bom ou mau uso do material’, diz o advogado.
No entanto, a oposição acusa o SJPSP de já ter fornecido o mailing de seus associados para políticos e empresas, como a Mega Brasil, do jornalista Eduardo Ribeiro. Procurado por nossa redação, o colunista deste Comunique-se afirma que a Mega Brasil nunca teve acesso a nada. ‘Não faço a menor idéia de onde eles vieram com essas acusações’, diz ele.
Um outro caso resultou na revolta da chapa de oposição. Na segunda-feira passada (17/04), um material específico da Chapa 1 foi enviado para 850 aposentados sindicalizados. ‘Foi um erro e, assim que detectamos isso, enviamos o material da Chapa 2 para a mesma lista’, diz Ghedini.
Logo depois de entregar a lista à justiça, Ghedini concedeu uma entrevista ao Comunique-se e disse não estar preocupado. ‘O que aconteceu foi uma violência contra o sindicato e seus membros. Todo o material era enviado igualitariamente para ambas as chapas e, agora, a Chapa 2 está com uma vantagem. Só que, sinceramente, não é uma relação que vai fazer alguém ganhar eleição’.
As eleições para a Diretoria, o Conselho Fiscal e outros órgãos diretivos do SJSP começam nesta terça-feira (25/04) e serão encerradas na quinta (27/04), na sede do SJPSP, nas regionais e em várias redações do Estado. Para votar, o associado deve apresentar qualquer um dos seguintes documentos: a carteira de identidade de jornalista (Carteira da Fenaj), RG, Carteira de Trabalho, carteira de motorista com foto ou crachá da empresa/ identidade funcional.’
JORNAL DA IMPRENÇA
Jamanta não viu, 20/04/06
‘Na janela do trem cruza uma estrela
Esporas sapateiam na varanda
Um enrosco de açoite ronda o vento
(Nei Duclós in Partimos de Manhã, no prelo.)
Jamanta não viu
O considerado Paulo Alberto Rocha Santos, de São Paulo, envia excerto de matéria publicada na Folha de S. Paulo, no qual se lê, sob o título Campanha sobre auto-suficiência em petróleo começa hoje na TV:
(…) Lula deve fazer seu pronunciamento no dia seguinte, 22 de abril, data do Descobrimento. O presidente ressaltará a importância de ser auto-suficiente e a conquista que a Petrobras alcançou durante sua gestão. No ano da reeleição, será uma bandeira a ser usada no marketing da campanha.
Rocha Santos ficou revoltado:
Conquista que a Petrobras alcançou durante sua gestão… Lula quer ver ‘este país’ convencido de que ficou auto-suficiente em petróleo por causa dele e do PT. E essa auto-suficiência vai, por acaso, baratear os combustíveis? Pergunto a Janistraquis se ele já viu coisa mais nojenta do que essa propaganda eleitoral.
Assim como o Jamanta da novela, Janistraquis não viu.
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Cueca e literatura
Heloisa Machado mandou para Luís Lara Resende que mandou para Janistraquis, que publicou a maravilha no Blogstraquis. Dê uma passada por lá e veja como aquele escândalo do dinheiro na cueca foi capaz de ‘inspirar’ a literatura de todo o mundo. Como diria Bocage, tremei, humanos, deste mal profundo!
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O protesto da falecida
A considerada Lorena Pires Rostirolla nem precisou abrir a Folha de Londrina para tomar um susto daqueles, pois esta chamada jazia na capa do jornal de sua terra:
Família fica revoltada com protesto de falecida.
Lorena imaginou logo que a tal falecida deveria ter boas razões para voltar do além e exercer seu direito à indignação, assim como faz o ministro Marcio Thomaz Bastos, que também está morto e não sabe.
Porém a matéria, sepultada à página 10, se referia a outro tipo de protesto:
A família do servidor público Carlos Tworkowski, de Curitiba, está indignada. Segundo Carlos, o nome da mãe dele, Lizete, está num cartório de protesto, no Serasa e no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) devido a dívidas da conta dela no banco Itaú. O detalhe é que Lizete faleceu em agosto de 2001. A família aponta que já negociou o encerramento da conta e efetuou o pagamento.
Leia no Blogstraquis a íntegra da matéria ‘que foi feita para você’, como diz a propaganda do Itaú.
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Neologismo
O considerado Miguel Mota, de São Paulo, passeava os olhos pelo UOL quando deparou (ele não se deparou, como falam e escrevem os desavisados; simplesmente deparou) com esta declaração do craque Sylvain Wiltord, pentacampeão francês pelo Olimpique de Lyon:
Nossa conquistência valeu a pena. Tivemos muitos altos e poucos baixos e agora estamos entre as lendas.
Miguel tanto adorou a conquistência do UOL (leia a íntegra da matéria em http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas/2006/04/15/ult59u101484.jhtm) que até preparou uma armadilha para Janistraquis:
Será que é o alemão que não sabe a língua portuguesa ou quem escreveu é que não sabe a língua alemã? Por acaso você sabe traduzir conquistência para o alemão?
Meu secretário, que aceita toda e qualquer provocação, encarou mais esta:
‘Considerado, a tradução alemã para o belo neologismo conquistência é, com toda certeza, konkistenz; pelo menos é o que nos ensina Emmanuel Kant, o Mestre de Koenigsberg. Porém, o que a língua alemã tem a ver com isso se o craque Sylvain Wiltord é francês?!?!?!’
(Obs.: o colunista não põe a mão no fogo pelo alemão de Janistraquis e acha que Kant nada tem a ver com a história.)
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Praga arretada!
A considerada Marcia Vasconcellos, de São Paulo, leu, viu e ouviu quase tudo o que se falou e se escreveu a respeito dos ‘maus tratos’ infligidos à gentil senhorinha Suzane Von Richthofen e resolveu rogar a seguinte praga aos defensores dos ‘direitos humanos’:
‘Desejo a todos que tenham uma filha igualzinha a ela.’
Janistraquis adorou.
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Romeu Tuma
E por falar na criminosa Richthofen, o considerado leitor deu uma olhada no artigo do senador Romeu Tuma na Folha de S. Paulo? Se bobeou, visite o Blogstraquis, que reproduz o texto de um homem versado nesses assuntos; afinal, pieguice é coisa de amadores e as pessoas inteligentes sabem que as leis devem ser interpretadas e não cumpridas ao pé da letra.
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No bolso
Frase do ‘ministro’ dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, reproduzida pelos jornais:
O MST é mal compreendido. É um movimento que tem compromisso com as leis e com as regras da democracia. Ele evita o que ocorre, por exemplo, em outros países, como uma guerra civil.
Janistraquis leu e expeliu:
‘Ou esse sujeito é um completo idiota ou acha que somos todos uns cretinos.’
É mesmo. O ‘ministro’ poderia ter enfiado a língua no… no bolso.
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Veadagem
O considerado Fernando Paiva, que é macho que nem um calango, na sertaneja avaliação de Janistraquis, quedou-se desolado com esta notícia do Meio & Mensagem Online:
Playboy prepara lançamento para o público gay
A Playboy, mais conhecida marca de revista masculina do mundo, prepara o lançamento de sua primeira versão para o público gay. A base do lançamento da empresa americana será a Inglaterra, segundo notícia do The Times of London. A iniciativa busca empurrar o faturamento da empresa para além dos US$ 329 milhões, do último ano. A idéia faz parte de um projeto de diversificação, que quer estender a marca para mulheres e em regiões onde o público gay seja significativo.
Janistraquis, que anda num pessimismo atroz, resmungou:
‘Só falta a Playboy brasileira seguir o mesmo caminho e botar na capa o Paulo Okamoto com tudo à mostra’.
Protestei, pois Okamoto não é gay e a coluna jamais abrigaria tais insultos a uma figura honestíssima, porém meu secretário contra-argumentou:
‘Desculpe, mas esse negócio de pagar despesas de amigo íntimo e ficar na moita não é comportamento de homem.’
Taí, é bem pensado.
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Tecnologia
Publicado na editoria de esportes da Folha de S. Paulo:
O QUE VER NA TV
10h30 – Real Madrid x Real Sociedad
Campeonato Espanhol – VT
ESPN – ao vivo
Janistraquis, que anda impressionado com as festas de Brasília e deu pra confundir banquete com boquete, festejou a novidade:
‘Do cacete, considerado, do cacete! O que é a tecnologia, hein? Há poucos anos nem existia VT e agora a gente tem o VT ao vivo… Então, podemos até torcer fervorosamente por um time que já perdeu a partida, né mesmo?’
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Texto de jornal
O considerado leitor Ewerton Clark Petrovski, de Santa Catarina, implicou com esta chamada de capa da Folha Online:
Pai esquece filho no carro e menino morre
O bebê de um ano e três meses morreu asfixiado e com queimaduras pelo corpo de segundo grau.
Petrovski, que é estudante de jornalismo, pede licença para fazer pequeno reparo:
A meu ver, estaria melhor escrito assim: ‘O bebê… morreu asfixiado e com queimaduras de segundo grau pelo corpo’. O que Janistraquis acha?
Acha perfeito, Petrovski, perfeito, pois ordem indireta não combina com texto de jornal.
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Projetos sociais
O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão arreganhado para a vida real vê-se o presidente Lula à frente da cruzada contra a CPI dos Bingos, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando deparou com esta notícia de repercussão internacional:
Uma turista norte-americana, de 50 anos, radicada em Belo Horizonte (MG), foi assaltada e estuprada por três homens, enquanto passeava sozinha no Parque Nacional de Ubajara, região cearense a 390 km de Fortaleza (…) Há poucos anos no Brasil, ela atua, em Minas, em projetos sociais de combate à violência.
Mestre Roldão estranhou:
‘Turista radicada em Belo Horizonte? Então a estuprada, cujo nome foi ocultado, está no Brasil em situação irregular pois não é mais turista.’
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Nota dez
Sob o título Ai, Jesus!, o mestre Sérgio Augusto deitou e rolou no caderno Aliás, do Estadão. Leia excerto abaixo e confira o texto original no Blogstraquis:
O deputado petista Josias Gomes levou muito mais do que 30 moedas de prata do valerioduto. Foram, no total, R$ 100 mil; e por isso o Conselho de Ética da Câmara recomendou sua cassação. Perguntado se não temia a cobrança da opinião pública, o parlamentar baiano saiu-se com esta: ‘A opinião pública também erra.’ Erra, mesmo, mas se vaiar Josias nas ruas e nunca mais elegê-lo, estará fazendo a coisa certa. Até porque Josias, não satisfeito com o que já dissera, acrescentou: ‘Jesus Cristo também foi punido pela opinião pública.’
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Errei, sim!
‘PEGA-REPÓRTER – Refugiado sob o título Polícia investiga assassinato de recém-nascido, o texto do Jornal de Brasília mandou ver: ‘O crime foi tomado como homicídio, porque a pessoa matou a criança depois que esta já havia nascido, disse o delegado’. A autoridade, que se chama Cléber Monteiro Fernandes, da 17a DP de Taguatinga, certamente anda atrás do assassino e do repórter.’ (agosto de 1994)’
COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
A multiplicação das contas, 19/04/06
‘Chega a impressionar o que de tempos em tempos acontece com o mercado das agências de comunicação. São contas e mais contas entrando (claro, ninguém fala das contas que está perdendo, com raríssimas e honrosas exceções), num movimento que não deixa dúvidas sobre a importância que o segmento tem hoje no mercado da comunicação. Só em São Paulo, nessas últimas quatro semanas, por exemplo, foram perto de 30 as agências que comunicaram a conquista de novas contas, mostrando, neste caso, que em casa de ferreiro o espeto é de ferro (ou seja, as agências que ganham para fazer divulgação dos outros também aprenderam a falar de si mesmas – e bem, é claro).
De certo modo, as agências de comunicação se espelham, neste caso, nas primas ricas, ou seja, nas agências de propaganda que há anos, muitos anos, têm feito isso com destreza, valendo-se da mídia especializada para divulgar suas conquistas.
Claro que há uma certa overdose de divulgação, a ponto de muitas agências preferirem juntar um número considerável de contas conquistadas para fazer a divulgação em bloco. Dá mais consistência e nobreza à divulgação, sobretudo se são clientes menores, desconhecidos.
Nesta terça-feira (19/4), por exemplo, uma das conquistas foi anunciada pela Fundamento, agência dirigida por Marta Dourado. Foi uma bela conquista: a conta da ABB – Asea Brow Boveri – unidade Brasil, empresa com 120 anos de atuação e presente no Brasil desde 1912, que possui a maior base instalada de robôs industriais no mundo, com 120 mil unidades, e um conjunto de tecnologia com mais de 16 mil patentes. A conta será atendida pela equipe de profissionais da Unidade de Negócios de B2B & Serviços, que conta também entre seus clientes com a MasterCard e a Royal & SunAlliance Seguros.
A Casa da Notícia, de Nereu Leme, agência que já caminha para os 20 anos de vida, também tem bastante a festejar: passou a atender o site Webmotors (portal de informações do setor automotivo) e a agência de propaganda Fess, com atendimento respectivamente de Marcos Camargo Jr. e Ana Paula Joaquim.
Se uma é pouco, duas é bom, três contas, no caso de uma agência de comunicação, é bom demais. E esse é o número de contas novas conquistadas pela filial brasileira da norte-americana The Jeffrey Group Brasil, dirigida por Ediana Balleroni. Foram conquistadas as contas da Centigon, Irdeto e GMI. O atendimento para a Irdeto, provedora de segurança de dados para conteúdos digitais, engloba toda a América Latina e ficará a cargo de Robson Melendre e de Juliana Monteiro. A Centigon, líder mundial em blindagem de veículos, e a GMI, que desenvolve tecnologia para empresas de pesquisas, serão atendidas por Virgínia Gaia, recém-chegada da Scritta, e por Marcos Carvalho. Juliana e Marcos eram estagiários da própria TJG e foram promovidos a executivos de atendimento.
Temos aí um empate: do mesmo modo que a The Jeffrey Group, também a Bansen, de Bia Bansem, conquistou três novas contas: Bizz (revista de música da Abril), Grass Roots Bit Time (agência internacional de programas de incentivo e fidelização) e Narita Design (criadora de marcas e embalagens). Clean Barros atende a Bizz, a própria Bia cuidará da Grass Roots e Marília Schumann e Yara Bonafé ficam responsáveis pela Narita Design.
O recorde é da FirstCom, de Índio Brasileiro Guerra Neto, Luís Claudio Allan e Roberto Constante, que acaba de anunciar a chegada de nada menos do que seis novas contas ao seu portfólio de clientes: Citizen Relógios, Planeta Imóvel, General Optical, Scheiner, Mondial Assistance e Instituto Crescer para Cidadania. Com a implementação do conceito B2B – Brand-to-Business, a agência informa que já superou a marca de cem clientes, entre os quais incluem-se CVC Turismo, Speedo, Gustavo Borges, Palm, Market Plaza, Vivenda do Camarão e Instituto Barrichello Kanaan.
Num passeio pelas várias agências e conquistas registradas, vamos encontrar até a carioca RPM que fechou um bom trabalho em São Paul: cuidar da divulgação do Pro Rad, evento internacional de esportes radicais (patins in-line, moto freestyle, big air, bike vert etc.) realizado pela Rede Globo e produzido pela RM Sports, que ocupará o Ibirapuera, em São Paulo, no mês de maio. O Sportv transmitirá as competições às 6ªs.feiras, das 15h30min às 17h, e a Rede Globo, aos sábados, das 10h às 11 horas. O atendimento será feito pelo Núcleo de Esportes da RPM, à frente, Lívia Rodrigues e Flávia Flores, com apoio do escritório da RPM de São Paulo.
A Planin, de grande tradição no atendimento a contas de tecnologias, assumiu a assessoria da CPM, empresa dedicada à consultoria de TI, outsourcing de aplicativos e fornecimento de produtos e serviços de infra-estrutura.
Para esse atendimento, a agência destacou Heloisa Godoy, que atua dentro da própria CPM. Trata-se de uma conta que passou a integrar o núcleo de TI da agência, o qual é liderado por Lívia Queiroz, com coordenação de Fabíola Ditomaso e direção de Angélica Consiglio.
Tem mais, muito mais.
A Printer Press, agência que tem sede em São Caetano do Sul, fechou com a Schneider Electric, empresa mundial que atua no segmento de produtos e serviços para distribuição elétrica, controle e automação, presente em 130 países e com mais de 89 mil funcionários. A direção de atendimento é de Rosângela Ribeiro, com apoio da gerente Graziela Voltarelli e da assessora Tatiana Carvalho.
Já a Editor, de Edison Paes de Melo, fechou contrato para a realização de três novos jobs: a visita do Dalai Lama a São Paulo, entre 27 e 29/4; a turnê do Cirque du Soleil no Brasil, em agosto; e o evento de lançamento do Bonviva, novo medicamento da Roche para osteoporose. No atendimento Sylvio Novelli, Lúcio Nunes e Régis Motisuki.
A Multi Comunicação passou a atender a Gráfica Santa Marta, com sede em João Pessoa e filiais em São Paulo, Brasília, Belém, Fortaleza, Salvador e Recife. Quem está atendendo este cliente é a Teresa Maciel.
Temos a tradicional LVBA, dirigida por Gisele Lorenzetti e Flávio Valsani, também com novidades. A agência conquistou a conta da ASAF, associação que representa e defende os advogados da Fundação Estadual Prof. Dr. Manoel Pedro Pimentel de Amparo ao Preso (FUNAP). E a entregou para ser atendida por Clézia Gomes e Rodrigo Garutti.
Até Cemitério hoje não abre mão de buscar nas assessorias de imprensa a oportunidade de ampliar sua divulgação na imprensa. O Cemitério Parque dos Pinheiros, por exemplo, localizado na Zona Norte de São Paulo, acabou contratando a Amanajé, de Carlos Marcondes, para fazer esse trabalho, com atendimento de Daniel Banin e supervisão do próprio Marcondes.
Nome exótico de assessoria também não falta. Nem conta para ela.
Vejamos: o Grupo Kantharos & Oficina de Comunicação está com duas novas contas, o Lean Institute e a AVC Group. O primeiro é uma entidade de pesquisa, educação e treinamento dedicada à disseminação do conjunto de idéias chamado Lean Thinking, baseadas no Sistema Toyota de Produção. A segunda, com matriz em Taiwan, é uma fornecedora de coolers para processadores. Essas contas passaram a ser atendidas na agência pela Fran Oliveira e Ana Claudia Proença.
Cansou? Não? Que bom, pois a lista prossegue.
Temos ainda a Way Comunicações fechada com o Shopping Jardim Sul, no Morumbi (atendimento de Bete Faria Nicastro e Aline Nicastro); a Pórthia atendendo a Federação de Taekwondo do Estado de São Paulo (Camila de Andrade, no atendimento); a GWA, de Waldomiro Carvas, cuidando da divulgação da 9ª Feira do Estudante – Expo CIEE, que acontece de 14 a 16/7, em SP (no atendimento, Regiane Tosatti, com coordenação de Clau Duarte); a CSK, de Cléa Stolear, com a Newlink Communications (Miami) divulgando o 12º Prêmio Bravo de Negócios, promovido pela revista Latin Trade; a Allameda cuidando da assessoria da DTS Latin America, provedora de software e consultoria em TI (com atendimento de João Carlos de Brito); a Activa Comunicação com dois novos clientes: a Med-Rio Check-up, empresa especializada em check-ups médicos para executivos, e a Drograderma, laboratório de manipulação e produtos dermocosméticos industrializados (quem atende é Thaís Murbach); e a IMS (Interamerican Marketing Solutions) passando a atender a BitDefender, empresa européia voltada ao desenvolvimento de soluções de segurança para proteção do ambiente informático (no atendimento, Daniela Giuntini).
No Rio de Janeiro, temos a Factual anunciando que vai divulgar os eventos comemorativos dos 60 anos do Ponto Frio.
A agência também fechou, pelo 2º ano consecutivo, com o festival gastronômico Rio Bom de Mesa, em junho, reunindo restaurantes da Associação da Boa Lembrança (no atendimento das duas contas, Marcelo Nogueira). Temos ainda a Plano1, de Marcela Esteves, Carina Freitas e Rosana Vasconcellos, assumindo o atendimento ao restaurante Pistache, à grife de biquines Rygy e ao escritório de arquitetura Arch Office. A Tá no Briefing, de Celso Corga, com a Rica Alimentos, empresa que está há 34 anos no mercado e há cinco anos lidera no Rio a produção de carne de frango. E finalmente a Coletivo, de Lise Morosini, voltando a atender a Associação Brasileira Terra dos Homens, ONG que trata de adolescentes em situação de risco social e pessoal. A agência divulga também o lançamento do CD produzido pelo Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida.
A lista é certamente maior, mas com essa ‘pequena’ amostra dá para se ter uma idéia do quanto ainda movimentado e agitado esse mercado, que a cada dia fica mais competitivo.’
DIRETÓRIO ACADÊMICO
O monstro que me faz rir, 17/04/06
‘O jornalismo vive do e para o ser humano. Esse é um dos pontos que mais me fascinam na nossa profissão. É diferente de determinadas atividades que, por fundamentais que sejam, individualizam e limitam as relações a Maria, João ou Saturnino. O jornalismo é a grande crônica da existência. João é um monte de Joões, não na concepção de Garrincha, o jogador que assim denominava todos os seus marcadores, mas no pensamento de que, se um João agir, pensar ou sentir assim, muitos outros o farão em cada porçãozinha dessa ínfima esfera da Via Láctea- num mosaico de milhares de nomes que contarão a história de todos os outros.
Lançado este raciocínio, quero me ater a um exemplo. Tempos atrás, li uma resenha biográfica sobre um outro gênio, o inquieto e surpreendente Peter Sellers. Não me recordo do autor nem do veículo, mas da essência. O comediante- dizia o crítico, em palavras tônicas- seria um sujeito dos piores. Um embrulho de peixe podre, ilustro eu. O próprio peixe podre. A podridão em si mesma.
Fiquei com isso na cabeça. Há algumas semanas, na noite do meu aniversário, eu e alguns poucos artistas colorimos o ambiente de um restaurante italiano da Rua Augusta. Pois, mesmo na Augusta, com todas aquelas putas na rua e nas casas circunvizinhas, nada mais colore um ambiente do que uma meia-dúzia que lista as falhas morais de uma meia-dúzia respeitada pelo cérebro da coletividade.
‘Dalí traiu Buñuel’, expressou um dos nossos. ‘Coisas ideológicas’. ‘Chaplin era má pessoa’. ‘Sério?’. ‘Bom, é o que o Marlon Brando diz numa entrevista à Playboy’. ‘É, o Chaplin humilhava o filho dele na frente de todo mundo’. ‘Você sabia que uma das mulheres dele era garota de programa?’. ‘Sério?’. ‘Foi antes de filmar’. ‘Ahhh…’. ‘Quem também não prestava era o Peter Sellers’. ‘Sério?’. ‘Verdade, ele era um monstro…’. ‘Não diga isso, eu não acredito, eu amo o Peter Sellers’, reagiu a moça. ‘Vá se acostumando, então…’.
Três escritores e uma atriz podem valer menos do que todos esses senhores da antivirtude…
De cá para mim, o Dalí era um marketeiro, o mestre da autopublicidade. Não me constava que fosse traidor. Um dia vou atrás dos detalhes. Buñuel é um dos maiores artistas do mundo em todos os tempos. Quero-lhe bem. Se o Dalí o traiu vai ter que se ver comigo e com os meus amigos maledicentes.
Eu não havia identificado a maldade do Chaplin. Assistira àquela biografia protagonizada pelo Robert Downey Jr. e tudo o que vi foi um gigante atormentado. Um titã forjado no aço inoxidável da miséria. Um artista que teve que viver para não morrer de fome. Um artista que, de criança, teve que ser artista. Para assim mesmo ver a mãe demente, afogada em esgoto humano nas barreiras de um hospício ou no conforto de uma mansão iluminada da América.
Chaplin não era um homem mau. Ainda que humilhasse o filho e fosse intragável, conforme a narração de Marlon Brando- esse, sim, um normalzinho que andava com um anão nos braços em meio às gravações de ‘A Ilha do Dr. Moreau’. Chaplin formava na mesma fileira de Sellers: ambos eram agressivos e faziam o que lhes dava na telha. Ambos tinham a alma dodói.
A dica da amiga atriz me fora valiosa. Assisti, então, ao longa ‘A Vida e Morte de Peter Sellers’, de Stephen Hopkins. Descobri um biografado consciente do seu valor. A mãe o ensinou. Uma criança egoísta (pleonasmo). Um homem que queria porque queria. E fazia saber. Sofria porque nada poderia satisfazê-lo. Um homem que não soube viver. E que feriu a si mesmo e a todos à sua volta. Isso não é um monstro. É uma neurose ambulante. Ele e o mundo achavam o mesmo um do outro. Ele e o mundo não se compreendiam. Incomodavam-se mutuamente.
Se quiser ser implacável, como outros o foram, diga que Sellers era uma zebra na terra das zebras. A ariranha no zoológico. Um monstro num mundo monstruoso. O que o difere dos demais? Ele vivia e andava como um monstro. Nós, em geral, vivemos assim, somos monstros incubados na biosfera, mas andamos como majestades suecas- aquelas que nunca perdem o bom senso, nem mesmo na intimidade da toalete real.
Acabei por concluir: o jornalista que escreveu aquela resenha é um mau-caráter. ‘Pô, Zé Paulo, pega leve, só fiz o meu trabalho e publiquei as minhas impressões!’. Esse é o problema. Um crítico publica as suas impressões, todo mundo acredita e chegamos, por fim, ao ciclo perfeito da neurastenia grupal.
Pergunto-me, a cada segundo, se nunca venderão este zoológico. Isso cansa e só dá dinheiro para alguns.’
Carlos Chaparro
É possível salvar o jornalismo, 20/04/06
‘O XIS DA QUESTÃO – A competência do trabalho as fontes produz um desequilíbrio na qualidade da informação jornalística, porque o vigor jornalístico dos discursos particulares tornou os jornais intelectualmente preguiçosos, acomodados, e empresarialmente pragmáticos, de olho nos cifrões. Para salvar o jornalismo, alguma coisa terá de mudar, com urgência, nos três lados: nas fontes, nas redações e nas empresas jornalísticas.
1. Fotocópias
A transformação nos modos de concepção e produção do jornalismo, produzida por aquilo que chamo de ‘revolução das fontes’, pode ser sentida, cada vez mais, na leitura diária dos jornais. Ou seja: no final do percurso da Notícia. Hoje (quinta-feira, 20/04), por exemplo, medi o tempo ocupado com a leitura dos dois diários que assino. Percorri, em ambos, uma quantidade equivalente de cadernos e páginas. Tentei dedicar igual interesse a cada um dos jornais. E aconteceu o seguinte: com a leitura do primeiro, consumi cerca de 50 minutos; já a leitura do segundo se esgotou em 10 minutos, aproximadamente.
Para desvendar o porquê da discrepância, paciente e metodicamente, repassei e comparei as páginas. Editoria por editoria. E confirmei o óbvio: a segunda leitura foi drasticamente abreviada pela repetição de conteúdos, e até de formas. Em alguns casos, aqui e ali, mudavam os critérios de edição e diagramação das matérias. Mas a essência dos relatos era a mesma, os sentidos atribuídos aos fatos e falas se repetiam. Em alguns momentos, na leitura do segundo jornal, parecia ter à minha frente uma fotocópia do jornal concorrente, lido antes.
Entretanto, o que ali estava à minha frente, como objeto do meu interesse, era a manifestação de um mundo vibrante de conflitos importantes, em boa parte dos quais se joga com o destino de pessoas, comunidades e instituições. Conflitos em que gente de poder e querer luta por dinheiro, poder, espaço, prestígio, direitos, idéias, ideais, sonhos e ambições. Por meio do que se diz e faz para ser notícia, luta-se para viver e sobreviver, para mudar o mundo ou para mantê-lo como está.
Nos jornais de cada dia se manifesta – e por isso à sua leitura voltamos diariamente – a fantástica dinâmica social e cultural de, pela notícia, produzir transformações na realidade e na vida das pessoas. Dinâmica nutrida e controlada por sujeitos sociais institucionalizados, inseridos nos processos jornalísticos, hoje alargados para bem além das redações.
De forma competente e (por que não dizer?) legítima, os sujeitos institucionais da atualidade se apropriaram da linguagem jornalística, assumindo plenamente, com vigor acional, o seu papel de produtores de conteúdos – e por conteúdos se entenda: acontecimentos, falas, revelações, produtos, saberes e serviços com relevância jornalística.
Essas são as fontes de hoje, radicalmente diferentes daquelas que, trinta, quarenta anos atrás, nós, repórteres, tínhamos de seduzir, para que falassem. Outros tempos, outros problemas…
2. Questão complexa
Este assunto não pode ser reduzir à simplista discussão corporativa sobre que tipo de profissional deve trabalhar em assessoria de imprensa, se jornalista ou relações públicas. A filiação sindical não avaliza o saber nem a competência de quem quer que seja. Mesmo em países onde o jornalista é obrigado a se desligar do sindicato para exercer funções em assessorias, a carteira fica no sindicato, sim, mas com o profissional vão, aonde quer que ele vá trabalhar, a competência, o saber, as convicções e o conhecimento especializado que lhe abrem as portas do mercado. Entretanto, os sindicatos de jornalistas se esvaziam, como organismos representativos. Porque o mercado da comunicação institucional cresce em todo o mundo, não apenas no Brasil.
A reflexão a ser feita tem a ver com as complexidades, as imbricações e os problemas novos do jornalismo, na sua fisionomia atual. E com os papéis que lhe cabem, nas teias informacionais dos tempos atuais.
O poder conquistado pelas fontes é inquestionável e irreversível. Diria até que, além de inquestionável e irreversível, é crescente, porque as instituições investem cada vez mais na aquisição de competência comunicacional.
Estive há dias em Natal, para fazer a palestra de encerramento do I Congresso Norte-Nordeste de Comunicação Empresarial e Pública. Falei para uma platéia de pelo menos 150 profissionais. Para conhecer o público que me iria ouvir, pedi que se identificasse quem era jornalista, relações públicas ou publicitário. Mais de três quartos da platéia era de jornalistas. E deve haver alguma boa razão para que assim seja.
A mim, e à questão que proponho, pouco interessa, porém, o fato de os profissionais da área serem jornalistas, relações públicas, publicitários ou de outras carreiras (e os há). O que interessa é a qualidade do trabalho que realizam e os efeitos que esse trabalho projeta nos modos de pensar e fazer jornalismo.
Fiquei impressionado com a sofisticação de alguns projetos e procedimentos. Mas fiquei também alarmado com o tecnicismo e o racionalismo que move a comunicação institucional, na busca de resultados em cujas medições e avaliações nem como hipótese se levam em conta os ganhos da sociedade. Importam, apenas, os interesses de imagem e negócios das organizações – que, diga-se de passagem, são interesses legítimos e, em apreciável proporção dos casos, socialmente valiosos.
3. Rumos para mudanças
Trata-se de um cenário irreversível. Mas que produz um desequilíbrio na qualidade da informação jornalística, porque impõe às redações o vigor de discursos particulares irrecusáveis. Que são simplesmente reproduzidos.
Ou seja: o vigor jornalístico dos discursos particulares tornou as redações intelectualmente preguiçosas, acomodadas. E as empresas jornalísticas ficaram perigosamente pragmáticas, de olho apenas nos cifrões. Alguma coisa terá de mudar, nos três lados.
Das organizações geradoras de conteúdos, as chamadas fontes, espera-se, no mínimo, que o discurso da responsabilidade social se estenda à qualidade e à função da divulgação jornalística.
Das empresas jornalísticas se exige, com urgência crescente, que encontrem maneiras de as razões do lucro servirem ao jornalismo, em vez de o estrangularem.
Às redações, é preciso dizer que está na hora de acordarem e reassumirem o controle sobre a narração jornalística, sua maior e mais bela tarefa. Na verdade, nunca as redações foram tão bem servidas de conflitos, protagonistas, contextos e conteúdos. Acabem, portanto, com a preguiça e os lamentos. E façam jornalismo de verdade.’
TELEVISÃO
Telejornais buscam a fonte da juventude, 17/4/2006
‘Semana passada, discutimos a proposta do ombudsman da TV Cultura, Oswaldo Martins, pelo fim dos telejornais da emissora. Para ele, o Jornal da Cultura é ruim e caro e esse dinheiro poderia ser gasto em outros produtos jornalísticos melhores como documentários e programas especiais. Mas não é só na TV Cultura de SP que os críticos e executivos de TV começam a perceber a crise nos telejornais.
A revista norte-americana Newsweek publicou um excelente artigo sobre o futuro dos telejornais nos EUA, intitulado The future of evening news. E como tudo que acontece na televisão americana costuma se repetir no Brasil, é melhor ficar atento às críticas e não desprezar as soluções.
Mas será que os telejornais ainda têm salvação? A crise pode ser irreversível. Agora, talvez só mesmo Deus possa reverter o declínio dos telejornais, principalmente os noturnos.
Bem que os executivos dos departamentos de jornalismo das TVs americanas têm tentado todas as soluções. Até mesmos alternativas milagrosas como âncoras jovens, casal de âncoras, âncoras viajantes, novos cenários, novos formatos com linguagem mais informal, enfim, tudo que é possível e imaginável. Mas os resultados são sempre decepcionantes. Talvez não haja mesmo solução para o fim inevitável e previsível dos telejornais. Como tudo na vida, talvez tenha chegado a hora de sua morte.
Hoje, a audiência conjunta dos principais telejornais americanos não passa de 30 milhões de espectadores. Apesar de ainda ser um público expressivo, caiu para metade do recorde histórico em 1969. A curva descendente, no entanto, tende a se acentuar desde a implantação da Internet.
Mas não só o formato dos telejornais que envelheceu. O público desses programas tem média de idade por volta dos 60 anos. E o pior é que esse público não se renova. Fica mais velho a cada ano. Não há luz no final do túnel. A única solução é seduzir o público mais jovem.
O problema, no entanto, é que o horário fixo e cada vez mais cedo dos telejornais também não ajuda. A estratégia duvidosa de privilegiar os programas de entretenimento e anteceder os horários dos telejornais provou ser um desastre para o jornalismo nas TVs abertas. Hoje, nos EUA, os jovens não costumam estar em casa quando os jornais vão ao ar. E, pelo jeito, ninguém parece muito interessado em gravar noticiários nos modernos sistemas digitais. Ao contrário de outros programas de entretenimento, os telejornais se tornaram redundantes e dispensáveis. Telejornal é sempre a mesma coisa. A não ser em dias excepcionais, quem perdeu o noticiário não perdeu muito e não sente muita falta.
Telejornais na Internet
A verdadeira luta pela sobrevivência dos telejornais está sendo travada na Internet. Há alguns anos, as redes americanas tentam encontrar na rede uma saída para a crise. Já tentaram quase tudo. Para competir com os canais a cabo, agora elas disponibilizam os telejornais gratuitamente na Internet. No desespero, os telejornais disponibilizados têm autorização para colocar suas matérias na Web a qualquer hora do dia. Ou seja, já podem ser furados pelos seus próprios congêneres na rede. Vale tudo para salvar os telejornais. Mas essa estratégia também pode acelerar e confirmar o fim deles na rede.
Mas o principal problema dessa estratégia é que o público da Internet é muito mais jovem do que os telespectadores típicos dos telejornais.
E não adianta culpar os jovens. A boa notícia para o futuro do jornalismo é que eles procuram principalmente por notícias na Internet.
De acordo com um estudo divulgado pela Online Publishers Associations, 66% do público na Internet assistem a vídeos com notícias, superando os trailers de filmes, videoclipes musicais e esportivos. Os jovens representam 21% desse público.
Isso pode ser uma ótima notícia para os executivos responsáveis pelos nossos telejornais. As mesmas notícias desses jornais colocadas na Internet alcança um público bem mais jovem. O público jovem certamente migra cada vez mais para a rede e busca o noticiário de qualidade. Ou seja, o problema não está necessariamente no conteúdo. Mas no próprio meio.
Alguns segmentos do JN já podem ser visto gratuitamente na Internet (ver aqui). Mas ainda não há estatísticas independentes e confiáveis sobre os efeitos dessa audiência na produção dos telejornais brasileiros.
Fonte da juventude
Na tentativa de evitar o desastre, as redes americanas tentam encontrar uma fórmula de conviver com a Internet ou de reinventar os telejornais, principalmente os noturnos.
Hoje, o telejornal vai ao encontro do público de todas as formas e em todos os lugares. Eles já podem ser vistos em diversas plataformas digitais móveis como os Ipods e celulares. E, pela primeira vez, a estréia dos novos âncoras da ABC News foi na Internet. ‘Estamos em busca de um público que utiliza novas tecnologias’, explica Elizabeth Vargas, apresentadora da ABC. Com uma certa ironia, a Newsweek comenta que os executivos americanos estão em busca da ‘fonte da juventude’ nas novas tecnologias para salvar os telejornais de rede.
Se correr o bicho pega, se ficar…
O problema é que as redes americanas não podem mudar ou arriscar muito. Elas podem alienar esse público que, mesmo envelhecido, ainda rende muito dinheiro em publicidade.
Nos últimos anos, as empresas americanas gastaram a soma nada desprezível de 500 milhões de dólares no horário dos telejornais. A audiência envelhece e está em declínio, mas ainda gasta muito dinheiro com remédios, seguros e… planos funerários. Pelo menos, por enquanto!’
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