DIRETÓRIO ACADÊMICO
Carlos Chaparro
Hora de aprender com a professora Mabel, 22/12/06
”O XIS DA QUESTÃO – Aqui se conta a história da jovem professora Mabel Victorino, que na escola mais pobre da pequena cidade de Itatinga (SP) fez o milagre de transformar uma classe de alunos repetentes, indisciplinados e tristes, em uma turma de desempenho brilhante nos testes de avaliação da Prova Brasil. Isso, apesar de continuar atual a frase dita por Lula, em 1979: ‘É inadmissível que o governo gaste uma fortuna em propaganda, quando o que falta é escola e melhores salários para os professores’.
1. O ‘milagre’ de Mabel
Nos últimos dias, procurei nos jornais notícias que pudessem ser consideradas bons presentes de Natal. Dura tarefa, essa que resolvi assumir. Em tempos de absolvição de sanguessugas, de reeleição de mensaleiros e de manobras escusas por aumentos imorais de salários no parlamento, tivemos ainda a aprovação de aposentadoria privilegiadíssima, e vitalícia, para o Zeca do PT. Presentes do capeta, em tempos de Papai Noel – se é que algum deles existe…
Mas encontrei, sim, um belo presente de Natal na página A24 do Estadão, em sua edição de quarta-feira passada. ‘Professor acolhedor, mas exigente, explica bom desempenho dos alunos’, dizia o elástico título, que a linha fina elucidava: ‘MEC e Unicef mapearam seis fatores que levaram 33 escolas carentes a obter notas acima da média’.
A matéria, assinada por David Moisés, narrava a pedagógica saga da professora Mabel Victorino, responsável pela mais difícil turma de alunos da escola mais pobre da pequena cidade de Itatinga, no interior de São Paulo. ‘A maioria era repetente, indisciplinada e triste’, no diagnóstico da própria professora Mabel.
Pois essa turma de alunos pobres, repetentes, indisciplinados e tristes submeteu-se aos testes de avaliação na Prova Brasil. E surpreendeu o Ministério da Educação com uma demonstração de conhecimento, em Português e Matemática, que a colocou bem acima da média. As crianças de Itatinga, alunos e alunas da professora Mabel, alcançaram 221,37 pontos em Português e 249,5 pontos em Matemática, contra 172,9 pontos e 180 pontos da média nacional, respectivamente.
Impressionado pelo bom resultado alcançado pela essa e por turmas de mais 32 escolas carentes, que também tiveram desempenho acima da média, o MEC solicitou uma pesquisa à Unicef, para descobrir os fatores que poderiam explicar o sucesso alcançado.
Principal resposta obtida pelos pesquisadores, ouvida de alunos e pais de alunos: o fator decisivo é a atuação de professores que ouvem o que os seus alunos têm a dizer, sem deixar de ser exigentes. Ou seja: professores que acolhem com carinho e respeito os alunos mas que, ao mesmo tempo, lhes impõem limites e deles cobram responsabilidades.
E foi assim, ouvindo os alunos, mas impondo-lhes parâmetros de responsabilidade, que a professora Mabel Victorino, naquela escola carente de Itatinga, fez da sua turma de alunos repetentes, indisciplinados e tristes, um vitorioso grupo de crianças estudiosas, alegres, confiantes no próprio futuro.
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Quanto ganha a professora Mabel? Provavelmente um salário mínimo, ou pouco mais que isso. Se não for menos.
2. Caminho do futuro, frase do passado…
Torço sinceramente para que o presidente Lula saiba da existência da professora Mabel. E que se interesse pelo trabalho dela. Atrevo-me, até, a recomendar aos assessores palacianos que coloquem sobre a mesa do presidente o recorte da bela história que o Estadão quarta-feira passada nos contou, pelo texto de David Moisés. Depois, com os poderosos recursos e meios de que dispõe, a turma de comunicação do Palácio bem que poderia empenhar-se em espalhar, pelos quatro cantos do País, a história da professora Mabel. Ela nos ensina o melhor dos caminhos para o País definir e alcançar o seu futuro.
Dê essa ordem aos seus assessores de comunicação, presidente! E mande gastar nesse trabalho, em favor da Nação, um pouco das gordas verbas da propaganda que até agora serviram à estratégia da reeleição e à invenção do valerioduto.
Hoje, todos sabemos, o senhor também, que há coisas melhores, mais patrióticas, onde gastar o dinheiro público.
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Se a Educação se tornar de fato a prioridade inteligente do segundo mandato, nada será tão prioritário quanto o ensino fundamental. E, se assim for, o governo logo descobrirá que, quaisquer que sejam as políticas, os programas e os projetos da mudança, o essencial terá de ser feito de mãos dadas com os professores. Mas professores respeitados em sua dignidade, incentivados na vocação, protegidos por salários justos.
Apesar de já ter chegado à fase dos cabelos brancos, ou talvez até por isso, o presidente Lula bem poderia recordar algumas coisas importantes que disse, antes de alcançar os tronos do Planalto. E antes de grisalhar.
Para ajudar, lembro-lhe uma frase por ele dita, em 1979, a trabalhadores pernambucanos, na primeira viagem que fez ao seu Estado de origem, 27 anos depois de ter emigrado para São Paulo, como retirante nordestino. Com o carisma de líder sindical mais importante do País, disse ele, então, aos companheiros do Recife, em discurso empolgado e empolgante:
‘É inadmissível que o governo gaste uma fortuna em propaganda, quando o que falta é escola e melhores salários para os professores’.
Lembra-se, Presidente? Ainda acredita nisso?
(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 1994), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’
TELECOMUNICAÇÕES
Milton Coelho da Graça
Amaciando o caminho das pedras, 21/12/06
‘Saiu lá na coluna da Monica Bergamo (que sabe tudo), 12/12, bem ao lado das fotos de Gisele Bündchen, ajeitando o biquinininho no Caribe: Alexandre, filho de ex-ministro do STF, foi visitar Johnny Saad, da Tv-Bandeirantes. O ministro Hélio Costa parece simpatizar com o nome, mas teme que ele possa provocar reações (que seriam muito justas,né?) por ele ser considerado ‘excessivamente ligado à Globo’. A intenção seria remover obstáculos à campanha do rapaz por uma vaguinha na Anatel, uma agência reguladora que supostamente deveria ser independente em relação às empresas por ela reguladas. O ministro, pelo jeito, não quer encrenca com nenhuma delas.
Ó República, para onde caminhas? E nós, filhos de pais (e mães) sérios mas obscuros, que podemos fazer? Roma foi assim, assim, um dia virou império.
Estadão retrata a desigualdade
O Estadão publicou orgulhosamente um anúncio mostrando os 30 jovens aprovados no duro concurso para o começo da carreira no jornal. São 30 maravilhosos e justos sorrisos que espelham o abismo racial que ainda nos divide: nem um só deles é sequer moreninho. São todos de pele bem branquinha, nenhum nem moreno, quanto mais negro.
O jornal não fez nem faz discriminação. A discriminação é feita pelo sistema educacional e tudo que está por trás dele. Quando a garotada tem de mostrar o que aprendeu de fato, a desigualdade cobra seu preço. Claro que sempre haverá exceções. Nos concursos da Folha, do e da Globo, da Abril e do próprio Estado. Mas, se não construirmos um sistema educacional verdadeiramente republicano, ainda veremos muitos fotos como a publicada pelo Estadão.
Somos todos Herodes modernos
O estudo da Unicef sobre a situação da mulher e da criança no mundo apresentou números muito ruins para o Brasil. Deixemos de lado as comparações com países africanos ou então a brincadeirinha de dizer que, apesar de tudo, nossos índices melhoraram (caímos nos rankings porque os outros melhoraram mais). E aí, mesmo os mais ferozes antifidelistas têm de reconhecer: Os comunistas cubanos matam muito menos crianças até cinco anos de idade do que nós: 7 em cada 1000 nascidas vivas. Nós matamos quase cinco vezes mais: 33. Cuba tem um PIB ridículo perto do nosso e, mesmo assim, nos faz sentir desnecessariamente assassinos de umas cem mil crianças por ano.
Os Estados Unidos sofrem uma humilhação ainda maior: você sabia que a mortalidade infantil em Havana é menor do que a de Nova York? O estudo da unicef não demonstra que o regime cubano seja melhor do que o americano ou o brasileiro. Mas demonstra que mesmo um país pobre como Cuba pode matar menos crianças do que Herodes. É só decidir que esse tem de ser o objetivo mais importante.
Se correr o bicho pega, se ficar …
O dólar já se desvalorizou 6,7% nos últimos 12 meses em relação a uma cesta de moedas fortes, segundo um índice do Federal Reserve Bank (o Banco Central americano). Isso tem sido bom para os exportadores em geral americanos. Mas, como o medo da inflação veio junto, os juros sobre títulos do Tesouro também vieram e estão em 5,25%
Alguns países produtores de petróleo – de Arábia Saudita e Irã a Venezuela – estão preocupados e acham que não dá para manter suas reservas numa moeda que se desvaloriza dessa forma e consideram os juros ainda insuficientes para cobrir a desvalorização. Estão começando a trocar seus dólares por euros. Por enquanto a coisa está aí por volta dos 15 ou 20%. O Tesouro americano se preocupa mesmo é com aquele dinheirão – por volta de 2 trilhões de dólares – que Japão e China amontoam em suas reservas.
Na próxima reunião, o Fed vai ter de decidir se aumenta ou baixa os juros. Se aumentar, dará um sinal de que a prioridade é segurar o valor do dólar, mantendo os orientais quietos e talvez até detendo a inquietação dos sheiks, aiatolás e Chávez. Mas aumentar os juros seria ruim para os setores produtivos da economia americana. Ben Bernanke está numa dúvida atroz: se o juro sobe, beneficia os setores financeiros; se baixa, os setores produtivos agradecem. Nunca é demais esquecer que os ativos financeiros em todo o planeta são avaliados por baixo, por baixo, em 100 trilhões de dólares.
Henry Paulson, secretário do Tesouro americano, foi à China sentir o pulso amarelo e fazer uma pressãozinha. O debate está solto no mundo sobre como cada país deve se preparar, em relação à decisão de trocar ou segurar os dólares das reservas.
Temos uns 80 bilhões na mão, qualquer bobeada de um por cento ou um dia pode causar grande prejuízo ou lucro. É um dinheirão, que pertence a toda a Nação. Alguém sabe o quê o ministro Mantega e o BC estão pensando sobre o assunto?
(*) Milton Coelho da Graça, 76, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’
MERCADO EDITORIAL
Eduardo Ribeiro
A imprensa carioca em retrospectiva
‘O ano de 2006, que se encerra, pode não ter sido de grandes feitos ou avanços para a imprensa brasileira, como um todo, e a carioca, em particular, mas foi movimentado. Num trabalho criterioso e detalhado, a correspondente deste Jornalistas&Cia, Cristina Vaz de Carvalho, dá um panorama dos principais fatos do ano, em todas as mídias e também no segmento da comunicação corporativa e assessoria de imprensa. Mostra as mexidas na Infoglobo, com o lançamento do novo popular Expresso, a reação d’O Dia, as mudanças no JB e uma série de outros acontecimentos relevantes para o mercado profissional.
Jornais – Infoglobo deve ter seu foco em interiorização e sinergia dos produtos em 2007
Nos jornais impressos, 2006 começou para valer em abril. Foi quando a Infoglobo lançou o Expresso, diário popular compacto. Com aspecto semelhante e concorrendo diretamente com o Meia Hora do grupo O Dia – que o antecedeu no lançamento em quase um ano -, a Infoglobo concretizou um projeto que estava pronto no final de 2004 e que de certo modo foi ‘interceptado’ pela concorrência, que se antecipou a ele. A defasagem foi crucial, pois o novo compacto encontrou o Meia Hora consolidado no segmento, situação que não se alterou no decorrer do ano,
O Globo manteve a liderança no Rio, e a característica de jornal completo. Em ano de Copa do Mundo e eleições presidenciais, realizou uma maratona de coberturas. Fez alguns ajustes editoriais, como, por exemplo, trocar os indicadores da economia por nova coluna de negócios. Ao anunciar, no segundo semestre, a habitual troca de cadeiras entre os editores, para o ano que vem, o fez com uma promessa: o avanço com todas as armas para o Interior do Estado. No Online, houve comemoração do décimo aniversário de roupa nova e trazendo um acréscimo editorial a cada mês.
O Extra, por sua vez, confirma a dianteira com folga entre os populares. Em termos editoriais, foi possível notar uma qualificação gradual mas constante, o que denota intenção de atingir outros públicos, ou se firmar entre eles. No final do ano, o diretor de redação Bruno Thys passou a acumular o mesmo cargo no Diário de S. Paulo, como um primeiro sinal de que a sinergia entre os produtos do grupo começa de fato a ser posta em prática.
No dia seguinte ao lançamento do Expresso, O Dia apresentou uma reforma gráfica radical, que mexeu até na marca. Veio acompanhada de investimentos para modernizar o equipamento da redação, e alguns acréscimos editoriais, para dar um up-grade no conteúdo e voltar a ter participação em faixas de público com maior poder aquisitivo. Além das máquinas novas, o cenário na redação mudou radicalmente, completando um processo iniciado no ano anterior. Muitos nomes com tradição na casa, e no mercado, afastaram-se ou foram afastados. Na esteira do sucesso do Meia Hora, o grupo reforçou o leque de populares, que já conta com a revista FM O Dia, lançando a revista masculina independente Garota da Hora.
Mais ainda mudou o JB em 2006. Primeiro foi o formato, de standard para berliner, ainda em abril. Mexeu muito em todas as editorias, mantendo porém a linha que se aproxima da revista, de conteúdo aprofundado mas não abrangente. Colocou os editores de Economia em S.Paulo e de Política em Brasília, permanecendo no Rio o Entretenimento, em um movimento que aproxima a operação do local em que ocorrem os principais fatos da área. Estruturou o Online e montou a empresa Brasil Digital, para administrar a convergência das mídias do grupo. Em novembro, contratou Mário Marona como editor-chefe e deixou a cargo de Ana Maria Tahan o Jornalismo da nova emissora CBTV.
Outros jornais também se movimentaram. A Folha Dirigida completou 21 anos passando por uma reforma gráfica. Lance criou a Editoria de Produção para unificar as equipes de todas as plataformas em que veicula suas notícias. A Editora Panorama, forte na Baixada Fluminense, assumiu o jornal Povo, disposta a conter a perda de terreno provocada pelos novos populares. E diante do ‘congestionamento no segmento’, o Condomínio Associados desistiu de lançar o Aqui, projetado para o Rio a partir das experiências em Belo Horizonte e Brasília.
Nas sucursais, Marcelo Beraba foi confirmado para seu segundo mandato de ombudsman da Folha de S.Paulo. No Estadão, como reflexo das mudanças de comando editorial ocorridas na sede, Suely Caldas aposentou-se do cargo de diretora da sucursal.
Revistas: pouca chance de aparecer
Mesmo sob o fogo cruzado das acusações que despontaram durante a campanha eleitoral, houve poucas oportunidades para as sucursais das revistas no Rio, ex-capital da República. Frustrada a expectativa de que houvesse no Estado um candidato à Presidência, os profissionais perderam espaço para os colegas do próprio veículo.
Mas as sucursais têm vida própria. Veja ampliou os encargos do chefe da sucursal, Lauro Jardim, com podcast de sua coluna Radar no site da revista. Veja Rio comemorou 15 anos com edições especiais. Na IstoÉ, Eliane Lobato assumiu a Chefia da Sucursal, no lugar de Ricardo Miranda.
Com uma redação encabeçada por nomes experientes como Mário Sérgio Conti, e outros pinçados principalmente no site No Mínimo, a revista Piauí, uma sociedade entre João Moreira Salles, o editor Luiz Schwarcz e a Editora Abril, começou a circular em outubro.
Como independente, Rubeny Goulart lançou em março a revista Custo Brasil, com a proposta de apresentar soluções para a questão que dá nome ao veículo. A Selulloid amplia o escopo de publicações customizadas e firma um padrão de qualidade editorial para esse segmento.
TV – Bombardeio sobre a líder
Para a Globo, líder inconteste, foi ano de enfrentar artilharia pesada diante da opinião pública. Começando com o embate entre William Bonner e acadêmicos paulistas sobre a audiência do Jornal Nacional, passando pelo abaixo-assinado de funcionários revoltados contra a acusação de negligência na cobertura do acidente aéreo entre o Boeing e o Legacy, e culminando, no final do ano, com o produtor da Rio acusado pela Polícia Federal de envolvimento com uma quadrilha. Do bom trabalho, ficou o Prêmio Embratel, que criou uma categoria hors concours para matéria do Fantástico, e a festa pelos dez anos de lançamento da GloboNews, acompanhada de um rejuvenescimento da programação. O Canal Futura marcou presença no jornalismo das emissoras alternativas, com melhorias no Sala de Notícias.
Apesar das idas e vindas, as mudanças no jornalismo do SBT foram favoráveis ao Rio. A emissora remontou uma equipe que fora dispersada havia vários anos, e que termina 2006 inteira e fazendo seu trabalho. Na Band, Arnaldo César assumiu a Direção de Jornalismo em agosto, ocupando o cargo vago desde que Ricardo Boechat se transferiu para S.Paulo. A Record investiu nessa área, aumentou o número de equipes, reforçou a técnica, sinalizando que vai encarar a concorrência. Rede TV suspendeu o jornal local e fez cortes. Mudança completa ocorreu na CNT, que se associou à Editora JB e deu início a uma reforma das instalações e reconstituição da equipe em outras bases, para abrigar a nova CBTV, que ainda está em formação.
Nas tevês públicas, a programação da TVE aderiu ao jornalismo-cidadão ditado pelo Governo Federal e tirou de horários com audiência consagrada o Observatório da Imprensa, de Alberto Dines, e o Conexão Roberto D’Avila. As super-segmentadas aproveitaram talentos experientes, como a TV Câmara, que montou equipe chefiada por Luiz Lobo, e a TV Alerj, que promoveu Márcio Chalita.
Rádio e Internet
A CBN comemorou 15 anos de funcionamento da primeira emissora all news com livro de Mariza Tavares e Giovanni Faria. Na linha das exclusivas de notícias, a BandNews FM precisou reduzir a equipe, em meados do ano. Assistimos à turbulência na Rádio Nacional/Radiobrás, que culminou com a saída de Cristiano Menezes.
A maior movimentação ficou mesmo por conta das Organizações Globo. O portal Globo.com ampliou equipes, contratou com generosidade, e apareceu de cara nova em setembro, e dele surgiu o G1, com notícias de todas as mídias do grupo. A maioria das sucursais dos veículos online no Rio limitou-se a ter um ou outro produtor, como correspondente.
Assessorias: eleições dão a tônica dos trabalhos
As campanhas políticas empregaram muitos assessores e ocuparam as agências que atuam neste nicho. Isto quando não foram os próprios jornalistas que lançaram suas candidaturas, como Cid Benjamim. FSB esteve ao lado de Sérgio Cabral, na vitoriosa campanha ao Governo do Estado. Este, por sua vez, já indicou Ricardo Cota para ser o novo Subsecretário de Comunicação.
Aproveitando a boa fase, Daniella Scholl deixou a Monte Castelo e partiu para carreira solo. Rita Fernandes fez o caminho inverso: deixou sua empresa adormecida para se juntar à In Press Porter Novelli e passou a trabalhar em Brasília. Acompanhando a tendência das agências brasileiras para uma abrangência global, a Approach associou-se ao Publicis Group. A Publicom assistiu ao crescimento de seu escritório em S.Paulo. E Lalá Aranha, na CDN, trouxe para o escritório do Rio o prêmio Opinião Pública do Conrerp-SP com o case para Coca-Cola.
Das estatais, repercutiu principalmente o concurso da Petrobras, que atraiu – e contratou – profissionais reconhecidos nas redações, como Cezar Faccioli. Já nas empresas privadas, foram feitas substituições importantes, como a saída de Sonia Araripe e a chegada de Fátima Belchior na equipe de Fernando Thompson na Vale, e na Souza Cruz, em que Cássia Rodrigues substituiu Mair Pena Neto, que foi para a Reuters. A ida de Rogério Louro para a assessoria da Citröen Peugeot, provocou uma reação em cadeia que resultou numa troca de cadeiras em praticamente todas as redações com cadernos ou seções de automóveis.
Sindicato: pagamentos da Bloch e acordo inédito com os patronais
Duas realizações do Sindicato dos Jornalistas, este ano, podem ser consideradas referência da atuação sindical para outras entidades (diríamos benchmark, não fossem os sindicalistas tão avessos aos conceitos importados). Na primeira delas, o resultado foi conseguir que antigos funcionários da Bloch recebessem em parcelas o que lhes era devido – mas considerado como perdido – a partir dos leilões dos imóveis da empresa. O Departamento Jurídico, em minuciosa costura com outros advogados, e muitas assembléias com os interessados diretos, reuniu todas as ações movidas, fossem individuais ou em pequenos grupos, negociou um parcelamento que quitava completamente as dívidas menores e parcialmente as demais, defendeu os interesses deles com sucesso e agiu para liberar os pagamentos. No segundo caso, fechou um acordo inédito com os sindicatos patronais, de veículos impressos e eletrônicos, para que esses custeassem um treinamento em medidas de segurança para os profissionais que cobrem a violência no Rio. Um modelo de conciliação e inclusão, o curso, ministrado por entidade internacional de referência na área, englobou jornalistas das sucursais, ou seja, de veículos não filiados às entidades patronais do Rio.
(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’
GLOBO vs. MESSIAS XAVIER
O Caso José Messias
José Paulo Lanyi, 19/12/06
‘A TV Globo infringiu a lei no ‘Jornal Nacional’ desta segunda-feira (18) ao veicular gravações de trechos de conversas telefônicas do jornalista José Messias Xavier, acusado de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis. Conforme já publicado por este Comunique-se, a emissora resolveu demitir o profissional, depois de analisar a escuta dos diálogos. Eis o comunicado divulgado pelo JN:
‘A TV Globo não tem dúvida de que somente a Justiça poderá concluir se o jornalista José Messias Xavier é culpado ou inocente dos crimes de que é acusado, depois de uma investigação consistente. Porém, diante do conteúdo das gravações telefônicas, está claro, para a TV Globo, que o comportamento do jornalista foi incompatível com as normas éticas da emissora. Por este motivo, a TV Globo decidiu hoje cancelar a licença que havia sido concedida ao funcionário – e desligá-lo da empresa’.
Leia a íntegra dessa reportagem aqui.
A Globo tomou a decisão certa ao optar pela transparência ao reportar esse caso. A emissora sabe que disso depende a sua credibilidade. Um de seus funcionários é acusado de ser uma maçã podre. Se isso corresponde aos fatos, pode-se dizer que não será o primeiro nem o último, apesar da vergonha que atitudes como essa venham a suscitar intra e extramuros. Maçãs podres existem em qualquer macieira. É da vida. Correto é trazer o problema a público e, se for o caso, cortar no galho.
O problema da Globo foi a dose. No afã de tirar o bode da sala, acabou cometendo um abuso. Temos hoje uma lei que regulamenta o emprego da interceptação telefônica como meio de prova judicial. É a lei federal 9296/96. Vamos ao que diz o caput do seu artigo 8º:
‘A interceptação de comunicação telefônica, de qualquer natureza, ocorrerá em autos apartados, apensados aos autos do inquérito policial ou do processo criminal, preservando-se o sigilo das diligências, gravações e transcrições respectivas’.
Parágrafo único:
‘A apensação somente poderá ser realizada imediatamente antes do relatório da autoridade [delegado de polícia], quando se tratar de inquérito policial (Código de Processo Penal, art. 10, parágrafo 1º) ou na conclusão do processo ao juiz para o despacho decorrente do disposto nos arts. 407, 502 ou 538 do Código de Processo Penal’.
Traduzindo: a preocupação com o sigilo das degravações é tão grande que essa será sempre a última peça a ser anexada, separadamente, na capa de trás do inquérito. Feito isso, o delegado terá de enviar o inquérito de imediato à Justiça.
Da mesma forma, já na fase processual, o juiz mandará juntar essa peça tão-somente na iminência da última manifestação do Ministério Público e da defesa.
Todo esse zelo tem por fim impedir o acesso público e intempestivo às degravações. Entende-se que, por si só, as transcrições telefônicas não podem ser tomadas como provas definitivas, mas sim como evidências que se devem somar a outros elementos de convicção contantes do processo, em razão da sua volatilidade.
Por que tudo isso? Algumas razões: conversas isoladas podem dizer muito, mas, fora de contexto, nada. Há sempre a possibilidade de uma brincadeira, de uma fanfarronice que poderia ser confundida com uma confissão de culpa. Há, ainda, a hipótese de que uma frase seja interpretada a bel-prazer de quem se debruce sobre determinados trechos. Ou, também, o perigo do uso de uma fala com o objetivo de perseguir o acusado, entre outras distorções.
É por isso que existe essa lei. A Globo e outros veículos desrespeitam-na diariamente. Há uma razão plausível para isso: a lei não prevê sanção. Inacreditável, mas no Brasil temos uma lei que proíbe mas não pune.
Não é à toa que a própria magistratura tenha apresentado ao Congresso proposta para a formulação de uma ‘lei das degravações’ que funcione. Se aprovada, teremos uma lei que deve ‘pegar’, pois prevê sanções significativas, como multas pesadas para a empresa e prisão para os profissionais que se envolverem técnica e editorialmente em sua transgressão.
À luz dessas informações, fica claro que, ao errar a dose, a Globo, desejosa de produzir um remédio amargo, fabricou e distribuiu veneno. Foi uma decisão temerária, se considerarmos que a última palavra sobre esse caso será, como bem destaca a própria empresa, da Justiça; e se nos lembrarmos de tantos casos em que a prudência deu lugar ao escândalo que acabaria com a vida de muitas famílias sob os holofotes dos meios de comunicação.
A pressa pode mesmo ser inimiga da perfeição.
(*) Jornalista, escritor, dramaturgo, crítico, escreveu quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).’
PERSPECTIVAS DE 2007
Antonio Brasil
Pré-visões para a Mídia em 2007, 19/12/06
‘‘Este não é um futuro para ser temido. É um futuro que nos convida a participar’.
Em mais uma decisão surpreendente e polêmica, a revista americana Time escolheu Você e eu, ou seja, nós, o grande público de mídia, como a personalidade do ano.
Em ano de revolução e sucesso dos vídeos em sites de distribuição gratuita como o YouTube, GoogleVideo e MySpace, nada poderia ser mais emblemático do presente e do futuro. A produção de conteúdo para todos os meios de comunicação deixa de ser monopólio reservado a poucos iluminados.
Apesar dos protestos dos defensores dos monopólios e reservas de mercado, o público lidera uma revolta, toma as rédeas dos meios globais e lança as bases para uma nova democracia digital. A mediação dos meios está cada vez mais pulverizada.
Estamos diante de um crescimento explosivo de conteúdo de Internet produzido pelos próprios usuários. Eles aceitam de bom grado trabalhar de graça e ameaçam os profissionais. Além da capacidade de produção, os criadores e consumidores de sites com conteúdo mostram um senso de comunidade e uma colaboração nunca vistos antes.
A questão em jogo é a retirada do poder da mão de poucos e o crescimento da colaboração gratuita. Segundo Lev Grosman, escritor de tecnologia da Time, ‘Agora podemos não somente mudar o mundo, mas mudar a maneira de mudar o mundo’.
Melhores vídeos
Para os integrados otimistas, estamos diante de uma nova era de muitas luzes. Para os apocalípticos pessimistas, seremos inundados por muitas bobagens. A cultura digital trash é avassaladora e já merece uma reflexão mais cientifica e menos apaixonada. Aproveitando o sucesso dos vídeos na rede, agencia Associated Press lançou uma lista dos melhores do ano, uma espécie de Oscar dos vídeos na Internet. É claro que tem muita bobagem. Mas a genialidade também já foi desprezada pelos sábios de plantão. Vale a pena conferir aqui.
O sucesso dos vídeos na Internet nos ajuda a entender uma revolução nas comunicações. Pesquisa do Census Bureau (ver aqui) lançada nos EUA nos últimos dias indica que o americano médio consome mais de 3.500 horas por ano com… mídia. Isso é aproximadamente 10 horas por dia. Nada, com exceção de respirar, supera esse tempo dedicado aos meios de comunicação. A televisão, no entanto, ainda lidera, com 1.555 horas por ano. E apesar de perder audiência de forma significativa, a TV continua faturando muito com publicidade.
Mas em termos de mídia, o resultado mais expressivo da pesquisa do censo americano revela que, pela primeira vez desde o ano 2000, o americano médio dedica mais tempo à Internet do que lendo jornais. O que era uma ‘tendência’ agora passou a ser um marco histórico. Essa é mais uma péssima notícia para os jornais. Mas a essa altura eles já devem estar mais do que acostumados com más notícias. Afinal, essa sempre foi a razão de ser do próprio jornalismo.
Por outro lado, o crescimento do tempo dedicado pelos usuários a rede já nos permite antever um cenário não de liderança ou superação de um único meio de comunicação. Mas um cenário de convergência acelerada de todos os meios em direção à Internet. A TV, assim como todos os meios, migra rapidamente para a rede.
Bate-papo
Em oposição às promessas grandiosas das caríssimas telonas com imagem em alta definição, as TVs nos celulares fazem grandes avanços. Nos EUA, a rede MTV anunciou um novo projeto de produção de conteúdo para celulares.
Enquanto isso no Brasil, nossa bola de cristal prevê o fracasso mais do que anunciado da megalomaníaca TV digital à brasileira. O mesmo péssimo conteúdo de sempre com imagem e som excelentes para muito poucos.
As novelas serão as mesmas de sempre. E as mini-séries, apesar de melhores, continuarão sendo muito comentadas pela crítica e pouco vistas pelo público.
Mas a maior surpresa dessas pré-visões para o futuro da mídia ficou por conta de um velho e pouco prestigiado meio de comunicação. Segundo outras pesquisas (ver aqui), a comunicação boca-a-boca, de preferência a conversa pessoal entre amigos e conhecidos ainda é um meio extremamente eficiente para lançar idéias e criar tendências. Supera outros meios de comunicação como o telefone, o e-mail ou sistemas instantâneos de mensagens eletrônicas (MSN).
Ou seja, o bom e velho papo entre amigos ainda é um ótimo meio para falar sobre o presente e prever um futuro cada vez mais próximo.
(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’
OUTORGAS REJEITADAS
Comunique-se
Comissão da Câmara rejeita 83 concessões, 22/12/06
‘A última reunião da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) da Câmara dos Deputados, na quarta-feira (20/12), rejeitou a renovação de 83 concessões públicas de rádio e televisão, mesmo estando todas já com parecer favorável pelos relatores. Foi a primeira vez, desde que o Congresso passou a apreciar as concessões, em 1988, que um número tão grande de pedidos é rejeitado de uma só vez.
Os pareceres contrários foram emitidos por cinco deputados: o presidente da comissão Vic Pires Franco (PFL-PA), Luiza Erundina (PSB-SP), Júlio Semeguini (PSDB-SP), Jorge Bittar (PT-RJ) e Ricardo Barros (PP-PR). ‘Antes, renovávamos as concessões quase que como um carimbo, mas agora estamos pedindo mais detalhes sobre as empresas’, contou Barros.
Indisposição
Segundo o site da revista Tela Viva, os parlamentares estão descontentes com a atuação do ministro das comunicações, Hélio Costa, em relação ao trabalho da comissão. Costa solicitou a retirada de 225 pedidos que estavam parados na CCTCI por falta de documentação. Uma audiência pública entre a comissão e o ministro, onde seriam acertados os critérios para as renovações, estava marcada para o início de dezembro. Como Costa não confirmou presença, a audiência foi cancelada. ‘Há uma indisposição com o ministério’, confirma Barros.
Os processos serão encaminhados para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, onde os aspectos constitucionais serão apreciados. Enquanto isso, as empresas poderão continuar a trabalhar normalmente.
Mais da metade das concessões rejeitadas são de rádios comunitárias. Catorze tratam de novas concessões de rádios FM, dezoito da renovação de FMs e duas se referem a emissoras de televisão, a TV Aratu, da Bahia, e Televisão Uruguaiana, do Rio Grande do Sul.’
CASO PIMENTA
Comunique-se
Pimenta Neves: acusação tenta manter prisão, 22/12/06
‘Nesta quinta-feira (21/12), o advogado Sergei Cobra Arbex entrou com um pedido de reconsideração de liminar para que o jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves seja preso. Na próxima semana, o ministro Raphael de Barros Monteiro Filho, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), deve julgar o pedido.
O pedido deve questionar a legalidade da decisão que suspendeu a ordem de prisão de Pimenta Neves. A sentença foi da ministra Maria Thereza de Assis Moura, na sexta-feira (15/12) que concedeu Habeas Corpus para o jornalista. A defesa lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) garantiu ao ex-profissional do O Estado de S. Paulo o direito de recorrer em liberdade.
Pimenta Neves foi condenado em maio deste ano pelo assassinato de Sandra Gomide, sua ex-namorada e também profissional do Estadão. O crime ocorreu em 20 de agosto de 2000.
(*) Com informações do Consultor Jurídico.’
TRISTE NATAL NO JB
Marcelo Tavela
Demissões marcam o Natal do Jornal do Brasil, 21/12/06
‘Final de ano e o clima de festas impera em muitas empresas. Não na redação do Jornal do Brasil, onde o que paira mesmo é a incerteza. Transferência de editorias para outras cidades e demissões são alguns dos presentes de Natal que a empresa preparou para os seus funcionários.
A editoria de Política já está sendo fechada de Brasília, e não mais na redação do Rio Comprido, no Rio de Janeiro. A transferência para a capital faz parte da estratégia de criar núcleos operacionais: Brasil, condensando Política e Nacional em Brasília; Entretenimento, com os suplementos; Economia & Serviço e Infra-estrutura, com os departamentos de Fotografia e Artes. Estas unidades virão a produzir o conteúdo jornalístico para o Jornal do Brasil e para os outros veículos de Nelson Tanure, como o diário Gazeta Mercantil e a rede de televisão CNT. Os núcleos estarão todos ligados a uma nova empresa, a Brasil Digital.
O jornal contratou Robson Barenho para editar a Política de Brasília, junto com Tales Faria. A antiga editora de Política, Inês Garçoni, seria remanejada para o núcleo de entretenimento da Brasil Digital, mas preferiu se afastar da empresa. A repórter Mariana Carneiro, da editoria de Economia, está em negociação para ser transferida para Política. Ela seria a única da redação do Rio que iria para Brasília. No seu lugar, entraria Juliana Rocha, vinda da Nacional.
Apesar do fechamento ser feito em Brasília, muitas resoluções ainda são tomadas no Rio, o que gera conflito de decisões e confunde os profissionais. ‘Ninguém manda em ninguém. Não tem comando’, alertou um deles.
Cortes
Na semana passada, alguns editores foram demitidos. Luiz Morier, editor do fotografia, que estava há mais de uma década no JB, e para quem conseguiu dois Prêmios Esso de Fotografia, foi desligado. No seu lugar, assumiu Jorge Odilar. Morier ficou só um dia desempregado: já está trabalhando no jornal O Dia.
‘Espero que o jornal vá para frente. Estão tirando muita gente boa e colocando quem tem pouca experiência. Assim perde muito crédito. Não sei o que eles querem. Não dá para entender…’, lamentou Morier.
O editor da revista Programa, Cristiano Dias, também foi demitido. Mário Marques, que era editor assistente do Caderno B assumiu seu lugar. Junto com Dias foi o repórter Leonardo Maia, que coordenava a seção de críticas cinematográficas. ‘A Programa já trabalhava no limite, com cinco profissionais para fazer toda a revista. Agora são três. Acho difícil manter a qualidade assim’, comentou Dias.
Maia é mais incisivo: ‘Todo ano tem uma rodada de demissões. Eles têm que cortar R$ 50 mil, então estão enxugando. Reclamam que não tem ninguém de renome fazendo crítica de cinema, mas sem dinheiro fica difícil contratar. No nosso caso, tem também a questão política. O Amauri [Mello, diretor executivo do JB] não gostava do Cristiano, então abriu espaço para colocar algum cupincha dele depois’, argumentou.
Com os cortes, o ambiente no jornal ficou tenso – ‘o clima no JB sempre foi tenso, mesmo na calmaria’, afirma Dias – e uma parte da redação boicotou a festa de final de ano da empresa, em que foram comemoradas as vitórias de 2006.
Condensações
Há a especulação, ainda não confirmada, de que o núcleo de Economia & Serviço possa ser transferido para São Paulo, onde fica a redação da Gazeta Mercantil. Outra especulação é que as editorias de Internacional e Ciência e Tecnologia sejam reunidas sob o mesmo editor.
Há também a idéia que, com a Brasil Digital, os repórteres teriam que produzir matérias para a televisão, além das matérias para o jornal. Alguns deles já escrevem notas para o JB Online sem adicional pelo trabalho.
O que mais assusta os funcionários é que uma nova rodada de demissões pode acontecer em janeiro. Fala-se em uma lista com 20 nomes, ou com 12, majoritariamente na área de suplementos. E há o incentivo para que os contratados segundo a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) abram empresas para assinar contratos como Pessoa Jurídica (PJ) e acabar com os benefícios, o que é questionado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro.
‘A direção tem que entender que ela está sujeita às mesmas leis que todos, e que punições estão previstas’, diz Aziz Filho, presidente do Sindicato. ‘O JB é do Rio. Faz parte do pensamento carioca. Só quem não entende de JB toma uma decisão dessas’, completa, sobre a transferência para outras cidades.
O Comunique-se ouviu dez funcionários e ex-funcionários do Jornal do Brasil para confirmar as informações desta matéria. Tentou, por dias, falar com Amauri Mello, diretor executivo do JB responsável pelas mudanças, que estava sempre em reunião e não respondeu o e-mail enviado.’
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