Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Comunique-se

COPA 2006
José Paulo Lanyi

Mais uma (‘ai, ai…’) Copa com o Galvão Bueno, 8/06/06

‘Nesta Copa, quem não tem TV a cabo está condenado às transmissões do locutor mais comentarista de que se tem notícia na face da Terra. Eu sei, eu sei, já se escreveram todos os bytes possíveis, já se queimaram todas as árvores do Canadá, aposentaram-se todos os microfones, tudo já se disse sobre o locutor mais cheerleader de que se tem notícia.

Paciência. Como me mudei há pouco e ainda não instalei o cabo, temo ser mais uma vítima do locutor mais dono-da-verdade de que se tem notícia. Não tem problema, me vingo aqui. Sou o vingador de todos os que não têm dinheiro para a prestação do pacote. Pena que o povo brasileiro não leia o Comunique-se. Gostaria de ser um vingador popular. Mas, como miséria atrai miséria, o povo terá que se contentar com ele, sem ao menos poder rir dele, espicaçá-lo… ou zuá-lo junto com a gente – como prefere o linguajar da massa.

O último amistoso da Seleção Brasileira, o jogo contra a Nova Zelândia, foi a antecâmara da tortura que se avizinha. Pior é sentir-se trouxa duas vezes. Primeiro, por ter que agüentar uma sucessão ininterrupta de asneiras; depois, por pensar que, enquanto isso, ele está lá no bem-bom da Alemanha. É pago para fazer turismo. Antes fosse só isso… Às vezes, em minha fantasia, imagino-o a perder-se para sempre entre os caules frígidos da Floresta Negra… Posso ouvir aquele som, ‘Brrrrrrrrrrrrrrrrrrrasil!’, desfolhar-se metro após metro, como um fundo musical das batidas aceleradas do meu coração a cantar de alegria.

Não, não, não… Terei que ouvi-lo dizer que Rrrrrrrrrrrrrrrrrrrronaldinho, o Gaúcho é gênio. Terei que ouvir essa assertiva científica por absolutamente 6.357 vezes. Está registrado na minha calculadora. Aquilo não é verborragia de pseudoteleanalista esportivo. É lavagem cerebral mesmo. ‘Quando ele toca na bola, todos esperam uma jogada de gênio’. Repito: 6.357 vezes. Na próxima, talvez eu acredite que Ronaldinho é melhor do que Pelé, como alguns jornalistas viajandões têm propalado nestes tempos estranhos.

Terei que ouvir, por absolutamente 8.345 vezes, a assertiva de que o Cafu é um exemplo de persistência e de profissionalismo; por absolutamente 27.837 vezes a conclusão de que Rrrrrrrrrrrrrrrrrrronaldo, o Fenômeno poderá se destacar no torneio. A exemplo do Kaká. E do Rrrrrrrrrrrrrrrrronaldo, o Gaúcho. E do Rrrrrrrrrrrobinho.

Terei que…Terei nada! Vou é ligar o rádio e aproveitar a belíssima imagem da Globo. Galvão Bueno deveria ganhar cachê das emissoras de rádio. É garantia de audiência extra.

Não sei por que a Globo contrata comentarista. Pobres deles, deveriam receber adicional de insalubridade. São pagos para confirmar o que o Galvão pensa pensar. Ai deles se discordarem! Correm o risco de ser atirados ao campo pela janela da cabine.

A sorte do Galvão é que ele tem o Arnaldo César Coelho como auxiliar. Digo, como comentarista. Não vou ofender o Arnaldo, não vou chamar de auxiliar o ex-árbitro que raramente enxerga o erro dos seus pares. O Arnaldo está mais para advogado do sindicato que para crítico do trabalho dos seus ex-colegas. Aquela bola na mão dentro da área que o mundo inteiro viu (sem precisar do replay), aquela falta que daria pena de morte em qualquer estádio chinês sério, aquele impedimento duvidoso, em que o atacante é lançado doze metros à frente do último defensor, nada disso o ex-Arnaldo consegue enxergar. Chega ao cúmulo de negar o que vemos pela ducentésima vez na repetição. Sem contar que, ‘in dubio, pau no réu’. E o réu, quase sempre, é o jogador.

Outro dia, no Campeonato Brasileiro, ele ofendeu toda uma categoria. A dos auxiliares, os populares bandeirinhas. Disse que, se o auxiliar fosse bom mesmo, seria árbitro. Como Deus castiga os preconceituosos, poucos minutos depois o árbitro cometeu uma lambança – apesar da indicação acertada do auxiliar. Em compensação, repare na condescendência com os juízes. Arnaldo para presidente do sindicato!

Sorte do Galvão. Com o Arnaldo lá, o torcedor pode escolher o alvo. E o primeiro, vez em quando, passa por discreto.

Mais calmo agora, ao saber, por meio de 29 boletins especiais, que as bolhas do Rrrrrrrrrrrrrrrronaldo, o Fenômeno estão em franca recuperação, – e que os atletas brasileiros foram fazer compras – fico a me perguntar se não estou pegando pesado com o Galvão, o pobre do homem que só quer trabalhar. Mas quando penso que, por dias e dias, terei que suportar aquele tal de ‘bem, amigos da Rede Globo!’, nas transmissões e nos programas de, digamos, análise da rodada, deixo a boa vontade de lado.

Pior do que isso (de novo), só a eliminação do Brasil.

(*) Jornalista, escritor, dramaturgo, ator, é autor de quatro livros, um deles, com a peça ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo três prêmios em equipe: Esso e Ibest (2). Nascido em Brasília, filho de um oficial do Exército e de uma artista plástica, é paulistano de coração e torcedor de um clube do Rio de Janeiro: o Vasco da Gama – time que escolheu aos sete anos, quando morava no Rio Grande do Sul.’

Antonio Brasil

‘O Brasil é ‘excrusividade’ da Globo’, 5/06/06

‘O que você pensaria de uma democracia onde o mesmo partido político vencesse todas as eleições para presidente nos últimos 30 anos? No mínimo, você ficaria intrigado e preocupado. Seria mesmo uma democracia? Alguns alegariam ‘competência’ do governo ou do partido. Outros diriam que é armação e ameaça à democracia. E os conformistas resignados, no entanto, anunciariam que ‘a vida é assim mesmo’.

Pois bem. Então me explique por que há décadas a Rede Globo tem exclusividade nas transmissões da Copa do Mundo e de quase todos os eventos esportivos e não esportivos do País? Seria questão de ‘competência’ e grande poder financeiro, apesar de enfrentar grave crise? Ou seria pobreza, descaso ou incompetência das demais redes competidoras?

Para a musa da Copa, Fátima Bernades, em entrevista recente à FSP (ver aqui) a resposta é simples: ‘Olha, isso é em qualquer lugar do mundo, gente. Você pagou pelo evento. Muita gente poderia ter pago junto. Eu, sinceramente, nem sei como é todo esse mecanismo de negociação’.

Será mesmo? Não tenho tanta certeza. Segundo dados do Portal UOL Copa, em 2002, a Rede Globo pagou US$ 450 milhões pela exclusividade em TV aberta das Copas de 2002 e 2006. A emissora não teria conseguido revender os direitos para nenhuma das concorrentes e teve um prejuízo de US$ 210 milhões. Será mesmo?

Em outros lugares do mundo, nos EUA, por exemplo, as grandes redes de TV se revezam na ‘exclusividade’ dos grandes eventos esportivos. Há órgãos de proteção ao consumidor e agências reguladoras como o FCC que ficariam muito ‘intrigadas’ se uma única rede de TV ganhasse os leilões e garantisse uma espécie de monopólio da transmissão todos os eventos esportivos americanos e internacionais.

Nenhuma economia de mercado ou mesmo qualquer democracia deveria permitir tanta ‘competência’ ou poder. O pior é que no Brasil do conformismo e da falta de curiosidade alega-se até mesmo ‘prejuízo’ financeiro com a exclusividade na Copa e todos aceitam. Não seria a hora de investigar esse tal prejuízo?

Altíssimos índices de audiência, quase um monopólio de comunicação durante semanas e venda de todas as cotas publicitárias a preços extorsivos dariam mesmo prejuízo às contas da emissora? E o prejuízo financeiro das demais redes? Como foram conduzidas as negociações para repartir essa exclusividade?

Loterias duvidosas

As negociações nebulosas que sempre garantem exclusividade de eventos esportivos no Brasil nos fazem lembrar os resultados sigilosos das loterias brasileiras como a Mega Sena todas as semanas. Será que ninguém, nenhum jornalista fica curioso para descobrir a verdadeira identidade do ganhador da Mega Sena acumulada? Questão de segurança para o vencedor? Então, não jogue! Mas eu tenho o direito de saber se o vencedor, morador em Deus me livre, não é senador da República ou mesmo presidente da Caixa Econômica Federal. Afinal, essa mesma instituição centenária, idônea e inquestionável não teve problema de quebrar o sigilo bancário de um caseiro de Brasília.

E a quebra do sigilo do painel eletrônico do Congresso Brasileiro há alguns anos? Perceberam o risco de simplesmente aceitarmos negociações ou declarações que envolvem interesses estratégicos nacionais? Resultado de loteria e transmissão de Copa do mundo, no Brasil, são questões de segurança nacional. Surpreende-me que ninguém duvide de ambas.

Em verdade, adoramos cobrar transparência de governos e políticos. Mas os negócios que envolvem televisão, digital ou analógica, em eleições ou Copas do Mundo primam pelo segredo, respostas e explicações evasivas.

Cobertura exclusiva

O problema é que, infelizmente, essa ‘exclusividade’ não se limita às transmissões dos jogos da Copa. Também inclui a própria cobertura do evento e causa ainda mais polêmica entre os jornalistas. Segundo o noticiário: ‘A TV Globo é a única empresa, em todo o mundo, com direito de entrar no Park Hotel Weggis, local de concentração da seleção. Foi constrangedor, segundo alguns membros da imprensa brasileira, ontem, ver repórteres da emissora entrevistando jogadores, como ocorreu com o volante Gilberto Silva, enquanto todos os outros tinham de ficar do lado de fora, sem nenhum contato. Este tem sido um problema recorrente, pois a Rede Globo tem exclusividade até mesmo em imagens do Campeonato Brasileiro’.

Ainda tem dúvidas? Tem mais. Na ‘exclusividade’, nem mesmo escapam os treinos da seleção brasileira.

Em excelente matéria publicada no Observatório da Imprensa (ver aqui) a nossa colega Marinilda Carvalho denuncia: ‘A Globo tentou impedir a ESPN Brasil de transmitir até os treinos-treinos dos brasileiros na Thermoplan Arena, onde a seleção se prepara… Por acordo que alguns descrevem como ‘secreto’ entre Globo, CBF e Thermoplan, fabricante suíço de cafeteiras que financiou a estada brasileira em Weggis (como se os ‘acordos’ CBF-Globo fossem alguma vez transparentes), esse jogo-treino foi classificado de ‘amistoso’: o time usa uniforme de jogo, as estatísticas da partida contam como oficiais. E Galvão Bueno transmite ao vivo’.

Perceberam a extensão e gravidade do problema? Querem mais?

Em outra matéria, no Estadão desta segunda (ver aqui), intitulada ‘Net corta BBC e TV5’: ‘Quem quiser continuar assistindo à BBC, à TV 5 e também à TVE pela Net terá de se curvar ao sistema digital… Face ao tamanho que a Net tem de assinantes, o número de interessados nesses canais (TV5 e BBC) era mínimo. Assim disse o diretor de Produtos e Serviços da operadora, Márcio Carvalho’.

Eu bem que avisei.

Mas o problema das TVs abertas brasileiras tende a se repetir no mercado de TVs por assinatura. Esta semana, o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação alerta para a mais nova ameaça do acordo das empresas do megaempresário Murdoch com a Globo:

‘O FNDC manifesta-se publicamente contrário à forma como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão do Ministério da Fazenda, autorizou a junção da operadora de TV paga por satélite DirecTV com sua concorrente Sky Brasil, no último dia 25/5, deixando o país em situação vulnerável ao grupo de mídia mais conservador e agressivo do planeta’. (ver aqui)

Em tempos de frenesi patriótico pela Copa do Mundo, além de torcer pelo Brasil, também deveríamos refletir sobre o poder exagerado da televisão brasileira e fraqueza da nossa democracia. Pode não ser tarde demais.

Ou talvez o meu velho porteiro, gente simples, pouco letrada, mas que sabe tudo de vida e futebol tenha razão: ‘Não tem jeito. O Brasil é ‘excrusividade’ da Globo’.’



ELEIÇÕES 2006
Carlos Chaparro

A ‘arte’ de dizer mediocridades, 9/06/06

‘O XIS DA QUESTÃO – Se olharmos o que dizem e como dizem os dois principais candidatos à Presidência, seremos levados à conclusão inevitável de que temos pela frente uma eleição de perspectivas melancólicas. O festival de mediocridades ditas foi agora engrossado com a entrevista de Geraldo Alckmin, nas páginas amarelas de Veja.

1. Verdades e mentiras de um título

Ensina o saber da cultura jornalística que título tem pelo menos duas funções: a de chamar a atenção e a de sintetizar a informação ou a idéia mais importante do texto. Daí, a minha perplexidade, ao me deparar com o título dado por Veja à entrevista com Geraldo Alckmin, nas ‘páginas amarelas’ desta semana: Lula é cara-de-pau.

Que chama a atenção, lá isso chama. E como! Mas será que Geraldo Alckmin nada disse de mais importante, nas três páginas da entrevista?

O homem quer conquistar a Presidência da República de uma nação de quase 200 milhões de habitantes. Está praticamente oficializado como candidato de dois dos maiores partidos do país. No muito ou pouco que já discursou e discursa por aí, tenta-nos convencer de que o Brasil precisa de um projeto, e por isso e para isso nos pede o voto. Pois agora, quando consegue para si o espaço mais disputado da imprensa brasileira, nada diz de importante. Pelo menos é o que a revista nos sugere, ao dar força de título a uma frasezinha de campanha vulgar, em mesa de botequim.

Diante da agressividade e pobreza da frase, sussurrei, de mim para mim: ‘Das duas, uma. Ou o título é honesto, e dá evidência à mediocridade do que de melhor Alckmin falou; ou, então, o título esconde propositalmente o que de bom foi dito na entrevista – e, nesse caso, teríamos aí uma baita sacanagem do editor da matéria.’

Lida a entrevista, concluí que qualquer das hipóteses é mais ou menos verdadeira. Se preferirem, mais ou menos falsa. O título não é tão honesto quanto as aspas sugerem: embora com sentido aproximado, a frase dita foi diferente e em contexto desprezado. Portanto, a sacanagem do editor existe. Até porque poderia ter sido outra, mais verdadeira em relação à totalidade da entrevista, a frase escolhida entre as muitas vulgaridades ditas.

Ainda assim, a ação do editor tem lá a sua justificativa, porque não há, em toda a entrevista, uma só idéia importante ou original (e nessa mediocridade se inclui a frase do título). ‘Lula é cara-de-pau’. Quando uma frase assim dá título à entrevista de páginas amarelas, coloca-se em evidência, mais do que subjetivamente, o vazio das idéias do entrevistado.

Para isso pode também servir um título.

2. Pobreza discursiva

Se na avaliação da cena política olharmos o que dizem e como dizem os dois principais candidatos à Presidência, seremos levados à conclusão inevitável de que temos pela frente uma eleição de perspectivas melancólicas.

Pelo menos até agora, a pobreza discursiva dos dois principais candidatos é de doer. E sob esse ponto de vista, tão melancólica quanto a circulação, em rede universal, de coletâneas quilométricas com bobagens ditas pelo presidente Lula, é a entrevista feita pela Veja com o oponente, o candidato Geraldo Alckmin.

Talvez a imprensa tenha também culpa nisso. Na cobertura da campanha, a busca jornalística prioriza o inusitado, a vulgarização da guerra de palavras. Serve de exemplo o destaque dado aos atos falhos dos principais personagens, como mais esse do presidente Lula, quando, esta semana, na videoconferência com a turma da seleção, perguntou pela gordura do Ronaldo ao técnico Parreira. Deu no que deu, uma resposta deselegante e incômoda, barulhentamente difundida no dia seguinte.

Se nos detivermos nos detalhes da entrevista de Veja com Geraldo Alckmin, verificamos que não houve uma só pergunta sobre planos de governo, sobre políticas públicas, sobre leituras e avaliações da complexa realidade do país. A questão ‘Brasil’ passou ao largo, bem ao largo das preocupações de quem perguntava. Assim, as perguntas feitas ajudaram a trazer a entrevista para a planície pobre das pequenas questiúnculas.

Foi um questionário sem grandeza, sem ambição intelectual, sem qualquer base conceitual para temáticas maiores. E Geraldo Alckmin aceitou o jogo da mediocridade proposto pela repórter entrevistadora.

Apequenou-se. Assim como o presidente Lula se apequenou, naquela malfadada e estranha entrevista dada em jardins parisienses, armada para minimizar a imoralidade do mensalão. Em vez de crescer como estadista no enfrentamento da crise, desrespeitou a dignidade do cargo e mergulhou no lodo do ‘caixa dois’.

Para isso também pode servir uma entrevista.’



MLST NA CÂMARA
William França

William França responde: Militante travestido de repórter mistura atribuições, 9/06/06

‘Este artigo se trata de uma resposta ao texto reproduzido no Comunique-se da Agência Repórter Social intitulado ‘Willian França: Esses sem-terra não podem ser nem chamados de animais’, assinado por Alceu Castilho.

Por decisão pessoal, sequer responderia às acusações publicadas neste espaço eletrônico. Tenho por princípios não dar nenhuma importância a fatos que não são verdade, para não legitimá-los. Tampouco perco tempo com eles. Dedico-me ao trabalho. Os que conhecem a minha biografia também não perderão tempo em dar crédito a esse tipo de declaratório infundado que foi publicado por aqui.

Mas como a Câmara dos Deputados e sua Secretaria de Comunicação Social – que dirijo há oito meses – foram envolvidas no texto publicado pelo ‘Comunique-se’ sem que fosse ouvido o recomendado ‘outro lado’, reuni os diretores da TV Câmara, da Rádio Câmara, da Agência Câmara de Notícias, do ‘Jornal da Câmara’, de Relações Públicas e os coordenadores de Jornalismo e de Comunicação Institucional, além da Assessoria de Imprensa da Câmara – que representam mais de 500 servidores sob minha coordenação direta -, para que tomassem ciência da publicação.

Da reunião, decidiu-se que eu deveria responder às mentiras e difamações publicadas. Acatei, ainda que a contragosto, a sugestão. Afinal, temos todos a responsabilidade por ‘informar e esclarecer a opinião pública a respeito das atividades da Câmara dos Deputados’. Enquadrou-se essa insensatez em forma de texto publicada neste portal na categoria de ‘atividades da Casa’. Segue, abaixo, a resposta então produzida por mim e depois referendada por todos os diretores.

‘Foi com grande surpresa e indignação que tomei conhecimento da ‘reportagem’ intitulada ‘Willian (sic) França: ‘Esses sem-terra não podem ser nem chamados de animais’, produzida por um site denominado Repórter Social e reproduzida – sem o menor cuidado e sem o menor respeito à mais básica das regras do jornalismo, o de ouvir o outro lado -, pelo portal ‘Comunique-se’.

A referida ‘matéria’ atribui a mim frase que jamais pronunciei a respeito dos militantes sem-terra presos depois de promoverem atos de vandalismo na Câmara dos Deputados. Além disso, distorce e mente a respeito de todas as ações da Câmara no caso, de conhecimento público e fartamente documentadas na imprensa.

Essas distorções poderiam ficar apenas no campo do embate ideológico, já que o referido site assume de maneira clara a defesa dos chamados movimentos sociais – ressalto que muitos deles são legítimos, sérios e comprometidos com a democracia. Chega a explicitar essa posição ao admitir, no próprio portal, que ‘a maior parte das ações sociais não tem um assessor de imprensa’. Também que ‘cabe a uma empresa jornalística socialmente responsável perceber essa distorção na balança do poder e oferecer uma compensação aos brasileiros’.

Não existe nenhum problema em defender atos de movimentos sociais organizados. A própria Câmara é palco diário de embates e debates democráticos da sociedade civil e assim o continuará sendo. Pela Casa passam diariamente dezenas de milhares de pessoas que exercem de maneira legítima seu direito de influir no rumo de votações. O problema está em um veículo como o ‘Comunique-se’ se basear em uma fonte que admite abertamente fazer assessoria de imprensa informal de movimentos como o MLST – que planejou ardilosamente e produziu destruição condenada unanimemente pela sociedade brasileira – sem deixar isso claro para seus leitores.

O texto faz apologia indireta ao crime cometido pelos ditos sem-terra e parte para ataques pessoais e dirigidos, ainda que totalmente falsos e infundados. Nunca havia encontrado o tal ‘repórter’ – que, por sinal, se apresentou de forma confusa como correspondente da Associação Paulista de Jornais recém-chegado a Brasília, a muito contragosto vindo de São Paulo e com um ódio gratuito contra a capital federal e seus habitantes. Falou e reclamou muito de tudo, mas nada disse de site social.

Além de mentir a respeito de supostas declarações feitas por mim, que estive durante toda a madrugada no Ginásio de Esportes para acompanhar de perto todas as ações administrativas da Câmara, a ‘matéria’ induz o leitor a erro nas seguintes afirmações:

– Compara a prisão dos vândalos à execução de inocentes pela ditadura militar de Augusto Pinochet, no Chile. A verdade é que o ato de vandalismo e a subsequente prisão dos manifestantes foi registrada por toda a mídia brasileira. Não foi registrado qualquer fato que pode ser considerado abuso de autoridade ou de desrespeito aos direitos humanos contra os presos, e a detenção foi acompanhada, durante toda a noite, por advogados da Ordem dos Advogados do Brasil (Seção DF), por representantes do Ministério Público, por dirigentes da Secretaria de Segurança Pública do DF e por servidores de diversas áreas da Câmara.

– Afirma que crianças e adolescentes passaram fome e frio. A verdade é que servidores da Câmara – entre eles a subsecretária de Relações Públicas – acompanharam, por orientação do presidente Aldo Rebelo, o grupo na delegacia especializada até as 2h, quando os adolescentes e as crianças que estavam acompanhadas das respectivas mães foram encaminhadas para abrigos do próprio MLST ou do governo do Distrito Federal.

– Estavam lá para prestar todo o tipo de apoio, como assim foi feito. Só um lembrete importante: não foi a Câmara que levou crianças a participarem de ato violento contra um dos poderes da República.

– Afirma que os presos passaram fome. Ora, a própria Câmara, em articulação feita com a Secretaria de Segurança, buscou a forma mais ágil de servir alimentos de qualidade aos detidos. Não existem restaurantes de plantão prontos para servir simultaneamente e rapidamente mais de 500 refeições altas horas da noite, o que demandou negociação e tempo. Além disso, a Câmara se comprometeu a pagar todas as despesas com essa alimentação.

– Afirma que as prisões violaram o Estado de Direito. É bom lembrar que o presidente da Câmara chegou a ser criticado por alguns órgãos de imprensa por não ter aceito a presença da Tropa de Choque da PM para liberar o prédio, ocupado pelos manifestantes, mesmo depois que eles destruíram patrimônio público, ameaçaram e feriram servidores, a ponto de levar um funcionário da Câmara à UTI de um hospital, com afundamento craniano e edema cerebral.

– Afirma que o presidente Aldo Rebelo passou um cheque em branco para o governador Joaquim Roriz. O presidente da Câmara determinou a prisão de todos os invasores – sem exceção. A tarefa, por natural, coube à Polícia Militar do DF, pois os vândalos estavam em área externa ao Palácio do Congresso Nacional. A Polícia Legislativa da Câmara fez a autuação, como assim determina a legislação. Em tempo: Roriz desimcompatibilizou-se do cargo desde o dia 31 de março.

Resumindo: o ‘Comunique-se’ reproduziu tão-somente um relato impressionista de um militante que se intitula jornalista.’

Informo ainda que, acatando sugestão dos diretores, adotarei todas as providências judiciais cabíveis para o caso.

(*) Secretário de Comunicação Social da Câmara dos Deputados’

Alceu Castilho

Willian França: ‘Esses sem-terra não podem ser nem chamados de animais’, 7/06/06

‘O diretor de Comunicação da Câmara dos Deputados, Willian França, entrou em contato com o Comunique-se e contestou o conteúdo deste artigo. O direito de resposta será publicado nesta sexta-feira (09/06) também na editoria Em Pauta.

Willian França é diretor de Comunicação da Câmara dos Deputados. Seu cargo público e sua hierarquia não o impediram de se pronunciar nos seguintes termos, na noite de terça-feira em Brasília, em relação aos sem-terra presos no Ginásio Nilson Nelson:

– Por que dar comida para esse tipo de gente? São uns animais. Ou melhor, animal, não, porque animal tem noção de onde pode entrar. Esse tipo de gente não pode ser comparada a animais.

Willian fazia os comentários para uma roda de jornalistas. Não era uma exceção. Mas mesmo repórteres que não ousariam falar contra ‘a turma dos direitos humanos’ demonstravam-se pouco dispostos a questionar as ações do poder público subseqüentes à invasão da Câmara pelo MLST.

A deputada Maninha (PSOL-DF), uma entre os quatro únicos deputados que estavam no gramado enquanto se efetuava a prisão em massa de homens, mulheres, adolescents e crianças, sintetizava aquele entardecer em Brasília: ‘A única vez que vi isso foi em 1969, quando era estudante da UnB e tivemos de sair em fila indiana, de mãos para cima’.

A imprensa considerou legítimo o regime de exceção nos gramados do Congresso. Um presidente comunista da Câmara ordenou a prisão de centenas de pessoas, indiscriminadamente, e mais de 500 brasileiros foram detidos no gramado, em frente ao símbolo maior do País. No início o cerco policial mal existia, e as idas e vindas de transeuntes eram evidentes – mesmo assim, todos que estavam ali foram presos no início da noite e levados em ônibus da PM para o ginásio Nilson Nelson, revivendo algo que os chilenos viveram no Estádio Nacional, na era Pinochet.

À exceção das lideranças, os sem-terra pouco foram entrevistados. O anoitecer em Brasília viu 10 crianças e 32 adolescentes serem presos, sem a presença de assistentes sociais, promotores, juízes. O Estado de Direito brasileiro foi apunhalado em plena Esplanada, mas a mídia adotou o discurso do vilão único – os sem-terra que invadiram o Congresso.

Enquanto isso, vestidas com roupas de verão, as crianças passavam frio (tem feito frio em Brasília nos últimos dias) e fome. Algumas tinham comido somente às 4 horas. A única que se alimentava era Douglas Freitas, um bebê de 6 meses, ainda amamentando.

Às 22 horas, após algum tempo no Nilson Nelson, as crianças e adolescentes foram levados, com algumas mães ou responsáveis (mas não pais) para a Delegacia da Criança e do Adolescente. Ali a cobertura da imprensa minguou. Ao meu lado agüentava firme uma repórter da Radiobras, Roberta Lopes. Chocada. Cinegrafistas da Globo gravavam as cenas. Um repórter do Globo chegou quando todos já haviam ido embora, às 2 horas desta quarta-feira.

Antes, uma grata surpresa: nada menos que cinco repórteres do Centro de Mídia Independente, uma rede mundial de informações independentes do setor privado, compareceram ao local e fizeram as vezes dos jornalistas da chamada grande imprensa. (Eu estava no local como correspondente da Associação Paulista de Jornais em Brasília, e aproveito aqui partes do relato enviado à rede de 16 jornais.)

Comida de presídio

As crianças seguiam passando um frio que só aumentava. Os adolescentes, uma delas grávida, estavam amontoados nos corredores da delegacia. A assistente social só chegou às 22h30. Em seguida, um comissão da Vara da Infância. Nada disso impediu que as crianças ficassem até a 1h15; os adolescentes, até 1h45.

‘Vocês querem que eu encomende lanches do McDonalds para eles?’, perguntava o delegado-chefe José Adão Rezende. ‘Querem que eu os leve para o sofá da minha casa?’

A comida (arroz, batata, salsicha e farofa) só chegou à 1 hora. Veio diretamente do presídio da Papuda.

Na mesma hora chegaram algumas roupas, somente para as crianças. O frio em Brasília tinha aumentado – e radicalmente, para pessoas que em grande parte tinham vindo do Nordeste. Mas não foi o SOS Criança, do governo distrital, que levou os agasalhos. Foram vizinhos. Voluntários.

Nada disso foi relatado. Aldo Rebelo passou um cheque em branco para o governador Joaquim Roriz, e ninguém estranhou. O presidente da Câmara enviou por volta da meia-noite uma relações públicas à Delegacia da Criança. Ela adotava o discurso – o mesmo de delegados e policiais – de que a culpa era somente dos pais, pela negligência.

Os jornalistas não podem ser omissos em momentos emblemáticos da cena brasileira. Ou defendem o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Constituição, o Estado de Direito, dos dois lados da moeda (o que necessariamente deve incluir a cobrança do poder público), ou concordam com o senhor Willian França e sua teoria dos animais. Fonte:Repórter Social

(*) Editor e jornalista responsável pela Agência Repórter Social’



HISTÓRIAS DO REAL
Cassio Politi

Nenhuma fonte quis falar…, 9/06/06

‘O interlocutor era hábil. Comandara o País por oito anos e, se estivesse decidido a não falar sobre o assunto, simplesmente o projeto de um livro estaria arruinado. O repórter, então, decidiu ser direto com Fernando Henrique Cardoso.

– Presidente, o senhor poderia me contar como foi montada a blindagem internacional que protegeu o ministro Malan e a equipe econômica durante quase dez anos?

– Pois não.

E FHC contou tudo a Guilheme Fiuza, que se surpreendeu ao saber do nível de relacionamento do governo brasileiro com os norte-americanos nos anos 90. Contar como aquele grupo conseguiu ficar oito anos no poder era a pauta. A resposta virou um livro.

Aproximação

Um time de futebol perde dois ou três jogos, e o técnico cai. Algo semelhante ao Ministério da Fazenda: a Economia balança e, naturalmente, o ministro cai. Exceto Malan. Qual a sustentação que havia por trás disso?

Para Guilherme Fiuza, o jornalista-autor, Malan seria o personagem a responder a pergunta e começou a arquitetar uma aproximação, primeiro por Marcelo Pontes, jornalista que assessorou o ex-ministro por muito tempo. Nada feito. A alternativa poderia ser Davi Zilberstein, mas nos quase dez encontros com o genro de FHC, Zilberstein falou apenas de si mesmo.

O terceiro caminho foi o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco. Com ele, matou dois coelhos com uma cajadada só. Entendeu como era a tal blindagem e conseguiu que Franco promovesse uma aproximação com Malan. A questão toda era o tempo. O período para começar a escrever o livro se aproximava e nada de concreto fora apurado.

Gravador desligado

Com a ajuda de Gustavo Franco somada à insistência com assessores de Malan, Fiuza conseguiu um primeiro encontro com o ex-ministro, personagem central da história. ‘Nessa aproximação, até amizade com a secretária é fundamental’.

– Ministro, o gravador ligado o incomoda?

– Se você acha que eu sou contido falando sem o gravador, com o gravador eu sou muito mais contido.

– Tudo bem. Não preciso do gravador ligado. Vou assumir a responsabilidade do que estou contando. Só quero a informação. Sou capaz de anotar tudo o que o senhor disser. Não tem nenhum problema.

– Não me chame de ‘senhor’. Me chame de ‘você’. Vamos conversando.

O gravador desligado gerou a expectativa de uma revelação. Em vão. Falou-se apenas de generalidades. Malan o fitava desconfiado. Queria entender quem era aquela figura e dosar o quanto poderia se abrir. Num segundo encontro, Malan falou apenas superficialmente sobre o governo. A terceira entrevista não foi agendada porque o ex-ministro viajaria. E o tempo corria.

‘Pensei que teria de ir diretamente ao Fernando Henrique’. Fiuza já tinha uma base sólida de informações. Mas faltava a confirmação. Paralelamente, a aproximação com a assessoria de FHC deu resultado. ‘A assessoria me contou que o Fernando Henrique disse pessoalmente que conhecia o meu trabalho em O Globo e no No Mínimo, que me respeitava e que daria a entrevista’.

Pois não

Com gravador ligado, o encontro aconteceu no Instituto Fernando Henrique Cardoso, em São Paulo. Era preciso entrar logo no assunto, pois não haveria rodadas de entrevista. Nos primeiros minutos de conversa, falou-se do governo. Fiuza deu pequenas voltas antes de ir direto ao assunto.

Fez a tal pergunta sobre a blindagem internacional. Fernando Henrique respondeu ‘pois não’ e, sem recato, contou tudo em apenas dez minutos.

Teor do livro

Os detalhes contados por FHC foram a espinha dorsal do livro de Fiuza. No início dos anos 90, o Brasil estava desacreditado mundialmente porque não cumpria contratos. Em 1º de abril de 1994, haveria a renegociação da dívida externa, de US$ 100 bilhões. Seriam trocados títulos que estavam por vencer por títulos que venceriam em 30 anos, com juros baixos. Era o Plano Brady dos Estados Unidos, de socorro aos países emergentes.

O FMI seria o avalista do Brasil em US$ 2,8 bilhões. Malan (então presidente do Banco Central) e FHC (então ministro da Fazenda) apostaram que conseguiriam comprar secretamente títulos em grande quantidade, como garantia para a renegociação. Comprando títulos, o aval do FMI passaria a ser dispensável.

Sigilo

Por ser uma operação secreta, era preciso comprar os títulos em inglês. Se fosse em português, o governo norte-americano facilmente desvendaria a operação. Por isso, o JP Morgan entrou na operação, que, de Brasília, comprou os tais títulos em Wall Street.

Em fevereiro de 1994, quando já se noticiava a possível exclusão do Brasil do Brady, o plano foi descoberto. O secretário do Tesouro Americano, Larry Summers, telefonou para Malan e disse que tinha a informação de que o Brasil estava comprando títulos do Zero Cupom Bond, emitidos pelo mercado americano e comprados em Wall Street.

‘O Malan respondeu: ‘está comprando, não. O Brasil já comprou os títulos e já tem as garantias’. E aí veio o medo de haver um veto político dos Estados Unidos, que poderiam dizer que o Brasil fez uma heresia, que deveria ter o FMI como avalista’. Mas foi o contrário: Lerry Summers aceitou. O Brasil foi o único país que entrou no Plano Brady sem o FMI. ‘A equipe do Malan depois descobriria que o governo americano adorou a manobra porque viu ali uma equipe com iniciativa’. Isso tudo criou uma relação de confiança pessoal entre Bill Clinton, FHC e Malan. Tony Blair e o mercado financeiro também passaram a confiar no Brasil.

Foi por essa relação de confiança que, mesmo sob pressões violentas, a equipe econômica foi mantida. Na mais forte crise, Malan pediu demissão numa sexta-feira de janeiro de 1999. FHC não deu resposta. No domingo, FHC falou com Clinton por telefone. ‘Ele queria ser aconselhado para manter aquela relação de confiança e ouviu de Clinton a seguinte resposta: ‘Cardoso, a melhor saída para a crise não é demitir o seu ministro. É manter o seu ministro’. Foi um recado sutil, do tipo: ‘nós confiamos no Malan’.

Palocci

Tudo foi contado pelo próprio Fernando Henrique Cardoso e virou o livro Três Mil dias no Bunker. Bunker é uma construção subterrânea de paredes blindadas em que o ocupante tem condição de sobreviver durante um certo período durante a guerra. Algo, de fato, parecido com a blindagem feita em torno da equipe econômica de Malan.

Dessas conversas, saiu uma outra revelação: para dar continuidade à política econômica do governo anterior, Antonio Palocci herdou essa blindagem e a relação de confiança com governos de países ricos. Com Lula já empossado, as equipes de Palocci e Malan continuaram trabalhando juntas. ‘Eles inclusive despachavam. O Palocci e o Malan se falavam regularmente por telefone. Muito pouca gente sabia disso. Foi o Malan quem me passou isso em off. Eu confirmei com muitas outras pessoas’.

Nas prateleiras

Malan confirmou também a história da blindagem nas entrevistas seguintes. Ele adquiriu confiança porque percebeu que o jornalista tinha detalhes da operação. ‘O curioso disso tudo é que a fonte máxima, que eu achava que seria dificílima, se revelou a fonte mais aberta de todas’.

Fiuza fez as entrevistas entre março e julho de 2005. E escreveu o livro de agosto a outubro do mesmo ano.

ERRATA: Após alerta do usuário José de Castro, o autor da coluna corrigiu um erro no texto original, que trazia Davi Zilberstein como sogro de FHC. Ele é, na verdade, genro do ex-presidente.

(*) Cassio Politi é jornalista e atuou como videorrepórter de matérias de Cidades e Especiais no Uol News, comandado por Paulo Henrique Amorim até o ano passado. Trabalha com internet desde 1997. Atuou em grandes projetos pioneiros em jornalismo na web, como sites da Zip.Net, e, mais recentemente, no UOL. Ministra cursos de extensão há quatro anos e deu aulas em todos os estados brasileiros para quase 2 mil jornalistas e estudantes de Jornalismo. No ano passado, criou o curso de ‘Construção.’



MERCADO EDITORIAL
Eduardo Ribeiro

ABC paulista terá novo jornal diário, 7/06/06

‘Durante quase um mês Jornalistas&Cia mobilizou-se para apurar com detalhes informações mais precisas sobre o lançamento de um novo jornal diário na região do ABC, iniciativa que finalmente abriria uma frente de concorrência ao Diário do Grande ABC, jornal que tem reinado sozinho, por anos a fio, numa das mais pujantes regiões do País, a despeito das sucessivas crises que enfrentou, sobretudo nas disputas societárias entre as famílias Dotto e Polesi.

O jornal será lançado este mês e atende pelo nome de Hoje Jornal. Tem por trás como investidores empresários da região (Manuel Paulino e José Carlos Alves) e já contabiliza uma equipe de quase 30 profissionais (todos contratados com carteira assinada, como diz a diretora de Redação Rose Rosa).

A região e o mercado devem ganhar com a iniciativa e o Diário, que, em tese, só teria a perder, poderá também sair-se bem se, obviamente, investir. Ambos (o que chega e o que lá está) sabem que o maior desafio não é disputar a tapas os atuais leitores do Diário do Grande ABC, mas sim aumentar a base de leitores.

No caso do Diário, vale lembrar que ele foi tremendamente afetado por anos de brigas familiares entre seus controladores. Foi em março de 2004 que o caso começou a se solucionar, quando o polêmico empresário Ronan Maria Pinto, do ramo de transportes e aterros sanitários e sócio da família Dotto na empresa EPT, de ônibus, que circula em Santo André, comprou a parte dos Polesi, ganhando assento na administração do jornal. Os rumores são de que ele, na verdade, começou a se envolver em 2003, quando teria emprestado dinheiro às duas famílias proprietárias para resolver problemas financeiros imediatos – informação nunca confirmada pelas famílias ou pelo empresário.

Hoje, Ronan é o sócio majoritário, embora tenha mantido sigilo do negócio ao mercado até setembro de 2005. Ronan é quem manda, toma as decisões. Os Dotto, mesmo minoritários, são importantes no negócio pela grande influência que têm na região, tanto no meio empresarial quanto na esfera pública.

Pesam contra (ou a favor, dependendo do ponto de vista) o Diário os sucessivos ajustes que têm sido feitos na empresa e na equipe, num movimento que busca reduzir custos com folha de pagamento e com outras despesas. Ou seja, enquanto um corta e sacrifica, o outro, com dinheiro, investe firme para entrar com tudo no mercado.

O editor-executivo Wilson Baroncelli conversou com alguns dos profissionais que vão trabalhar no novo jornal, revelando em primeira mão na edição impressa deste J&Cia os detalhes da operação.

Segundo informa, o Hoje Jornal vai circular, como o Diário, nas sete cidades da região do ABCD paulista, a saber: Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. A íntegra da nota publicada na edição impressa segue abaixo:

‘Historicamente conhecido como o berço da indústria automobilística nacional e do movimento sindical no Brasil, o ABC viu reduzir parte de sua antiga força por causa da desconcentração industrial, mas ainda estão lá instaladas as sedes de diversas montadoras, como Mercedes-Benz, Ford, Volkswagen e General Motors, entre outras, além de indústrias de autopeças e de diversos outros ramos.

Até agora dominada pelo Diário do Grande ABC, jornal de grande tradição mas que foi marcado na última década por sucessivas crises (brigas societárias, problemas de gestão, venda do controle, troca de comando editorial etc.), a região ganhará, desse modo, uma nova alternativa de leitura diária.

Se o mercado local justifica a existência de um novo diário, a crise do DGABC, embora não mencionada, certamente ajudou os empresários Manuel Paulino e José Carlos Alves a decidirem pelo novo empreendimento, que implicou, por valores não revelados, a reforma de um prédio em São Bernardo, a compra de duas rotativas (uma das quais já está instalada) e a montagem de uma redação que já conta com quase 30 profissionais – grande parte deles oriunda do concorrente.

A diretora de Redação Rose Rosa (roserosa@hojejornal.com.br) faz questão de enfatizar: ‘Todos contratados com registro em carteira. Começamos em São Bernardo, mas vamos estar em todas as cidades do ABCD. Na realidade, vamos montar uma redação em cada cidade, mas centralizar a edição em São Bernardo, que é onde a gente tem o parque gráfico’.

Ela diz que o jornal terá um caderno local para cada cidade da região (São Bernardo, Santo André, Mauá, Diadema e São Caetano – Mauá, por enquanto, vai cobrir Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra). Quanto ao formato, informa que vai ser standard, tradicional, pois acredita que a maioria dos leitores acha o formato berliner ‘muito esquisito’. ‘Mas isso não nos impede de mudar, caso se consolide a nova tendência’, ressalva. A tiragem ainda é mantida em sigilo.

Além de Rose, a redação do Hoje conta com a editora-executiva Vanilda Oliveira e com os editores Walter Venturini Jr (Política), Andréa Catão (Cidades), Maurício Milani (Economia), Lidiane Diniz (Cultura), Nilton Valentim (Esportes), Rosa Maria Demergian (Social), Irati Ribeiro Motta (Artes) e Luciano Vicioni (Fotografia). Os editores-assistentes são Valéria Cabrera, Nicéia Climaco, Elaine Granconato, Juliana Finardi, Tereza Pimenta e Renan Cacioli. A equipe é completada pelos repórteres Gislayne Jacinto, Renata Gonçalez, Roberta Nomura, Dinilson Vieira Filho, Nelson Albuquerque, Regiane Soares e Eric Fujita, pelos fotógrafos Wilson Magão e Ricardo Lima e pelos diagramadores Eber Ferreira de Almeida e Miriam Moraes. Segundo Rose, esta é a equipe inicial, ‘faltam alguns nomes na diagramação, entre outros, que ainda estamos avaliando para contratação em junho’. Os telefones do Hoje Jornal são (11) 4338-1070 e (11) 4338-7579.’

Nova revista na praça

J&Cia também descobriu que há na praça uma nova revista em gestação. O projeto é ainda sigiloso mas terá à frente dois pesos pesados do jornalismo brasileiro, Mario Sergio Conti, ex-diretor de Redação de Veja e ex-correspondente da Band na Europa e que acaba de deixar a BandNews FM para se dedicar ao projeto; e Dorrit Harazin, que também foi muitos anos de Veja e hoje atua como colaboradora de alguns veículos de prestígio como Estadão e O Globo (mais este último). Pouco se sabe sobre o projeto, apenas que deve ser uma revista inteiramente dedicada a reportagens, cujo título provisório seria Piauí. Que ambos são do ramo, não há dúvida, o que não deixa de ser uma garantia de que deve vir coisa boa por aí.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Copa suja, 8/06/06

‘onde o/desespero/escava um/nó exato./Uma verdadeira

solidão/não seu relato,/o vazio mais intacto./Descobrir um

caminho/e apagar/os rastros

(Astier Basílio [Lugar] in Antimercadoria)

Copa suja

Quando era um jovem torcedor e vivia em Belo Horizonte, o colunista assistia aos jogos de futebol transmitidos pela TV Itacolomi, que mantinha apenas uma câmera, daquelas imensas, instalada defronte à linha divisória do gramado. Não existia video-tape e Pelé ainda atendia quando o chamavam de Gasolina, para se ter uma idéia de quanto é antiga esta lembrança (estávamos em 1957). Pois garanto que era muito melhor do que hoje, quando as emissoras distribuem mil câmeras pelo campo.

Atualmente, o ‘despotismo camerístico’, como diz Janistraquis, mostra, sempre em inacreditáveis closes, o jogador com o dedo enfiado no nariz; com o dedo enfiado também aqui, ali e acolá; o técnico que masca e cospe; mais jogadores que suam abundantemente, e suor, a gente sabe, só escorre bonito no corpo de Juliana Paes. Mas então aparece outro jogador que assoa o nariz e todos vêem a meleca a despencar; e mais um, desinibido, que coça e balança os quibas, para usar o sinônimo preferido por Graciliano Ramos. Ou os pacovás, no dizer do mais famoso mecânico do Brasil, aquele Paschoal de Belíssima.

Numa dessas tardes, antevéspera da Copa, assistíamos a um desses jogos-treinos e Janistraquis comentou, depois de mais um festival de sovaqueiras e múltiplas assoadelas e cusparadas:

‘Considerado, pensando bem, o futebol dentro de campo é um esportezinho nojento pra dedéu, né não?’

(E o tal ‘despotismo’ a que se refere meu secretário serve apenas para exibir latrinários, porque os gênios da mesa de corte atrapalham a visão do jogo propriamente dito, com imagens absolutamente desnecessárias e, ainda por cima, locutor e comentarista vivem a brigar com o video-tape, como se o telespectador fosse uma besta.)

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Musa inspiradora

A Copa, todavia, não se limita às ditas ‘quatro linhas’; fora delas reina absoluta a competência de Fátima Bernardes, que bate um bolão com fôlego de menina. Melhor do que em 2002. Cada vez mais bonita e mais simpática, a coluna lança a candidatura dessa eminente vascaína a Musa da Copa. Não há concorrência à vista.

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Tremendo macho!

Todos sabem que Aldo Rebelo possui aquela autoridade tão respeitada e até temida pela Nação. E que, quando entra em restaurantes de beira de estrada, os cães se afastam com o rabo entre as pernas, como se o deputado fosse a encarnação do pistoleiro Wilson, representado por Jack Palance em Os Brutos Também Amam.

Quando o herói das Alagoas mandou prender os 497 bandidos que depredaram a Câmara dos Deputados, Janistraquis aplaudiu mas, ao mesmo tempo e por via das dúvidas, fez esta prudente observação:

‘Considerado, se no Brasil não conseguem manter na cadeia nem os piores criminosos, avalie os arruaceiros, os quais não mataram ninguém, pelo menos por enquanto…’.

É mesmo. Em compensação, dos lamentáveis acontecimentos emerge a figura ímpar do Presidente da Câmara. Já é um consolo, pois este Homem, com M maiúsculo, assumiria a Presidência da República no caso de Lula empanturrar-se de presunção e seu vice sofrer um passamento qualquer.

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Voluntarioso

O considerado Émerson de Souza Olivieri, de São Paulo, lia no UOL alguma coisa sobre a convocação de Mineiro quando tropeçou os olhos na informação segundo a qual o craque é ‘voluntarioso’. Olivieri, que tem sobrenome de goleiro italiano, protesta:

Virou moda utilizar essa palavra para caracterizar certos jogadores. Só que a empregam erradamente. Ou estarei ouvindo estrelas?!?!?! Ora, Mineiro não é ‘voluntarioso’, mas superobediente ao esquema dos técnicos. Tenho a impressão de que os redatores acham que a palavra significa valente, corajoso, ou algo assim como abnegado, altruísta…

É mesmo, Ferrentini; voluntarioso é Edmundo, que só faz o que quer em campo e ainda fica com raiva quando o técnico o substitui.

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Pensando bem(1)…

Afrodescendente é um neologismo (ou simples eufemismo?) ridículo.

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Viva o Brasil!

Perfeita definição de Brasil, na recordação de Modesta Trindade Theodoro, de Belo Horizonte, em carta à Folha de S. Paulo:

Somos último lugar em matemática e penúltimo em ciências e temos 16 milhões de analfabetos. Entre os que sabem ler, mais de 50% não entendem o que lêem.

Dona Modesta rolou a bola e o craque Deonísio da Silva acomodou a perseguida lá onde a coruja dorme, em artigo no Observatório da Imprensa, do qual extraímos este excerto:

(…) Em recente estatística da Unesco descobrimos que no Brasil alunos da quinta série ainda não aprenderam a ler. Não um conto, romance, ensaio ou poesia, fronteiras avançadas de quem sabe ler e escrever, mas não entendem uma notícia de jornal, bula de remédio ou nota de falecimento.

Se nem isso entendem, como haverão de entender os mistérios da literatura, da música, da dança, da pintura, da escultura, da arquitetura etc.?

Lembremo-nos então de Ivan Lessa, citado por Joelmir Beting no Jornal da Band:

O brasileiro é um povo que vive com os pés no chão… e as mãos também.

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Coisa fina

O epigrafado Astier Basílio, jovem poeta e repentista paraibano (nasceu mesmo em Pernambuco, mas foi criado em Campina Grande), lançou na terça-feira, dia 6, seu livro Antimercadoria, numa festa da pomba no bar e restaurante Mr. Caipira, na praia de Manaíra, em João Pessoa.

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Bestas&bestas

O considerado leitor tomou conhecimento de que terça-feira passada, 6/6/06, foi o ‘Dia da Besta’? Pois 666 é número pra lá de amaldiçoado, garantem supersticiosos do mundo inteiro. Porém Janistraquis, elemento muito chegado a ritualismos heterodoxos, chegou à conclusão de que tudo não passa de ignominiosa besteira:

‘Considerado, o mundo não se acabou, o capiroto não foi visto aí pelas esquinas e, segundo consta, Martha Suplicy anda calmíssima.’

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Pensando bem (2)…

Anular o voto é a forma mais triste de se entregar os pontos ao PT. O eleitor assume presunçosa atitude de grande intelectual e afasta-se da ‘luta suja’, enquanto a militância petista deita e rola pelas urnas afora.

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Gengis Khan

Janistraquis leu e releu a pesquisa Ibope que dá conta de um tsunami lulista em São Paulo, até então um território do PSDB de Alckmin, e comentou, mais apalermado do que Zico no jogo-treino do Japão contra Malta:

‘Considerado, se continuar nessa implacável marcha à Gengis Khan, Lula ganhará a eleição pela unânime unanimidade dos anônimos, caso único na História Política do mundo!!!’

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De subúrbios

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no DF, de onde é possível avistar o presidente Lula em permanente colóquio telefônico com Orestes Quércia, pois Roldão nos despachou o seguinte texto, imediatamente depois de ler o Correio Braziliense:

Na primeira página deste domingo, dia 4, o jornal publica uma chamada para o caderno Esportes na qual diz que o craque Ronaldo Luís Nazário de Lima nasceu há quase 30 anos ‘na pequena Bento Ribeiro, subúrbio do Rio’. Não sei por que se empregou o gênero feminino para se referir ao subúrbio carioca. Talvez porque Brasília chama seus bairros de ‘cidades’?

Boa pergunta, Roldão, boa pergunta.

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Nota dez

O considerado Augusto Nunes escreveu em sua coluna do Jornal do Brasil:

(…) Todos os visitantes são submetidos a revistas rotineiras. Todos, menos quem tem carteirinha da Ordem dos Advogados do Brasil.

‘Aceitamos passar por detectores de metais’, concede Roberto Busatto, presidente da OAB. ‘Mas não há motivos para que sejamos apalpados. É uma humilhação dispensável’. Parentes dos presos podem sofrer apalpadelas. Mulheres podem. Crianças, também. Mas não os doutores.

Leia no Blogstraquis a íntegra desse texto deverasmente superior.

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Errei, sim!

‘CHUTE FORTE – Glorioso momento do Correio Popular, de Campinas, ao registrar a derrota da Ponte Preta para o União São João (1 a 0), embora tenha dominado a partida: ‘Alexandre Alves desperdiçou a outra chance mais iminente de gol do clube de Campinas ao chutar para fora um tiro de meta’. Janistraquis rolou arquibancada abaixo: ‘Considerado, vai chutar forte assim na baixa da égua!!! O cara bate tiro de meta e perde um gol!!!’. É deveras espantoso, embora Alexandre Alves chute menos que o repórter, cujo nome esta coluna omite para dar uma oportunidade de o rapaz se regenerar.’ (julho de 1994)’



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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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