Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Comunique-se

CONTROLE DA INTERNET
Comunique-se

Azeredo defende projeto de lei sobre internet, 10/11/06

‘O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), relator do Projeto de Lei Substitutiva que pretende regulamentar os crimes na internet, foi uma das figuras públicas mais bombardeadas pela mídia ao longo dessa semana. Preocupados com possibilidades de burocratização do acesso à rede e de ataques contra as liberdades individuais, diversos veículos e entidades da sociedade civil criticaram duramente o projeto. A pressão foi tanta que o texto foi rapidamente retirado da pauta do Senado e segue sem data prevista para votação.

Porém o senador afirma que as críticas não têm fundamento, uma vez que o projeto visa apenas a facilitar as investigações policiais sobre a rede mundial e não apresenta ameaças contra a democratização do acesso ou contra a liberdade de expressão. Ele ressaltou que boa parte das críticas vieram de pessoas que sequer se deram ao trabalho de ler o texto.

Azeredo passou boa parte desta semana dando entrevistas para esclarecer seu posicionamento e o teor do projeto. Para o Comunique-se, o senador concedeu na quarta-feira (08/11) uma entrevista durante a apuração da matéria Votação de projeto sobre acesso à rede é adiada. Abaixo, segue o conteúdo na íntegra desta conversa por telefone.

Comunique-se: Boa parte da mídia vendeu esse projeto como sendo uma iniciativa do PSDB. Como ele foi elaborado? Houve a participação de outros grupos políticos?

Eduardo Azeredo: Começa com um projeto aprovado pela Câmara, do Luís Piauí Lima, do PDT de Pernambuco. Então ele veio para cá [para o Senado], houve um aprensamento do projeto do senador Renan Calheiros, do PMDB, e depois houve esse [Projeto de Lei] Substitutivo, em que eu faço uma fusão dos projetos. Aproveitei sugestões do Hélio Costa [Ministro das Comunicações] sobre phishing (difusão maliciosa de código) enquanto ele ainda era senador e também do senador Delcídio Amaral (PT-MS), então é um projeto de origem multipartidária e também de estados variados.

C-se: Que alterações o senhor realizou nos textos anteriores de seus colegas?

EA: O do Renan tipifica os crimes cibernéticos de maneira mais adequada, então aproveitei essa parte toda que está mais completa do que o texto original do Piauí Lima. Até porque ele é mais antigo e de lá pra cá aconteceram muitas coisas novas. O phishing também não existia na lei.

C-se: Em que setores o senhor se apoiou para formular as bases técnicas do projeto?

EA: Eu me apóio na consultoria do Senado para a parte legal, porque sou engenheiro e analista de sistemas, não sou advogado. Sou o relator porque sou profissional de informática, então fui o relator na Comissão de Educação e depois quando o projeto já aprovado por essa Comissão foi para a [Comissão de] Constituição e Justiça, o presidente da Comissão, que é quem faz a descrição do projeto, também me colocou como relator pelo mesmo motivo, porque sou profissional de informática, porque já fui presidente do Cefo e outros cargos que ocupei. Então estou me socorrendo da consultoria do senado e tenho comigo também na minha assessoria o José Henrique Portugal, que foi diretor da Sucesu (atual Sociedade de Usuários de Informática), foi diretor do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados, do Ministério da Fazenda) também. Ele tem me ajudado nesse projeto.

C-se: Uma das principais críticas feitas ao projeto é que a burocratização dificultaria o acesso à informação e a democratização da comunicação. Isso procede?

EA: Não há nenhum ponto no projeto que impeça essa universalização. O que eles quiseram dizer é que ao se pedir o cadastramento poderia burocratizar, mas esse cadastramento não tem muita novidade do que se acontece hoje, ele ocorreria num momento só, ao exemplo das telefônicas, quando você contrata o serviço do provedor de acesso. Então eu acredito que foi exatamente uma desinformação, uma falta de leitura do projeto, várias pessoas começaram a interpretá-lo sem se ater a ele, e aí saiu coisas como um funcionário do Ministério das Comunicações dizendo que é um atentado contra a inclusão digital. Não sei onde ele viu isso, atentado contra inclusão digital é o governo, através do Ministério das Comunicações, não gastar os R$ 4 bilhões arrecadados com o Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações), isso sim é uma premissa para inclusão digital. Essa questão do projeto é muito mais ampla do que apenas um cadastramento. Ele também não tem controle da Internet. Alguns chegaram a achar que seria possível rastrear quais foram os sites acessados pelo internauta. Não há isso no projeto. O que ele fala é que o provedor tem que guardar o registro da ligação no momento em que é feita a conexão, coisa que eles já fazem hoje, através do IP [Internet Protocol]. Só que fazem hoje por livre e espontânea vontade, e por um período menor de tempo, de seis meses a um ano. Então estamos propondo, por sugestão da Polícia Federal, um prazo maior: três anos.

C-se: Então não há risco de patrulhamento? Caso a lei seja aprovada, haverá acompanhamento dos sites visitados?

EA: Do conteúdo não, em absoluto. Vai haver o registro da conexão, a exemplo do que acontece no telefone, que tem o registro do telefonema.

C-se: Então nessa questão de burocratização vs. segurança, o projeto atua resumidamente em dois pontos: criação de um cadastro mais completo e fazer com que os provedores mantenham esses registros por mais tempo?

EA: Na medida que você coloca na lei a responsabilidade do provedor de guardar os dados, ele será obrigado a fazê-lo. Hoje alguns provedores guardam outros não, então essa é uma grande dificuldade.

C-se: Em um texto publicado nesta semana no Jornal de Debates, o senhor critica a atuação superficial da mídia na cobertura deste caso. Onde o senhor considera que a imprensa errou?

EA: Houve uma desinformação, eu diria que uma certa pressa em informar. Realmente muita coisa que foi divulgada não é coerente com o que está no projeto. Muita gente ficou sem ler o texto e acabou se baseando em supostas interpretações. Por exemplo, falaram que a questão de baixar música, blog, chats, que o usuário que fizesse isso teria que ser cadastrado também, mas não está no projeto. Você pode fazer uma interpretação, ‘se você pede para identificar o usuário quando contrata um provedor, e para se fazer um blog você precisa de um provedor, então você está identificado’, é uma interpretação, mas não tem isso no projeto.

C-se: O senhor apontaria algum veículo específico por ter falhado mais grosseiramente nessa questão?

EA: Não, nenhum especificamente, mas acredito que essa é uma questão que deve ser pensada seriamente, a rapidez na divulgação da informação, a concorrência, que acaba deixando em segundo plano a validação dessas informações. Acredito que isso tenha acontecido, passei o dia todo de ontem e o dia todo de anteontem a informar todos que me procuraram, mandar cópias do projeto para todo mundo. Acredito que a disputa de quem informa primeiro acaba não validando as informações corretamente.

C-se: Por que a votação do projeto foi adiada?

EA: Realmente houve uma celeuma sobre o assunto. Muito senadores manifestaram que gostariam de mais tempo para estudar o projeto e eventualmente fazer emendas. A proposta foi do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), presidente da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, e eu concordei imediatamente porque meu interesse é que seja um projeto mais condensado, que não tenha uma cor partidária. Meu interesse é que seja um projeto que atenda a comunidade como um todo.

C-se: Em busca desse consenso, o senhor acha válido promover um debate com a sociedade civil, com os setores interessados no tema? Esse debate vai acontecer?

EA: Já aconteceu na verdade. Eu participei na semana passada de um debate em Belo Horizonte sobre segurança da informação, participei em São Paulo cerca de um mês atrás de um debate promovido pelo Valor Econômico, já tivemos audiência pública na Comissão de Educação do Senado. O problema é que agora o assunto teve uma divulgação maior, mas ele já vem sendo discutido há mais tempo e a participação da sociedade organizada já vem acontecendo também.

C-se: Mas e depois do surgimento desta repercussão, o debate será aprofundado?

EA: Da minha parte não, estou aguardando sugestões. O pedido da audiência publica foi feito pela senadora Patrícia Gomes (PPS-CE), mas isso não foi ainda marcado nem definido se efetivamente acontecerá. Mas agora pouco participei de uma entrevista ao vivo com o presidente da Abranet (Associação Brasileira dos Provedores de Internet). Esse canal está aberto, mas a audiência publica vai depender do senador Antonio Carlos. Da minha parte estou pronto a aceitar sugestões, mas pela minha convicção não há necessidade de nova audiência pública.

C-se: Nesse momento é possível apontar um prazo para a aprovação desse projeto?

EA: Acredito que podemos aprová-lo esse ano ainda no Senado. Mas depois de aprovado pela CCJ e pela plenária do Senado, o projeto vai para a Câmara, porque a origem dele foi lá. Pelo processo parlamentar tem que voltar, e lá vai depender um pouco mais da decisão do presidente da Câmara.

C-se: Outro ponto apontado foi a participação de um lobby de bancos para a criação e aprovação desse projeto. Isso procede?

EA: Não tenho esse conhecimento. Eu sei que interessa aos bancos, aos cartões de crédito e também à sociedade como um todo ter uma legislação que coíba o crime cibernético. Mas é isso, não acho que tenha a interferência dos bancos, não vi a palavras deles em nenhum momento.’



E-BOOK
Bruno Rodrigues

Viciados em papel, 9/11/06

‘Há poucos dias, chegou à Amazon.com a biografia que é apontada como a definitiva sobre um dos maiores gênios criativos do século XX, Walt Disney. Publicada pela Knopf, um dos braços da editora Harper Collins, ‘Walt Disney: The Triumph of the American Imagination’ tem quase 900 páginas.

Eu aguardava o lançamento há meses, e quando fui avisado pela Amazon.com que o livro estava disponível para entrega, ao invés de encomendar logo o livro, tomei outro caminho. Repetindo um costume que já virou costume na minha casa desde o ano passado, fui checar se a obra já estava disponível – mas em e-book. E estava.

Em meio digital, o livro custa US$ 17.00; na Amazon.com, US$ 23.00. Para comprar o livro em papel, eu teria que pagar caro pelo frete, o que dobraria o valor da compra; para o e-book, que é simplesmente um arquivo para download, não há espera. O cliente paga e recebe na hora. Enquanto isso, na Amazon.com, espera-se de sete dias a dois meses, dependendo do frete escolhido.

Hoje vou fechar a compra, e vou levar em e-book. Afinal, por que pagar mais caro e esperar dias ou semanas para ter o livro, se eu posso gastar metade da quantia e ter a biografia em segundos?

Para vários leitores, como eu, custo e tempo já são razão o bastante. Eu e minha esposa nos acostumamos a ler e-books em nossos palms, e é uma delícia. Gastamos menos e ainda temos acesso às obras de nossos autores preferidos assim que os arquivos são disponiblizados. Quando as edições em papel e digital são lançadas ao mesmo tempo – o que é cada vez mais comum entre as editoras americanas -, conseguimos o livro antes que qualquer cliente da Amazon.com, mesmo o americano, o receba em casa. Pagamos e recebemos o arquivo – simples assim.

No quesito conforto, o e-book é insuperável. Você leva o livro para qualquer lugar, sem tomar lugar ou pesar na bolsa – e é bom lembra que em um palm cabem vários e-books. Na hora de dormir, nada de levar um ‘tijolo’ para a cama: como diz o nome, o aparelhinho cabe na palma da mão. E ainda tem iluminação própria, portanto nem incomodar o marido ou a esposa com a luz do quarto acesa você precisa. Uma maravilha.

Ainda assim, mesmo nos Estados Unidos, por mais que esteja virando regra um livro ser lançado simultaneamente em hardcover e em e-book, o mercado para o livro digital ainda engatinha. Mas é bom dizer que tanto a Amazon.com quanto a Barnes&Noble.com enxergam o e-book como um produto que veio para ficar.

Se é vantajoso para ambos os lados, leitor e editora, por que a idéia do e-book ainda não pegou? O problema não é custo, já que é quase irrisório o valor da produção de um livro em arquivo digital. A questão é cultural, bem sabemos.

O papel não nos deixará tão cedo, e esta já é questão encerrada após anos de debate. Ainda será preciso que se passem décadas antes que o e-book seja aceito. Há um emocional por trás desta nossa simbiose-com-a-celulose que merece ser respeitado.

O que enxergo, contudo, como o grande entrave à popularização do e-book é a atitude paralisante – pasmem – dos disseminadores de informação, uma classe que vai de jornalistas e publicitários a professores.

Outro dia, ao assistir uma palestra de uma conceituada especialista em interação homem-computador, fiz uma pergunta sobre e-books que passava ao largo da questão da sua validade – ia muito além. Num misto de desprezo e desconhecimento, ouvi a seguinte pérola: ‘ah, isso de e-book não vai dar certo, não… Outro dia, coloquei uma tese dentro do meu palm, e a abri para ler enquanto aguardava minha vez no consultório do dentista. A letra era tão pequenininha que não consegui ver nada! Desisti na hora!’. Ou seja, misturou alhos com bugalhos, e brotaram gargalhadas quase histéricas da platéia, plenamente absolvida, naquele momento, de ter que se preocupar com ‘mais uma novidade’. A moça foi de uma mediocridade de cortar o coração, e ainda espalhou o vírus pela sala.

A platéia pensar assim por conta própria, sem problema, já que ninguém tem obrigação de enxergar o que está por vir. Mas uma formadora de opinião, referência em interação homem-máquina, demonstrar, além de uma imperdoável ignorância sobre o assunto, que a sua referência é o próprio umbigo – no caso, um umbigo míope – joga para escanteio o que poderia agilizar a popularização do e-book.

Quanto aos redatores – jornalistas ou publicitários – não são poucos os que acham que livro, mesmo, é em papel, que livro é feito para se manusear, para ‘sentir’, etc. Sem problema – mas declarar a um grupo de jornalistas mais jovens, novatos ou estagiários, que conhecimento, mesmo, é aquele se adquire em papel (fato que já presenciei) é profunda falta de responsabilidade. Mais uma vez, é olhar para o próprio umbigo.

Para a nova geração, que já se acostumou a enxergar informação como conteúdo, e não forma, que presenciou a música se livrar do meio físico dos CDs, e que hoje vê filmes serem baixados via internet, bem longe dos DVDs, será fácil libertar o livro da prisão do papel.

Nada contra a opinião dos que preferem carregar o livro de papel na bolsa, mas vamos abrir caminho para que os que estão chegando possam enxergar o futuro próximo como um avanço, e não como um progresso risível e desprezível…

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’. Ministra treinamentos e presta consultoria em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em seis anos, seus cursos formaram 1.200 alunos. Desde 1997, é coordenador da equipe de informação do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, com 4.000 páginas em português e versões em inglês e espanhol e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’ (Editora Objetiva, 2001), há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’



CONTROLADORES DE VÔO
Eleno Mendonca

Nas asas do descaso, 6/11/06

‘Foi preciso cair um avião, morrer 154 pessoas para se aflorar um problema tão grave quanto esse dos controladores de vôo. Não que esteja acusando os controladores de imperícia nem os colocando no banco dos réus neste caso, até porque ainda acho que as evidências são todas contra a tripulação do Legacy. Mas isso tudo cabe à Justiça decidir. O que digo é que a partir do acidente, a partir do fato de os controladores envolvidos serem convocados se desencadeou todo esse processo. De repente a população se viu no meio de uma briga que é de segurança nacional, é trabalhista, envolve um serviço essencial e todo mundo tende, claro, a ficar do lado dos controladores.

Ontem vi no Fantástico. No Brasil um controlador ganha dois mil reais, nos EUA oito mil dólares. No Brasil são 2.700, lá são 14 mil. Li também que apenas 3% falam inglês. A maioria enrola, usa os termos técnicos e se vira até que haja uma situação de emergência. Daí, como não dá para fazer mímica, é rezar para não acontecer nada de mais grave. Também falei esses dias com alguém da Infraero que em off me disse que os equipamentos não são renovados como deveria.

Há ainda um relatório da Aeronáutica de 2001. Nesse tempo havia 2.450 controladores e o relatório alertava para a necessidade de contratar e treinar pelo menos outro tanto, caso o Brasil quisesse ficar dentro dos padrões de segurança. Ninguém ligou, hoje são 2.700 e vivemos esse caos. E não me venham com a história de que quem voa é minoria. É mas é preciso haver um esforço para que o benefício e não o luxo seja utilizado por todos.

Outra coisa que me deixa louco da vida. Todos os dias os pilotos deveriam relatar o que acontecia nos vôos às suas empresas. Mas, é preciso que se diga, as empresas não gostam de chatear as autoridades da Defesa nem da Aeronáutica, pois temem represálias na hora da concessão de novas rotas. Tanto assim que todas elas têm em seus quadros militares da reserva, de altas patentes, para reforçar seus lobbies. São portanto igualmente responsáveis por essa condição em que se encontra o setor.

Cabe ao governo, às autoridades e à imprensa vasculhar tudo sobre esse assunto. Afinal de contas, é muito triste ficar no aeroporto esperando por alguém que não chega. O pior é que muitas vezes nunca vai chegar.

(*) Também assina uma coluna no site MegaBrasil, é diretor de Comunicação da DPZ e âncora da Rádio Bandnews. Ele passou pelo Estado de S. Paulo, onde ocupou cargos como o de chefe de Reportagem e editor da Economia, secretário de Redação, editor-executivo e editor-chefe, Folha de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.’



JOSÉ ALENCAR
Milton Coelho da Graça

A doença do vice assusta?, 8/11/06

‘Ninguém fala alto sobre isso, mas uma das questões mais sussurradas em Brasília é a doença do vice-presidente, José Alencar. Se, na pior hipótese, o cargo ficar vago antes de sua posse para o novo mandato, o que ocorreria? No caso da Presidência, a lei é clara: se a vacância ocorrer até o meio do mandato, eleições gerais; mas, se ocorrer depois, a linha de sucessão é clara até o final do mandato: vice-presidente ou, caso ele não tenha condições de assumir, o presidente da Câmara dos Deputados.

A lei parece ser omissa no caso de o impedimento ocorrer ANTES do início do mandato. O Tribunal Superior Eleitoral já declarou José Alencar vice-presidente da República para o período 2007-2010. Mas talvez haja encrenca jurídica se ele for impedido de assumir até o dia 31 de dezembro.

A maioria dos constitucionalistas que ouvi opinam que o cargo de Vice simplesmente ficaria vago. O vice não é votado, ele é eleito COM Lula, é o vice DE Lula, portanto não se configuraria o caso de nova eleição para o cargo. Apenas o cargo de presidente da Câmara se tornaria mais importante, porque ele assumiria em todas as ausências do Presidente.

A democracia avança nos EUA

Não é só a derrota do presidente Bush que se torna festejável. Mas a derrota do pensamento mais conservador – daquele que subordina o progresso científico a doutrinas religiosas, daquele que não aceita a convivência com o diferente – em raça, religião ou preferência sexual – e, pior ainda, daquele que se recusa a defender o meio ambiente por considerar a preservação do planeta e do homem menos importante do que o lucro.

Nancy Pelosi e Hillary Clinton colocam San Francisco e New York ao lado de Londres (cujo prefeito é o libertário Ken Livingston) como capitais do pensamento democrático mundial. E os Estados Unidos voltam à linha mais progressista de John Kennedy, Jimmy Carter e Bill Clinton.

(*) Milton Coelho da Graça, 75, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Na privada, 9/11/06

‘Cada vez mais longe

A paisagem do amor

E seus rebanhos

(Nei Duclós in Outubro, 1975)

Na privada

O repórter Christian Fraser, da BBC Brasil, despachou diretamente de Roma para o site do BOL:

Privada que toca o hino nacional causa polêmica na Itália.

Uma privada com uma descarga que funciona ao ritmo do hino nacional italiano foi confiscada pela polícia no norte da Itália, gerando um grande debate nacional sobre patriotismo.

O vaso sanitário em questão era a criação de dois artistas locais e estava em exposição no Museu de Arte Moderna de Bolzano.

Os promotores dizem que o hino Fratelli d’Italia é um símbolo nacional que deveria estar protegido e que nunca deveria ser alvo de ridicularização.

Um julgamento sobre o caso deve ocorrer ainda nesta semana.

Janistraquis analisou a questão, fez referência aos direitos e deveres do cidadão nas democracias mais fajutas e concluiu:

‘Considerado, é difícil prever o que acontecerá na Itália, porém espera-se que a versão brasileira da curiosa retrete seja suficientemente ampliada para acolher não apenas o hino, mas a nação inteira. É que, como sabemos, este é um país de m…’

Eu salvaria o hino, mas só para os jogos da Seleção.

Sei não, sei não…

Deu no excelente site do Meio&Mensagem:

‘BNDES empresta R$ 2,4 bilhões à Telemar — Recursos serão utilizados na implantação de sistema de televisão por internet (IPTV), na expansão da rede de cobertura da Oi e em serviços para o Pan-americano.’

Janistraquis leu e releu a longa matéria (confira no Blogstraquis) e estranhou:

‘Oxente, considerado, matéria deste tamanho sobre empréstimo do BNDES à Telemar, repito, Telemar, e a gente não encontra uma linha sequer sobre o Lulinha…’

É deverasmente esquisito.

Santo Mino

O considerado Ary Costa Pinto, de São Paulo, despacha de seu escritório na Avenida Paulista:

‘Vale a pena dar uma olhada na chamada, publicada hoje, 6/11/06, no blog Conversa Afiada, do Paulo Henrique Amorim, onde aparece a foto do Mino, ao lado da imagem de Santo Inácio com a pertinente legenda: ‘Mino Carta é o da direita e, por conseqüência, o nosso querido jesuíta o da esquerda’.’

Janistraquis, fã do Paulo Henrique e do Mino, cumprimenta Costa Pinto pela utilização do vocábulo perfeito:

‘Considerado, pertinente é a palavra; afinal, nosso Mestre, ele próprio, costuma dizer que, quando era criança, queria ser santo.’

Bobagem

Foi notícia na imprensa do mundo inteiro:

Brasil: Traficante que ordenou incêndio a ônibus pega 444 anos de prisão

O traficante Anderson Gonçalves dos Santos, o Lorde, foi condenado a 444 anos e seis meses de prisão por ter ordenado o ataque a um ônibus da linha 350 (Passeio-Irajá) que matou cinco pessoas –sendo um bebê– e feriu outras 16 em novembro de 2005, no Rio.

Janistraquis, veterano de tantos episódios burlescos, suspirou:

‘Ao condenar o sacana a 444 anos e seis meses, a Justiça sinaliza o tempo em que ele ficará na prisão: seis meses…’

Reader’s Digest

Chama-se Luiz Torres o remetente desta mensagem ao colunista:

Boas notícias, MOACIR!

É com grande prazer que anunciamos a você, usuário da Clic RBS, que fizemos uma parceria com Seleções do Reader´s Digest para nomeá-lo o feliz beneficiário da chance de ganhar MILHARES DE REAIS nesta promoção.

Seu nome superou com sucesso duas etapas para participar do

14º Grande Concurso de mais de SETECENTOS MIL REAIS em prêmios de Seleções do Reader’s Digest: a seleção dos participantes e possíveis finalistas e a emissão de seus documentos de participação. Agora só resta a terceira e última etapa: a apuração dos ganhadores. Suas chances de ganhar nesta etapa decisiva dependem inteiramente de você.

Como eu estava com o tempo curto por causa da organização de um almoço de desagravo ao Brasil, pedi a Janistraquis que desse uma olhada e respondesse a Luiz Torres. A resposta veio horas mais tarde:

‘Considerado, não encontrei em nossos arquivos nenhuma informação a respeito de seu excelente desempenho nas duas primeiras etapas do concurso; assim, é impossível participar da terceira e última…’

Nei Duclós

Leia no Blogstraquis o poema da sempre inspiradíssima lavra de Nei Duclós, intitulado Um poema por ano, cujo excerto epigrafa esta coluna.

Analfabetizando

Sob o título Faculdade à Distância, chegou pela internet:

Aulas 1 vez por semana

Graduação (Universidade Luterana do Brasil – ULBRA – RS)

Pedagogia / Letras / Gestão Imobiliária / Sociologia.

Pós-Graduação (Universidade Castelo Branco – RJ)

Cursos na área da Educação (Psicopedagogia / Alfabetização)

Confira os demais cursos.

Pedagogia

Mensalidade: R$ 185,00

Consulte-nos para maiores informações ou faça a sua inscrição para o processo seletivo da graduação no site

www.iesde.com.br optando pela LABORESCOL.

Ou mande um

e-mail para laborescol@uol.com.br.

LABORESCOL

Av. Guapira, 490 – Tucuruvi – Fone: 6949-7180

Janistraquis examinou o material e expeliu recriminador muxoxo:

‘Considerado, se a meninada não aprende p… nenhuma nem quando comparece às aulas todos os dias, e com lição de casa, avalie uma vez por semana…’

Outra pessoa

Chegou pela internet: ‘Seminário internet para todos – uma estratégia focada nos municípios: 7 de novembro de 2006, das 9 às 18 horas, no Auditório Nereu Ramos – Anexo II da Câmara dos Deputados. Remetente, Gabinete da deputada Luzia Erundina.’

Janistraquis, que costuma confundir celulite com celulose e, por tal razão, vive de orelha em pé, lamentou:

‘Considerado, desconfio de que o seminário vai ser aquela bagunça bem brasileira; afinal, se trocaram o nome da remetente, que é uma conhecidíssima liderança política deste país, poderão adulterar qualquer coisa, né mesmo?’

Verdade; Erundina não é Luzia, mas Luiza.

Desacreditados

O considerado Maurício Pessoa de Faria, de Belo Horizonte, lia o Globo Online quando deparou com este título:

Cristovam e Heloisa Helena estão DESACREDITADOS.

Maurício reprovou:

‘Sob esse título, o autor da coisa informa que os dois não acreditam em reforma eleitoral. Ora, desacreditado é quem tem a cara-de-pau de escrever coisa desse calibre. Desacreditado é aquele em quem não se acredita mais, desmoralizado, desmascarado, essas coisas que a gente conhece e vê todos os dias no Planalto. Onde estão os copidesques?!?!?!’

Pois é, Maurício, por essas e outras Janistraquis anda meio descrente do jornalismo pátrio (não confundir descrente com desacreditado!).

Da Folha

Esclarecedor Erramos:

(25.OUT, PÁG. A3) Diferentemente do informado nesta seção, a reportagem ‘Ame-o ou deixe-o’ (Ilustrada) foi publicada ontem, e não hoje.

Horário de verão

Bronzeado pelo sol de Porto de Galinhas, o considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no DF, de cuja varanda debruçada para a ficção que é Brasília vêem-se operários a limpar o Palácio do Planalto, pois Roldão lia o Correio Braziliense quando deparou com didática matéria acerca do horário de verão:

‘As explicações sobre o fenômeno dos dias maiores e o porquê de usarmos a hora de verão dadas pelo jornal, à página 14 do dia 4, merecem alguns comentários.’

(Leia no Blogstraquis uma verdadeira aula do Mestre Roldão sobre esse tão inútil quanto desagradável horário.)

Nota dez

O considerado e insigne vascaíno Roberto Benevides escreveu no site No Mínimo, sob o título Pague para se aborrecer:

A oferta da NET é tentadora: ‘Como Sócio Première Futebol Clube, você tem a maior cobertura do Brasileirão e dos campeonatos estaduais, em um canal com 24horas de futebol para você não perder nenhum lance. E tudo isso no conforto da sua casa.’

Caí nessa.

Leia aqui a íntegra do justíssimo desabafo.

(O colunista, também vascaíno e assinante da Sky/NET, anda igualmente aborrecido, porém com o ‘cinema em casa’. É que antes os canais forneciam as sinopses dos filmes, sinopses muito ruinzinhas, diga-se, mas indispensáveis como guia de programação. Pois foram retiradas do ar e ninguém deu a menor satisfação ao assinante.)

Errei, sim!

‘O NOME DA ANÔNIMA — O considerado Alceu Luís Castilho, aluno do 2o ano de Jornalismo da USP, envia recorte de matéria da Folha de S. Paulo, na qual é possível ler esta raríssima frase, semi-soterrada sob o título Objetos perdidos em São Paulo só são recuperados em 30% dos casos:

(…) Uma anônima usuária do metrô, Kátia dos Santos Peixoto, por exemplo, perdeu no dia 7 de novembro último uma bolsa com documentos, cartões de crédito, talões de cheque e Cr$ 1.470,00.

Janistraquis adorou a ‘anônima’ que tem nome, documentos, cartões de crédito e talões de cheque, ó Alceu! E torce para que você, daqui a uns quinze anos, se transforme num excelente ‘repórter social’, tá certo? (janeiro de 1991)’

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).

(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.’



ESTATÍSTICAS FUTEBOLÍSTICAS
Marcelo Russio

A matemática do imponderável, 7/11/06

‘Olá, amigos.

Nesta reta final de Campeonato Brasileiro, uma classe passa a aparecer com freqüência alucinante: a dos matemáticos. Praticamente todos os jornais, sites e programas de TV mostram os percentuais calculados por alguns experts em números sobre chances de título, possibilidade de rebaixamento e de classificação para competições sul-americanas. A coluna respeita a capacidade dos craques em números, mas questiona a validade deste expediente.

Um time que possui 85% de chance de rebaixamento com um determinado resultado aos 44 minutos do segundo tempo do jogo da 33ª rodada, por exemplo, passa a ter 95% caso sofra um gol, ou 60% caso faça um ‘gol espírita’ do meio do campo. Ou seja: as probabilidades são regidas pelo imponderável, seja este a visão de um árbitro, ou uma trapalhada de um zagueiro pouco habilidoso, o que faz delas um aspecto totalmente instável e, por isso, incertas e pouco precisas. Justamente a antítese da essência da matemática, uma ciência exata.

Pode-se ver, portanto, uma contradição entre a exatidão da matemática e o imponderável do esporte, especialmente o futebol, me leva a crer que os matemáticos não precisam ter tanto destaque na mídia quanto vêm tendo. As estatísticas são válidas para que tenhamos, por exemplo, uma linha de corte entre os clubes que permanecem em uma divisão ou que caem para outra. Ou seja, que dê uma idéia de quanto é necessário atingir para que se fique ou quanto falta para que se caia. Isso é uma coisa.

Outra coisa é se prever as chances de rebaixamento ou de título de um clube em um esporte em que se pode mudar um resultado no último segundo, como o futebol, e que tudo é possível acontecer, inclusive mudança de placar por ação de um time contra si mesmo (gol contra), ou pela interpretação estapafúrdia de um lance por um árbitro.

Fica aqui, portanto, a argumentação contra o destaque exagerado dado aos matemáticos nas páginas de esportes.

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Os blogs de jornalistas são uma bela forma de nos informarmos sobre o que acontece no esporte e, além disso, tomarmos conhecimento de opiniões que, algumas vezes, não são expressadas nos veículos tradicionais, por conta da falta de espaço e/ou de tempo.

Jornalistas competentes como Milton Leite, Maurício Noriega, Carlos Cereto, Gustavo Poli, Juca Kfouri, Sidney Garambone e muitos outros fazem uso dos seus blogs para, em primeiro lugar, informarem e analisarem o que eles julgam ser de destaque. Além disso, ganham a oportunidade, principalmente os de TV, de voltar a escrever, que é uma paixão intensa de todo jornalista. Navegar por estes blogs vem sendo um intenso exercício e também um aprendizado, que julgo valioso para quem sempre precisa estar em contato com o que dizem e pensam os colegas de profissão.

Vai aí, a dica.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’



MERCADO EDITORIAL
Eduardo Ribeiro

Demissões no DCI e no Hoje São Bernardo, 8/11/06

‘Embora estejamos longe de uma crise no mercado editorial, ocorreram nos últimos dias demissões em dois diários da Grande São Paulo, o DCI (com reflexos também no Shopping News e no virtual Panorama Brasil) e o Hoje São Bernardo.

No caso do Hoje São Bernardo, diário lançado em junho passado com o objetivo de se contrapor ao Diário de Grande ABC e, desse modo, quebrar o monopólio daquele veículo na região, a situação poderia ser considerada risível não fosse por envolver o destino de tantos profissionais que acreditaram nas boas intenções dos idealizadores do projeto. Não se passaram sequer cinco meses, desde que foi lançado, e a situação da empresa é tão dramática que muitos temem pelo seu fechamento antes mesmo da chegada do Natal. Há apenas um álibi que pode de certo modo relevar o quadro: o assassinato, semanas atrás, de um dos empresários idealizadores do projeto, o que é considerado fator preponderante para a atual degringolada do projeto.

O DCI também jogou água na fervura e desacelerou. Melhor: meteu literalmente o pé no freio. De uma só penada dispensou quase 30 profissionais de olho no equilíbrio das contas. O ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, dono do Grupo Solinvest, que administra o DCI e seus pares Shopping News e Panorama Brasil (este, na web – www.panoramabrasil.com.br), decidiu sacrificar posições profissionais para não ter de mexer em áreas como a distribuição (que consome significativos recursos no envio aéreo e terrestre para outras regiões do País) e a ‘degustação’ de jornais para público de interesse (item também de alto custo).

No DCI, coincidência ou não, esta é a segunda vez que Quércia, que perdeu as eleições para o Governo do Estado de São Paulo, faz cortes nas empresas de sua propriedade após uma derrota nas urnas – a primeira foi em 2002, quando perdeu a disputa ao Senado para Aloysio Mercadante e Romeu Tuma.

Em meio ao corte, uma contratação, a de Theo Carnier, que em 2005 havia deixado o jornal para prestar serviços ao grupo Ultra pela A4 e que desde a semana passada toca três editorias: Internacional, Finanças Pessoais e Agronegócios.

O corte atingiu no DCI as editorias de Comércio (saíram o editor André Lachini, a sub Patrícia Morgado e um repórter), Finanças/Política Econômica (um repórter), Indústria/Legislação (três repórteres – nessa editoria, o sub Paulo Belushi está de saída espontânea para a Imagem Corporativa, para atuar no núcleo de gerenciamento de crise da agência; seu substituto ainda não foi definido) e Serviços (dois repórteres).

No Shopping News, saiu o editor João Tiradentes, que será substituído por Eduardo Olímpio, até então responsável pelos cadernos especiais do DCI.

O site Panorama Brasil perdeu três repórteres e a atualização será feita pelos repórteres de Feiras e Eventos, que acumularão as funções; nesta editoria, uma repórter foi cortada.

A decisão se estendeu aos correspondentes do DCI (saíram três em Brasília, um em Porto Alegre, um em Belo Horizonte e outro em Joinville) e às equipes de Arte (três dispensas) e Tecnologia (uma). Roseli Loturco continua com as editorias de Política Econômica e Finanças. André Leite, que era pauteiro, assumiu nesta 3ª.feira (7/11) as editorias de Comércio, Serviços e Gestão e Carreiras, trocando de lugar com Felipe Datt, que era o editor. Francisca Stella Fagá continuará à frente de Indústria e Legislação.

O Hoje São Bernardo, atormentado por uma crise que começou a se desenhar menos de um mês depois de ter sido lançado, em 20/7, com a morte de seu idealizador e sócio-proprietário, o advogado Manoel Paulino de Oliveira (o outro é José Carlos Caramori Alves), assassinado dentro de seu carro com a também advogada Camila Francisco, em circunstâncias ainda não esclarecidas, o jornal parece cada vez mais longe de se aprumar. Procurado por este Jornalistas&Cia/Comunique-se para falar sobre os problemas, o diretor-geral Roberto Pedrozo não deu retorno. Mas conversas com ex-funcionários e alguma pesquisa permitem reproduzir um quadro pouco ou nada animador.

Aparentemente, o principal fator da crise foi mesmo a morte de Paulino, ao que consta o único do staff com alguma experiência em jornal (publicou em 1998 A Gazeta, no Guarujá). Embora seu sócio tenha garantido a continuidade dos projetos, que incluíam cinco edições em cidades da região e uma tiragem total de 35 mil exemplares, a realidade mostrou-se outra: já no dia 2/8 uma visita de diretores do Sindicato dos Jornalistas apontava, entre outras irregularidades, atraso de salários, falta de registro de profissionais e não cumprimento da jornada regular de trabalho, principalmente com relação a folgas.

Mesmo tendo havido, nessa ocasião, o compromisso de Pedrozo em regularizar as questões, isso acabou não acontecendo e alguns profissionais preferiram ir embora. Logo em seguida, deixou o jornal a diretora de Redação Rose Rosa, que assumira o cargo por indicação de Paulino; a editora-executiva Vanilda Oliveira passou a responder interinamente pela Redação. E o fez até agora, mas também ela deixa o jornal, porém com novo destino profissional já acertado: vai para o Estadão, atuar como fechadora da editoria de Cidade. Com a saída dela, caberá, ao menos temporariamente, ao editor-executivo Wilson Moço fechar o jornal, que das 36 páginas que tinha inicialmente sai agora com apenas 12, produzidas basicamente com material de agências.

Dias atrás, o que parece ter sido a gota d’água foi uma visita da diretoria do Sindicato dos Jornalistas que identificou inúmeras irregularidas, levando a direção da empresa a demitir, como retaliação à ação sindical, grande parte da equipe.

Há, também, boas novas, entre elas a chegada do jornal de classificados Primeira Mão a Belo Horizonte, numa parceria das editoras Sempre, que edita o jornal O Tempo, com a Haple, dona dos direitos do Primeiramão; novas contratações em Época Negócios (aceitaram convite para se transferir para a nova revista da Editora Globo, prevista para ser lançada em 2007, o editor Marcelo Coppola, o colunista e consultor Gilson Schwartz e o repórter Rafael Barifouse, que se somam ao diretor de Redação, Nélson Blecher, ao redator-chefe, Fábio Altman, e aos editores-executivos Ivan Martins e Cynthia Rosenburg); e vários lançamentos de blogs e sites profissionais na web, entre eles o Ilustrada no Cinema e (+)Corrida, da Folha Online, o blog e o site do Jornal do Carro no portal do Estadão e o virtual BrasilWiki (onde é repórter quem quiser).

Em termos gerais, as expectativas prometem muito para esse final de ano, afinal temos grandes chances de mudanças fortes no Estadão, no Diário de S.Paulo e também na Editora Abril. No Estadão e no Diário as mudanças poderão chegar fruto da troca de comando e na Abril em função da venda da TVA para o Grupo Telefônica, que, a se confirmar, permitirá à empresa zerar a dívida e retomar o fôlego para novos investimentos.

A conferir.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’



OPINIÃO
José Paulo Lanyi

Contra a execução de Saddam, 7/11/06

‘A certa altura da vida, Voltaire (1694-1778), o sublime incendiário, pôs-se a escrever um sem-número de panfletos em prejuízo do obscurantismo religioso, como relata Will Durant, em ‘A História da Filosofia’ (Nova Cultural, 2000): ‘O Tratado sobre a Tolerância foi seguido por uma torrente de panfletos, histórias, diálogos, cartas, catecismos, diatribes, pasquins, sermões, versos, contos, fábulas, comentários e ensaios, em nome do próprio Voltaire e de centenas de pseudônimos – ‘a mais impressionante mixórdia de propaganda já produzida por um só homem’ [conforme -William?- Robertson]’.

Tenho para mim que um panfleto é um editorial sem jornal. É nisso que penso quando me pego sugerindo aos jornalistas uma campanha contra a pena de morte, ainda que a vítima (famosa) da vez seja uma monstruosidade em forma de Saddam Hussein.

Redijam os editoriais sem jornal em guardanapos de boteco, nos paralelepípedos das cidades mineiras, na camiseta da namorada legalzinha, do namorado de atitude, ou pelos sinais de fumaça luminosos sob a onda da pós-modernidade, do topo dos grandes edifícios urbanos. Ou, ainda, ante a moldura de corpos nus entrelaçados pela pureza campestre, em semitom hippie, embriagados pela grande sinfonia dos grilos, dos sapos, dos pássaros e das cigarras delirantes de Rousseau, a antítese atormentada de Voltaire.

Voltaire teria dado a sua vida pela liberdade de expressão, ainda que pudesse discordar do enunciado. Eu defendo a prisão pela vida (tema para o próximo artigo), ainda que repudie os atos do condenado à morte.

Não podemos nos acomodar ao conceito de uma meia civilização (como pólo oposto ao da meia lei da selva). Sejamos radicais, ou teremos apenas um meio futuro.

Nada, portanto, de meias palavras, nem de meias medidas. Assim deve ser em todos os assuntos em que o presente e o futuro se confundam com o conceito do certo e do errado, do justo e do injusto. Como nas questões ambientais, policiais e prisionais. Como nas querelas políticas e sócio-econômicas. Em tudo a vida deveria prevalecer. Acima de tudo. Absolutamente tudo.

Deveríamos nos envergonhar da forma como tratamos a vida no nosso planeta. Não delego a minha vergonha a Saddam Hussein. Esse é um sem-vergonha. É um facínora. Não lhe é dado sentir nada que não lhe seja natural. Ele sente o que George W. Bush sente: indiferença pela vida (dos outros).

Desprezo-os, como desprezo os que os defendem amparados pela ‘ideologia’ e pelas ‘razões de Estado’. ‘Razão de Estado’ é uma expressão inventada para conservar o poder político a qualquer custo. E o poder político, tal qual o conhecemos, é uma meia verdade permanente. É uma mentira cheia de verdades. Ou uma verdade cheia de mentiras. É um mau parâmetro.

Ideologia é lavagem para porcos sorridentes. É o resto. Quantos aqui não levantarão a sua bandeira carcomida para defender o ‘imperialismo’ ou o ‘antiimperialismo’ econômico e militar, tudo ideologizado? Quantos aqui não defenderão um assassino para justificar o outro, em nome de uma ideologia?

Tenho asco ou pena desses coitados. São o que chamo de ideólatras. São inocentes úteis, são otários a serviço de uma face inconfundível do mal, maquiada por várias toneladas de sofismas: o desrespeito à vida.

Não se iludam, marionetes: enquanto vocês se digladiam para defender um genocida, este nada mais faz do que gargalhar da sua cara ideológica. O que vocês são, afinal? Títeres lambuzados de vaselina ideológica? Ou invejosos do poder daqueles que vocês endeusaram e que, por causa da covardia de todos os que são como vocês (os ‘militantes partidários’, os ‘compatriotas’, os ‘idealistas’), se fazem detentores da vida e da morte de tudo aquilo que se move, dentro e fora da ‘causa’?

Já pararam para pensar? Parem, pois. Vocês podem ser anteprojetos de Bushes pais, Bushes filhos, Reagans, Saddams, Thatcheres, Fidéis, Stalins, Hitleres, Francos, Maos, Médicis e outros tantos que, diferentemente de vocês, conseguiram chegar ao poder para aplicar as suas razões de Estado.

Só há dois caminhos possíveis para um ideólatra de qualquer matiz: ser o Grande Ditador ou o capacho do Grande Ditador.

E pensar que tenho amigos e parentes assim… Eis a amostra do que uma praga é capaz de fazer.

Jornalistas do mundo civilizado: não tolerem a relativização da vida. Não se curvem ante um novo espetáculo de Nuremberg. Vingança ou posse de um espólio nunca será Justiça. Corpos balançando lavam com sangue a alma dos desesperados ou acariciam a neurose dos tarados. Corpos balançando asfixiam a Justiça. Corpos balançando são cabeças de alce sobre a lareira do vencedor infame.

A mídia deve assumir a sua responsabilidade. Já o disse aqui por ocasião do Plebiscito do Desarmamento e tornarei a repeti-lo, como um palhaço de dormitório: um dia a História mandará a conta (talvez este seja um mau argumento, afinal. Quem aceita nadar com os cadáveres pouco se importará com o pronunciar de um nome).

(*) Jornalista, escritor, dramaturgo, ator, escreveu quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). Compositor, é autor da Sinfonia Atlântica, em parceria com o músico paulistano Flávio Villar Fernandes. No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).’



O XIS DA QUESTÃO
Carlos Chaparro

Quem é formador de opinião?, 10/11/06

‘O XIS DA QUESTÃO – Muito mais do que o editorial ou a coluna, o que movimenta as mentes é a reportagem que capta e dá vigor discursivo ao que os protagonistas da atualidade dizem e fazem, usando o jornalismo. Esses são, sim, os mais poderosos formadores de opinião. Talvez, também, os mais perigosos.

1. O poder de convencer

Dias atrás, com ironia a que os 58 milhões de votos lhe dão direito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sentenciou, mais ou menos assim: ‘As eleições provaram que, neste país, há muito mais povo do que formadores de opinião’.

Interessei-me pela frase, pela ironia que carrega e, principalmente, pelo conceito não explicitado dos tais ‘formadores de opinião’. Quem seriam esses ‘poderosos’ sujeitos que as urnas tão facilmente esmagaram?

Procurei resposta junto a pessoas que conhecem os meandros do pensar presidencial. E cheguei à conclusão de que, para o presidente, ‘formadores de opinião’ são os jornalistas que fazem e assinam comentários políticos na mídia. Na síntese, os colunistas, em especial aqueles que habitualmente criticam o governo – entre os quais, imagino, os respeitados Clóvis Rossi e Jânio de Freitas, sem dúvida os que mais forte e persistentemente bateram em Lula e em seu governo.

Temos, portanto, uma idéia estabelecida: a de que os colunistas são poderosos e perigosos formadores de opinião. Quem acredita nisso? A ironia da frase indica que nem o presidente Lula. Eu, menos ainda.

O presidente disse o que disse não para estabelecer verdades, mas tão somente para se divertir, tripudiando civilizadamente sobre supostos derrotados. Lula sabe muito bem (até por ter ferramentas de aferição de que nenhum de nós dispõe) que, como formador de opinião, ele próprio bate de goleada em qualquer colunista de plantão, chame-se ele Clóvis Rossi, Jânio de Freitas, Elio Gaspari, Ricardo Noblat, Arnaldo Jabour ou Diogo Mainardi. Pela simples razão de que, entre nós, o que gera e alimenta a discussão pública é a reportagem, não o articulismo ou o colunismo. Muito mais do que o editorial, ou a coluna, o que movimenta as mentes é a reportagem que capta e dá vigor discursivo ao que os protagonistas da atualidade dizem e fazem.

A própria carreira sindical e política de Lula prova isso. Desde os tempos das históricas greves por ele lideradas no ABC, Lula soube e sabe ocupar o espaço público do jornalismo, e usar a linguagem jornalística, para colocar as suas ‘verdades’ nos eixos da discussão nacional.

Ao oferecer fatos e falas irrecusáveis à narração jornalísticas, Lula se tornou o mais influente formador de opinião da história recente do País. Mesmo quando amargou derrotas eleitorais para Collor e Fernando Henrique, criou e ocupou espaço próprio no miolo das polêmicos e dos embates que movimentaram as mentes da Nação. No ápice desse itinerária, e no desfrute maior de tais talentos, acaba de ser reeleito com votação avassaladora.

2. O risco da enganação

Numa das coisas que sugere, ao dizer o que disse, o presidente Lula tem razão: é preciso ter cuidado com os formadores de opinião. Políticos, professores, padres ou jornalistas, por mais sérios que sejam ou pareçam ser, eles tendem a ficar encantados com o poder retórico de levar os outros a ações de adesismo.

Seja na ciência, na religião ou nos embates da vida, opinião, como conceito, é isso mesmo: o assentimento da mente, para a aceitação de algo estabelecido como possibilidade de ‘verdade’. E o formador de opinião é alguém que, usando recursos que os mecanismos sociais e culturais lhe oferecem (colunas de jornal, por exemplo, ou o acesso a pautas jornalísticas e a modernos palanques eletrônicos e/ou digitais), produz argumentos para levar os outros a aderir às ‘verdades’ que propõe.

Quando à opinião falta o suporte da demonstração, cria-se o risco de mover as mentes pela enganação das meias verdades. Disso podem ser acusados alguns colunistas. Mas o mesmo pode ser dito dos candidatos, que recheiam de dados jamais comprovados os argumentos do convencimento.

Quem nos garante, por exemplo, que eram verdadeiras e comprováveis as estatísticas usadas nos debates por Lula e Alckmin?

Faltou, sim, ao nosso jornalismo político, na cobertura das eleições, determinação e competência para enriquecer o debate pela demonstração (de dados, fatos e evidências) que agregasse certezas ao exercício da escolha. E escolher vem a ser a afirmação da opinião, no poder no voto.

Especialmente em momentos como este, de grandes confrontos para escolhas fundamentais, o jornalismo – na sua totalidade e não apenas no que toca aos colunistas – deveria assumir a tarefa e o poder da elucidação.

Sem medos. De forma tão competente quanto honesta. E sem a obrigação prévia e besta de ser contra ou a favor, que tanto deforma e empobrece as nossas discussões.

(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 1994), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’



JOURNALISM BRAZIL CONFERENCE
Antonio Brasil

Ensinar jornalismo com TV na internet, 6/11/06

‘Estou em Porto Alegre, uma das minhas cidades favoritas. Filho de gaúcha, aqui me sinto em casa e sou sempre muito bem recebido. Hospitalidade nessas terras é coisa séria.

Vim participar do Journalism Brazil Conference. Trata-se do primeiro encontro de pesquisadores de jornalismo do Brasil e de diversos países organizado pela Sociedade Brasileira de Pesquisa em Jornalismo (SBPJor) e pelo Grupo de Jornalismo da International Communication Association (ICA). O tema da conferência deste ano foi ‘Thinking Journalism across national boundaries’ ou ‘Pensando o jornalismo através das fronteiras nacionais’. Pesquisadores de 12 países vieram a Porto Alegre para apresentar seus trabalhos. Os temas e áreas de interesse dessas pesquisas são sempre muito variados.

Fiquei muito impressionado com a pesquisa histórica sobre a imprensa política em uma das áreas de maior conflito no mundo: a Sérvia, ex-república da Iugoslávia.

Como um jornalismo opinativo, independente e influente pôde sobreviver em um país que desde de 1904 enfrentou duas guerras mundiais, diversas guerras civis e mudanças políticas extremas? A antiga Iugoslávia sequer existe mais. Em menos de 50 anos, já mudou de nome e regime político diversas vezes. O futuro ainda é incerto.

Mas a imprensa sérvia continua lutando. Apesar de todas as dificuldades enfrentou períodos de ditadura, enormes riscos e os limites da censura. Para isso, desenvolveu de uma forma informal e instintiva uma espécie de código de comunicação entre os jornalistas e o público. O objetivo era burlar a censura, manter o público informado da melhor maneira possível e ao mesmo tempo… sobreviver.

Impossível não comparar os problemas dos nossos colegas sérvios com os nosso ‘anos de chumbo’. Nem todos os jornalistas se submetem ao poder dos poderosos. Bons profissionais em todas as partes do mundo buscam soluções criativas para sempre dizer o que os políticos não querem que seja dito. Liberdade de imprensa não é concessão de governo. É conquista de muitos anos de luta que deve ser preservada todos os dias.

Pelo relato da pesquisa, mesmo durante os longos períodos de guerra e ditadura, os jornalistas sérvios produziram um bom jornalismo e contaram com o apoio de um público fiel. Em um país em constante luta, o jornalismo político sérvio procurava ser independente, objetivo, mas jamais enganou seus leitores com uma ‘neutralidade’ utópica e enganosa.

A pesquisadora sérvia fez questão de finalizar sua apresentação com uma pergunta importante: Até que ponto pode haver ‘jornalismo’ sem democracia? Ainda estou intrigado com essa questão. Sempre considerei impossível haver jornalismo de verdade sem democracia. O problema é que há diversas definições de ‘jornalismo’ e de ‘democracia’. Pesquisar é ter coragem para abandonar as certezas, enfrentar dúvidas e buscar novas respostas ou soluções. Esses encontros acadêmicos são uma ótima oportunidade para pensar, refletir sobre a nossa profissão. Pena que poucos jornalistas tenham tempo e recursos e talvez até mesmo interesse em participar dessas maratonas intelectuais. Pena!

YouTube universitário

A partir desta segunda, também devo participar do 4º Encontro de pesquisadores em Jornalismo igualmente promovido pela SBPJor e pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ver aqui).

O tema do encontro desse ano é ‘A pesquisa em jornalismo e o interesse público’.

Muitos desconhecem, mas o Brasil tem uma longa tradição nas pesquisas sobre o jornalismo. Desde os anos 50, jornalistas destacados como o Prof. Luiz Beltrão em Recife, já se dedicavam a estudar os ‘mistérios’ da nossa imprensa. Hoje, veteranos do nosso jornalismo como o Prof. José Marques de Mello, presidente da INTERCOM e jovens acadêmicos como o Prof. Elias Machado da UFSC mantém a velha tradição. Eles se tornaram referência para diversas gerações de pesquisadores brasileiros e internacionais.

Este ano, a qualidade dos trabalhos apresentados nos dois eventos comprova a maturidade dos estudos sobre jornalismo no Brasil. Também ficou evidente o interesse de pesquisadores internacionais em desenvolver parcerias com os colegas brasileiros. Estamos diante de grandes oportunidades para aprofundar ainda mais nossos estudos sobre o jornalismo e aumentar a sua visibilidade internacional.

Para os mais jovens, esses encontros também são uma ótima oportunidade para divulgar suas pesquisas e receber o merecido reconhecimento da comunidade acadêmica. Nesse aspecto, gostaria de destacar o premio concedido à jornalista Leila Nogueira da UFBA pela melhor dissertação de mestrado. Ela teve a ‘ousadia’ de fazer um estudo comparativo entre duas TVs na Internet: a toda poderosa TV UOL e a pequena TV UERJ online. A cada dia, os portais de vídeos e televisões da Internet criam alternativas para as ‘mesmices’ e decepções da TVs tradicionais.

Este ano, também apresentei um relatório de pesquisa sobre TVs na Internet. Desde 2001, estamos desenvolvendo um projeto de ensino de jornalismo utilizando as novas tecnologias. O título do trabalho apresentado aos participantes do Journalism Brazil Conference era ‘Investigating the impact of Internet TV on Multimedia Journalism and Journalism Education: a Brazilian study case ou ‘Investigando o impacto da TV na Internet no Jornalismo Multimídia e no ensino de Jornalismo’.

Neste estudo, relato o desenvolvimento do projeto da TV UERJ online, a primeira televisão universitária na Internet e uma das primeiras TVs brasileiras na rede.

Apesar de todas as dificuldades, estamos no ar regularmente desde 2001. Produzimos um telejornal diário ao vivo e dispomos de centenas de vídeos em nosso arquivos digitais. A TV Uerj online está sempre buscando novos desafios. A idéia agora é formar uma rede brasileira e mundial de TVs universitárias na Internet e criar um portal de vídeos no modelo YouTube. Uma espécie de YouTube universitário.

Creio que temos muito a aprender com os jovens criadores deste novo portal de vídeos. Eles estão fazendo uma verdadeira ‘revolução’ na Internet. Possuem um acervo com milhões de vídeos, recebem diariamente cerca de 25 mil produções individuais e corporativas e o site acabou de ser vendido para a Google por 1,6 bilhoes de dólares.

Muitos desses vídeos divulgados na rede são horríveis. Gente que não tem nada a perder, tenta a ‘sorte’ com todos os tipos de proposta. Com poucos recursos e ainda menos técnica de produção, arriscam tudo por uma idéia. Alguns, no entanto, são simplesmente geniais.

O maior sucesso do YouTube ainda é o NumaNuma. (ver aqui)

Com uma simples webcam, Gary Brolsma, jovem estudante de escola secundária de Nova Jersey nos EUA teve a ‘ousadia’ de dublar uma música em ‘húngaro’ (sic), Numa Numa (Festa no AP) e se tornou a mais nova ‘estrela’ da rede.

Seu ‘vídeozinho’ é uma bobagem. Mas foi visto por mais de 33 milhões de pessoas em todo o planeta. É recorde mundial. O produtor agora é celebridade. Foi primeira página do New York Times, deu entrevista para todas as redes de TV americanas sem gastar um tostão. Talvez, ele tenha tido somente sorte. Mas provavelmente também disseram a mesma coisa outros inovadores do cinema como Charlie Chaplin. Muitas pessoas ‘sérias’ devem ter menosprezado as ‘tolices’ geniais de um jovem gênio que também não tinha a perder.

Ensino e democracia

Nos EUA, as grandes redes de TV desistiram de ‘enfrentar’ a revolução imposta pelo YouTube e já se utilizam dessa plataforma para a avaliar os ‘pilotos’ de novos programas. Internet pode ser um laboratório poderoso para a TV tradicional.

Tentei mostrar aos participantes do Brazil Conference que a única diferença entre o YouTube e qualquer outra televisão, aberta, a cabo ou na Internet, é que o YouTube não produz um único segundo de conteúdo. Perceberam?

Outras grandes TVs na Internet como a BBC, ABC, CBS ou as brasileiras ALLTV, UOL, Terra, Globo e até mesmo a TV UERJ online produzem todo o seu conteúdo e jamais serão vendidas no mercado por 1,6 bilhões, repito, 1.6 bilhões de dólares.

A lição do YouTube para os alunos da UERJ ou para os executivos de TV é que o futuro está numa mudança fundamental de paradigma: o público deixa de ser ‘público’ para ser ‘produtor’ de conteúdo. Com as ferramentas adequadas, transformamos um meio de comunicação de massa no modelo ‘um para todos’ em um novo meio de comunicação interativo, em rede, ‘todos para todos’.

Ou seja, planejar o futuro das TVs com um modelo de ‘monopólio’ exclusivo da produção de conteúdo pode significar não ter um futuro. O público de TV, principalmente os mais jovens, dá sinais de insatifação e rebeldia. Não querem ser simples ‘audiência para a solidão’. Querem produzir e se comunicar com textos, fotos e vídeos.

O ensino de jornalismo em nossas universidades tem muito a aprender com os problemas enfrentados pelas nossas TVs. Assim como o público exige mais participação na produção dos conteúdos, os estudantes de jornalismo também demonstram impaciência com os nossos limites e, principalmente, com as nossas desculpas.

A luta continua. Agora estou a caminho do Paraná. Vou participar do Encontro de Comunicação da UNICENTRO em Guarapuava. O objetivo, como sempre, é demonstrar a professores, alunos e administradores que assim como o bom jornalismo, a TV na Internet também pode contribuir para a melhoria do ensino e o desenvolvimento da democracia.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’



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