Saturday, 02 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Comunique-se

BENAZIR BHUTTO
Carla Soares Martins e Marcelo Tavela

Morte de Benazir Bhutto: é hora da mídia brasileira ter mais correspondentes no Oriente?, 28/12

‘O atentado de quinta-feira (27/12) contra Benazir Bhutto, ex-primeira ministra do Paquistão e candidata às próximas eleições, levanta uma questão cogitada por redações do País: a possibilidade de a mídia brasileira contar com correspondentes internacionais em nações do Oriente.

Apesar de os principais veículos de comunicação terem feito uma ampla cobertura da morte da ex-premiê, nenhum dos principais meios de comunicação brasileiros, apurados pelo Comunique-se, trouxe informações exclusivas e locais sobre o atentado (Leia aqui sobre a cobertura da mídia da morte de Benazir).

Em tempos de uma guinada no lado do globo do crescimento econômico, China e Índia começam a chamar a atenção. Enquanto a previsão de aumento mundial do PIB do Fundo Monetário Internacional para o ano que vem é de 4,8%, a da China está em 10% e a da Índia, em 8,4%, seguidos de longe pelo Brasil (4,4%) e pelos Estados Unidos (1,9%). O destaque na Economia leva esses países a entrarem na pauta da geopolítica mundial e, conseqüentemente, da mídia.

Além de reportagens sobre as peculiaridades da cultura local dos países orientais, a política, a economia e a vida cotidiana de seus habitantes começam a despertar o interesse da mídia brasileira. O jornal O Estado de S.Paulo, por exemplo, estuda uma forma de manter um correspondente internacional na China. O repórter poderia mandar informações não apenas daquele país como também da região.

O sub-editor do Estadão, Roberto Lameirinhas, justifica: ‘A situação ideal sempre é contar com um repórter para retratar o fato com o olhar de um brasileiro.’ Para Lameirinhas, a cobertura sobre a morte de Benazir, por exemplo, foi satisfatória porque contou com a facilidade das novas tecnologias, mas o melhor seria contar com a presença de um correspondente ou enviado do jornal.

Milton Coelho da Graça, colunista do Comunique-se e ex-correspondente do Globo na Inglaterra, afirma que a função de correspondente está sendo alterada pelas mesmas tecnologias citadas por Lameirinhas. ‘E também pelo jornalismo cidadão. O correspondente hoje não pode só descrever o que acontece. Ele é meio que um cronista, que entende aquela realidade e apresenta uma interpretação a cada dia. É como um pintor, que pinta todo dia um pouquinho o mesmo quadro’, compara.’

FUSÕES E AQUISIÇÕES
Comunique-se

News Corp., de Murdoch, vende oito canais de TV, 26/12

‘A News Corporation venderá oito emissoras de TV nos EUA para a Oak Hill Partners, por cerca de US$ 1,1 bilhão. A negociação, que envolve afiliadas da Fox News em mercados médios, deve ser concluída no terceiro trimestre de 2008.

O grupo de Rupert Murdoch manterá 27 estações em praças maiores, como Nova York, Boston e Los Angeles.

Com informações da Reuters.’

GLOBO NA JUSTIÇA
Comunique-se

TSE mantém multa à TV Globo por exibir entrevista com Clodovil, 28/12

‘O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não aceitou seguir com o Agravo de Instrumento pedido pela TV Globo contra decisão do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP). A emissora veiculou entrevista com o deputado Clodovil Hernandes (PR-SP) em julho do ano passado, fazendo com que o Ministério Público Eleitoral (MPE) entendesse que tudo não passava de uma propaganda eleitoral extemporânea.

O MPE propôs uma representação contra o deputado e a TV Globo. O TRE-SP reconheceu que houve propaganda extemporânea e deu provimento à representação condenando os dois ao pagamento de multa de R$ 21.282,00.

A TV Globo recorreu alegando que o prazo para o ajuizamento da representação seria de cinco dias, contados a partir da data em que tomou conhecimento do fato a ser representado. Para TV Globo, isso não aconteceu, já que a representação foi protocolada 46 dias depois da exibição da entrevista.

O ministro-relator, José Delgado, explicou que o prazo para a representação, citado pela TV Globo, não se aplica ao caso em exame. ‘Os paradigmas colacionados pelo agravante representam jurisprudência já superada no TSE’, disse Delgado.’

JORNALISMO NA INTERNET
Bruno Rodrigues

Erros que cometemos, 28/12

‘‘Herrar’ é ‘umano’ – e não pense que nossos escorregões se restringem ao mundo real. Na internet, fizemos e ainda faremos muita besteira. Algumas são rapidamente esquecidas. Outras, não: merecem ser integradas, sem pestanejar, à galeria ‘casca de banana online’, nossa grande vergonha virtual.

Neste texto, que encerra 2007, vamos nos ajoelhar e pedir perdão por dois escorregões que poderiam, há alguns anos, ter colocado a perder toda a credibilidade da web. E não fuja da raia! Todos temos culpa no cartório, sim! Pagamos os micos que listo abaixo – ou seriam orangotangos? -, achando que éramos meros espectadores. Arrependamo-nos, portanto!

– Comércio eletrônico

Ninguém esperava que, no apagar de luzes do ano, o Submarino, nosso grande orgulho do e-commerce nacional, nossa Amazon.com tupiniquim, passasse tal vergonha. O conceito básico do comércio é ‘comprou, levou’, ‘pediu, recebeu’, confere? Não para o Submarino, que transformou o Natal de muita gente em pesadelo. Deu n’O Globo Online, logo primeira página – um rombo na imagem do varejão online, que nem um trabalho de dez anos de Assessoria de Imprensa é capaz de remendar. Muitos clientes da loja virtual aguardavam por algo semelhante; fato é que, desde que a Americanas.com comprou o Submarino e o Shoptime, os problemas de entrega vêm se acumulando.

Vale torcer pelo (ex?) bravo Submarino, mas também é preciso botar a boca no trombone e reclamar, como muitos têm feito. O Procon-SP, por exemplo, diz O Globo, está recheado de reclamações sobre os sites da Americanas.com; foram quase 100 registros ao longo de 2007. É hora de todos dizerem basta – em especial, a própria Americanas.com.

– Second Life

Mea culpa, mea culpa! Eu também enchi a bola do mais famoso metaverso a Rede, e faço cara de paisagem quando me perguntam qual será o destino do Second Life. Fosse só a mídia que tivesse esquecido a existência do site, seria constrangedor, mas dava para levar. Mas os usuários começarem a debandar do Second Life foi péssimo: o número de usuários ativos – aqueles que ‘vivem’ o metaverso, de fato -, desaba a cada mês. Vontade de cair no choro, mesmo, é ver o fiasco que foi a versão nacional lançada pela Kaisen Games e pelo iG. O número de usuários inscritos no Second Life Brasil não chegou nem a fazer cosquinha na meta mais tímida estipulada pelas duas empresas. Bem feito! Não para as empresas, tão esforçadas, coitadas, mas para todos nós, deslumbrados com tecnologia. Da próxima vez, vamos pensar duas vezes antes de colocarmos no ‘panteão da web’ – que fica na sala ao lado da galeria da ‘casca de banana online’ – qualquer novidade que surja na Rede.

Não bastou para você, leitor? Ainda tem algum mico a acrescentar? Então, não se acanhe: é hora de desabafar, botar para fora o que de anormal vive no virtual, para fecharmos o ano em silêncio e oração, antes que alguém comece a cair de pau na web, mais uma vez…

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Quem quiser ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição da informação na mídia digital, é só entrar em contato pelo e-mail extensao@facha.edu.br ou ligar para 0xx 21 2102-3200 (ramal 4) para obter mais informações sobre meu curso ‘Webwriting & Arquitetura da Informação’.

As aulas da próxima turma, que terá início em 22/01, serão ministradas no Rio de Janeiro, ao longo de seis terças-feiras à noite, em Botafogo.

Comece o ano de 2008 atualizado e com o pé direito! 🙂

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

JORNALISTAS
Milton Coelho da Graça

Tempo de lembrar ou esquecer?, 28/12

‘Em dezembro de 1957, reuniu-se, no restaurante da ABI, o ‘Clube dos 23’ – a elite do jornalismo na capital da República. Eu era metido a jornalista, fazia um mural na minha turma da Faculdade Nacional de Direito. Dois anos depois, tinha desistido do Direito e me tornado redator de coluna social.

Tive a sorte de ter como chefes cinco desses 23 – cada um me ensinou alguma coisa boa ou ruim: Deodato Maia (Diário Carioca), Everardo Guilhon (DC), Moacir Werneck de Castro (UH), Mauritônio Meira (DC) e Pompeu de Sousa (um jornal com novos padrões de texto e design, que nem chegou a ser lançado). Mais cinco como companheiros de redação, todos também ‘professores’: Aluísio Flores, Josimar Moreira, Alípio de Barros, Mauro Sales, Murilo Melo Filho. E outros dez como companheiros que conheci pessoalmente, lia, admirava e ambicionava um dia igualar: Antonio Callado, Eneida, Fagundes de Menezes, Alves de Castro, José Conde, José Guilherme Viegas, Saldanha Coelho, Luís Paulistano, Maurício Caminha de Lacerda e Osmar Flores. Não conheci pessoalmente apenas três: Alberto Homsi, Luís Costa e Paulo Pedrosa.

Além do prazer e do orgulho dessas lembranças enquanto lia a seção ‘O Globo há 50 anos’, tive vontade de comparar essa ‘seleção’ com uma atual do jornalismo carioca. A mudança da capital, a redução do número de jornais e o surgimento de colunistas que escrevem para mais de um jornal (Elio Gaspari e Dora Kramer, por exemplo, são cariocas, mas emigraram para São Paulo e se tornaram ‘nacionais’), tornam muito difícil e certamente injusta qualquer comparação pública.

Quietinho em seu canto, cada um pode fazer a sua.

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Olho apertado pode ser trunfo na Globo

Daniele Suzuki tem chance de se tornar a artista brasileira de maior público no mundo. A Globo planeja produzir novelas e outros programas em língua chinesa, no rastro da mexicana Televisa, que já emplacou quatro novelas em mandarim. Daniele tem chance de ser estrela da primeira estória feita na medida para agradar uma audiência de 300 ou 400 milhões de espectadores.

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Conselho da TV Brasil, modelo para toda a TV

Se o Conselho Curador da TV Brasil funcionar realmente no modelo proposto pelo ministro Franklin Martins e confirmado pelo presidente da República, tem chance de acabar se tornando modelo para um Conselho que imponha um Código de Ética a todas emissoras de rádio e televisão do país.

O presidente indicado por Lula, economista Luiz Belluzzo, garante rigor no cumprimento das determinadas para o Conselho (que também inclui Boni, Delfim Netto, MV Bill, Rosa Magalhães e outros). Todas as vezes em que é procurado por jornalistas, repete o refrão animador de que não admitirá a intromissão do governo na orientação da emissora, especialmente no jornalismo. ‘Se eu constatar ingerências do governo, peço demissão imediatamente.’

Mas, se esse Conselho Curador realmente funcionar como elemento inibidor de qualquer pressão governamental sobre a programação da TV Brasil, por que não criar um órgão semelhante – bem representativo da sociedade civil – para criar e fiscalizar a execução de um Código de Ética, tudo aprovado pelo Congresso? Esse Código, como é prática na maioria dos países democráticos, seria aplicável a todas as transmissões de rádio e televisão, evitando os exageros causados pela busca desenfreada por índices de audiência.

Tudo vai depender de Belluzzo e de seus companheiros levarem seu trabalho a sério.

(*) Milton Coelho da Graça, 76, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

JORNALISMO ESPORTIVO
Marcelo Russio

Rever é tão difícil quanto fazer, 26/12

‘Olá, amigos. Tocar uma retrospectiva, que vem sendo a tônica de 90% do trabalho dos jornalistas esportivos neste fim de ano, é uma tarefa que, a princípio, parece fácil e tranqüila, já que tudo que vai ser reportado, teoricamente, já foi escrito. Mas organizar e transformar um noticiário longo, como o de um Campeonato Brasileiro, ou dos Jogos Pan-Americanos, em uma única matéria, fazendo remissões e resumos com a responsabilidade de não deixar de fora nada de relevante é uma tarefa, no mínimo, trabalhosa.

Em todos os veículos estruturados existe uma equipe que cuida do arquivo e da memória da empresa. Este pessoal, ao longo do ano, teoricamente, deveria estar voltado exclusivamente à organização e à produção das retrospectivas de cada editoria, para que, em dezembro, tudo estivesse escrito, editado e pronto para ser publicado ou transmitido. Mas este seria o fantástico mundo do jornalismo perfeito. Em todas as redações que eu conheço, braços são material de primeira necessidade, e nem sempre um planejamento a longo prazo pode competir com a tesoura da área financeira. Resumindo: quem é contratado para cuidar do futuro acaba sendo aproveitado para apagar incêndios no presente. Retrospectiva? Em dezembro a gente vê como fica.

Na maioria das editorias, e no caso do esporte há sempre duas principais (esportes olímpicos e futebol), os fatos mais relevantes do ano precisam de algum tempo para que suas repercussões sejam compreendidas, e para que o que foi dito há meses ganhe vulto: seja como inverdade, seja como fato. Sob esse ponto de vista, não adiantaria, por exemplo, falar do caso Ricardinho, na seleção de vôlei, logo após o anúncio do seu corte dos Jogos Pan-Americanos. Fazer isso seria ter o trabalho de reescrever muita coisa, pois o caso teve repercussões na Copa do Mundo de vôlei, meses depois.

Por outro lado, um fato isolado, como uma seqüência de medalhas de ouro no Pan, como as ganhas pelo nadador Thiago Pereira, já podem ser relatadas como fato fechado assim que a competição termina. O relevante da notícia está ali: a performance do atleta. O que o atleta fizer depois vale como adendo, talvez até uma nova notícia. Mas na retrospectiva, o que interessa é a relevância da informação, e o impacto que ela teve para a vida dos leitores.

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Muito interessantes, para não dizer históricos, os programas ‘Jogos para sempre’que vêm sendo apresentados pelo SporTV neste fim de ano. As partidas escolhidas são excelentes, cheias de histórias e curiosidades, e os personagens chamados para relembrar momentos marcantes são, sem dúvida, atrações à parte. Quem não se emociona vendo Zico contar a sua visão de Flamengo 6 x 0 Botafogo em 1981, ou ao ver Tita chorando ao falar de Grêmio 2 x 1 Peñarol, em 1983? Ou ainda ao ouvir de Renato Gaúcho como foi fazer o gol de barriga naquele Fluminense 3 x 2 Flamengo, em 1995?

Este foi, de fato, um golaço do SporTV neste mês de dezembro.

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Outro destaque, também do SporTV, é a série de entrevistas com personagens que marcaram o ano de 2007 durante o recesso do ‘Redação SporTV’. Muitíssimo bem conduzidos pelo cada vez mais brilhante Luís Roberto, os programas extraem dos entrevistados histórias e declarações que, por si sós, valem matérias. Descontraídos, técnicos como Muricy Ramalho e Joel Santana, ou jogadores como Rogério Ceni, contam detalhes do ano, analisam com mais leveza momentos de seus times na temporada, e nos fornecem informações importantes para entender melhor o que passou.

Tem valido a pena assistir, mesmo as reprises.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Furto, roubo, assalto, 27/12

‘O último dia do ano

não é o último dia do tempo.

(Drummond in Passagem do Ano)

Furto, roubo, assalto

Escreveram e, o que é pior, publicaram por aí que as obras tinham sido ‘furtadas’ do MASP. Janistraquis leu e exibiu aquele ar de chorosa e infinita tristeza de Letícia Sabatella diante da, digamos, inexorabilidade da transposição. Depois, razoavelmente recuperado, suspirou:

‘Considerado, existe uma espécie de vento haragano a espalhar pétrea ignorância no tropel dos redatores. Será que a moçada nunca se tocou para as sutilezas entre furto, roubo e assalto?’.

É mesmo. Furto, afano, gatunice revelam, principalmente, a subtração pelo descuido. Exemplo: você está distraído à frente do Congresso Nacional e alguém puxa sua carteira, mal guardada no bolso de trás da calça frouxa.

Roubar é quando o bandido arromba a porta do museu e leva uma obra de Portinari e outra de Picasso; ou entra na sua casa de noite e carrega todos os objetos de valor, enquanto você, sabiamente, finge que dorme e até ronca alto, para dar credibilidade à encenação.

Pode chamar também o exemplo acima de assalto, embora este se caracterize pelo ataque do bandido armado.

Ah!, o dicionário diz que é tudo a mesma coisa, é tudo igual, é tudo sinônimo? Pois não é. Dicionário reúne as palavras, mas não escreve uma frase sequer; esta é tarefa do redator. Ou deveria ser.

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Sacanagem americana

Jornalista como o marido e os sogros, a nora do colunista, Larissa Purvinni, viajou aos Estados Unidos, reuniu os dados da matéria que escreveu para a revista Pais & Filhos e, na volta, comprou presente para este colunista/cozinheiro: um vidrinho de molho especial apimentado, desses que não se encontram facilmente nem nas melhores lojas de delicatéssen. Pois na hora do embarque, um americano mal-encarado revistou a bagagem e jogou a iguaria na lata do lixo. Sem nenhuma explicação.

É claro que depois do expediente o sacana pegou o vidrinho e o levou para casa, como bom funcionário corrupto, safado e formado em filhadaputice americana, a mais sofisticada do mundo, como a gente vê nos seriados policiais da TV. Revoltado e solidário com a perda do presente, Janistraquis caiu de joelhos no chão da cozinha e pinchou severa maldição:

‘Considerado, se Deus existe mesmo, o canalha engolirá inteiro o que roubou, agora no reveillon, e aquilo só vai sair no Dia de Ação de Graças de 2008, numa caganeira misturada a caco de vidro e pimenta fermentada.’

Quando fica indignado, meu secretário não livra o rabo de ninguém.

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Palavras estrangeiras

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no DF, em cujo banheiro sente-se, antes da salvadora descarga, é lógico, olor idêntico aos exalados nos corredores do Congresso, pois Roldão lia no Correio Braziliense a coluna de Cláudio Dantas Sequeira, encostou o jornal e escreveu ao jornalista:

Sua coluna Conexão Diplomática deste sábado tem boas informações.

Faço uma observação quanto ao emprego do termo inglês cash. Sei que o uso de palavras e expressões estrangeiras é uma das formas de enriquecimento dos idiomas, por isso seria tolice tentar bloquear seu emprego. Mas acho que a utilização desnecessária deve ser coibida.

Por que desprezar vocábulos vernaculares perfeitamente conhecidos e divulgar formas estrangeiras menos coloquiais?

É o caso. Temos a expressão em espécie para designar o dinheiro vivo (outra forma possível). ‘US$ 30 mil em espécie’ é perfeitamente compreensível por todos. Não é preciso se contaminar com o idioma inglês.

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Milagroso Maluf

Do alto de seu minarete em Santa Tereza, de onde avista as vicissitudes deste mundo, o considerado José Truda Júnior envia o seguinte despacho:

O jornalista Almir Gajardoni publicou no blog do Noblat excelente artigo sobre o lançamento do livro de Paulo Egydio Martins na nova sede da Livraria Cultura, em São Paulo. O livro é um depoimento em que Paulo Egydio conta ao pessoal do CPDOC da FGV os bastidores da conspiração paulista contra o governo Jango y otras cositas más sobre o processo de redemocratização.

Segundo Almir, o depoente Paulo Egydio, mais José Maria Marin, Laudo Natel, Cláudio Lembo e Geraldo Alkmin são os únicos ex-governadores paulistas ainda vivos. Mas outro dia mesmo o deputado Paulo Maluf foi visto circulando faceiro nos corredores do Congresso. O que significa que, ao contrário dos demais citados, nem o falecimento político do ex-governador ocorreu ainda, né mesmo? E também foram esquecidos Fleury e Quércia.

Pura verdade. Ocorreu um pequeno lapso no texto, embora Janistraquis interprete deste modo a omissão do excelente jornalista político Almir Gajardoni, amigo e companheiro doutras Redações:

‘Considerado, Fleury e Quércia são apenas fantasmas que não assustam mais ninguém, todavia o texto do Almir é mais uma prova do tão falado acordo do Capiroto com Maluf, pois quando a gente acha que o fenômeno está morto e enterrado, de repente ele aparece como candidato a alguma coisa.’

(E sempre a negar, com malufiosa veemência, que tem conta bancária no exterior.)

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Frase repetida

Janistraquis, que desde a visita do Papa faz pesquisa para saber qual a frase mais repetida nos telejornais, chegou à seguinte conclusão:

‘A gente pensa que a frase mais repetida pelos apresentadores e repórteres é bom dia, boa tarde e boa noite, né, considerado? Pois está longe disso; a frase é ‘ninguém foi preso’.’

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Greve de fome?

Allan Sales, músico e poeta cearense radicado no Recife, foi, segundo fontes informadíssimas, o responsável pelo fim do jejum do bispo, ao divulgar a glosa do mote UM BISPO DE RABO CHEIO NÃO QUER ÁGUA NO SERTÃO.

Sintam o drama de Dom Luiz nos versos abaixo e confiram a íntegra no Blogstraquis. A colaboração é do considerado Fábio José de Mello.

Meu sertão sofre com sede

Mas tem um rio caudaloso

O bispo religioso

Falando na global rede

Quer ser como uma parede

Barrando essa redenção

A água da salvação

Do sertanejo um esteio

‘UM BISPO DE RABO CHEIO

NÃO QUER ÁGUA NO SERTÃO’

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Veadagem a dar com o pau

Publicado na capa do UOL:

Pesquisa IBGE — Brasil tem 183,9 milhões de pessoas e mais mulheres do que homens.

Aparentemente aliviado, Janistraquis teve o descaramento de fazer o seguinte comentário:

‘Ainda bem, considerado, ainda bem; todavia, faltou desnudar esta dolorosa verdade: no Brasil de hoje a maioria absoluta das criaturas do sexo masculino é formada por baitolas irremissíveis…’

E chegando mais, e chegando mais, a julgar pelo decreto presidencial enviado pelo diretor da sucursal mineira desta coluna, o considerado Camilo Viana. A resolução, assinada por Lula e Dilma Roussef, inicia-se assim:

Art. 1o — Fica convocada a I Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, que será realizada no período de 9 a 11 de maio de 2008, sob os auspícios da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, com os objetivos de:

(Confira no Blogstraquis quais os objetivos da, digamos, papagaíce oficial.)

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Reflexão

Janistraquis pensou e pensou e alteou os resmungos:

‘Considerado, tá certo que as obras não tenham seguro, pois este é caríssimo e não pode ser pago por entidade mantida pela caridade pública; mas bem que o MASP poderia ter um simples alarme, né não?’.

É. Aqui neste humilde sítio a gente tem alarme.

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Jornal de vanguarda

O considerado Marco Antonio Zanfra, assessor de imprensa do Detran/SC, autor do Manual do Repórter de Polícia, despacha de seu QG em Florianópolis:

Depois de praticamente conquistar o monopólio da mídia em Santa Catarina, através do Grupo RBS, o ‘Diário Catarinense’ pensa agora em mudar as ultrapassadas normas de redação jornalística e dinamizar a leitura. O ‘lead’, por exemplo: quem foi que disse que sua melhor colocação é no primeiro parágrafo e que essa regra é imutável?

A primeira experiência do ‘DC’ para flexibilizar a estrutura do texto aconteceu nesta sexta-feira, 16 de novembro, na página 23: sob o título ‘Dia sem nenhuma morte nas estradas’, o texto ‘Até o fim da tarde de ontem, nenhum acidente com morte foi registrado nas estradas que cortam Santa Catarina’ estava, segundo os novos padrões RBS de vanguarda, no oitavo parágrafo.

Os sete primeiros – que tratavam de assunto menos atraente, mas de igual importância (as normas de circulação de caminhões na BR-101) – teriam obrigatoriamente de ser lidos pelos leitores que desejassem saber onde diabos tinha sido colocada a informação do título. Não é genial? Não é uma forma sutil e eficiente de obrigar nosso povo semi-analfabeto a ler o que ele equivocadamente pensa que não lhe interessa?

Janistraquis adorou, ó Zanfra, e garantiu que de agora em diante só vai ler o Diário Catarinense.

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Reveillon

Leia e releia no Blogstraquis a íntegra dessa obra-prima do jornalista e poeta Carlos Drummond de Andrade, cujo excerto encima esta coluna. São versos de A Rosa do Povo – 1943/45 e dizem o que todos precisamos escutar, quando o ano chega ao fim e ainda é possível resistir.

Nélson dos Reis

A coluna veste luto neste final de ano. O considerado amigo Nélson dos Reis morreu de insuficiência respiratória em 22/12. Foi um dos mais honestos, talentosos e criativos editores do Brasil e estava no esplendor da carreira à frente da Nova Alexandria e Claridade, fundadas por ele. Nélson editava de verdade, era informadíssimo e escrevia muito bem. Sua companheira de vida e de trabalho, Rosa Maria Zuccherato, continuará a obra que ambos construíram.

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Nota dez

Sob o título Vem aí a Sessão Saudade de 1968, o considerado Elio Gaspari escreveu em sua coluna:

FALTAM cinco dias para o início da efeméride dos 40 anos de 1968. Os sessentões revisitarão aquele grande ano da aurora de suas vidas, que o tempo não traz mais.

Virão as doces lembranças das passeatas e dos festivais de música, até o amargo desfecho da noite de 13 de dezembro, quando a ditadura militar escancarou-se.

Há uma aura mágica em torno de 1968, como se tivesse sido um ano que mudou o mundo. Ele teve muitos acontecimentos inesquecíveis, mas poucos resultados.

(Leia no Blogstraquis a íntegra do instigante texto.)

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Errei, sim!

‘QUÉRCIA MAIS MALUF – Erramos do Jornal da Tarde, de São Paulo: ‘O governador Orestes Quércia declarou ‘Vamos eleger o Fleury’ e não ‘Vamos eleger o Maluf’, conforme saiu publicado na página 3 da edição de ontem’. Fiquei horrorizado, porém Janistraquis levantou preciosa hipótese: ‘Considerado, vai ver a matéria foi escrita por um redator indeciso…’. (dezembro de 1990)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 65 anos de idade e 45 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

ÓCIO
Carlos Chaparro

Exercícios pós-natalinos do direito ao ócio, 26/12

‘No ócio, o corpo descansa para que a mente se liberte e crie. E me valho de Domenico de Masi, para quem a ‘arte de ociar’ é pressuposto imprescindível do pensar criativo. No pós-Natal, os tempos são de propensão ao ócio. Até os jornais dão sinais disso. Oxalá aproveitem o ócio destes tempos para ousadias criativas que os melhorem.

1. Discursos do ócio

Após dois dias sem ler jornais, mas ainda com fadigas causadas pelas volumosas edições pré-natalinas inchadas de publicidade que me chegaram às mãos, tive na manhã de hoje, 26 de dezembro, a grata surpresa de me deparar com as magérrimas edições dos dois jornais que assino – a Folha de S. Paulo, com apenas 38 páginas, e o Estadão, com 56.

Tomo isso como sinais de uma decorrência natalina incorporada pela cultura dos costumes e das sensações coletivas, mas da qual pouco de se fala: o sentimento pós-natalino de devoção ao ócio.

Vejam só como Tostão abre sua coluna de hoje, na Folha: ‘O leitor que imaginava tirar férias das minhas colunas neste final de ano poderá ainda ler essas abobrinhas, se não tiver coisas melhores para fazer.’

É ou não é um tributo ao primado do ócio?

A própria pauta jornalística do dia indica isso. Duvidam? Pois lhes digo que, se não tivesse ocorrido o fogaréu que quase destruiu as unidades de atendimento de urgência no Hospital das Clínicas, a provável manchete da Folha de S. Paulo seria dedicada à farra da festa de Natal da Daslu, que reuniu celebridades de vários níveis e tipos. É o que se deduz pela relevância dada na capa do jornal ao movimentado rega-bofe dasluniano. Ou seja: a relevância atribuída aos prazeres do ócio, vividos por gente como o incansável endinheirado Olacyr de Moraes, que sempre consegue ser fotografado entre lindas e devotadas mulheres.

Os tempos pós-natalinos propícios ao ócio manifestam-se também no encolhimento da publicidade nos jornais. O que já estudei sobre a relação proporcional entre publicidade e noticiário, na ocupação do espaço impresso na grande imprensa diária brasileira, me permite estimar que, na média, ao longo de períodos anuais, à publicidade cabe a generosa fatia de 65%. Essa média foi claramente superada no período pré-natalino deste ano, em especial nas edições dominicais. E a exuberância do faturamento pré-natalino deu aos nossos jornalões fôlego financeiro para virem à rua, nesta quarta-feira de ressacas, com mais notícias do que anúncios. Na Folha de hoje, por exemplo, a publicidade ocupa apenas cerca de 25% do espaço impresso. O Estadão tem relação de custo-benefício ligeiramente melhor, com a publicidade ocupando em torno de 30% do espaço.

2. A escolha pelo ‘nada a fazer’

E porque o tema escolhido é o ócio, permitam-me ir um pouco além, citando uma frase que alguém escreveu, talvez até tenha sido eu – e se não a escrevi, escrevo-a agora: o ócio é a mais inspirada e criativa atitude de contemplação da vida. Por isso, acredito eu, aderir ao ócio tem de ser um ato de vontade – a vontade de usar as liberdades do ‘nada a fazer’ para o agir mental renovador.

Tal como o entendo, o ócio é uma afirmação de dignidade humana.

Até na filosofia especializada existe a figura do ‘Direito ao Ócio’, que Paul Lafargue, em 1880, tratou como ‘O Direito à Preguiça’. Esse foi o título por ele dado a um panfleto considerado até hoje, por pensadores de diversos matizes, como obra prima de crítica ao regime capitalista. Está na galeria das melhores sátiras políticas dos tempos modernos.

Na época, os trabalhadores eram submetidos a jornadas de trabalho de 12 a 15 horas por dia. E muitos deles ainda acreditavam que, mesmo assim, o trabalho dignificava o ser humano. E o que Lafargue fez foi abominar a ‘santificação do trabalho’ promovida por doutrinas e doutrinadores moralistas do seu tempo.

A visão de mundo proposta por Lafargue era, como se sabe, radicalmente materialista. Ele se opunha a intelectuais como Augusto Comte e Victor Hugo, a quem acusava de profetas de ‘cantos nauseabundos em honra do deus Progresso, o filho mais velho do Trabalho’. E embora nada tivesse de religioso, Lafargue protestava, até, contra a eliminação de feriados religiosos vindos de eras medievais.

Embora concorde com a veneração intelectual concedida ao texto de Lafargue, discordo do título. Entendo o ócio não como expressão de indolência ou preguiça, mas como escolha inteligente de ocupação do tempo. No ócio, o corpo descansa, para que a mente se liberte e crie. E me justifico citando Domenico de Masi, para quem a ‘arte de ociar’ é pressuposto imprescindível do pensar criativo.

Não vou, porém, filosofar sobre o assunto. Se o trago à baila, é apenas para servir de moldura à declaração importante que agora faço, já com alguns dias de atraso: – Entrei em estado de férias! De trabalho, nas próximas semanas, aceito apenas o dever semanal de escrever no Comunique-se. E tentarei que sejam textos resultantes mais do exercício do ócio do que de qualquer noção de cumprimento de deveres.

Aos 73 anos, quase 74, me atribuo, pela primeira vez, o direito ao exercício do ócio. Durante trinta dias, contemplarei a vida. Mas, prometo, será uma contemplação crítica, criativa, por entender o direito ao ócio como a plena liberdade para o uso da inteligência.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

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