Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Comunique-se

TRAGÉDIA EM CONGONHAS
Milton Coelho da Graça

Nem mífu, nem núsfu. Eles sífu, 19/07/07

‘Aquele gesto impulsivo de Marco Aurélio Garcia tem significado tríplice. Segundo os vários gestólogos que consultei, especialmente visto de longe, pode expressar três formas verbais do mesmo verbo reflexivo.

Como ele e seu prestimoso assessor de imprensa, que prontamente o acompanhou no gesto (esse rapaz vai longe!), viam e ouviam William Bonner, no Jornal Nacional, anunciar o ‘furo’ do defeito no reverso direito do Airbus sinistrado, os meios de comunicação devem ter acertado na unânime tradução desse ‘eles sífu’: alguém, não nenhum de nós, é o culpado da tragédia.

Ninguém gostou do desabafo de Marco Aurélio Garcia, que teria deixado de levar em conta a consternação nacional. Até porque costuma exibir o autocontrole de um diplomata, mais do que adequado para a função que exerce no Governo – a de assessor internacional direto do presidente Lula. Muito melhor negociador do que o presidente da Petrobras, soube encaminhar uma solução para o entrevero com a Bolívia e tem sido eficiente auxiliar do Itamaraty nos difíceis processos de integração da América do Sul e do estímulo às relações sul-sul.

Pior do que o gesto, foi a justificativa. Ao interpretar (também logo acompanhado pelo prestimoso assessor de imprensa) que as câmeras  da Globo tinham cometido uma invasão de privacidade, ele passou a idéia de que considera o Palácio do Planalto uma área privada, que não pode ser devassada nem quando as cortinas estão abertas e o local muito bem iluminado. Portanto, companheiros, o ‘eles’ tem toda a pinta de sermos nós.

Esse é, sem dúvida, o mais sério grooving no que deveria ser uma completa e correta postura diplomática (só voltarei a dizer ranhura quando o presidente da Infraero explicar por que liberou aquela pista em Congonhas desconsiderando a recomendação da própria construtora). Marco Aurélio tem o hábito de culpar a imprensa, mais rápida e duramente do que ela consegue, ao apontar erros no exercício do poder público. Se ele entender que uma orquestra só toca bem quando cada um executa corretamente sua parte, os brasileiros deixarão de dizer tantas vezes ‘núsfu’.

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Murdoch com um pé no WSJ

Os 32 membros da família Bancroft já deram sinais de que aqueles 60 dólares por ação oferecidos por Rupert Murdoch são suficientes para deixar de lado qualquer preocupação com a integridade editorial do Wall Street Journal, reconhecida durante seus 118 anos de existência. 5 bilhões de dólares são uma atração irresistível, especialmente porque o valor das ações da Dow Jones poderá despencar se a operação não for realizada. Antes da oferta de Murdoch, a ação andava por volta dos 38 dólares. Os Bancroft tomarão sua decisão final nesta segunda, 23/5.

(*) Milton Coelho da Graça, 77, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

Carlos Chaparro

No acidente da TAM, bom jornalismo, apesar das fontes em fuga, 20/07/07

‘O XIS DA QUESTÃO – Sob o ponto de vista da informação e da elucidação, foi lamentável o desempenho das fontes oficiais e empresariais institucionalmente vinculadas ao trágico acidente com o avião da TAM. A exceção veio dos bombeiros, que também nesse aspecto mais uma vez tiveram comportamento exemplar. Já o jornalismo, está de parabéns pela cobertura feita. Em todas as mídias.

1. Acontecimento complexo

Habitualmente, a abrangência e a intensidade da cobertura jornalística de grandes acidentes é determinada pela inevitável lei da proximidade. No plano jornalístico, a proximidade física e emocional do grande acidente potencializa a sua dramaticidade, bem como a importância das causas, das conseqüências e dos conflitos.

Entretanto, este não foi apenas mais um acidente aéreo. É certo que teve enormes proporções em termos de vítimas e espetaculosidade. O Airbus A320, que fazia o vôo TAM JJ-3051, projetou-se com 186 pessoas a bordo de encontro a um edifício da própria TAM, dentro do qual explodiu e se transformou em fogo e em estilhaços incandescentes, matando também várias das dezenas de pessoas que ali trabalhavam.

Mas, para além da quantidade de vítimas e da destruição material causada, este foi um acidente com componentes de complexidade que ultrapassam a materialidade dos fatos. A queda deste (mais um) avião da TAM serviu para expor ao mundo, de forma dramática, o âmago de uma crise que há quase um ano fustiga o governo, alimenta noticiários e aflige os brasileiros: o já chamado ‘apagão aeroviário’. 

Trata-se, portanto, de um acidente com circunstâncias, até políticas, que lhe deram repercussão mundial. A queda do Airbus A320 atraiu jornalistas de vários países. E mobilizou profissionais locais prestadores de serviço, contratados para gerar reportagens pagas por emissoras e/ou redes de internacionais.

2. Fontes omissas – ou incompetentes, ou desonestas

Na verdade, não há redações nem empresas aéreas preparadas para enfrentar as primeiras horas de um acidente destas proporções. A demanda social por informações imediatas obriga as equipes jornalísticas a ir para o local das tragédias, sem ter quem possa e saiba responder às perguntas essenciais. Por vezes, as fontes que teriam a obrigação institucional. Política ou funcional de encarar câmeras e microfones, ficam apavoradas pela gravidade das causas ou das conseqüências, e se escondem, atrás de notas oficiais e de formalismos que nada esclarecem.

Foi o que aconteceu mais uma vez, tanto por parte dos órgãos do Governo (que foram incapazes de organizar um bom serviço de atendimento à imprensa, para bem informar a sociedade) quanto por parte da TAM, que levou horas para prestar esclarecimentos. E que, quando resolveu colocar seus principais executivos diante dos jornalistas, para uma entrevista coletiva, teve a desfaçatez de mentir consciente e descaradamente, ao garantir que o avião acidentado voava sem problemas mecânicos. Como a mentira tem pernas curtas, e cada vez mais curtas, neste mundo nutrido a informação, logo se soube que, desde o dia 13, a empresa tinha conhecimento formal do defeito que prejudicava o sistema de frenagem do avião. 

Em resumo: sob o ponto de vista da informação, e com exceção dos bombeiros que também nesse aspecto mais uma vez tiveram comportamento exemplar, foi lamentável o desempenho das fontes oficiais e empresariais institucionalmente vinculadas ao acidente.

3. Jornalismo de qualidade

Já o jornalismo, está de parabéns, em todas as mídias.

Os grandes jornais, em especial os de São Paulo, fizeram uma competente cobertura diária de relato e contextualização do trágico desastre, num esforço notável de busca e revelação da verdade dos fatos.

Na televisão, como no rádio, as primeiras horas da cobertura, sem fontes organizadas e dispostas a fornecer informações, a obrigatoriedade da reportagem ao vivo ainda produziu o tradicional padrão das perguntas óbvias, sempre repetidas, às vezes indo além do respeito devido ao sofrimento do luto e à privacidade das lágrimas. Tivemos, também, a verborragia compulsiva dos locutores-âncoras, no esforço de preencher o vazio da falta de informações precisas. E a batalha irracional entre microfones, câmeras e máquinas fotográficas, na caça de imagens e declarações das figuras notórias, quando elas aparecem.

Mas, desta vez, ao contrário do que vimos em novembro de 1996, no outro desastre da TAM ocorrido também em Congonhas, os departamentos de jornalismo dos meios eletrônicos organizaram-se com surpreendente rapidez.

Descontada a gritaria histérica dos Datenas de plantão, assistimos, principalmente na Rede Globo, a belos trabalhos de reportagem, não só para a descrição dos fatos, mas também para a elucidação e a discussão de causas e problemas, com surpreendentes desvendamentos do que às vezes estava bem escondido.

No ápice desse trabalho, tivemos a câmera indiscreta que flagrou o mais vigoroso dos discursos oficiais – aquele gesto obsceno do assessor-ministro Marco Aurélio Garcia. Foi um discurso muito mais verdadeiro do que a fala engomada do diplomata colocado na difícil missão de porta-voz de um governo que não tinha ou não sabia o que dizer, no dia do acidente.

(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 2007), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’

Comunique-se

Record não usará mais Aeroporto de Congonhas, 19/07/07

‘O Jornal da Record da noite de quinta-feira (19/07) trouxe um editorial em que a emissora comunicou que seus funcionários não usarão mais o Aeroporto de Congonhas. A restrição é direcionada para executivos, jornalistas e artistas e valerá até que a investigação em torno das causas que provocaram o acidente sejam descobertas.

Leia abaixo a íntegra do editorial da Record.

‘Mais de 350 vidas se foram em dois acidentes aéreos em menos de um ano. Neste momento, milhares de brasileiros choram a perda de familiares e amigos. O país todo ainda está abalado por uma tragédia prevista.

Enquanto o cidadão comum sofre com o colapso aéreo, as autoridades de Brasília fazem teorias, brincam e até debocham.

Mais de dez órgãos oficiais e dezenas de empresas privadas atuam no setor. Até agora nenhuma solução para a crise. E o pior: a saída parece impossível de ser encontrada.

As centenas de vidas perdidas parecem não afetar nossas autoridades, aparentemente distantes do caos. Bem longe do desespero e da agonia que tomaram conta dos nossos aeroportos nos últimos meses.

Indignada com essa situação, a Rede Record decidiu: a partir de hoje, não disponibilizará mais passagens para nenhum dos seus executivos, artistas, jornalistas ou outros funcionários no Aeroporto de Congonhas até que tudo seja esclarecido.

É um protesto em nome dos moradores da região. Um protesto em nome de quase 200 milhões de brasileiros. Um protesto contra o descaso. Contra a falta de ação dos responsáveis.

Governo Federal, Aeronáutica, Infraero, Anac, companhias aéreas… O Brasil tem o direito de saber: de quem é a culpa? Quando toda essa tragédia vai finalmente acabar?’

Rede Record de Televisão’

PAN 2007
Marcelo Russio

Cobertura quase sociológica do Pan, 17/07/07

‘Olá, amigos. Na última semana, fiz quase uma viagem no tempo ao acompanhar o revezamento da Tocha Pan-Americana por três bairros do subúrbio do Rio de Janeiro: Santa Cruz, Campo Grande e Deodoro. Lá, pude ver com olhar jornalístico o que muitas pessoas acabam deixando passar, por estarem acostumadas ao cotidiano corrido da indiferença que as acompanha diariamente.

A passagem da Tocha Pan-Americana por estes bairros levou ao povo local eventos e pessoas que, normalmente, só são vistos pela telinha ou nas revistas e jornais. A cada ateta ou personalidade que aparecia, os gritos e a euforia eram evidentes. As pessoas pareciam não acreditar que um artista, atleta olímpico ou jornalista famoso estivesse ali, diante dos seus olhos. Alguns, acreditem, se davam tapas, como que tentando provar a si mesmos que aquilo era verdade, e não um sonho.

A cada bairro a cena se repetia, e as pessoas seguiam a Tocha pelas ruas. Correndo, de bicicleta e até mesmo de patins. Ou ficavam nas ruas, paradas pacientemente, esperando o momento de ter contato visual com o símbolo do Pan. Um minuto depois da Tocha passar, não havia nada mais para se ver, mas elas continuavam ali, em fila, ordenadamente, curtindo a festa e o acontecimento, tão raro por aqueles lados.

Definitivamente, valeu à pena.

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As instalações do Pan, por sua vez, possuem problemas e virtudes, como quase tudo na vida. Mas duas coisas me chamam especialmente a atenção: a prestatividade e a boa vontade dos voluntários e funcionários envolvidos com a imprensa, e a demora na chegada dos boletins de resultados ao fim das provas. A primeira quase diminui a frustração pela segunda. Quase…

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Uma pena que, no domingo dourado do esporte brasileiro (títulos na Liga Mundial de vôlei masculino e da Copa América de futebol sobre a Argentina), a medalha de ouro de Diogo Silva no taekwondo tenha passado ao vivo apenas nas TVs por assinatura. A TV aberta, compreensivelmente escrava da imutabilidade da grade de programação que a sustenta, acabou não transmitindo ao vivo. Todos acabaram vendo as imagens nos programas jornalísticos, mas a emoção de ver ao vivo, sem saber o resultado de antemão, não aconteceu para a grande maioria do público.

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’

Antonio Brasil

Cobertura do Pan: vaias, medalhas e videofone, 16/07/07

‘As primeiras vaias no Maracanã lotado com transmissão pela TV ao vivo para todo o mundo a gente nunca esquece. Para o prefeito do Rio, César Maia, as vaias foram pedagógicas. Lula ainda tem muito a aprender sobre a Cidade Maravilhosa.

Não é à toa que o Rio deixou de ser a capital da República. Com todo o respeito a Brasília, a ex-capital tem uma tradição singular e incontestável de oposição e rebeldia contra quase tudo e todos. Foi de oposição até mesmo durante a ditadura militar. É o melhor e o pior do nosso País. E como já dizia o velho Nelson Rodrigues, no Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio ou mulher nua e bonita.

Não sou carioca. Moro aqui por opção. Mas todo o brasileiro tem muito a aprender com a atitude irreverente e rebelde dos locais. Fico imaginando como deveria ser difícil governar o País com os cariocas ali na calçada do palácio do Catete, em pleno centro da cidade. Melhor mudar para o mais longe possível. Temos sorte de a nossa capital não ser no meio da Amazônia. Políticos e militares sentiram na pele essa oposição carioca.

Está em dúvida sobre a sua popularidade? Acredita em pesquisas encomendadas ou bajulação de companheiros ou aliados, faça o teste você mesmo. Venha ao Rio, de preferência venha ao Maracanã em dia de jogo ou grande evento e tente fazer um discurso para a galera. Os resultados podem ser muito instrutivos. Por aqui, gastar bilhões de reais em obras ou bolsas não garantem aplausos. Muito pelo contrário. Pode acabar sendo uma enorme decepção, um tiro… pela culatra.

Segundo matéria da Folha de hoje, segunda-feira, o presidente Lula está muito triste com as vaias. Ele diz que não esperava sse tipo de recepção. Ou é muito mal assessorado ou, quem sabe, nunca leu Nelson Rodrigues. Mas Lula também faz questão de dizer que ainda acredita nos jogos pan-americanos, que o Rio continua lindo e que não vai retaliar contra a cidade.

Aqui entre nós, creio que as nossas chances de sediar Olimpíadas ou Copa do Mundo diminuíram sensivelmente. As vaias podem ser verdadeiramente pedagógicas. Mas, por outro lado, tem gente que não aprende ou se recusa a ver a realidade.

Mas nem só de vaias vive o Pan do Rio 2007. A festa de abertura dos jogos e a transmissão pela TV pela empresa especializada contratada no exterior, a ISB, International Sports Broadcasting, foram simplesmente inesquecíveis. A carnavalesca Rosa Magalhães nos proporcionou um dos momentos mais lindos de um dos eventos mais chatos e previsíveis que existem: a abertura de grandes eventos esportivos. Foi um sucesso de público e de crítica. Além de vaiar políticos, os cariocas sabem fazer belas festas.

Sem exclusividade

Na ruas da cidade e na telinha da TV é uma enxurrada de jogos. Tem esportes para todos os gostos o tempo todo. Vai ter gente grudada na TV durante quase 24 horas nos próximos dias. São tantas emoções! Jamais achei que ficaria emocionado ao assistir ao vivo pela TV a uma final de ‘maratona aquática’. A última braçada perdida no ar da pequena brasileira contra a enorme e poderosa nadadora americana, é algo indescritível. Quem viu, sabe!

E só estamos no começo. Também é muito pedagógico assistir a um grande evento esportivo sem a exclusividade da Globo. É bom para o público e é bom para a própria Globo. Suas equipes têm feito um excelente trabalho. Fiquei impressionado com a utilização de tecnologia de Internet, uma videoconferência ao vivo com atletas brasileiros diretamente da Vila do Pan durante o último Fantástico. A imagem não tinha o padrão de qualidade imposto pela ditadura da engenharia, mas a simplicidade da operação e o valor do conteúdo justificam a utilização dos videofones. Não é só para correspondentes internacionais com restrições financeiras ou coberturas de guerra. Links com Internet podem ser a salvação dos telejornais.

Fica evidente que falta de exclusividade obriga os profissionais da Globo a serem mais humildes, realistas e quiçá criativos. E nós, o público, temos o direito, a opção de comparar e mudar de canal. Como já disse em várias oportunidades, não deveria haver exclusividade, principalmente em eventos que envolvam seleções nacionais. O Brasil não é exclusividade de uma única rede de TV.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’

PAN & CONGONHAS
Eduardo Ribeiro

O ouro chega com luto, 20/07/07

‘Depois de um domingo vitoriosíssimo no Esporte, com conquistas no futebol, no atletismo e no vôlei, e de uma terça que fez o Brasil decolar nas medalhas de ouro do Pan, eis que, na aterrissagem, um novo vôo, dessa vez da TAM, joga o Brasil num luto tão grande quanto profundo, relembrando a tragédia de um ano atrás no também fatídico vôo da Gol, de triste memória para todos nós.

Como comemorar vitórias com uma desgraça dessas?

Estamos todos muito felizes pelo excepcional desempenho do esporte brasileiro, mas sem coragem para grandes comemorações.

Impossível não dividir com amigos e familiares dessas quase duas centenas de vítimas a dor de um momento tão difícil. E certamente o mesmo se passa pela cabeça dos atletas que tão brilhantemente defendem as cores brasileiras nos Jogos Panamericanos.

A imprensa, como sempre, atenta a tudo, busca fazer o melhor na saga de levar ao público informações tão velozes quanto confiáveis. Nem sempre consegue, mas esse é o verdadeiro desafio do jornalismo.

Esta coluna e toda a equipe do Comunique-se, de luto, se solidarizam com os familiares e amigos das vítimas do vôo JJ 3054.

O jornalismo aliás também está de luto com algumas mortes de colegas ocorridas nos últimos dias.

Um dos que faleceram foi William Tate, provavelmente o mais simbólico e importante ex-diretor do Serviço Brasileiro da BBC (atual BBC Brasil), que morava em Londres. Tate era brasileiro de Vitória (ES), estava com 96 anos e foi contratado pela BBC em 1941, quando morava no Brasil. Na época, a BBC Brasil tinha apenas três anos de atuação (foi criada em 1938). Ele se aposentou em 1971, mas continuou colaborando com a BBC por algum tempo. Ficou muito conhecido entre os jornalistas brasileiros que iam à Inglaterra fazer reportagens, principalmente esportivas, devido à colaboração que prestava a esses colegas. Não deixou filhos. Sua esposa chama-se Nora, que ele conheceu trabalhando na BBC.

Outro que nos deixou, aos 77 anos, foi Nilo Scalzo, que durante 40 anos foi editor-chefe, redator e editorialista do Estadão, além de cronista e diretor dos suplementos Literário, Cultural e Cultura. Ele faleceu em São Paulo no último domingo (15/7), vítima de um enfarte e complicações do mal de Alzheimer. Scalzo foi também professor do Colégio Mackenzie, da Escola de Arte Dramática, da Faculdade de Letras Mackenzie e da Escola de Jornalismo Cásper Líbero, ocupou a cadeira 38 da Academia Paulista de Letras e recebeu o título de Chevalier de L´Ordre des Arts et des Lettres, do Governo da França. Seu corpo foi enterrado no Cemitério São Paulo. Deixou a mulher, Martha, e as filhas Marília, Fernanda e Mariana.

Pouco antes, no dia 9/7, faleceu, aos 73 anos, de insuficiência respiratória aguda, Pedro Ferreira de Medeiros, que começou carreira há 60 anos em O Imparcial, de Presidente Prudente (SP), tendo depois, entre 1950 e 1960, passado por O Tempo, Última Hora (sucursal Santos), Folha, Abril, O Globo, JB, Diários Associados e O Cruzeiro. Nos anos 1970, deixou o País por motivos políticos e viveu como exilado no Chile e na Alemanha, onde, entre outras atividades, foi correspondente do JB, redator publicitário, tradutor/intérprete e professor de Redação e Estilística Portuguesa na Universidade de Rostock (Alemanha). De volta ao Brasil, atuou como redator no Banco Itaú, editor do Caderno de Sábado do JT e diretor da Página Pronta e da revista Salada Paulista. Teve ainda uma nova experiência no Exterior, como editor-executivo do Jornal Tudo Bem, em Tóquio. Criou o site de literatura Penazul. Nos últimos anos, fazia traduções para diversas publicações (Estadão, Gazeta Mercantil, Época, BID, AmericaEconomia) e preparava o roteiro para cinema de sua peça teatral ‘O decreto secreto’. Ganhou o Esso como redator da Economia do JT nos anos 1980 (‘Diga não ao Leão’). Deixa a companheira Hilda de Alencar Gil, os filhos Rodrigo, Manuel Camilo e Paula, e os netos Bruna e Itaypu. Seu corpo foi enterrado no Cemitério Municipal de Anhumas (SP).

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Novidades do mercado

Várias mudanças movimentaram também algumas das redações brasileiras, como noticiou a edição impressa deste Jornalistas&Cia, que circula nesta quarta-feira para assinantes. Em São Paulo, um destaque é a continuação das mudanças da TV Cultura, onde Carlos Taquari vai para o Opinião Nacional, Aristeu Moreira assume a Coordenação de Pauta e João Batista Costa Aguiar, a Diretoria de Arte e Identidade Visual; Salete Lemos deixou a emissora e finaliza negociações com a TVJB para voltar a atuar na equipe de Boris Casoy. Ainda em São Paulo, a repórter especial Angélica Santa Cruz deixou o Estadão para dirigir uma nova publicação na Abril, e José Roberto Luchetti, o Jornalismo da Rede Mulher, para assumir a Diretoria de Novos Negócios da DOC Press.

No Rio, Arnaldo César e Eduardo Castro começaram como interlocutores das negociações para criar a TV Brasil, resultante da fusão entre a TVE e a Radiobrás, e Alex Barrionuevo é o novo correspondente no New York Times na capital carioca, sucedendo a Larry Rother, famoso pelo desentendimento com o presidente Lula.

Em Brasília, Policarpo Júnior substitui André Petry no comando da sucursal de Veja. E na Bahia, Nelson Rios é o novo editor do Diário Oficial do Estado.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

MEMÓRIA / ISMAR CARDONA
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Morre o jornalista Ismar Cardona Machado, 20/07/07

‘Depois de lutar contra um câncer de pulmão e passar quase dois meses internado por causa da doença, o jornalista Ismar Cardona Machado, 64, morreu na manhã desta sexta-feira, em Brasília. O corpo será velado na tarde de 20/07, na casa onde morava, na capital federal (SHIS QI 27, conjunto 12, casa 12, Lago Sul).

Cardona, gaúcho de Passo Fundo, era assessor especial do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) desde 2003. Nessa área de assessoria, também passou pelo Ministério da Saúde, entre 1997 a 1998. Entre as diversas funções que desempenhou ao longo da carreira, destacam-se as de coordenador nacional do Repórter Esso, editor de Economia de O Globo (RJ) e diretor de redação do Panorama Brasil. Era especializado em jornalismo econômico.

‘Ismar sempre foi um ótimo jornalista, era um parâmetro para todos nós. Também foi grande amigo e colaborador. Ele foi convidado para trabalhar conosco no Panorama porque era considerado um grande formador e líder de equipe’, destacou Yves Leon Winandy, secretário de Conteúdo do Panorama Brasil.

‘Quem teve a felicidade de conviver com o Ismar vai concordar que a melhor palavra para defini-lo é Mestre. É! Mestre do saber, do carinho, da vida. A gente se acostumou a chamá-lo assim, primeiro, pelas incontáveis lições de jornalismo que nos dava nas reuniões de pauta. O assunto era desconhecido? Você se sentia perdido? O mestre Ismar sempre sabia como nos guiar’, escreveu Ricardo Noblat e colaboradores em seu blog no Globo Online.

O enterro está marcado para sábado (21/07), às 11h, no Memorial do Carmo, no Rio de Janeiro.’

INTERNET
Bruno Rodrigues

Mulherzinhas na web, 19/07/07

‘E-mail é o reino dos covardes. Diz-se o que quer, à distância de um murro ou impropério. Qualquer lista de discussão também é assim, e a filosofia se repete em comentários de blogs. A novidade é que os internautas estão aprendendo a revidar.

Aliás, são elas, as internautas, que agora estão dando o troco e a lição quando necessário – traio aqui a minha classe, mas a mulher é muito mais articulada para rebater o que as agride; nós, o sexo ‘dominante’, ainda não entendemos que o usual ‘deixa disso’ não leva a lugar algum.

Semana passada minha esposa me chamou correndo para ver o quebra-pau que estava quebrando no campo dos comentários em um dos mais simpáticos e inteligentes blogs da web Brasil, o ‘Rainhas do Lar’. 

Para quem ainda não conhece, o blog é comandado por três meninas de talento: Faby Zanelati, Kátia Najara e Clau Tomasi, que publicam posts recheados de… receitas! O blog é de lamber os beiços em todos os sentidos – os textos são um primor; o tom, perfeito; as dicas, uau!

Uma receita parece ter desandado, contudo: a do bolo de laranja, delicadamente descrita em post do dia 10/07. Não pense que o resultado é um desgosto: minha esposa preparou o quitute e é inesquecível.

O que saiu do ponto foi o próprio blog, que com esta receita parece ter posto a cereja na falta de paciência – e de humor – de uma das leitoras. Veja só:

‘Encontrar esse blog me fez pensar no retrocesso a que ele se presta. Mulheres passaram anos lutando contra o preconceito que as prendia em fogões, pias e tanques e para que? Para que décadas depois, mulheres independentes e emancipadas pregassem, via internet, um retorno aos mesmos fogões, tanques e pias que as aprisionaram outrora. Como se moderno fosse hoje vestir um avental e bater um bolo para o marido, como se séculos de desigualdade tivessem sido esquecidos em uma travessa de bolinhos-de-chuva. Enfim, um grande deserviço (sic) presta um canal que deveria enaltecer todo o trabalho feito por grandes mulheres para nos colocar onde estamos hoje – em destaque no mundo e no mercado de trabalho, e não pilotando um fogão. Pensem nisso’.

Ah, menina, tivesse ficado quieta… O que veio a seguir foi uma série antológica de comentários – mais de cem – que vale a visita ao blog. Três deles são de rolar de rir (e fazer pensar) e confirmam, e muito, que a web nasceu democrática e deste panteão não merece sair tão cedo:

‘Gente, me belisca e fala pra mim que ela tá de sacanagem, faz favor? Deus é mais! Ainda tem mulher queimando soutien, meu pai! Pra provar o quê? Que atraso de vida (…). Fica longe dos meus Valisère, hein lôka?’

Outra…

‘ (…) Esse comentário me fez ter várias dúvidas (…), tipo: 1) Quem cozinha na casa dela (enquanto ela ‘só’ se destaca no mundo do trabalho)? 2) A mãe dela queimou soutien? (Tomara que não, quem sabe assim ela possa nos passar algumas dicas, truques e receitinhas!)’

E mais uma…

‘ (…) Não critique o que você não aprecia – assim você está indo contra o maior direito adquirido com tanta luta – o de ser feliz! (…). É com muito suor e lágrimas que nós mulheres estamos conseguindo nosso espaço no mercado de trabalho. Mas não é por isso que precisamos deixar de lado o prazer de cuidar de nossas casas, agradar nossos filhos e maridos, criar e testar receitinhas gostosas, curtindo aromas e sabores…’

Por isso gosto de mulher. Em todos os sentidos. Sites e blogs como ‘Rainhas do Lar’, ‘Bolsa de Mulher’ e ‘Banheiro Feminino’ dão graça e tutano à web nacional, sempre com charme e uma graça a mais. A mente feminina já enlaçou a internet há tempos, muito mais que nós, machos, com a cabeça eternamente voltada para o trabalho (ele, sempre), somos capazes de alcançar.

Há bons exemplos em outras bandas. Conhece a coluna ‘Cyberfamilias’, do ‘The New York Times’? A jornalista Michelle Slatalla dá a sua versão para o mundo.com que nos cerca. Uma das últimas colunas era uma análise do iPhone, recém-adquirido pela jornalista. No texto, Michelle descreve os primeiros dias do gadget, e há vários momentos tragicômicos por pura falta de traquejo em lidar com algo ao mesmo tempo simples e complexo. Qual homem teria coragem de se expor desta maneira?       

E você, acha que a mulher se coloca melhor na web?

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

ELEIÇÕES / FENAJ
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Chapa de Sérgio Murillo vence eleições da Fenaj, 20/07/07

‘Do total de 5077 jornalistas, a Chapa 1, ‘Orgulho de ser Fenaj’, encabeçada por Sérgio Murillo de Andrade, atual presidente da entidade, ganhou as eleições da Federação Nacional de Jornalistas com 3.614 votos. O prazo de três dias para recursos está aberto – até 14h de 26/07. O resultado foi divulgado no início da tarde de sexta-feira (20/07).

A Chapa 2, de Dorgil Marinho, ganhou 1239 votos. Foram eleitos para a Comissão Nacional de Ética Armando Rollemberg (2.794 votos), Washington Mello (2.526 votos), Carmem Lúcia Pereira (2.478 votos), Regina Deliberai (2.356 votos) e Rossini Barreira (2.347 votos). Os candidatos Arthur Poerner e Venício Lima receberam 1.254 e 1.368 votos, respectivamente.

Os votos dos Sindicatos dos Jornalistas da Bahia e do Estado do Rio de Janeiro foram desconsiderados porque não encaminharam os resultados mesmo depois da prorrogação dos prazos para envio.’

MEMÓRIA / ACM
Tiago Cordeiro

Morre senador, repórter e fonte ACM, 20/07/07

‘‘Há três tipos de repórteres: o que quer dinheiro, o que quer notícia e o que quer emprego. O correto é não dar dinheiro a quem quer notícia, notícia a quem quer emprego e emprego a quem quer dinheiro’. O senador Antônio Carlos Magalhães negou por muito tempo que fosse o criador da frase, mas depois de sua morte, nesta sexta-feira (20/07), o jornalista Ancelmo Gois informou que ACM lhe confirmou a autoria. O senador baiano morreu às 11h40, em São Paulo.

Ele foi repórter precocemente aos 16 anos, no jornal O Estado da Bahia, em 1945, época em que a questão do diploma ainda não dividia a classe. Posteriormente, abandonou a prática do jornalismo para se formar em medicina. Deixou a prática, mas não o jornalismo de lado. Eleito deputado estadual em 1954, ele se tornaria anos depois a melhor fonte de informação segundo os próprios jornalistas.

O mérito foi estipulado a partir do livro ‘Manual da Fonte – Como Lidar com Jornalistas’, escrito por Geraldo Sobreira.  ‘Ouvi da maioria dos repórteres e editores de política dos principais jornais e revistas brasileiros que Antônio Carlos Magalhães era uma das melhores ‘fontes’. Ele havia deixado o Ministério das Comunicações e era, mais uma vez, governador da Bahia’, descreve Sobreira. A entrevista com a fonte durou uma hora, preenchendo os dois lados da fita do gravador do repórter.

Fechamento

‘A sexta-feira é o dia do fechamento das revistas e das edições de fim de semana dos jornais. É o dia em que os repórteres e os editores mais telefonam para checar noticias e saber de novidades. Antes de fechar uma matéria da revista ou do jornal de fim de semana, eles ligam para três ou quatro fontes para checar as informações. Eles não se valem somente de uma fonte, falam com três ou quatro. Algumas fontes são procuradas mais nas sextas-feiras exatamente para isso, para checar informações. Isso também acontece na quarta e na quinta-feira’, afirmou ACM durante o depoimento.

O jornalista João Santana Filho descreve ACM como uma ‘fonte-editor’, não apenas repassava informações importantes como também sabia distinguir quais eram mais pertinentes para cada veículo. ‘Aprenda a escolher a notícia para a coluna A, para a coluna B, para a coluna C. A notícia que não deve ser de coluna, você dá para o repórter político. Saiba que aquela deve ser do JB, aquela do Estadão, aquela é no estilo da Folha, aquela, do Globo’, chegou a afirmar o senador. Apesar da experiência como fonte, o político foi denunciado por grampear ilegalmente o telefone do deputado Geddel Vieira Lima. Luiz Cláudio Cunha e Weiller Diniz, da IstoÉ, quebraram o off e denunciaram o senador para não compactuarem com o crime.  

Relações

Além de ser repórter e fonte, a relação de ACM com a mídia se estendeu ao Ministério das Comunicações. Embora sempre tenha negado, viveu com as acusações de que sua pasta distribuiu concessões de rádio e TV a políticos para garantir a extensão do mandato do então presidente José Sarney para cinco anos. Embora atribuísse a posse aos filhos, ACM controlava a TV Bahia, afiliada da TV Globo, e do jornal O Correio da Bahia, em nome de seu filho senador Antonio Carlos Peixoto Magalhães Junior.

Com mais de meio século de vida política, o senador morreu por falência múltipla de órgãos, causada pela insuficiência cardíaca, no Instituto de Coração. Aos 79 anos, o senador foi hospitalizado diversas vezes em 2007. No ano passado conheceu a terceira derrota de sua carreira pública ao ver seu grupo político ser derrotado nas eleições para o governo da Bahia.’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Geografia do beleléu, 19/07/07

‘recusar o crachá com seu nome,

a cadeira reservada, o discurso,

o traje de gala no convite

não têm nenhuma glória ou graça.

(Astier Basílio in Solenidade)

Geografia do beleléu

A propósito do reaparecimento do jornalista Enrique Galeano, sumido em 4 de fevereiro de 2006, escreveu o site Repórteres sem Fronteiras, na versão em língua inglesa:

‘He is now in Uruguay, where he has requested political asylum, and hopes that his wife and four children, who had fled from Concepción to the Uruguayan capital of Asunción, will be able to join him there.’

(Aida bem que a versão espanhola do site não mexeu na geografia do Mercosul.)

Quem flagrou esta Assunção no papel de capital do Uruguai foi o considerado Marcelo Tavela, aqui do C-se, que ficou desapontado:

‘Essa é daquelas decepções que doem, já que a organização faz um trabalho tão bacana…’.

Veja se a besteira ainda perdura, no endereço http://www.rsf.org/article.php3?id_article=22948

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Ratos no atacado

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no DF, despacha das vizinhanças do Palácio do Planalto, onde ainda ecoam as vaias do Maracanã:

O Correio Braziliense publica uma notícia  sobre a invasão de 2 bilhões de ratos em vinte distritos da província de Hunan, na China, fugidos de uma enchente do rio Yangtzé. Como é que conseguiram contar todos esses ratos?

Janistraquis acha, ó Roldão, que, habituados a contar gente como se fosse formiga, os chineses tiram de letra qualquer assembléia de ratos e ratazanas.

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Fernando de Noronha

O considerado Luiz Carlos Ladeia, jornalista em São Paulo, despacha do seu QG no bairro da Penha, em São Paulo:

O arquipélago de Fernando de Noronha tem uma agência bancária, uma escola, um hospital, um mercado e um (só um) posto de gasolina.

Não discuta o preço do combustível, afinal o transporte até lá é mais caro. No entanto, veja o capricho: apesar da exclusividade do posto, eles se preocupam com a clientela e agradecem pela  preferência.

Pois é, Ladeia, a educação e a gentileza são ilhas distantes deste continente de estupidez em que vivemos. Viva Fernando de Noronha!!!

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Era o que faltava!!!

Perplexo como o telespectador da Globo, que esperava notícias da tragédia de Congonhas e deu de cara com as piadas do Casseta & Planeta, Janistraquis leu no utilíssimo site Consultor Jurídico:

Provas do além — Justiça aceita cartas psicografadas para absolver réus

Iara Marques Barcelos deve muito da sua absolvição da acusação de assassinato à própria vítima, o tabelião Ercy da Silva Cardoso. Ele foi morto dentro de casa, na cidade gaúcha de Viamão, com dois tiros na cabeça, em julho de 2003. Iara foi apontada como mandante do crime.

Em 2006, o próprio Ercy depôs a favor da amante. Sim, ele estava morto. Por isso, teve de contar com a ajuda do médium Jorge José Santa Maria para poder falar o que sabia. O cenário descrito pode até parecer surreal para quem não acredita no assunto, mas a Justiça brasileira tem levado em conta provas como essas para absolver réus.

‘Era só o que faltava, considerado! Era só o que faltaaaaaaava!!!’, emputeceu-se meu secretário, que ao depois encontrou serenidade para perguntar onde mais, neste mundo, a Justiça se vale de ‘documentos’ do outro mundo.

Semelhante absurdo só poderia ocorrer neste país de m…, onde abundam testemunhas oculares da mula-sem-cabeça e o boto tucuxi ainda engravida mulheres.  

(Leia no Blogstraquis a íntegra da excelente matéria)

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Gostosa demais!

Deu no Meio&Mensagem Online:

‘A vice é mais gostosa’, criação da Africa para sandálias Ipanema

Filme criado para Grendene conta com participação da Miss Brasil Natália Guimarães, vice-colocada no concurso Miss Universo 2007.

Janistraquis meteu a colher:

‘Considerado, até Stevie Wonder viu que Natália deu de 10 a 0 naquela japonesa, tipo de beleza encontrado em 9 de 10 ruas do bairro da Liberdade. Mas o que diabo quer dizer vice-colocada?’

É boa pergunta.

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Futebol zero

O jornalista Daniel Japiassu, de São Paulo, faz a pergunta que ele mesmo responde:

‘O que o teatrólogo Nélson Rodrigues tem a ver com esse Nélson Rodrigues técnico da falecida Seleção Sub-20? É que ambos não entendem de futebol.’

É verdade. Armando Nogueira, amigo daqueloutro e seu companheiro nas tardes do Maracanã, conta que Nélson costumava lhe perguntar, no decorrer das partidas:

‘E aí, Armando, estamos gostando do jogo?’

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Mais veneno

Leia no Blogstraquis a íntegra de Solenidade, cuja primeira estrofe encima esta coluna; é poema do pernambucano/paraibano Astier Basílio, extraído do seu livro ainda inédito e intitulado Eu sou mais veneno que paisagem.

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Pensata

O considerado Ernesto Frankel, empresário carioca, enviou fescenino croquis da nação:

O Brasil é dividido em duas bandas, com um buraco no meio: Brasília.

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Luís de quê?

O colunista estranhou o nome de um craque palmeirense: Luís. Assim solitário, sem o encosto dum sobrenome, como Luís Pereira ou Luís Fabiano, e nem mesmo um apelido, o mais óbvio, Lula. Como sempre, Janistraquis apresentou as razões:

‘O considerado já imaginou um jornal sair com a manchete Lula enterra o Palmeiras?  Dizem que o ex-torneiro-mecânico é torcedor do Corinthians, o que piora tudo…’

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Trabalho insano

O considerado Armando Queiroz de Lima, engenheiro em São Paulo, envia esta profunda reflexão, que o colunista, digamos, amenizou com a concordância do remetente:

Desratizar a máquina administrativa, eis um trabalho deverasmente insano que deverá supliciar o próximo presidente da República, se ele não for herdeiro de Lula, é claro.

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Pronúncia certa

A considerada Leonice França Mendes, advogada em São Paulo, escreve para denunciar uma besteira que escutou na novela Paraíso Tropical:

Não sei se vocês acompanham a novela. Camila Pitanga faz o papel de uma prostituta do calçadão de Copacabana que conquista Olavo, executivo poderoso (Wagner Moura). A gostosona é bronca pra dedéu, como dizem os cariocas, e o amante apaixonado resolve consertar a linguagem dela.

Até aí tudo bem, já vimos isso em My Fair Lady; o problema é que Olavo considerou erro grave a moça pronunciar a palavra ‘catigoria’. Ora, desde quando pronúncia é erro?!?! Pelo Brasil afora fala-se não apenas catigoria, mas também catiguria; no Rio, tenho amigos que pronunciam jugar, em vez de jogar.  

É mesmo, doutora Leonice; data venia, a novela exagerou.

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Hora e vez

Janistraquis leu o excelente artigo do considerado Mílton Coelho da Graça no C-se (aqui) e não se conteve:

‘Se o futuro da televisão está mesmo no rádio, como garante nosso velho e considerado amigo Luís Edgar de Andrade, então a tal da TV Pública já tem sua referência; é o programa A Voz do Brasil, cuja importância jornalística é, como não se ignora, indiscutível.’

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Nota dez

O considerado Clóvis Rossi escreveu na Folha de S. Paulo:

A reação ao episódio das vaias demonstra que cresce a intolerância à crítica no Brasil. Não, não me refiro às reações à vaia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não surpreende que os hidrófobos do lulo-petismo tenham babado e mordido. É tudo o que sabem fazer.

(…) as vaias eram perfeitamente justificadas. Não havia nenhum complô da turma do César Maia para derrubar Dunga, o Felipão está feliz da vida em Portugal, o Parreira está treinando a África do Sul, o Feola já morreu.

(Leia no Blogstraquis a íntegra do excelente artigo.)

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Errei, sim!

‘DOENÇA MENTAL – Intrigante título da Folha de S. Paulo: Psiquiatra combate coronelismo com melões. Curioso, Janistraquis, que ignorava fosse o coronelismo doença mental, embrenhou-se na leitura. Ficou claro que o médico virou fazendeiro e está plantando melões; no meio da matéria, diz o repórter que o, com perdão da palavra, ex-esculápio reclama da ‘mentalidade coronelista do Nordeste’. Meu secretário também reclamou: ‘Considerado, isso não se faz com o leitor…’. Tem razão, é maldade.’ (março de 1992)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.’

COMUNIQUE-SE
Cassio Politi

Fim da Bizz: havia fontes dispostas a falar, 19/07/07

‘A revista Bizz deixou de circular regularmente. Foi o que, em suma, informou o Comunique-se em 06/07. A reportagem cita uma nota oficial da editora Abril. Segundo a redação, duas fontes na editora foram ouvidas. Mas não foram suficientes.

Bizz (I)

Eis um trecho da reportagem: ‘nos bastidores a saída de alguns jornalistas não é uma hipótese descartada’. Nos bastidores há mais do que isso:

* Um profissional já saiu, segundo uma fonte de fácil acesso, que estava disposta a falar. O editor-chefe, Ricardo Alexandre, foi demitido. Antes de se despedir, assinou a reportagem da última capa, sobre a banda Los Hermanos. Para situar: Ricardo é autor do livro ‘Dias de Luta: o Rock e o Brasil dos Anos 80’, lançado em 2002.

* Luciano Marsiglia e Paulo Terron são os outros dois jornalistas da Abril que atuavam fixos na Bizz.

* A redação contava, ainda, com o trabalho de cerca de 15 freelancers, que recebiam média de R$ 150,00 a R$ 250,00 por matéria.

* Até onde se sabe, não houve atraso na remuneração de funcionários nem de freelancers. A Abril pagou em dia até o fim da Bizz.

* E eis um comentário freqüente nos bastidores: o de que a Abril não se empenhou em divulgar a volta da Bizz às bancas, em 2005. Não houve chamadas em rádio, cartazes em bancas nem outdoors (que, há dois anos, ainda eram permitidos em São Paulo).

São informações que o Comunique-se deveria obter facilmente com suas fontes.

Um jornalista fez recentemente uma observação com a qual concordo integralmente: ‘um veículo precisa se posicionar. Ou ele vai fazer reportagem ou não vai. Se optar por fazer, que vá a fundo em suas histórias’. Que vale mais: uma meia reportagem ou um meio gol?

Bizz (II)

Primeira edição da Rolling Stone no Brasil trouxe Gisele Bündchen na capa

O Portal informa, ainda, que a revista, publicada desde 1985, ‘resistiu à passagem de três décadas e à virada do século’. Um usuário corrigiu: saiu de circulação ‘pela segunda vez’. A primeira pausa foi entre 2001 e 2005. A matéria, portanto, traz uma informação tão enfeitada quanto errada.

Uma vez que a versão brasileira da revista Rolling Stone é citada como o ‘golpe de misericórdia’, seria fundamental informar quando a nova publicação chegou ao mercado. Foi em outubro de 2006. Não houve pesquisa? Segundo a redação, ‘houve pesquisa, mas houve erro ao realizar o levantamento’.

Geração gabinete

Ando perguntando a colegas jornalistas se eles notam em suas redações o surgimento da ‘geração gabinete’. Refiro-me àqueles jornalistas feras em internet (o que é uma qualidade), mas sem avidez pela boa e velha reportagem de rua. Sim, confirmam todos eles, o time dos gabineteiros está aumentando. Aqui vai um petardo que mira à redação do Comunique-se, mas pelo caminho pode acertar algumas outras: Orkut, MSN Messenger, Google e outras funcionalidades são muito bem-vindas ao jornalismo. Mas não substituem o ‘olho no olho’.

Não há dúvida de que, com redações enxutas, falta tempo para quase tudo. Mas à ‘geração gabinete’ também falta esforço, falta cavar fontes, falta fuçar, falta vontade, falta jornalismo. Repórter que dispensa a rua deve repensar na sua escolha. Antes que o repórter, para existir, dependa apenas de criar uma conta no MSN Messenger.

Concorda mas desmente

O Comunique-se publicou essa matéria na terça-feira (10/07): ‘Globo desmente possibilidade de processar Pânico na TV’. A matéria informa que a Globo desmentiu uma informação da coluna Zapping. Acontece que a própria coluna, publicada no jornal Agora e na Folha Online, já informa não existir possibilidade de a Globo processar a Rede TV!.

Portanto, ninguém desmentiu ninguém. Pelo contrário: a Globo confirmou o que informa a coluna, assinada pela jornalista Fabíola Reipert.

Vai ou cai?

Alguns leitores discordam da veiculação da matéria envolvendo Pânico na TV e Globo. ‘Alguém pode me responder cadê o conteúdo voltado para Jornalistas?’, protesta um usuário. Democraticamente, discordo do comentário. Compartilho da opinião de um outro leitor: ‘Brincar com os artistas é uma coisa; agora, reportagem séria é o fim, realmente atrapalha os profissionais’.

Padrão (I)

As datas no Comunique-se sempre foram redigidas no padrão ‘DD/MM’. Exemplo: 07/09, caso do Dia da Independência do Brasil. Mas agora vejo que os textos trazem ‘9/07’, ‘6/07’. Qual é a lógica? Um dígito para o dia e dois para o mês? Engenhosidade em excesso.

Padrão (II)

Apareceu esse termo: ‘hotsite especial’. Aí entram duas questões:

* É ‘hotsite’ ou ‘hot site’? Sempre se usou a segunda forma. A editora, Miriam Abreu, contra-argumenta: ‘Hotsite se escreve junto. Confirmei isso com o nosso colunista Bruno Rodrigues’. O site Word Reference não reconhece a palavra ‘hotsite’. Mas ponderemos: talvez ‘hotsite’ seja um caso semelhante ao do termo ‘on-line’. Pelo mesmo site, o certo é assim mesmo, com hífen. Só que o Wikipedia define como mais usual o termo ‘online’. Enfim, é questão de o site padronizar o que interpreta como correto.

 * Sobre ‘hotsite especial’: ora, todo hot site, por definição, é especial. Houve redundância. PS: eu ainda prefiro escrever ‘hot site’ assim, com duas palavras.

 Banco de empregos

Um leitor reclama há tempos do Banco de Empregos. A solução nunca veio. Os exemplos apontados semana passada mostram que os problemas em questão se concentram em anúncios que:

* Previamente determinam o sexo do candidato; ou

* oferecem vagas gratuitas; ou

* oferecem vagas que nada têm a ver com Jornalismo.

A recomendação que passo à redação, e trarei resposta semana que vem, é informar na página de entrada do Banco de Empregos a legislação a respeito de anúncio de vagas, conforme sugere uma montagem feita pelo próprio leitor. Além disso, deve-se criar um sistema em que os usuários possam denunciar vagas que julguem estar em desacordo com as regras do Portal ou com a Lei, algo semelhante ao botão ‘anti-comentários ofensivos’. Se aceitar a denúncia, a redação tira o anúncio do ar. Esta é a proposta inicial. Sugestões são sempre bem-vindas.

 Diploma

Sobre o ‘Papo na Redação’ com Boris Casoy, que teve mediação do presidente do Comunique-se, um usuário sugere que o Portal disponibilize a gravação, já que na coluna anterior deste ombudsman houve polêmica.

O link sempre esteve disponível no rodapé da matéria sobre o Papo. Eis uma frase dita por Rodrigo Azevedo logo na abertura: ‘Aqui, nesse Papo, o entrevistador é você [internauta]. Eu sou um mero moderador’.

Os usuários questionaram também a legalidade da participação de Romário como comentarista da Globo. Será que Romário tem diploma de jornalista?

Fiquei preocupado

Ih! Será que para ser ombudsman precisa ser jornalista?

Fim da ranzinzice

Duas matérias da semana passada se sobressaem. O posicionamento da estudante de Jornalismo, que eleita presidente da UNE diz ser contra a exigência do diploma para o exercício da profissão, chamou a atenção. Não por ser contra a obrigatoriedade, mas pelo fato de se posicionar diante de um tema que gera tanta polêmica. Se ela fosse favorável, a matéria seria interessante do mesmo jeito. Destaco também a reportagem que verificou as instalações para a imprensa antes do início dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Foi muito oportuna.’

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

O Globo

Veja

Terra Magazine

Comunique-se

Vi o Mundo

Último Segundo