Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

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PROFISSÃO PERIGO
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Equipe do jornal O Dia é seqüestrada e torturada em favela, 31/5

‘Uma repórter, um fotógrafo e um motorista do jornal O Dia foram seqüestrados e torturados por um grupo de homens que pertencem a uma milícia que domina a Favela do Batan, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Eles passaram 14 dias no local para mostrar como é a vida numa região dominada por milícia, que controla tudo, como a venda de gás de cozinha e cobra para garantir a segurança dos moradores. O crime ocorreu no dia 14/05 e o fato só se tornou público no sábado (31/05).

Segundo conta o diário, o fotógrafo e o motorista foram convidados para tomar uma cerveja no Largo do Chuveirão, onde há a maior concentração de pessoas. A repórter preferiu ficar na casa alugada pela equipe para não desobedecer a uma velada ordem – as mulheres que freqüentam estabelecimentos à noite são consideradas ‘desfrutadoras’.

O fotógrafo e o motorista foram rendidos por 10 homens armados que usavam toucas ninja para cobrir o rosto. Eles algemaram os dois e tentaram incentivar cerca de 30 moradores da favela a linchar a equipe de reportagem. Como não foram atendidos, seguiram num Pólo vermelho, de placa KPB 4592, usado para o ‘policiamento’ da milícia local, para a casa onde estava a repórter, na Rua Alfredo Henrique.

Eram 21h quando chegaram na casa. Lá, os homens renderam a jornalista com uma arma apontada para sua cabeça. Deram voz de prisão – a maioria deles é policial – e disseram: ‘Você é do jornal O Dia e está presa por falsidade ideológica’.

A repórter chegou a ter a cabeça enfiada em uma sacola plástica, e também sofreu com roleta russa praticada por um dos milicianos. Enquanto alguns torturavam a mulher, outros procuravam material de reportagem da equipe. Não encontraram nada, mas levaram pertences e dinheiro.

Levaram-na até o carro onde estavam os dois colegas – junto deles estava um morador da favela. Os quatro foram levados para um cativeiro.

Por mais de sete horas, eles foram torturados. Levaram chutes, socos, foram ameaçados.

Embora tivessem dito que os torturariam até a morte, por volta das 4h eles anunciaram que libertariam os quatro. A equipe foi solta na Avenida Brasil.

O jornal informa que a cúpula da Segurança do Estado do Rio foi notificada e que decidiu esperar duas semanas para tornar a história pública para não prejudicar as investigações.

O site do jornal conta os detalhes do caso. A história foi publicada em um caderno especial na edição de domingo (01/06), que pode ser lido no Dia Online.

As informações são do próprio jornal.’

Milícias – Política do Terror: Nota oficial de O Dia, 31/5

‘O diretor de redação de O Dia, Alexandre Freeland, se manifestou, em nota divulgada pelo jornal, sobre a tortura e ameaças que sofreram três profissionais do diário há 14 dias. Nela, ele informa que a repórter, o fotógrafo e o motorista estão bem e a salvo, recebendo todo o apoio necessário da empresa.

Leia o comunicado:

‘Uma repórter, um fotógrafo e um motorista do Jornal O DIA foram seqüestrados e torturados pela milícia da Favela do Batan, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, na noite de 14 de maio. A equipe fazia uma reportagem sobre a vida de moradores em regiões controladas por milicianos, conforme relata em detalhes matéria na edição deste domingo, 1º de junho, de O DIA.

Os três profissionais estão a salvo, em bom estado de saúde, em local seguro, e vêm recebendo irrestrito apoio da empresa, incluindo acompanhamento psicológico.

O fato, ocorrido há duas semanas, só foi divulgado agora para garantir a integridade física dos envolvidos.

O governador Sérgio Cabral e as autoridades policiais do Estado do Rio foram informados e estão acompanhando atentamente o caso. A investigação está a cargo do delegado Cláudio Ferraz, titular da Draco, que tem tido uma conduta exemplar.

O DIA reitera sua confiança no trabalho da polícia e tem a convicção de que os bandidos, que usam a farda para cometer crimes, serão presos e punidos na forma da lei.

Alexandre Freeland

Diretor de Redação’’

LUTO
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Senado terá sessão em memória de Artur da Távola, 30/5

‘O Senado Federal promoverá, em 19/06, uma sessão especial em memória do jornalista Artur da Távola, morto há três semanas. Paulo Alberto Monteiro de Barros, seu nome verdadeiro, foi senador pelo PSDB entre 1996 e 2003, representando o Rio de Janeiro.

Após o fim do mandato, seguiu ligado à Casa apresentando o programa Quem tem medo de música clássica, na TV Senado.’

CAMPANHA
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TRE-RJ possibilita campanhas em blogs e sites de relacionamento, 30/5

‘O juiz Luiz Márcio Pereira, coordenador da fiscalização da propaganda do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), assinou na quinta-feira (29/05) portaria ampliando as possibilidades de campanhas políticas na internet para blogs e sites de relacionamento. A Portaria 02/2008 alterou a definição de ‘página de internet’ para o Tribunal.

Antes, a campanha só era permitida em páginas institucionais dos candidatos. A nova portaria permite a propaganda entre 06/06 e antevéspera da eleição. Seguem vetadas campanhas em links patrocinados de sites de buscas e o envio de spams, incluindo torpedos em celular e telemarketing.’

Marcelo Tavela

Justiça Eleitoral determina retirada de banner de Gabeira do blog de Pedro Doria, 30/5

‘O banner ‘Gabeira para o Rio’, presente no blog de Pedro Doria desde janeiro, teve que ser retirado do ar na quinta-feira (29/05) a pedido do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ). A pré-candidatura do deputado à prefeitura do Rio de Janeiro poderia ser cassada caso a imagem permanecesse postada na página.

Doria dedicou dois posts ao caso, um comunicando a decisão e outro debatendo com os leitores suas consequências. E substituiu a imagem por uma cartela escrita ‘censurado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro’.

‘A Justiça Eleitoral, na verdade, está dizendo que tudo que tenho feito até agora é ilegal. Como eu não posso me manifestar? A lei eleitoral determina limites que não podem atingir a liberdade de expressão. Não sou eu quem vai julgar isto, mas pode ser inconstitucional’, argumenta o jornalista e blogueiro.

Doria sugeriu a campanha no dia 18/01, criando o banner que também é reproduzido em outros blogs e no Orkut. Gabeira chegou a escrever ao jornalista negando que seria candidato, mas acabou capitulando e lançando sua pré-candidatura – fato que teve alguma influência das manifestações na rede.

Coincidência

No mesmo dia em que Doria teve que retirar a imagem do blog, o TRE-RJ determinou novas regras para campanhas na web, permitindo publicidade eleitoral em blogs e sites de relacionamento. A partir do dia 06/06, a página de Doria poderá exibir o banner novamente.

‘Em relação à portaria anterior, é uma vitória. A portaria não fala em mecanismo como o Twitter ou o YouTube. Uma da coisas que mais encarece blogs são os vídeos, que ocupam muita banda. É uma maneira de democratizar a campanha. E a Justiça está percebendo que a internet é mais complexa do que ela percebia’ diz.

‘Se a gente grita na blogosfera, a Justiça responde. Faz sentido a repetição. E tem impacto’, completa.’

INTERNET
Bruno Rodrigues

Um livro pioneiro, 26/5

‘Esta semana chega às livrarias uma obra pioneira na área de Comunicação no Brasil, ‘Internet – O Encontro de 2 Mundos’, da editora Brasport. É a primeira grande coletânea de textos que abordam em profundidade a web e a mídia digital, elaborados por gente de entende do riscado.

O objetivo de ‘Internet – O Encontro de 2 Mundos’ é reunir não apenas textos, mas conselhos, desafios e reflexões de 44 profissionais ligados à Comunicação Digital no país. O leque de assuntos inclui de tecnologia a direito, de publicidade a comércio, de gestão a empreendedorismo, de blogs a webwriting, de usabilidade à carreira.

Segundo o jornalista Tiago Baeta, co-autor da obra com Nathalia Torezani, o trabalho conseguiu ‘unir profissionais de gigantes de software, docentes, instituições, empresários, jornalistas, dentre outros, com diferentes pontos de vista, em uma única obra’.

O colunista que vos escreve contribuiu com um texto inédito, um dos mais árduos de criar em toda a minha carreira, mas um dos que considero mais útil e pertinente. Reproduzo, aqui – com a devida autorização dos autores -, um trecho.

— ‘O que aprendi com a Encyclopaedia Galactica’ —

Gostemos ou não de ficção científica, a saga ‘Fundação’, de Isaac Asimov, nos deixa lições importantes, das que não esquecemos jamais.

Para quem ainda não leu ‘Fundação’, vale o resumo que transcrevo abaixo* e que, por si só, explica muito sobre alguns alertas que farei a seguir.

Em um futuro distante, a glória do Império Galático, que já dura doze mil anos, parece eterna, mas Hari Seldon, um jovem matemático, sabe que isso não é verdade. Seldon dedica-se à ‘psico-história’, ciência que une psicologia, história e matemática, e é capaz de prever eventos relacionados a uma imensa quantidade de seres humanos.

Através de seus estudos, Seldon prevê que o Império está entrando em decadência e que deixará de existir em 300 anos, fazendo com que a galáxia mergulhe num período de 3.000 anos de barbárie.

Ciente de sua responsabilidade, ele realiza o grande projeto de constituir uma ‘fundação’ para editar a ‘Encyclopaedia Galactica’, na qual seria reunido todo o conhecimento do Império, passado à posteridade, permitindo à futura civilização retornar ao estado atual em apenas mil anos.

Contudo, Seldon e seu grupo de cientistas encontram resistência e, juntamente com suas famílias, são exilados em um pequeno planeta na periferia da galáxia, sem grandes recursos naturais ou qualquer vestígio de civilização, onde devem desenvolver o projeto sem qualquer ajuda externa.

Contudo, com o passar dos anos, surge algo não previsto pela psico-história de Seldon: um perigoso ser chamado ‘O Mulo’, capaz de dominar mentes, e que é o contraposto ao poderio tecnológico do Império – o que nos leva a pensar que mesmo os melhores planos estão sujeitos a desvios inesperados, e aqueles que não se adaptam à realidade correm grandes riscos.

Como diz o primeiro volume de ‘Fundação’, ‘tecnologia pode ser muito boa e poderosa, mas não é tudo na vida’. A História está cheia de exemplos de como grandes poderes sofrem derrotas por parte de grupos menos equipados, mas bem organizados, e que lutam pela própria sobrevivência.

No ‘Mulo’, vemos Hitler, Bin Laden, tantos outros; no contra-ataque, sempre haverá uma Résistance ou, pesar dos pesares, a invasão de um Afeganistão. Contudo, no centro estarão sempre Mente versus Tecnologia, Megalomania versus Retorno às origens.

Daí, tiro uma dúvida e uma provocação: podemos confiar tanto na internet? Estamos colocando na Rede tudo o que produzimos durante milênios como forma de armazenamento, concentração do saber e facilidade de acesso ou a aceitamos como um real ciberespaço, como ele estivesse ali sempre, como nossa própria atmosfera?

Se nem nela confiamos mais, e há décadas lutamos com fervor para perpetuar o ar que respiramos, o que dizer do que pensamos, produzimos e registramos?

Há ingenuidade em nossa atitude, sim. É preciso que tentemos pressentir, tal qual Hari Seldon, de onde virá o perigo, por mais science fiction que pareça.

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O restante do texto e mais outros 55 – alguns autores contribuíram com mais de um artigo – você encontra em ‘Internet – O Encontro de 2 Mundos’. Haverá um lançamento em São Paulo, na noite da próxima quarta-feira, dia 04/06, na FNAC da Av. Paulista (infelizmente, não estarei neste), e outro no Rio (estarei lá!), em data e local a confirmar.

Não percam!

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A próxima edição de meu curso ‘Webwriting & Arquitetura da Informação’ terá início na semana que vem, dia 03/06, no Rio de Janeiro.

Para quem deseja ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição da informação na mídia digital, é uma boa dica!

As inscrições podem ser feitas pelo e-mail extensao@facha.edu.br e outras informações podem ser obtidas pelo telefone 0xx 21 2102-3200 (ramal 4).

Até lá!

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

ÉTICA
Milton Coelho da Graça

Estamos bem na Rede em matéria de ética?, 30/5

‘Para On Journalism Review, revista online da Annenberg School of Journalism, Califórnia do Sul, EUA, a ética do jornalismo online não é diferente das normas estabelecidas para o jornalismo em geral. Mas destaca alguns pontos essenciais para o trabalho na Rede. Esta não é uma tradução literal, mas um resumo suficiente para permitir que cada leitor faça sua avaliação de como andam nossos sites e blogs em termos de ética. O texto original está no site www.ojr.org/ojr/wiki/ethics.

Nada de plágio

Não roube trabalho dos outros. Se você quer se referir a trabalho alheio explicite isso claramente (como estou fazendo neste artigo). E isso vale para texto, fotos, gráficos etc.

Nada esconda, conte tudo

Diga a seus leitores como você obteve a informação e por que resolveu também publicá-la (neste caso, é óbvio, não?). Não esconda para quem você trabalha ou de onde vem o dinheiro que sustenta seu site (os anúncios do Comunique-se explicam tudo).

Nada de grana nem presentes

Tem cheiro de ‘arranjo’ aceitar dinheiro, pagamentos ou honrarias de pessoas ou grupos sobre os quais você escreve. Diga um discreto ‘não’ quando alguém aparecer com essas tentações nem correte anúncios ou patrocínios de empresas que anunciem nos veículos em que você escreve.

Algumas empresas de comunicação permitem que seus redatores aceitem ingressos grátis para peças, filmes etc. sobre os quais irão escrever. Mas a maioria delas não aceita ofertas de viagens e hospedagem gratuitas. Muitas editoras e gravadoras enviam e cedem livros e DVDs, que devem ser devolvidos depois das críticas e análises serem publicadas. Quando o valor for pequeno, livros e outros itens de menor valor devem ser doados a escolas ou instituições de caridade.

Verifique, verifique, antes de publicar

Só porque alguém disse alguma coisa não significa que se trate de um fato, uma verdade. Sempre verifique com cuidado qualquer informação recebida. Corra atrás dos fatos, não apenas opiniões. it. Se você está escrevendo sobre alguém, peça-lhe, antes de publicar, um comentário, por telefone ou e-mail. Se essa pessoa tem um blog, faça um link. Isto a avisará de que você escreveu algo sobre ela. E os leitores podem clicar e saber os dois lados da matéria.

Se o texto for satírico ou brincadeirinha, deixe isso claro para os leitores. Tapear leitores não ajuda a desenvolver a credibilidade e a lealdade que jornalistas esperam merecer deles.

Seja honesto

Resumindo, seja honesto e transparente. Responda todas as dúvidas antes que seus leitores as tenham. E acima de tudo: não use o poder da imprensa para obter ganhos pessoais ou simplesmente encher o saco alheio.

O último comentário ao artigo é de janeiro de 2007, assinado por Robert Niles.

(*) Milton Coelho da Graça, 77, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se’

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Mídia mete os pés pelas mãos, 29/5

‘Meu peito já foi mais

desabrido

Não tenho lágrima alguma agora

(Léo Bueno in A partida)

Mídia mete os pés pelas mãos

O considerado Álvaro Larangeira, jornalista gaúcho, doutor em comunicação social pela PUC do Rio Grande do Sul, enviou em fevereiro esta nota que o relapso Janistraquis localizou somente agora:

Veja este título publicado pela BBC Brasil e adotado pelo Estadão:

Pais criticam mídia após 17º suicídio de jovem britânica.

Corpo de Jenna Parry, 16, foi descoberto em um bosque perto da cidade de Bridgend.

Larangeira foi obrigado a reler o texto para verificar que não se tratava de uma jovem muitas vezes morta e ainda empenhada em se matar mais uma vez, num rito medonho, como o infausto título dava a entender, pois estava escrito logo abaixo:

O suicídio de mais uma adolescente na cidade de Bridgend, no País de Gales, levou pais das vítimas a criticar a atuação da mídia britânica nos episódios, que têm rendido manchetes e especulações de um culto suicida organizado pela internet.

Janistraquis acha que os pais têm razão em criticar a mídia, sempre disposta, lá como aqui, a meter os pés pelas mãos.

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Besteiras ortográficas

Janistraquis, que tenta se acostumar à lingüiça sem o trema e promete despachar alguns metros daquela bem grossa para quem teve a idéia do tal ‘acordo ortográfico’, pois Janistraquis é contrário ao que chama de ‘baracafuzada do idioma’:

‘Considerado, o tal ‘acordo’ serve apenas para facilitar a vida de quem nunca estudou português e não tem idéia do que seja acentuação, é claro. Daqui a pouco os ‘acordistas’ se reunirão para também banir a crase, esta que nunca fez mal a ninguém e não foi criada para humilhar quem quer que seja. Em futuro próximo, vão acabar com a linguagem escrita e então voltaremos às cavernas.’

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Sabedoria virtual

Frases que desfilam na irreverente passarela da internet:

Se, com minha idade, eu precisasse de alguém, chamaria logo uma enfermeira;

Cabelo ruim é igual a bandido: ou tá preso ou tá armado.

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Macunaíma

Mano Caetano em entrevista à Folha de S. Paulo:

‘Brasileiro adora dizer que o Brasil não presta.’

Janistraquis, observador da cena do crime desde os anos 40, pesquisador compulsivo da flamengaria tupiniquim, desfaz o emaranhado caetanista:

‘Não é o Brasil que não presta; é o brasileiro…’

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Boa lição

Este provérbio inglês percorre a internet e Janistraquis está convencido de que é possível adaptá-lo à política e ao futebol brasileiros:

‘Não caia antes de ser empurrado’

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Programa de bicha

O considerado Nei Duclós enviou de seu refúgio em Santa Catarina esta notícia espalhada pela France Presse e cujo assunto Janistraquis avaliou como perfeito para o pessoal comemorar esses dias de pós-parada gay:

Um homem morreu nos Estados Unidos depois de ter relações sexuais com um cavalo em um sítio que funcionava como um ‘prostíbulo de animais’, em Enumclaw, 60 km a sudeste de Seattle (Estado de Washington), de acordo com informações divulgadas pela polícia nesta segunda-feira.

A vítima, um homem de 40 anos, sofreu graves lesões internas e seu corpo foi deixado por desconhecidos em um hospital de Seattle, no dia 2 de julho, pouco depois do ato.

‘Do médico legista ao comissário, passando pelos investigadores, ninguém jamais viu algo remotamente parecido com isto’, disse à France Presse Eric Sortland, chefe da polícia de Enumclaw. ‘Seu cólon rompeu, como os órgãos inferiores da mesma região, e a hemorragia o matou’, completou.

As investigações revelaram que o sítio era especializado em zoofilia e oferecia a seus clientes cavalos, pôneis, cabras, ovelhas e até cães. Tudo era anunciado pela Internet.

A polícia apreendeu fitas de vídeo com centenas de horas de atos sexuais entre homens e animais.

O código penal do Estado de Washington não proíbe a zoofilia.

O poeta comentou: ‘A última frase não é primorosa? Barbaridade!!!’.

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Filosofia da derrota

Ao final do jogo que eliminou o Vasco da Copa do Brasil, depois daquele dramático 2 a 0 no tempo regulamentar, Janistraquis pediu licença para filosofar só um pouquinho:

‘Pois é, considerado, veja como é a vida! O craque Edmundo errou o pênalti contra o Sport, vários cabeças-de-bagre acertaram suas cobranças e o Vasco perdeu de 5 a 4. É como diz, mais ou menos, aquela frase de Rui Barbosa: de tanto ver triunfar as nulidades… de tanto ver crescer a injustiça, o torcedor chega a desanimar-se da virtude.’

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Jefferson Péres

Já faz uma semana que o senador morreu e até agora o desanimado Janistraquis não pôde contabilizar inteiramente as perdas morais da nação:

‘O pior de tudo, considerado, é que não existem políticos decentes no horizonte próximo e, do jeito como anda a coisa, ainda vamos sentir saudades até de Jáder Barbalho e Zé Dirceu…’.

Vade retro!!!

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Linguagem chula

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo banheiro, em subindo-se nas bordas do vaso sanitário, observa-se o ministro Carlos Mico, digo Minc, a pular de galho em galho às margens do Lago Paranoá, pois Roldão organizava seu vastíssimo arquivo quando deparou com este título do Correio Braziliense: Esculhambação geral.

O mestre reprovou o linguajar do vibrante diário:

‘Título chulo de uma matéria da seção de esportes. Pode ser até verdade porque trata do campeonato brasiliense de futebol, no qual Luiz Estevão peita a federação e vende ingressos para o clássico abaixo do valor permitido, e a prefeitura de Unaí veta estádio aprovado em vistoria. Entretanto, o termo ainda me choca pois vem de colhão.’

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Léo Bueno

Leia no Blogstraquis a íntegra de A partida, cujo fragmento é a epígrafe da coluna. Os versos fazem parte do primeiro livro de Léo Bueno, livro no qual o jovem poeta de inspirada e generosa lavra dá os últimos retoques.

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Boa palavra

Em bom português, denomina-se ‘apólogo’ uma animada conversa entre Lula, o pai de todos, e Dilma, a mãe do PAC.

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O ‘Caso Isabella’

A pedidos, e depois da chegada do professor George Sanguinetti ao cenário da incompetência, a coluna repete notinha aqui publicada em 30/4/08:

Janistraquis acompanha o ‘Caso Isabella’ desde o início, com aquele malévolo interesse tão comum aos telespectadores, e hoje de manhã, depois doutras notícias sem nenhum conteúdo jornalístico, chegou a esta transordinária objeção:

‘Considerado, tudo indica que o casal matou a menina, apesar da fantástica burrice do pai, exibida pela Globo, porém a gente só pode acreditar na versão policial se tiver absoluta e total confiança na polícia. O amigo tem absoluta e total confiança na polícia deste país de m…? Eu não tenho.’

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Puta desrespeito!

A propósito do episódio entre o médico e os alunos que ele chamou de burros e preguiçosos, percorre a internet esta obra-prima do desrespeito, digamos, acadêmico:

VERSÃO BAIANA DOS 10 MANDAMENTOS

1 – Viva para descansar.

2 – Ame sua cama, ela é o seu templo.

3 – Se vir alguém descansando, ajude-o.

4 – Descanse de dia para poder dormir à noite.

5 – O trabalho é sagrado, não toque nele.

6 – Nunca faça amanhã o que você pode fazer depois de amanhã.

7 – Trabalhe o menos possível; o que tiver para ser feito, deixe que outra pessoa faça.

8 – Calma! Nunca ninguém morreu por descansar, mas você pode se machucar trabalhando…

9 – Quando sentir desejo de trabalhar, sente-se e espere o desejo passar .

10 – Não se esqueça, trabalho é saúde. Deixe o seu para os doentes.

E lembre-se sempre do ditado:

‘Quem trabalha muito erra muito; quem trabalha pouco erra pouco; quem não trabalha não erra e quem não erra é promovido.’

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Nota dez

O considerado Ives Gandra da Silva Martins, constitucionalista de escol, professor de Direito, católico praticante, advogado da CNBB, ou seja, um cidadão acima de qualquer suspeita, pois o doutor Ives, que também é irmão desse gênio musical chamado João Carlos Martins, escreveu artigo no qual se confessa discriminado no país de todas as safadezas possíveis e até inimagináveis.

VOCÊ É BRANCO? CUIDADO!

10 de maio de 2008.

Hoje, tenho eu a impressão de que o ‘cidadão comum e branco’ é agressivamente discriminado pelas autoridades e pela legislação infraconstitucional, a favor de outros cidadãos, desde que sejam índios, afrodescendentes, homossexuais ou se auto-declarem pertencentes a minorias submetidas a possíveis preconceitos.

Assim é que, se um branco, um índio ou um afrodescendente tiverem a mesma nota em um vestibular, pouco acima da linha de corte para ingresso nas Universidades e as vagas forem limitadas, o branco será excluído, de imediato, a favor de um deles. Em igualdade de condições, o branco é um cidadão inferior e deve ser discriminado, apesar da Lei Maior.

Leia aqui a íntegra do texto recheado de duríssimas verdades e advogado por 23 leitores desta coluna.

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Errei, sim!

‘O CHARME DA FOLHA — Mais apavorado que gato de desenho animado, Janistraquis irrompeu:

— Considerado, você viu o tamanho desse Centro Tecnológico Gráfico que a Folha inaugurou em Tamboré???

–Vi e já mandei telegrama de congratulações ao Otavinho, respondi, com estudada tranqüilidade.

Meu assistente arregalou os olhos:

— Considerado, você já imaginou se o pessoal da Folha zerar as falhas e fechar a editoria Erramos? A gente tá ferrado!!!!, ganiu.

Tentei acalmar meu secretário:

— Não há perigo! Você acha que o pessoal da Folha iria jogar fora exatamente o lado mais charmoso do jornal?

Detectei então um esgar, quase um ar de riso, naquela face afadigosa de tanto ver tropeços de informação e concordância.

(fevereiro de 1996)’

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 65 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

BALANÇO
Eduardo Ribeiro

Nunca antes na história desse país… , 28/5

‘Pensando no agradável encontro desta semana com os leitores deste J&Cia, hábito que já cultivo há mais de cinco anos, para meu deleite e talvez infortúnio de quem aqui me acompanha, me veio à cabeça a tradicional frase do presidente Lula: Nunca antes na história desse País…

E por incrível que pareça, nunca antes na história desse País, ao menos na história do período que conheço melhor, tivemos do ponto de vista de mercado profissional e de ganhos para os veículos um momento tão bom, tão próspero, tão tranqüilo e por que não dizer tão longevo (quase seis anos sem uma crise mais aguda).

Há quantos meses já não venho aqui nesse espaço chorar demissões derramadas ao léo redações afora. Há quanto tempo os veículos não registravam balanços tão positivos como os ostentados nos últimos dois ou três anos. Impossível lembrar qual foi o último artigo ou notinha falando de cortes de despesas em veículos de comunicação – e se ocorreram foram uma raridade. No caso dos jornais, então, pelo primeiro ano, após períodos sucessivos de queda de tiragem, elas reagiram e fecharam 2007 com uma curva ascendente. Coisa pequena, é verdade, mas positiva, o que foi um alento para as empresas e seus profissionais.

Tivemos uma exceção que foi a crise da Editora Três, mas até ela reforça hoje a assertiva de Luiz Inácio: após chegar à beira da falência, a empresa fez a lição de casa, reestruturou-se, renegociou seus compromissos e na última semana viu aprovado o seu plano de recuperação judicial, o que só foi possível graças a esse momento mágico do mercado, que tem dado à área de comunicação e jornalismo combustível suficiente para novos empreendimentos e aventuras.

Se pegarmos o segmento de comunicação corporativa, então, esse quadro é ainda mais alentador, com crescimentos vertiginosos registrados por dezenas de agências de comunicação nos últimos dez ou quinze anos, levando à expectativa de que neste 2008 esse grupo de empresas fature inéditos R$ 1 bilhão, marca de fazer espuma (de champanhe mesmo) no mercado.

Diante desse cenário, como explicar que centenas, milhares de jornalistas não consigam emprego na área? Temos aí um claro paradoxo que não vai encontrar respostas no mercado, mas sim na irresponsabilidade de um sistema educacional que incentivou a criação de centenas de escolas Brasil afora, despejando literalmente no mercado uma excessiva quantidade de profissionais impossível de ser absorvida na estrutura existente. Em sã consciência alguém pode acreditar que o mercado editorial e de comunicação corporativa no Brasil tenha a capacidade de absorver os cerca de cinco mil profissionais que as centenas de faculdades de comunicação formam por ano em todo o território brasileiro?

Eu digo e reafirmo que profissionais com algum grau de especialização são hoje disputados a tapa por veículos e assessorias e para eles não faltam empregos ou boas colocações. Ao contrário, muitas empresas hoje se vêem na condição de ter de contratar gente menos experiente e treinar, exatamente por não encontrar profissionais qualificados disponíveis.

Se houve um momento nesses últimos dez ou quinze anos em que o mercado se mostrou comprador esse momento é o atual, representado por empresas capitalizadas, adimplentes e novamente empenhadas na expansão de seus negócios.

Difícil dizer por quanto tempo esse ciclo se estenderá, mas olhando os acontecimentos locais e internacionais e também o novo momento vivido pelo Brasil e o otimismo de grande parte da população e dos empresários, dá para arriscar que vamos até o final do governo Lula em ritmo de crescimento e, o melhor, de um crescimento sustentável, consistente, sem mágica ou malabarismos. Ou seja, teremos no mínimo mais uns dois anos e meio de expansão geral também na mídia.

É sem dúvida uma notícia alvissareira, se é que minha análise faz algum sentido. Deixo a critério de cada um fazer os respectivos julgamentos.

Tem no entanto, em contraste com esse aspecto otimista, o lado sombrio, que é em relação ao jornalismo em si, à qualidade editorial de nossos veículos, ao aprimoramento do jornalismo. Essa é uma história muito complexa e impossível de ser retratada e debatida num artigo sucinto como esse.

Aí eu diria que temos, sim, um problema sério. Nosso jornalismo ficou refém da falta de ousadia das empresas e vem murchando enquanto produto inovador, provocador, indutor de mudanças. Vai perdendo visivelmente terreno para outras instâncias sociais, incluindo a coqueluche do momento que são as chamadas mídias sociais. Estas, demarcadas por blogs, orkuts, messenger, youtube etc, avançam com tecnologia, conteúdo e ousadia sobre corações e mentes e estão a provocar profundas reflexões no mundo da comunicação e do jornalismo. Mais do que isso, estão exigindo respostas corajosas, audaciosas, empreendedoras, inspiradoras, desprendidas, abertas, integradoras, que possam colocar novamente o jornalismo na vanguarda da sociedade, papel que realmente vem sendo ameaçado pela timidez das respostas até aqui oferecidas.

Mas o mundo é grande e o jornalismo maior ainda. Haveremos de vencer os desafios colocados pela frente. E o momento, volto a afirmar, é excepcional para isso. Quando o ciclo de prosperidade se encerrar, e ele vai se encerrar um dia, todos sabemos, tudo ficará mais difícil. E se não tivermos até lá feito a lição de casa os prejuízos poderão ser incalculáveis. Sobretudo para quem ficar na retranca.

Então, o nunca antes na história desse país será o avesso, do avesso, do avesso, como magnificamente cantou Caetano na sua e nossa Sampa.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

SEM NOME
Carlos Chaparro

SANDRA CORVELONI é o nome dela!, 27/5

‘Com algum destaque no disputadíssimo espaço da primeira página, a Folha desta segunda-feira embalou em mistério o nome de Sandra Corveloni, que, por mérito, deveria ter recebido tratamento de protagonista mais importante do dia. Em vez disso, o título que nos anunciava a surpreendente conquista artística de Sandra, deu-nos uma heroína sem nome: ‘Brasileira é a melhor atriz em Cannes’.

Quem fez e/ou aprovou esse título é devoto fanático da primazia da notoriedade, nos critérios de valoração dos fatos. E como o nome de Sandra Corveloni não consta das várias listas de notáveis que as redações veneram, os iluminados editores da primeira página da Folha preferiram a imprecisão do anonimato – ‘Brasileira é a melhor atriz em Cannes’.

Ora, o troféu de melhor atriz do festival de Cannes não foi conquistado por uma brasileira qualquer; foi conquistado por uma atriz que tem nome, sobrenome e história própria: Sandra Corveloni.

Ora, pergunto eu, leitor e assinante da Folha com direitos adquiridos: como é possível que uma artista brasileira ganhe o mais importante prêmio cinematográfico da Europa e o nome dela sequer apareça no título da chamada de capa?

O Estadão – que igualmente leio na qualidade de assinante – fez pior: relegou à invisibilidade do canto inferior esquerdo da primeira página a notícia da conquista de Sandra Corveloni. E repetiu, no título da chamada, o cacoete da Folha: ‘Cannes premia atriz brasileira’.

Também no Estadão tiveram medo de dar evidência a um nome até então desconhecido.

Pois, a meu ver, essa seria a razão mais forte para dar a Sandra Corveloni, e ao seu nome, a manchete que o feito merecia. Afinal, o inesperado prêmio carrega consigo o reconhecimento internacional de um talento que os brasileiros podem desconhecer, mas que há mais de vinte anos é testado, e se afirma, em palcos reais do teatro real, embora nem sempre bem iluminados.

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No espaço sagrado do palco, em pequenos e grandes trabalhos que a mídia ignora, Sandra tem feito a entrega plena e contínua à sua vocação e à sua profissão.

Nesse trabalho e nessa entrega, protegeu com o anonimato a liberdade de ser artista e fazer arte. Até que, em Cannes, um júri qualificado colocou o seu nome na constelação das melhores atrizes.

Agora, tudo mudará. Mudará para a atriz, que não mais terá a proteção do anonimato. Mudará também para nós, que, depois do prêmio de Cannes, queremos desvendar o significado artístico desse nome sem notoriedade anterior, e que por isso assustou a imprensa: Sandra Corveloni.

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Oxalá os pauteiros mais criativos dos cadernos de artes e espetáculos sejam picados pelo bicho da curiosidade e conquistem espaço para fazer o desvendamento do significado artístico e cultural contido no nome Sandra Corveloni.

Se as pautas forem suficientemente ambiciosas, e entregues a bons repórteres, ser-nos-á desvendado um grandioso e complexo mundo de artistas anônimos, que batalham pela arte e pela sobrevivência fora dos holofotes, dos salários e dos privilégios da televisão.

São milhares de atores e atrizes, organizados em grupos nutridos pela devoção ao teatro, como forma de se expressar e existir.

Para imaginarmos melhor grandeza e as complexas variáveis sócio-culturais desse universo da arte anônima, uma informação pode servir como ponto de partida para ousadias jornalísticas de desvendamento: existe uma Cooperativa Paulista de Teatro, à qual estão filiados 1.054 grupos teatrais ativos.

Pelo que sei e posso imaginar, é um mundo vibrante de incessantes buscas e lutas, por boas idéias, bons projetos, bons textos, bons espaços. Alguns, não sei se muitos ou poucos, se por mérito ou esperteza, conseguem encaixar-se nos rigores da Lei Rouanet. Obtêm ajudas e sobrevivem com alguma tranquilidade. A maioria, porém, navega sem a ajuda de ventos oficiais. Singram apenas com a força do compromisso vital de jamais desistir.

As receitas são sempre incertas. As despesas, certas. Sem as ajudas da Lei Rouanet, não há salários, apenas a receita oscilante da bilheteria. Em alguns casos, que não são poucos, o rateio para o pão nosso de cada dia mal passa de cem reais ao mês, por pessoa. Isso, quando se está em cartaz. Porque, antes, nos três meses de estudos e ensaios, nada se ganha.

Essa indigência do teatro de grupos é amenizada pelas oportunidades de ministrar aulas e oficinas, em prefeituras, colégios e outras instituições. Embora mal paga, é uma atividade em expansão. E as coisas melhoram um pouco quando se consegue, e para quem consegue, a oportunidade de entrar em algum comercial.

Quem me conta essas coisas é a atriz Tânia Casttello, que já ganhou prêmios, um deles o da APCA (atriz revelação, em 1994), já atuou em peças de boa visibilidade e em trabalhos de TV. Mas que, por experiência própria de anos a fio, conhece bem a dureza da luta pelo sucesso e pela sobrevivência, em grupos de teatro.

Na síntese que lhe pedi, deu-me uma frase: ‘É um mundo sofrido, de dores amenizadas pelo amor à arte e pela fidelidade à vocação’.

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Esse é o mundo de onde pulou a desconhecida Sandra Corveloni, para conquistar Cannes. E agora que o filme de Walter Salles e Daniela Thomas (‘Linha de Passe’) vai entrar em cartaz, todos poderemos, enfim, conhecer a verdade artística dessa estrela que o teatro de grupo até agora conseguiu esconder.

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Graças ao reconhecimento conquistado em Cannes, Sandra será finalmente poupada de uma situação incômoda que permanentemente ameaça quem faz e vive do teatro de grupo. A de, em qualquer portaria onde precise se identificar como atriz, ter de responder à seguinte pergunta:

– Ah! É atriz? Em que novela você trabalha?

Com perdão da comparação, parece até pergunta de jornalista devoto das santas notoriedades…

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

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Folha de S. Paulo – 1

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O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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