Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Comunique-se

NA JUSTIÇA
Sérgio Matsuura

Diogo Mainardi é condenado criminalmente por injúria e difamação, 29/8

‘O colunista da Veja Diogo Mainardi foi condenado pela 13ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) pelos crimes de difamação e injúria. A ação foi movida pelo jornalista Paulo Henrique Amorim devido à coluna intitulada ‘A voz do PT’. Em primeira instância, Mainardi foi absolvido das acusações, mas Amorim apelou e a decisão foi revertida.

‘Avaliar Paulo Henrique Amorim como ‘um qualquer’, sem demonstrar, ou comprovar suas ilações é horroroso, maquiavélico e criminoso. (…) Ele passou, e muito, da linha normal de aceitação de um jornalismo agressivo’, diz o parecer do Procurador de Justiça Carlos Eduardo de Athayde Buono que foi acolhido pelo TJ-SP.

A pena é de três meses e 15 dias de detenção, que pode ser revertida em multa de três salários mínimos, e pagamento de 11 dias-multa.

De acordo com o advogado que defende Mainardi, Alexandre Fidalgo, a decisão do TJ-SP é ‘uma violação à liberdade constitucional de opinião’. Ele afirma que o dolo não ficou caracterizado e que o julgamento vai de encontro às provas produzidas.

Diogo Mainardi não quis comentar a condenação, limitando-se a dizer que irá recorrer. Paulo Henrique Amorim também foi procurado e informa que sua opinião sobre o caso está publicada em seu blog.

Na coluna publicada em 06/09/06, Mainardi afirma que os R$ 80 mil gastos pelo iG para manter a página de Amorim seriam oriundos de fundos de pensão de empresas públicas. Diz também que o jornalista está na fase descendente de sua carreira.

Pelo mesma coluna, Mainardi foi condenado em 06/08, junto com a Abril, a pagar indenização de R$ 207.500,00 a Paulo Henrique Amorim. A decisão foi da 5ª Câmara de Direito Privado do TJ-SP.’

 

 

ELEIÇÕES
Sérgio Matsuura

Chico Alencar considera cobertura da TV Globo antidemocrática, 29/8

‘‘A TV Globo tem quatro candidatos que aparecem todo dia e os outros que aparecem de vez em quando. Isso é absolutamente errado, antidemocrático’. É dessa maneira que o candidato à Prefeitura do Rio pelo PSOL, Chico Alencar, avalia a cobertura da atual campanha eleitoral.

Em sua opinião, a imprensa presta serviço fundamental ao difundir as idéias e projetos para a população de uma cidade de grande porte como o Rio de Janeiro. Porém, ressalta que a cobertura não pode ser ‘editorializada no interesse de determinadas candidaturas’.

Segundo Alencar, da maneira como a cobertura é feita atualmente a população não tem oportunidade de conhecer todos os candidatos, já que o horário de propaganda eleitoral é insuficiente e ‘muito rejeitada’.

Sobre o relacionamento do atual prefeito com a imprensa, o candidato elogia a iniciativa do ex-blog do César Maia, que faz uma ‘excelente análise política’. Entretanto, afirma que, caso eleito, sua gestão será de ‘corpo e alma’ e promete se reunir periodicamente com os jornalistas.’

 

 

IRRITADO
Comunique-se

Caetano critica jornalistas da Folha e Estadão, 29/8

‘O cantor Caetano Veloso rebateu as críticas feitas por matérias publicadas na Folha e no Estadão sobre o show realizado, na companhia de Roberto Carlos, no Auditório do Ibirapuera no último dia 26/08, em São Paulo. Em seu site, disse que ficou ‘com pena dos dois fanfarrões que não sabem nem escrever’.

Falando sobre a saudade que sentia de ‘Sampa’, Caetano afirma que ‘o provincianismo fraco dos articulistas dos dois grandes jornais locais não conseguiu abalar’ essa sensação. Usando adjetivos como ‘boba’ e ‘burro’, Caetano diz que ‘o Brasil de Tom, que é o Brasil que precisa estar à altura da bossa nova, cresce para fora e para longe do Brasil dos débeis de cabeça e de coração’.

‘Não respondo aqui a ela nem a ele. Nada digo aos jornais que os publicaram. Deixo aos leitores paulistanos que viram o show. Eles vão escrever protestando. Os jornais talvez publiquem algumas das cartas’, concluiu Caetano.

Folha e Estado

Na Folha, Sylvia Colombo classificou os concertos em comemoração aos 50 anos da Bossa Nova como uma ‘série de espetáculos arrogantes e modorrentos. (…) Eventos elitistas, onde cantar baixinho sobre o amor, a saudade, o Corcovado e as belezas da orla carioca legitimavam o privilégio e a sofisticação de uma casta’.

Procurada pela reportagem do Comunique-se, Sylvia preferiu não comentar as críticas de Caetano.

O jornalista Jotabê Medeiros, do Estadão, após dizer que Caetano deu uma sambadinha à Rubens Barrichello, finalizou sua crítica dizendo que ‘a bossa de Caetano e Roberto, ao menos nesse show, está doente e chamaram dois totens da MPB para fazer a necrópsia’.

Jobatê Medeiros diz que não há como debater o texto de Caetano, já que, para ele, não há uma argumentação contra a matéria que escreveu, e sim um ‘desabafo’. Medeiros faz um alerta a Caetano: ‘Não é porque é um artista consagrado que não terá uma crítica desfavorável’.’

 

 

INTERNET
Bruno Rodrigues

Faça seu conteúdo interagir, 28/8

‘Você conhece Pedro Júnior?

Ele é editor de conteúdo do site www.eu-me-basto.com.br, uma página criada, formatada e 100% voltada para os egocêntricos de carteirinha.

Pedro não quer papo: só espelho. Nosso rapaz cultua o silêncio sepulcral. Diz que é ótimo para ‘se ouvir’. Sua obra-prima, www.eu-me-basto.com.br, é o Messias da internet: todos devem segui-lo e adorá-lo, embora ninguém saiba disso – ainda.

Pedro Júnior e seu enfant terrible são surdos, por opção. Para que ouvir os outros? O único detalhe que deixa Pedro levemente preocupado é a visitação do site. Há um ano no ar, www.eu-me-basto.com.br só teve duas visitas. Dele próprio (afinal, como não?) e Pedro Senior (papai sabe das coisas). Mais que isso, para quê?

É claro que você não se encara, e nem ao seu site, assim. Sabe de cor e salteado o porquê da importância de um contato direto com os internautas. Ou seja, não dispensa a opinião dos visitantes, passando ao largo de torna-se um Pedro Júnior. A via principal de comunicação? E-mail, ora!

Esta é a questão: correio eletrônico não é a última fronteira no relacionamento com o internauta, e se você se fiar apenas nos feedbacks via e-mail, corre o risco de seu site virar um www.eu-me-basto.com.br sem nem sentir.

Umas das premissas de qualquer site que queira sobreviver na Rede é a real interatividade, e correio eletrônico passa longe disso.

Interatividade é um animado jogo de ping-pong, e não há partida se apenas um participa, e só de vez em quando, como o e-mail. Boa partida é aquela em que os dois lados jogam incessantemente, e por isso um aprende com o outro. E então – bingo! – o desempenho dos dois melhora para a próxima partida.

Transferindo este raciocínio para o virtual, o constante relacionamento entre um site e seu visitante produz um conteúdo realmente útil e desejável, e cria um laço forte e duradouro entre as partes.

Se você deseja criar ‘ouvidos’ para seu site, aqui vão três boas dicas:

1- PESQUISA DE CONTEÚDO

Não estou falando de softwares de aferição de acesso, que existem para apontar as páginas mais visitadas, por exemplo. Estou falando de pesquisas sobre a satisfação em relação ao conteúdo informativo do site: falta alguma coisa? Está ‘sobrando’ algo que pode ser cortado? Faça esta pesquisa genericamente (sobre todo o site), e localmente (sobre uma área específica). Pergunte sobre os aspectos que quiser: a redação está hermética? O tom do texto está informal demais? Também combine o webwriting com outros aspectos: o design da página está dando destaque ou escondendo a informação? A animação (Flash) está ajudando ou confundindo? Em tempo: faça esta pesquisa online, e mude os itens constantemente, de acordo com sua necessidade.

2- NEWSLETTERS

Nada mais simpático que oferecer ao internauta a opção de receber um pequeno informativo com as novidades não apenas sobre o site, mas sobre a área que o visitante costuma freqüentar. Ele perceberá que você se preocupa com ele, e que é prioridade informá-lo sobre as novidades. Esse também é um ótimo recurso para estimular a criação de pequenas comunidades sobre assuntos específicos em grandes sites.

3- BRINDES – Deixe o preconceito de lado. Dê – ou sorteie – canetas, agendas, mouse pads e até palms para quem topar em responder a pesquisas ou se cadastrar para o recebimento de newsletters. Em última instância, o internauta tem mais o que fazer do que ficar preenchendo formulários, então valorize o que está conquistando…

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Algumas (boas) dicas:

1- Duas redatoras online de Fortaleza criaram há um mês aquela que – pretendo – será a *grande* comunidade de Webwriting no Orkut, a ‘Webwriting Brasil’. Não deixe de participar!

2- Para quem não conhece meu blog, dê uma checada no ‘Cebol@’. Está em http://bruno-rodrigues.blog.uol.com.br.

3- Gostaria de me seguir no Twitter? Espero você em www.twitter.com/brunorodrigues.

4- A próxima edição de meu curso ‘Webwriting & Arquitetura da Informação’ terá início no dia 09/09 no Rio de Janeiro. Para quem deseja ficar por dentro dos segredos da redação online e da distribuição da informação na mídia digital, é uma boa dica! As inscrições podem ser feitas pelo e-mail extensao@facha.edu.br e outras informações podem ser obtidas pelo telefone 0xx 21 2102-3200 (ramal 4).

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’, e de sua continuação, ‘Webwriting – Redação e Informação para a web’. Ministra treinamentos em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em sete anos, seus cursos formaram 1.300 alunos. É Consultor de Informação para a Mídia Digital do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’, há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’

 

 

ELEIÇÕES NOS EUA
Milton Coelho Graça

Você quer ver Sarah na Casa Branca?, 29/8

‘Ela tem razoáveis possibilidades de ser presidente dos Estados Unidos. As pesquisas indicam que John McCain está bem próximo a Barack Hussein Obama e fez 72 anos nesta sexta-feira, 28 de agosto. Ele está exatamente no limite da expectativa de vida para homens americanos e, portanto, se eleito, terá uma chance próxima a 30% de morrer no exercício do mandato.

Por isso, Sarah Palin, governadora do Alasca, 44 anos, escolhida – também nesta sexta – como candidata a vice-presidente pelo Partido Republicano, merece ser mais bem conhecida porque, além ser coleguinha, formada em Comunicação e Jornalismo, tem uma biografia interessante.

Ela jogou basquete e chegou a disputar a final do campeonato colegial do Alasca e era dura na marcação, tanto que tinha o apelido de Sara Barracuda. Este peixe, como nos ensinam as enciclopédias, têm quase dois metros, bocas enormes e dentes afiadíssimos.

São vorazes e atacam de emboscada, mas contenham comentários precipitados, meus caros companheiros: suas 26 espécies não parecem atraídas por nossas carnes, não atacam a espécie humana. Em compensação, a carne da barracuda em geral é tóxica para nós.

Sarah Palin é conservadora e religiosa. Deu nomes curtos e esquisitos para seus cinco filhos: Trig (que significa ‘elegante’, mas também, em linguagem colegial americana, designa a complicada trigonometria, estudo dos triângulos); Track, ‘caminho, ‘pista de corrida’ e outros significados; Willow é o bastão daquele joguinho inglês superchato, cricket, e também nome de escola de samba carioca, Salgueiro, homenagem ao arbusto muito comum no morro que a abriga. Piper, ‘tocador de flauta’, porque certamente mamãe e papai carinhosos nem sequer pensaram no outro significado – cavalo asmático. Bristol é nome de cidade inglesa e tanto Houaiss e Aurélio como Michaelis não oferecem outras pistas para justificarem seu uso como nome de criança.

Numa das primeiras aparições de d. Sarah na imprensa do Alasca, ela se mostrou fascinada pela ex-mulher de Donald Trump, Ivana Trump, que no dia visitava o estado para divulgar perfumes. ‘Quero ver Ivana’ – disse Sarah Palin ao Anchorage Daily News – ‘porque aqui no Alasca estamos tão desesperadas por qualquer coisa ligada a glamour e cultura’.

Uma declaração que aqui no Brasil seria considerada caipira, mas sejamos tolerantes. De um lado tudo isso ocorreu no Alasca, o ponto dos Estados Unidos mais gelado e distante dos mais importantes polos de cultura e de celebridades. Além disso, Sarah Palin ainda estava a décadas da maturidade e da vida política.

Mais importante de que todas essas trivialidades é o fato de que sua candidatura à Vice-Presidência nasceu na internet e num blog – para onde cada vez mais confluem o jornalismo e a política.

Os principais jornais do Alasca apontam o blog de um jovem de 21 anos, Adam Brickley, que ainda está terminando o curso de Ciência Política na Universidade de Colorado – no sudoeste dos Estados Unidos, a muitas centenas de quilômetros do Alasca. Brickley ainda era calouro na universidade (fevereiro de 2007) quando iniciou o blog ‘Convoquem Sarah Palin’, sugerindo que ela seria um ótimo número 2 para qualquer um dos possíveis candidatos republicanos.

A campanha começou a ‘pegar’ quando vários jornalistas-blogueiros começaram a citar os comentários de Brickley e, nas últimas semanas, o âncora de um programa de rádio, Rush Limbaugh, muito popular entre ouvintes entre o público mais conservador.

Para melhor compreensão das intenções do jovem Brickley, como ele mesmo informa em seu blog: seus interesses principais são política, sionismo (não tive tempo de verificar se a favor ou contra, mas pela pinta…), e ‘lutar contra o socialismo’.

Cada um pode pensar o que quiser sobre quem é a senhora que, como eu disse acima, tem razoáveis possibilidades de um dia ser presidente dos Estados Unidos. Sarah Palin é a primeira ‘cria’ do primeiro time político nascida em um blog. E eu tive de correr atrás via google para contar isso tudo a vocês bem rapidinho.

(*) Milton Coelho da Graça, 77, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’

 

 

JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

A veadagem obrigatória ameaça o País de Todos, 28/8

‘O mundo é simplesmente

merda pura e a própria

vida é merda engarrafada

(Antônio Damasceno, jornalista e poeta.)

A veadagem obrigatória ameaça o País de Todos

O considerado Armando Ribeiro Alvarenga, empresário paulistano, envia longo texto a respeito dos ‘perigos’ do Projeto de Lei Complementar n° 122/2006, de autoria da deputada Iara Bernardi (PT/SP), o qual ‘determina sanções às práticas discriminatórias em razão da orientação sexual das pessoas’ e está para ser votado no Senado.

Segundo Alvarenga, o projeto é apadrinhado pelo presidente Lula e sua candidata à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, e, se transformado em lei, irá instituir a ditadura do homossexualismo no Brasil.

Janistraquis, que jamais dormiu de touca, ficou impressionado:

‘Considerado, lembra quando eu disse aqui mesmo na coluna que a veadagem ainda ia ser obrigatória no Brasil? Pois a coisa está entrando devagarinho, como as cobras boca-de-sapo da novela Pantanal!!!’

Leia o texto no Blogstraquis. Vale a pena.

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Estranha contagem

O considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, de cujo varandão debruçado sobre a falta de vergonha é possível enxergar uma assembléia de nepotes a tentar manter as sinecuras, pois Roldão retomou a leitura de seu jornal preferido, o Correio Braziliense:

A foto de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, mostra a fachada da Agência da Receita toda grafitada contra o presidente Evo Morales: ‘Evo Asesino’, ‘Evo corrupto’, ‘Evo Cabrón’. A legenda traduz ‘cabrón’ por mau caráter… Tanto em espanhol como em português cabrão quer dizer corno. O mau caráter seria da esposa infiel.

Noutra notícia, esta sobre os três maiores bancos brasileiros de capital aberto, tem como título: ‘Bradesco, Itaú e BB no Top 15’. A ordem de citação dá a entender que essa é a ordem de classificação. Na verdade, lendo atentamente a notícia vê-se que a classificação é outra: 1º) Banco do Brasil, em 12º lugar, 2º) Bradesco, em 13º lugar e 3º) Itaú, em 15º lugar.

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Luís Paulo Horta

A coluna cumprimenta o considerado Luís Paulo Horta, mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras. Velho amigo e companheiro do Jornal do Brasil dos anos 60, foi ele, especialista em música erudita, quem apresentou ao colunista o Concerto Duplo de Brahms, para violino e violoncelo, como a composição mais bonita do mundo. E é mesmo.

Em 2003, quando foi lançado o romance Concerto Para Paixão e Desatino, lá estavam Luís Paulo e a obra-prima de Brahms. O colunista/romancista sempre recorda aqueles tempos de Rio de Janeiro, principalmente o curto porém inesquecível período em que o agora imortal o recebeu em seu apartamento de Botafogo, acolhendo o amigo, boêmio e sem-teto, expulso de casa pela mulher, uma artista plástica de temperamento um tanto, digamos, tempestuoso. Mas esta é outra história, cujos detalhes ocupam algumas páginas de um inacabado livrinho de memórias.

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Convicções abaladas

Janistraquis perguntou ao considerado José Truda Júnior por que anda sumido de nossa caixa postal e ele respondeu, diretamente do minarete nos altos de Santa Teresa:

Ando mesmo em falta com a coluna. Tenho certeza, porém, de que o amigo entende os motivos que me têm provocado certo desapontamento com o jornalismo. Veja, por exemplo, no que resultou a recente decisão do Supremo Tribunal Federal ao determinar que nepotismo, no serviço público, só é permitido em cargos de primeiro e segundo escalões; obedientes e respeitadores da lei, nossos políticos, no mesmo dia, em atendimento à decisão do STF, chegaram mesmo a rodar edições extras de Diários Oficiais para promover os parentes.

Pois não é que, certamente por inveja, ciúme e despeito, no dia seguinte os jornais caíram de pau nos que ousaram acatar a decisão suprema, tecendo loas aos que, de encontro ao espírito da lei, lançaram seus próprios familiares na rua da amargura, ignorando até mesmo os mais elementares deveres fraternos e filiais? Foi um duro golpe nas minhas convicções, por isso decidi retirar-me por um breve tempo. Mas volto logo.

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Ignorância braba

O considerado Camilo Viana, diretor de nossa sucursal em Belo Horizonte, que fica a poucos metros do Palácio da Liberdade, onde Aécio finge governar, pois Camilo escutou no rádio:

Uma senhora americana procurou a principal emissora de TV de Atlanta para protestar contra ‘a repetição de notícias falsas’. Indignada, contou que percorreu de automóvel um bom pedaço do Estado da Geórgia e não viu nem ouviu falar em nenhum tanque de guerra russo em lugar algum.

Camilo, que conhece de sobra os descendentes de ‘…E o Vento Levou’, sabe como os americanos costumam ignorar tudo o que existe ou acontece além do jardim de suas casas:

A criatura que foi reclamar à TV de Atlanta jamais ouviu falar na existência de um país do Cáucaso cujo topônimo é idêntico ao do estado americano; ouviu algo sobre uma invasão russa na Geórgia e se convenceu de que falavam de sua terra…

Coisa de mal-amada, como a maioria das americanas siliconizadas, que pesam toneladas de McDonalds, calçam de 42 pra cima e vestem as roupas mais esquisitas do Havaí. A elas dedico esta quadrinha de minha modesta lavra, que parodiei de uma briga entre Nilo Peçanha e Arthur Bernardes:

Quando seu corpo defunto

À cova descer despida,

dirá um verme a outro verme:

Não como quem nunca foi comida.

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Fantástico chá da morte

Durante a transmissão de Inter X Flamengo a Globo anunciou repetidamente que o Fantástico exibiria reportagem para informar por que não se deve dar mel de abelha a crianças com menos de um ano de idade. O locutor repetiu: não se deve dar mel…

O colunista logo reviveu episódio de 1984, quando trabalhava no ‘Show da Vida’ e o diretor-geral José-Itamar de Freitas lhe prescreveu que nas matérias referentes à saúde pública era fundamental repetir sempre e sempre as recomendações médicas, pois o telespectador quase nunca entendia o recado e costumava fazer justamente o contrário de tudo o que lhe era aconselhado.

Meio descrente, repassei o exagero aos repórteres e editores que comigo trabalhavam em São Paulo.

Na semana seguinte, fizemos longa reportagem para alertar sobre um ‘milagroso’ chá vendido no Vale do Paraíba. O locutor de voz poderosa tonitruava: o produto era perigoso, podia até matar. E repetia e repetia aquele texto intencionalmente chatíssimo.

Pois na segunda-feira às 10 horas, quando cheguei à Redação, a secretária informou que desde as 8 já havia recebido umas 20 ligações de todo o país; eram aqueles telespectadores inteligentes, os quais, anos mais tarde, iriam votar em Lula — queriam tomar o ‘chá da morte’ e pediam o endereço de onde pudessem comprá-lo…

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Excelente merda

O fragmento do poema que encima a coluna nasceu da revoltada criatividade de Antônio Damasceno Bezerra, jornalista, poeta e boêmio potiguar, que bebeu muito e viveu pouco; escreveu o livro Dias de Sol, ainda inédito. Leia no Blogstraquis a íntegra do soneto intitulado Tudo é Merda.’

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Otimismo olímpico

Depois de ler as declarações do presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, reunidas na Folha de S. Paulo sob o título COB faz malabarismo numérico e declara Pequim melhor da história brasileira, Janistraquis resolveu lançar a candidatura de Carlos Arthur Nuzman a porta-voz do governo federal:

‘Considerado, o homem é um gênio do otimismo, capaz de transformar epidemia de dengue em atração turística e inflação num escabeche do melhor dos mundos.’

Leia no Blogstraquis os detalhes dessa fantasmagoria olímpica.

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Males do clostebol

A considerada Maurren Maggi sempre disse a verdade quando se referiu a um esteróide anabólico chamado clostebol, cicatrizante que ela teria passado nas pernas depois de uma depilação, em 2003. A mezinha foi detectada no exame antidoping e a moça quase teve encerrada a brilhante carreira.

Janistraquis nunca depilou as pernas, mas usa clostebol há anos, pois este é realmente o princípio ativo de um creme cicatrizante. Sexagenário com a pele delicada como bunda de recém-nascido, meu assistente recorre ao remédio sempre que lhe aparecem problemas cutâneos. Talvez não tivesse futuro no mundo esportivo por causa dessa bobagem.

Em tempo: existe (ou existia até recentemente) uma pomada vaginal com o mesmo clostebol. Diziam que era abortiva.

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Echos olímpicos

Algumas das mais espetaculares atletas do mundo disputavam os centímetros do salto em altura, mas quem sintonizava o canal de atletismo do Sportv era obrigado a assistir a uma emocionante cerimônia de premiação. Imagens geradas pela televisão chinesa; o Sportv não tinha culpa e, certamente, lamentava aquele desrespeito à inteligência do seu telespectador.

Janistraquis, veterano doutras transmissões olímpicas, tecnologicamente pobres porém espertas, tem explicação para o fenômeno:

‘O problema, considerado, é que a censura acabou com qualquer noção de jornalismo na China. O que se viu nesses jogos foi a ausência de critérios e a falência das prioridades; diante de variados assuntos, resolveram transmitir todos e acabaram prejudicando muitos.’

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Nota dez

A propósito de nossos fracassos em Pequim, principalmente o da seleção masculina de futebol, o considerado José Paulo Lanyi escreveu no Observatório da Imprensa, sob o título OLIMPÍADA 2008 — A mídia e os ‘gênios’ do futebol:

Medalha de bronze olímpica não é o mesmo que um engradado de cerveja faturado na aposta peladeira de um domingo ensolarado em Bonsucesso. Neste ponto, o atleta (Ronaldinho Gaúcho) tem razão. Difícil é concordar com o ‘empenho ao máximo’ de um grupo que, diante da Argentina, jogou o futebol-caranguejo, com os seus toquinhos de lado e para trás. Sem pressa, sem força, sem luta, sem vergonha.

Leia no Blogstraquis a íntegra do artigo que apaga a tal fogueira das vaidades.

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Errei, sim!

‘O CÃO DO EDU – Legenda da Ilustrada, da Folha: ‘O cantor e compositor Edu Lobo com seu cachorro em sua casa, no Rio de Janeiro’. Janistraquis reclamou: ‘Considerado, a legenda é tão fantasticamente bem informativa que só faltou o jornal identificar, na foto, quem era Edu e quem era o cachorro.’

Concordei. (abril de 1993)

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP), ou japi.coluna@gmail.com.

(*) Paraibano, 66 anos de idade e 46 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou, entre outros, no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu nove livros (dos quais três romances) e o mais recente é a seleção de crônicas intitulada ‘Carta a Uma Paixão Definitiva’.’

 

 

ASTERISCO
Eduardo Ribeiro

Nasce o novo Correio da Bahia, 27/8

‘Fruto de um investimento de R$ 15 milhões, um dos maiores do ano na imprensa brasileira, chega às bancas baianas nesta quarta-feira (27/8) o novo Correio da Bahia, que agora passa a se chamar Correio*. Isso mesmo, com um asterisco colocado no nome, com função meramente estética.

Segundo periódico em volume de circulação no Estado, o jornal, fundado por Antonio Carlos Magalhães, espera apagar da memória a ingerência editorial de quase três décadas do falecido senador, mostrando um jornal moderno com objetivo de assumir liderança na Bahia. O projeto é resultado de um trabalho conduzido pela consultoria internacional Innovation, responsável também por mudanças em veículos como o português Expresso, o argentino La Nación e o La Vanguardia, de Barcelona, entre outros.

Diversas pesquisas foram feitas para avaliar a imagem que o diário tinha entre seus leitores, assim como o que esses públicos esperam de um jornal. Por fim, a empresa fez uma pesquisa para testar o material que havia sido reformulado.

Foi efetivamente uma reforma radical, a começar pelo formato, que abandona o tradicional standart para chegar mais ‘enxuto’, no berliner, às mãos dos leitores, como fizeram outros grandes jornais em todo o mundo, entre eles o francês Le Monde. Detalhe: mais barato e 100% colorido. Mudam também o projeto gráfico e o conteúdo editorial.

As alterações também aconteceram na equipe, tanto editorial, com novas contratações em todos os escalões, quanto comercial.

O conteúdo editorial passa a partir de agora a ser distribuído em quatro seções: 24 Horas, com as principais notícias locais, nacionais e internacionais, apresentadas de forma resumida; Mais, uma análise completa dos fatos, que ganha forma em reportagens bem elaboradas, apresentadas nos mais diversos gêneros; Vida, em que o leitor encontra conteúdo sobre comportamento, cultura, artes, moda, qualidade de vida, consumo, viagens, automóveis; e Esportes, que ganha uma seção exclusiva. Continua na publicação o suplemento dominical Bazar & Cia, que reúne conteúdo sobre variedades, moda, comportamento, turismo, cultura, e agrega um encarte especial sobre tevê. O jornal ainda contará com um suplemento de Classificados e com o Correio Autos, que sai aos sábados. E, a partir de agora, será auditado pelo IVC.

O Correio* também anuncia mudanças em sua versão online, que contempla o leitor com notícias 24 horas, complementos multimídia (vídeos, áudios, fotos, infografias animadas), arquivo com as melhores reportagens publicadas, além de promover a interatividade entre o leitor e a redação, abrindo espaço para o conteúdo colaborativo.

Mariana Trindade, correspondente deste J&Cia na Bahia, entrevistou com exclusividade o diretor-executivo Luis Alberto Albuquerque sobre as mudanças do jornal e a expectativa da Rede Bahia com o novo produto. Abaixo, a íntegra da conversa.

J&Cia – Por que mudar o nome de um jornal que já tem quase 30 anos?

Albuquerque – A mudança da marca reflete a mudança do produto, que é radical, um produto totalmente novo. Para reforçar ainda mais a abrangência desta mudança, achamos que valia a pena mexer na marca e torná-la moderna. O asterisco não tem significado, é um elemento gráfico para modernizar a marca.

J&Cia – A Rede Bahia investiu R$ 15 milhões nas mudanças do Correio. Em quanto o grupo espera alavancar as vendas?

Albuquerque – Esse foi o custo total do projeto, que durou dois anos. Atualmente, vendemos 20 mil exemplares e esperamos chegar a 50 mil em curto prazo. Já para o lançamento nossa expectativa é muito boa. Esta é a nossa aposta: queremos a liderança no Estado. Não faz sentido para a Rede Bahia – o maior grupo de mídia do Nordeste – ter um produto que não seja líder. Temos a TV Bahia e a Rádio Globo FM, que estão em primeiro lugar; a Bahia FM, que está atrás da liderança. Então, no jornal também precisamos ter a ambição de liderança.

J&Cia – O jornal muda o preço de R$ 1,75 para R$ 1, de 2ª a sábado, e de R$ 2,50 para R$ 1,50, no domingo. Que público o grupo espera atingir com essa mudança?

Albuquerque – O jornal não será popular, ele continua sendo quality. Obviamente que a classe C vem crescendo muito, e é esta classe que tem volume suficiente para sustentar uma circulação maior de qualquer jornal; é uma classe que tem poder de consumo alto e que interessa aos anunciantes. R$ 1 é um preço justo e acessível aos leitores. O problema é que no Brasil jornal é muito caro. Então, nós buscamos, na equação geral do produto, ter o elemento preço bem resolvido.

J&Cia – O novo formato não contempla espaço para a cobertura do interior baiano. Vocês pretendem investir em sucursais?

Albuquerque – Em 24 Horas há espaço para a inclusão de qualquer conteúdo que seja relevante. Não pretendemos investir em sucursais porque já temos afiliadas das tevês no interior, que podem nos gerar conteúdo. Este é um diferencial da Rede Bahia. Temos uma presença forte em todo o Estado e vamos usar esse conteúdo para enriquecer o jornal com matérias do interior.

J&Cia – De todos os cadernos, por que o único que sobreviveu foi o Bazar, de domingo?

Albuquerque – Não é o mesmo Bazar. Visto hoje, é bastante diferente e agrega mais conteúdo. É um caderno de 24 páginas, um suplemento dominical. O nome é uma variação: Bazar & Cia. E nós resolvemos produzir esse caderno pois aos domingos temos uma característica diferente para o leitor, já que ele lê também pelo lazer. Agora, as outras colunas, a exemplo de Propaganda & Mercado, de Nelson Cadena, não é que foi extinta, mas será ainda avaliada.

J&Cia – Ainda haverá mudanças na equipe?

Albuquerque – A equipe já está mais ou menos no formato que esperamos que continue. O quadro de editores está fechado, está próximo do ideal.

Equipe – Foram várias as contratações e remanejamentos efetivados por Albuquerque no jornal. Acompanhe algumas delas:

• Linda Bezerra deixou a Chefia de Reportagem do Aqui Salvador para ser a editora de abertura;

• Gustavo Acioli, André Renato de Souza e Oscar Valporto, que chegaram no último mês e ainda estavam sem cargos definidos, serão respectivamente editor de Multimídia, editor de Arte e editor de Fechamento;

• Edvaldo Filho, que ocupava uma das vagas de editor da cobertura local, agora é o novo coordenador do núcleo 24 Horas. Ana Cristina Barreto, também editora de local, foi para a reportagem de 24 Horas. E para o mesmo núcleo foram contratados os repórteres Pedro Levindo e Juan Gilardi;

• No núcleo Mais, assume como coordenador Rodrigo Parra. Ele contará com o apoio dos editores do Aqui Salvador. Felipe Amorim foi contratado para reforçar o grupo;

• Em Vida, assume o cargo de coordenadora Ana Cristina Santiago, ex-chefe de reportagem de Economia. A edição, reportagem e os colunistas são compostos pelos jornalistas dos cadernos Folha da Bahia e Bazar;

• E por fim, a equipe de esportes ganha o reforço de Flávio Novaes (ex-Aqui Salvador) e dos recém-formados Pedro Caribé, Ângelo Amorim e Miro Palma.

(*) É jornalista profissional formado pela Fundação Armando Álvares Penteado e co-autor de inúmeros projetos editoriais focados no jornalismo e na comunicação corporativa, entre eles o livro-guia ‘Fontes de Informação’ e o livro ‘Jornalistas Brasileiros – Quem é quem no Jornalismo de Economia’. Integra o Conselho Fiscal da Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação e é também colunista do jornal Unidade, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, além de dirigir e editar o informativo Jornalistas&Cia, da M&A Editora. É também diretor da Mega Brasil Comunicação, empresa responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas.’

 

 

JORNALISMO
Carlos Chaparro

Faces e facetas de um jornalismo em crise (2), 26/8

‘Quem é jornalista?

O que é ser jornalista?

Antigamente era fácil responder às perguntas colocadas aí em destaque. O jornalismo-profissão estava sitiado nas redações, olhadas de fora como torres de poder quase inacessíveis. Eram as torres de um quarto poder que talvez jamais tenha existido, mas no qual se acreditava.

Jornalistas eram venerados como entes colocados acima do bem e do mal, para que neles se pudesse acreditar, e talvez por isso sejamos ainda tão arrogantes. Acreditava-se, também, que o jornalismo era o berço da atualidade, porque nas redações se reelaboravam as versões mais confiáveis da realidade. Dizia-se, até, que o jornalismo reelaborava os fatos, e acreditava-se nisso.

Nunca foi exatamente assim. Porque o jornalismo, linguagem narradora, e o jornalista, artista narrador, sempre dependeram das fontes. Jamais foram autores plenos e autônomos do seu discurso. E Marc Paillet me dá razão. Em 1976, no seu livro Le Journalisme, ele colocou o dedo nessa ferida, ao lembrar que nenhum jornalista tem contato direto e permanente com os fatos: ‘Ele se dirige, portanto, a informantes de primeira ou segunda mão: as fontes’.

Nesse tempo e nessa visão, as fontes eram apenas informantes. Testemunhas. E se ocultava dos leitores o entendimento de que atrás dos fatos sempre existe o sujeito autor, que os produz ou a eles reage.

***

Em 1976, quando Paillet escreveu aquelas coisas, a Internet ainda era apenas um vislumbre. Mas a caminhada da globalização estava em marcha acelerada, movida pelos cinco grandes eixos de progresso do pós-guerra, fortemente articulados entre si, em criativas imbricações de causa e efeito:

a) O eixo cívico-social, com a valorização do Homem-Cidadão, pela adesão ao tratado universal dos Direitos Humanos e comportamentos culturais decorrentes, e pela evolução das noções de civismo.

b) O eixo político-ideológico, com os mecanismos e a busca de consensos internacionais; a consolidação dos modelos de democracia representativa; a consagração do direito à informação como fundamento civilizatório; e, como decorrência, o surgimento e o crescimento de experiências e formas de democracia participativa, manifestada pelo agir político discursivo.

c) O eixo econômico, com a radicalização da lógica do mercado; o surgimento e fortalecimentos dos blocos regionais; e a energia consumista da expansão urbana.

d) O eixo tecnológico, com as novas capacidades criadas em todas as frentes da atividade humana; o surgimento dos satélites e os decorrentes avanços tecnológicos na área da comunicação, entre eles as fantásticas tecnologias de difusão facilitadoras da revolução comunicacional que alterou profundamente os conflitos e os ordenamentos humanos, graças às universais e múltiplas possibilidades de ‘dizer’ e ‘saber’.

f) O eixo ético, projetado na discussão cada vez mais ampliada e aprofundada em torno do ideal de um mundo regido por valores como Paz, Democracia, Liberdade, Solidariedade, Igualdade, Fraternidade, Justiça, Proteção Legal dos Direitos, Dignidade da Pessoa Humana e Dignidade do Trabalho – elos articuladores de uma argumentação universal de direitos humanos.

***

Existe, pois, um mundo novo, dentro e fora do jornalismo. Um mundo claramente diferente até daquele que a lucidez de Marc Paillet enxergava, com a sua visão crítica do jornalismo, em 1976. Mais diferente, radicalmente mais diferente, daquele que as nossas crenças elaboraram, quando o jornalismo era o venerado quarto poder da civilização moderna, e se acreditava nisso.

Daí, a repetição das perguntas que abrem o texto:

Quem é jornalista? O que é ser jornalista? – e acrescento mais duas, fundamentais:

– As fontes ainda são um objeto utilitário do jornalismo? Ou fazem hoje parte dele, como núcleo produtor de discursos e conteúdos?

– Se as fontes fazem parte do jornalismo, na função essencial da produção discursiva e de conteúdos, qual é hoje, então, e por onde se espalha e ramifica o espaço conceitual do jornalismo?

– E nesse espaço novo do Jornalismo, e novos papéis que lhe cabem, que função está reservado à mediação jornalística das redações tradicionais?

Proponho que pensemos nessas questões por alguns dias. Para na próxima semana voltarmos ao assunto, tentando destrinchar a complexidade das respostas.

(*) Manuel Carlos Chaparro é doutor em Ciências da Comunicação e professor livre-docente (aposentado) do Departamento de Jornalismo e Editoração, na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, onde continua a orientar teses. É também jornalista, desde 1957. Com trabalhos individuais de reportagem, foi quatro vezes distinguido no Prêmio Esso de Jornalismo. No percurso acadêmico, dedicou-se ao estudo do discurso jornalístico, em projetos de pesquisa sobre gêneros jornalísticos, teoria do acontecimento e ação das fontes. Tem quatro livros publicados, sobre jornalismo. E um livro-reportagem, lançado em 2006 pela Hucitec. Foi presidente da Intercom, entre 1989-1991. É conselheiro da ABI em São Paulo e membro do Conselho de Ética da Abracom.’

 

 

TELEVISÃO
Antonio Brasil

Desafios e promessas da TV digital, 25/8

‘Mais uma vez, este foi um dos principais temas do V Fórum Internacional de TV Digital, promovido pelo Instituto de Estudos de TV que aconteceu aqui no Rio, na última sexta 22/08 (ver aqui).

Com a presença de muitos profissionais de TV, além de estudantes e professores, o fórum foi um enorme sucesso. Foram analisados dados sobre o primeiro ano da implantação da TV Digital e discutidas as possibilidades e desafios da mobilidade e interatividade no Brasil.

Tive o privilégio de mediar algumas mesas de debate e em meio a tantas discussões técnicas muito complexas, não pude evitar a impressão de que poucos realmente conhecem as diferenças e benefícios dessa nova tecnologia.

Tentei imaginar como poderia explicar de maneira simples e objetiva o que é essa tal TV digital e quais seriam as novidades e benefícios que poderíamos aguardar dessa importante inovação tecnológica. Afinal, o que poderemos esperar da TV digital brasileira?

TV vira computador

Parece tarefa fácil, mas não é. Ouvimos muito falar da TV digital, mas poucos no Brasil conhecem ou já viram uma transmissão da TV do futuro. E ainda menos pessoas tentaram ou conseguem explicar de maneira simples como essa TV funciona ou como ela vai afetar a vida dos telespectadores.

Já entramos nessa ‘canoa’ e agora esperamos que não seja mais uma canoa ‘furada’, tão comum na nossa história. TV digital não é uma unanimidade. Há controvérsias sobre seus perigos e benefícios. Muitos pensadores dizem que a TV digital não passa de uma ‘sobrevida’ para a velha e talvez ‘moribunda’ televisão. Um produto da ‘guerra fria’, um meio de comunicação poderoso, pouco democrático, onde poucos aparecem e falam e muitos só assistem e desistem de participar da vida real.

Para eles, da forma como a conhecemos, a TV já estaria com seus dias contados. Deve-se tornar algo muito diferente. Algo que ainda não conhecemos e que sequer conseguimos imaginar. Mas uma coisa parece certa, nada será como hoje.

De forma otimista ou pessimista, agora temos que encontrar uma utilidade para essa nova tecnologia. Temos que encontrar um rumo seguro e útil que nos leve a esse novo e inevitável mundo digital. Vamos tentar explicar.

TV radinho de pilha

Em primeiro lugar, ao contrário da evolução natural do rádio para a TV, ou seja, a inserção de imagens em programas radiofônicos ou a introdução das cores na televisão preto e branco, mudanças naturais na evolução do meio em direção ao mundo real, explicar às pessoas a diferença entre o presente ‘analógico’ e o futuro digital é muito mais difícil. Não é algo simples ou natural.

Implica, sim, explicar conceitos bem mais complexos que diferenciam o mundo analógico do mundo digital. De maneira simples, creio que podemos dizer que a televisão que temos hoje, a velha TV analógica, caminha em direção ao mundo da informática e dos computadores. Assim como deixamos o mundo limitado da máquina de escrever, hoje vivemos com os laptops e notebooks.

Caminhamos rumo ao mundo digital. A televisão deixa de ser um aparelho de reprodução simples, lógica ou melhor dizendo analógica, e vai virar algo bem mais complexo. Vai virar um computador.

Mas em um mundo cada vez mais digital, poucas pessoas compreendem a diferença entre a realidade analógica e as promessas dessa realidade digital. Sabem que hoje tudo que é moderno, que tem cara de futuro e que custa mais caro tem que ser…’digital’. Relógio, telefone, rádio ou câmera fotográfica para ser bom e moderno tem que ser digital.

Mas qual seria a principal diferença entre o analógico e o digital? A principal diferença estaria na maior qualidade da reprodução digital em relação à reprodução analógica. Ou seja, um CD, disco compacto digital, tem uma reprodução de som melhor, mais próxima da realidade do que disco de vinil ou fita cassete. São velhos sistemas de reprodução de áudio analógicos.

Em relação à combinação de som e imagens, temos a reprodução analógica de fitas em VHS para os benefícios considerados superiores do DVD, Disco de Vídeo Digital. Podemos entender e esperar imagens e sons melhores dos sistemas de DVD. Até aí, tudo bem.

Mas além dessa melhoria ‘lógica’ de qualidade de som e imagem, algo que já esperávamos e contávamos como mera questão de tempo, agora também seremos contemplados com uma série de benefícios que não esperávamos numa televisão. Uma TV digital vai fazer coisas que uma TV analógica não faz.

Para mim, a grande diferença está na mobilidade e portabilidade. Explico. Assim como o transistor transformou o velho rádio em algo novo, o pequeno, móvel e portátil radinho de pilha, a TV digital deve criar um meio igualmente novo e pleno de surpresas.

Estamos diante das promessas e desafios de uma TV que pela primeira vez vai nos acompanhar o tempo todo em todos os lugares. Uma TV muito mais amiga e companheira de todas horas.

Para mim, a grande diferença dessa nova TV não é a melhoria de imagem e som, ou seja, a mesma televisão de sempre com alta definição ou cara de cinema. Mas uma TV com jeito de radinho de pilha. Uma TV que nos acompanha em lugares que nunca imaginamos. Em casa ou fora dela, a TV se confunde com o celular. Esse novo e poderoso aparelho, além de receber e transmitir voz, também recebe e transmite, repito, transmite ao vivo imagens de TV em suas próprias redes ou pela Internet.

Ou seja, a verdadeira TV digital já existe. Pode não estar nos grandes e caríssimos monitores de alta definição. Ela já pode estar diante dos seus olhos e ouvidos, no seu celular ou na Internet.

TV e Internet

E o V Fórum Internacional de TV Digital? Em 2008, a grande novidade foi a apresentação de Keith Clarkson – Produtor-Executivo da XENOPHILE MEDIA. Ele mostrou as novidades interativas da TV digital no Canadá com muitos dados e vídeos. Foi absolutamente simples e fantástico.

Falou de novos projetos que convergem a velha narrativa linear da TV analógica com os recursos digitais interativos da Internet. A sua empresa promove os shows e minisséries produzidos com fóruns de discussão (chats) com a participação de jovens telespectadores. Eles hoje também são internautas e recebem prêmios, criam e utilizam videogames online com temas dos programas de TV e produzem vídeos simples e interativos para serem distribuídos no YouTube.

Os canadenses não brigam ou disputam espaço com a rede. Eles se utilizam de seus recursos digitais para promover seus bons produtos analógicos. Fazem a mesma TV de sempre com o apoio dos recursos digitais da Internet.

As idéias apresentadas por Keith Clarkson durante o fórum são tão simples, baratas e factíveis que ainda nos chocam e surpreendem. Nada de extraordinário ou complicado. Nada muito digital. Programas bem produzidos para TV com o apoio dos recursos interativos da Internet.

Nada daqueles sonhos ou delírios interativos de histórias produzidas pelos espectadores com intervenções no desenvolvimento do conteúdo. Nada muito futurístico ou digital. Como toda boa idéia, tudo é muito simples e possível.

Para Keith Clarkson, ‘o grande segredo da TV, analógica ou digital, ainda é… saber contar uma boa história. E isso é coisa para profissionais talentosos e competentes’.

Tudo a ver.’

 

 

 

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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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