Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Concessões suspeitas continuam nas manchetes


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Globo


Segunda-feira, 3 de julho de 2006


OPUS DEI EM AÇÃO
Carlos Alberto Di Franco


Heróis e santos


‘O escritor britânico Paul Johnson é um dos grandes historiadores e intelectuais da atualidade. Articulista das revistas ‘Forbes’ e ‘The Spectator’, seus textos são um convite à reflexão. Dono de uma cultura fabulosa e de uma sinceridade cortante, Johnson não sucumbe aos clichês politicamente corretos. Em recente entrevista à revista ‘Veja’, ao falar sobre o próximo livro de sua trilogia, ‘Os heróis’, Paul Johnson vai ao cerne da crise mundial.


‘Os heróis’, diz Johnson, ‘inspiram, motivam’ (…) ‘Eles nos ajudam a distinguir o certo do errado e a compreender os méritos morais da nossa causa.’ E ao citar os heróis do Ocidente, destaca, na Igreja Católica, o Papa João Paulo II. De fato, Karol Wojtyla assumiu uma igreja dilacerada pela turbulência provocada por equivocadas interpretações do Concílio Vaticano II. Curtido na contradição de sua sofrida Polônia, era um especialista na luta contra as ambigüidades. Coube-lhe a histórica missão de separar o joio do trigo e a difícil, mas bem-sucedida, tarefa de aplicar a autêntica renovação propugnada pelo Concílio Vaticano II.


Os comentários de Johnson e a figura de João Paulo II trazem à minha memória um livro que exerceu forte influência no rumo da minha vida: ‘Caminho’. Seu autor, São Josemaria Escrivá, cuja festa a Igreja celebrou no dia 26 de junho, foi um apaixonado mestre da busca da santidade no trabalho profissional e nas atividades cotidianas. É o santo dos nossos dias. Propunha, com ousadia, ‘materializar a vida espiritual’. Queria afastar os cristãos da tentação ‘de levar uma espécie de vida dupla: a vida interior, a vida de relação com Deus, por um lado; e por outro, diferente e separada, a vida familiar, profissional e social, cheia de pequenas realidades terrenas’. O cristianismo encarnado nas realidades cotidianas: eis o miolo da proposta de São Josemaria. Pois bem, no ponto n 301 de ‘Caminho’, um best-seller da literatura espiritual, encontrei, há bastante anos, uma chave importante para a interpretação da vida e da História: ‘Um segredo. – Um segredo em voz alta: estas crises mundiais são crises de santos. Deus quer um punhado de homens ‘seus’ em cada atividade humana. Depois… pax Christi in regno Christi – a paz de Cristo no reino de Cristo.’


O pensamento de São Josemaria Escrivá, apoiado numa visão transcendente da vida, consegue, de fato, captar plenamente a contextura humana e ética dos acontecimentos. Ele tem, no fundo, a terceira dimensão: a religiosa e moral, e só com essa lente é possível entender o mundo em que vivemos. Na verdade, o esgotamento do materialismo histórico e a frustração do consumismo hedonista prenunciam um novo perfil existencial. O futuro, por paradoxal que possa parecer, será marcado por um resgate do verdadeiro humanismo. O mundo está sedento de liberdade, mas nostálgico de certezas.


Certezas que entusiasmam multidões, mas provocam descargas de bílis nos que vivem de mal com a vida. Recordo-me de um episódio exemplar. Há anos, Christopher Hitchens, então editor do Canal 4 da televisão britânica, num programa sensacionalista e de ranço panfletário, investiu contra Madre Teresa de Calcutá. O perfil da religiosa, provavelmente escrito num pub londrino, entre um scotch e outro, era uma impressionante combinação de ódio represado, marketing de escândalo e temor agressivo.


‘Numa época de ceticismo e ateísmo, parece inevitável que as pessoas adorem os altruístas’, comentou com desdém Christopher Hitchens. Adorem ou odeiem, digo eu. Afinal, num mundo à deriva, dominado pelo culto ao prazer, a caridade, genuína e límpida, escandaliza. No ataque à frágil anciã, caro leitor, aparecia a mordida do sectarismo. Hitchens e seus seguidores de hoje não suportam a coerente sinceridade dos heróis e dos santos.


A santidade assusta e incomoda. Desnuda a nossa mesquinhez. É sempre um acicate. Mas a santidade também atrai. Madre Teresa, pobre e desvalida, deixou um magnífico exemplo de doação e um indelével rastro de bondade. O editor britânico, refém do seu sectarismo, ficou reduzido a um registro na história do jornalismo de escândalo. E nada mais. São Josemaria Escrivá acertou no cravo: ‘Estas crises mundiais são crises de santos.’


CARLOS ALBERTO DI FRANCO é diretor do Master em Jornalismo.’


PIRATARIA
Martha Beck


Pirataria atinge empresas brasileiras no exterior, prejudicando as vendas


‘BRASÍLIA. O destaque que muitas empresas brasileiras conquistaram no exterior ajudou a melhorar o saldo da balança comercial, mas há um lado negativo. Essas empresas têm sido alvo dos mais diversos tipos de pirataria. A estratégia dos aproveitadores é registrar marcas nacionais em outros países, impedindo que empresários brasileiros vendam seus produtos para esses mercados. Outra prática cada vez mais comum é a de registrar nomes de empresas como domínios de internet (endereços na rede). Nesse caso, o golpe é tentar fazer com que os empresários paguem para recuperar o domínio.


Um caso recente foi o da Editora Globo, que teve o domínio ‘editoraglobo.com’ registrado por um coreano. A empresa recorreu à Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi) e, depois de quatro meses, ganhou o processo no mês passado.


– O provável objetivo do empresário coreano era vender o domínio para a Editora Globo. É isso que acontece em 90% dos casos desse tipo – afirmou o advogado Luís Edgar Pimenta, do escritório Montaury Pimenta, Machado & Lioce, que trabalhou no processo.


Pimenta disse que a prática é altamente prejudicial às empresas, especialmente as que atuam em outros países, pois muitos consumidores que buscam contato pela internet esquecem do endereço com final ‘br’ e digitam o nome da empresa com o final ‘ponto com’.


– É um problema comum não só no Brasil. Por isso, os países vêm discutindo governança na internet e formas de identificar quem está aproveitando a rede para fazer pirataria – afirmou o secretário de Política de Informática do Ministério de Ciência e Tecnologia e coordenador do Comitê Gestor da Internet, Augusto Gadelha.


No caso da pirataria com marcas, um dos casos mais famosos é o da fábrica de biquínis Salinas, que ficou cerca de quatro anos sem poder vender para o México, porque seu nome foi registrado naquele mercado. E os piratas vendiam as roupas como se fossem da Salinas.


– Não existe como se proteger totalmente. A única medida que as empresas podem adotar é registrar rapidamente suas marcas nos mercados em que querem atuar – alertou o presidente da Associação Brasileira da Propriedade Intelectual, Gustavo Leonardos.


Flamengo teve o nome registrado no Paraguai


Um dos casos que mostram os riscos que as empresas correm foi o da Minasgás. Segundo Luís Edgar Pimenta, um botijão com o nome da empresa explodiu no Paraná há cerca de quatro anos e feriu uma pessoa. A Minasgás foi acionada e decidiu investigar o ocorrido: o produto era pirata.


– Era um botijão fabricado no Paraguai por uma empresa que havia registrado o nome Minasgás lá – disse Pimenta.


Até o Flamengo foi vítima desse tipo de crime. O nome foi registrado no Paraguai como marca de cigarros, mas foi recuperado pelo clube depois de um processo no país vizinho. Já a Osklen e a Taco estão pirateadas na Argentina.’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 3 de julho de 2006


CONCESSÕES SUSPEITAS
Gerusa Marques e Rosa Costa


Miro propõe não dar posse a sócios de rádio e TV


‘O deputado e ex-ministro das Comunicações Miro Teixeira (PDT-RJ) acredita que a única forma de identificar quem tem concessões de rádio e de televisão em nome de ‘laranjas’ ou burlando as normas da lei é a de tornar a mentira ‘altamente punível’ na vida pública. No caso dos parlamentares, Miro sugere que, antes de serem diplomados, eles respondam a um questionário sobre sua situação e a de familiares em relação à posse de cotas ou ações de rádio ou TV.


‘Que todos respondam em bom português se participam de alguma forma diretamente ou não dessas empresas’, propõe. Os que mentissem, pela proposta, teriam o mandato cassado. Ele derruba o argumento de políticos que alegam não ter lucros financeiros com rádios e TVs: ‘Têm sim. O uso é político e isto compensa. Como o parlamentar não pode dirigir, põe terceiros na direção, mas na prática quem manda é ele.’


Pelo menos 50 deputados têm interesse pessoal no assunto, uma vez que são donos de emissoras de rádio ou televisão, conforme reportagem publicada ontem pelo Estado. Cerca de 25 senadores também seriam donos de emissoras. Entre eles, os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), José Sarney (PMDB-AP), Garibaldi Alves (PMDB-RN) e Tasso Jereissati (PSDB-CE).


Miro diz que o quadro seria pior se não fosse a ação do Ministério Público. Conta ter ajudado o MP, quando comandou as Comunicações, de janeiro 2003 a janeiro de 2004, a investigar ‘dois ou três’ escritórios que controlam o mercado paralelo de licitações. ‘São estruturas preparadas para ganhar licitações e vendê-las em seguida com documento de gaveta, já que a transferência legal só pode se dar após cinco anos de posse.’


O maior controle sobre a concessão de emissoras para políticos passa necessariamente pela regulamentação da Constituição. A solução, no entanto, não é simples. Para que novas regras de comunicação de massa entrem em vigor, elas têm que obrigatoriamente ser aprovadas por deputados e senadores.


PROIBIÇÃO


A Constituição de 1988 proíbe que deputados e senadores detenham concessão de rádio e TV, mas essa proibição teria de ser detalhada para facilitar o cumprimento da lei, avalia Celso Schroder, que integra o Conselho de Comunicação Social do Congresso, representando a categoria dos jornalistas. ‘O problema é que a Constituição não foi regulamentada e não temos instrumentos para implementar essas decisões. Isso é ruim para a política e péssimo para a comunicação’, diz.


O debate, segundo ele, poderia ser proposto pelo Executivo, na discussão da Lei de Comunicação Eletrônica de Massa. Mas o assunto já se transformou em tabu no governo. O ex-ministro das Comunicações Sérgio Motta chegou a trabalhar, há cerca de dez anos, para fazer essa lei, com novas regras para o setor de radiodifusão. Mas esbarrou em diversos lobbies e a proposta não foi enviada. Seus sucessores Pimenta da Veiga e Juarez Quadros também elaboraram minutas que não foram adiante.


A nova lei vai carregar o peso da regulamentação da TV digital e não há nenhum sinal de que o atual governo vá dar andamento ainda neste ano. Essa iniciativa, segundo Schroder, poderia partir de um parlamentar. ‘Mas a verdade é que todos os projetos que tratam da comunicação são engavetadas, porque os nossos congressistas não querem legislar sobre seus negócios.’ E completa: ‘Só há uma maneira: temos que construir um movimento de pressão.’


Esse problema foi detectado já na Assembléia Constituinte, quando 46 parlamentares eram donos de emissoras. Um cruzamento de informações, segundo o conselheiro, poderia ser feito periodicamente pelo Ministério das Comunicações e não exigiria sofisticação. Bastaria investigar os livros das empresas.


Schroder diz que alguns parlamentares não aparecem nesses registros, porque usam testas-de-ferro, ‘mas muitas vezes colocam as rádios no nome da mulher ou do filho’. Para ele, as concessões viraram moeda de troca muito valiosa politicamente, gerando uma ‘promiscuidade’ entre os meios de comunicação eletrônica e a política.


PRAZO


A assessoria do Ministério da Comunicações disse ontem que já encaminhou ao Ministério Público Federal as informações solicitadas sobre parlamentares que detêm concessões de rádio e TV, mas não revelou os dados. O prazo acabaria hoje. Ainda segundo a assessoria, o ministro da Comunicações, Hélio Costa, que aparece na lista dos parlamentares, como sócio-cotista da rádio FM ABC de Barbacena (MG), se desligou da emissora.’


Lucinéia Nunes


Suplicy quer que Senado discuta as concessões


‘O senador Eduardo Suplicy (PT) considera imprescindível que haja uma resposta ao desrespeito ao artigo 54 da Constituição de 1988, que proíbe deputados e senadores de deter concessão de rádio e TV. No artigo 55, a Constituição prevê a perda do mandato do congressista que desobedecer a qualquer uma das proibições do artigo 54. ‘Se for constatado efetivamente que senadores e deputados detêm essas concessões, cabe a nós propor uma solução para que isso seja corrigido à normalidade’, afirma Suplicy.


‘Não tinha conhecimento da extensão do descumprimento da lei, que só veio à luz com essa pesquisa tão bem feita por pesquisadores da Universidade de Brasília’, diz o senador. ‘O fato de parlamentares controlarem meios de comunicação significa uma influência muito grande na linha editorial, favorecendo seus segmentos políticos e dificultando o livre exercício da democracia. O artigo foi criado justamente para preservar o direito à liberdade de expressão.’


De acordo com Suplicy, os senadores devem propor ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que estabeleça um prazo com bom senso – talvez de 30 dias -, para que essa irregularidade seja corrigida. E depois verificar se os parlamentares realmente se desligaram das emissoras de rádios e TV.


Na opinião do senador Tião Viana (PT-AC), após a reportagem publicada ontem pelo Estado, a questão precisa ser apurada a fundo. ‘Teríamos de verificar quando esses parlamentares adquiriram as concessões, se foi antes ou depois de 1998, e cobrá-los por isso. Com certeza haverá uma manifestação da bancada do Senado’, garante Viana.’


TV DIGITAL
Maurício Moraes e Silva


Alta definição, interatividade e mobilidade: bem-vindo à TV digital


‘Quando você começar a assistir a uma transmissão de TV digital, a primeira diferença que vai notar será a qualidade perfeita da imagem e do som. Depois, ao zapear com o controle remoto, perceberá uma quantidade bem maior de programas exibidos simultaneamente. E poderá até levar um susto ao ver uma pergunta pular na tela, bem no meio de uma novela: ‘Você quer que o júri condene ou inocente Maria do Rosário no próximo bloco?’.


Quem estiver estudando para o vestibular poderá participar de um simulado ao vivo e conferir o resultado na hora, na tela do seu aparelho. Num outro canal, um programa sobre saúde apresentará um questionário para que você descubra se leva uma vida sedentária e, em seguida, indicará o local mais próximo onde consultar um médico. Ao se deslocar para lá, você assiste a um jogo de futebol no seu celular. Pode até parecer filme de ficção científica, mas muitas dessas idéias já foram testadas por pesquisadores brasileiros e poderão fazer parte do nosso cotidiano.


Acredite. Nem vai demorar muito. Após mais de uma década de discussões, pressões, muita polêmica e idas e vindas de dois governos, finalmente foi assinado o decreto que define como será a implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T). Em meados de 2016, a TV como conhecemos hoje estará extinta.


Depois que os governos brasileiro e japonês tiverem definido os últimos detalhes sobre o modelo e os estudos técnicos forem concluídos, as transmissões de TV digital vão começar oficialmente, pelas capitais. Em sete anos, o sinal deverá cobrir todo o território nacional.


Para captá-lo, ninguém precisará mudar a antena do prédio ou da residência. Trocar de TV também não será necessário para ter acesso à maioria das inovações. Você poderá acoplar no aparelho um terminal de acesso, um conversor semelhante ao das operadoras de canais por assinatura.


O equipamento transformará o sinal digital em analógico e trará recursos de interatividade. Mas para exibir um dos grandes trunfos do sistema, as imagens em alta definição, só mesmo tendo em casa uma televisão hi-tech. Nesta edição, o Link explica o que vai mudar na sua telinha. Não troque de canal.’


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TV digital mudará canais e programas


‘Não é exagero dizer que a TV aberta brasileira mudará totalmente quando estiver no ar o sinal digital. Além de transmitir programas em alta definição – com uma qualidade superior à do DVD – e formato widescreen, similar ao das telas de cinema, as emissoras passarão a oferecer conteúdos interativos. Também poderão exibir um maior número de atrações no mesmo horário. O conteúdo dos canais vai mudar e o interior dos aparelhos de TV, também.


Em dez anos, quando a transição para o novo modelo estiver completada, a telinha que você vê hoje na sua sala parecerá uma peça de museu. E isso não vale apenas para os tradicionais aparelhos de tubo. Mesmo os modernos modelos com telas de plasma e cristal líquido (LCD) vão ficar desatualizados. Vá com calma, não precisa se desfazer de nada ainda. Num primeiro momento, sua TV poderá ser acoplada a um conversor (leia texto ao lado). Depois, você poderá decidir se valerá a pena trocá-la por outra.


O sinal digital deve começar a ser transmitido até o início de 2008, nas capitais e no Distrito Federal. Ao que tudo indica, o carro-chefe da estréia do sistema no Brasil será a alta definição (HDTV). Para aproveitar esse tipo de transmissão, que tem 1.080 linhas de resolução e formato widescreen (16:9), só mesmo com uma TV ultramoderna. As emissoras também vão poder optar por exibir seus programas com definição standard (SDTV), de 480 linhas, uma qualidade bastante semelhante à de um DVD.


Nos dois casos, o som poderá ser surround 5.1 e envolver o espectador que tiver um home theater. ‘A imagem não terá chuvisco, ruído ou fantasmas’, destaca o professor Gunnar Bedicks Jr., da Universidade Mackenzie, um dos pesquisadores envolvidos na criação do sistema de TV digital brasileiro. Já o sinal analógico, disponível hoje no País, está sujeito a uma série de interferências.


Enquanto algumas emissoras vão apostar em HDTV, outras poderão transmitir, ao mesmo tempo, quatro programas diferentes em SDTV. ‘Acho que o modelo vai ser flexível’, prevê o professor Guido Lemos, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), também envolvido nas pesquisas do sistema digital. A multiprogramação será possível porque a SDTV ocupa menos ‘espaço’ no sinal do que a HDTV. Isso permitirá escolher, por exemplo, entre um telejornal, um programa de auditório, um filme ou um documentário sem mudar de emissora.


OPÇÕES À MÃO


A interatividade ficará para uma segunda etapa. Com o controle remoto, será possível participar de votações e enquetes ao vivo, consultar a programação ou até mesmo descobrir o posto de vacinação mais próximo da sua casa. Por conta disso, em vez de ficar sentado no sofá apenas recebendo as informações que vêm da tela, cada telespectador passará a ter um papel mais atuante.


O conteúdo interativo chegará pelo ar, ‘empacotado’ com o áudio e o vídeo. Os terminais de acesso – aparelhos que fazem a conversão – ou as TVs com tecnologia digital incorporada saberão interpretar as informações e mostrá-las na tela. Para que os comandos teclados no controle remoto voltem à emissora, o governo terá de definir um ‘canal de retorno’. Em vários países onde a TV digital já existe, a opção mais comum é conectar os equipamentos a uma linha de telefone fixo e transmitir os dados por lá.


Dentro do sinal digital também haverá espaço para uma transmissão de qualidade mais baixa, destinada à exibição em telefones celulares e em outros aparelhos portáteis de tela pequena, como computadores de mão. Você poderá ir de um ponto a outro da cidade sem perder o seu programa favorito e não precisará pagar nada por isso. Essa será uma das características aproveitada do padrão japonês.


Por trás de muitas outras, porém, estarão os estudos feitos no País, que envolveram 79 instituições e cerca de 1.300 pesquisadores. Isso explica por que o modelo tem sido chamado de nipo-brasileiro. ‘Como raras vezes na história do Brasil, teremos a oportunidade de incluir nossas inovações’, destaca o professor Marcelo Zuffo, coordenador do Laboratório de Sistemas Integráveis (LSI) da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). ‘Não vamos depender de fora.’’


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TV por assinatura terá de passar por adaptações


‘Antes de o sinal da TV digital começar a ser transmitido no Brasil, as operadoras de TV por assinatura já ganharam um grande pepino para resolver. Para exibir os futuros canais das emissoras abertas com alta definição e interatividade, vão precisar trocar as caixinhas conversoras usadas nas residências de todos os seus assinantes. Tudo porque desistiram de esperar pela decisão do governo e resolveram entrar na era digital por conta própria.


Algumas empresas , por exemplo, resolveram adotar o padrão europeu (DVB) para oferecer os seus serviços e o conteúdo interativo – é o caso da TVA e da NET, em São Paulo. ‘Não podíamos esperar mais’, afirmou o diretor-executivo da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), Alexandre Annenberg. ‘Adotamos o sistema mais eficiente para nós. Não dá mais para reverter isso.’


Na opção pelo DVB, segundo ele, pesou muito o fator econômico. Como o sistema é adotado em mais de 50 países, o preço dos equipamentos saía mais barato. Agora, no entanto, a conta pode ficar cara. O padrão brasileiro definido na semana passada mistura tecnologia japonesa e nacional e, por isso, não vai ‘falar’ com os conversores das operadoras por assinatura. Conteúdos interativos, por exemplo, não seriam entendidos pelos aparelhos.


Dá para resolver esse impasse modificando as caixinhas – assim, poderiam receber tanto o sinal europeu como o brasileiro. ‘Esperamos ter equacionado isso antes que as TVs abertas comecem a transmitir em digital’, explicou o vice-presidente de Tecnologia da ABTA, Antônio João. ‘Teremos de mudar a caixa toda. Nossos estudos ainda estão bem no início.’ Uma das dúvidas é sobre quem vai pagar por isso. Podem ser as operadoras, mas os gastos também podem cair sobre os assinantes. ‘Ainda não está decidido’, disse João.’


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Fuja do vendedor ‘espertinho’


‘Agora que ocorreu o anúncio da TV digital, não vão faltar vendedores ‘espertinhos’ tentando empurrar aparelhos incríveis e prontos para o novo sistema. Se você entrar em uma loja e for abordado insistentemente com uma dessas ofertas, saia correndo. Nenhuma televisão à venda hoje no Brasil está preparada para aproveitar todas as funcionalidades do futuro padrão brasileiro – nem mesmo as mais modernas, de plasma ou LCD.


Como usa um sinal que carrega muito mais informações pelo ar e é totalmente diferente do analógico, a TV digital depende do desenvolvimento de novos equipamentos eletrônicos para funcionar. Hoje, mesmo os televisores topo-de-linha são fabricados com a tecnologia necessária apenas para receber as transmissões analógicas das emissoras. Nenhum deles carrega componentes capazes de decodificar as informações que vão garantir, por exemplo, a interatividade ou a alta definição.


Se você pretende comprar uma TV agora porque já quer ficar preparado para as futuras mudanças, melhor guardar o dinheiro e esperar mais. Dentro de cerca de um ano, as lojas começarão a vender pequenas caixinhas que permitirão a qualquer pessoa receber o sistema. Conhecido como terminal de acesso ou set-top box, esse pequeno aparelho receberá o sinal digital e o transformará em analógico. Assim, o televisor que você tem atualmente na sua sala – seja ele qual for – poderá exibir vídeo, áudio e conteúdo interativo.


Haverá diferentes tipos de set-top boxes à venda. Os mais baratos e com menos recursos devem sair por volta de R$ 270, enquanto os mais caros podem ficar na faixa dos R$ 750, de acordo com relatório do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), divulgado em fevereiro. A entidade consolidou no documento os estudos dos grupos de pesquisa de TV digital das universidades brasileiras, com o objetivo de ajudar o governo a tomar uma decisão.


Provavelmente os modelos mais simples de terminal de acesso serão capazes apenas de exibir imagens em definição standard (SDTV), de 480 linhas, e som estéreo. Já os mais incrementados permitirão alta definição (HDTV), com 1.080 linhas, som surround e recursos de interatividade. Se você tiver uma boa TV em casa, não é melhor economizar o dinheiro para comprar um conversor repleto de funcionalidades?


A outra opção será adquirir uma ‘televisão digital’, que virá com toda a parte eletrônica da caixinha já embutida. Mas os aparelhos só deverão chegar às lojas depois dos conversores. ‘De acordo com a análise do CPqD, o preço deverá ser 10% mais caro do que o dos equipamentos atuais’, acredita Benjamin Sicsú, diretor da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).


HDTV READY


Mas e os televisores que são comercializados com o selo HDTV Ready? Será que poderão exibir as imagens em alta definição? ‘Tem muita TV que recebe em 1.080 linhas, mas não apresenta’, destaca o pesquisador Domingos Kiriakos Stavridis, gerente do Laboratório de TV Digital do Laboratório de Sistemas Integráveis da Universidade de São Paulo (USP).


Conectados a um conversor, muitos desses aparelhos vão receber o sinal com 1.080 linhas, mas, na prática, exibirão na tela resoluções menores – como 720 linhas. Mesmo nos modelos que prometem mostrar 1.080 linhas isso não pode ser garantido, por questões técnicas. ‘Alguns vão funcionar, outros não.’ Melhor não se apressar. A TV digital já demorou mais de dez anos para sair: não custa nada aguardar um pouco.’


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Começa agora a fase do desenvolvimento


‘Assinado o decreto, agora o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T) entra na fase do desenvolvimento. Universidades, indústria eletroeletrônica e emissoras terão de, juntas, intensificar os testes e definir as características técnicas do modelo. Para que isso ocorra, será criado o Fórum SBTVD-T, uma entidade que reunirá representantes de cada um desses três grupos. Quando o trabalho estiver concluído, a nova tecnologia poderá finalmente deslanchar.


O prazo para que as transmissões oficiais comecem é de 18 meses, contados a partir das definições finais do Fórum SBTVD-T. Antes disso, porém, muita gente conseguirá assistir à TV digital se tiver a oportunidade de participar dos testes. ‘As primeiras transmissões em caráter experimental devem ocorrer num prazo de seis a nove meses’, prevê o presidente da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), José Inácio Pizani.


O processo de transição começará pelas capitais dos Estados e pelo Distrito Federal. Mais tarde, seguirá pelas cidades do interior do País. Em no máximo sete anos, todo o território brasileiro estará coberto pelo sinal digital. As transmissões analógicas continuarão a ocorrer até meados de 2016, quando o processo de migração para o novo sistema deve terminar.


Muito antes disso as emissoras terão de se estruturar para fazer programas em alta definição e interativos. ‘Isso é trabalhoso e exigirá investimentos pesados’, diz o diretor de tecnologia da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Telecomunicações (SET), Olímpio Franco. Algumas empresas, como a Globo, já gravam minisséries e grandes eventos em HDTV. Em até um ano e meio, é bem provável que já exista uma grade mínima de programação digital no horário nobre. A conferir.’


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No resto do mundo, uma mudança bem lenta


‘Embora a decisão sobre o sistema de TV digital tenha demorado mais de uma década para sair no Brasil, isso não quer dizer que o País esteja atrasadíssimo. Como envolve milhões de pessoas e muitos bilhões de dólares, a transição para essa nova tecnologia ainda não foi completada em nenhum lugar do mundo. Os padrões americano (ATSC), europeu (DVB) e japonês (ISDB) estão sendo adotados aos poucos, para que ninguém fique sem ver TV quando o sinal analógico terminar.


Nos Estados Unidos, depois de muita discussão no Congresso, a data marcada para que isso aconteça é 17 de fevereiro de 2009. Todo o processo começou a deslanchar em 1996, quando as emissoras ganharam um canal para dar início ao novo tipo de transmissão. Uma lei exigia que o sinal analógico terminasse quando 85% do território norte-americano estivesse coberto pelo sinal digital – o que estava previsto para o fim deste ano -, mas o receio de que muitas empresas não conseguissem cumprir o cronograma atrasou o prazo final. O padrão ATSC foi o primeiro a ser adotado no mundo.


Na Europa, o DVB começou a ser desenvolvido em 1993, mas só começou a virar realidade em 1997. Hoje adotado em mais de 50 países, tem seguido cronogramas diferentes em cada um deles. Suas características também mudam de acordo com a opção do governo local. No Reino Unido, o fim do sinal analógico ocorrerá em várias etapas, de 2008 – quando terminará nas áreas fronteiriças – a 2012.


Já o mais novo dos três sistemas, o ISDB, adotado pelo Japão, entrou no ar a partir de 2000, nas transmissões via satélite. O sinal terrestre passou a existir apenas em 2003. Por isso mesmo, ainda dá tempo de, quem sabe, algumas características sugeridas pelos brasileiros serem adotadas por lá.’


INTERNET
Ricardo Anderaos


Online é Melhor


‘Há tempos Jessica, uma empresária inglesa de 37 anos, vinha se desentendendo seriamente com o marido por causa das altas contas de telefone. Apaixonado por computadores e entusiasta da internet desde os primórdios da web, ele costumava ficar até altas horas da noite navegando e baixando arquivos pela rede. Por isso Jessica achou que contratar uma conexão de banda larga, que liga o computador diretamente à internet em alta velocidade e dispensa o uso do telefone, ajudaria a melhorar seu relacionamento de 15 anos com o marido. Puro engano.


Com o computador conectado 24 horas por dia, a situação piorou. Jessica se convenceu de que o marido estava viciado na internet. Mas uma noite, ao entrar repentinamente no escritório, percebeu de relance que ele estava baixando imagens pornográficas, antes que mudasse rapidamente de tela. Daí em diante começou a espioná-lo, e descobriu que ele era viciado mesmo. Não na internet, mas sim no consumo de pornografia online e na prática de sexo virtual com parceiras que conhecia pela rede.


‘Nós sempre desfrutamos de um relacionamento sexual bastante satisfatório. Nunca tivemos problemas nessa área. Por isso jamais suspeitei de nada’, declarou Jessica, que preferiu manter seu sobrenome em segredo em entrevista ao jornal britânico The Independent. Apesar de ter uma filha de 5 anos, ela acabou se separando após descobrir que o marido partiu para as ‘vias de fato’ com uma parceira de sexo virtual.


Jessica é apenas uma entre milhões de mulheres que vêm sofrendo as conseqüências da vida sexual secreta que seus maridos mantêm na internet. Uma pesquisa elaborada pela Nielsen NetRatings e divulgada pelo Independent on Sunday revela que mais de 9 milhões de homens britânicos visitaram websites pornográfios no ano passado.


Mas não são apenas eles que vêm usando a rede para saciar seu apetite sexual. O primeiro estudo em grande escala do sexo na internet no país mostrou que é entre elas que esse hábito cresce mais rapidamente. Em 12 meses, o número de britânicas que acessam sites pornográficos cresceu 30%, passando de 1 milhão para 1,4 milhão.


Outro dado importante desse estudo é que 40% dos casais britânicos com disfunções sexuais culpam a pornografia online por ao menos parte de seus problemas. A pesquisa também confirma a idéia de que os homens preferem os sites com fotos e vídeos, enquanto as mulheres usam salas de bate-papo para buscar parceiros para a prática de sexo virtual. E, ao contrário dos homens, as mulheres que consomem pornografia na rede tendem a ver essa prática como uma forma de traição a seus maridos e namorados.


Pat Jones, um treinador esportivo de 47 anos, disse ao jornal inglês que seu vício pelo consumo de pornografia online destruiu seus relacionamentos e o levou à beira do suicídio. ‘Foi na internet que minha obsessão pela pornografia realmente ganhou asas. Antes eu só tinha acesso ocasional a vídeos que meus colegas traziam para o trabalho.’


Ele acredita que existem mais viciados em sexo do que em álcool ou drogas, e que pouco a pouco essa doença começa a ganhar reconhecimento. Jones comparece semanalmente às reuniões da Sex and Love Addicts Anonymous, ou SLAA, uma espécie de Alcoólicos Anônimos do sexo. A organização foi criada em Massachusetts no ano de 1976 por membros do Alcoólicos Anônimos que não conseguiam discutir livremente seus problemas sexuais nas reuniões do AA. Seu website fica no endereço http://www.slaafws.org.


Por tudo isso não é de espantar outra revelação desse estudo: que metade das crianças britânicas já tropeçaram em vestígios de pornografia online enquanto procuravam ‘outras coisas’ na internet ou nos computadores de suas casas. Nada disso, obviamente, é privilégio britânico. Em nosso mundo globalizado as questões de comportamento relacionadas à tecnologia atingem a todos os países de maneira similar.


Um último aspecto na história de Jessica merece ser destacado: ninguém fica ‘viciado em internet’ pura e simplesmente. A rede é um meio. As pessoas podem ficar viciadas em atividades que desenvolvem por meio dela, como consumir pornografia, trocar músicas, jogar videogames, papear no MSN ou simplesmente trabalhar. Se você conhece alguém que coloca o computador na frente de seu relacionamento com outros seres humanos, tente conversar para saber a real razão de seu vício e ajudá-lo de fato.’


Pedro Dória


Realidade fictícia


‘Um dos sintomas do tempo é a confusão entre o real e o não real – a distinção entre verdade e mentira vai ficando mais tênue e, de certa forma, menos importante. Isso é particularmente óbvio no marketing viral. Antigamente, a propaganda se chamava propaganda, não fingia ser outra coisa, vinha nas páginas impressas com o ‘informe publicitário’ destacado. Agora, não: que nos livremos do empecilho de explicar o que é o quê.


Veja-se a história da banda Platinum Weird. Foi formada em 1974 pela dupla Dave Stewart e Erin Grace. Stewart foi ficar famoso mais tarde por conta doutro duo, com Anie Lennox, o Eurythmics. Grace, instável, inconstante, sumiu para nunca mais aparecer. Os traços desse trabalho preliminar podem-se sentir na carreira de Stewart desde então.


Platinum Weird, em sua curta carreira, mexeu com a vida noturna londrina. Tocou nas festas de Mick Jagger, causou impacto nos ex-Beatles George Harrison e Ringo Starr. Stewart e Grace eram mais que parceiros musicais: eram um casal intensamente apaixonado. E apenas recentemente é que ele conseguiu mexer com lembranças dolorosas para resgatar o trabalho.


Platinum Weird foi relançada, desta vez com Kara DioGuardi no lugar de Grace. O material promocional da banda tem um quê de incoerência: entre depoimentos do vocalista dos Stones e do baterista dos Beatles, com lembranças do que era aquela música na Londres dos 1970, estão testemunhos de Lindsay Lohan, Paris Hilton e Christina Aguilera. Explicam o quanto essa música mexe com elas.


Não faz o menor sentido, evidentemente. Mick Jagger e Christina Aguilera não são equivalentes. Um é dos maiores músicos do século 20; a outra é fabricação industrial. Jagger falando sobre uma dupla quer dizer algo. A opinião de Christina, de surpreendente, tem no máximo o fato de que – ora, pois – descobre-se que ela tem opiniões.


Tudo mentira. As músicas de Platinum Weird foram compostas por Stewart e DioGuardi, a banda é um produto cuidadosamente embalado, produzido em laboratório, jamais teve vida independente no submundo londrino das festas regadas a drogas e orgias.


A história espalhou-se pela internet mas não colou por muito tempo. A tática vem de há alguns anos, quando para o lançamento do filme A bruxa de Blair espalhou-se a história de que era um documentário real. Já havia expectativa pelo filme antes mesmo de chegar às telas. Na época, era engraçado, curioso, novo, inusitado e feito intuitivamente porque ninguém tinha dinheiro para investir em propaganda.


No caso de Platinum Weird é feito com fortunas, tem Mick Jagger e Ringo Starr mentindo e nem sequer colou. Os blogueiros sacaram que não fazia nenhum sentido ver dinossauros do rock e loirinhas bonitinhas do pop dando o aval para a mesma coisa.


A propaganda viral que inventa um passado pode parecer até arte contemporânea para uns, mas é ruim. Primeiro porque não revela o que é: é propaganda, não informação. Talvez Mick Jagger não se preocupe muito com sua credibilidade – é um rebelde faz 60 anos e não tem que provar nada para ninguém. Mas por que confiar em seu aval no futuro?


Esse tipo de campanha que mistura verdade e mentira está aproveitando de uma confusão que não surgiu na internet. As páginas das revistas de celebridades estão recheadas de mentira. A atriz da novela não vive naquela casa: a colcha foi providenciada, os móveis não brilham daquele jeito. No dia-a-dia é uma casa comum.


Nas campanhas políticas, aqui e lá fora, as questões relevantes são cuidadosamente esvaziadas no período eleitoral para que um ideal de homem apareça. Esse ideal vira notícia, mas o homem não é aquele. Aquela imagem é uma mentira que um publicitário com muitas pesquisas criou para que colasse com o que espera a maioria dos eleitores. Não quer dizer que seja mau candidato – apenas que, na tevê, não é ele.


Vivemos este momento em que ninguém acha estranho fazer uma campanha que parta da invenção de uma mentira para vender música. É porque tem lá sua graça enganar os outros. E o público, quando descobre, também acha graça de ter sido enganado. No entanto, esse pouco-caso com a diferença entre verdade e mentira e essa disposição de enganar e de ser enganado diz algo ruim a respeito de quem somos.’


PUBLICIDADE
Carlos Franco


Aposta no inusitado é forma de se destacar


‘Num mundo onde a disputa pelos consumidores é cada vez mais intensa, as estratégias de marketing convencionais já não são suficientes para garantir espaço no mercado. ‘É essencial para uma marca ter uma percepção de que é arrojada, moderna e que está ao lado do consumidor’, diz o diretor de marketing da General Motors do Brasil, Samuel Russel.


‘Estratégias inusitadas contaminam o consumidor, ajudam nas vendas e na identidade dos produtos.’


Essa aposta no inusitado vem se tornando quase uma regra entre as empresas. Na Europa, a alemã Adidas convidou pichadores para pintarem grandes outdoors espalhados nas principais cidades do continente. O nome da empresa quase não aparecia nos painéis. Depois, os desenhos foram parar nos tênis da empresa. A Adidas também passou a vender, junto com tênis brancos, tintas para que os compradores pudessem personalizar os produtos.


Para o presidente da Adidas, Erich Stamminger, foi uma forma que a empresa encontrou de ficar mais próxima do consumidor. Stamminger – que recebeu no Festival Internacional de Publicidade de Cannes o prêmio de anunciante do ano para sua empresa – diz que o investimento em publicidade é a essência dos bens de consumo, é o que faz com que eles se diferenciem um do outro.


Segundo ele, todas as estratégias da empresa estão voltadas para o conceito de que ‘nada é impossível’, e isso se reflete na publicidade. A Adidas surpreendeu na Copa do Mundo da Alemanha ao fazer no teto de uma estação de trem em Colônia uma pintura inspirada na Capela Sistina. Porém, no lugar de anjos , jogadores de futebol como o alemão Ballack e o brasileiro Kaká – garotos-propaganda da empresa.


Thomas Welkop, presidente da GoViral, empresa americana especializada em marketing viral – que se espalha mais pelo boca a boca que pelos canais tradicionais – , diz, contudo, que estratégias não convencionais são uma verdadeira loteria. ‘Algumas dão resultado, outras nem tanto. Tudo depende de como se conquista o consumidor para que ele faça parte do jogo.’


Ricardo Figueiras, diretor da Agência Click e que foi jurado da categoria Cyber Lions em Cannes, diz que as empresas têm se voltado cada vez mais para a internet na hora de chamar a atenção para seus produtos de forma não convencional. Mas, para ele, o uso em demasia dessa estratégia acaba por tirar o impacto.


O presidente da Adidas, porém, está certo de que esses investimentos, ao lado de idéias absolutamente simples, é que fazem a diferença. O próprio festival de Cannes chegou a essa conclusão ao premiar este ano, na categoria Titanium, projeto de designers japoneses intitulado ‘Design Barcode’. Trata-se de variações criativas em torno do código de barras. A idéia é que o código de barras, presente em qualquer produto, também se transforme em uma mídia: num produto infantil, pode vir o desenho de um castelo; em xampus, os fios de cabelos revoltos. ‘É simples, muito simples, mas o código de barras existe há mais de duas décadas e ninguém antes havia feito nada para torná-lo um espaço mais atraente’, disse Rusell.


Essas pequenas interferências são um dos desafios da propaganda hoje. Joanne Bradford, executiva da Microsoft, e Wenda Milard, do Yahoo, que participaram dopainel em Cannes sobre o futuro da propaganda, acham que a mensagem hoje pode estar em qualquer lugar. ‘Com a internet, ficou mais fácil levar a informação a todos os cantos’, disse Joanne. ‘Mas quem a espalha mesmo é o usuário, e ele só faz isso quando acredita na mensagem.’’


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Crescimento menor na propaganda


‘A Universal McCann, que calcula os gastos com publicidade nos EUA, reduziu suas estimativas de crescimento desses gastos para este ano. Agora, segundo Robert J. Coen, vice-presidente da empresa, a previsão é que os gastos com propaganda cresçam 5,6% em relação a 2005. A previsão anterior era 5,8%. Coen atribuiu essa redução ao contínuo enfraquecimento da demanda por anúncios na mídia local, junto com a também fraca demanda dos anunciantes nacionais em mídias como os jornais. Para ele, um dos maiores problemas é o desaparecimento de varejistas locais, comprados pelas grande redes.’


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Os erros e acertos do marketing


‘As receitas de dois especialistas, ilustradas com casos que mostram erros e acertos de empresas na área de marketing, estão reunidas em Gestão do Composto de Marketing (344 páginas, R$ 59,00), um lançamento da Editora Atlas (www.editoraatlas.com.br). Os autores são André Torres Urdan, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo e Flávio Torres Urdan, professor da Faculdade de Economia da USP. O marketing de uma empresa, segundo eles, deve ter uma visão integrada de produto, preço, distribuição e comunicação.’


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Cultura perde verba


‘R$ 8 milhões é o buraco que causará ao caixa da TV Cultura o corte de 17% na verba que o Governo do Estado de São Paulo destina à Fundação Padre Anchieta (FPA). O cálculo é do presidente da casa, Marcos Mendonça, que distribuiu comunicado interno para explicar a crise do momento.


Em entrevista ao Estado, Mendonça endossou especialmente um dos 11 itens do comunicado: aquele em que questiona os critérios do governo federal sobre a distribuição da verba publicitária oficial. Nas suas contas, a Cultura recebeu este ano R$ 300 mil (ou 0,0003% dos R$ 888,4 milhões gastos pelo governo federal em publicidade). Em 2004, a Cultura recebeu R$ 1,4 milhão e em 2002, ainda na era FHC, R$ 3 milhões. Perguntado se a redução seria obra de rixa partidária entre PSDB e PT, Mendonça tucaneia. ‘Estamos questionando o governo federal sobre os critérios, que eu não sei quais são’, diz.


Sobre os pagamentos atrasados, rebate que ‘os salários’ de funcionários estão em dia, mas admite que ‘problemas no fluxo do caixa’ possam causar, no momento, atraso no pagamento de colaboradores – o que efetivamente vem ocorrendo.


RedeTV! terá programa sobre eleições


Sem Copa, a RedeTV! já pensa em eleições. Com o slogan ‘Vote Certo! Eleições 2006’, a emissora começa a listar todos os candidatos à Presidência para participar de um novo programa da casa. A RedeTV! não sonha com debate, evento já revindicado por Band e Globo nas agendas dos candidatos, mas quer dar um programa solo a cada um e a chance de respostas em tempo real.


No quesito estética, o jornalismo da RedeTV! prevê outras novidades em cenários e vinhetas, inclusive para os programas de esporte.’


Heleni Felippe, Jane Dias


‘Big Brother’ no mar mais hi-tech em 2008


‘Tecnologia de ponta em veleiros muito velozes – daqueles que planam no mar – em uma regata de volta ao mundo mais globalizada. O plano foi anunciado pelo CEO da Volvo Ocean Race, Glen Bourke, ao fim da edição 2005/2006 da prova, em junho, em Gotemburgo, Suécia.


Países da Ásia (China ou Japão), do Oriente Médio e um porto da costa oeste dos Estados Unidos devem ser incluídos no roteiro da volta, que largará de Alicante, Espanha, em novembro de 2008.


A idéia é aumentar ainda mais a audiência de TV, estimada em 2 bilhões de pessoas, em 200 países, nos oito meses da edição de 2005/2006.


A volta ao mundo – que teve calmaria, ventos fortes, ondas gigantes, calor, frio e até barco afundado e morte do tripulante holandês Hans Horrevoets – é um grande desafio esportivo para o homem e a tecnologia. ‘A tecnologia funcionou bem, no barco e em terra. A comunicação se fez muito ativa’, resumiu Ricardo Ermel, diretor de Tecnologia do Brasil 1, o primeiro barco nacional nos 33 anos da regata – terminou em terceiro, resultado ‘muito especial’, segundo o comandante Torben Grael, para uma tripulação de medalhistas olímpicos, sem experiência em vela oceânica.


Os satélites da rede global Inmarsat, usada pelos navios comerciais, foram o cérebro do sistema de comunicação. A rede cobre mais de 90% do planeta e ligou os veleiros aos computadores e à internet, para receber e enviar dados para a terra e outros barcos, especialmente para o quartel-general da regata, em Portsmouth, na Inglaterra. Informações sobre o clima, que norteiam a escolha das rotas, e a operação da mesa de mídia, para a edição e o envio de imagens (vídeo e fotos) para divulgação, foram fundamentais para o sucesso da volta.


As informações sobre o tempo determinaram decisões em situações de crise. Diante da perspectiva da chegada de ventos de mais de 90 km/h e de ondas de 10 metros, o holandês Bouwe Bekking, comandante do espanhol Movistar, resolveu abandonar o barco, que começou a fazer água em razão de quebra na estrutura da quilha. Pediu o resgate da tripulação, a 560 km da costa da Inglaterra, perto de onde naufragou o Titanic.


‘Estava avisado de que em 30 minutos haveria mudança de tempo, que tornaria as condições do mar e dos ventos inadequadas para o resgate. Essas informações são recebidas nos computadores da mesa de navegação’, explicou Ermel. Bekking sabia a previsão de horário da piora do tempo.


O Movistar emitiu um alerta para o quartel-general – e para aviões e barcos na área, conectados por satélite. A organização processou a informação e deu ordem para que o holandês ABN 2 mudasse a rota e fosse em socorro da tripulação do veleiro espanhol, abandonado com o gerador e o sistema de comunicação por satélite ligado para facilitar posterior localização. A última informação enviada pelo equipamento foi recebida dois dias depois. Bekking duvidava de que o barco ainda estivesse flutuando.


O sistema de comunicação foi eficiente também para divulgar a regata – os aficionados puderam acompanhar a Volvo por internet (também ao vivo, com o programa Virtual Espectator), TV, rádio e jornais de todo o planeta. Com dez câmeras em cada barco, os vídeos exibidos mostraram ondas gigantes invadindo o convés, barcos velejando no contravento, água batendo na proa – o Big Brother da vida a bordo. Cenas de um ursinho de pelúcia entre os tripulantes, da visita de um pombo-correio inglês ou da comemoração, com cachaça, da passagem pelo Cabo Horn, feitas e enviadas pelos tripulantes do Brasil 1, foram para o site.


‘Cada barco era obrigado a encaminhar 20 minutos de imagens por semana, feitas dia e noite pelas câmeras de bordo e editadas. Os organizadores chegaram a pensar em ter um especialista em imagens entre os tripulantes na próxima volta ao mundo’, contou Ermel.


André Fonseca, o Bochecha, encarregado de editar as imagens no Brasil 1, disse que fazem sucesso as vinculadas à vida no veleiro. ‘Não adianta filmar um albatroz no céu. Eles querem o barco.’


Com a evolução da tecnologia, a expectativa para próxima edição da Volvo Ocean Race é que a comunicação fique mais rápida e barata. O comandante do Brasil 1, Torben Grael, por exemplo, falou com o Estado, por telefone, quando o barco estava perto das Ilhas Falklands – ou Malvinas para os argentinos. ‘As transmissões de vídeo e fotos foram feitas durante os oito meses da regata. Até videoconferências entre os barcos foram organizadas pelo quartel-general’, acrescentou Ermel.


Em terra, foram usados laptops, internet sem fio e sistemas de comunicação de voz sobre IP (telefonia pela internet). ‘Usamos laptops, HDs externos e gravadores de DVDs para arquivos de vídeos, fotos e documentação do barco. Nosso arquivo digital gira em torno de 150 gigas’, informou Ermel.


O telefone a bordo, um Iridium, era um número internacional. O único inconveniente é que uma chamada, via satélite, é muito cara. As ligações dos barcos são monitoradas .’O recebimento de chamada pode ser considerado ajuda externa.’


Quando o mastro do Brasil 1 quebrou, o telefone foi usado para que a equipe de terra traçasse a estratégia de resgate e conserto do barco. O veleiro se retirou da regata – entre a Cidade do Cabo e Melbourne – informou ao quartel-general e aí passou a combinar o conserto com o pessoal de terra, do resgate do veleiro por um barco de pesca ao seu transporte, em caminhão, pelo deserto australiano. ‘Tudo feito por telefone’, frisou Ermel.


Em Gotemburgo, Glen Bourke revelou que o design do veleiro usado nesta edição, o VO 70, volta para a água em 2008. Especialistas acreditam que os projetistas já trabalham para corrigir os problemas – a maioria deles na quilha basculante – detectados agora para fazer barcos ainda mais resistentes, leves e velozes, com tecnologia de transmissão de dados mais rápida e barata.’


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 3 de julho de 2006


CONCESSÕES SUSPEITAS
Elvira Lobato


Manobra de Lula salva 225 rádios e TVs do fechamento


‘Em ato inédito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao Congresso a devolução de 225 processos de renovação de concessões de rádio e televisão, ameaçados de rejeição pela Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados. A medida impediu o fechamento de emissoras de políticos que estão com concessões vencidas, algumas há mais de 15 anos, e que continuam funcionando.


O governo agiu a pedido do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), que tem duas rádios e uma TV nesta situação, e que se viu ameaçado de perder as emissoras. Ele procurou o ministro das Comunicações, Hélio Costa, também do PMDB, que mandou um ofício à Câmara pedindo os processos de volta. O ofício de Costa foi ignorado porque só o presidente da República tem competência legal para requisitar a devolução dos processos enviados ao Legislativo. Então, o ministro acionou o presidente Lula.


Na segunda-feira passada, o ‘Diário Oficial’ da União publicou as mensagens do presidente e a relação dos 225 processos que o Executivo quer de volta. Na prática, Lula deu uma segunda chance às empresas da lista, que corriam o risco de perder suas concessões.


A argumentação do Ministério das Comunicações para requisitar os processos é que seria tarefa dele, e não do Congresso, cobrar a documentação das empresas. O curioso é que o Executivo nunca havia demonstrado tal preocupação.


Em 2002, existiam cerca de 700 processos de radiodifusoras parados na Câmara, com documentação incompleta. Cobradas pela Comissão de Ciência e Tecnologia, cerca de 500 se ajustaram. As que não se enquadraram, com poucas exceções, são as que foram requisitadas agora pelo presidente.


A pilha de processos parados é uma síntese dos problemas da radiodifusão. Há na lista empresas que foram vendidas há vários anos e cuja documentação continua nos nomes dos antigos donos, embora a lei exija que a mudança societária seja previamente aprovada pelo governo. Há emissoras que foram desativadas, mas sobrevivem na documentação oficial.


Senadores


Além de Jader Barbalho, outros importantes políticos figuram nos processos, como o senador Edison Lobão (PFL-MA), os ex-senadores Hugo Napoleão (PFL-PI) e Freitas Neto (PSDB-PI) e o ex-presidente Fernando Collor.


A concessão da Rádio Mirante, de Imperatriz (MA), pertencente a Fernando Sarney, filho do ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), venceu em 1996. As da família de Edison Lobão venceram em 93.


O ex-senador Odacir Soares, de Rondônia, tem duas rádios na lista requisitada por Lula. O ex-senador Sérgio Machado (PMDB-CE), presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobras, é sócio de outra. Há pelo menos dois políticos paulistas: o ex-deputado federal José Abreu (PTN) e o deputado estadual Edmir Chedid (PFL).


Ameaça


O problema veio à tona porque o presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia, Informática e Comunicação da Câmara, Vic Pires Franco (PFL-PA), chamou para si, no mês passado, a relatoria dos 225 processos, e deu um mês para as empresas apresentarem a documentação. O prazo vence nesta semana e está marcada uma reunião plenária da comissão para examinar o destino dos processos na quarta. O parecer da assessoria é pela rejeição dos processos com documentação incompleta.


A ameaça provocou uma corrida nas empresas para acertarem a situação. Até quarta-feira, 15 emissoras, entre elas, a TV Studios de Brasília (grupo SBT), tinham encaminhado a documentação à Câmara. Com a requisição dos processos pelo governo, a ameaça às empresas deixa de existir.


Dívidas


A renovação de concessão só pode ser autorizada se a empresa estiver em dia com o INSS, com o FGTS e com o fisco municipal, estadual e federal. Pelo menos quatro emissoras de TV com processos parados estão inscritas na dívida ativa da Previdência Social: Rede Brasil Amazônia (de Jader Barbalho), Sampaio Radio e Televisão (do ex-vice-governador alagoano Geraldo Sampaio) e as TVs Cabo Branco e Paraíba, do ex-senador José Carlos da Silva Jr. Jader Barbalho foi procurado pela Folha entre terça e sexta-feira, mas não se manifestou.


Além de políticos, a lista inclui lideranças empresariais da radiodifusão, como o vice-presidente da Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e de Televisão), Orlando Zovico, e o presidente da Aesp (Associação das Emissoras de Rádio e Televisão do Estado de São Paulo), Edilberto Paula Ribeiro. Também inclui a Rádio Globo de Salvador, que continua registrada em nome de José Roberto Marinho, embora as Organizações Globo sustentem que ele vendeu as quotas da empresa em 1993. A concessão da rádio venceu há 15 anos.’


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Extinção das concessões é improvável


‘Advogados ouvidos pela Folha avaliam que é muito improvável que o Congresso venha a rejeitar a renovação de concessões de rádios e TVs, apesar de o presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, Vic Pires (PFL-PA) ter ensaiado um passo nesse sentido.


A Constituição protege as concessões. O artigo 223 diz que a não-renovação das outorgas requer aprovação de pelo menos dois quintos do Congresso, com votação nominal, e muitos políticos são radiodifusores. A paralisação de processos na Câmara, por falta de documentos, tornou-se um problema a partir de 1999, quando uma resolução da Câmara tornou obrigatória a apresentação de certidões de inexistência de débitos com o fisco, INSS e FGTS.


Até então só havia a exigência do Ministério das Comunicações para que apresentassem um laudo técnico e comprovante da contribuição sindical dos empregados.


Segundo os advogados, a legislação permite que as emissoras continuem funcionando depois de ultrapassado o prazo das concessões desde que tenham apresentado o pedido de renovação da outorga no prazo legal, e com a documentação exigida. Empresas que iniciaram a renovação antes de 99 se viram obrigadas a comprovar que não estavam em débito. Como muitas estão endividadas, os processos foram sendo engavetados.’


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Ministro diz que evita julgamento político


‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa, disse, sem identificá-los, que foi procurado por vários políticos que temiam um ‘julgamento político’ da Câmara no exame dos processos de renovação de outorgas de radiodifusão. Afirmou também que procurou dar um ‘tratamento empresarial e não político’ ao assunto.


Ele disse ter sido informado pela assessoria que havia possibilidade real de a Comissão de Ciência, Tecnologia, Informática e Comunicação da Câmara levar ao plenário a proposta de extinção das concessões, e que os empresários poderiam entrar com ações judiciais contra a União pedindo indenização.


Para Hélio Costa, a comissão deveria ter tomado a iniciativa de devolver os processos ao ministério, para que ele cobrasse os documentos dos empresários. Ele negou que tenha agido politicamente para atender deputados: ‘Para mim, não faz a menor diferença quem está ou não na lista’, declarou.


Renegociação


O ministro disse que desconhece o fato de que há empresas com processos de renovação de outorgas parados por estarem endividadas -a legislação exige a apresentação de certidões negativas de débito com União, Estados e municípios. Mas afirmou que dará prazo de 90 dias para que as empresas em tal situação possam renegociar seus débitos. ‘Minha proposta é resolver, e não passar o laço no pescoço das empresas. Podendo resolver, por que piorar?’, declarou.


Costa disse que o ministério dará uma solução para os casos que estão pendentes e que ‘não dá mais para empurrar, para deixar TV e rádio em nome de antigos donos’. Ele atribui a maior parte da responsabilidade pelos problemas atuais ao governo anterior, que fechou, no final de 2002, as delegacias e representações estaduais.


As delegacias tinham poder para resolver vários processos que hoje dependem de autorização do ministro, como as transferências de participações acionárias inferiores a 50% do capital. Costa diz que o fechamento das delegacias sobrecarregou a estrutura do ministério, em Brasília, que tem 200 funcionários: ‘Até para transferir antenas retransmissoras é preciso minha assinatura’.


Segundo ele, a gerência da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), em São Paulo, tem mais funcionários do que o ministério. Disse que a quantidade de processos existentes é tão grande que estão sendo construídas instalações para acomodar os documentos.’


JABÁ EM DEBATE
Lourival J. Santos


O jabá e a liberdade de comunicação


‘O JABÁ É UM mal crônico no Brasil e em boa parte do mundo. Os que militam em empresas de radiodifusão, em produtoras de discos ou no mundo artístico sabem da sua existência longeva e não acreditam na possibilidade de extirpá-lo, porém são unânimes quanto aos prejuízos causados por ele.


Uma clara idéia da questão é dada por João Bernardo Caldeira e Nelson Gobbi: ‘Além de criar paradas de discos falsas, forçar estéticas a partir de critérios comerciais e não de qualidade, o jabá deixa à margem dos meios de comunicação artistas que não querem (ou não podem) recorrer a esse expediente econômico para divulgar sua obra’ (‘JB Online’, 31 de maio de 2005). Nada mais ofensivo ao culto do respeito à ética, à dignidade da pessoa humana e aos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, princípios básicos do Estado de Direito.


Apesar da sua nocividade, o jabá manteve-se até agora intocável no país, criticado sem êxito por alguns, porém geralmente admitido como mais uma das muitas espécies locais de deformidade social, diagnosticada como enfermidade incurável, a serviço da detração dos valores fundamentais da sociedade.


Se o jabá desrespeita os critérios éticos fundamentais, seus efeitos são igualmente letais no plano da estética, pois a arte, que é a mais sublime manifestação do espírito criador do homem, por força dessa prática é legada à condição de mera emissora de ‘commodities’, em benefício dos que buscam, ilicitamente, o lucro certo e o enriquecimento sem justa causa.


Além disso, também alimenta a perversa ‘indústria cultural’, combatida por nomes ilustres como Norberto Bobbio, que a definiu como o resultado negativo da massificação dos meios de comunicação: ‘(…) a arte que deveria ser a coisa mais irrepetível e criativa, torna-se um produto como os outros, reprodutível ao infinito, consumível, uma mercadoria que o público compra ou é induzido a comprar, com a mesma falta de gosto pessoal com que compra um sabonete ou um par de sapatos’ (‘Igualdade e Liberdade’, Ediouro, 2000, pág. 91).


No plano do Direito, a nosso ver, o jabá quadra-se como ato de manifesto desrespeito à liberdade de expressão, consagrada pela Constituição.


Como frisamos em trabalho anterior: ‘A liberdade, mormente no campo da expressão (considere-se a expressão da atividade artística), assim como o acesso do cidadão à informação, constituem-se regras essenciais do Estado democrático de Direito, pairando acima da competência de quaisquer dos Poderes constituídos (…). Enquanto valor/fruto de conquista política da sociedade não poderá ser limitada, por ser fator limitativo da própria competência do Estado’ (Lourival J. Santos – ‘Correio Braziliense’, março de 2000).


As manipulações de informações, os falseamentos de verdade, os impedimentos causados aos intérpretes e autores que, independentemente do valor intelectual de suas obras, poderão ter o acesso ao mercado obliterado pela censura impingida pela pressão do dinheiro, sem dúvida são agressões à liberdade de exercício da atividade intelectual, artística e de comunicação e ao direito do cidadão de ter livre acesso à informação.


Nas empresas de radiodifusão, onde a prática é mais disseminada, há o agravante de serem as concessões para tal serviço bens públicos, ‘destinados a serem recebidos direta e livremente pelo público em geral’.


Como é estabelecido no Código Brasileiro de Telecomunicações e suas normas reguladoras, ao adquirir a concessão, a empresa assume a responsabilidade legal de manter os serviços de informação, divertimento e de publicidade em percentuais legalmente fixados, perfeitamente subordinados às finalidades educativas e culturais, ‘visando os superiores interesses do país’, sob pena de se sujeitar a rigorosas sanções, que variam da aplicação de multa à cassação definitiva da concessão, dependendo da gravidade da infração cometida.


Por isso, concluímos que as empresas envolvidas na prática do jabá expõem-se a grandes riscos, pois a divulgação dolosa de notícia falsa sobre a área musical, a discriminação da manifestação artística a quem não se curve às exigências de suborno, além da malversação de bem público, não podem ser consideradas infrações de pequena gravidade.


LOURIVAL J. SANTOS, 61, sócio de Lourival J. Santos Advogados, diretor jurídico da Associação Nacional dos Editores de Revistas e associado do Instituto dos Advogados de São Paulo.’


INTERNET & POLÍTICA
Fernanda Krakovics


Políticos e militantes usam site de vídeos como tribuna


‘Com tempo restrito na TV, candidatos à Presidência da República estão começando a explorar os sites de busca e compartilhamento de vídeos na internet. Com apenas 1min22s na propaganda eleitoral gratuita, a candidata à Presidência pelo PSOL, senadora Heloísa Helena (AL), tem quase dez minutos no YouTube (www.youtube.com), que é gratuito e um dos sites mais conhecidos para trocar vídeos.


Na política, porém, a web não é território só dos candidatos. O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), é um dos mais conectados da categoria. Depois de uma polêmica a respeito do tempo que gastava na internet no horário do expediente, Maia encerrou seu blog e agora distribui textos por e-mail -o que ele mesmo chama ‘ex-blog’.


Ele também faz comentários políticos no YouTube, em uma coluna chamada ‘Um Minuto com o Prefeito Cesar Maia’. ‘O candidato deve ter dezenas de guerrilheiros virtuais que ficam atirando em redes as mais diversas, com piadas, fotos, vídeos, matérias que se quer multiplicar’, disse, por e-mail.


Esse parece ser o caso de Heloísa Helena, cuja coordenação da campanha afirma não ter sido responsável pela iniciativa de colocar dois programas de televisão do PSOL e um discurso da senadora captado em um evento no YouTube.


‘A Heloísa tem uma quantidade de apoio espontâneo que é impressionante. Ela tem quase cem comunidades no Orkut’, disse Martiniano Cavalcante, coordenador da campanha presidencial do PSOL.


O partido pretende, a partir de 6 de julho, quando será permitida a propaganda eleitoral, reunir esses vídeos e o material que estiver disponível na internet sobre a senadora no site oficial da campanha. E como Heloísa Helena só aceitará doações de pessoas físicas, está sendo estudado no PSOL a criação de uma loja virtual para a arrecadação de fundos.


Pioneiro na utilização da rede com esse fim, o pré-candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos em 2004 Howard Dean mobilizou sua campanha por meio da internet e de seu blog. Ele utilizou a web inclusive para fazer arrecadação de recursos no varejo.


Memória virtual


O professor de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília) Paulo Kramer, no entanto, é cético a respeito do potencial da internet na área de propaganda política no Brasil.


‘A internet é um tremendo meio de acesso para que a pessoa possa se aprofundar no que gosta mais, e a internet é um ótimo instrumento para quem não gosta de política ficar ainda mais longe’, disse ele.


Também estão no YouTube o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato à reeleição, e Geraldo Alckmin, do PSDB. O site diz receber 6 milhões de visitantes por dia.


No caso do presidente Lula, os vídeos são predominantemente negativos, explorando o suposto consumo excessivo de álcool pelo presidente. Há também passagens como uma gravação feita em Pelotas, em 2000, na qual o petista afirma que a cidade era um ‘pólo exportador de veados’.


Sobre o tucano Alckmin, o site traz um vídeo contra sua política de segurança pública no governo do Estado de São Paulo, com quase dez minutos.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Quem é o culpado?


‘Fim de jogo e o narrador Galvão Bueno, ao vivo, saiu à caça das bruxas ou, melhor, ‘de quem é a culpa’.


Pois o engraçado e todo-poderoso Antonio Tabet, do blog independente Kibe Loco, que já comandou a ridicularização de enquetes on-line da Argentina à Europa, fez enquete própria, perguntando ‘quem é o culpado pela derrota na Copa?’ Nem quarteto nem Roberto Carlos. A vitória, muito à frente do resto, foi dele mesmo, Galvão Bueno, com 49,93% dos votos.


A GLOBO ESCALA 1


Pedro Bial, que descrevia Juninho como ‘lá de São Januário’ no ‘JN’, e Galvão Bueno tanto fizeram que o treinador escalou o jogador -como deu a Folha, sábado.


Começa o jogo e, diz o locutor, ‘Juninho bate melhor do que ninguém’ (e acerta a barreira), ‘Juninho abre bem’ (e erra o passe). Até os ‘comentaristas’ criticaram e por fim, quando o jogador saiu sob vaia, o narrador cedeu, ‘realmente o Juninho não rendeu o que todo mundo esperava’.


‘TODO O BRASIL’


O blog de Juca Kfouri abriu o primeiro post da derrota:


– Parreira pôs o que queriam (este blogueiro, inclusive) mas o time não fez nada, talvez por jamais ter treinado.


Foi também a argumentação de Tostão. O Noblog foi mais direto, ‘o Brasil que todo o Brasil queria, com Juninho no meio, não jogou nada’.


Mas foi preciso o inglês Alex Bellos para explicar Parreira, no ‘Financial Times’:


– A mídia do Brasil dizia que seu comportamento era irritante. A CBF o criticava por não mostrar liderança. Quando escolheu o time, ele abandonou o quarteto por uma formação não-testada.


A GLOBO ESCALA 2


Mais que Juninho, a Globo e seu locutor se esforçaram para manter Ronaldo no time, com Robinho no banco. Sábado, a jogada de Zidane foi narrada com constrangimento:


– Toque por cima do Ronaldo, um chapéu com simplicidade em cima do Ronaldo.


Para registro, na transmissão da SporTV, canal esportivo da Globo, o comentarista Telmo Zanini, um dos poucos que destoaram defendendo a saída de Ronaldo na primeira fase, não estava mais no ar.


O PODER


Também para registro histórico, no fim de semana estreou finalmente na Globo o comercial da Nike com o veloz Ronaldo, virtualmente ‘emagrecido’ e, acredite, mandando a torcida calar a boca.


Curiosamente, em entrevista ao espanhol ‘El País’, sábado, Ronaldo disse com ironia e virou título, ‘O gol tem o poder de emagrecer’.


BIG BROTHER BRASIL


A seleção perdeu, a Seleção do Faustão virou quase nada -e saíram à caça de culpados.


Pelé, na TV alemã, avisou que três jogadores ficaram parados no gol, mas a edição global, mal terminou a partida, só mostrou Roberto Carlos.


Narrador e ‘comentaristas’ atacavam, lágrimas nos olhos, a ‘falta de personalidade’ dos jogadores e daí para baixo.


Na partida, como noticiou a Folha, ‘a Globo abocanhou 90% do total da audiência’. Resultado, na manchete do Terra, ontem, ‘Torcida vaia Roberto Carlos’. Na Folha Online, ‘Gestos obscenos’.


Sem destaque, nos sites, a notícia de que ‘Parreira pede que não cacem bruxas’. Dele também, sobre a cobertura:


– Verdadeiro Big Brother.


FÉRIAS


Enquanto o ‘Fantástico’ tentava manter a audiência global apelando a Luiz Felipe Scolari e Portugal, Vinicius Mota, na Folha Online, saudava ‘o lado bom da derrota’:


– Férias da crônica esportiva. Põe o Juninho, alarga a chuteira do Ronaldo, dá liberdade para o Gaúcho, troca o quadrado pelo triângulo, falta alegria, falta ‘desempenhar’ (abusaram desse verbo)… Saem os palpiteiros do futebol e entram os da política, que descobrirão, quiçá com a mesma perspicácia, quem ganha.


No ‘Fantástico’ a ‘leitura labial’ mostrou ‘o religioso’ Felipão falando só ‘Deus do céu’, ‘Ave Maria’ etc., nada de palavrão desta vez.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Redes de TV vão ajudar Lula a montar canal


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já enviou às redes de TV a primeira fatura da decisão do governo federal de enfrentar poderosos lobbies e escolher o padrão japonês de TV digital _como a Globo queria.


Numa reunião com diretores das grandes redes, o presidente pediu a colaboração delas para montar um canal que pretende divulgar uma boa imagem do Brasil no exterior. O pedido foi feito na última quinta-feira, pouco antes do anúncio oficial de que a TV digital no país terá a tecnologia japonesa.


A idéia foi muito bem aceita pelos radiodifusores, alguns deles afoitos por agradar ao presidente, relatou à Folha um dos presentes à reunião.


A proposta ainda será discutida em uma reunião entre membros do governo e das redes de TV a ser marcada a pedido do presidente da República.


Pelo o que entenderam os radiodifusores, as emissoras cederão gratuitamente ao governo programas e reportagens que exaltem o Brasil e suas belezas, como costuma fazer o ‘Globo Repórter’. O canal teria programação mista de todas as redes e de conteúdo oficial produzido pela Radiobrás. A Radiobrás investiria na estrutura técnica e na distribuição internacional do canal.


Na reunião, Lula justificou que quando viaja ao exterior só vê na TV notícia ruim sobre o Brasil, como chacinas e problemas indígenas. O canal, acredita, ajudará a mudar isso.


COISA MAL FEITA


O ‘padrão Globo de qualidade’ já não é mais aquele. Na sexta-feira, numa única cena de ‘Cobras & Lagartos’, um carro apareceu inteiro, depois queimando e, logo em seguida, inteirinho de novo.


COPA NA ESCRITÓRIO


O portal Globo.com, que não vinha registrando grandes audiências transmitindo esta Copa (a primeira ao vivo na internet), foi acessada por 380 mil pessoas durante Alemanha x Argentina, sexta-feira. Mais do que o triplo de Brasil x Gana.


GLOBO NÃO VENDE


Foi à falência o ‘Globo Shopping’, a ‘divisão’ da Globo de vendas pela internet de produtos derivados de seus programas (como brinquedos do ‘Sítio’) e até utensílios domésticos de cenários de novelas.


SEIS TEMPOS


Milton Neves está podendo. Depois da Copa do Mundo, seu ‘Terceiro Tempo’ (já exibido aos domingos) ocupará o lugar do ‘Show do Tom’ na Record às quartas-feiras, após o futebol, por volta das 23h40.


SEM CORTE


O governo de São Paulo cortou em 17% as verbas de custeio previstas para a TV Cultura ao longo deste ano. A emissora diz que está reduzindo custos sem ter que demitir funcionários ou ‘descontinuar’ programas.


RAIA É MEDLEY


Para o autor de ‘Belíssima’, Silvio de Abreu, Cláudia Raia mostrou envergadura ao interpretar Safira: ‘A Cláudia [Raia] atingiu o amadurecimento de atriz que ela estava buscando. Ela faz com a mesma destreza cenas dramáticas e cômicas’.’


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