Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Daniel Castro


‘Cidade de Mato Grosso com 47.243 habitantes, Alta Floresta ficou sem o sinal da Globo durante uma semana supostamente porque a prefeitura local deve R$ 19 mil à afiliada da rede no Estado, a TV Centro América, e porque demorou a aceitar um convênio em que se compromete a pagar R$ 24.850 neste ano à emissora.


A Globo saiu do ar em Alta Floresta no dia 25. Voltou ontem, após a Câmara Municipal aprovar, em regime de urgência, projeto de lei que autoriza a prefeitura a celebrar convênio com a TV Centro América, pela ‘qualificação do sinal Globo de televisão’.


Na sessão, vereadores disseram que o corte do sinal foi uma forma de pressão da afiliada da Globo, registrou ontem o jornal local ‘O Diário’. O caso escancara uma situação comum, mas velada: em pequenas cidades, as prefeituras pagam a manutenção das redes de TV. O contribuinte paga para ter uma TV que é gratuita.


Assessor de comunicação da prefeitura, Eric Finotti disse que foi procurado por um contato comercial da TV Centro América. ‘Ele me passou os valores e os termos do convênio. Até me mandou um modelo de contrato.’


Diretor-geral da Centro América, baseada em Cuiabá, Vilmar Melatte nega que o sinal de Alta Floresta tenha sido cortado. ‘Foi um problema técnico’. Negou também que prefeituras pagam seus custos de manutenção: ‘O que existe é contrato de mídia’.


OUTRO CANAL


Cartada Depois de Ana Paula Padrão, o SBT está tentando contratar Paulo Henrique Amorim, da Record, para dar mais ‘peso’ ao seu ‘novo’ jornalismo. Amorim desconversa, dizendo que, para colocar o ‘Tudo a Ver’ no ar às 17h20, começa a trabalhar às 7h. ‘Não faz sentido’, afirma. Mas houve proposta? ‘Não posso comentar isso’, responde o jornalista.


Alternativa O SBT também quer o passe de Luciano Facciolli, apresentador de telejornal matinal da Record e integrante da bancada do ‘Tudo a Ver’.


Assédio As negociações entre SBT e parte do elenco do ‘Pânico na TV’, da Rede TV!, já chegaram ao estágio da troca de minutas de contratos. A Record também está se insinuando para os humoristas.


Vôo Recém-contratada pelo SBT, como repórter do ‘Programa do Ratinho’, Eleonora Paschoal já está de casa nova. Ela fechou com a Band e fará parte da equipe de Carlos Nascimento no ‘Jornal da Band’ a partir do dia 15.


Cleptomania No mundinho gay, ‘dar a Elza’ é sinônimo de furtar algum objeto de alguém. Na última Parada Gay de São Paulo, essa gíria ganhou uma nova versão: ‘dar a Haydée’, uma alusão à personagem de Christiane Torloni, uma cleptomaníaca, na novela ‘América’.’



TELEVISÃO / SEMINÁRIO


Cristina Padiglione


‘‘Calça justa’ une quatro canais ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 2/06/05


‘Houve quem denominasse o encontro de anteontem no VI Fórum Brasil de Programação e Produção – As Novas Fronteiras da Televisão -, em São Paulo, como o verdadeiro Pânico na TV. Johnny Saad, presidente do grupo Bandeirantes, preferiu dar o nome de Calça Justa, uma referência bem-humorada ao programa feminino Saia Justa, do canal pago GNT, ao debate que uniu o diretor-geral da TV Globo, Octávio Florisbal, o conselheiro e diretor de rede do SBT, Guilherme Stoliar, o presidente da Record, Alexandre Raposo, e o próprio Saad no evento.


O senhor Band de fato foi o único a fazer jus ao nome Calça Justa. Não fosse por ele, o encontro seria morninho, sem maiores sobressaltos, e algum desentendido em TV brasileira diria mesmo que os quatro são super amigos. A conversa enveredava para a questão da legislação – as necessidades de mudança e flexibilização – e para a proteção que a Radiodifusão deveria merecer frente à presença das gigantes das telecomunicações no País. Foi quando Saad resolveu lembrar que, antes de pensar em convergência de mídias e em novidades ainda distantes da nossa realidade, é preciso estar atento aos problemas já existentes dentro da própria TV. Expôs a deficiência do Brasil em relação a outros países no que diz respeito à produção nacional para a TV paga. ‘Quando a gente olha para fora, vê a multiplicação de canais que aqui não há porque não há a concentração que há aqui, de o dono da TV paga ser o mesmo da TV aberta.


Tudo foi dito sem que os nomes Globo e Net fossem mencionados. E nem precisava. Tanto que Florisbal, ali presente como representante da Globo, foi convidado a replicar o comentário de Saad. ‘Não tenho procuração para falar sobre TV paga’, respondeu Florisbal, endossando que era responsável apenas pela TV aberta. ‘Mas tenho a sensação de que quando o modelo de TV paga foi lançado no Brasil, houve uma concorrência, quando deveria ter havido um acordo para distribuição e conteúdo’. Não por isso: acordos sempre estão em tempo de serem feitos.


Muito se falou também, sem efeitos concretos, sobre as boas intenções da TV brasileira em abrir espaço para produtoras independentes. A platéia estava recheada de representantes de produtoras graúdas, como Homero Salles, da GGP (de Gugu Liberato), e Fernando Dávilla, da TV7 (de J. Háwilla). A este, Saad perguntou, em tom descontraído, se era verdade que a TV7 havia recebido um pedido para deixar de produzir O Aprendiz, reality show com Roberto Justus, para a Record. O sujeito indeterminado seria a Globo, parceira de Háwilla em razão dos negócios com a Traffic no futebol e da rede de retransmissoras TV TEM, no interior paulista. ‘Não posso lhe responder porque eu não sou o dono da produtora’, disse Dávilla.’



TODO SEU


Adriana Del Ré


‘Muito além das mesas-redondas de futebol ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 2/06/05


‘Os homens estão discutindo a relação. Pelo menos, na televisão. A TV tem abrigado um emergente filão de programas feitos por homens, nos quais eles se expõem mais, falam de sentimentos, relacionamentos, mulheres, vaidade. Tornaram-se programas com boa aceitação do público masculino, mas que também atraem um certo voyeur da ala feminina. No programa Todo Seu, exibido pela Gazeta, um quadro em especial tem chamado atenção das ‘bonitinhas’, como o apresentador Ronnie Von costuma apelidar suas telespectadoras. Nele, Ronnie e seus convidados homens sentam-se à mesa e conversam sobre mulheres e relacionamentos. ‘É como se tirássemos a roupa, para que elas nos entendam.’


É um programa visto também por homens. Ou como ele afirma, ‘toda a família’. ‘Hoje, 42% do nosso público é masculino, enquanto que, quando era exibido de manhã, era de 28%.’ Para o apresentador, o homem de hoje mudou muito, mas ainda resiste em discutir a relação. ‘Essa questão já foi levantada umas 40 vezes e entendemos que esse é sempre o subtexto: discutir a relação é igual a brigar. Não há exceção.’


Atração do canal GNT, o programa Contemporâneo apresenta audiência equilibrada entre homens e mulheres, conta o apresentador Christiano Cochrane. ‘Vocês, mulheres, são muito curiosas em relação a nós’, brinca ele. Contemporâneo foi criado para ser uma versão masculina do programa Super Bonita, também da GNT, mas acabou indo além. ‘Falar só sobre beleza ainda assusta o homem, por isso o programa aborda beleza, mas também saúde, comportamento, hábitos de consumo, mulheres.’


Há os quadros fixos, como Homem no Espelho e Consumo Vip. Além disso, toda semana, Cochrane entrevista uma mulher. ‘Procuro sempre trazer mulheres belas e interessantes e acabo perguntando para elas tudo o que os homens gostariam de saber.’


Ele garante que o programa não é só voltado para metrossexuais, como muitos dizem. ‘É para os metrossexuais, mas também para caretões, moderninhos, heterossexuais, homossexuais.’


Cochrane acredita que os homens ainda encontram dificuldade, pelo menos conscientemente, de conversar sobre a relação, mas que andam falando mais sobre sentimento, estão mais abertos. E isso tem se refletido na televisão. ‘Os homens aprenderam isso curtindo mais as mulheres, porque respeitá-las é uma obrigação.’


Se no Contemporâneo mulheres têm passe livre, no programa Mulheres al Dente, exibido pela Gazeta, elas não entram. É o que previne o empresário e idealizador Carlito Gini, que apresenta o programa rodeado por um bando de homens: outros dois apresentadores fixos, o chef Roberto Ravióli e o cineasta Henrique Manzoli, além de um entrevistado a cada semana. ‘É como se fosse um papo de bar, mas com câmeras’, compara Carlito. ‘Ali, os homens falam de coração.’ As mulheres só participam do lado de fora, no quadro O Que Elas Pensam e Falam sobre Nós, fazendo perguntas para o quarteto concentrado numa bela cozinha. Enquanto eles batem papo, Ravióli prepara uma receita especial.


Alguma semelhança com o cenário usado por Ronnie Von no quadro do programa Todo Seu? Carlito garante que ele já tinha pensado nesse formato antes. ‘Tenho a idéia desse programa há dois anos, mas não colocava em prática por causa de patrocínio. Na TV, existem muitos programas voltados para as mulheres, crianças e para homens, só futebol. Queria fazer algo diferente.’


Apesar de estar de olho no crescimento do segmento masculino, Mulheres al Dente, hoje, conta com uma grande audiência feminina. ‘Porque elas querem saber o que o homem fala dele mesmo.’ A idéia de reunir três apresentadores de profissões diferentes e um convidado é para polemizar e trazer a público tudo aquilo que os homens discutem na privacidade de um boteco. ‘Quantas vezes um homem não vê a TV e se identifica com o que está sendo falado?’’