‘A novela que Silvio de Abreu está elaborando para a Globo exibir a partir do final do ano que vem marcará a volta da atriz Glória Pires e da cidade de São Paulo como ambiente das tramas das 21h.
Glória está afastada das telenovelas desde 2002, quando atuou em ‘Desejos de Mulher’ (19h). A última novela das oito ambientada em São Paulo foi ‘Esperança’, também em 2002. Depois dela, já vieram três tramas passadas no Rio. A próxima, ‘América’, também terá o Rio como cenário.
A história de Silvio de Abreu irá suceder ‘América’, que estréia em março. Será dirigida por Denise Saraceni. Segundo Abreu, a trama ainda não está montada, mas ele e Saraceni acabam de retornar da Grécia, onde visitaram regiões interioranas e ilhas paradisíacas, em busca de possíveis locações para as cenas iniciais.
‘Acho a cultura grega muito interessante, e as locações, principalmente nas ilhas, exuberantes e adequadas para um envolvente visual. Estou pensando em lidar com personagens paulistanos de ascendências estrangeiras diversas, mas dando ênfase aos gregos, que têm uma comunidade grande e importante no Brasil, são alegres e comunicativos e nunca entraram em nossas novelas’, diz o autor de ‘A Próxima Vítima’ (1995).
Segundo Abreu, o único ator reservado à trama, até agora, é Glória Pires. ‘Ela aceitou. Não sei se será uma grega ou não. Vai depender da história’, afirma.
OUTRO CANAL
Sucata 1 Fracassaram as negociações entre o governo do Estado de São Paulo e o do Japão para que a Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura, recebesse doação de equipamentos usados da NHK, emissora pública japonesa.
Sucata 2 O material da NHK seria ‘de ponta’ para a defasada TV Cultura, que contava com ele para atualizar seu parque tecnológico. A lista tinha equipamentos digitais. A NHK, segundo a Cultura, preferiu fazer a doação a TVs de países ‘abaixo da linha de pobreza’.
Sem tela A Globo recusou a oferta da Fox para que comprasse o longa ‘Tiros em Columbine’ (2002), do polêmico diretor Michael Moore, que levou o Oscar de melhor documentário em 2003. A emissora argumentou que não tem espaço para documentários.
Sem grana O SBT poderia exibir já neste mês o primeiro filme da série ‘O Senhor dos Anéis’, forte candidato a líder no Ibope. A emissora tem os direitos, mas precisa desembolsar cerca de US$ 2 milhões para poder transmiti-lo. Como acaba de investir no primeiro ‘Harry Potter’, deixou o longa para 2005.
Espera Previsto para ser lançado em abril, o segundo canal da MTV ficou para o segundo semestre de 2005. ‘Problemas técnicos’ e pendências com a MTV dos EUA são os motivos do adiamento.’
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‘Globo revisa política de qualidade interna’, copyright Folha de S. Paulo, 8/12/04
‘A cúpula da Globo, incluindo autores, roteiristas e diretores de núcleos e de programas ‘top’ de linha, se reunirá na semana que vem para discutir a nova política de qualidade da emissora.
O texto será apresentado por Marluce Dias da Silva, ex-diretora-geral da TV Globo e atualmente assessora da família Marinho para assuntos estratégicos e institucionais, como a Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual). O texto é revisado a cada dois anos. O hábito foi inserido na emissora pela própria Marluce. Substitui a antiga ‘Carta do Doutor Roberto [Marinho]’, como era chamada a declaração interna de princípios até os anos 90.
No novo texto, a Globo irá deixar claro que o controle de qualidade dos programas também é função dos autores e diretores, e não apenas da Central Globo de Controle de Qualidade, comandada por Mário Lúcio Vaz. Como o volume de produção da emissora é muito grande, nem tudo o que vai ao ar passa antes por Vaz.
A Folha apurou que membros da cúpula da Globo avaliam que têm ocorrido alguns exageros desnecessários em cenas de sexo e violência de telenovelas. Isso deverá ser abordado na reunião.
O encontro será no Projac (central de estúdios da Globo), no dia 15, dois dias antes da finalização, em Brasília, do anteprojeto de lei da Ancinav, agência que pretende regular também sobre o conteúdo da televisão.
OUTRO CANAL
Plenária
A TV Cultura gravou ontem à tarde, no Palácio dos Bandeirantes, um ‘Roda Viva’ especial em que crianças entrevistaram o governador Geraldo Alckmin. O programa vai ao ar no dia 12, Dia Internacional da Criança na TV. A emissora também tentou, sem sucesso, fazer o mesmo com o presidente Lula.
Fenômeno 1
‘Senhora do Destino’ deu média de 55 pontos no Ibope na semana passada, algo que só costuma acontecer nas últimas semanas de novelas das oito.
Fenômeno 2
‘Num mês de dezembro isso é, como diria Giovanni Improtta [José Wilker], felomenal’, festeja o autor, Aguinaldo Silva.
Porém 1
Em contraste com a novela das oito, a Globo vem tendo problemas de manhã e à tarde. Anteontem, ‘Maria do Bairro’, pelo SBT, humilhou ‘Deus nos Acuda’ por 14 pontos a nove. E o ‘SP TV -1ª Edição’ perdeu dos desenhos do SBT por 11 a 12.
Porém 2
No domingo, até o ‘Esporte Espetacular’ mostrou cansaço no Ibope. Ficou atrás do SBT (série ‘O.C.’) durante 58 minutos.
Faturando
A Record conta com o sucesso de ‘O Aprendiz’ para ultrapassar a inédita marca dos R$ 500 milhões de faturamento neste ano. Os dois últimos episódios terão duas horas de duração _e os intervalos já estão quase cheios.’
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‘Globo suspende série de Drauzio Varella’, copyright Folha de S. Paulo, 10/12/04
‘A Globo decidiu anteontem interromper a série ‘Questão de Peso’, apresentada pelo médico e colunista da Folha Drauzio Varella no ‘Fantástico’. Já foram exibidos quatro dos 16 episódios previstos. O quadro, sobre obesidade, é uma das maiores audiências do programa dominical. Marca mais de 40 pontos no Ibope.
Vítima de febre amarela do tipo silvestre, Varella está internado no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, há duas semanas. Segundo pessoas próximas ao médico, seu estado de saúde melhorou bastante, mas ainda não há previsão de alta. E ele deverá se manter em repouso durante alguns dias após deixar o hospital.
A Globo trabalha com a hipótese de que Drauzio Varella só poderá voltar a gravar ‘Questão de Peso’ em janeiro, quando a série deve voltar a ser exibida.
No último domingo, o quadro foi apresentado com Pedro Bial fazendo a narração que originalmente seria de Varella. A Globo pretendia exibir mais um episódio, no próximo domingo, mas concluiu que o material de que dispõe, gravado antes de Varella adoecer, é insuficiente. Faltam algumas passagens, como são chamadas inserções em que o repórter ou apresentador aparece na rua ou em locais públicos, relatando informações. Nessas passagens, Varella é insubstituível.
O próximo ‘Fantástico’ terá reportagem informando sobre a interrupção do quadro.
OUTRO CANAL
Troféu
Tony Ramos foi eleito o melhor ator do ano, e Suzana Vieira, a melhor atriz, na votação popular feita pela Globo para a edição do ‘Domingão do Faustão’ que será gravada amanhã e exibida no último domingo de dezembro. ‘Vou Deixar’, de Skank, trilha de ‘Da Cor do Pecado’, levou o prêmio de melhor música de novela.
Emprego
O SBT vai deixar de bancar o instituto Datanexus, mas seu presidente, Carlos Novaes, não ficará sem emprego. A emissora pretende mantê-lo como analista de pesquisas de audiência.
Cupido
A Band prepara um novo programa para Márcia Goldschmidt. Será diário e deve estrear ainda no primeiro trimestre de 2005. A temática? Histórias de amor.
Sexy
Monique Evans negocia seu retorno à Rede TV!. Ela deverá substituir Clodovil Hernandez no ‘A Casa É Sua’. O contrato do apresentador-problema vence em março, mas já há estudos internos para municiar a emissora juridicamente em uma eventual ruptura nada amistosa.
Recomeçar
A Globo está fazendo uma pesquisa com grupos de telespectadores para ver como anda ‘Começar de Novo’. É a segunda do gênero para a novela. Esta é para checar a aprovação à cirurgia plástica pela qual a produção passou, com intervenções em personagens, figurino, maquiagem, direção e texto.’
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‘Bonner imita Clodovil em vídeo na internet’, copyright Folha de S. Paulo, 12/12/04
‘Principal jornalista da TV da atualidade, William Bonner aparece imitando o apresentador Clodovil Hernandez em um hilário vídeo que circula na internet (www.kibeloco.com.br). Na brincadeira, Bonner ‘entrevista’ Cid Moreira.
O editor-chefe do ‘Jornal Nacional’ confirma que as imagens são reais. ‘Foi uma brincadeira que o pessoal do ‘switcher’ [sala de controle das gravações] gravou sem que soubéssemos’, diz. ‘Evidentemente, não deveria ter vazado.’
Segundo Bonner, isso foi ‘provavelmente em 1993’. ‘Deve ter sido em um sábado ou em período de férias do Sérgio Chapelin [então titular do ‘JN’].’
OUTRO CANAL
Lágrimas Consultora de Roberto Justus em ‘O Aprendiz’, a diretora de recursos humanos Isabel Arias chorou muito na semana passada após a gravação da demissão de um dos concorrentes _aliás, um dos mais humildes.
Missão Executivos da TV Globo estão tendo dificuldades para convencer Xuxa de que o programa da loira precisa ser radicalmente mudado. Caso contrário, não cresce no Ibope. Para os diretores, o ‘Xuxa no Mundo da Imaginação’ é bom. Para canais pagos.
Frente A Globo está gravando em uma fazenda no Mato Grosso cenas da próxima novela das oito, ‘América’, que estréia em março. Os protagonistas Murilo Benicio e Deborah Secco estão lá.’
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‘Globais brincam de ‘videokê’ em musicalC’, copyright Folha de S. Paulo, 11/12/04
‘Atores do primeiro time da Globo, como Fernanda Montenegro, Regina Duarte, Tony Ramos e Tarcísio Meira, brincaram de ‘videokê’ na gravação, na última quarta-feira, do ‘Estação Globo -Músicas de Novela’, musical que a emissora exibe em 16 de janeiro.
O especial foi gravado no mesmo estúdio do ‘Domingão do Faustão’ e só teve globais na platéia. Na entrada, os atores receberam um ‘menu’ com as 28 músicas que seriam executadas. Todas foram temas de novelas da Globo. O especial será um dos quatro musicais que abrirão as comemorações dos 40 anos da emissora.
Na hora da gravação, a apresentadora, Maria Paula, sorteou os atores, que escolhiam uma das músicas disponíveis no cardápio.
Os globais, no entanto, não tiveram que cantar, mas justificaram seus pedidos musicais. A execução coube a nomes como Paulinho da Viola (com ‘Pecado Capital’, tema da novela de mesmo nome, pedido de Betty Faria), Ivan Lins e Simone (‘Desesperar Jamais’, de ‘Água Viva’), João Bosco (‘Papel Machê’, de ‘Corpo a Corpo’) e Família Caimmy (‘Marina’, de ‘O Casarão’).
Regina Duarte pediu ‘Dona’ (com Roupa Nova), de ‘Roque Santeiro’, na qual interpretou a Viúva Porcina. Fernanda Montenegro foi de ‘Baila Comigo’ (tema da novela homônima). Sob aplausos, explicou que foi a primeira novela que fez na Globo ao lado do marido, Fernando Torres.
OUTRO CANAL
Fórmula
O ‘Jornal da Record’, de Boris Casoy, terá finalmente uma ‘moça do tempo’. A repórter Heleine Heringer assumirá a função, já a partir da semana que vem.
Clássico
‘A Escrava Isaura’ registrou anteontem média de 14 pontos e picos de 17 no Ibope. É a melhor audiência da novela da Record, que cresce em cima da Globo, desde sua estréia.
Só dá ele
O SBT adiou para o segundo trimestre o plano de lançar um programa noturno de entrevistas com Jorge Kajuru. Mas o jornalista vai aparecer muito na emissora nos próximos dias. Já gravou duas edições do ‘Programa do Ratinho’, uma do ‘Charme’ (Adriane Galisteu) e vai participar também do ‘Domingo Legal’.
Polêmica 1
Segundo o SBT, a série ‘The O.C.’ bateu domingo o ‘Esporte Espetacular’, da Globo, por dez pontos a nove no Ibope. A Globo sustenta o contrário: que ela venceu por dez a nove.
Polêmica 2
Procurado, o Ibope afirmou que a Globo tem razão, que, das 10h59 às 11h58 de domingo, ‘Esporte Espetacular’ marcou 9,6 pontos (arredonda-se para dez) e ‘The O.C.’, 9,33 (arredonda-se para nove). O SBT não se dá por vencido. Informa que o Ibope usou dados (do Telereport) que favorecem a Globo. Já o SBT usa o TCI Real Time. Ambos são bases de dados do Ibope. O SBT diz também que o horário de início da série é 11h, o que pode fazer diferença.’
TV & INFÂNCIA
‘Controle remoto’, copyright Folha de S. Paulo, 12/12/04
‘Morte à babá eletrônica. Nada de largar os filhos pequenos em frente ao televisor sem tomar conhecimento do que eles estão vendo. Os pais devem selecionar os programas e negar acesso aos que consideram inadequados. Permanecer ao lado das crianças e conversar com elas sobre a programação é o ideal para que a televisão deixe de ser ‘inimiga’ e passe a ‘aliada’ da educação.
Essas são idéias defendidas por Ismar de Oliveira Soares, 61, coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes da USP. Ele trabalha com educomunicação -’casamento’ da educação com a comunicação-, conceito relativamente novo no meio acadêmico, que ganha adeptos em vários países. Trata-se, basicamente, da união de duas idéias mais antigas: 1) os meios de comunicação podem ser ferramentas da educação (ex: cursos em vídeo); 2) crianças e adolescentes devem aprender a consumir mídia com visão crítica.
Se a orientação começa com a família e continua com os professores, acredita Soares, o jovem certamente sai da escola com capacidade de usar melhor o controle remoto. ‘A programação de maior qualidade seria selecionada naturalmente, algo bem mais eficiente do que campanhas como essa contra a baixaria na TV.’
Para ele, os colégios têm de debater programas de TV em sala de aula e se equipar com laboratórios de audiovisual. ‘Ao criar um programa de TV ou rádio, o aluno desenvolve a capacidade de analisar a mídia mais profundamente e aprender a se comunicar melhor com pais, professores e colegas.’ A educomunicação começa a ser debatida em escolas particulares e foi implantada pela USP em mais de 1.500 públicas. Neste Dia Internacional da Criança na TV, quando estréia a TV Rá-Tim-Bum (primeiro canal infantil nacional).
Folha – Quando surge a idéia de que crianças devem aprender a ver TV, consumir mídia criticamente?
Ismar de Oliveira Soares – Já nos anos 50, mas sob perspectiva fortemente moralista. Era o pensamento do educador que conhece o que deve ensinar, acredita que a mídia trabalhe com contravalores e trata de vacinar crianças e adolescentes contra seu impacto negativo. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação tem normas para que colégios ensinem a análise crítica da comunicação. Mas isso não chega à prática porque os professores não estão preparados.
Folha – Em seus textos, o sr. lembra que a Escola de Frankfurt ‘diaboliza’ a TV, a ‘inimiga da educação’. Esse é um pensamento ainda forte entre educadores e pais?
Soares – O conceito de que a TV é perigosa ainda existe. Temos campanhas para acabar com a baixaria na televisão, com respaldo da sociedade. Hoje, no entanto, a TV é vista por educadores menos como inimiga e mais como entretenimento, coisa para não ser levada a sério. Eles dão aula, vão para casa ver TV como se isso não tivesse a ver com educação. Quando um menino se lança da janela imitando o Super-Homem, alguém se lembra de que é importante educar crianças para ver TV. Depois passa. O sistema de ensino, se ficar na inércia, olhará a comunicação como entretenimento nos próximos cem anos.
Folha – Ao escolher onde matricular o filho, como pais avaliam se o colégio tem essa preocupação?
Soares – Os colégios provavelmente responderão que há essa preocupação, porque é ‘chique’, mas o que existe na maioria dos casos são práticas isoladas, realizadas por alguns professores.
Folha – Como as escolas devem ensinar os alunos a assistir à TV?
Soares – O ideal é que haja um especialista em comunicação, educação e práticas que aproximem esses universos. No início do ano, ele planeja com os professores como utilizar a mídia nas aulas de biologia, química etc. Além de aprender sobre a transposição do rio São Francisco, por exemplo, o aluno analisa como isso é tratado na TV, a fim de criar juízo crítico. Depois, faz um jornal, programa de rádio. Ao produzir comunicação, aprende a autocrítica e adquire critérios para analisar a mídia. No fim do ano, a feira de ciências pode se transformar em feira de comunicação.
Folha – Os pais também podem aproveitar a TV na educação?
Soares – Se nunca discutiram sobre a mídia, não terão condições de influenciar os filhos. Já quem tem essa base saberá selecionar ou ajudar a criança a escolher canais que contribuam para a educação. O professor também tem de ter acesso a jornais, rádios e TV para levá-los à aula. A novela tem de ser debatida em casa e na escola.
Folha – De que forma os pais poderiam ensinar os filhos a ver TV?
Soares – É também missão da escola, que deve promover encontros com pais a fim de alfabetizá-los para a leitura crítica da mídia.
Folha – Há regras para que pais orientem crianças diante da TV?
Soares – Eles devem identificar programas alinhados a seu projeto de vida. Deixar uma criança sozinha em frente ao televisor é muito problemático, porque a TV é feita por adultos para adultos ou por adultos para crianças. E adultos do mercado, que querem fazer da criança uma consumidora e não cidadã. É importante que os pais estejam juntos e, quando percebam que a TV é agressiva, mudem o canal ou caminhem para outra atividade. Não é colocar a família numa perspectiva moralista, mas participativa, que assuma responsabilidade diante de algo que vai influenciar o filho. A partir de certo momento, os pais não têm como controlar os filhos, aí entra a escola. Quando o filho chega à adolescência, os pais devem deixar que adquiram consciência crítica própria, e isso se faz a partir de confrontos. Uma notícia ou um comportamento exibidos pela TV podem gerar discussão em casa, o que é saudável.
Folha – Se o pai não concorda com o programa da Xuxa, por exemplo, deve impedir que seu filho assista?
Soares – O controle no início da vida é necessário e um direito dos pais. É de se supor que tenham juízo adequado sobre seu projeto de vida. Se percebem que um programa é regido pelo marketing e não querem isso para o filho, têm o direito de evitar que assista.
Folha – Isso não seria criar uma redoma? Não será problemático quando a criança conviver com outras que vejam o programa?
Soares – A criança certamente trará o assunto para casa e conversará com os pais. É uma dialética saudável, de saber conviver com confrontos. Cabe aí um diálogo que permita que o filho crie um juízo crítico e futuramente decida por sua programação. Não estamos falamos em criar redomas, mas em abrir a cabeça da criança para que ela tenha um convívio saudável com a televisão e não seja ‘redomada’ por ela.
Folha – É possível que a criança opte sozinha pelas TVs educativas?
Soares – Sim, mas é importante que o programa educativo trabalhe com o formato e a linguagem que ela acha interessante. Mas o ponto-chave é que, quando se percebe que a mídia pode servir à educação, a diferença entre TV educativa e comercial perde o sentido, já que toda a TV pode ser tomada no processo educativo.
Folha – Se todos tivessem essa formação, não precisaríamos de campanhas antibaixaria na TV?
Soares – Não. Porque essa garotada definiria o que é para ser visto ou não, tomaria conta do controle remoto e eliminaria o que não é adequado naturalmente.’
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‘Após curso, jovens criticam ‘JN’ e baixaria’, copyright Folha de S. Paulo, 12/12/04
‘ ‘Comecei a avaliar o ‘Jornal Nacional’ e a perceber que ele fala muito em violência e não traz algo completo sobre os adolescentes, tudo parece superficial’, afirma Laila El Alan, 14, que passou para o primeiro ano do ensino médio.
O olhar crítico, diz, surgiu com o curso educomunicação -educação + comunicação- implementado pela USP em 455 escolas da Prefeitura de São Paulo.
Batizado de Educom.radio, instala estações internas de rádios nos colégios e reúne alunos, professores e membros da comunidade em aulas que buscam desenvolver consumidores críticos de mídia. A emissora também é usada para trabalhos nas disciplinas curriculares e normalmente vira a diversão da hora do intervalo.
A Folha entrevistou cinco estudantes que passaram pelo processo e dizem que passaram a ver TV, ouvir rádio, ler revistas e jornal de outro modo. Após breve debate, deram as linhas de dois tipos de televisão: a que gostariam de ver e aquela da qual querem distância.
Para eles, a TV ideal deveria: 1) mostrar jovens e contar com eles na produção dos programas; 2) expor a cultura do país, explorando vários Estados e não só Rio e São Paulo; 3) ter entretenimento sem baixaria; 4) misturar informação e diversão; 5) usar linguagem mais acessível e didática.
Eles condenam a televisão que: 1) exibe baixaria, com programas como o do Ratinho; 2) ganha audiência em cima da desgraça e do drama humano; 3) demonstra preconceito com negros, periferia etc.; 4) explora a violência; 5) mostra cenas impróprias para o horário, como o sexo em novelas.
‘Antes, achava que tudo era um mar de rosas na TV. Agora me pergunto: ‘Por que esse programa é assim?’. Percebo até o jeito de editar. Vi que ‘Malhação’ tem cortes rápidos’, afirma o estudante Jefferson Tomé da Silva, 14.
Além de mudar o contato com os veículos de comunicação, os estudantes acreditam que o projeto transformou as relações de alunos com os pais e o colégio.
‘Na minha escola, ex-alunos chegavam a quebrar carros de professores porque não podiam usar a quadra. Num programa de rádio, colocamos um deles em debate com a diretora, que acabou liberando a quadra um dia por semana, e o problema acabou’, conta Izael Altino dos Santos, aluno de um colégio da zona norte.
‘Reativamos o grêmio e passamos a reivindicar nossos direitos na diretoria’, afirma Pedro Henrique dos Santos Araujo, 15, aluno do Itaim Paulista (zona leste). Sara Santos Araujo, 16, do Jaraguá (zona norte), diz que aprendeu com facilidade a história de Roma, já que teve de fazer um programa de rádio sobre o assunto.
Além das escolas municipais paulistanas, o Núcleo de Comunicação e Educação da USP implementou projetos de educomunicação em mil colégios do Estado de São Paulo e está agora nas redes estaduais do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e de Goiás.
O coordenador, Ismar de Oliveira Soares, conta que numa aldeia xavante, meninas fizeram um programa de rádio e o cacique reclamou, já que índias não podem falar em público. ‘Elas responderam que iriam continuar porque quem mandou foi o cacique maior. Falavam de Lula, já que o projeto foi uma parceria com o Ministério da Educação.’’
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‘Fechada, TV Rá-Tim-Bum estréia hoje’, copyright Folha de S. Paulo, 12/12/04
‘A TV Rá-Tim-Bum -o primeiro canal infantil com conteúdo exclusivamente nacional- entrará no ar às 10h de hoje, na TVA e em algumas outras operadoras independentes de TV paga.
Na inauguração da rede, que se dá no Dia Internacional da Criança na TV, será exibido um pronunciamento de Marcos Mendonça, presidente da Fundação Padre Anchieta (que administra a TV Cultura e a Rá-Tim-Bum).
Na seqüência, segue a programação normal, voltada a crianças de dois a dez anos, com episódios inéditos do ‘Cocoricó’ e reprises de outros programas da Cultura, como ‘Catavento’, ‘Lá Vem História’, ‘Castelo’ e ‘Ilha Rá-Tim-Bum’. Por enquanto, diante de uma verba escassa, as novidades são poucas, concentradas na programação dedicada a pais e educadores, das 22h à meia-noite.
A fundação preparou uma campanha de lançamento, com anúncios em jornais e revistas, além de aproveitar a própria TV Cultura.
Para o mercado publicitário, tenta vender o canal com a marca de ‘altíssimo nível de excelência em programação infantil’.
Programação aberta
Na TV Cultura, vai ao ar hoje a programação especial do Dia Internacional da Criança na TV, que já rendeu à emissora três Prêmios Emmy, o ‘Oscar da televisão’.
Mantida majoritariamente por verbas estatais, a rede exibirá um ‘Roda Viva’ especial com o governador Geraldo Alckmin, entrevistado por uma bancada de crianças de oito a 11 anos.’
24 HORAS
‘Série americana ‘24 Horas’ entra em sua temporada mais difícil’, copyright Folha de S. Paulo / The New York Times, 12/12/04
‘Sem motivo especial, a não ser a possível vontade de se torturar, Robert Cochran mantém pendurado no quadro de avisos de seu escritório, que não exibe quaisquer outras recordações, um cartaz detalhando os personagens e acontecimentos da primeira temporada de ‘24 Horas’, a série de espionagem televisiva que ele e Joel Surnow criaram quatro anos atrás. É um diagrama detalhado das ações e interações de todos os personagens importantes, os pontos essenciais da trama, episódio por episódio, determinando o momento de cada virada.
Estava tudo lá, seis episódios completos, meticulosamente planejados antes que o piloto fosse transmitido: cada explosão, desabamento, traição, decisão sobre o destino nacional, cada um dos momentos de suspense que faria de ‘24 Horas’ o programa de televisão mais comentado de 2001.
Considerada a complexidade da trama, e o fato de que os 24 episódios de uma hora de duração que compõem cada temporada fazem um retrato de um dia de profunda crise na vida do país, um diagrama preciso do que acontece parece indispensável. Mas as coisas não transcorreram assim.
‘Esse foi o máximo de antecedência que conseguimos em nosso planejamento’, disse Cochran, com certa melancolia, caminhando até o diagrama da primeira temporada e passando a mão por ele como se fosse uma relíquia há muito perdida.
‘Pudemos planejar com cinco ou seis episódios de antecedência talvez mais umas duas vezes naquela temporada. Na segunda temporada, três ou quatro vezes.’ E neste ano? Ele demonstra embaraço. ‘Neste ano? Eu diria que… nenhuma vez.’
Quando estrear a quarta temporada nos EUA, em 9 de janeiro na Fox -no Brasil, a Globo exibe a terceira leva em janeiro-, novas linhas narrativas surgirão para testar a lealdade de uma audiência que já viu quase todos os personagens importantes, incluindo o desgastado e sofrido agente Jack Bauer, protagonista da série, interpretado por Kiefer Sutherland, caídos em desgraça, comprometidos, torturados e mortos.
Além de Sutherland, apenas um membro do elenco da temporada passada voltará (ainda que muitos dos excluídos devam ressurgir em participações menores ao longo da nova série). Os novos integrantes da equipe incluirão William Devane, Shohreh Aghdashloo e outras figuras novas.
Na quarta temporada, cuja ação transcorre 18 meses depois dos traumas da temporada anterior, o personagem de Sutherland está tentando levar uma vida menos arriscada. Depois de perder o emprego e de conseguir superar os problemas com as drogas, ele está trabalhando como consultor para o Departamento da Defesa e começando um novo relacionamento com a filha casada do secretário da Defesa, interpretada por Kim Raver. Mas termina arrastado de novo ao turbilhão do combate ao terrorismo e, uma vez mais, terá de enfrentar um dia no qual vidas estarão em jogo.
Além da existência de células clandestinas infiltradas nos EUA, Cochran e Surnow preferem não revelar muito sobre a futura trama. ‘Cada temporada é como um quebra-cabeças novo em folha’, disse Cochran, tentando explicar como, depois de quatro temporadas, a equipe continua incapaz de desenvolver a trama com mais de uma semana de antecedência. Tradução de Paulo Migliacci’