‘A estratégia de SBT e Record de exibirem até o final deste ano filmes de grande potencial de audiência aos domingos, no mesmo horário do ‘Fantástico’, está causando frenesi na cúpula da Globo.
Diretores das centrais artística, de produção e de programação foram convocados para discutir fórmulas de proteger o programa, que já foi o principal assunto de pelo menos uma das reuniões do chamado ‘comitê’, que reúne os principais executivos da rede.
O SBT irá exibir até dezembro dois longas da série ‘Harry Potter’ (o primeiro será reprisado já no próximo dia 16) e o primeiro da trilogia ‘O Senhor dos Anéis’. A Record também vem com dois ‘arrasa-quarteirões’: ‘+ Velozes + Furiosos’ e ‘O Incrível Hulk’.
O ‘Fantástico’, admitem diretores da Globo, não é imbatível. Já foi superado pelo SBT em 2001 (‘Casa dos Artistas’) e em 2004 (‘Harry Potter’). Sua audiência na Grande SP, que estava nos 36 pontos, caiu para 32 em agosto.
A Globo já reagiu no último domingo. O ‘Domingão do Faustão’ terminou dois minutos antes (às 20h28) para que as chamadas da revista eletrônica (que apelou para a ‘intimidade’ de Zeca Pagodinho) entrassem antes do horário eleitoral. O ‘Fantástico’ deu 28 pontos e venceu a disputa com ‘A Era do Gelo’ (20 na Record) e ‘Pearl Harbour’ (21, no SBT).
A Globo nega mobilização e diz que não há nada de excepcional previsto para o ‘Fantástico’.
OUTRO CANAL
Baixa 1 Depois de escrever 36 capítulos de ‘Bang Bang’, o autor Mário Prata tirou licença médica, por tempo indeterminado, para tratar de doença em um dos ombros. A novela será tocada por sua equipe de colaboradores. Antonio Prata, seu filho, será responsável pela criação das cenas. Marcia Prattes coordenará o texto.
Baixa 2 Segundo a Globo, Prata não se afastará totalmente de ‘Bang Bang’. Continuará lendo os capítulos, trocando idéias e resolvendo dúvidas da equipe. Mas não escreverá nada.
Baixa 3 O afastamento de Prata preocupa a Globo, mas a cúpula da emissora avalia que o pior já passou. Era mais temerário perdê-lo antes de ‘Bang Bang’ estrear. A novela, agora, só precisaria de pequenos ajustes, como um ritmo mais rápido.
Negócios Teve fofoqueiro que insinuou um romance, mas a recente aproximação de João Kléber e Adriane Galisteu é motivada apenas por interesses profissionais. Ele quer o SBT; ela, Portugal. Resultado: Galisteu terá um quadro no ‘João Kléber Show’, programa que a lusitana TVI testará como especial de fim de ano.
Haydée A Globo já sabe quem é a atriz que andou furtando as colegas de elenco de ‘América’, mas decidiu ‘abafar o caso’. A atriz tem um papel para lá de secundário no núcleo pobre, o de Vila Isabel. Já aparecia bem pouco (sem direito a crédito).’
HOJE É DIA DE MARIA
Laura Mattos
‘Nada é inocente na 2ª jornada de ‘Hoje É Dia de Maria’’, copyright Folha de S. Paulo, 13/10/05
‘Maria cai na boca do gigante. Lá dentro, tudo é sombrio. Ela encontra-se com a menina carvoeira e puxa o diálogo:
– Que lugar é esse?
– Nesse lugar, fica tudo o que a cidade joga fora, inté as pessoas.
– Então nós estamos no meio do pesadelo do gigante?
– Não, Maria, nós estamos no meio da realidade do mundo.
‘Hoje É Dia de Maria’ é colorida, musical e estreou na véspera do Dia da Criança. Basta, porém, um olhar mais atento para ver que nada é infantil ou inocente na série de Luiz Fernando Carvalho.
Mariazinha, que na primeira jornada (ou temporada) fugira de casa, da pedofilia e do trabalho escravo, agora deixa a roça e perde-se no caos dos centros urbanos.
Se na versão anterior o universo lúdico embalava um olhar engajado do diretor, desta vez a linguagem de musical faz parecer ainda mais alegre o que é, na verdade, um roteiro denso e comovente.
Carolina Oliveira, intérprete da protagonista, está mais à vontade com tudo, inclusive com o sotaque caipira. Do alto dos dez anos, nenhuma experiência prévia, impressiona novamente pela naturalidade. Dança, canta, sapateia, ri e chora como se tudo fosse real.
Aproveita o dom da criança de se deixar enganar de propósito por uma história, de mergulhar na fantasia e se assustar com vilões mesmo sabendo que são ‘de mentirinha’. Na estréia, o ponto alto da nova menina dos olhos da Globo se dá numa seqüência na qual, sem dizer uma única palavra, revela pelo olhar a fome de Maria diante da vitrine de frango assado, sua solidão ao ver uma família reunida para a ceia e a frustração ao avistar Papai Noel distante, com presentes inatingíveis.
Molhada pela chuva, com frio, Maria refugia-se num beco e acende palitos de fósforo na tentativa de se aquecer. Na primeira chama, ouve a voz do pai. ‘Eu não queria fugir de casa. O mar me arrastou, o gigante me engoliu. Você me desculpa, pai?’, suplica, em lágrimas. Risca o último, escuta a mãe, cai em prantos e levanta os braços no vazio, implorando: ‘Me aquece, minha mãezinha’. É um soco no estômago de quem mora na cidade grande da vida real e cruza com crianças jogadas no meio da realidade do mundo.
Outra grata surpresa desse programa que já mudou a história da TV brasileira: a atriz Inês Peixoto, a Boneca. Do grupo Galpão, de Minas, emocionou ao contracenar com Osmar Prado, brilhante como o artesão doutor Copélius.
Com a cena, ‘Hoje É Dia’ nos lembra de como a TV é capaz de desperdiçar talentos do teatro (Inês) e de que a fábrica de novelas raramente dá conta do potencial dramático dos atores (Prado).
No início do capítulo, um conselho dado a Maria, quando pergunta que caminho deve seguir, soa como recado de Carvalho aos colegas que resistem em testar novos formatos na televisão: ‘Coragem, é só dar o primeiro passo’.
Para aproveitar as últimas linhas, vale dizer que nem sempre foi possível compreender a letra das músicas, especialmente das cantadas em coro. E que, apesar disso, 1,3 milhão de domicílios na Grande SP (25 pontos no Ibope) mergulharam na experiência.
Hoje É Dia de Maria
Direção: Luiz Fernando Carvalho
Quando: até sexta, após o programa que sucede ‘América’; no sáb., último capítulo, depois da novela, na Globo’
Cristina Padiglione
‘Segunda jornada de ´Maria´ é ainda mais experimental’, copyright O Estado de S. Paulo, 13/10/05
‘Em televisão, de onde mal e mal vale a pena absorver 10% do volume ditado no circuito que se fecha entre a linha de shows e a dramaturgia, é impensável imaginar uma produção em que nem uma única fala seja dispensável. Não há frase, palavra, um só acorde à toa na minissérie Hoje É Dia de Maria, cuja segunda jornada – termo bem apropriado para o caso – estreou anteontem na Globo. Nem por isso estamos diante de um programa denso, capaz de afastar telespectadores mais desatentos.
Telespectadores desatentos, aliás, são ilusão de ótica dessa gente que programa televisão de acordo com o que julga ser o viciado gosto do freguês. Mas não é que o freguês aprecia uma variedade no cardápio? A equação que soma embalagem atraente e conteúdo, entretanto, não é assim tão simples de ser alcançada. Antes de mais nada, cabe em Maria um diretor disposto a quebrar a cara – e digamos que esse Luiz Fernando Carvalho seja bem abusado.
Afinal, o problema não é que a platéia queira sempre a mesma coisa. Isso é pretexto para quem sofre de pânico do fracasso. O medo de errar impede a experiência e multiplica a mediocridade. Carvalho passa na contramão dessa covardia. Não tem medo. Em Os Maias, por exemplo, por motivos outros, não foi bem-sucedido. No remake do clássico Irmãos Coragem, idem. Entre acertos e erros, mais acerta, e como acerta.
Deus que conserve esse moço assim.
Calçada na confiança da primeira jornada, que atraiu crítica e ibope, a segunda Maria é ainda mais abusada. Quem, em sã consciência, ousaria remexer em todos os personagens, sem mudar o elenco e sem perder o eixo em torno da pequena? Pois lá estão todos da primeira jornada, em outros papéis, porém com as mesmas índoles, sem qualquer prejuízo para a compreensão do público.
Assim que Maria entra no universo urbano à la Moulin Rouge, o sotaque caipira prevalece só com a pequena. Indício do mais genuíno estado do ser humano. Antes de esbarrar no templo do consumismo, Maria reencontra a dona Lavadeira e a Menina Carvoeira. Entre uma e outra, lá está a Velha a Fiar.
Cada personagem, cada passo de Maria é um bom pretexto para canções folclóricas. E a Morte canta assim: ‘Estava a vida em seu lugar / Veio a morte lhe fazer mal / A vida na morte / A morte no homem / O homem no pau / O pau no cachorro / O cachorro em criança / Criança na velha / A velha a fiar’.
DIABO
Depois de ser arrastada pelo mar – a primeira jornada terminava com a menina indo ao encontro das ‘franjas do mar’ – Maria se deixa engolir pelo gigante. À menina carvoeira, pergunta: ‘Nós tamo no meio do pesadelo do gigante?’.
‘Não, nós tamo no meio da realidade do mundo’, responde a carvoeira. Maria revê o diabo da primeira jornada na carne de Stênio Garcia – ‘Não tô lhe reconhecendo?’.
Vale a pena reconhecer Maria. Da luz amarelada do campo aos tons azulados da metrópole, há um elenco irrepreensível, repertório jamais visto na faixa nobre da TV. Nem há como descrever os efeitos de edição sobre o trabalho de manipulação de bonecos e animação.
Diz-se que televisão é imagem, né mesmo? Essa é para ver.
Serviço
Hoje É Dia de Maria. Hoje, após A Grande Família; amanhã, após o Globo Repórter e sáb., após a novela América. TV Globo (canais/ operadoras:Sky, 5; Net. 18)’
TV PAGA
Keila Jimenez
‘TNT lidera alcance na TV paga’, copyright O Estado de S. Paulo, 13/10/05
‘Em pesquisa divulgada recentemente pelo Ibope sobre o mês de agosto, entre o público acima de 18 anos, os canais TNT, GloboNews, Multishow e Sportv são os que apresentam maior alcance nas seis praças onde é medida a audiência de TV por assinatura. O TNT, por exemplo, teve um tempo médio diário de audiência em torno de 29 minutos em agosto.
Entre os mais jovens, na faixa etária de 4 a 17 anos, o Cartoon lidera o índice de alcance, seguido por Nickelodeon e, novamente, o Multishow.
Trocando em miúdos, falar em índice de alcance, em vez do manjado índice de audiência que sempre norteou a TV aberta, quer dizer o seguinte: quantos telespectadores diferentes ficaram pelo menos 1 minuto sintonizados em determinada atração? É como falar em índice de flutuação. Esse critério, e não apenas os números de audiência absoluta, tem ganho força na hora de chamar a atenção do mercado publicitário para o potencial de cada canal.
O tal potencial de alcance é resultado de pesquisa que concilia a medição de ibope e o share (participação no total de TVs ligadas no horário). Enquanto a audiência é a relação total de pessoas sintonizadas em um programa, dividida pelo tempo de duração da atração, o alcance leva em conta quais são os canais em que você sempre dá uma espiadinha.
Sendo assim, um programa pode ter 100% de alcance (durante sua exibição foi visto pelo menos 1 minuto por todos os assinantes da amostragem), mas dificilmente terá 100% de audiência (quando todos os telespectadores viram o programa inteiro).
‘Canais com programação variada, para várias faixas etárias, conseguem ter maior alcance. E alcance chama a atenção do mercado anunciante’, explica a gerente de Marketing do Multishow, Daniela Mignani.’