Friday, 20 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Debate sobre violência
nas colunas de opinião


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 12 de março de 2007


VIOLÊNCIA & IMPRENSA
Ruy Castro


Longe da mídia


‘Faz hoje dez dias que a menina Gabrielli Cristina Eichholz, de 1 ano e 7 meses, foi encontrada estuprada, estrangulada e agonizante, dentro da pia batismal nos fundos de um templo da Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Joinville, Santa Catarina. Numa sala ao lado, transcorria um culto religioso. Gabrielli morreu pouco depois.


O caso provocou comoção e revolta em Joinville. Mas, apesar de seu forte conteúdo simbólico -a inocência da menina, a inacreditável violência, a pia batismal-, esse crime, ainda que hediondo, não teve maior dimensão. Você provavelmente soube dele por algum jornal ou telejornal de segunda-feira última. Depois, mesmo que se interessasse pelo assunto, não soube mais nada. A mídia nacional abandonou a história.


O fato é que, até agora, ninguém o convidou para uma passeata pela paz, em protesto contra o assassinato de Gabrielli. Ninguém lhe ofereceu uma tarja negra para usar a caminho do trabalho, em sinal de luto pela morte dela. E, embora tenham acontecido vários jogos de futebol durante a semana em seu Estado, nenhum deles guardou um minuto de silêncio em memória da menina.


Da mesma forma, Gabrielli não foi matéria de capa em nenhuma revista semanal. Juristas, pedagogos, cronistas e donas-de-casa ainda não escreveram sobre ela nas páginas de opinião dos jornais. E, por enquanto, nenhum filósofo propôs o suplício lento ou a pena de morte para seu assassino -o qual, aliás, não sabemos quem é ou se já foi encontrado.


Não houve missa de sétimo dia por Gabrielli em nenhuma cidade do país que não Joinville. Sendo assim, pode-se dizer que não deverá haver missa de trigésimo dia.


Gabrielli foi morta em Joinville e lá foi enterrada, longe da mídia e do Brasil. Mas, ainda assim, no Brasil.’


Tales Ab’sáber


Para um debate entre surdos


‘É SINTOMÁTICO que, no momento adiantado de crise concreta do mundo em que vivemos, quando nosso país dá um radical espetáculo de conformismo, o campo religioso, com suas soluções mágicas, manipulatórias e, salvo honrosas exceções, bem adaptadas à ordem da injustiça real, se coloque como a única medida válida das coisas humanas.


Uma vez que altos problemas filosóficos, espirituais e estéticos estão em voga em nosso meio, eu também gostaria de dar a minha opinião, confessando o patético desses ‘humanitismos’ de jornal, incluindo aí o meu próprio. Mas, no caso da avaliação de Luiz Felipe Pondé sobre o sentido de nossa crise, vale explicitar uma grande diferença.


Dada a torção que o interesse concreto do capital operou no interior da razão e sua possibilidade prática -para evocarmos um antigo pensador-, dado o fato de que há limites na natureza e de caráter anômico na vida social para o ilimitado processo de acumulação capitalista e sua acumulação de uma história de catástrofes -como escreveu outro antigo pensador-, estamos diante de uma encruzilhada real, que exige trabalho simbólico e deslocamento de posições que se mantinham estáveis pela força coercitiva de repetição do que poderíamos chamar de ‘a máquina do mundo’.


Creio que esse trabalho não vai se dar a tempo de salvar a nossa pele e, muito menos, como preferem outros, o nosso espírito.


Como a crise natural e humana é séria, e como os agentes globais e locais estruturados, até ontem, se refestelassem no rebu ideológico de um mundo que teria se redimido na forma da sociedade de classes liberal, competitiva e injusta, não há resposta instrumental efetiva para o nosso mal, feito por nós, e ao alcance de nenhuma mão. Além disso, talvez já saibamos que qualquer prática social outra deve evitar exatamente a clivagem reificante e politicamente interessada própria ao aspecto instrumental da razão, cujo pacto é com a reprodução automática deste mundo.


O exercício da crítica, cujo momento é universal, a face melancólica de uma razão que se tornou refém das práticas sociais deformadoras de toda virtualidade no humano que não fosse a tocada pelo mercado, é o único elemento concreto para operar um mundo quase perdido, que precisa alterar suas coordenadas, mas não deve fazê-lo.


Certos horizontes desejáveis são conhecidos: negociação universal que garanta o reconhecimento integral do lugar e do amplo direito de existir do outro no mundo, suspensão do imperativo social da exploração da natureza e do homem pelo homem, superação do modo de subjetivação definido exclusivamente pelo interesse individual isolado, em busca de uma nova articulação comprometida de eu, outro e mundo, incluindo, como meu pai sempre diz, o direito à vida das gerações futuras e de evitar alterações bruscas no ritmo do planeta…


Essas noções racionais e modernas, sabe-se, foram vencidas e deformadas em gigantescas guerras reais e enviadas ao espaço insólito do utópico, embora configurem um ideário que vai se tornando, cada vez mais, apenas necessário. Pensá-las é aproximar-se da articulação de eros e civilização, como se dizia em outro tempo.


Como essas questões básicas, e ainda outras, que apontam para o trabalho sobre um não-saber concreto a respeito de uma nova ordem humana real, não estão pautadas em nenhum fórum efetivo de nosso tempo, capaz de alterar de fato a estrutura produtiva repetitiva deste mundo blindado e aquecido, um potencial não realizado da razão moderna paira sobre nós como um fantasma, uma negativização desrealizadora da vida.


O núcleo vazio, mas socialmente positivado, dessa verdadeira dissociação no sentido amplo do humano, para lembrarmos uma noção cara ao psicanalista Donald Winnicott, abre um espaço psicopolítico para toda ordem de formulações que nos protejam, quando nada mais nos protege de nós mesmos, dos que preferem confiar diretamente em Deus ou no mistério para dar conta de nosso mal demasiadamente humano ou para a alucinação que vem do todo, como a perda de limites fantástica do fetichismo da mercadoria deixa claro, o mundo dos ricos alucinados entre si.


Há também os que gostariam de exterminar entre nós o trabalho intelectual -ou o intelectual-, que seria o culpado do mal no mundo, irremediavelmente incapaz de avaliar uma singela e desinteressada obra de pura literatura.


Entre as alucinoses repostas e sobrepostas no nosso momento da ordem capitalista, o regime do fascismo de consumo, temos de lidar com os que preferem sonhar com um conhecimento mágico passado, cujo núcleo seria a pergunta abstrata aristotélica sobre o móvel primeiro, que nos garantiria a presença de Deus, o texto básico, o ‘Eclesiastes’, e o modelo cultural, a Idade Média, religiosa, obscurantista e estruturalmente injusta.


Há quem prefira ter fé em outras virtualidades humanas.


TALES A.M. AB’SÁBER , psicanalista, é membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae e professor da Escola da Cidade. É autor de, entre outras obras, ‘O Sonhar Restaurado – Formas do Sonhar em Bion, Winnicott e Freud’ (Prêmio Jabuti 2006).’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


As novas Sete Irmãs


‘Quem não se conforma em ver o Brasil nos Brics tem mais um motivo para se debater, a partir de agora. Sai hoje no ‘Financial Times’ e já estava ontem no site a lista ‘As Novas Sete Irmãs’. Expressão lançada há 50 anos para retratar o poder de Standard Oil, Shell e outras ‘companhias ocidentais que dominaram a indústria de energia do mundo’, Sete Irmãs agora se refere a ‘companhias estatais de países emergentes’.


A saber, pela ordem do ‘FT’: Saudi Aramco (Arábia Saudita), Gazprom (Rússia), CNPC (China), NIOC (Irã), Pdvsa (Venezuela), Petrobras (Brasil) e Petronas (Malásia). Cada uma recebeu um perfil, bem como quatro das ‘velhas irmãs’, ExxonMobil, Chevron, BP e Royal Dutch Shell. Da Petrobras, o texto abre dizendo que ‘é uma grande história de sucesso doméstico que começa a se mover para o palco do mundo’.


QUASE FAMOSOS


Dos vários blogs de jornais que seguem com a turnê de George W. Bush, um dos melhores é o On the Plane, de Peter Baker, do ‘Washington Post’, que faz um diário de verdade e relata curiosidades como a reação ao ‘ponto G’ de Lula, ‘até Bush sorriu’.


Ou, mais significativa, a reação do secretário de imprensa Tony Snow ao enviado do ‘New York Times’ Jim Rutenberg. Snow não estaria ‘feliz’ com o fato de o jornal, ontem, ter destacado o ato de Hugo Chávez, e não Bush.


A FELICIDADE


O blog Energy Roundup, do ‘Wall Street Journal’, explica ‘a felicidade dos brasileiros’ com Bush dizendo que, mesmo sem a queda na tarifa, os EUA se juntaram ao esforço de tornar o álcool/etanol ‘uma commodity mundial’.


Uma ‘segunda razão’ é que os brasileiros ‘estão tomando consciência do fato de que o etanol, especialidade do país, pode ser sua chance de entrar na liga de nações dos Meninos Grandes, um lugar ao qual o gigante sul-americano sempre acreditou que pertencia’.


ALGUNS DIREITOS


Gilberto Gil em show ‘raro’, por Larry Rohter


Em meio à turnê de Bush, o correspondente Larry Rohter surgiu ontem no ‘NYT’ com uma longa reportagem, desde Salvador, sobre Gilberto Gil. Não necessariamente o músico, mas o ministro-ativista da Creative Commons, sempre a discursar sobre ‘direitos de propriedade intelectual, mídia digital e tópicos relacionados’ antes de iniciar suas turnês.


No título, ‘Gilberto Gil ouve o futuro, com alguns direitos reservados’. Para Rohter e seu ‘NYT’, ‘Mr. Gil se transformou num jogador central na busca mundial por formas mais flexíveis de distribuição de trabalhos artísticos’. Atestam, entre outros, John Perry Barlow, ex-Grateful Dead e fundador da célebre Electronic Frontier Foundation, que diz, ‘eu não acho que existe ninguém como Gil em lugar nenhum do mundo’.


O perfil já ecoa em blogs engajados tipo IP&Democracy.


A MANIPULAÇÃO


No blog Blue Bus, Márcio Machado relatou como ‘um viral’ criado pelo departamento de marketing da rede NBC, a um custo de US$ 17 mil’, se espalhou no YouTube como se fosse uma paródia crítica da série ‘Heroes’. ‘Zeroes’, o vídeo, é golpe, uma mentira.


Mas o blog MeioBit, entusiasta da Microsoft e crítico do software livre, leu o Blue Bus, apoiou e até se proclamou, no título, ‘Massa de manobra, com muito orgulho’.


RECORD VS. GLOBO


Do site Tela Viva, derivado do Pay-TV, ‘Record espera empatar com a Globo em três anos’. A previsão é do vice-presidente comercial, que num evento de vendas no final de semana lançou até um slogan, ‘Rumo à Liderança’.


‘A partir do crescimento da audiência, a emissora passou a atrair anunciantes mais qualificados’, afirma o site, e a reduzir horários comprados, ‘ações de merchandising de pequenos anunciantes’ etc.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Família veta músicas de Vinicius no ‘BBB 7’


‘Os herdeiros de Vinicius de Moraes (1913-1980) proibiram a Globo de executar músicas compostas pelo poeta no ‘reality show’ ‘Big Brother Brasil’.


Na semana passada, a Globo foi notificada do veto. A advogada da família de Vinicius não esclareceu à emissora a razão da proibição. A Folha procurou o escritório que administra os direitos autorais do compositor, mas não obteve resposta.


A decisão dos herdeiros de Vinicius de Moraes, um dos nomes mais importantes da MPB, surpreendeu a Globo, rede que freqüentemente usa composições do poeta em suas trilhas.


Antes do veto, a emissora já havia usado em ‘BBB 7’ duas músicas de Vinicius, cada uma duas vezes, ambas autorizadas pelos herdeiros do poeta (que recebem por isso) que agora rechaçam o programa. Foram ‘Consolação’ (parceria com Baden Powell), interpretada por Silvio Cesar, e ‘Se Todos Fossem Iguais a Você’ (com Tom Jobim, por Cris Delanno).


Nos bastidores de ‘BBB 7’, acredita-se que o veto foi causado por preconceito. O que intriga os profissionais do programa é que Vinicius, hoje lembrado em fotografias em que aparece bebendo e fumando, não era um homem moralista, a ponto de seus herdeiros considerarem ofensivo sua obra ilustrar um programa feito de mulheres bonitas. A hipótese de preconceito contra o nível cultural dos participantes do programa é a mais cogitada.


PÓ-DE-ARROZ O ‘novo’ ‘SBT Brasil’, em que Carlos Nascimento divide a bancada com a ex-’Casa dos Artistas’ Cynthia Benini, não decolou no Ibope. Pelo contrário. O ‘telejornal’ idealizado por Silvio Santos deu três pontos no Ibope na Grande São Paulo em suas quatro primeiras edições. Na semana anterior, foram quatro pontos.


MONÓLOGOMurilo Benício e Marcos Pasquim andaram se estranhando nos bastidores de ‘Pé Na Jaca’, novela das sete da Globo. Um achava que o outro tinha mais texto e vice-versa.


DANCETERIAA Globo adiou para o segundo semestre o ‘Dança da Galera’, quadro do ‘Domingão’ em que anônimos disputarão categorias com street dance.


PIRATARIA 1A Record entrou na Justiça contra o SBT acusando a concorrente de pirataria e pedindo indenização de R$ 5 milhões. Na noite do último dia 2, o SBT exibiu o filme ‘Soldado Universal’, com Jean-Claude Van Damme, que a Record programara para o domingo, 4.


PIRATARIA 2Os direitos de ‘Soldado Universal’ foram adquiridos pela Record diretamente com a Universal Pictures. A distribuidora acusa o SBT de ter negociado com uma empresa que não possui os direitos. O longa foi transmitido no formato widescreen, o que indica que o SBT pode tê-lo copiado de um DVD.


CORRERIA FINAL O último bloco do último capítulo de ‘Páginas da Vida’ foi editado com a novela no ar.’


Lucas Neves


Reality-show


‘No cenário ultracompetitivo da TV americana, quando um programa emplaca, as emissoras imediatamente começam a buscar formas de perpetuar o sucesso. A tática mais comum é criar derivados da trama original, os ‘spin-offs’. Foi assim que ‘Cheers’ gerou ‘Frasier’ e ‘Friends’ originou ‘Joey’.


Com o cineasta Morgan Spurlock, a história foi um pouco diferente: ele não tinha uma matriz televisiva, mas o prestígio de uma indicação ao Oscar pelo documentário ‘Super Size Me’ -em que encarnava um Ronald McDonald bufo que se entupia da gororoba da cadeia de fast-food durante um mês.


Resolveu ganhar mais uns caraminguás transplantando a idéia para a televisão. O resultado é ‘30 Days’, reality-show cujo segundo ano estréia hoje.


Em cada episódio, Spurlock ou algum incauto que ele recruta passa um mês imerso em um cenário que lhe é estranho. Assim, acompanhamos o retiro campestre de uma dupla urbanóide, o convívio de um católico praticante com uma família islâmica, a acolhida de um homofóbico em San Francisco…


Há premissas estapafúrdias (como o porre de uma mulher para convencer a filha bebum dos males do álcool), mas algumas se salvam: é o caso da estada de um opositor da imigração ilegal em uma casa de ‘foras-da-lei’, mostrada nesta noite. 30 DAYS Quando: hoje, às 23h Onde: FX’


HQ
Pedro Cirne


A lucrativa morte do Capitão América


‘A editora Marvel anunciou na semana passada a morte do Capitão América. Steve Rogers, o homem que veste o uniforme inspirado na bandeira norte-americana, foi baleado e morreu na revista ‘Captain America’ número 25.


Será um truque? Um clone? Um sósia? Joe Quesada, editor-chefe da Marvel, afirmou em entrevistas que Rogers morreu mesmo, e o que acontecerá nas histórias agora será a definição de seu sucessor. E quanto vale uma morte nas histórias de super-heróis?


Peguemos o exemplo de Steve Rogers. Em 1978, ele foi assassinado por uma criatura conhecida como Inimigo. Na minissérie ‘Guerras Secretas’, de 1984, ele é morto ao combater o Doutor Destino três vezes em uma mesma história, um recorde. Em ‘Desafio Infinito’, de 1991, Thanos tem a ‘honra’ de assassiná-lo. Um novo óbito em 1996, em batalha contra o Massacre. E ele sempre voltou. Por que assassiná-lo mais uma vez?


A resposta é: para vender mais. O Capitão América já é um personagem popular, mas o mercado de super-heróis tem fortes concorrentes: Superman, Homem-Aranha, Batman. Então, o que pode fortalecer um personagem?


Um filme, certamente, mas é bem caro e o retorno pode não ser o esperado, como o mal recebido ‘Elektra’. Um ótimo roteirista também, mas achar alguém para sua revista assim não é fácil ou rápido.


Coerência?


Há outra maneira: apelando. Isso significa inventar algo que vá ser revertido em poucos meses, mas que possa ser divulgado como ‘corajoso’ ou ‘revolucionário’. Matar o Superman, por exemplo, ou aleijar o Batman. Ou descobrir que todas as histórias do Homem-Aranha publicadas nos últimos 19 anos não eram do Homem-Aranha, mas de um clone.


A coerência não importa, nem a qualidade da história. Depois é só voltar atrás: o Superman ressuscitou, o Batman voltou a andar e o Homem-Aranha, veja só, sempre foi o Homem-Aranha, ufa.


Matar um personagem como o Capitão América pode ser uma boa decisão, se levada adiante. Como seus amigos reagiriam? E os heróis e vilões? Por outro lado, pode ser péssimo. Houve a notícia, o burburinho e, poucos meses depois, é hora de ressuscitar: era um ‘skrull’! Um ‘superadaptóide’! Um irmão gêmeo!


Aqueles que só compraram porque acharam a notícia da ‘morte’ divertida não vão ligar. O personagem é da editora, que faz dele o que quiser. Mas ninguém gosta de ser feito de bobo. E, se o leitor assíduo, que é o mais importante, sentir-se assim, como ele pode reagir? Parando de ler. Com razão.’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 12 de março de 2007


SEGURANÇA & IMPRENSA
Carlos Alberto Di Franco


Mídia e violência


‘Impressiona-me o crescente espaço destinado à violência nos meios de comunicação. Catástrofes, tragédias e agressões, recorrentes como chuvaradas de verão, compõem uma pauta sombria e perturbadora. A violência não é uma invenção da mídia. Mas sua espetacularização é um efeito colateral que deve ser evitado. Não se trata, por óbvio, de sonegar informação. Mas é preciso contextualizá-la. A overdose de violência na mídia pode gerar fatalismo e uma perigosa resignação. Não há o que fazer, imaginam inúmeros leitores, ouvintes, telespectadores e internautas. Acabamos, todos, paralisados sob o impacto de uma violência que se afirma como algo irrefreável e invencível. E não é verdade. Podemos, todos, jornalistas, formadores de opinião, estudantes, cidadãos, enfim, dar pequenos passos rumo à cidadania e à paz.


Os que estamos do lado de cá, os profissionais da mídia, carregamos nossas idiossincrasias. Sobressai, entre elas, certa tendência ao catastrofismo. O rabo abana o cachorro. O mote, freqüentemente usado para justificar o alarmismo de certas matérias, denota, no fundo, a nossa incapacidade para informar em tempos de normalidade. Mas, mesmo em épocas de crise (e estamos vivendo uma gravíssima crise de segurança pública), é preciso não aumentar desnecessariamente a temperatura. O jornalismo de qualidade reclama um especial cuidado no uso dos adjetivos. Caso contrário, a crise real pode ser amplificada pelos megafones do sensacionalismo. À gravidade da situação, inegável e evidente, se acrescenta uma dose de espetáculo. O resultado final é a potencialização da crise. Alguns setores da mídia têm feito, de fato, uma opção preferencial pelo negativismo. O problema não está no noticiário da violência, mas na miopia, na obsessão pelos aspectos sombrios da realidade. É cômodo e relativamente fácil provocar emoções. Informar com profundidade é outra conversa. Exige trabalho, competência e talento.


O que eu quero dizer é que a complexidade da violência não se combate com espetáculo, atitudes simplórias e reducionistas, mas com ações firmes das autoridades e, sobretudo, com mudanças de comportamento. Como salientou o antropólogo Roberto da Matta, ‘se a discussão da onda de criminalidade que vivemos se reduzir à burrice de um cabo-de-guerra entre os bons, que reduzem tudo à educação e ao ‘social’; e aos maus, que enxergam a partir do mundo real: o mundo da dor e dos menores e maiores assassinos, e sabem que todo ato criminoso é também um caso de polícia, então estaremos fazendo como as aranhas do velho Machado de Assis, querendo acabar com a fraude eleitoral mudando a forma das urnas’. O que critico não é a denúncia da violência, mas o culto ao noticiário violento em detrimento de uma análise mais séria e profunda.


Precisamos, ademais, valorizar editorialmente inúmeras iniciativas que tentam construir avenidas ou ruelas de paz nas cidades sem alma. A bandeira a meio pau sinalizando a violência sem-fim não pode ocultar o esforço de entidades, universidades e pessoas isoladas que, diariamente, se empenham na recuperação de valores fundamentais: o humanismo, o respeito à vida, a solidariedade. São pautas magníficas. Embriões de grandes reportagens. Denunciar o avanço da violência e a falência do Estado no seu combate é um dever ético. Mas não é menos ético iluminar a cena de ações construtivas, freqüentemente desconhecidas do grande público, que, sem alarde ou pirotecnias do marketing, colaboram, e muito, na construção da cidadania.


A juventude, por exemplo, ao contrário do que fica pairando em algumas reportagens, não está tão à deriva. A delinqüência bem-nascida, denunciada muitas vezes neste espaço opinativo, está longe de representar a maioria esmagadora da população estudantil. A juventude real, perfilada em várias pesquisas e na eloqüência dos fatos, está identificando valores como amizade, família, trabalho. Há uma demanda reprimida de normalidade. Superadas as fases do fundamentalismo ideológico, marca registrada dos anos 60 e 70, e o oba-oba produzido pela liberação dos anos 80 e 90, estamos entrando num período mais realista e consistente. A juventude batalhadora sabe que não se constrói um país na base do quebra-galho e do jogo de cintura. O futuro depende de esforços pessoais que se somam e começam a mudar pequenas coisas. É preciso fazer o que é correto, e não o que pega bem. Mudar os rumos exige, sobretudo, a coragem de assumir mudanças pessoais.


A nova tendência tem raízes profundas. Os filhos da permissividade e do jeitinho sentem intensa necessidade de consistência profissional e de âncoras éticas. O Brasil do corporativismo, da impunidade do dinheiro e da força do sobrenome vai, aos poucos, abrindo espaço para a cultura do trabalho, da competência e do talento. O auê vai sendo substituído pela transpiração e o cartório vai sendo superado pela realidade do mercado. A juventude real, não a de proveta, imaginada por certa indústria cultural, manifesta crescente desejo de firmeza moral. Não quer a covarde concessão da velhice assanhada. Espera, sim, a palavra que orienta.


A violência está aí. E é brutal. Mas também é preciso dar o outro lado: o lado do bem. Não devemos ocultar as trevas. Mas temos o dever de mostrar as luzes que brilham no fim do túnel. A boa notícia também é informação. E, além disso, é uma resposta ética e editorial aos que pretendem fazer do jornalismo um refém da cultura da violência.


Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia E-mail: difranco@ceu.org.br


INTERNET
Christian Stöcker


Site criacionista se contrapõe à Wikipédia


‘Os cangurus, como todos os animais modernos, se originaram no Oriente Médio e são descendentes de dois membros fundadores do moderno baramin canguru que foram transportados na Arca de Noé antes do Dilúvio.’ A frase acima foi extraída de uma enciclopédia que pretende ser séria: a Conservapedia. Seguindo os moldes da Wikipédia (enciclopédia eletrônica e interativa, site), trata-se de mais um lance de fundamentalistas cristãos na concorrência com o ensino científico nas escolas.


‘Baramin’ é um termo que indica uma linhagem dos primórdios da vida. Para os criacionistas, é resultado da ordem direta de Deus e corresponde mais ou menos ao termo secular ‘espécie’. Mas, diferentemente do conceito que se baseia nas teorias de Darwin, baramins não se transformam em outros baramins.


A Conservapedia é, em síntese, a resposta dos cristãos fundamentalistas à Wikipédia. É uma tentativa de abalar a suposta hegemonia que os teóricos evolucionistas têm na internet quando se trata de explicar a origem dos seres vivos.


O projeto religioso tem até uma irmã mais velha – a CreationWiki (creationwiki.org) – que dissemina crenças como ‘Deus criou os seres humanos separadamente dos animais há menos de 10 mil anos’. Segundo eles, a teoria da evolução é ‘ensinada como um fato nas escolas financiadas com os impostos pagos pelas pessoas que discordam desses pontos de vista’.


Entre os verbetes da Conservapedia, é possível encontrar um com o título ‘As Cruzadas: boas ou ruins?’ Muitos são extremamente curtos. Procure ‘Monte Sinai’ e você será informado concisamente de que se trata do monte no qual Moisés recebeu os Dez Mandamentos.


A Conservapedia foi criada pelo advogado Andy Schlafly e por 58 alunos de escolas de ensino médio em novembro do ano passado. Ele acredita que o mundo precisa de ‘uma fonte de informação sem os defeitos da Wikipédia’. Ele considera o site ‘uma necessária alternativa à Wikipédia, que é cada vez mais anticristã e antiamericana’. Dedica uma página a ‘Exemplos de como a Wikipédia é tendenciosa’. E calcula que a enciclopédia gratuita é ‘seis vezes mais liberal do que a população americana’.


MUSEU DA CRIAÇÃO


A iniciativa vem se juntar ao Museu da Criação, em Cincinnati, no Estado americano de Ohio. Com inauguração marcada para junho, o projeto custou US$ 27 milhões. ‘Provamos que a teoria da evolução está errada e que a ciência confirma a Bíblia’, diz Mark Looy, um dos fundadores.


Os criacionistas repudiam a teoria da evolução de Darwin e negam que o mundo tenha sido originado pelo Big Bang. Sua convicção é de que a Terra foi criada instantaneamente a partir de ordens de Deus, em seis dias, há menos de 10 mil anos. Suas posições em cosmologia derivam de uma hermenêutica radical – entendem que todo e qualquer texto bíblico tem de ser interpretado literalmente. DER SPIEGEL’


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Antecipar tendências, a obsessão no marketing


‘Uma prateleira repleta de azeites de origens e procedências distintas, instalada em uma das despojadas bancas do Mercado Municipal de São Paulo, encantou o experimentado caçador de tendências Martin Raymond. ‘Seria difícil encontrar tal variedade de oferta em local desse gênero em Londres’, disse ele, exibindo uma foto que será usada em seus estudos sobre varejo e comportamento de consumidores.


O irlandês Raymond visitou o Brasil por quatro dias na semana passada, junto com o inglês Christopher Sanderson – ambos sócios da The Future Laboratory, agência de consultoria de tendências sediada em Londres -, com o objetivo de explorar o universo de consumo no País.


‘As grandes marcas mundiais estão interessadas no potencial de consumo dos integrantes dos BRICs (Brasil/Rússia/India e China) para comercialização de seus produtos, mesmo que muitos deles ainda sejam inacessíveis ao padrão aquisitivo local’, explicou Sanderson. ‘Elas querem, por exemplo, desenvolver experiências de degustação de produtos em embalagens menores, para atender à aspiração desses compradores de países em forte expansão econômica.’


Em outras palavras, a intenção é fixar essas marcas entre as preferências desse novo consumidor para que ele passe a ser comprador habitual do produto, caso venha a mudar de padrão econômico.


Descobrir o que pensa, o que quer e, se possível, antecipar o que esse consumidor contemporâneo, massacrado por múltiplas fontes de informação, vai comprar, tornou-se a mais nova obsessão no negócio de consultoria e pesquisa. A cada dia surgem mais empresas especializadas em metodologias que aproximam ciências como antropologia, sociologia, psicologia e até etnografia, das práticas tradicionais de marketing.


A recém-inaugurada agência Mandalah, associada da também inglesa Sense Worldwide, aposta, por exemplo, em uma plataforma de trabalho que casa o pensamento acadêmico, incluindo até a neurociência, com padrões explorados em avaliações de comportamento na mídia e publicidade.


Uma das maiores empresas mundiais no segmento de pesquisas sob encomenda, a TNS InterScience, acaba de apresentar sua mais nova ferramenta nessa linha. Batizada de BioMapping, a metodologia combina técnicas consolidadas em análises de dados e pesquisa com o que se define por ‘medicina comportamental’. ‘Somos capazes de monitorar as reações fisiológicas dos consumidores com recursos cada vez mais precisos’, diz o diretor da empresa no Brasil, Fábio Drigo.


Graças a novas tecnologias, a velha máxima de que um gesto vale mais do que mil palavras ganha um sentido especial. ‘Foram mais de três anos de testes para validar softwares que captam sinais do corpo, como batimentos cardíacos, respiração e transpiração, entre outros’, conta Drigo. ‘Aliados às táticas de avaliação de testes, esses softwares nos permitem verificar todas as reações de um consumidor diante de uma campanha publicitária, ou ao emitir sua opinião sobre uma linha de produtos ou um serviço.’


TRÊS LINHAS


Segundo a turma do The Future Laboratory, que atende clientes globais como American Express, Gap, Tesco, Nokia e Lamborghini, entre outros – e que, no Brasil, é representada pela agência Voltage -, os consumidores modernos são pautados por três linhas comportamentais.


A primeira delas é o comprometimento: os novos consumidores valorizam o fabricante ético e socialmente responsável com a sociedade que o cerca. Em segundo lugar, acham que a austeridade deve comandar seus impulsos e, portanto, nada de desperdício: deve-se comprar apenas o que se precisa. E, por fim, valorizam a autenticidade, ou seja, compram apenas aquilo que acreditam ser verdadeiro.


‘Cada vez mais o consumidor demonstra que o importante é ele, e não a marca’, diz Raymond. ‘Há uma saturação de ofertas e de informações. O cidadão médio busca superar esses excessos se voltando para o conceito de simplicidade no dia-a-dia. Portanto, a propaganda e as empresas deverão responder a esses anseios para permanecer perto de seu público.’’


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


Operadoras escolhem as armas


‘Enquanto as operadoras de TV paga discutem com as empresas de telefonia, o assinante continua engolindo maus-tratos em suportes via telefone ou internet nas tais centrais de atendimento. Há os que não conseguem ser atendidos e os que sentem falta do bom tratamento que recebiam quando eram clientes da extinta DirecTV.


Mas não adianta, neste espaço, reivindicar um atendimento adequado. Os pedidos nunca geram mudança nesse serviço, que é terceirizado e as operadoras não se sentem responsáveis pelas dificuldades que o assinante enfrenta.


E, se o atendimento é precário, as operadoras tentam fisgar a clientela de outra maneira: o relacionamento com os clientes, a oferta de produtos e o preço. A Net tem, talvez por pouco tempo, o maior trunfo: a exclusividade dos campeonatos futebolísticos. E se sustenta com isso. Tanto que não estuda uma flexibilidade maior de pacotes de canais para diminuir o valor da assinatura.


‘Apesar de o telespectador pedir, pesquisas apontam que isso não é uma necessidade do mercado’, afirma o diretor de Inteligência Mercadológica da Net, André Guerreiro. ‘O assinante é a família, por isso todo tipo de canal é bem-vindo. Por mais que se tenha essa coisa da programação flexível, o que o consumidor quer é quantidade’, alega.


A TVA pensa diferente, uma vez que não possui a força do esporte. ‘A preocupação deveria ser a valorização dos serviços de vídeo e só se fala em entrada das teles no mercado’, fala a diretora-superintendente da TVA, Leila Lória. ‘A discussão do momento no exterior é a mobilidade do vídeo e a personalização do conteúdo.’


Para isso, a TVA aposta em pacotes mais baratos com maior flexibilidade de canais, além de novas tecnologias como o DVR, aparelho que permite ao assinante acionar pausa ou grave seus programas. Alguns televisores já vêm com esse recurso e a Net também está correndo atrás. ‘A Net tem planos para comercializar o DVR ainda este ano’, diz Guerreiro.


Outra aposta da TVA para assinantes classe A é o Slingbox, sistema que permite assistir à TVA em computadores portáteis em qualquer lugar do mundo.


Já a Net coloca suas fichas em sua plataforma digital, com melhoria de imagem, som e a possibilidade da entrada de mais canais e também com a capacidade de velocidade do serviço de banda larga.


Ponto em comum entre Net e TVA é a digitalização de seus sinais. A Net vem trocando os pontos analógicos de sua base Premium de assinantes e a TVA também efetua a troca gratuitamente para alguns clientes.’


INTERNET & TECNOLOGIA
Guilherme Werneck


Estrategista na luta contra corsários


‘Na mitologia grega, Sísifo ofendeu os deuses. Como castigo, foi condenado a carregar um rochedo até o cume de uma montanha, de onde a pedra rolava de volta para baixo. Ele então tinha de levar o rochedo de volta ao cume. O advogado Marcio Gonçalves, segundo consta, não ofendeu nenhum deus, mas desde 1995 ele realiza uma tarefa digna de um Sísifo contemporâneo: combater a pirataria.


Num mundo em que a tecnologia digital permite que cópias de discos, filmes e softwares circulem quase livremente, essa tarefa não é nada simples.


‘Vamos com a polícia fazer uma apreensão pela manhã e à tarde os produtos estão à venda de novo no mesmo lugar’, diz o advogado, que começou sua cruzada contra os piratas na indústria da música, passou pela indústria de software e hoje é o diretor encarregado de lutar contra os corsários na MPA (Montion Picture Association), associação que representa os interesses dos seis maiores estúdios de Hollywood.


Segundo Gonçalves, das três indústrias, a de software leva vantagem. ‘Empresas têm CNPJ, endereço reconhecido. É mais fácil fiscalizá-las do que o consumidor final.’


Hoje a indústria de filmes está num estágio semelhante à da de discos há alguns anos: ‘Nos dois últimos anos, tivemos um momento muito bom, pois as pessoas compraram aparelhos de DVDs e queriam consumir filmes. Os piratas perceberam isso e a oferta de títulos pirateados aumentou. Em paralelo, o pirata lucra mais com um DVD do que com um CD e também há o fato de até os camelôs terem perdido clientes quando a indústria da música passou a sofrer mais o impacto da internet. Muita gente deixou de comprar CDs piratas porque é fácil baixá-los em casa’, argumenta.


Em relação à internet, a indústria de filmes leva uma ligeira vantagem. ‘Em pesquisas, vimos que as pessoas que tem acesso à internet de banda larga não têm muita paciência de baixar filmes. Demora muito tempo, há muitos arquivos corrompidos e em muitos casos a qualidade não é boa.’


Isso faz com que o trabalho da MPA esteja mais focado em combater a pirataria do DVD físico, tanto nas bancas de camelôs quanto em sites que vendem produtos piratas na internet.


E a atuação, nesse caso, ocorre em duas frentes e de maneira distinta. Uma é a repressão à venda, com o auxílio da polícia. E a outra é a educação do consumidor para que ele deixe de comprar dos piratas.


Mas dos dois lados há problemas. No caso da repressão, há a dificuldade de identificar os cabeças do crime organizado que controla internacionalmente a pirataria. ‘O camelô que vende o DVD é um ‘laranja’. Se um é preso numa apreensão, logo há outro em seu lugar. E o crime organizado sabe como manter uma rede pulverizada. Estouramos 200 laboratórios de fabricação de filmes por ano, mas há outros 500 que não conhecemos. E os cabeças montam uma estrutura de células, em que há pessoas que cuidam da mídia virgem, outros da cópia, outros da parte gráfica. Para combater isso, é preciso um trabalho grande de inteligência.’


Outro problema é a garantia da impunidade. ‘Embora o número de apreensões tenha crescido e a lei antipirataria seja boa, há questões de processo penal que fazem com que o pirata, mesmo condenado, dificilmente cumpra pena’, diz.


Já na ponta do consumidor o discurso é outro. Embora não condene as ações contra quem baixa filmes, nos mesmos moldes da indústria do disco, Gonçalves aposta na educação.


‘Só a repressão não elimina o problema. E descobrimos que mesmo a mensagem de que a pirataria é crime não surte o efeito necessário no consumidor por conta da impunidade. Outros caminhos são mostrar que, ao comprar um produto pirata, a pessoa está dando dinheiro ao crime organizado – o mesmo que trafica armas e drogas – e reforçar a questão moral e ética de comprar um DVD pirata.’


Por isso, a primeira ação da MPA em 2007 é um vídeo, exibido em 450 salas de cinema, com mensagem ética: num diálogo entre pai e filho, é feito um paralelo moral entre comprar um filme pirata e colar numa prova.’


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Tecnologia é arma para corsários e cruzados


‘Há 12 anos no combate aos corsários, o advogado Marcio Gonçalves viu como a tecnologia transformou o oferta de cópias ilegais de CDs e DVDs.


‘Nos anos 90, quando o Brasil era o sétimo mercado de música, tinha 5 fábricas de CD. Macau e Hong Kong, de onde vinha boa parte dos CDs piratas do mundo, tinham 40 fábricas cada uma. O disco era enviado a essas fábricas por Sedex e as cópias entravam no País contrabandeadas por via aérea. Depois, os piratas investiram US$ 1 milhão para montar uma fábrica de CDs no Paraguai.’


Hoje, essas fábricas deixaram de produzir os discos e passaram a fabricar CDs e DVDs virgens. Os piratas usam a internet para pegar os filmes e discos e fabricam as cópias em pequenos laboratórios caseiros.


‘Um laboratório com 10 máquinas com 8 queimadores de DVD cada uma consegue produzir de 100 mil a 150 mil unidades por mês’, diz Gonçalves.


No caso do CD, basta copiar um disco que vazou na internet e está disponível nas redes de troca de arquivos. Já nos dos filmes, os piratas são sofisticados. Ou copiam DVDs ou usam microcâmeras para gravar os filmes nos cinemas. E conseguem colocá-los na rua, no mundo todo, com legendas, em 48horas.


Para combater isso, a MPA usa hoje cópias com marca d’água e tem um laboratório em Los Angeles que consegue identificar até o cinema onde a cópia foi feita.


‘A maior parte das cópias é feita hoje do Canadá. Mas também há pirataria de filmes nacionais. Se eu fosse você e O ano que meus pais saíram de férias, dois dos maiores sucessos recentes de bilheteria, foram pirateados nos cinemas brasileiros’, comenta Gonçalves.’


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