Leia abaixo a seleção de quinta-feira para a seção Entre Aspas.
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Folha de S. Paulo
Quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
TELEVISÃO
Ana Paula Sousa
Que esterco é esse?
‘Para muita gente, foi como se a tecla ‘rewind’ do controle remoto tivesse sido acionada. As declarações de Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente Lula para assuntos internacionais, sobre a programação da TV a cabo, fizeram com que produtores e artistas se sentissem como se o tempo tivesse voltado para trás.
Em debate, na semana passada, Garcia pôs em mira a ‘hegemonia cultural dos EUA’. Bélico, comparou a TV fechada à 4ª Frota, divisão naval americana presente no Atlântico sul. ‘Eles realizam, de forma indolor, um processo de dominação muito eficiente. Despejam todo esse esterco cultural (…) A emergência desse lixo cultural nos deixou numa situação grave.’
É fato que mais de 70% da programação dos canais pagos vem de outros países -EUA à frente. Mas o que causou alvoroço foi o tom adotado. ‘É um discurso obsoleto’, diz o cineasta Bruno Barreto. ‘Não costumo ver seriados americanos, mas ‘House’ é muito melhor do que qualquer série da Globo’, emenda o diretor Domingos Oliveira.
Para se contrapor a Garcia, Daniel Filho, de ‘Se Eu Fosse Você’, vai mais longe e, lâmina afiada, afirma: ‘Estamos diante de um homem que apoia os governos de Fidel [Castro] e [Hugo] Chávez. As declarações são muito parecidas com as ouvidas nesses países’.
Sob a ruidosa briga ideológica, há, porém, dados que tornam menos espalhafatosa a discussão. A Agência Nacional de Cinema registra que só 6,4% dos filmes exibidos pelos canais fechados, no primeiro semestre de 2009, eram brasileiros. Nas emissoras abertas, que são concessão pública, o número é bem maior, certo? Errado. Apenas 12,6% dos filmes são nacionais e, na rubrica ‘séries e minisséries’, 71% do tempo, nas TVs abertas, é ocupado por produtos vindos dos EUA.
É por essas e outras que muitos produtores dizem que Garcia, simplesmente, mostrou ter má pontaria. ‘No Brasil, se há uma TV hegemônica, que faz a cabeça das pessoas, é a aberta. E, ao contrário do cabo, ela não tem regulação’, observa Roberto d’Ávila, que fez programas para Fox e Sony. Cabe lembrar ainda que o cabo tem reduzidos 7,5 milhões de assinantes.
Já para o professor Laurindo Leal Filho, da USP, o que existe na TV brasileira é uma espécie de apartheid. ‘Uma aliena com ‘Big Brother’ e programas de auditório. Outra, restrita a quem pode pagar, reproduz, mesmo em programas de entrevista, um discurso político alinhado à hegemonia norte-americana e à demonização dos governos populares’, diz o intelectual, que se alinha a Garcia.
‘Nada disso tem sentido’, reage o produtor Kiko Mistrorigo, que trabalha para a Discovery Kids. ‘O Brasil, como todos os países, tem de participar do caldo cultural mundial.’’
TV a cabo se abre para obras nacionais
‘‘No Brasil, temos uma piada pronta: ‘A TV fechada é aberta e a TV aberta é fechada’.’ O trocadilho feito por Kiko Mistrorigo, da TV Pinguim, grife na animação, ajuda a explicar o curto-circuito desencadeado pelas declarações do professor Marco Aurélio Garcia.
‘Estou fora dessa curva que ele vê’, retruca Mistrorigo. A série infantil ‘Peixonauta’, criada pela TV Pinguim, pegou mão oposta à da ‘4ª Frota’. Comprado pela Discovery Kids, o programa levou bonecos e cenários brasileiros para vários cantos do mundo. ‘Quando começamos a tentar vender o ‘Peixonauta’ lá fora, era difícil explicar por que ninguém aqui tinha comprado’, diz. Destino semelhante tiveram ‘Escola para Cachorro’ (Nickelodeon) e ‘Princesas do Mar’ (Discovery Kids).
Fora do universo dos bonecos e bichos, tem-se ‘9 MM’ (Fox), ‘Mandrake’, ‘Filhos do Carnaval’ e ‘Alice’ (HBO).
O empurrão às coproduções foi dado por um mecanismo que oferece benefício fiscal às programadoras estrangeiras que destinem parte do lucro a obras brasileiras.
‘Está comprovado que os programas nacionais dão uma média de audiência acima dos outros’, diz Roberto d’Ávila, produtor de ‘9 MM’. ‘Se não investem mais é porque o tamanho dessas empresas, no Brasil, é incompatível com o custo de uma produção. E, é claro, procuram um produto que possa se adequar à grade.’
Essa adequação é, não raro, a pedra no caminho que os produtores encontram antes de cruzar a porta das emissoras. ‘Já tentei fazer seriados, mas eles querem formatar tudo do jeito deles’, reclama o cineasta Domingos Oliveira.
‘Cabe aos produtores criar produtos que sejam interessantes para as emissoras’, rebate o diretor Bruno Barreto. ‘E ninguém pode dizer que a TV a cabo não se abre para a criatividade. Sabemos muito bem que, hoje, as estruturas não maniqueístas e a imprevisibilidade mudaram do cinema de Hollywood para a TV. O Marco Aurélio [Garcia] deveria ver TV antes de falar.’’
Projeto debate criação de cota para brasileiros
‘As discussões sobre proteção ao conteúdo nacional, aquecidas pelas declarações do assessor da Presidência da República, devem ter novos capítulos neste ano. Aprovado em dezembro na Câmara, o projeto de lei 29, que permite a entrada das telefônicas no negócio da TV paga, prevê, também, uma cota para programas nacionais.
O projeto, em trâmite há três anos, coloca no ringue emissoras de TV, empresas de telefonia e produtores independentes. A Associação Brasileira de TV por Assinatura tem declarado que a cota é uma reserva de mercado ineficaz.
Já a Associação Brasileira de Produtoras Independentes de TV argumenta que, ao aprovar tal medida, o Brasil estaria fazendo, tardiamente, o que o mundo inteiro já fez. ‘Isso foi feito no Canadá, na Europa, no mundo inteiro’, diz Fernando Dias, presidente da entidade. ‘É uma maneira de organizar o setor, de fazer com que tenha conteúdo regional, voltado aos interesses do próprio país.’
Entre quem bota a mão na massa para fazer filmes, as opiniões se dividem. ‘Qualquer imposição pode ser um tiro no pé’, diz Bruno Barreto. ‘Na cultura, o mundo é protecionista. As cotas são um caminho para que se abra espaço’, contra-argumenta Kiko Mistorigo.’
Raul Juste Lores
Canal pago acolhe o que Holywood baniu
‘As dez maiores bilheterias do cinema americano no ano passado não deixam dúvidas de que temas adultos, roteiros elaborados e atores com mais de 30 anos têm mais chance na TV do que em Hollywood.
‘Transformers 2’, ‘Harry Potter 6’, ‘Se Beber, Não Case’, ‘Up’, ‘Lua Nova’ e ‘Avatar’ têm algo em comum, saltos tecnológicos à parte: uma escritura sem ossos ou espinhas para que adolescentes, os maiores frequentadores dos cinemas, possam mastigá-los sem medo.
‘Não existem papéis tão intensos no cinema’, reclama o ator Ted Danson, da série Damages. ‘Nos filmes de US$ 100 milhões, o investimento está nos efeitos especiais e no marketing, não no roteiro’, diz.
A depressão da América pós-crise financeira (‘Hung’, ‘Damages’), os desafios morais da guerra ao terror (‘24’), a América sexista e racista pré-revolução sexual (‘Mad Men’), a indústria das drogas e suas insuspeitas ramificações (‘The Wire’) ou a intolerância (‘True Blood’) ganham generosos roteiros, produção em película, cenas de sexo e drogas banidas de Hollywood e um status único na cultura pop.
O jornal ‘El País’ perguntou a famosos escritores espanhóis o que achavam da atual safra de seriados. ‘Se Dumas ou Balzac estivessem vivos, estariam na TV, onde é feita boa parte da melhor narrativa no mundo’, compara Carlos Ruiz Safón.
‘As sete temporadas de ‘Os Sopranos’ foram pouco’, reclama o fã Javier Marías. E o filósofo Fernando Savater diz que ‘Os Simpsons’ não se limitam à sátira social, mas ‘que praticam com ácido entusiasmo a purificação antropológica’.
A rede de TV franco-alemã Arte dedicou o documentário ‘Hollywood, o Reino das Séries’, à era dourada da TV americana. No programa, destaca-se o poder dos roteiristas-produtores sobre o dos diretores e o cuidado com o texto.
O métier já se deu conta disso. Grandes atores hollywoodianos que não encontravam bons papéis na indústria-pipoca migraram para a TV. Glenn Close, Kathy Bates, Holly Hunter, Kiefer Sutherland, Martin Sheen e Rachel Griffiths se mudaram para a telinha, assim como nomes quentes do cinema independente, como Tim Roth, Gabriel Byrne, Patricia Clarkson, Mary Louise Parker e Chloe Sevigny.
Cineastas como o argentino Juan José Campanella (‘O Filho da Noiva’) e o norte-americano Bryan Singer (‘Os Suspeitos’) trabalham como diretor e produtor executivo da série ‘House’ (Universal Channel).
Alan Ball, que levou o Oscar por ‘Beleza Americana’, se consagrou mesmo com os seriados ‘A Sete Palmos’ e ‘True Blood’. O escritor Dennis Lehane escreveu roteiros para ‘The Wire’, e o cineasta Rodrigo García, filho de Gabriel García Márquez, dirigiu episódios de ‘A Sete Palmos’, ‘Big Love’ e ‘In Treatment’.
O riquíssimo mercado televisivo americano ajudou a revolução: 55% da audiência está nos canais a cabo, que chegam a 100 milhões de domicílios que pagam pela assinatura e são o público mais cobiçado pelos anunciantes. Se as TVs abertas visam a massa, o cabo precisa achar o seu nicho.
Por isso uma série como ‘Mad Men’, a mais premiada nos últimos três anos no país, pode se contentar com apenas 2 milhões de espectadores por episódio. Por trás de sucessos como ‘True Blood’, ‘Sex and the City’ e ‘A Sete Palmos’, a HBO arrebanhou 40 milhões de assinantes. Sua maior concorrente, Showtime, investiu em seriados ainda mais polêmicos, como ‘Dexter’, ‘Queer as Folk’, ‘Californication’, ‘The Tudors’ e ‘The L Word’.
Roteiristas do seriado ‘The Wire’ já participaram de festivais literários no Reino Unido e na China, onde outros escritores os tietavam. Para esses intelectuais, o esterco cultural não está no cabo.’
Marcos Augusto Gonçalves
Esterco, go home!
‘Não há dúvida de que a indústria cultural desempenhou seu papel na ascensão dos Estados Unidos a potência mundial durante o século 20. Cinema, música, história em quadrinhos, pipoca e hambúrguer também foram artífices da ‘hegemonia’ norte-americana.
Mas, se é tolice tentar negar a existência de laços entre cultura e poder, aproxima-se da burrice traduzir essa relação nos termos estreitos e datados do esquerdismo latino-americano, esquemático e antiamericanista, ainda professado, ao que parece, pelo assessor presidencial Marco Aurélio Garcia.
No discurso do sábio palaciano não há lugar para dialética e sutilezas. Tudo se move segundo o maniqueísmo pueril e ao mesmo tempo brutal do marxismo vulgar.
O culpado pelo atraso histórico do continente é o êxito dos americanos. O mal é o imperialismo ianque, que exerce sobre nós seu ‘processo de dominação’. Algo assim: Rambo enfia o cano de sua metralhadora na orelha do Jeca Tatu e o obriga a dançar um rock.
O que emerge da conversa de Garcia é uma concepção estanque de culturas nacionais, que deveriam ser protegidas por muralhas para não se deixarem conspurcar pelo esterco alheio. Esterco, go home!
Parece não ocorrer ao nosso Policarpo Quaresma do Planalto que a cultura norte-americana, aliás de maneira análoga à brasileira, é em grande medida caudatária da europeia e forjou-se num complexo e rico processo de interação e entrechoques de nacionalidades e etnias -no qual, aliás, teve relevância a contribuição africana.
Sem os negros não haveria o jazz, aquela música perigosa que Hollywood adotou e ajudou a difundir pelo mundo.
E o que fez o jazz em seu ‘processo de dominação’ sobre a cultura brasileira? Acabou com o nosso glorioso samba? Ora, Pixinguinha já era jazz. E a bossa nova, que terminou virando marca e orgulho nacional, não existiria sem a dialética do samba com o esterco jazzístico ianque. Oswald de Andrade, que também teve seu sarampo stalinista, já havia apontado: não precisamos ter medo, não somos indefesos, somos antropófagos.
Mas talvez Garcia, lembrando Sebá, o último exilado brasileiro (tipo criado em outros tempos por Jô Soares), ainda considere Tom Jobim e João Gilberto agentes infiltrados da CIA que queriam sabotar nossa autêntica música popular.
O problema das ideias expostas pelo professor é que, estando ele no poder e raciocinando como homem de Estado, indicam a hipótese sombria do autoritarismo. Não apenas ao modo tragicômico de Hugo Chávez, mas ainda pior. Ou como deveríamos entender a saudosa menção aos valores do finado socialismo real?
Concordaria o ilustre conselheiro, por exemplo, com o governo chinês, que exerce censura até sobre a internet? Aliás, por que Garcia está tão preocupado com a restrita TV a cabo?’
Luiz Fernando Carvalho
Com medo da liberdade
‘Ao ler as declarações de Marco Aurélio Garcia, lembrei da anedota que circulava na falecida República Democrática Alemã. Sabendo que toda correspondência seria lida por censores, um operário que conseguiu emprego na Sibéria combina com os amigos: ‘Vamos criar um código. Se uma carta estiver escrita em tinta azul, o que ela diz é verdade; se estiver escrita em vermelho, tudo é mentira’.
Um mês depois, os amigos recebem uma carta escrita em azul, que diz: ‘Tudo aqui é maravilhoso, o comércio vive cheio, a comida é abundante, os lares aquecidos, os cinemas exibem filmes do Ocidente, há uma atmosfera de liberdade e justiça social por toda parte. O único senão é que não se consegue encontrar tinta vermelha’.
A menção à inexistência da tinta mostra que a carta deveria ter sido escrita em vermelho. Isso produz o efeito da verdade: era a única forma de transmitir a mensagem verdadeira naquela condição de censura.
Pegando carona na anedota, podemos dizer que a ‘tinta’ usada nas declarações do professor -’processo de dominação’- são termos que maquiam nossa percepção da situação em vez de nos permitir pensá-la, servem para mascarar e manter nossa precariedade audiovisual mais profunda.
A libertação evocada por Garcia transforma-se na melhor de todas as salvaguardas contra a liberdade: ‘A esquerda precisa reagir à difusão de valores capitalistas’, diz. Em que a TV a cabo incomoda este governo? Assiste quem paga, e o assinante tem o livre-arbítrio de cancelar sua assinatura. Questões mais urgentes nas telecomunicações, como os desdobramentos dos canais digitais das TVs, seguem esquecidas em alguma gaveta do Planalto.
A TV a cabo representa uma elite de cerca de 5%, enquanto a maioria da população é arrastada pelos conteúdos [alguns até mais nocivos que os estrangeiros] das TVs abertas, que se abstêm de abraçar uma função maior: a formação de cidadãos, e não só de fiéis consumidores.
Mas isto pouco importa ao assessor, seu negócio é o controle do imaginário brasileiro via TVs a cabo, quem diria. É preciso olhar o mundo. Proibir, não. Nossa TV por assinatura nasceu sob influência de um modelo monopolista da TV aberta e da importação de produtos culturais dos grandes ‘players’ do cenário internacional. Para alterar a restrição dos 49% no máximo de participação estrangeira nas concessões de TV, é necessário mudar a lei que as regula.
A não ser que Garcia considere que, diante da crescente monopolização das TVs pagas, monopólio por monopólio, o de Estado seja melhor. Mas o assessor escolheu virar suas baterias contra os ideais democráticos, tentando restringir o livre fluxo da informação, como acontece nos regimes totalitários, onde o primeiro inimigo passa a ser a imprensa livre.
Essa mesma imprensa foi quem revelou ao país seus verdadeiros pensamentos ao flagrar seu gesto obsceno [o top-top do Fradinho, do Henfil], captado por uma câmera ‘indiscreta’, espalhando sua chocante reação debochada às primeiras investigações sobre o trágico acidente com o avião da TAM. Em vez de trabalhar para o aprimoramento da indústria cultural brasileira, Garcia opta pelo mais fácil: o cerceamento.
Ataca uma indústria ainda em formação, que nasceu tardiamente no Brasil nos anos 70 e se constituiu como mercado efetivo somente a partir dos 90. Hoje, as TVs por assinatura, que estão se revigorando através de leis de incentivo à produção nacional, deixaram de ser meras repetidoras de conteúdo estrangeiro e começam a gerar empregos para profissionais do audiovisual, trazendo inovação de fora e de dentro.
Debulhando todo o seu conteúdo, é evidente, avista-se muita produção duvidosa, mas se colhe também o que de melhor está sendo produzido no mundo da TV.
Comparar a influência em termos de dominação cultural da TV a cabo à ameaça militar da 4ª Frota americana é no mínimo uma piada [e velha], uma atitude anacrônica de uma esquerda já tão antiquada e sectária que nos faz lembrar os métodos do general Quandt de Oliveira, ministro das Comunicações [1974-79] do governo ditatorial do general Geisel, que preconizava a estatização das TVs e o cerceamento da exibição de produção estrangeira, num momento em que a Europa se preparava para privatizar suas TVs e McLuhan já tinha formulado o conceito de ‘aldeia global’.
Ideias obtusas como as proclamadas por Garcia e a insistência em manter o isolamento eletrônico para melhor manipular e dominar -como em Cuba, Venezuela e China- é o mesmo que proibir a publicação de autores estrangeiros. Como diz o filósofo Slavoj Zizek: com esta esquerda, quem precisa de direita?
Caberá ao governo decretar o que é ‘esterco cultural’? Cercear a exibição de conteúdos, numa era de transmídia, é uma medida isolacionista, que não gera troca de ideias nem de ideais. É estar na contramão da cultura e do que acontece no mundo. Fico com Bernard Shaw: ‘Liberdade significa responsabilidade, é por isso que tanta gente tem medo dela’.
LUIZ FERNANDO CARVALHO, 49, é cineasta e diretor de TV. Dirigiu ‘Lavoura Arcaica’, ‘Hoje É Dia de Maria’ e ‘Capitu’, entre outros’
EUA renovam ‘Gossip Girl’ e ‘90210’
‘O canal CW renovou cinco de suas séries, mais voltadas aos adolescentes. A principal é ‘Gossip Girl’, que entra no quarto ano.
‘The Vampire Diaries, que estreou sua primeira temporada no ano passado, e o remake de ‘Barrados no Baile’, agora chamado ‘90210’, também estão na lista.
A sexta temporada de ‘Supernatural’ e o reality show ‘America’s Next Top Model’ completam a programação, prevista para setembro e outubro.’
Criador deixa coordenação de ‘Sobrenatural’
‘O criador de ‘Sobrenatural’ (‘Supernatural’, na Warner), Eric Kripke, vai se afastar da função de ‘showrunner’, que coordena a produção. Ele deverá se manter próximo da possível substituta, a produtora Sera Gamble. Nos EUA, está sendo produzida a sexta temporada.
No Brasil, o SBT exibiu a quarta temporada da série, na qual dois irmãos se unem para enfrentar criaturas sobrenaturais, enquanto a Warner passa o quinto ano na TV paga.’
IMPRENSA
Jornalista do ‘NYT’ suspeito de plágio se demite
‘Zachery Kouwe, repórter que o ‘New York Times’ investiga por suposto plágio de textos do ‘Wall Street Journal’ e outros meios, pediu ontem demissão do jornal nova-iorquino, segundo a imprensa dos EUA. O ‘WSJ’ fez um alerta sobre o caso ao ‘NYT’, que se desculpou e disse que tomará ‘medidas para proteger a integridade do jornalismo’.’
TODA MÍDIA
Nelson de Sá
Apostas eleitorais
‘O americano Pimco, maior fundo mundial, dirigido por Mohamed El-Erian, ‘obteve seu melhor ano nos emergentes em 2002, quando apostou em títulos brasileiros antes da eleição’, destaca a Bloomberg. ‘Oito anos depois, usa tática semelhante e aposta que o vencedor em outubro’, seja Dilma Rousseff ou José Serra, ‘manterá o êxito do presidente Lula em orquestrar crescimento com contenção do deficit’. Também o Asset Management, de Mark Mobius, que em 2002 jogou contra e chegou a falar em moratória, agora acompanha o Pimco. Mobius ‘aposta em vitória de Rousseff’ e prevê ‘mais do mesmo’.
Já o ‘Financial Times’ ouviu do banco Mellon que a Bolsa no ‘Brasil dá sinais de fadiga’.
DISFUNCIONAL
Na manchete do ‘New York Times’, ontem, ‘Trava partidária em Washington alimenta medo de crise da dívida’. Polarizado, o Congresso ‘disfuncional’ não consegue fechar acordos para ‘controlar uma dívida nacional que alcança alturas perigosas’. Citando pesquisa ‘NYT’/CBS, alerta que ‘o fracasso dos políticos em reduzir os deficits reflete a oposição dos eleitores aos passos necessários’, como cortes nos orçamento de saúde e defesa.
DEIXANDO O DÓLAR
O ‘China Daily’ abriu sua reportagem sobre os títulos do Tesouro americano dizendo que ‘A China reduziu seus papéis da dívida dos EUA, deixando o Japão como maior detentor’. Este e o Reino Unido, terceiro, elevaram as compras. O Brasil, quarto, pouco alterou o montante.
NEM TANTO
Já o ‘Wall Street Journal’ destacou, em título de análise, que ‘As vendas de títulos do Tesouro pela China não representam uma grande mudança em relação ao dólar’. Ela passou ao segundo lugar, ‘mas não está se movendo agressivamente para longe dos papéis em dólar’.
VOZ DO BRASIL
O ‘El País’ fez longa entrevista com o chanceler Celso Amorim, sob o título, entre aspas, ‘Passada emergência, só devem ficar no Haiti as forças da ONU’. Questionado sobre a maior visibilidade americana, ironizou: ‘Nós estamos no Haiti. Não competimos na CNN, que mostra mais o ex-presidente Clinton do que o comandante brasileiro encarregado da segurança no país’.
Dado como ‘a voz internacional do Brasil da era Lula’, ele falou ainda de Irã, G20 e Brics. No enunciado do UOL, que já traduziu, ‘Se a Grécia aceitasse dinheiro do FMI, uma parte seria nossa, da China e da Rússia’.
ECO NO IRÃ
Com foto de Amorim, a home page da iraniana PressTV destacou do ‘El País’ que a ‘ONU deve tomar lugar dos EUA no Haiti’. E que, para o chanceler, seria ‘erro imaginar que os EUA estão resolvendo a crise haitiana’.
CONTRA SANÇÕES
Via agências, ‘Brasil resiste à pressão por sanções ao Irã, diz enviada’. A embaixadora Maria Viotti relatou que o país ‘disse aos EUA e à França que não apoia e vai continuar a buscar maior comércio com o governo islâmico’.
O ASSASSINATO
Nas manchetes on-line dos britânicos ‘Guardian’ e ‘Telegraph’ e dos israelenses ‘Haaretz’ e ‘Jerusalem Post’, ‘Reino Unido intima embaixador de Israel sobre passaportes usados no assassinato de líder do Hamas’. O grupo que matou Mahmoud al-Mabhouh em Dubai teria usado documentos de seis israelenses nascidos no Reino Unido. Para o site da ‘Foreign Policy’, os ‘passaportes falsos podem revelar um erro do Mossad no assassinato’.
Já o ‘NYT’ ressaltou que, em meio às críticas à ação, o governo israelense está preparando uma campanha para melhorar a imagem do país no mundo.
REI DA DANÇA
O ‘NYT’ perfilou o bailarino brasileiro Marcelo Gomes, ‘um dos principais do American Ballet Theater’, sob o título ‘Um rei da dança, seguro em seus domínios’’
MURILLO ANTUNES ALVES (1919-2010)
Estêvão Bertoni
O jornalista das antigas que obrigou SP a usar cinto de segurança
‘Quando Murillo Antunes Alves começou no jornalismo, o rádio era, para muitos, um bicho de sete cabeças.
Em 1948, por exemplo, um ano após entrar para a rádio Record, o rapaz saído de Itapetininga, no interior de SP, entrevistou Monteiro Lobato.
E o que registrou, ali, foi o estranhamento do escritor ao falar para um ‘canudo que ouve’ -assim a engenhoca conhecida como microfone pareceu aos olhos do autor de ‘Reinações de Narizinho’.
‘Eu estou falando, e dizem eles que um aparelho está gravando e [que] depois vai repetir ao público minhas bobagens’, afirmou, desconfiado, o escritor, que morreria dias depois da entrevista.
No rádio desde 1938, Murillo -que se formou em direito pela USP nos anos 1940 -era, até segunda-feira, um dos jornalistas mais antigos do país e o funcionário com mais tempo de casa na Record.
Da rádio, transferiu-se para a TV da empresa, no ano de sua inauguração, em 1953.
Nela, cobriu a vinda ao Brasil de Bill Halley e seus Cometas, o casamento do príncipe Charles, na Inglaterra, e o enterro de Tancredo Neves.
Ganhador de vários prêmios como radialista, entrevistou ao longo da carreira políticos como Getulio Vargas, Adhemar de Barros e Jânio Quadros -do qual foi, anos depois, assessor de gabinete na Presidência.
Apresentou também, até o fim dos anos 1990, o ‘Record em Notícia’, apelidado de ‘jornal da tosse’ devido a idade avançada de seus âncoras.
Na mesma década, foi vereador em SP pelo PMDB e conseguiu ver aprovado seu projeto que obrigava o uso do cinto de segurança na capital.
Chegou ainda a ser o primeiro chefe do cerimonial da Assembleia Legislativa de SP, nos anos 1950, e exerceu o mesmo cargo no governo do Estado, nos anos 1970, e na Câmara Municipal de SP.
Era um apaixonado pela Record, aonde ia todos os dias, nem que fosse só para almoçar, como conta a família.
Além de um enorme arquivo em casa, deixou na lembranças dos amigos os trocadilhos que adorava fazer.
Viúvo há cerca de dez anos, morreu na segunda, em SP, aos 90. Foi enterrado anteontem, em Alambari, na região de Itapetininga. Não resistiu após passar por uma cirurgia.
Deixa filho, netos e bisneto.’
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O Estado de S. Paulo
Quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
PLÁGIO
Efe e NYT
Jornalista do ‘NYT’ acusado de plágio deixa a empresa
‘O repórter Zachery Kouwe, acusado de plagiar partes de vários artigos, pediu demissão anteontem, segundo fontes ligadas ao caso. Kouwe foi acusado pelo Wall Street Journal de usar trechos de seus textos em matérias em um blog e em suas próprias reportagens para o The New York Times sem citar as fontes.
Kouwe, que já tinha sido suspenso, se reuniu com representantes do jornal nova-iorquino para discutir ações disciplinares, mas o jornalista decidiu deixar a empresa.
Na sexta-feira, o diretor do The Wall Street Journal Robert Thomson mandou uma carta para o NYT apontando semelhanças entre um artigo do site do WSJ e uma postagem do blog financeiro do NYT ? que no dia seguinte foi publicada na versão impressa. Os textos foram postados na internet no mesmo dia, 5 de fevereiro, com apenas duas horas de diferença. Após a denúncia, os editores do NYT investigaram o caso e encontraram outros exemplos de plágio do jornalista.
O NYT revelou o incidente na segunda-feira, quando publicou uma nota afirmando que Kouwe copiou passagens do WSJ e da agência de notícias Reuters em suas reportagens e posts no blog financeiro do NYT sem citar as fontes.
‘Copiar diretamente de outros veículos sem atribuir a fonte ? inclusive se os fatos são verificados de maneira independente ? é uma séria violação da política do Times e das normas básicas do jornalismo. Não deveria ter acontecido’, disse Diane McNulty, porta-voz do jornal nova-iorquino.’
POLÊMICA
Efe e Reuters
Jornalista é preso na Inglaterra
‘A polícia britânica prendeu ontem o jornalista Ray Gosling, de 70 anos, sob suspeita de homicídio após admitir ter matado seu ex-companheiro, portador do vírus da aids. Ativista dos direitos dos homossexuais, Gosling afirmou em um programa de televisão que asfixiou seu ex-companheiro com um travesseiro, no hospital, para cumprir um acordo e evitar que ele sofresse mais com a doença.
‘Nós tínhamos esse acordo. Se as dores se tornassem muito intensas, eu acabaria com a sua vida. Foi o que eu fiz’, disse o jornalista, durante o programa Inside Out, da rede de televisão BBC. ‘Os médicos haviam dito que ele enfrentaria dores terríveis e que nada poderiam fazer. Peguei o travesseiro e o asfixiei até a morte’, relatou.
Gosling garantiu que não diria o nome de seu ex-companheiro, nem quando o incidente ocorreu. A polícia afirmou que só tomou conhecimento do caso quando as declarações de Gosling ganharam repercussão, na noite de segunda-feira. ‘A polícia de Nottinghamshire prendeu esta manhã um homem de 70 anos sob suspeita de assassinato após declarações no programa Inside Out, da rede BBC’, afirmou um porta-voz da polícia.
No programa, Gosling afirmou ainda que não sentia remorso pela morte do ex-companheiro. ‘Quando se ama alguém, é duro ver a pessoa sofrer’, disse ele.
A rede BBC afirmou que, em princípio, o programa era sobre cerimônias fúnebres, até que os produtores tomaram conhecimento do ‘segredo’ de Gosling durante as gravações do documentário, realizadas no final de 2009. A BBC disse que vai colaborar com as investigações.
POLÊMICA
A revelação de Gosling acendeu o debate sobre a eutanásia. Apesar de ter sido aplicada por meio de decisões judiciais, a eutanásia é ilegal no Reino Unido e pode levar à pena de até 14 anos de prisão.
Em razão disso, dezenas de doentes em estado terminal têm procurado clínicas da Suíça, onde a eutanásia é permitida e os familiares que colaboram com o ato não são condenados. Só em 2009, 120 britânicos procuraram a clínica Dignitas, em Zurich, especializada em mortes assistidas – o que vem sendo chamado de ‘turismo de eutanásia’.’
TELEVISÃO
Antonio Gonçalves Filho
Veredas de Avancini
‘Há 25 anos, a atriz Bruna Lombardi, então com 33 anos, vestiu-se de homem e passou três meses cavalgando sobre as terras áridas de Paredão de Minas, um vilarejo de 225 habitantes no distrito de Buritizeiro, na época sem luz nem televisão, invadido de uma hora para outra por uma voraz trupe de profissionais da televisão, que consumiam um boi a cada refeição e 13 mil copos de água por dia, além de uma tonelada de frutas por semana. Tudo isso para gravar uma das melhores minisséries produzidas na história da TV Globo, Grande Sertão: Veredas, baseada na obra homônima de Guimarães Rosa (1908-1967). Nela, Bruna Lombardi interpretava o jagunço Diadorim, sobre o qual fala nesta entrevista ao Estado.
Companheiro de Riobaldo, o narrador protagonista na minissérie recém-lançada em DVD pela Globo Marcas (quatro discos, R$ 69,90) e dirigida por Walter Avancini (1935-2001), Diadorim é um dos personagens mais complexos da literatura brasileira que, graças aos esforços da atriz, conquistou 10 milhões de espectadores quando os 25 capítulos de Grande Sertão: Veredas foram exibidos entre novembro e dezembro de 1985. Transposição digna do livro, a minissérie, agora editada nesse compacto de 14 horas, exigiu de seus adaptadores, Walter George Durst (1922-1997), Avancini e José Antonio de Souza uma dose considerável de coragem para dar ênfase ao amor proibido entre Diadorim e Riobaldo, isso um ano depois que o Brasil saiu oficialmente de um ditadura militar para conhecer um pouco a liberdade garantida pela democracia.
Como se sabe, Riobaldo só descobre que Diadorim é mulher depois de sua morte, no epílogo filmado com delicadeza e ousadia. Nele, Bruna, até então vestida com roupas rústicas para enfrentar a aspereza do sertão, aparece nua para deleite dos telespectadores e tristeza de Riobaldo (Tony Ramos) ? por ter resistido em vão ao assédio de Diadorim. Transformada em Reinaldo para enfrentar a dura realidade sertaneja, Diadorim é o personagem mais complexo desse épico que, publicado em 1956, ainda corre mundo conquistando novos leitores ? a recente tradução argentina (Editorial Adriana Hidalgo), lançada em 2009, acaba de ser comparada pelos críticos ao Ulisses de James Joyce.
Causa impacto aos críticos estrangeiros a forma com que Riobaldo, o narrador e protagonista da história, interpela um interlocutor que jamais aparece no épico. Esse ex-jagunço órfão, que passa de matador de aluguel a mestre, transformando-se num homem religioso após ter feito um pacto com o Diabo, atravessa o sertão como se cumpre um rito de passagem para o (auto)conhecimento, acompanhado nessa via-crúcis por Diadorim, que encarna o enigma desse território não nomeado em que até Deus deve vir armado para enfrentar seu inimigo.
Bruna Lombardi jura que não fez nenhum pacto para encarnar Diadorim, mas conta que, misteriosamente, passou os três meses de gravação sem menstruar, de tão possuída que ficou pela figura masculina do jagunço. ‘Devo ter trocado de hormônios’, brinca. Mas, na época, exaurida, chafurdou na lama, passou fome, pensou em cortar os pulsos, chorou e implorou para que aparecesse alguém naquele sertão sem fim que fizesse a clássica pergunta: ‘O que faz uma garota bonita como você num lugar como este’? Não apareceu. Ao contrário. Confundida com outros homens da equipe, ela levou um empurrão de um jagunço figurante que pensou se tratar de uma guerra de verdade, quando as tropas federais entram em conflito com as forças provinciais. Bruna saiu bem arranhada de uns tiros no meio do mato e ainda teve de se arrastar na lama. Para sentir a força de Diadorim, montou num cavalo bravo que disparou, levando a atriz a pensar na morte.
Quando seu filho Kim, então com 4 anos, foi visitá-la no set de gravação, o menino estranhou aquele jagunço loiro de olhos verdes e cabelos curtos, disparando um ‘mami-caubói’ ao vê-la cavalgando. Bruna sentiu-se a última das moicanas sentada no meio da imundície, tendo de buscar moitas distantes para fazer um simples xixi. ‘Éramos apenas cinco mulheres no set de gravação num bando de 500 figurantes e alguns jagunços, que nunca tinham visto televisão, achavam que eu era homem e me chamava Reinaldo de verdade, fazendo xixi perto de mim’. Foi um laboratório e tanto. Descobriu que Diadorim não precisava se parecer com nenhum deles, o que deu à figura andrógina uma aparência de tranquila neutralidade.
Bruna, apesar disso, não arrisca, como os editores franceses, a classificar Grande Sertão: Veredas de ‘romance gay’. ‘O bonito numa obra de arte é a multiplicidade de leituras que ela permite, mas, como sou uma mulher, acho interessante como Diadorim se transforma para poder sobreviver num meio hostil, árido, em que uma pessoa do sexo feminino não viveria sem ser violentada’. Seu personagem, analisa, é uma ‘metáfora linda’ da metamorfose a que são submetidos todos aqueles que atravessam o sertão como se fosse o deserto bíblico, refúgio de santos atrás de respostas para questões existenciais. ‘Eu venci tudo o que havia de frágil em mim para encarnar Diadorim, até mesmo o medo mórbido que tinha de facas’. E o diretor Avancini, tirânico, não lhe permitiu sequer usar armas cenográficas.
Por milagre, ela foi a única do elenco que não se machucou. E não havia tratamento especial pelo fato de Bruna ser mulher. Ela participava das cenas de batalha, dormia em cabanas improvisadas e ainda tinha de ajudar os feridos nos combates. ‘Tony (Ramos) quebrou o dedo, Luís Fernando (Carvalho, assistente de direção de Avancini) teve pedra no rim, enfim, aconteceu de tudo nas gravações’. Especialmente ataques de epilepsia entre os figurantes sob um sol de 50 graus, curados com taco de fumo e folha de aroeira-brava. ‘A experiência de gravar a minissérie foi religiosa, uma entrega total a Diadorim, um mergulho radical nessa aventura’, resume Bruna.’
Antonio Gonçalves Filho
Marco na história da televisão traz cenas ousadas
‘PARA REVER: A adaptação de Grande Sertão: Veredas para a televisão foi um marco. Ela tem momentos memoráveis. Um deles é o primeiro encontro entre Riobaldo e Diadorim, ainda meninos, às margens do Rio São Francisco, cena ousada em que um pedófilo surge das águas e provoca o último com uma insinuação de caráter sexual, sendo rechaçado com a faca afiada de Diadorim. O timing é exato, como na sequência que define a relação entre Riobaldo (Tony Ramos) e Zé Bebelo (José Dumont), a de mestre e discípulo, mostrada com economia de palavras e gestos. Outra sequência econômica é a de Riobaldo tentando convencer Diadorim a tirar as calças encharcadas pela chuva numa choupana, carregada de tensão sexual. A descida do protagonista às veredas mortas de seu desejo reprimido é acompanhada por Avancini com um interesse que vai além do sociológico, metaforizando a relação Riobaldo/Diadorim como a do conflito de quem cruza o sertão dividido entre a identidade e a diferença, entre a autoafirmação e a negação do outro.’
Keila Jimenez
A cratera do Metrô
‘O desabamento nas obras da estação do Metrô Pinheiros (zona oeste de São Paulo) em 2007 pode virar documentário no Discovery Channel. A ressurreição da assunto, no entanto, esbarrou na direção do Metrô. No mês passado, produtores do canal tentaram entrevistar dois geólogos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), responsáveis pelos laudos do acidente. O instituto, que se pronunciou à imprensa na época da conclusão dos laudos, proibiu seus técnicos de falarem ao canal.
Na ocasião, o Discovery argumentou ao IPT que queria enquadrar a tragédia da cratera do Metrô em um documentário sobre desastres naturais, mas, mesmo assim, não obteve as entrevistas.
Procurado pelo Estado, o IPT, via assessoria de imprensa, diz que, para se pronunciar, depende da autorização do Metrô, que não o fez. O instituto alega que há uma cláusula de sigilo em seu contrato com o Metrô, sobre o trabalho executado no acidente da Linha 4.
No Discovery, a existência do projeto foi confirmada, mas tratada ainda como embrionária. Nos bastidores, é certo que o canal vai adiante no assunto com ou sem o aval do Metrô.’
Entrelinhas
‘De longe, a melhor coisa da cobertura do carnaval da RedeTV!: a Luciana Gimenez do Paraguai, feita pelo animador de plateia da emissora, Tiago Barnabé.
E com Gimenez do Paraguai e Monique Evans – com direito a piti de ciúmes de Christian Pior, do Pânico – a transmissão do Baile Gay, anteontem, na RedeTV!, rendeu média de 4 pontos de audiência no horário.
Separação, nova série de Alexandre Machado e Fernanda Young na Globo, já tem cinco episódios escritos. A produção, que será protagonizada por Vladimir Brichta e Débora Bloch, começa a ser gravada em março.
Globo e outras redes na folia sofreram para driblar, durante a cobertura do carnaval de Salvador, mãozinhas de papelão com o logo grande da Band, que estavam por todo canto com foliões. A Band distribuiu 100 mil delas durante o evento.
Diz a lenda na Record que Legendários, novo programa de Marcos Mion, terá uma tecnologia na internet que permitirá ao telespectador mudar os rumos da atração. Modeeerno.
Nesse calorão, não é que a neve da Record agradou a audiência? Na segunda-feira, a transmissão da Olimpíada de Inverno de Vancouver rendeu à emissora segundo lugar no horário: 9 pontos de média, das 23h17 à 1 hora da manhã.’
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