Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Denise Chrispim Marin


‘Nos 45 minutos de sua exposição sobre a atual política externa na Comissão de Relações Exteriores, ontem, o chanceler Celso Amorim não se desviou de seu único objetivo – rebater as críticas que vem sofrendo por parte da imprensa brasileira. Apesar do extremo cuidado para não mencionar os meios de comunicação, o ministro deslizou, citou as manchetes do Estado e acabou por pedir desculpas pela indiscrição. Dizendo-se ‘honesto e franco’ e ‘talvez ingênuo’ ao apresentar seus pontos de vista, Amorim chegou a classificar de ‘sensacionalismo’ as críticas dos jornais brasileiros a um dos eventos mais festejados do governo Lula na área externa – a reunião cúpula América do Sul-Países Árabes, ocorrida em maio passado, em Brasília.


‘Em contraste com o que ocorre nos outros países, há uma tendência da mídia, no Brasil, de diminuir os resultados e amplificar os problemas’, argumentou. ‘Na época do regime militar, chamava-se a isso de elementos psicossociais. Não gosto dessa expressão. Mas que há um fenômeno que precisa ser estudado, isso é um fato’, completou.


Amorim fora convidado pelo presidente da Comissão, senador Cristovam Buarque (PT-DF), para tratar dos principais temas da política externa. O chanceler começou sua exposição enumerando três pontos relevantes do momento – a Assembléia-Geral das Nações Unidas, em setembro, quando será decidida, a rigor, a ambição brasileira de obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU; as negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) e as discussões do acordo de livre comércio Mercosul-União Européia, que ressurgem na pauta deste mês.


Ele preferiu, no entanto, abandonar esses tópicos para rebater as críticas da imprensa ao ‘espalhafato’, ao ‘excesso de exibicionismo’, à ‘estridência’, à ‘ausência de resultados práticos’ e ao ‘ideologismo’ da atual política externa. Esses foram, de fato, adjetivos empregados em editorais, artigos e reportagens dos jornais de circulação nacional para definir a estratégia do Palácio do Planalto e do Itamaraty de inserção internacional do País e de mudança da geopolítica mundial.


‘Há uma clara partidarização das relações internacionais do Brasil. Queremos dar continuidade a nossas relações com a África. Mas não queremos ter supremacia forçada em vez de uma liderança natural na América do Sul’, declarou o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). ‘Eu me incomodo com as pessoas se superpondo na execução da política externa. Um José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil) que vai de noite para a Venezuela e Cuba. Por que o Marco Aurélio Garcia (assessor especial da presidência para Assuntos Internacionais) ocupa espaços que são seus?’, atalhou o senador José Agripino (PFL-RN), ao tocar em um ponto nevrálgico para o chanceler.


‘TORCIDA’


Em tom ressentido, Amorim queixou-se da ‘torcida’ da imprensa para que as ações de política externa ‘não caminhem bem’ e apontou críticas ‘irreais’ e supostas ‘contradições’ nos textos publicados. Repetindo uma máxima de seu chefe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o chanceler afirmou que essa atitude reflete a síndrome de ‘autoflagelação’ existente no País. Enfatizou que iniciativas prioritárias – como a criação do G-4, grupo formado pelo Brasil, Alemanha, Índia e Japão, com o objetivo de assegurar apoio mútuo para o acesso ao Conselho de Segurança – não são ‘coisas de tontos’.


Para ser convincente, comparou manchetes de jornais brasileiros com as de estrangeiros, mais favoráveis ao governo, sobre os mesmos eventos. Para defender a política Sul-Sul, a tática de aproximação do Brasil com as economias em desenvolvimento e mais pobres, mencionou dados sobre o aumento do comércio do País com esses parceiros. Questionado por Agripino sobre os efeitos negativos da cúpula árabe-sul-americana, o ministro agarrou-se a alegações controversas.


Mencionou que as exportações brasileiras para o mundo árabe haviam aumentado 40%, em 2004, e 20%, de janeiro a junho deste ano. Como ocorreu em maio, dificilmente o evento teria repercussões no semestre e muito menos no ano passado. Afirmou ainda que a iniciativa não causou dissabores às autoridades de Israel, país que visitou em junho, nem aos Estados Unidos. Por fim, sua atitude defensiva desvencilhou-se da formalidade e do respeito. ‘Alguns (jornais) tem de fazer sensacionalismo para vender.’


Em seu esforço para convencer os senadores, Amorim reclamou do fato de a imprensa ‘já ter contabilizado’ a possível derrota brasileira no Conselho de Segurança entre os fracassos anteriores – as candidaturas à liderança da direção-geral da OMC e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O chanceler classificou essa conduta de ‘falta de visão histórica’. Mais à frente, reconheceu que tais fatos ‘enfraqueceram’ a ação brasileira na esfera externa. ‘Claro que debilita um pouco. Mas se eu tivesse de fazer tudo de novo, eu o faria’.


Para o chanceler, o que mais ‘prejudica’ a política externa brasileira é o baixo orçamento do ministério, que gera débitos em organismos internacionais. Em especial, para a ONU. Justamente no dia em que o governo enviou ao Congresso o Orçamento para 2006, Amorim pediu ao Senado que ajudem o Itamaraty a cumprir com esses compromissos. Em 2003, o País chegou a correr o risco de ser impedido de votar em comissões da ONU por falta de pagamentos de suas cotas. ‘A situação era ruim e continua ruim. O presidente Lula sabe da minha opinião’, afirmou.’



Eliane Oliveira


‘Amorim ataca mídia ao defender política externa’, copyright O Globo, 1/09/05


‘O chanceler Celso Amorim decidiu ontem atacar a imprensa brasileira e se defender das críticas à política externa durante os 45 minutos de uma exposição à Comissão de Relações Exteriores do Senado. Amorim se queixou da diferença de tratamento para fatos envolvendo o Brasil nas mídias estrangeira e nacional. O ministro disse que a postura brasileira é derrotista e sugeriu um estudo mais aprofundado sobre o tema:


– Talvez fosse o caso conversar com antropólogos e sociólogos, para que se detenham nessa necessidade de autoflagelação que existe no Brasil.


Ele citou uma série de fatos da política externa e comparou as manchetes dadas pela imprensa nacional e a estrangeira a eventos como a criação do G-20, a candidatura do G-4 a uma vaga permanente no Conselho de Segurança, entre outros:


– Enquanto na nossa imprensa se diz que o Brasil é derrotado, em jornais importantes de diversos países o que se fala é exatamente o contrário. Todos enfocam a liderança do Brasil.


Amorim disse que há uma torcida para que as investidas na política externa do governo Lula não caminhem bem:


– São críticas irreais, como as que avaliaram a política externa como estridente e espalhafatosa.


Para ele, há uma visão mercantilista na mídia do país.


– Há assuntos para os quais não se dá a devida importância. No entanto, se há algum problema com a gelatina do Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC), vira manchete nos jornais – disse.’



MEIA HORA


Alberto Komatsu


‘Grupo O Dia terá um novo jornal matutino no Rio ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 1/09/05


‘O Grupo O Dia, que publica o jornal O Dia, no Rio, anunciou ontem o lançamento do matutino Meia-Hora no próximo dia 19, somente nas bancas da região metropolitana do Rio. O investimento é de R$ 5 milhões, com recursos próprios do grupo. O jornal custará entre R$ 0,60 e R$ 0,70 e será voltado ao público jovem das classes C e D.


Segundo o diretor de mídia impressa do Grupo O Dia, Eucimar de Oliveira, o projeto ainda está em desenvolvimento. ‘Há um nicho de leitores que abandonaram o jornal, até por causa da internet’, diz. O formato do Meia-Hora será tablóide, com no mínimo 32 páginas, das quais 65% de conteúdo editorial e 35% de espaço comercial.


De acordo com uma pesquisa encomendada pelo grupo, entre 2000 e 2004 o Rio perdeu 100 mil leitores de jornal por ano, o que significou uma queda em torno de 30% do mercado. Segundo Oliveira, grande parte desse público é de jovens. O objetivo do Meia-Hora é atingir adolescentes a partir de 16 anos. ‘Houve perda de poder aquisitivo. Foram anos de recessão que diminuíram a freqüência de leitores’, diz Oliveira.


A tiragem inicial será de 100 mil exemplares diários, de segunda a sexta-feira. O Meia-Hora oferecerá matérias de cidade, polícia, esportes, utilidade pública e oportunidades, além de uma seção de no mínimo uma página com notícias de política e economia. O jornal rodará no parque gráfico do Grupo O Dia e a distribuição também aproveitará a infra-estrutura do grupo. ‘Faremos um levantamento banca a banca, para saber onde botar o jornal, a quantidade e onde há maior demanda’, diz Oliveira. O jornal será vendido apenas em bancas.


‘Meu pai (Ary Carvalho) criou o Zero Hora, de Porto Alegre. Ele veio ao Rio e foi dono do Última Hora. A marca (Meia-Hora) explica o conceito’, diz Gigi Carvalho, diretora-presidente do jornal O Dia e uma das idealizadoras do novo periódico, enfatizando que o nome também quer mostrar agilidade.


Até o fim deste ano, a irmã de Gigi, Ariane Carvalho, também vai lançar um novo jornal formato tablóide, mas vespertino, voltado ao público jovem. Ariane se desligou do Grupo O Dia após a morte do pai, em julho do ano passado. Ela também é sócia do Meia-Hora.’



FSP CONTESTADA


Painel do Leitor, FSP


‘‘Mensalão’’, copyright Folha de S. Paulo, 1/09/05


‘‘Em resposta à reportagem ‘Empréstimos de Valério não foram só para caixa dois’ (Brasil, 29/8), a SMPB Comunicação esclarece o que segue: 1. Toda a distribuição de lucros da DNA aos seus sócios se dá por meio da Graffiti Participações Ltda, detentora de 50% do capital da DNA. Somente em 2003, a Graffiti recebeu da agência de publicidade R$ 6,5 milhões de dividendos para repassar aos seus acionistas; 2. O depósito de R$ 100 mil, feito no dia 15 de setembro de 2003, numa conta corrente do Bank Boston, da mulher do empresário Ramon Hollerbach Cardoso , um dos sócios da Graffiti, refere-se à distribuição regular de lucros, conforme devidamente registrado em sua contabilidade, já entregue à Receita Federal, Procuradoria Geral da República e CPIs; 3. Neste mesmo mês, foi pago aos acionistas da Graffiti o montante de R$ 663,8 mil; 4. Reafirmo que os R$ 9,975 milhões obtidos pela Graffiti, por meio de empréstimo no BMG, foram transferidos pela SMPB, via mútuo, e repassados integralmente ao PT.’ Ramon Hollerbach Cardoso, vice-presidente de Desenvolvimento da SMPB Comunicação (Belo Horizonte, MG)


Resposta da jornalista Marta Salomon – Documento enviado à Procuradoria Geral da República por Marcos Valério de Souza, sócio da Graffiti e da SMPB, informa ‘destinação dos recursos relativos ao empréstimo da empresa Graffiti em 12/09/2003 no valor de R$ 10 milhões’ -entre os quais R$ 100 mil para Maria Consuelo Cabaleiro, que confirmou o recebimento do dinheiro à Folha por meio de distribuição de lucros.


Esportes


‘Em relação à nota ‘Censurado’ (‘Painel FC’, Esporte, 24/8), o Ministério do Esporte esclarece que não apóia nenhum tipo de movimento que possa proibir a imprensa de registrar qualquer fato. Esse tipo de proibição é inconstitucional e o projeto de lei sobre o tema inexiste no Brasil.’


Flávia Rochet, assessora de comunicação social do Ministério do Esporte (Brasília, DF)


Mico


‘A proposta do prefeito José Serra de estampar anúncios nos uniformes escolares em troca da doação dos mesmos suscita uma pergunta: quem ganhará com isso, a prefeitura ou os alunos? Como a distribuição dos uniformes é um direito das crianças e o dinheiro para a compra faz parte do orçamento municipal, certamente não serão os ‘outdoors ambulantes’ os principais beneficiários. Além disso, como tal medida não encontra respaldo em nossa legislação, não havendo nada que regulamente tal ‘doação’, a sociedade não terá nenhum instrumento para fiscalizar a utilização dos recursos ‘economizados’. Se a proposta vingar, sugiro que o prefeito venda espaço publicitário nas suas roupas e nas de seus secretários. Não é justo que apenas as crianças carreguem este mico.’ Alexandre Matos (São Paulo, SP)


Energia


‘Mais uma vez, a empresa responsável por uma das mais importantes obras de transmissão de energia elétrica no Brasil, a STN -Sistema de Transmissão Nordeste-, se vê citada em acusações improcedentes sem ser ouvida pela reportagem. Em 22/8, à página A13, a Folha publicou o texto ‘Cresce indício de que dinheiro era propina’. A notícia, baseada em alegadas ‘anormalidades’ citadas por representante do Ministério Público, não dá base a essa afirmação, que, de resto, não tem base na realidade. A STN reafirma que todos os procedimentos adotados no financiamento de parte do valor da obra em questão foram rigorosamente legais, éticos e usuais em operações similares, tanto perante a legislação quanto em relação às práticas de mercado. Não houve, portanto, nenhum tipo de favorecimento nem práticas ‘anormais’ aos financiamentos estruturados para infra-estrutura.’ Silvana Deolinda, assessoria de imprensa da STN (São Paulo, SP)


Resposta da jornalista Kamila Fernandes – A reportagem entrevistou Maurício Kalil, assessor da STN, e informou que ‘a Cavan e o STN negam qualquer irregularidade no processo de concessão de crédito’.’