‘Até o fim do ano deve estar funcionando a TV Pública Internacional do Brasil, a primeira do País voltada para o público externo.
Ela será controlada por um comitê formado por Radiobrás, Senado, Câmara e Supremo Tribunal Federal (STF), que financiam sua criação. De acordo com o projeto, servirá de ligação com os brasileiros que vivem no exterior, além de promover os produtos nacionais.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar a criação da TV até agosto. Para entrar em operação em caráter experimental, já estão reservados R$ 10,3 milhões, a maior parte, R$ 8 milhões, do orçamento da Radiobrás. No início a programação será transmitida em espanhol, para países do Mercosul, por meio da TV por assinatura.
Depois se estenderá a toda a América do Sul, aos países de língua portuguesa e àqueles com maior concentração de brasileiros, como Estados Unidos e Japão, em versão também em inglês.
Bom – ‘A TV servirá para mostrar coisas positivas, como a cultura, o turismo, o potencial da indústria, sem falsear a imagem do Brasil’, contou o diretor de Comunicação da Câmara, Márcio Araújo. ‘Vai mostrar que este é um país sério.’
O diretor de Comunicação do Senado, Armando Rollemberg, explicou que a programação inicial terá seis horas, com ênfase no jornalismo. Segundo ele, serão feitas parcerias com produtores independentes e redes privadas.
Na opinião do sociólogo Laurindo Leal Filho, professor da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP e autor de estudos sobre TVs públicas, a iniciativa da TV Pública é precipitada. ‘O Brasil precisa, de fato, entrar na disputa do espaço internacional’, disse. ‘Mas deveria fazer isso depois montar a rede pública nacional.’
Ele acredita que seria mais proveitoso articular as TVs não comerciais do País, incluindo as do Judiciário e do Legislativo, para formar uma rede nacional com programação alternativa. (Colaborou Roldão Arruda)’
Elvira Lobato
‘Governo vai criar TV estatal internacional’, copyright Folha de S. Paulo, 28/05/04
‘Está pronta, para ser assinada pelo presidente Lula, a minuta do decreto que cria a TV Pública Internacional do Brasil. Trata-se de um canal de televisão estatal, financiado pela Radiobrás, Senado, Câmara dos Deputados e pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
O canal de televisão nasce com orçamento autorizado de R$ 10,3 milhões para este ano, mas, a partir do ano que vem, consumiria cerca de R$ 24 milhões por ano. A cifra é quase igual à que o Ministério da Educação tem para gastar com uniformes escolares, de R$ 25 milhões, em 2004. Corresponde, ainda, a 480 mil benefícios básicos pagos pelo programa Bolsa-Família, de combate à fome.
Segundo o diretor de comunicação do Senado, Armando Rollemberg, a criação do canal deve ser anunciada oficialmente em julho ou agosto. O ‘controle político’ da programação será compartilhado entre Senado, Câmara, STF e Radiobrás. O canal será transmitido, via satélite, inicialmente para as redes de TV por assinatura dos países do Mercosul. Posteriormente, seria estendido aos demais países de línguas espanhola e portuguesa e para os países com forte presença de brasileiros, como os EUA e Japão.
O diretor do Senado informa que há negociações com a Sky e com a DirecTV para a distribuição do canal para a América Latina. A maior parte dos recursos previstos para este ano virá da Radiobrás, que já tem previsão orçamentária para gastar R$ 8,2 milhões com o projeto em 2004. O Senado e a Câmara reservaram R$ 1 milhão cada um, enquanto o STF previu gastar R$ 151 mil.
O projeto da TV estatal internacional foi apresentada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no ano passado. Segundo Rollemberg, Lula gostou da proposta e determinou que ela fosse desenvolvida. A versão final foi apresentada a ele há cerca de 15 dias. A TV funcionará dentro da Radiobrás e será administrada por um comitê gestor formado por representantes do Senado, da Câmara, do STF, do Ministério das Relações Exteriores, da Secretaria de Comunicação da Presidência e da Radiobrás.
O canal veiculará programas produzidos pela Radiobrás e pelas TVs do Legislativo e do Judiciário. Terá ainda filmes do cinema nacional e programas adquiridos de produtores independentes e de emissoras comerciais. Segundo Rollemberg, não serão transmitidas as sessões de votação, mas programas especiais, como shows e entrevistas, além dos noticiários dos canais do Legislativo e do Judiciário. O diretor de comunicação do Senado diz que o canal estatal vai divulgar a cultura brasileira ‘em grande estilo’ e mostrar ao exterior que o país tem ‘tradição e maturidade política’.
O diretor de comunicação da Câmara, Márcio Araújo, defende a criação do canal dizendo que ele contribuiria para melhorar a percepção da cultura brasileira no exterior e as relações comerciais.
‘A gente acha que o Brasil precisa ter um canal de divulgação no exterior’, diz Araújo. Já existe um projeto para criação de um canal de televisão internacional, chamado TAL (Televisão da América Latina), desenvolvido por Gabriel Priolli, diretor do Canal Universitário, de São Paulo. O projeto da TAL, segundo Priolli, é reunir a produção independente dos países da América Latina e redistribuí-la para que seja incluída na grade de programação das TVs comerciais e por assinatura. O canal está orçado em R$ 12 milhões.’
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‘TVs condenam gasto de dinheiro público’, copyright Folha de S. Paulo, 29/05/04
‘A criação de um canal estatal de TV para divulgar o Brasil no exterior foi criticada por executivos das redes Bandeirantes, SBT e Record. A Globo não se manifestou. A minuta do decreto autorizando a criação da TV Pública Internacional do Brasil, conforme revelou ontem a Folha, está pronta para ser assinada pelo presidente.
O presidente da UniTV (que representa as emissoras das redes Bandeirantes e SBT), Antonio Teles, considerou ‘inconveniente’ e ‘temeroso’ gastar dinheiro público com mais um canal estatal. Para ele, o canal poderia ser criado sem o envolvimento direto do Estado. Ele sugere que um conselho de notáveis seja encarregado de escolher a programação, montada a partir de conteúdos cedidos por TVs privadas e educativas.
‘Poderíamos montar uma grade de programação com o que há de melhor nas emissoras, sem necessidade de gastos por parte do governo’, disse Teles, que é consultor da Bandeirantes. A TV pública tem orçamento autorizado de R$ 10,3 milhões para este ano. O canal será criado pela Radiobrás, pelo Senado, pela Câmara e pelo Supremo Tribunal Federal.
O diretor comercial do SBT, Antonio Athayde, diz que há risco de o governo gastar dinheiro com o canal e não conseguir distribuí-lo no exterior. Segundo ele, a Globo e a Record possuem canais internacionais porque as redes de TV por assinatura têm interesse em distribuir programação comercial: ‘Eu me pergunto se elas terão interesse em distribuir um canal estatal e se os brasileiros residentes no exterior vão querer pagar para assisti-lo, porque a assinatura de canais étnicos é mais cara do que a de canais comerciais’, disse.
O presidente da Record, Dennis Munhoz, diz que TV não deveria ser prioridade de um governo com tantos desafios nas áreas social e econômica: ‘A TV brasileira já está no exterior. A Globo e a Record têm canais internacionais’.
O presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, disse que o decreto cria um conselho gestor, com responsabilidade de definir o perfil do canal estatal: ‘A idéia é trabalhar em parceria com produtores independentes e com emissoras de TV no Brasil e no exterior para a troca de conteúdos’.’