‘O indo-europeu, língua falada há mais de cinco mil anos, legou várias palavras ao latim, de que é exemplo ‘cena’, que o português adaptou para ceia. Designa a última refeição do dia, hoje mais conhecida por jantar.
No indo-europeu era ‘kerstna’, divisão, partilha, reparte, de acordo com a raiz ‘sker’, separar, cortar, dividir, que provavelmente influenciou também a palavra ‘carnis’, carne, declinação de ‘caro’. ‘Et Verbum caro factum est’ (E o Verbo se fez carne), diz o Evangelho de São João, designando a forma escolhida por Deus para habitar entre nós.
Em nossa cultura, a ceia mais conhecida é A Última Ceia ou A Santa Ceia, a última refeição que Jesus fez com seus discípulos, com apenas dois itens no cardápio: pão e vinho.
No Natal, entretanto, a ceia não tem o significado de jantar. A raiz ‘cen’ está presente também em ‘cenaculum’, cenáculo, refeitório, palavra que em latim não é do gênero masculino, mas sim do neutro. E o plural ‘cenacula’ designava a parte cima da casa, espécie de sobrado.
A ceia de Natal tem suas singularidades, a primeira das quais são os convidados. O costume nasceu na Europa. Os cristãos deixavam abertas as portas das casas para que mendigos e viajantes pudessem compartilhar fraternalmente pelo menos uma refeição por ano.
O romancista polonês Wladyslaw Stanislaw Reymont, Prêmio Nobel de Literatura em 1924, em Uma lenda de Natal situa sua trama na Polônia em certa noite natalina. Jesus, Judas e Pedro chegam esfomeados a uma estalagem. Eles não têm o que comer. A dona da pousada pergunta se não querem comprar um ganso.
Judas, o caixa de campanha de Jesus, é ganancioso, como se sabe. Sopra as penas da barriga da ave e pechincha no preço, dizendo que o ganso é muito magro. Jesus propõe que os três vão dormir, enquanto a ave é preparada, e como a comida não é suficiente para todos, diz que quem tiver o sonho mais bonito comerá o ganso.
No conto de Reymont, Judas, que é ruivo, come a ave enquanto Pedro e Jesus dormem. Quando o mestre pergunta qual foi seu sonho, responde com cinismo: ‘sonhei que me levantava e que em sonhos comia o ganso’. O escritor conclui que esta é a razão de o povo da Polônia guardar vigília na noite de Natal.
Presépio, do latim ‘praesepium’ é outra palavra do Natal. Nos primeiros séculos da era cristã, não havia presépio perto das árvore-de-natal. A figura mais popular do Natal cristão, depois do Menino Jesus, era são Nicolau, que viveu no século V, canonizado originalmente pela Igreja Ortodoxa Russa. Rezam as lendas e o folclore que dele se ocuparam que era pessoa muito bondosa e que gostava de dar presentes às crianças. Certa vez, teria posto moedas de ouro dentro das meias que três moças de vida difícil tinham estendido perto da lareira para secar. Com isso, salvou-as da prostituição.
Papai Noel veio do francês Pére Noël, Pai Natal. No francês, por influência do latim ‘novus’, novo, transformou-se em ‘nouvel’. Com o banimento do culto aos santos pela Reforma Protestante, cristãos holandeses espalharam pelo mundo a forma dialetal ‘Sinter Klaas’ (São Nicolau), que serviu de despiste à censura. Os colonizadores norte-americanos, adaptando a pronúncia, passaram a chamá-lo Santa Claus, vinculando-o à figura de papai-noel. As roupas vermelhas, a barba branca, o gorro, o saco com presentes e o sorriso bonachão foram ingredientes acrescentados em 1931 pelo publicitário norte-americano Haddon Sundblom, numa campanha de natal da Coca-Cola.
Trenó veio do francês ‘traîneau’, grafado ‘trainel’ no francês antigo, baseado no verbo ‘traîner’, arrastar, puxar. Designa veículo apropriado ao transporte sobre neve ou gelo, tendo esquis no lugar das rodas.’
Daniel Cruz
‘TVs poderão ter programas dedicados à língua portuguesa’, copyright Agência Câmara de Notícias, 21/12/04
‘A Câmara vai analisar o Projeto de Lei 4324/04, do deputado Leônidas Cristino (PPS-CE), que determina às emissoras de rádio e televisão a veiculação de programas dedicados ao ensino da língua portuguesa e à popularização da literatura brasileira. Para o deputado, a proposta vai contribuir para melhorar o uso do idioma, ao difundir suas regras e padrões normativos; além de divulgar as principais obras de autores brasileiros.
‘Estaremos oferecendo à nossa população a oportunidade de aprender a falar e a escrever corretamente, e incentivando a prática da leitura’, afirma.
Gramática e literatura
Pelo projeto, os programas educacionais serão transmitidos entre as 8 e as 22 horas, em dez inserções diárias de um minuto cada, cujo conteúdo deverá ser alterado semanalmente. Metade das inserções será dedicada à orientação gramatical, e a outra metade à literatura brasileira. Caberá ao Poder Público avaliar o conteúdo dos programas produzidos pelas emissoras.
Tramitação
A proposta foi apensada, ou seja tramita conjuntamente, ao Projeto de Lei 5269/01, do Senado, que também prevê a veiculação de programação educativa para crianças, por meio dos canais de televisão. A matéria está sendo analisada pela Comissão de Seguridade Social e Família, onde tem como relator o deputado Guilherme Menezes (PT-BA).
Também vão analisar o texto, que tramita em caráter conclusivo, as comissões de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.’
MEMÓRIA / PAULO AFONSO GRISOLLI
‘Paulo Afonso Grisolli, Diretor, 69’, copyright O Globo, 25/12/04
‘Foi pelas mãos do diretor Paulo Afonso Grisolli que o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha, chegou à Rede Globo para reestrutura a primeira versão do programa ‘A grande família’. A série ganhou popularidade nos anos 70 depois das mudanças de Vianninha.
Ao lado de Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal, Antonio Callado e Vianninha, Grisolli fundou em São Paulo, em 1956, o Teatro de Arena, divisor de águas na dramaturgia brasileira.
Em 1966, dirigiu uma montagem revolucionária de ‘Onde canta o sabiá’, peça de Gastão Tojeiro. Grisolli chamou atenção ao botar o elenco cantando Beatles e aprofundar a sexualidade do texto, do início do século XX.
Ele também dirigiu, ao lado de Dênis Carvalho e Daniel Filho, a série ‘Malu mulher’ (1979), com Regina Duarte, entre inúmeros programas. ‘Tereza Batista’ (1992) foi seu último trabalho na Rede Globo.
Grisolli estava morando em Portugal, onde trabalhava para a emissora RTP. Ele morreu na quinta-feira, aos 69 anos. Deixa viúva.’